SlideShare a Scribd company logo
1 of 5
Laboratório de ensino - Plano de aula

Aula preparada por Rodrigo Marcos de Jesus e Maria Lúcia Amorim

Profa. Telma Birchal

Tema: Liberdade

Assunto: Podemos ser livres com o outro?

Objetivo: Trabalhar o assunto em duas perspectivas: ética e amorosa. Na primeira

perspectiva deve-se trabalhar a relação da liberdade com os limites e a lei; na segunda,

pretende-se tematizar a liberdade do outro.

Metodologia

Momento 1 – motivação:

O professor que dirige a aula coloca no quadro a seguinte frase:

“Minha liberdade termina onde começa a do outro”.

- Introduzir a discussão: este é um dito popular, um dito de sabedoria. A filosofia, porém,

deve refletir sobre estes ditos populares. Podemos perguntar: este ditado está certo? Está

sempre certo? Vamos tentar encontrar argumentos a favor e contrários a ele.

- Dividir o quadro em duas colunas, anotando as posições dos alunos:

argumentos a favor x argumentos contra

Argumentos / exemplos a favor:

- no condomínio do prédio - não posso ouvir música alta a qualquer horário; não

posso chegar para as aulas em qualquer horário; etc.

- anotar outros exemplos dos alunos

Conclusão: Há uma espécie de lei que torna a vida coletiva possível – ela é

necessária para garantir a vida em comum. Muitos filósofos pensaram que desta

necessidade surgiu o Estado.

 Argumentos/ exemplos contrários

- anotar os exemplos dos alunos.

O professor pode dar os seguintes exemplos:
- muitas vezes a minha liberdade aumenta quando a do outro aumenta.

Por exemplo, os povos que estão dominados ou explorados, quando se unem, e lutam

por mais direitos ou poder, todos vêem aumentar sua liberdade. Neste sentido, a

liberdade tem que ser alcançada coletivamente – não conhecemos o ditado: “a união faz

a força”?

- numa família, se o filho é criado de modo muito dependente dos pais, ele se torna

pouco livre, mas os pais também ficam presos, sempre ligados a este filho. Um aumento

da liberdade do filho seria também um aumento da liberdade dos pais. Às vezes, porém,

ninguém quer esta liberdade...

- um grande filósofo, Hegel, falou da “dialética do senhor e do escravo”. A gente

pensa que o senhor é livre e que o escravo não é. Hegel mostrou, porém, que o senhor 2

depende do escravo, pois morreria sem este trabalho. Logo o senhor também não é

livre. As pessoas só são livres numa sociedade que não tem nem senhores nem

escravos. Daí que a liberdade de um aumenta com o aumento da liberdade de outro.

Conclusão: a frase acima “Minha liberdade termina onde começa a do outro” é verdadeira

só em parte e em algumas situações. Mas o problema da liberdade diante do outro é bem

mais complexo. Vamos pensar um pouco mais sobre isto: É possível ser livre com o outro?

(colocar no quadro esta questão).

Momento 2 – liberdade e ética – em pequenos grupos

Objetivo: Refletir sobre o seguinte problema: nós limitamos as nossas ações por causa do

olhar do outro ou por alguma outra razão interior a nós mesmos?

Dividir a sala em grupos

2.1- Distribuir o texto “O Anel de Giges” – da República de Platão

  Leitura em grupos.

- Discutir a questão: Você concorda com a afirmação de Glauco de que “ninguém é

justo por vontade própria, só por medo da lei”? Será que a nossa liberdade só é

limitada pelo medo do outro?
2.2- Distribuir o texto “A moral”, comentário de Comte-Sponville sobre o anel de Giges.

-Discutir a afirmação do autor: “Agir moralmente é levar em conta os interesses do

outro”.

- Retomar a questão do objetivo acima: nós limitamos as nossas ações por causa do

olhar do outro ou por alguma outra razão interior a nós mesmos?

Conclusão: Alguns filósofos defenderam a idéia de que os homens têm interiormente, a

idéia do bem e do mal e a ela devem se reportar para regular suas ações. Rousseau, por

exemplo, fala deste sentimento moral. Kant fala da autonomia, ou seja, de uma lei que o

sujeito se dá e que ser livre é seguir esta lei que nós mesmos nos damos. É a id

Momento 3 – liberdade e amor. Voltar ao grupo grande

Objetivo: Refletir sobre a experiência do amor e a dificuldade de conviver com a liberdade

do outro.

- Leitura da estória “A Menina e o pássaro encantado”. O professor lê para a turma.

(uma idéia é passar o livro ilustrado para power-point e fazer a projeção da estória)

- Pedir aos alunos para escrever uma frase que resuma o sentido da estória.

- Passar no quadro as frases dos alunos.

Frases possíveis: “O amor vive da liberdade”

    “Prender o outro não é amar”

    “O outro não é um objeto, por isso não pode ser possuído”.

- Ler o texto retirados de “Retratos do amor”.

Conclusão: Voltar ao ponto acima, que a nossa liberdade cresce com a liberdade do outro

Bibliografia

CORDI et alii. Para filosofar. Editora Scipione, 1995.

GALLO. Sílvio (coord). Ética e cidadania. Campinas, Papirus Editora, 12

a

.edição 2004 .

Unidade 8: A liberdade 3
A liberdade e os outros

Texto 1 - O anel de Giges

(O trecho abaixo foi retirado do livro A República, de Platão. Trata-se de um diálogo entre

Sócrates e Glauco sobre a justiça).

Glauco - Você certamente conhece aquela história do pastor Giges, que, certa vez, quando

um terremoto abriu uma fenda na terra no local onde apascentava o rebanho do seu rei, teve

a oportunidade de descer ao Hades

1

,Chegando lá, entre as coisas espantosas que viu .

encontrou um cadáver com um anel de ouro no dedo. Giges tirou dele o anel e saiu dali.

Depois disso, quando se reuniu com outros pastores para ir prestar contas ao rei dos seus

rebanhos, virou sem querer o anel para a parte interna da mão e, ao fazer isto, notou que se

tornara invisível. Virou o anel para o outro lado e voltou a ser visível. Quando se deu conta

de que o anel tinha aquele poder, entrou na comitiva que ia se encontrar com o rei.

Chegando à corte, seduziu a mulher do soberano e, com a sua ajuda, matou-o e tomou o

poder. Pois bem, se déssemos ao justo e ao injusto um anel que os tornasse invisíveis, tenho

certeza de que os dois se comportariam da mesma maneira, o que prova que ninguém é

justo por vontade própria, mas só por medo da lei, e também prova que a justiça não é um

bem incondicional, pois quando alguém pode cometer injustiça sem ser notado, certamente

as comete.

PLATÃO. A República. Adaptação de Marcelo Perine. São Paulo, Scipione, 2002, p.35.

Texto 2 – Aos apaixonados

O desejo da gente é sempre engaiolar o outro e levá-lo pelos caminhos que são

nossos. Isso vale para tudo: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho, patrão-empregado,

professor-aluno... Não admira que Sartre tenha dito que “o inferno é o outro”.

 Não haverá uma saída. Lembro-me de um pequeno poema de Pearls que sugere a

possibilidade de uma relação sem gaiolas:
Eu sou eu

Você é você.

Eu não estou neste mundo para atender

às suas expectativas.

E você não está neste mundo para atender

às minhas expectativas.

Eu faço a minha coisa.

Você faz a sua.

E quando nos encontramos

É muito bom.

ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. Campinas, Papirus, 1999..



1

O Hades, para os gregos, era um local subterrâneo e tenebroso, para onde iam as almas
depois da morte.

More Related Content

Similar to P aula

Confessionalidade.pptx
Confessionalidade.pptxConfessionalidade.pptx
Confessionalidade.pptxRenatoRBorges
 
História do direito 08 ago a 19 set
História do direito   08 ago  a 19 setHistória do direito   08 ago  a 19 set
História do direito 08 ago a 19 setgabriela_eiras
 
A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...
A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...
A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...Larissa Seabra
 
Liberdade, propriedade, fraternidade
Liberdade, propriedade, fraternidadeLiberdade, propriedade, fraternidade
Liberdade, propriedade, fraternidadeWilton Moretto
 
Do contrato social Vol. 1
Do contrato social Vol. 1 Do contrato social Vol. 1
Do contrato social Vol. 1 ThaisRocha05
 
Minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro
Minha liberdade termina onde começa a liberdade do outroMinha liberdade termina onde começa a liberdade do outro
Minha liberdade termina onde começa a liberdade do outroSérgio dos Céus Nelson
 
filosofia- podemos ser livres.pptx
filosofia- podemos ser livres.pptxfilosofia- podemos ser livres.pptx
filosofia- podemos ser livres.pptxLyaSoares5
 
A propriedade-e-um-roubo-proudhon
A propriedade-e-um-roubo-proudhonA propriedade-e-um-roubo-proudhon
A propriedade-e-um-roubo-proudhonmoratonoise
 
Fundamentos da ética - legislação e ética da comunicação
Fundamentos da ética - legislação e ética da comunicaçãoFundamentos da ética - legislação e ética da comunicação
Fundamentos da ética - legislação e ética da comunicaçãoLaércio Góes
 
A propriedade é um roubo
A propriedade é um rouboA propriedade é um roubo
A propriedade é um rouboaa. Rubens Lima
 
Artigo Popper_vida do autor_textos centrais
Artigo Popper_vida do autor_textos centraisArtigo Popper_vida do autor_textos centrais
Artigo Popper_vida do autor_textos centraisLusFrancisco9
 
John Locke, liberdade, John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...
John Locke, liberdade,  John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...John Locke, liberdade,  John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...
John Locke, liberdade, John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...Manoelito Filho Soares
 
Dos direitos dos animais - Roberto Brusnicki
Dos direitos dos animais - Roberto BrusnickiDos direitos dos animais - Roberto Brusnicki
Dos direitos dos animais - Roberto BrusnickiRoberto Brusnicki
 
Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)
Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)
Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)Kyllyson Afonso
 

Similar to P aula (20)

Confessionalidade.pptx
Confessionalidade.pptxConfessionalidade.pptx
Confessionalidade.pptx
 
A liberdade (2° ano)
A liberdade (2° ano)A liberdade (2° ano)
A liberdade (2° ano)
 
História do direito 08 ago a 19 set
História do direito   08 ago  a 19 setHistória do direito   08 ago  a 19 set
História do direito 08 ago a 19 set
 
A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...
A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...
A+questão+filosófica+da+liberdade !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!...
 
Liberdade, propriedade, fraternidade
Liberdade, propriedade, fraternidadeLiberdade, propriedade, fraternidade
Liberdade, propriedade, fraternidade
 
Emmanuel Kant
Emmanuel KantEmmanuel Kant
Emmanuel Kant
 
A logica-dos-condominios-fechados
A logica-dos-condominios-fechadosA logica-dos-condominios-fechados
A logica-dos-condominios-fechados
 
Obras PAS 2 serie.pdf
Obras PAS 2 serie.pdfObras PAS 2 serie.pdf
Obras PAS 2 serie.pdf
 
Do contrato social Vol. 1
Do contrato social Vol. 1 Do contrato social Vol. 1
Do contrato social Vol. 1
 
Minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro
Minha liberdade termina onde começa a liberdade do outroMinha liberdade termina onde começa a liberdade do outro
Minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro
 
filosofia- podemos ser livres.pptx
filosofia- podemos ser livres.pptxfilosofia- podemos ser livres.pptx
filosofia- podemos ser livres.pptx
 
A propriedade-e-um-roubo-proudhon
A propriedade-e-um-roubo-proudhonA propriedade-e-um-roubo-proudhon
A propriedade-e-um-roubo-proudhon
 
Fundamentos da ética - legislação e ética da comunicação
Fundamentos da ética - legislação e ética da comunicaçãoFundamentos da ética - legislação e ética da comunicação
Fundamentos da ética - legislação e ética da comunicação
 
A propriedade é um roubo
A propriedade é um rouboA propriedade é um roubo
A propriedade é um roubo
 
Logica
LogicaLogica
Logica
 
Artigo Popper_vida do autor_textos centrais
Artigo Popper_vida do autor_textos centraisArtigo Popper_vida do autor_textos centrais
Artigo Popper_vida do autor_textos centrais
 
John Locke, liberdade, John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...
John Locke, liberdade,  John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...John Locke, liberdade,  John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...
John Locke, liberdade, John Stuart Mill e Jeremy Bentham, utilitarismo, praz...
 
Dos direitos dos animais - Roberto Brusnicki
Dos direitos dos animais - Roberto BrusnickiDos direitos dos animais - Roberto Brusnicki
Dos direitos dos animais - Roberto Brusnicki
 
Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)
Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)
Introdução ao pensamento complexo (capitulo 6)
 
Kant (1) copia
Kant (1)   copiaKant (1)   copia
Kant (1) copia
 

P aula

  • 1. Laboratório de ensino - Plano de aula Aula preparada por Rodrigo Marcos de Jesus e Maria Lúcia Amorim Profa. Telma Birchal Tema: Liberdade Assunto: Podemos ser livres com o outro? Objetivo: Trabalhar o assunto em duas perspectivas: ética e amorosa. Na primeira perspectiva deve-se trabalhar a relação da liberdade com os limites e a lei; na segunda, pretende-se tematizar a liberdade do outro. Metodologia Momento 1 – motivação: O professor que dirige a aula coloca no quadro a seguinte frase: “Minha liberdade termina onde começa a do outro”. - Introduzir a discussão: este é um dito popular, um dito de sabedoria. A filosofia, porém, deve refletir sobre estes ditos populares. Podemos perguntar: este ditado está certo? Está sempre certo? Vamos tentar encontrar argumentos a favor e contrários a ele. - Dividir o quadro em duas colunas, anotando as posições dos alunos: argumentos a favor x argumentos contra Argumentos / exemplos a favor: - no condomínio do prédio - não posso ouvir música alta a qualquer horário; não posso chegar para as aulas em qualquer horário; etc. - anotar outros exemplos dos alunos Conclusão: Há uma espécie de lei que torna a vida coletiva possível – ela é necessária para garantir a vida em comum. Muitos filósofos pensaram que desta necessidade surgiu o Estado. Argumentos/ exemplos contrários - anotar os exemplos dos alunos. O professor pode dar os seguintes exemplos:
  • 2. - muitas vezes a minha liberdade aumenta quando a do outro aumenta. Por exemplo, os povos que estão dominados ou explorados, quando se unem, e lutam por mais direitos ou poder, todos vêem aumentar sua liberdade. Neste sentido, a liberdade tem que ser alcançada coletivamente – não conhecemos o ditado: “a união faz a força”? - numa família, se o filho é criado de modo muito dependente dos pais, ele se torna pouco livre, mas os pais também ficam presos, sempre ligados a este filho. Um aumento da liberdade do filho seria também um aumento da liberdade dos pais. Às vezes, porém, ninguém quer esta liberdade... - um grande filósofo, Hegel, falou da “dialética do senhor e do escravo”. A gente pensa que o senhor é livre e que o escravo não é. Hegel mostrou, porém, que o senhor 2 depende do escravo, pois morreria sem este trabalho. Logo o senhor também não é livre. As pessoas só são livres numa sociedade que não tem nem senhores nem escravos. Daí que a liberdade de um aumenta com o aumento da liberdade de outro. Conclusão: a frase acima “Minha liberdade termina onde começa a do outro” é verdadeira só em parte e em algumas situações. Mas o problema da liberdade diante do outro é bem mais complexo. Vamos pensar um pouco mais sobre isto: É possível ser livre com o outro? (colocar no quadro esta questão). Momento 2 – liberdade e ética – em pequenos grupos Objetivo: Refletir sobre o seguinte problema: nós limitamos as nossas ações por causa do olhar do outro ou por alguma outra razão interior a nós mesmos? Dividir a sala em grupos 2.1- Distribuir o texto “O Anel de Giges” – da República de Platão Leitura em grupos. - Discutir a questão: Você concorda com a afirmação de Glauco de que “ninguém é justo por vontade própria, só por medo da lei”? Será que a nossa liberdade só é limitada pelo medo do outro?
  • 3. 2.2- Distribuir o texto “A moral”, comentário de Comte-Sponville sobre o anel de Giges. -Discutir a afirmação do autor: “Agir moralmente é levar em conta os interesses do outro”. - Retomar a questão do objetivo acima: nós limitamos as nossas ações por causa do olhar do outro ou por alguma outra razão interior a nós mesmos? Conclusão: Alguns filósofos defenderam a idéia de que os homens têm interiormente, a idéia do bem e do mal e a ela devem se reportar para regular suas ações. Rousseau, por exemplo, fala deste sentimento moral. Kant fala da autonomia, ou seja, de uma lei que o sujeito se dá e que ser livre é seguir esta lei que nós mesmos nos damos. É a id Momento 3 – liberdade e amor. Voltar ao grupo grande Objetivo: Refletir sobre a experiência do amor e a dificuldade de conviver com a liberdade do outro. - Leitura da estória “A Menina e o pássaro encantado”. O professor lê para a turma. (uma idéia é passar o livro ilustrado para power-point e fazer a projeção da estória) - Pedir aos alunos para escrever uma frase que resuma o sentido da estória. - Passar no quadro as frases dos alunos. Frases possíveis: “O amor vive da liberdade” “Prender o outro não é amar” “O outro não é um objeto, por isso não pode ser possuído”. - Ler o texto retirados de “Retratos do amor”. Conclusão: Voltar ao ponto acima, que a nossa liberdade cresce com a liberdade do outro Bibliografia CORDI et alii. Para filosofar. Editora Scipione, 1995. GALLO. Sílvio (coord). Ética e cidadania. Campinas, Papirus Editora, 12 a .edição 2004 . Unidade 8: A liberdade 3
  • 4. A liberdade e os outros Texto 1 - O anel de Giges (O trecho abaixo foi retirado do livro A República, de Platão. Trata-se de um diálogo entre Sócrates e Glauco sobre a justiça). Glauco - Você certamente conhece aquela história do pastor Giges, que, certa vez, quando um terremoto abriu uma fenda na terra no local onde apascentava o rebanho do seu rei, teve a oportunidade de descer ao Hades 1 ,Chegando lá, entre as coisas espantosas que viu . encontrou um cadáver com um anel de ouro no dedo. Giges tirou dele o anel e saiu dali. Depois disso, quando se reuniu com outros pastores para ir prestar contas ao rei dos seus rebanhos, virou sem querer o anel para a parte interna da mão e, ao fazer isto, notou que se tornara invisível. Virou o anel para o outro lado e voltou a ser visível. Quando se deu conta de que o anel tinha aquele poder, entrou na comitiva que ia se encontrar com o rei. Chegando à corte, seduziu a mulher do soberano e, com a sua ajuda, matou-o e tomou o poder. Pois bem, se déssemos ao justo e ao injusto um anel que os tornasse invisíveis, tenho certeza de que os dois se comportariam da mesma maneira, o que prova que ninguém é justo por vontade própria, mas só por medo da lei, e também prova que a justiça não é um bem incondicional, pois quando alguém pode cometer injustiça sem ser notado, certamente as comete. PLATÃO. A República. Adaptação de Marcelo Perine. São Paulo, Scipione, 2002, p.35. Texto 2 – Aos apaixonados O desejo da gente é sempre engaiolar o outro e levá-lo pelos caminhos que são nossos. Isso vale para tudo: marido-mulher, pai-filha, mãe-filho, patrão-empregado, professor-aluno... Não admira que Sartre tenha dito que “o inferno é o outro”. Não haverá uma saída. Lembro-me de um pequeno poema de Pearls que sugere a possibilidade de uma relação sem gaiolas:
  • 5. Eu sou eu Você é você. Eu não estou neste mundo para atender às suas expectativas. E você não está neste mundo para atender às minhas expectativas. Eu faço a minha coisa. Você faz a sua. E quando nos encontramos É muito bom. ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. Campinas, Papirus, 1999.. 1 O Hades, para os gregos, era um local subterrâneo e tenebroso, para onde iam as almas depois da morte.