O documento analisa a união entre a poesia de Carlos Drummond de Andrade em "História de dois Amores" e as ilustrações de Ziraldo no livro. Ele descreve como as ilustrações de Ziraldo complementam perfeitamente a poesia de Drummond para transmitir significados sobre a amizade. O documento também discute como o livro ensina às crianças a valorizar as diferenças e a cooperação.
1. HISTÓRIA DE DOIS AUTORES
Juliano Mattos de Moraes - PET/Educação
cristunesp@uol.com.br
Resumo: O presente trabalho é, na verdade, a apresentação dos resultados de uma leitura.
Não trata-se de uma leitura qualquer, mas da leitura de uma obra de Drummond ilustrada
pela sutileza contundente do traço de Ziraldo, ambas interagindo e buscando encontrar
significados para algo tão grande quanto a verdadeira amizade. O objetivo desta análise é
encontrar os elementos literários que viabilizaram a precisa junção da poesia contida em
História de dois Amores, de Carlos Drummond de Andrade (2013) e as ilustrações de
Ziraldo. A metodologia utilizada foi, a partir de sucessivas e atentas leituras, proceder uma
investigação e um levantamento dos recursos utilizados pelos escritores supracitados para
procurar saber o que efetivamente aproxima o leitor do texto. Os resultados foram
expressivos, pois mostraram que a poesia não é uma arte autossuficiente e ensimesmada,
ela pode vir acompanhada de elefantes multicoloridos e de pulgas representadas apenas por
pontilhados que indicam as suas trajetórias, desde que o objetivo seja otimizar a
significação do texto poético. Escrever não é somente utilizar-se da racionalidade, da frieza
do verbo, da genialidade do cérebro humano. Escrever é promover encontros. Quem
escreve utiliza as palavras para compartilhar suas múltiplas visões de mundo com quem lê.
História de dois Amores é um livro poético, patético, fraternal, inspirador, como só uma
verdadeira amizade sabe ser. Neste livro, Ziraldo e Drummond reuniram muito mais do
que seus talentos artísticos, fizeram uma confraternização linguística mediada pelo talento
de ambos. Linguagens verbais, pictóricas, onomatopeias, todos estes ingredientes
conspiraram para que este livro acontecesse. Ao falar de amor, Carlos utilizou-se de sutis
referências à “grande literatura”, como no trocadilho que faz com o verso de Y-Juca
Pirama, de Gonçalves Dias, onde parafraseia o verso: "sou bravo, sou forte, sou filho do
norte". Além disto, o clima do livro todo é grandioso e os sentimentos aludidos são
comuns a todas as pessoas. A amizade, pretexto do texto, nada mais é do que a constatação
de que as diferenças são instrumentos selecionados pela natureza para garantir-nos a
sobrevivência. Osborn, o desleixado rei dos elefantes, encontra casualmente a pulga Pul
2. em sua viagem de retorno à África, após suas férias na capital carioca, ele estava
preocupado com os rumores separatistas em sua manada e encontrou na pequena pulga
uma aliada poderosa. Entre um estratagema e outro, Pul e Osbó, mais do que de guerra,
falavam de amor, faziam planos e preparavam um roteiro para as mais belas histórias de
amor que haveria no reino animal. Penso ser esta a intenção de Drummond e Ziraldo,
mostrar às crianças e adultos que as diferenças nada mais são que matizes de um quadro
cubista: somos a mesma coisa detrás daquela imperfeição, temos interesses e sentimentos
muito parecidos e que, em função disso, no caso de haver diferenças, elas deverão ser
superadas no mais sincero e afetivo espírito de cooperação. Como exemplo, pode-se
mencionar a chegada dos dois viajantes ao país dos elefantes, quando a Pul pica os
insurretos, provocando neles um inchaço de orelha que os tira de combate. A solidariedade
de Pul é um bom mote para se entender a moral da história: “a união faz a força”. Mesmo
que o nosso aliado não seja tão forte, alguma habilidade ele há de ter, pois a natureza é
sábia e dota-nos com capacidades tão específicas que, num contexto mais largo, nos
tornamos imprescindíveis na harmonização das coisas. Quando olhamos o outro com
compaixão e interesse desinteressado, nos tornamos capazes de colocar suas prioridades à
frente das nossas, sem a banal e carnal sensação de que estamos sendo prejudicados. Ao
transportarmos esta história exemplar para o contexto escolar, promovemos junto às
crianças uma noção de interação muito mais refinada, diferente daquelas que as mesmas
estão acostumadas e/ou submetidas? Possivelmente. Pensando nisso, torna-se ainda mais
compreensiva a proposta de união feita por Drummond e Ziraldo, ambos, gigantescamente
talentosos. Os dois artistas uniram-se e também uniram a palavra à ilustração. Desta forma,
construíram um livro lotado de representações da realidade disfarçadas em forma de
fábula. O livro evidencia a importância pedagógica da leitura para as crianças. Além disto,
todos os que leem são levados a uma gostosa reflexão acerca de vivências e dificuldades
que todos temos, indicando que seriam mais facilmente superadas com leveza e um pouco
mais de preparo.
Palavras-chave: simplicida; poesia; simplicidade.