O documento discute como a prática jornalística pode reproduzir ideologias dominantes de forma involuntária através da seleção e enquadramento das notícias. Argumenta-se que os jornalistas estão inseridos em contextos políticos e que as normas profissionais podem legitimar a ordem vigente de forma implícita. Também se defende que a informação política tende a alinhar posições médias para não perturbar o status quo.
Entrevista com Francisco Rezende (Chico Torcedor) - Globo Esporte
Informação Política
1. 7. Informação
Política
Prática Profissional Jornalística: Fatalismo Natural da
Reprodução das Ideologias Dominantes?
2. Informação política
(1) Conjunto de eventos, episódios, ações, etc. que ocorrem no âmbito
da vida política e que afetam uma comunidade;
(2) Tratamento jornalístico de todo o manancial de eventos e factos
ligados à vida política, que segue as fases do processo de atividade
jornalística, visando informar os cidadãos, orientar as suas opiniões, dar-lhes
a conhecer candidatos políticos e seus feitos (positivos e negativos)
e integrá-los no mundo à sua volta, no sentido de estarem mais
conscientes sobre o governo da coisa pública.
3. Informação política
O jornalista nunca abandona a sua matriz política, deixando-a refletida
na seleção e redação informativas.
Daniel Cornu frisa, na esteira de Max Weber, que o jornalista se move
no domínio político e que ele próprio se reveste de um estatuto
político.
“O jornalista é, segundo as categorias de Weber, um homem político: o
seu objecto é político, o seu campo de acção é político. Mas fica
normalmente na antecâmara da acção política. O jornalista, como
intérprete da realidade, comenta e recomenda opções. Não as faz. É
esta a diferença, que dá a sua dimensão à responsabilidade jornalística”
(1994: 384).
4. Informação política
John Soloski demonstra que, embora os jornalistas não relatem as notícias
deliberadamente para manter o sistema político-económico existente, as
suas normas profissionais contribuem para a produção de “estórias”, que,
implicitamente, defendem a ordem em vigor e legitimam-na ao fazê-la
parecer um estado de coisas que ocorre naturalmente.
In “O jornalismo e o profissionalismo: alguns constrangimentos no trabalho
jornalístico”
Realça que a cobertura noticiosa “não ameaça nem a posição económica da
organização jornalística individual nem o sistema político-económico global
no qual a organização jornalística «opera» e «produz «estórias» que
permitem que as organizações jornalísticas aumentem o seu público e
mantenham um controlo firme sobre o mercado” (1999: 100).
5. Informação política
“As notícias reflectem no seu conteúdo a estrutura política da sociedade”
(Daniel Hallin e Paolo Mancini,1999: 309).
Robert A. Hackett (1999: 127) escreve que as formas e a retórica da
objectividade ajudam a reproduzir os enquadramentos políticos dominantes.
E Stuart Hall et al. (1999: 230-1) esclarecem que os media não se limitam a
criar notícias, nem a transmitir a ideologia da classe dominante num figurino
conspiratório. Sugerem, num sentido crítico, que os media não são os
primeiros definidores de acontecimentos noticiosos, pois a sua relação
estruturada com o poder desemboca na reprodução das matrizes dos que,
como fontes poderosas e acreditadas, usufruem de um acesso privilegiado e
de direito.
6. Informação política
A notícia “pede ao leitor para estar interessado na política, mas na
política como a comunidade de jornalistas a concebe”.
(Michael Schudson, 1999: 293)
“Não há jornal que não tenha as suas escolhas políticas, mesmo que
vagas, e não há maneira neutra de dar uma notícia”.
(Nuno Crato, 1992: 116)
“A situação de comunicação ideal não pode jamais se realizar
totalmente, visto que ela contém sempre algum conteúdo ideológico”.
(Cósimo D. Ávila, 1980: 219)
7. Informação política
Vladimír Hudec admite que o jornalismo é um fenómeno exclusivo da cultura
moderna, e que, na impossibilidade de ser uma pura antena de informação,
evidencia uma índole vincadamente ideológica.
Acredita estar associado a uma fase histórica concreta do desenvolvimento
sócio-económico, à transformação revolucionária.
“Numa sociedade de classes o jornalismo tem sempre um carácter de classe
e exprime os interesses dos diversos grupos políticos, é uma tribuna para os
pontos de vista políticos e ideológicos, é um dos mais importantes canais de
propaganda de massas e participa activamente nas actividades sociais” (1980:
36). Logo, é profundamente comprometido.
Cai, assim, em terreno fértil a afirmação de Marx de que “as ideias
dominantes de qualquer época são as ideias da classe dominante”. Justifica,
neste sentido, que a valência das ideias maioritárias se deve a dois alicerces:
(1) a detenção e controlo dos meios de produção materiais; (2) a posse e
controlo dos meios de produção mental.
8. Informação política
Jornalismo underground?
Ou jornalismo amarelo (yellow journalism), que designa a prática de um
jornalismo assente na falsificação de factos políticos para benefício do
próprio jornal. Este tipo de jornalismo aumentou o poder político exercido
pelos media.
Jornalismo de escândalo, jornalismo sensacionalista, marrom
Fruto das contendas jornalísticas entre William Randolph Hearst
(1863-1951) e Joseph Pulitzer (1847-1911)
LER:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mat2009g.ht
m#argemiro
9. Informação política
O aparecimento do jornalismo de investigação e o princípio do watchdoggery
exigiram metamorfoses no papel sagrado à imprensa: terá de estar alerta ao
comportamento da classe política e, nos casos de abuso do poder, denunciá-los,
mantendo a opinião pública informada. Assim, a imprensa e a política atenuam as
rivalidades, cimentando-se, entre as duas, uma relação de interdependência. É, assim,
que desde a formação da sociedade de massas, a relação entre a comunicação social
e o poder é de “coexistência pacífica” (Paula Espírito Santo, 1997: 131).
Segundo este princípio, o jornalismo deverá ser um eterno vigilante da actividade
política, nunca vacilando na tarefa de denunciar a corrupção, incongruências,
ilegalidades, etc. O jornalismo serve, assim, de contrapeso na vida política, sendo sua
responsabilidade social desmascarar obscuridades e “césares”.
Lasswell (2002: 59) refere, como uma das funções do processo de comunicação na
sociedade, a vigilância do meio ambiente, revelando ameaças e oportunidades, que
possa afectar a posição da comunidade e das suas partes constituintes, em termos
de valores.
10. Informação política
A informação pode funcionar paradoxalmente: pode esclarecer, iluminar, ou
pode escurecer os aspectos que se pretendem manter distantes da luz.
Para Lassale, é uma técnica que ostenta uma dupla faceta: (1) de liberdade;
(2) de alienação.
A informação analisa o grau de receptividade da opinião, não transpondo,
para a população, notícias, que possam perturbar o bem-estar social ou o
conforto moral. Tende, assim, a alinhar em posições médias, travando,
cautelosamente, qualquer escândalo e favorecendo uma pseudo-integração.
Pela constante referência à classe e ao sistema políticos, apodera-se, das
massas, a sensação de que, quanto àqueles, são omniscientes, que nada se
lhes escapa, que não se formam segredos, emergindo um reino (ilusório e
perigoso) de transparência.
13. 1.1. Técnica
Corpus: Notícias da TSF Rádio Notícias (TSF):
Período de análise: segundo mandato de José Sócrates: de
27 de Setembro de 2009 a 21 de Junho de 2011.
Palavra-chave de pesquisa: “imagem de Sócrates”.
Tipos de categorias: categorias temáticas.
18. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Comprova-se que os media são um vértice crucial no triângulo que
formam com os políticos e a opinião pública.
Nota-se uma inversão da estratégia de Sócrates: no início recorre a uma
estratégia de discrição, contudo é acusado, mais adiante, de obcecado
com a sua imagem pública.
As controvérsias em que esteve envolvido não beneficiaram a sua
imagem. O caso licenciatura UnI marca o fim da “lua-de-mel” entre o
primeiro-ministro e o eleitorado. Com base no Barómetro da TSF e
Diário Económico de Julho de 2010, desde a eleição de Pedro Passos
Coelho, o primeiro-ministro perde popularidade. A partir do Barómetro
de Novembro de 2010, nunca voltou a recuperar a popularidade até à
sua demissão.
19. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise de conteúdo revela:
(1) Imagens negativas: Nível de impopularidade no barómetro da TSF e
Diário Económico, Plano para controlar os media, Obsessão com imagem
pessoal, Uso indevido de apoio político-partidário, Projecção exterior da
crise política, económica e financeira de Portugal, Acusação de construção
de imagens falsas de Portugal no exterior e Acusações de perda de
razoabilidade e acepção de Sócrates como problema.
(2) Imagens positivas: Subida no barómetro da TSF, Ausência de provas
contra Sócrates no caso “Face Oculta”, Cooperação com o Governo
Regional da Madeira.
(3) Estratégias a considerar sobre a imagem: Necessidade de coesão social,
Apoio às áreas das tecnologias (QREN), Necessidade de Mobilização do PS.
20. BIBLIOGRAFIA
CORNU, Daniel (1994), Jornalismo e Verdade. Para uma Ética da informação,
trad. de Armando Pereira da Silva, Lisboa, Instituto Piaget.
CRATO, Nuno (1992), Comunicação Social: a imprensa: iniciação ao jornalismo,
Lisboa, Presença.
D. ÁVILA, Cósimo (1980), “Comunicação, Ideologia, educação”, in NEOTTI
Clarêncio (coordenador), Comunicação e Ideologia, Edições Loyola, São Paulo.
ESPÍRITO SANTO, Paula (1997), O Processo de Persuasão Política – Abordagem
Sistémica da Persuasão com Referências ao Actual Sistema Político Português,
Lisboa, ISCSP-UTL.
FERREIRA, Argemiro, “Amarelo e marrom: Hearst, Pulitzer e as cores do
jornalismo”, observatoriodaimprensa.com.br,
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mat2009g.htm#argemiro
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21. BIBLIOGRAFIA
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objectividade nos estudos dos media noticiosos”, in TRAQUINA, Nelson
(org.), Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”, Lisboa, Vega, pp. 101-30.
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Lisboa, Vega, pp. 224-48.
HALLIN, Daniel; MANCINI, Paolo (1999), “Falando do presidente: a
estrutura política e a forma representacional nas noticias televisivas dos
Estados Unidos e da Itália”, in TRAQUINA, Nelson (org.), Jornalismo:
questões, teorias e “estórias”, Lisboa, Vega, pp. 306-325.
HUDEC, Vladimír (1980), O que é o Jornalismo? – Essência, características,
funções sociais e princípios do seu desenvolvimento, trad. de Maria Manuel
Ricardo, Lisboa, Editorial Caminho.
LASSALE, Jean-Pierre (1971), Introdução à Política, Lisboa, Publicações Dom
Quixote.
22. BIBLIOGRAFIA
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Sociedade”, ESTEVES, (“The Structure and Function of Communication in
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Jornalismo: questões, teorias e "estorias", Lisboa, Vega, pp. 91-100.