O documento resume o livro "Psicogênese da Língua Escrita" de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, que descreve como crianças constroem seu entendimento da escrita ao longo de vários níveis. Ele também discute como a obra revolucionou a compreensão sobre alfabetização e influenciou as abordagens pedagógicas no Brasil.
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Resumo psicogênese da língua escrita
1. Psicogênese da língua escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky
Publicado by: Abner Melanias em: 25/12/2009
Por Abner Melanias
O livro de Emilia Ferrei ro e Ana Teberosky – fruto da pesquisa obtida no decorrer de dois
anos de trabalho experimental com crianças entre quat ro e seis anos – tem por objetivo
explicar como se dá o processo através do qual a escrita se constitui em objeto de
conhecimento para a criança, isto é, a escrita, como toda representação baseia -se em uma
construção mental que cria suas próprias regras. As investigações de Emilia e seus
colaborados procuram demonstrar o papel ativo do sujeito no processo de elaboração
individual da escrita. Na relação com a escrita, a criança elabora e testa hipóteses de
natureza cognitiva a respeito de como se escrevem as palavras. A criança, mesmo muito
pequena, tem a habilidade de se colocar problemas, criar hipóteses, testá-las e construi r
verdadeiros sistemas interpretativos na busca pela compreensão do universo ao seu redor.
Nas palavras das autoras, objetivou-se “[...] tentar uma explicação dos processos e das
formas mediante as quais a criança consegue aprender a ler e escrever. Entendemos por
processo o caminho que a criança deverá percorrer para compreender as características, o
valor e a função da escrita, desde que esta se constitui no objeto da sua atenção, portanto,
do seu conhecimento” (p. 18). As pesquisas de Emília F errei ro impactaram de tal forma o
conceito de al fabetização que desmontou as teorias e possíveis explicações que os
brasilei ros levaram décadas para explicar o fracasso na alfabetização inicial. Foram os
estudos da autora que permitiram di ferenciar al fabetização de ortografização. Hoje se sabe
que os erros de ortográfica não estão relacionados ao modo de falar e sim com a
convivência ou não com textos impressos.
A teoria da psicogênese da língua escrita, segundo Ferrei ro e Teberosky, consiste em supor
que é necessária uma série de processos de reflexão sobre a linguagem para passar a uma
escrita; mas, por sua vez, a escrita constituída permite novos processos de reflexão que
dificilmente teriam podido existir sem ela. O processo psicogenético de construção da língua
escrita é caracterizado pelas inúmeras interações sociais e pelas experiências do sujeito
aprendiz na prática de ler e escrever. Internamente, os conceitos são construídos em caráter
provisório e relativamente estáveis na evolução da aprendizagem, sendo assim um processo
ativo, dinâmico, auxiliado pela seqüência de contradições e conflitos cognitivos.
A obra “Psicogênese da língua escrita” se estrutura em oito capítulos. No primeiro, de
manei ra introdutória as autoras apontam para os princípios básicos que guiaram a
construção do projeto experimental em que o método clínico ou de exploração crítica,
desenvolvido por Piaget, constitui a base teórica de referência. Entretanto, Ferreiro e
Teberosky não tomam a teoria piagetiana como “dogma”, antes partem del a para provar a
validade geral e aplicá-la em domínios ainda inexplorados a parti r dessa perspectiva. Os
estudos experimentais envolveram crianças de diversos meios sociais em diferentes países
(Argentina, México, Espanha e Brasil).
O capítulo dois “Os aspectos formais do grafismo e sua interpretação” aborda as
características formais que um texto deve possuir para permitir um ato de leitura: i)
quantidade suficiente de caracteres, ii) variedade de caracteres, iii) relação entre números e
letras e o reconhecimento de letras individuais e iv) distinção entre letras e sinais de
pontuação. Dado esses pressupostos, as crianças definem letras e números, que lhes são
apresentados, como objetos em oposição ao desenho. A distinção de números/letras/sinais
de pontuação ocorre por conta dos conhecimentos socialmente transmitidos, sistematizados
então pela criança. Um dos critérios utilizados por Ferreiro era a seleção das palavras e
frases apresentadas às crianças, ou seja, o repertório de palavras não deveria constar de
manuais de alfabetização e apresentar uma relação semântica entre si (fazer parte do
mesmo campo lexical): alimentos, animais, brinquedos, entre outros.
Os capítulos três e quatro abordam as hipóteses criadas pelas crianças em relação à escrita.
Nesse sentido a representação icônica (imagem) funciona como expressão de seu
pensamento através de desenhos, não tendo a noção de escrita no sentido propriamente
dito. Escrever é a mesma coisa que desenhar. Por outro lado, a representação não-icônica
2. (sem imagem) vai além do desenho, funcionando como expressão do pensamento da
criança através de rabiscos, daí o termo “não-icônica”. A criança inicia o conceito de escrita,
mas ainda não reconhece as letras do alfabeto e seu valor sonoro.
Para Ferrei ro e Teberosky toda criança passa por níveis estruturais da l inguagem escrita até
que se aproprie da complexidade do sistema al fabético. São estes níveis estruturais, que
embasam a teoria da psicogênese, e que os capítulos cinco, seis e sete abordarão em
profundidade. Os níveis de escrita, segundo a Psicogênese da l íngua escrita são: Nível 1:
pré-silábico(a criança não estabelece vínculo entre fala e escrita e tem leitura global,
individual e instável do que escreve: só ela sabe o que quis escrever), Nível 2: Intermediário
Silábico(a criança começa a ter consciência de que existe alguma relação entre pronuncia e
a escrita), Nível 3: Hipótese Silábica (a criança tenta fonetizar a escrita e dar valor sonoro às
letras), Nível 4: Hipótese Silábico-Alfabética ou Intermediário II(a criança consegue combinar
vogais e consoantes numa mesma palavra, numa tentativa de combinar sons, sem tornar,
ainda, sua escrita socializável ) e Nível 5: Hipótese alfabética(a criança compreende o modo
de construção do código da escrita).
A relevância desta obra, após vinte anos de sua primeira edição, não está somente na
revolução teórica gerada pela discussão de seus postulados, visto os documentos
produzidos pelas secretarias de educação da época, que recomendavam a utilização de tais
pressupostos. O grande valor da “Psicogênese da língua escrita” foi permitir que os estudos
de experimentação pedagógica construíssem uma didática voltada para a linguagem,
trazendo os textos do mundo para dentro da escola e buscando aproximar as práticas de
ensino da língua das práticas de leitura e escritas reais, o que vem sendo difundido em larga
escala pelo Ministério da Educação (MEC) nos Parâmetros e Referenciais Curriculares
Nacionais (PCN’s) para a educação básica. Os conceitos de Ferreiro e Teberosky apontam
na direção de uma compreensão cada vez maior dos processos de aprendizagem dos
diferentes conteúdos, sem distorcer o objeto a ser ensinado, adaptando-se ao percurso do
aprendiz, ou seja, a alfabetização inicial é de natureza conceitual e constitui -se em questão
crucial para se entender os rumos pedagógicos tomados pela educação básica brasilei ra nos
últimos anos.
Referências Bibliográficas
FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre:
ArtMed, 2008
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