2. Posteriormente ao 25 de Abril de 1974, nos finais do século XIX
começou a verificar-se, no campo intelectual português, o
surgimento de princípios epistemológicos inovadores
provenientes das ciências sociais. Em 1884, é publicado o
Tratado de Sociologia de Teófilo Braga, com fortes influências do
positivismo organicista e evolucionista. Este tratado resultou de
um contexto social e cultural, reflectindo, desta forma, as
polémicas intelectuais do virar do século, profundamente
marcadas pelo positivismo. Esse período de reflexão e interesse
pelas ciências sociais culminou numa institucionalização
temporária da sociologia no mundo académico português.
3. Com o surgir de um sector modernizado da sociedade
portuguesa, aparecem as ciências sociais como um instrumento
importante desse desenvolvimento. Aparecem centros de
pesquisa, ligados às universidades, constituem-se associações
científicas, aparecem publicações especializadas no assunto,
organizam-se encontros e congressos, consolidam-se as novas
ciências sociais, onde a Sociologia irá ter um papel fundamental
na divulgação de novas ideias e no desenvolvimento da
sociedade portuguesa.
4. Este desenvolvimento tardio do género nas ciências sociais em
Portugal na sociologia, deveu-se a um conjunto de factores que
deu origem a um contexto social e cultural pouco. De entre eles,
destaca-se:
A invisibilidade das organizações de mulheres criadas na
década de 1970;
A baixa escolaridade da população portuguesa no século XX,
agravando-se ainda na população feminina;
A mobilização das mulheres que conseguiam aceder ao
ensino superior, uma minoria, privilegiadas e pertencentes a
uma elite, para a luta contra a ditadura e a guerra colonial,
dado o contexto social e político da altura.
5. A missão da Sociologia é fazer com que certos fenómenos
da vida social tidos como “naturais” sejam vistos como fruto
da própria sociedade e, desse modo, passem a ser
questionáveis. A sociedade está em nós e ao mesmo tempo
constrói-se e reproduz-se a partir da dinâmica
intersubjectiva, o que dá razão a Marcel Proust quando
afirmou que “o social é a criação do pensamento dos
outros”. É por isso que, olhando as atuais sociedades,
cujas relações sociais são estruturadas sob assimetrias de
poder e desigualdades tão flagrantes, a objetividade e o
rigor teórico e metodológico da sociologia não podem
confundir-se com “neutralidade”.
6. Em 1963, surgiram cursos com disciplinas de sociologia e,
mesmo uma licenciatura em Sociologia no Instituto de Estudos
Superiores de Évora.
Um verdadeiro marco na história da sociologia em Portugal,
acontece em 1963 com o surgimento da revista Análise
Social, projecto de um grupo de investigadores, quase todos
identificados com o progressismo católico, movidos pelas ideias
do desenvolvimento económico baseado no progresso e na
justiça social.
7. De uma forma sintética e identificando as diferentes variantes da
produção sociológica em Portugal e a melhor prática dessa produção
nos últimos anos, eu diria que os benefícios que a institucionalização
tardia da sociologia em Portugal teve as seguintes vantagens:
A abertura interdisciplinar do trabalho sociológico,
A tendência para a auto reflexividade epistemológica e
metodológica,
O ajustamento entre dimensão teórica e dimensão empírica do
social,
Pluralismo teórico e metodológico, aliado à rejeição de orientações
paradigmáticas exclusivistas,
A combinação de metodologias quantitativas e qualitativas,
A articulação de diferentes níveis de análise, macro, micro, global
e local;
O interesse por estudos inovadores e de “fronteira”,
A combinação equilibrada entre a investigação fundamental, a
investigação aplicada e a intervenção profissional.