1) O documento discute a história da Igreja Santo André em Dourados, MS, construída na década de 1970 em estilo rústico com tijolos aparentes.
2) Nos últimos dez anos, a igreja passou por várias reformas internas e externas. Atualmente, há planos para construir uma Capela do Santíssimo anexa à igreja.
3) O autor levanta questões sobre se a construção da capela é necessária e se preservará a arquitetura original da igreja, concluindo
A importância da preservação da identidade arquitetônica e histórica da Igreja Santo André
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IGREJA, POVO DE DEUS
Há no mundo diversos estilos de construções, em sua maioria retratando traços à época
em que foi construída. Algumas conservam características, que marcam uma época, são comuns
em edificações religiosas, os templos ou igrejas. As formas e estilos acompanham a evolução
da humanidade, graças as edificações que foram preservadas até os dias de hoje. Diversos os
estilos artísticos produzidos na história da arquitetura: paleocristãos, bizantinos, romanistas,
góticas, renascentistas, barrocas, revivalistas, modernistas e pós modernistas.
Trazendo para a realidade local, a Igreja Santo André, com dimensão de 21mx23m, a
segunda capela na história do bairro que leva o mesmo nome, construída no final da década de
70. Erguida com tijolos à vista, revelam alguns traços do mundo rural, do homem do campo,
que está chegando para ocupar a área urbana de Dourados. O tijolo aparente confere um ar
rústico, e garante um bom conforto térmico e acústico. Possui um aspecto antigo, campestre,
onde o passado é evidenciado e as imperfeições são vistas como belas. Trazendo ainda, a leveza
da vida descomplicada, a simples e naturalidade do lugar. De cor avermelhada da terra da
região, do povo acolhedor de Dourados. Com largura e altura um pouco exagerada, diferente
do que existia na cidade, tal qual aqueles braços abertos da imagem do Jesus crucificado,
exposto no alto da parede do altar. Esta obra, revelava um modo franciscano, que desde 1937
atendia a cidade de Dourados, uma identidade para o bairro e a comunidade Santo André
fundada em 20/06/1971.
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A torre construída ao lado da igreja, no alto o sino e a cruz, nos apontam para o alto, o
céu, recordando a todos a hora de rezar, seja pelo som do sino. Nas escrituras, São Paulo disse:
“... buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (cf. Col 3,1ss).
Mas, sem esquecer, de cada um carregar a sua cruz. “Então Jesus disse aos discípulos: Se
alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16,24). No
passado, principalmente na cultura portuguesa, construir uma igreja com uma torre, significava
que lá residiam uma comunidade mais humildes economicamente. Em muitos lugares
demorava anos para construir as torres, devido às dificuldades financeiras. A própria
comunidade Santo André, primeiro fez a igreja e três anos depois, construiu a torre.
Foto: Igreja Santo André – Dourados/MS – 11/09/2021
Não entro no mérito do Projeto de novas construções de igrejas. Pois, vale toda a forma
de criatividade, de arquitetos, paisagistas somados às ideias dos fiéis, lideranças, sacerdotes,
diáconos, liturgistas, teólogos, juntamente com as autoridades diocesanas para o assunto. Quero
dedicar atenção e fazer algumas reflexões, quando já tem a Igreja construída. No caso da Igreja
Santo André, construída em alvenaria de tijolos à vista, inaugurada em 03/12/1978. Não é um
assunto novo, mas uma continuação do que abordei em outro artigo, escrito e publicado em
21/10/2011 – “Reconstruir a Igreja Preservando a História”.
Passados oito séculos, pouco mudou esta realidade, continua ressoando nos interiores
de nossas paróquias e comunidades, assim como aconteceu em Assis com São Francisco. Ele
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saiu um dia da cidade para meditar, ao passar pela igreja de São Damião, que estava prestes a
cair de tão velha, sentindo um desejo de entrar e rezar. Quando esteve rezando no interior da
Igreja de São Damião, ele sentiu que crucifixo falava com ele, ouviu por três vezes: “Francisco,
repara minha casa, pois olhas que está em ruínas”. Era comum naquela época ter grandes
crucifixos nas igrejas onde não fosse conservado o Santíssimo Sacramento. Ao reconstruir essa
igrejinha o que se destaca na vida de Francisco e na Igreja é uma restauração de si e da
espiritualidade da Igreja cristã. Quantas vezes estas vozes, “precisamos reconstruir, reformar,
restaurar a Igreja” ressoam nos ouvidos do padre das comunidades cristãs espalhadas pelo
mundo. E este, se empolgam de tal forma com a ideia que não medem esforços para se tornarem
concretas este sonho. O mesmo aconteceu com Francisco, vendeu tudo que tinha, pegou até
bens materiais da família e vendeu, pediu doações e esmolas, com o dinheiro arrecadado trouxe
ao padre, fazendo de tudo para “Reconstruir a Igreja de São Damião”, imaginando assim,
conforme a voz que ouvir ao contemplar a cruz daquela capela.
Retornando a reflexão para a Comunidade Paroquial Santo André, somente nos últimos
dez anos, cito algumas destas vozes que se tornaram reais em relação ao espaço físico, vejamos:
Troca de Forro da Igreja; Reforma na Instalação Elétrica; Troca do Piso; Reforma do Presbitério
com mudança do Sacrário, substituição do Altar, Ambão e Estante do motivador; Sistema de
Som; Pintura Interna; Reforma da Sacristia; Construção da Sala do Dízimo; Bancos Novos;
Troca do Telhado; Troca da Instalação Elétrica; Troca do Forro (novamente); Colocação de Ar
Condicionado; Compra da Casa Paroquial e Reforma; Troca de Casa Paroquial e Reforma;
Adequação da Sala de Atendimento do Padre e Secretaria Paroquial. Neste período, 30/11/2013,
aconteceu a elevação da Comunidade em Paróquia Santo André.
Atualmente (segundo semestre 2021), está em andamento a Campanha de Restauração
Externa e a Construção da Capela do Santíssimo. Abaixo Foto Ilustrativa do Projeto, divulgada
em banner.
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Destas reformas, algumas chama atenção, mudança do Sacrário que foi retirado do
presbitério e colocado na mesma parede, mais ao lado; a instalação elétrica e o forro trocado
duas vezes. O altar foi reduzido de tamanho e rebaixado em altura o presbitério. Hoje, o altar
está pequeno, pelo costume de colocar seis velas grandes, com o crucifixo, todos perfilados na
parte da frente sobre o mesmo, pouco se enxerga o que ocorre na Mesa da Eucaristia.
Novas Reformas e Ampliações
A primeira pergunta que se faz é: É necessário a construção da Capela do Santíssimo,
numa igreja que foi edificada em 1978? Estando em acordo, os passos seguintes: Existe espaço
para realizar esta nova ampliação? Para realizar a obra, modificará a estrutura ou parte da já
existe?
Conforme exposto no interior da igreja Santo André, através de banners, o projeto
intitulado de “Restauração Externa e Construção da Capela”, gostaria de fazer, provocar
outros questionamentos:
• Esta ampliação está em harmonia com o corpo da igreja?
• Externamente, após a conclusão da obra, o que destacará mais, a igreja ou a capela?
• A ampliação estará em “segundo plano”, que leve os fiéis a uma postura sóbria, para
contemplar o sagrado?
• A ampliação remete sobriedade e simplicidade?
• Teria possibilidade de fazer todo o Projeto sem alterar a originalidade da arquitetura
existente?
• Depois de pronto, ficará aberto todos os dias ou somente nos momentos de missa?
• Porque tirar o campanário (torre) do seu original? Estava com risco de desabamento?
Não poderia preservar a sua originalidade e formato?
A Torre ou Campanário
O campanário da Igreja Santo André, construída no início da década de 80, tem
particularidade marcante, inconfundível, uma identificação própria para o povo católicos do
bairro e da cidade de Dourados, o mesmo pode afirmar com é a própria igreja. A torre fora do
corpo da igreja, é uma característica das igrejas de origem italiana, posicionada do lado das
epístolas (direita). Para quem olha, vem na memória, a torre da Basílica Nacional de Aparecida,
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guardada as devidas proporções, elevada fora do corpo principal do Santuário, igreja
consagrada pelo Papa João Paulo II em 1980 em sua primeira viagem ao Brasil.
Houve tempo em que a torre marcava o centro geográfico da cidade e o centro da vida
dos cidadãos. Mesmo com o progresso das grandes cidades, os sinos não perderam seu valor.
Em tempos antigos, eles eram, em muitas localidades, o único veículo de comunicação,
mandando mensagens para a população. Os dobres e repiques dos sinos informavam horários
de missas, enterros, homenagens a santos, festas religiosas e até incêndios.
Os sinos chamavam para as celebrações. Hoje, entretanto, a torre é facultativa, pois sua
construção depende das tradições locais e dos recursos disponíveis para a obra. Pela
verticalização das cidades, caso se opte por não construir uma torre, é conveniente que haja
algum elemento na fachada direcionado para o céu, com uma cruz e/ou um pequeno sino. São
elementos fortes da igreja-edifício ainda reconhecidos por todos.
A torre com os sinos é um elemento arquitetônico vertical que facilmente sinaliza o
edifício-igreja. O sino lembra que é Deus que convoca seu povo, é o irromper do tempo de Deus
no tempo dos homens (SOUZA et al, 2013).
Segundo Pastro, o campanário ou torre, é o sinal mais alto do anúncio e identificação
do edifício igreja. O som dos sinos (bronze), desde o Antigo Testamento, nas vestes sacerdotais,
corresponde ao som da divindade (culturas orientais) e toca o ouvido e o coração. Atualmente,
os meios eletrônicos servem à corrupção e, usados nas igrejas, passam a nada significar além
do barulho. Os sinos, marcos silenciosos e sonoros, são sinais de esperança e vida longe da voz
humana, barulhenta e irritante que se sente por toda parte (PASTRO, 2012ª, p.174).
Capela do Santíssimo – Tabernáculo
Destas observações, descrevo o que o
Papa Pio XII disse no Discurso aos membros
do Congresso Internacional de Liturgia, em
Assis-Roma, 18 a 23/09/1956, fazendo
algumas ponderações sobre o tabernáculo, a
capela do Santíssimo, como hoje entendemos,
afirmando que o altar é mais importante que o
tabernáculo:
“... o altar é superior ao sacrário, porque nele se oferece o sacrifício de Cristo. O
tabernáculo encerra sem dúvida o sacramentum permanens (sacramento permanente),
mas não é um altare permanens (altar permanente), porque o Senhor se oferece somente
sobre o altar, durante a celebração da santa missa, e não depois e nem fora da missa.
No tabernáculo Ele está presente até que duram as espécies eucarísticas sem, no
entanto, que Ele se ofereça permanentemente... mas, mais importante que o
conhecimento dessas diferenças é saber que é o mesmo Senhor que se imola sobre o
altar e que se venera no tabernáculo ...”
Na igreja matriz de cada paróquia, muito mais nos grandes centros urbanos, acontecem
celebrações eucarísticas três, quatro vezes na semana, outras diariamente. Quantos são os
momentos, que os fiéis tem a oportunidade de estar diante do Cristo, que se oferece
permanentemente no altar, sem a necessidade de recorrer aos sacrários.
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No ítem n.129 da Redemptionis Sacramentum, descreve:
“A celebração da Eucaristia no Sacrifício da Missa é, verdadeiramente, a origem e o
fim do culto que se lhe tributa fora da Missa. As sagradas espécies se reservam depois
da Missa, principalmente com o objeto de que os fiéis que não podem estar presentes à
Missa, especialmente os enfermos e os de avançada idade, possam unir-se a Cristo e
ao seu Sacrifício, que se imola na Missa, pela Comunhão sacramental. Além disso, esta
conservação permite também a prática de tributar adoração a este grande Sacramento,
com o culto de latria, que se deve a Deus. Portanto, é necessário que se promovam
vivamente aquelas formas de culto e adoração, não só privada, mas sim também pública
e comunitária, instituídas ou aprovadas pela mesma Igreja.
Tem pouco sentido, de se guardar ou conservar grandes quantidades de espécies
eucarísticas consagradas no sacrário. Estas reservas eucarísticas, são previstas o suficiente para
o atendimento dos enfermos ou viáticos, que são assistidos pela comunidade paroquial naquele
dia ou na semana. Os fiéis tem direito de comungar do pão consagrado na celebração da qual
está participando. “Os fiéis, habitualmente, recebam a Comunhão sacramental da Eucaristia
na mesma Missa e no momento prescrito pelo mesmo rito da celebração, isto é, imediatamente
depois da Comunhão do sacerdote celebrante” (Redemptionis Sacramentum, 88) e “... é
desejável que os fiéis possam receber as hóstias consagradas na mesma Missa” (Redemptionis
Sacramentum, 89). Cabe aos ministros extraordinários ou ordenados corrigir estes exageros. Já
testemunhei caso, que o ministro traz do sacrário, uma âmbula cheia com espécies eucarísticas
acumuladas de celebrações anteriores.
Com o Concílio Vaticano II, através da Constituição Sacrosanctum Concilium,
documento promulgado solenemente por Papa Paulo VI em 04/12/1963, com 2158 votos a favor
e somente 19 contrários. Neste documento, aparece a questão no Artigo 128:
Revejam-se o mais depressa possível, juntamente com os livros litúrgicos, conforme
dispõe o art. 25, os cânones e determinações eclesiásticas atinentes ao conjunto das
coisas externas que se referem ao culto, sobretudo quanto a uma construção funcional
e digna dos edifícios sagrados, ereção e forma dos altares, nobreza, disposição e
segurança dos sacrários, dignidade e funcionalidade do batistério, conveniente
disposição das imagens, decoração e ornamentos. Corrijam-se ou desapareçam as
normas que parecem menos de acordo com a reforma da Liturgia; mantenham-se e
introduzam-se as que forem julgadas aptas a 6romove-la.
A partir das reformas litúrgicas advindas do Concilio Vaticano II, foram acrescentadas
no Missal Romano algumas orientações para a Igreja, conhecida como Introdução Geral do
Missal Romano (IGMR), que entre diversos temas, aborda sobre o Lugar da Reserva da
Santíssima Eucaristia, nos itens 314 a 317, observe-se que traz de maneira distinta, quando se
trata de igreja a ser construídas das já construídas. Descreve:
314. Conforme a arquitetura de cada igreja e de acordo com os legítimos costumes
locais, guarde-se o Santíssimo Sacramento no sacrário, num lugar de honra da igreja,
insigne, visível, devidamente ornamentado e adequado à oração [123]. Habitualmente,
o tabernáculo deve ser único, inamovível, feito de material sólido e inviolável, não
transparente, e fechado de tal modo que evite o mais possível todo o perigo de
profanação [124]. Convém, além disso, que antes de se destinar ao uso litúrgico, seja
benzido segundo o rito que vem no Ritual Romano [125].
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315. Está mais de harmonia com a natureza do sinal que no altar em que se celebra a
Missa não esteja o sacrário onde se guarda a Santíssima Eucaristia [126]. A juízo do
Bispo diocesano o sacrário pode colocar-se: a) ou no presbitério, fora do altar da
celebração, com a forma e a localização mais convenientes, sem excluir algum altar
antigo que já não se utilize para celebrar (n. 303); b) ou também nalguma capela
adequada à adoração e oração privada dos fiéis [127], que esteja organicamente unida
à igreja e visível aos fiéis cristãos.
316. Segundo o costume tradicional, junto do sacrário deve estar continuamente acesa
uma lâmpada especial, alimentada com azeite ou cera, com que se indique e honre a
presença de Cristo [128].
317. Não se esqueça também, de modo nenhum, tudo o mais que o direito prescreve
acerca da conservação da Santíssima Eucaristia [129].
Na mesma Introdução (IGMR), no item 310, aborda sobre a cadeira do sacerdote:
“A cadeira do sacerdote celebrante deve significar a sua função de presidente da
assembleia e guia da oração. Por isso, o lugar mais indicado é ao fundo do presbitério,
de frente para o povo, a não ser que a arquitetura da igreja ou outras circunstâncias o
não permitam: por exemplo, se devido a uma distância excessiva se tornar difícil a
comunicação entre o sacerdote e a assembleia reunida, ou se o sacrário estiver situado
ao centro, atrás do altar. Deve, porém, evitar-se todo o aspecto de trono [117] ...”.
Aparecendo ainda no item 274 da IGMR, que retrata sobre a genuflexão e inclinação:
A genuflexão, que se faz dobrando o joelho direito até ao solo, significa adoração; é
por isso reservada ao Santíssimo Sacramento e à santa Cruz desde a solene adoração
na Ação litúrgica da Sexta-Feira da Paixão do Senhor, até ao início da Vigília pascal...
Mas, se o sacrário com o Santíssimo Sacramento estiver no presbitério, o sacerdote, o
diácono e os outros ministros genuflectem, quando chegam ao altar, ou quando se
afastam dele, não, porém, durante a própria celebração da Missa.
Aliás, todos os que passam diante do Santíssimo Sacramento genuflectem, a não ser
quando se vai em procissão.
Os ministros que levam a cruz processional ou os círios, em vez de genuflectirem fazem
uma inclinação de cabeça.
Igrejas em Dourados (Nossa Senhora de Fatima, São João Batista e Catedral) que construiu a Capela do Santíssimo
depois da igreja já pronta. Além da harmonia, externamente a capela não chama atenção. (Fotos Paulo Y.Takarada)
Para o artista Claudio Pastro, “a capela do Santíssimo é um espaço à parte, tranquilo,
acolhedor, onde se encontra tão somente o tabernáculo, genuflexórios e cadeiras. Aí, nunca
estará o crucificado ou qualquer outra imagem, pois a presença real é óbvia (PASTRO,
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2012b). A capela do Santíssimo é um lugar apropriado para a oração pessoal (SOUZA et al,
2013).
Hoje também se devem ter preocupações nas construções de espaços para celebrações,
locais em que deve haver clareza na sua função e objetivo. Seja uma catedral ou uma
comunidade de periferia, o objetivo sempre será a busca de um local erguido com harmonia e
que desperte a fé, que ajude os fiéis a se aproximar de Jesus Cristo e fazer uma profunda
experiência pessoal no amor e na graça de Deus. Experimentar o Deus trinitário é ser comunhão,
é criar comunhão e participar da vida em comunidade.
Se fizer uma pesquisa, percorrendo todas as igrejas católicas da cidade ou do país,
observar naquelas que foram acrescentaram, que antes não existia, a capela do Santíssimo,
perceberemos, quase na sua totalidade, que a fachada principal não foi alterada ou modificada.
Foto Ilustrativa – lado lateral – Projeto 2021
Atentos com a evolução dos tempos, os Bispos do Brasil (CNBB), tem colocado nos
últimos anos dois importantes Documentos de Estudos, o nº. 106 (2013) que aborda
“Orientações para Projeto e Construção de Igrejas e disposição do Espaço Litúrgico” e o mais
recente em 2021, o nº 113 “Orientações para Adequação Litúrgica, Restauração e Conservação
das Igrejas”. Segundo Dom Edmar Peron, Presidente da Comissão para Liturgia da CNBB, são
instrumentos que ajudarão,
“tanto os bispos, em sua missão pastoral, como párocos, os administradores
paroquiais, os profissionais e agentes de pastoral. Cada qual, segundo a sua missão e
competência, com amor e zelo, assume o grave encargo de cuidar de nossos espaços
celebrativos, fazendo as intervenções com critério e reponsabilidade”.
Desta forma, dará continuidade à reflexão, abordando orientações, já recomendada às
conferências episcopais no Concilio Vaticano II:
“Cuidem os Bispos de, por si ou por sacerdotes idôneos e que conheçam e amem a arte,
imbuir os artistas do espírito da arte sacra e da sagrada Liturgia. Recomenda-se
também, para formar os artistas, a criação de Escolas ou Academias de arte sacra,
onde parecer oportuno. Recordem-se constantemente os artistas que desejam, levados
pela sua inspiração, servir a glória de Deus na santa Igreja, de que a sua atividade é,
9. 9
de algum modo, uma sagrada imitação de Deus criador e de que as suas obras se
destinam ao culto católico, à edificação, piedade e instrução religiosa dos fiéis”. (SC
127)
Nos dois Documento de Estudos (106 e 113) da CNBB, são propostos para que em cada
Diocese do Brasil, seja formada a Comissão Diocesana de Arte Sacra, ampliada posteriormente
como Comissão de Arte Sacra e Bens Culturais da Igreja. Comissão que deve ser constituída
de liturgistas, pastoralistas, profissionais da área de arquitetura, engenharia e arte, com
especialização em arte sacra e espaço litúrgico. Se possível e necessário for, que haja também
um responsável pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ou Estadual. Na
impossibilidade constituir a Comissão Diocesana, muitas dioceses poderão valer-se da
comissão arquidiocesana da qual pertence. (cf. Documentos Estudos 106 da CNBB) Não há
nada de novo nesta proposta, pois o próprio Documento Vaticano II, na Constituição sobre a
Sagrada Liturgia recomenda: “Além da comissão de Liturgia Sacra, constituam-se em cada
diocese, enquanto possível, também Comissões de Música Sacra e de Arte Sacra. É necessário
que estas três Comissões trabalhem em conjunto, e não raro poderá ser oportuno que formem
uma só Comissão” (SC, 46)
Retomando ao tema inicial, a capela do Santíssimo, no Documento de Estudos 113 da
CNBB, no item 55 diz:
“O princípio resgatado no Concilio Vaticano II implica a definição do lugar específico
da reserva eucarística no contexto do espaço da celebração: “em razão do sinal, é mais
conveniente que no altar em se se celebra a Missa não haja tabernáculo, onde se
conserva a Santíssima Eucaristia” (IGMR, 315). A melhor solução é destinar a ela um
espaço próprio, isto é, uma capela. Não sendo possível, seja o tabernáculo ou sacrário
colocado em outro espaço, devidamente digno, belo e sinalizado. Neste caso, tenha-se
o cuidado de que a sua proximidade com o altar ou a sua colocação no eixo central da
igreja, não crie um conflito com a centralidade do altar (SC, 69). O culto à Santíssima
Eucaristia marcou a formação do povo cristão que, ainda hoje, muitas vezes, associa a
edifício-igreja mais à Presença Eucarística do que à Celebração Eucarística. A
intervenção, portanto, requer uma grande atenção também do ponto de vista
catequético e pastoral.
No Catecismo da Igreja Católica, a Igreja reconhece os esforços por parte dos fiéis, que
estão entendendo o real significado do Sacrário sua vida e na vida da própria igreja. Por
conseguinte, as normas recomendam que nos projetos de construções, sejam incluído um local
digno e apropriado para Santíssimo Sacramento.
“A sagrada Reserva (sacrário) era, ao princípio, destinada a guardar, de maneira
digna, a Eucaristia, para poder ser levada aos doentes e ausentes, fora da missa, Pelo
aprofundamento da fé na presença real de Cristo na sua Eucaristia, a Igreja tomou
consciência do sentido da adoração silenciosa do Senhor, presente sob as espécies
eucarísticas, por isso que o sacrário deve ser construído de tal modo que sublinhe e
manifeste a verdade da presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento” (CIC 1379)
Ainda há muito o que se fazer, continuar este processo de formação e catequese sobre o
sentido da missa e da adoração fora da missa. Não é muito raro, ver pessoas, diante das devoções
em adoração ao Santíssimo, fora da missa, querem se aproximar, tocar, ficam longos momentos
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diante do sacrário. Mas, quando vão à Celebração da Eucaristia, ocupam lugares distantes do
altar, quase que na porta de entrada, não dão o mesmo ou maior valor. Ainda não consegue
entender, que a presença eucarística de Cristo no sacrário é fruto da Consagração durante a
Celebração da Eucaristia.
Ao tratar de espaço construído, consequentemente terá que se tratar de Arquitetura, pois
é na arquitetura que se desenvolvem os espaços e os edifícios sempre estarão relacionados a
ela. Todo aquele que se inicia no estudo da Arquitetura deve compreender que, embora uma
planta possa ter uma beleza abstrata no papel, as quatro fachadas devem parecer bem
equilibradas e o volume total bem proporcionado, caso contrário, o edifício propriamente dito
pode revelar-se uma arquitetura pobre. O espaço interno, que não pode ser representado.
Na construção ou reforma de uma igreja, a comunidade eclesial que a compõe deve
sempre ser motivada à participação ativa, fruto de uma longa e bonita caminhada da Igreja
latino-americana, pede que seja cada vez mais de participação e de comunhão O edifício-igreja
é referência, sinal pedagógico e instrumento de conhecimento da mensagem de Jesus Cristo.
O edifício-igreja, como sinal na cidade, será um espaço designado para o encontro com
o Senhor. Será um espaço acolhedor, em que o homem possa encontrar o Outro em dimensão
de diálogo e que favoreça a realização da solidariedade humana. Acolhimento, aqui, deve ser
entendido em termos arquitetônicos, como facilidade e comodidade de acesso e predisposição
de ambientes adequados ao encontro de pessoas.
Na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, o Papa Francisco descreve sobre a Igreja
que sonha poder percorrer caminhos que levam à periferia, aonde muitos têm medo de ir e a
pobreza se faz apelo de amor: “… prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter
saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às
próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa
num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente
inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a
força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os
acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos
mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas
que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos,
enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos
de comer’ (Mc 6, 37)” (EG 49).
11. 11
Algumas constatações para finalizar
No Documento de Estudos 113 da CNBB, há muitas orientações, abaixo descrevo
apenas opiniões, visto do ponto onde estou. Não enxergo como uma urgente prioridade, se na
época o bispo, Dom Teodardo Leitz, aprovou a instalação do sacrário no presbitério e as normas
da Igreja não proibia, apenas recomenda que para as novas igrejas seja prevista um local mais
digno e que favoreça aos fiéis momentos de orações. Com a alteração feita há dez anos, ficou
mais próximo de uma porta, entrada e saída da sacristia, salão de eventos e pastoral, bebedouro,
sanitário. Muito embora facilitou a proximidade pelos fiéis, por outro lado o clima de
interiorização e o próprio respeito ficou pior do que era antes.
Foto1: Sacrário no Presbitério (desde 1978) e Foto2 (Paulo Y. Takarada): Sacrário Fora do Presbitério (desde 2011)
Também não sou contra a construção, porém teria que ser num local que afetasse menos
a construção já existente, que ouvisse o maior número de pessoas, principalmente as mais
antigas. Há muitas reformas de capelas e igrejas, às vezes sem muito critério. Até já ouvi
opiniões de pessoas, que não acredito ser verdadeira, dizendo que há competições entre padres,
para ver quem mais constrói ou deixa uma obra grandiosa por onde passa. Não sei se há
formação de Artes Sacras aos candidatos ao sacerdócio nos Seminários; bem como, se há uma
Comissão Diocesana nesta área, ajudaria muito os administradores paroquiais a entenderem a
história dos lugares por onde vai em missão e dar o devido valor histórico e artístico às imagens,
objetos litúrgicos. Conselhos de pastorais deveriam se ocupar de assuntos pastorais
missionariedade, evangelização e formação cristã, e menos assuntos econômicos. Quantas
reuniões de CCP ou CPP que só discutem promoções, reformas, construções, aquisições de
bens. Tem momento que mais parece formação para vendedores de rifa, convite, cartela. Para
estas questões, cria-se uma equipe de assuntos econômicos e festas. Em alguns lugares, não se
faz mensalmente, a prestação financeira detalhada aos fiéis.
Quanto ao projeto de reforma da Paróquia e o que se pode aprender é:
▪ Valorização da Celebração Eucarística (Missa), que continua sendo o centro, o
princípio e o fim da vida cristã
▪ Valorizar, cuidar e zelar daquilo que os outros fizeram no passado.
▪ Qualquer mudança substancial, aquisição, reformas de bens seja melhor discutida.
Ouvir opiniões, não só de coordenadores, mas de lideranças e fiéis da comunidade
paroquial;
12. 12
▪ A Capela do Santíssimo, está em evidência. Na esquina a ser construída, parecendo
um prédio comercial (moderno), independente da igreja. Para quem chega, sentido
centro-bairro, a fachada principal da igreja ficou encoberta;
▪ A grande pergunta, qual é a motivação para derrubar (demolir) a atual torre? Há
justificativa técnica, litúrgica-teológica-pastoral ou jurídica? A torre futura ficará
descaracterizada em comparação à atual. Sem contar os gastos desnecessários.
Até hoje, nossos líderes religiosos continuam interpretando de maneira equivocada a
mensagem do Senhor, aquela feita a São Francisco no séc. XII, quando estava rezando na capela
de São Damião: “Francisco, vai e reconstrói a Minha Igreja”. Francisco pôs-se a reformar a
igreja de São Damião e outras duas aos redores. Inicialmente, desfez de seus bens, arrecadando
materiais, coletando doações, pegando bens da loja de seu pai e utilizou as próprias mãos para
assentar tijolo por tijolo. Conforme o tempo passava, algo o incomodava, ele começou a se dar
conta das exigências mais amplas da exortação de Cristo para ele da cruz. Algo lhe dizia, que
Deus estava menos preocupado com as estruturas físicas deste ou aquele lugar de culto em
particular e mais interessado na renovação espiritual e moral, em uma reconstrução da Igreja
que é o Corpo de Cristo.
São apelos, nos dias de hoje, que continuam inspirando a todos, para que
compreendamos que é urgente a reconstrução da Igreja dos fiéis, e não somente as Igrejas de
pedra. Esta reforma é mais difícil, mais longa e mais profunda, parte de um processo de
caminhada de fé, de conversão pessoal e pastoral. Que o encontro como Crucificado, assim
como aconteceu com Francisco, ou no encontro como Ressuscitado na Eucaristia ou diante do
Sacrário, possa também servir de restauração da Igreja e das pessoas da Paróquia Santo André
José Vieira dos Santos
Dourados MS, 14 de setembro 2021.
Festa da Exaltação da Santa Cruz
Referências:
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