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Orlando de Barros
Corações de Chocolat: A História da Companhia Negra de Revistas (1926-1927)
Editora Livre Expressão; Rio de Janeiro – 2005
Recortes por Jorge C. Freitas
Abril de 2009
História – Micro-história/história e cultura negra
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
RESUMO
O livro trata da história das Companhias Negras de Revistas criadas por De
Chocolate e Jaime Silva na década de 20. Destaca a importância destas revistas na
implementação de debates sobre as questões do negro brasileiro, como o preconceito
racial. Sem deixar de falar das discussões políticas que aconteciam paralelas às
apresentações da Companhia Negra de Revistas, o autor mostra a influência que esta
trouxe às criações do teatro ligeiro da época.
Destaca a revelação de grandes nomes da cultura brasileira, como Pixinguinha e
Grande Otelo, entre outros.
O livro permite uma reflexão sobre as reivindicações dos movimentos negros
atuais, visto que muitas ainda são as mesmas que já se pleiteavam naquele momento na
sociedade brasileira.
O destaque principal é De Chocolat, idealizador ou adaptador do teatro ligeiro
francês à realidade cultural brasileira, permitindo ao artista negro um momento de destaque
e glória, sem deixar de ser vítima dos preconceitos da sociedade, mas ainda assim,
alcançando prestígio entre os principais círculos intelectuais das grandes capitais
brasileiras.
O livro relata também a existência de uma imprensa negra, que estranhamente,
parecia passiva, ou atrasadas em tratar as causas das Companhias de De Chocolate e Jaime
Silva.
O que permite um debate sobre, o porque de o negro brasileiro ainda hoje ter
dificuldades de ascensão no círculo cultural brasileiro.
Jorge C. Freitas - fichamento 2
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
Introdução
"No final dos anos 20, o teatro musical, especialmente o gênero 'revista', era uma
das formas de entretenimento das mais populares nas principais cidades brasileiras,
sobretudo no Rio de Janeiro. Ainda assim, o que dominava o meio teatral naquele
momento era o desânimo geral, em virtude de uma crise que já se delongava, com
diminuição crescente de público e de renda, que não dava sinais de passar. O que a
motivava era a consolidação do sistema cinematográfico, uma vez que o cinema se
constituíra em diversão preferida das massas, graças à sólida aliança entre os exibidores
brasileiros e as companhias distribuidoras norte-americanas, não fosse também por ser um
divertimento mais barato.
(...) Entretanto, continuava a resistir o teatro musical, mercê das falas em língua
nacional e da música sem intermediação de aparelhos, não obstante a ameaça que vinha
dos sucessivos anúncios do advento iminente do filme sonoro. (...)" p. 11
"A reação modernizadora para a conservação do público tornou-se particularmente
forte depois da Primeira Guerra Mundial nos teatros de revista do Rio de Janeiro, onde
faziam-se tentativas desesperadas em busca de novidades de todos os tipos, incorporando
uma grande variedade de experimentos, tornando as montagens mais ágeis e feéricas, mais
bem produzidas, mais 'técnica' e deslumbrantes em todos os aspectos, com uma
organização quase industrial, em que o improviso, a falta de disciplina dos atores e o pouco
rigor na seleção das coristas e vedetes, conforme a nova estética da nudez do 'teatro
plástico', não poderiam mais ter continuidade. [...] Estas características foram reforçadas
pela visita de companhias estrangeiras, como a espanhola Velasco e a francesa Ba-Ta-
Clan. Esta última, dirigida por Mme. Rasimi e que tinha como estrela a célebre Mistingett,
esteve no Brasil por ocasião do Centenário da Independência, em 1922, voltando em 24 e
26, e foi uma provocadora de intensas mudanças no teatro musical brasileiro, invocando
sempre a busca incessante de espetáculos curiosos.
Nessas circunstâncias, surgiu no Rio de Janeiro a Companhia Negra de Revistas
que, entre 1926 e 27, eletrizou a crítica e o público, encenando algumas peças, também
apresentadas em São Paulo, Minas Geras e em outros estados onde a companhia
excursionou [...] Muitos desses artistas lograram reconhecimento, às vezes, amparados pela
maior difusão dos espetáculos populares, na aurora da cultura de massa, participando do
Jorge C. Freitas - fichamento 3
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
mercado das partituras, dos primeiros filmetes e fonogramas [...], época em que
Pixinguinha, o mais talentoso dentre eles, se profissionalizou, em 1912
(...) No fim da Belle-époque, o Rio de Janeiro alcançava o primeiro milhão de
habitantes, ganhando então certo foro metropolitano, e perfil de mercado do
entretenimento, vindo a se tornar um centro aglutinador de segmentos de população
imigrada de diversas regiões do país, dentre eles, de modo especial, uma população
considerável vinda da Bahia, que guardava um forte conteúdo de origem africana em seus
usos, costumes e crenças, enriquecendo e adensando as manifestações culturais da capital
federal da república recém-instaurada.
Entretanto, havia uma resistência considerável aos negros e à sua cultura, muitas
vezes revelada de maneira exacerbada no mundo do espetáculo." p 12-13
"A Companhia Negra de Revistas estreou em 31 de julho de 1926. Seu advento
assinalou o início do 'teatro negro' no Brasil, isto é, uma variante temática do teatro ligeiro
exibida pelas companhias ou pequenos grupos formados por artistas negros e mulatos que,
sem modificar de maneira importante a estrutura dos gêneros existentes nas revistas e
burletas, procuraram estilizá-los com números de danças e canções inspiradas na cultura
afro-brasileira ou afro-americanas. (...)
A Companhia Negra não deixou de ser um reflexo brasileiro de um movimento
internacional de valorização da cultura negra sincrética, que já havia conquistado espaço
desde a segunda metade do século XIX, acelerando-se particularmente depois da Primeira
Grande Guerra, com o irrompimento do jazz e de diversos gêneros de danças que
ganharam o mundo. [...] No começo dos anos 20, um artista mulato baiano, João Cândido
Ferreira, o De Chocolat, esteve em Paris, apresentando-se em espetáculos de variedades,
onde travou conhecimento com algumas estrelas do teatro ligeiro. [...] Nesse ínterim, em
1925, fez grande sucesso em Paris o histórico espetáculo da Revue Nègre, tendo por estrela
máxima Josephine Baker. A repercussão no Brasil foi de tal monta que De Chocolat, [...]
resolveu tentar a criação de uma versão brasileira do 'teatro negro', idealizando a fórmula e
a adaptação, associando-se ao cenógrafo português Jaime Silva para organizar a
Companhia Negra." p 14-15
Jorge C. Freitas - fichamento 4
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
CAPÍTULO I
O palco dos pretos: preparando o terreno
1.1 Baianos revisteiros
No curto período de sua existência, de julho de 1926 julho do ano seguinte, a
Companhia Negra de Revista traçou uma das histórias mais interessantes dos palcos
brasileiros, provocando discussões e debates apaixonados e influindo em muitos
acontecimentos paralelos. Atuando no último lustro da República Velha, ela apontou ou
aludiu, em grande parte, às transformações sociais e culturais em curso, que não
demorariam a se sublimar no movimento de 1930 e no período de Vargas. A Companhia
foi, em larga medida, um manifesto do processo de modernização, em virtude da
introdução ou renovação de alguns gêneros e temas do entretenimento, que logo não
demorariam a se converter em insumo de valor econômico da cultura de massa nascente.
[...] De outro modo, também foi importante do ponto de vista dos institutos e convenções
de teatro musicado da época, fazendo, por tudo isso, um interessante objeto de estudo da
história dessa trupe." P 25
"Os detratores exageravam nas apresentações da Companhia apenas uma
manifestação bárbara e incivilizada, uma imitação barata da cultura 'branca' de origem
européia, sem deixar de revelar igualmente alguma animosidade quanto ao valor estético
da aparência física das vedetes e coristas. [...] Não levavam em conta sua contribuição
regeneradora para o teatro ligeiro, tão necessitado de renovação. Mas o catalisador de
todos os sentimento antagônicos foi, realmente, o fato de toda a Companhia ser
inteiramente formada de negros e mulatos, exceto Jaime Silva (...)" p 26
"Antes da constituição definitiva da baiana como um personagem-tipo, o negro e o
mestiço apareciam no teatro em posições subalternas, como criados ou moleques de
recado, quase sempre em papéis de personagens ingênuos e infantilizados. Como tipo, ao
contrário, a baiana tem personalidade forte e é diametralmente oposta aos ingênuos, pois
ela é dos que se podem chamar de 'brejeira', com um recorte todo próprio, podendo-se
dizer dela que era insidiosa, sedutora, maliciosa, capaz de toas as habilidade do palco e
exibicionista quase sempre, para não dizer também que era frequentemente a rainha do
duplo sentido e da luxúria. (...)" p 28
Jorge C. Freitas - fichamento 5
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
"Entretanto, a baiana também se confudia com outro tipo, a mulata, muitas vezes
trocando uma com a outra caracteres de identidade. (...)
A mais famosa de todas as baianas dos palcos brasileiros fia Araci Cortes que
iniciou a carreira em 1921, mesmo ano em que se dava o falecimento de Aurélia Delorme,
a atriz que havia criado o tipo. (...) p 30
1.2 Ascendina Santos
"(...) Estreou a atriz negra na burleta carnavalesca Ai Zizinha!, em 'première' a
15.01.1926, no Teatro Carlos Gomes [...] Ascendina acabou tornando-se a principal
atração do espetáculo. (...) p 31
1.3 Rosa Negra
Rosa Negra começou sua carreira quase ao mesmo tempo que Ascendina Santos e
assim como esta, não teve carreira longa. [...] Lançada para o vedetismo do teatro ligeiro,
logo mostrava bastante desembaraço, pois, em julho de 1926, Jornal do Brasil, em matéria
especial, informava: "Quem haverá que não conheça a 'Rosa Negra? É uma negrinha vivia,
elegante e faceira que inúmeras vezes se tem apresentado ao nosso público, ora cantando
em cabarés, ora representando em teatros. (...)
(...) Em 7 de abril, estreava Pirão de Areia e Rosa Negra liderava um grupo de
'black girls' e interpretava o quadro denominado 'Ascendinices', em evidente alusão aos
espetáculos de Ascendina Santos. (...)" p 37
Ascendina e Rosa Negra são bons exemplos dos cartazes meteóricos e fugazes das
'estrelas de azeviche', com poucas oportunidades de mostrar talentos no teatro. Assim, o
surgimento da Companhia Negra parecia prometer a instauração de uma vairante de
sucesso duradouro nas revistas, o que não ocorreu também, porém, dessa vez, com uma
repercussão nunca antes alcançada, inaugurando o 'teatro negro', que seguiria tentando se
estabelecer décadas a fora. (...)" p 38
1.4 A Revue Nègre "futurista" e sua repercussão no Rio de Janeiro
Jorge C. Freitas - fichamento 6
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
"(...) havia uma recente popularidade de tudo que dissesse respeito à África em
Paris [...] Na verdade, em 1925, a linda casa parisiense1
estava dando prejuízo devido à
retração geral das rendas, proVocada pela diminuição dos frequentadores dos tetros, o que
se agravou também pelo alto custo das produções no pós-guerra. O convite a Dudley para
que realizasse o espet´culo de negros não passava de uma tentativa desesperada de atrair o
público." P 39
"Os acontecimentos em torno da Revue Nègre não passaram desapercebidos no Rio
de Janeiro, mesmo porque muitos dos jornais e revistas dos anos 20, e mesmo depois,
noticiavam regularmente o que acontecia nos palcos de Paris., como um manifesto
subsidiário da antiga vinculação cultural brasileira à francesa. (...)" p 45
1.5 De Chocolat
"Com efeito, confirmando a previsão da revista Careta, desde o fim de fevereiro de
1926, circulam as notícias de que De Chocolat estava mesmo organizando 'sua tribo', (...)
(...) Estava mesmo determinado a levar à cena a réplica brasileira da Revue Nègre a
todo custo, desejo esse que se inspirava em muito de sua curiosa história pessoal, feita de
lutas e aventuras, quando firmou posição como artista negro nos palcos da capital federal.
João Cândido Ferreira era seu nome de batismo, nascido em Salvador, Bahia, em 18 de
maio de 1887. Dizem que, ainda em Salvador, tinha muito interesse pelo teatro, vindo por
isso mesmo, ainda muito jovem, a ingressar como cançonetista numa companhia espanhola
de zazuelas, com a qual transferiu-se para o Rio. [...] Dos chopes berrantes e cervejarias
chegou aos 'teatrinhos', casas muito populares no Rio, onde, nos primeiros tempos da
carreira, fez sucesso em duetos com o cantor Boneco, ocasião em que ainda era conhecido
pelo seu primeiro nome artístico, Jocanfer, composto pelas primeiras sílabas de seu nome."
P 47
"Ao começar a Primeira Guerra Mundial, sua posição no ambiente do
entretenimento do Rio de Janeiro estava firmada e De Chocolate não tardou a se exibir
também em outras capitais, mormente em São Paulo. Logo depois, fez sua primeira viagem
à Europa, tendo se demorado por mais tempo em Paris. A data desta viagem e as
circunstâncias em que se deu são pouco conhecidas e as informações que se tem a respeito
são muito contraditórias. (...)" p 48-49
1
Théâtre des Champs-Elusées
Jorge C. Freitas - fichamento 7
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
"Quando e por que João Cândido Ferreira deixou o Jocanfer pelo De Chocolat? A
resposta unânime dos que trataram disto é que, trabalhando em vários cabarés parisienses,
não tardou que lhe dessem o apelido de "Monsieur De Chocolat", logo depois abreviado
pela retirada do "Monseieur". [...] A adoção do novo nome só teria sido feita depois da
volta do artista. [...] É possível mesmo que já tivesse saído o De Chocolat, pois é no nosso
país que a marca de diferença étinica é tão especialmente registrada na denominação da tez
da pela. (...)" p 51
"(...) É caso de perguntar se não houve outro Chocolate que tenha precedido João
Ferreira, em meio às aparições e desaparições tão comuns na vida artística, e que nos tenha
escapado. De resto, algumas vezes, alguém criticava o De Chocolat como nome artístico
pernóstico, como fez um jornal, certa vez: '... é possível alguém na vida se chamar De
Chocolat'? E o artista respondeu em outro diário do Rio: 'Diz ainda o meu desconhecido
atacante que 'De Chocolat' não é nome de gente!... Desconhecerá por acaso, o incógnito
atacante, o valor da partícula 'De'?". P 52-53
"Em 1926, portanto, cerca de um lustro depois de sua volta de Paris, De Chocolat
estava profissionalmente madura para organizar a Companhia Negra de Revistas. E esta
não foi a única companhia que organizou, pois, em outubro de 1926, fundou a companhia
Ba-Ta-Clan Preta, depois de ter rompido a sociedade com Jaime Silva, fundando ainda em
1936, a famosa 'Casa de Caboclo', em parceria com Duque e Humberto Miranda, no velho
Teatro São José, que marcou época nos espetáculos do Rio, para a qual escreveu várias
peças, em parceria com o mesmo Duque e ainda com Paulo Orlando. No decênio que vai
de 26 a 36, pode-se dizer que chegou ao ápice profissional, período que começou com a
criação da Companhia Negra, da qual foi idealizador e criador, deflagrando o movimento
de um novo gênero, o chamado 'teatro negro', e que lhe trouxe muitos contratempos e
aborrecimentos.
Mesmo assim, em 1938, mais uma vez, De Chocolat ainda insistiu em formar outra
companhia especializada, a Companhia Negra de Opereta e Revistas, desta vez sem insistir
nos erros do passado, sobretudo em procurar outros caminhos de expressão que não fossem
o 'do negro representar papel de branco', esforçando-se para não seguir como uma imagem
invertida do que faziam alguns brancos norte-americanos, principalmente Al Jolson, isto é,
a dos 'brancos imitadores de negros' (...)" p 54
Jorge C. Freitas - fichamento 8
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
"Quando De Chocolat estava em baixa, logo tratava de trazer alguma ideia nova
que, muitas vezes, acabava mesmo fazendo sucesso, voltando a recuperar o fôlego
artístico. [...] Porém, De Chocolat procurava tirar dividendos de seu prestígio, às vezes de
maneira muito perniciosa, o que lhe valia críticas de seus inimigos, das quais costumava se
defender em longas cartas à imprensa. Não deixou também de cortejar o poder, de buscar
bom relacionamento com pessoas de destaque na vida nacional.
Em novembro de 1928, por exemplo, depois de malograr (e ser esbulhado pelo
sócio) na Companhia Negra, tratou de organizar uma aparatosa festa no Teatro Fênix, em
homenagem ao ministro das relações exteriores Otávio Mangabeira, 'com a presença de
representantes do Estado da Bahia no Senado e na Câmara', a propósito, a festa de
despedida De Chocolat, que estava se preparando para outra viagem a Paris. Estas 'festas',
'festivais' ou 'homenagens' eram então muito comuns, sempre úteis para agitar o meio
teatral, sendo muito noticiadas. (...)" p 55
"Em torno de 1928, ocasião da segunda viagem à Europa, o antigo cantor dos
teatrinhos e dos chopes berrantes já havia desenvolvido muitas habilidades e seguiria assim
até o fim da vida, em contínuo desenvolvimento profissional. Além de cantor e
cançonetista, foi dançarino, ator, compositor de cações populares, repentista, improvisador,
imitador, 'cabaretier' e autor teatral. Também foi produtor teatral, colaborou em muitas
companhias de revistas como diretor artístico, ensaiador e autor, deixou inúmeros quadros,
encaixados em numerosas peças teatrais. Curioso e que, em 1956, um jornal afirmou
também que ele foi bom transformista, o que nenhuma outra fonte corroborou. (...) p 56
"Muitas vezes costumava versejar de improviso, e esta capacidade sempre foi
louvada, sobretudo quando dialogava em versos com os espectadores. Dizem que escrevia
versos e, de fato, corroborando a informação, escreveu um livrinho de versos humorísticos,
'Aqui jazz..., epitávios constitucionalísticos e teatrais', inspirado pela assembleia
constituinte que se preparava para dar magna carta de 1946. [...] Nos últimos anos de vida,
ele escrevia sketches e produzia shows em boates, como a Night and day e a Cinelândia,
trabalhando nestas casas como diretor artístico. Já no período em que vivia do trabalho nas
boates também colaborou com o Departamento de Turismo e Certames da prefeitura do
Rio, fazendo o 'presépio vivo', na Quinta da Boa Vista, uma encenação natalina
representada por atores, iniciativa repetida durante alguns anos. Também foi incumbido
pela prefeitura de reanimar o carnaval de rua, bem como foi ideia dele eviver o 'Bumba
Jorge C. Freitas - fichamento 9
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
meu boi', espetáculo levado a efeito na ilha de Brocoió. Consta também que, na mesma
ocasião, De Chocolat dirigia o Serviço de Recreação Operária do Ministério do Trabalho,
que acumulava com o cargo de ensaiador de peças teatrais que o Departamento de Turismo
municipal encenava. Trabalhando como extranumerário da prefeitura, disse dele Alfredo
Pessoa, seu antigo chefe: 'era muito meticuloso e honesto em seu trabalho'.
Por ocasião da morte de De Chocolat, a gazeta de boêmio inveterado foi lembrada
em todas as reportagens que se dedicaram a traçar um retrospecto da carreira do artista.
Como boêmio autêntico, dizia-se que se deitava tarde, nunca antes das 2 da manhã, e
levantava-se depois do meio dia. (...) p 57
"(...) Durante o tumultuado período de existência da Companhia Negra, De
Chocolat teve disputas e conflitos com diversas pessoas, com o cenógrafo Jaime Silva, seu
sócio, com jornalistas do jornal A Rua, com um de seus parceiros em texto de revista e com
a vedete Deo Costa, sempre com repercussão na imprensa. Não foi à toa que, naquela
época, se dizia que ele vivia 'armando confusão', embora o 'rei da bronca', quase sempre
não fosse o causador dos dissídios. Na verdade, naquela época, os conflitos de De Chocolat
tinham duas razões: a primeira, por puro preconceito contra o verdadeiro idealizador do
'teatro dos artistas pretos'; a segunda, simplesmente pelo desejo de excluí-lo da companhia
de que era sócio, quer dizer, pelo velho esbulho, que será motivo de relato circunstanciado
em outro capítulo.
Mas o 'rei da bronca' tinha um sólido círculo de amizades. [...] Os mais chegados
foram os compositores Bororó, autor de duas canções célebres Curare e Da cor do
pecado, e Nelcy Deiroz, o autor de Palhaço. Também foi íntimo de Noel Rosa, Donga e
Pixinguinha, sendo que este foi convidado por ele para trabalhar como o regente da
Companhia Negra e, mais tarde, da Ba-Ta-Clan preta. Entre seus amigos diletos estavam
também Álvaro Moreira e a esposa deste, Eugênia, bem como Dulcina, Barreto Pinto,
Procópio Ferreira, Jaime Costa, Celeste Aida, que formavam um círculo no Bar Tangará,
também conhecido por 'escritório dos boêmios'. Entre os artistas que teriam ajudado em
início de carreira estariam Derci Gonçalves, a quem deu oportunidade na 'Casa de
Caboclo', e Araci Cortes. Também era amigo de artistas de teatro menos conhecidos, como
Ruth Silva, Joel Galiano e Marieta Monteiro. Nos últimos anos de vida, foi maior amigo de
Alfredo Pessoa, diretor do Departamento de Turismo e Certames da prefeitura do Rio, que
Jorge C. Freitas - fichamento 10
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
o protegeu, e quem a ele ofereceu a oportunidade de organizar espetáculos nos festejos da
municipalidade. [...]
Faleceu em 27 de dezembro, e sua morte quase passou desapercebida devido às
festas de fim de ano. (...)" p 59-60
Desde 1952, De Chocolat não andava bem de saúde, sofrendo do coração. Pouco
antes, fora vítima de uma atropelamento, que lhe fraturou ambas as pernas, tendo de ficar
por muito tempo no Hospital Sousa Aguiar. Depois, foi transferido para o Instituto de
Cardiologia do Hospital Pedro Ernesto, onde se recuperou, podendo viver seus quatro anos
restantes. (...)" p 61
"Recuperado, De Chocolat voltou a fazer ponto na Cinelândia, e continuou seu
trabalho nas boates das redondezas. Residia então no Hotel Minas-São Paulo na Praça da
República, quando na noite de 18 de dezembro foi acometido de um derrame cerebral,
sendo socorrido no Hospital Sousa Aguiar, mas faleceu no dia 27. O corpo foi velado na
capela de Santa Teresinha, na Praça da República, tendo comparecido seu velhos amigos.
Como De Chocolat ficou sócio efetivo da SBAT – Sociedade Brasileira de Autores
Teatrais -, a sociedade encarregou-se de custear as despesas, mas alguns de seus
companheiros mostraram-se indignados porque encontraram o cadáver descalço e sem
meias também porque a sociedade não havia mandado representante. Outro motivo de
indignação foi que até as 23 horas, apenas quatro pessoas haviam velado o corpo do artista,
chegando alguns mais, que logo saíram.
Nenhum parente do morto foi localizado, tendo os velhos amigos Nely Deiroz e
Marieta Monteiro tomado as providências. Da mesma forma contraditória foi a informação
sobre o acompanhamento do féretro, o que ajuda a avaliar o que persistira da memória do
artista na ocasião de sua morte. Um jornal fala de 'grande acompanhamento', de 'um
pequena multidão a acompanhá-lo', de que o artista havia morrido cercado de carinho,
enquanto outro foi peremptório: 'De Chocolat, enterrado anteontem, foi um dos mais
característicos boêmios do teatro popular brasileiro. No entanto, morreu como nasceu:
pobre e solteiro. O seu enterro foi, por outro lado, um tanto semelhante ao nascimento:
poucas pessoas viram-no nascer e poucas gente acompanhou seus restos mortais. Desceu à
sepultura às 10 horas da manhã do dia seguinte no Cemitério do Caju." P 62-63
"O necrológio publicado no número 295 de Revista de Teatro diz que De Chocolat,
como autor teatral, além de ter escrito Tudo Preto, ainda produziu um grande número de
Jorge C. Freitas - fichamento 11
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
comédias, esquetes e revistas, como O petróleo do Lobato, Flor do mato, Algemas
quebradas, A volta dos caboclos, Ao rufar dos tambores, Na penumbra, Deixa eu morrer
com ela, Preto não é bom, e muitas outras, algumas delas consignadas à SBAT para efeito
de cobrança de direitos autorais. [...] De Chocolat se considerava mesmo escritor, no
sentido emprestado à palavra na SBAT, onde os autores de peças eram geralmente
intitulados 'escritores teatrais'. E não foi por outra razão que, em novembro de 1926,
estando em São Paulo a Ba-Ta-Clan Preta, companhia que havia recentemente organizado,
assim se declarou De Chocolat na propaganda publicada nos jornais da revista Na
penumbra: 'De Chocolat, o único escritor que sabe ter espírito em 'Língua de branco...!'. p
65
Por último, falemos um pouco mais do livrinho de versos que deixou. [...] De
Chocolat ficou conhecido por fazer versos de improviso. [...] Em 1947, publicou livro de
versos humorísticos 'Aqui jaz... epitáfios constitucionalistas e teatrais' com vistosa capa
vermelha, desenhada por Vincent Cognac, também autor das ilustrações. [...] Também
verseja sobre personagens do meio teatral. Os versos são epitáfios fictícios, às vezes
engraçadíssimos, porque se referem a pessoas e então estavam vivíssimas, sendo que o
último deles o poeta guarda para si próprio, arrematado com esta quadrinha:
Por ter matando sorrindo,
àquelas que conheceu,
Um dia enchocolatou-se
Estrebuchou e ... morreu!" p 66-67
CAPÍTULO 2
A ribalta dos negros e a plateia dos brancos
2.1 As baratas do Rialto
"(...) O ano das comemorações do centenário2
não ia longe, e foi um bom momento
para planos e projetos referentes à tipificação do que poderia ser uma vertente 'nacional' a
explorar. E isso também não faltou ao teatro, embora as tentativas tivessem sido
acanhadas.
2
Comemorações do centenário da Independência.
Jorge C. Freitas - fichamento 12
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
Uma semana antes de Mário Nunes ter anunciado a formação da Companhia Negra,
José do Patrocínio Filho escrevia a Cardoso de Meneses, presidente da SBAT, dizendo que
havia pouco publicado um manifesto da criação de uma 'companhia de teatro típico
brasileiro', que pretendia fazer estrear em uma das casas de espetáculo da capital federal
ainda naquele ano." P 68
"(...) A proposta não esclarecia o que o conhecido jornalista e homem de teatro
Zeca Patrocínio tinha em mente como 'teatro típico brasileiro', mas dizia que se tratava de
uma iniciativa 'de arte e de civismo', pela qual contava com o auxílio dos governos federal
e estaduais. (...)" p 69
"De fevereiro ao começo de julho de 1926, De Chocolat e Jaime Silva se
empenhavam nas medidas necessárias para compor o elenco da nova companhia teatral,
distribuindo tarefas, angariando recursos e tentando conseguir local adequado para os
ensaios, que acabou sendo o Teatro Rialto. Foi também neste período que De Chocolat foi
aos poucos definindo melhor como seria a proposta artística que tinha em mente e a mesma
ocasião em que escreveu Tudo preto, a primeira revista a ser encenada. Do dia 3 de julho
em diante, os periódicos tratava regularmente dos ensaios. Naquela altura ainda havia
muitas dúvidas sobre a competência dos artistas negros, agora guindados dos papéis
secundários para o estrelato. (...)" p 70
"(...) Tudo parecia correr muito bem, em meio a curiosidade geral, sobretudo
porque havia muita expectativa em torno da competência profissional dos artistas negros.
(...) p 71"
2.2 Ensaios e sopa de letras
"(...) De certo modo, a expectativa em torno de Tudo preto haveria de se abrandar
porque chegava ao Rio, no dia 20 de julho, a onze dias da estreia da trupe de De Chocolat,
nada mais nada menos que o Ba-Ta-Clan, vindo de paris, via Lisboa, onde se exibira
gloriosamente no Trindade, chegando à Praça Mauá pelo 'Bele Isle'. E já tinha no dia
seguinte espetáculo no Lírico, anunciado sob a seguinte manchete 'Vamos, a partir de
amanhã, à noite, ter um pouco de Paris no Rio'. Não demorou muito para que a capital só
falasse dos espetáculos irreverentes e divertidos do Ba-Ta-Clan, indiscretos e espirituosos,
que 'tamanha fascinação exercem sobre todas as criaturas que buscam nos prazeres energia
para a luta pela vida' (...) A Ba-Ta-Cla,de Mme Rasimi, estivera no Brasil por ocasião do
Jorge C. Freitas - fichamento 13
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
Centenário de Independência, em 1922, voltara em 24 e, agora, em 26, trazendo sempre
seus espetáculos curiosos e provocadores, numa linha de proposta que, em alguns pontos,
vinha concorrer com Tudo preto em marcha, inclusive trazendo artistas negros que haviam
tomado parte na Revue Nègre, em 1925." P 78
"No dia 31, o da esperada estreia, os jornais estampavam a propaganda do teatro do
Senhor Stambile e da Companhia Negra. (...)
Fato é que a capital estava eletrizada pela expectativa criada pelas colunas
especializadas, [...] Mas quase nada se fala do público no dia da estreia.
Não duvidamos que a plateia estivesse 'repleta' na estreia da Companhia negra, [...]
mas temos de considerar, realmente, se havia público para tantos espetáculos que se
ofereciam ao espectador carioca naquela data. Neste ponto, Tudo preto foi pouco feliz,
tendo de competir com companhias poderosas e espetáculos muito atraentes. Quase ao
mesmo tempo em que os organizadores da nova companhia carioca superavam
dificuldades sem conta, chegavam ao Rio três companhias de revistas estrangeiras. Além
da Ba-Ta-Clan, ainda estavam aqui, na mesma ocasião, a Companhia Portuguesa de
Revistas e a Companhia Argentina de Revistas. [...] Por coincidência, ao mesmo tempo,
estavam também em cartaz outras peças de relativo sucesso de público, estreladas por
artistas de destaque. Dez dias depois da estreia da Ba-Ta-Clan, era a vez da carioca
Companhia Negra de Revistas, com a peça Tudo Preto, num teatro considerado malfadado
pelos críticos." P 84-85
2.3 As enchentes do Rialto
De Chocolat entendeu que devia ressaltar, quanto mais pudesse, o caráter negro do
espetáculo, carregando nas citações dos costumes, dos hábitos, enfim, no que ele chamava
de 'coisas da raça negra', e não foi por outra razão que havia encarregado Sebastião Cirino
da partitura, pois este até então tinha granjeado a fama de ser 'um mestre na composição de
músicas cem por cento brasileiras. (...)" p 96
"Através das entrevistas – muito poucas, por sinal – concedidas pelos organizadores
e artistas da Companhia podemos buscar um tanto da vida interna. Um repórter, sob o
pseudônimo de 'Lua', entrevistou Jaime Silva depois da estreia, no saguão do teatro, onde
foi encontrá-lo 'embriagado pelo triunfo', recebendo 'uma avalanche de cumprimentos'.
Jaime, depois de um sem números de considerações otimistas, falou ao repórter com
Jorge C. Freitas - fichamento 14
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
entusiasmo dos seus sonhos de artista, da sua companhia, dos seus projetos futuros,
considerando De Chocolat um aliado indispensável e verdadeiro criador da ideia, que
merecia ser aperfeiçoada. Mostrou-se também 'um perdulário d'alma e de dinheiro',
desinteressado dos lucros que poderia ter com uma administração mais voltada para a
exploração econômica da Companhia, declarando que seu interesse maior era a 'vitória
artística da gente de cor'. Curioso que, sempre apresentado pelos críticos como o cenógrafo
mais sofisticado do Rio, aqui Jaime Silva aparece como uma 'personalidade bondosa e
sincera de um homem simples, que sem estudos, aprendeu a amar a arte e a natureza', no
dizer do repórter 'Lua', que endossou as declarações entrevistado sem questioná-lo.
Três dias depois foi a vez de De Chocolat vir a conceder 'Duas palavras' a um
repórter de A Pátria. O jornalista elogiou a constância, a aplicação e o amor à disciplina
como as maiores virtudes do entrevistado, a quem também achava que não faltavam
engenho, paciência e habilidade para arregimentar. Ao ser felicitado, De Chocolat
respondeu: 'Não é a mim a quem deveis felicitar, mas sim a Jaime Silva, o extraordinário
artista, por isso que foram a sua arte, os seus capitais e os seus conselhos os motivos únicos
do nosso triunfo. Duas semanas depois, em plena carreira de Tudo preto, 'Lua' voltou ao
Rialto em busca de algo mais substancioso, com mais conteúdo, da parte do pessoal da
Companhia. Encontrou Djanira Flora. [...] Registrou 'Lua' que a atriz falava com pausa,
corretamente, sem eixar entrever nas suas palavras o menor laivo de ambição, mostrando-
se de todo ingênua, encantadora, luminosa, e amplamente feliz apenas pelo dever
cumprido. Assim, nas entrevistas, o pessoal da Companhia praticamente não se referiu à
peça propriamente, atribuindo uns aos outros as qualidades do espetáculo, e isto podemos
pôr em dúvidas, porque não demorariam a surgir dissensões e, por fim, a divisão da
Companhia. Este quase silêncio de Tudo preto faz pensar sobre a concepção do espetáculo
em si mesmo, pelos artistas e dirigentes, se desde cedo não houve dúvidas e sérias
discordâncias." P 98-99
"(...) Como era de praxe, assegurado o sucesso de público, para comemorar o êxito
no Rialto, Jaime Silva e De Chocolat fizeram rezar missa em ação de graça na Igreja da
Lampadosa no dia 11, com grande comparecimento da gente do teatro.
No dia 16, a empresa do Rialto comunicou à imprensa que não seria possível mudar
de peça, como era esperado, porque o teatro continuava a encher-se diariamente de uma
multidão que não se cansava de aplaudir 'a revista de De Chocolat, os seus intérpretes, e
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Orlando de Barros - Corações De Chocolat
sua música e os cenários que o ornam (...) sendo a mais alta novidade teatral do momento.
(...)
Mas nem tudo eram flores. No dia 13 os empresários do Rialto foram multados em
50$000 por permitir a entrada de menores de idade. O teatro de Stamili foi colhido por
uma companhia dos fiscais nas casas de diversão do rio porque corria boatos de que
menores estavam frequentando livremente 'teatro plástico', isto é, os espetáculos de
nudismo, provocando denúncias e reação da censura. (...) p 100
"Tentativas de multar o Rialto e a Companhia Negra de Revestas não faltaram
durante as apresentações de Tudo preto, mesmo na noite de estreia. A noite, publicando
matéria sob o sugestivo título de 'Tudo de meia cara', diz que naquela data o suplente de
serviço do Rialto quis multar a respectiva empresa, por excesso de lotação. A empresa,
como era natural, dispôs-se a pagar a multa, mas procurou saber primeiro como seus
bilheteiros e porteiros tinham permitido a infração. E o que se apurou foi que, exibindo
distintivos, carteirinhas, etc., tinha penetrado no Rialto gratuitamente, de 'meia cara', para
usar a expressão da época, nada menos de cinquenta funcionários da polícia. Foram eles
que determinaram o excesso de lotação pelo qual pretendia a própria polícia multar a
empresa. Diante do que ficou constatado, a multa teve mesmo que ficar sem efeito. (...)" p
101
"O meio teatral sempre foi muito conflituoso, fosse pela competição pelas
oportunidades de trabalho ou renda, fosse pelas vaidades sempre exacerbadas no meio
artístico. Mas havia muitos canais pelos quais se exercia a sociabilidade, em meio a suas
convenções, que atenuavam os conflitos e aproximavam os profissionais. [...] Às vezes,
pequenos episódios aparentemente sem importância, quando observados com atenção,
mostram-se dignos de nota e lançam luz sobre a complexa rede cultural e social do mundo
dos espetáculos e suas convenções, como são os casos das 'campanhas' e 'homenagens'. Por
exemplo, foi o caso do auxílio a Cinira Polônio, que se encontrava desvalida em Paris. [...]
a Companhia Negra, em 6 de agosto, dava conta de que ajudaria na campanha e,
efetivamente, a vesperal do dia seguinte destinou 50% do seu produto total em benefício à
atriz que, com outras rendas somadas, pôde assim escapar às peripécias." P 102
"Em 1º de setembro, em propaganda no Jornal do Brasil a empresa do Rialto
conclamava o público para a última apresentação de Tudo preto, aproveitando para
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anunciar a nova montagem da Companhia, Preto e branco, com estreia marcada para o dia
3, sexta-feira. (...)" p 103
"Mas a nova montagem, talvez não tão bem ensaiada quanto Tudo Preto não logrou
o mesmo sucesso desta, e acabou tornando-se uma fonte de aborrecimentos para De
Chocolat. Se a boa receptividade dos jornais foi predominante em relação à primeira
montagem, de certo modo até mesmo surpreendente, com pouquíssimas restrições ao
desempenho do elenco novato, com Preto e branco deu-se o contrário. (...)" p 104
2. 4 A Rua e a amargura
"O jornal A Rua não circulou no mês de agosto, por ocasião das apresentações
regulares de Tudo preto, voltando em setembro. Mas, na data da estreia de Preto e branco,
voltando a circular, A Rua tratou da matéria. (...)
A Rua foi, portanto, simpática aos esforços da Companhia e continuou sendo nos
dias subesquentes, ao falar de Preto e branco. [...] Os elogios de A Rua fizeram com que
Wladmiro di Roma escrevesse uma carta amável de agradecimento ao jornal, que acusou o
recebimento em 6 de setembro. Daí em diante, até o dia 14, A Rua não tratou mais do
Rialto, mas, naquela data, surpreendentemente, voltou ao assunto, e de maneira
intempestiva." P 105
"(...) A reação enérgica de De Chocolat somente teve por efeito irritar ainda mais o
'ilustre incógnito', e ainda mais por ter declarado suspeitar de uma chantagem em curso. Os
ataques continuaram adiante.
(...) As relações com Jaime Silva já eram de franca colisão; se os ataques de A Rua
tinham mesmo este objetivo, é certo que foi alcançado." P 107
"(...) Suspensa a temporada de Preto e branco no Rialto, a cizânia instalada
alcançou seu auge entre os dias 20 e 27 de setembro. Não temos registro dos detalhes de
como De Chocolat e Jaime Silva resolveram suas diferenças, mas o resultado foi o
afastamento do primeiro, assumindo sozinho a Companhia o conhecido cenógrafo
português, um branco à frente da trupe de negros. (...)" p 108
"(...) Na ocasião, havia alguns jornais especializados nas questões do homem negro,
quase todos envolvidos na perspectiva do 'progresso dos homens de cor', quase todos
publicações modestas, nem sempre regulares. Fomos consultá-los, mas apenas um deles se
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referiu à estreia de Tudo preto, embora, mais adiante, quase todos tratassem da
Companhia, por ocasião de suas excursões. O jornal em questão foi o paulista O Clarim
D'Alvorada, que com grande atraso, tratou do surgimento da trupe de negros. O tom geral
deste jornal, o que era também comum em publicações análogas, foi o do 'reconhecimento',
da 'presença' dos negros na sociedade brasileira, sendo assim a aparição em causa, sob o
título de 'Nossos parabéns"...' Começa dizendo que, 'apesar dos pesares', o 'nosso
progresso' vinha se multiplicando diariamente em todas as atividades humanas, nas rodas
esportivas, nas ciências, artes, em várias disciplinas e letras, de modo que tinha chegado
auspiciosamente ao teatro ligeiro, mostrando que se concretizava a 'crescente evolução do
homem de cor'." P 114
"(...) Em suma, o Tudo preto, devemos aceitar, não foi propriamente uma
representação de negros para negros. Sendo uma população mais modesta que a dos
brancos, a bilheteria era menos acessível para eles, (...) p 115
CAPÍTULO 3
A "Preta" contra a "Negra"
3.1 Preto e branco e o terremoto
"No dia 2 de setembro, aparecia na imprensa a propaganda de Preto e branco, com
os seguintes créditos: texto de Wladimiro di Roma, com música do maestro Lírio Panicalli,
tendo 46 cenários de Jaime Silva, marcação coreográfica de Alexandre Montenegro e
'elaborada mise-en-scène' de De Chocolat." (p.116-117)
"Mas a proposta de espetáculo 'negro', que tanta surpresa havia causado na peça
anterior, haveria de ser problemática desta vez. A estreia dividiu a crítica. [...] O problema
principal não estava na revista, que, sob certos aspectos era mesmo superior a Tudo preto;
o pior tinha ocorrido com a 'mise-en-scène', apesar da boa qualidade dos cenários.
Pareciam que os ensaios tinha sido insuficientes ou mal cuidados porque o corpo de
'ensemblistas', que se mostram tão disciplinado, na estreia de Preto e branco. [...]" p 118
"A nova peça apresentava problemas realmente, mesmo que elogiada em alguns
pontos. E o problema principal, ao que parece, estava justamente com o idealizador da
Companhia e seu diretor de cena principal. A posição de De Chocolat não era mesmo
confortável; fazia parte da empresa como sócio de trabalho, portanto, dependente do sócio
Jorge C. Freitas - fichamento 18
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de capital, Jaime Silva. [...] Logo depois, falhado o lançamento, já se falava de outra
estreia, mas em meio a boatos de que a Companhia estava a ponto de se dividir." P 120
"Fato é que, no dia 14, voltava propaganda da empresa anunciando o retorno de
Tudo preto para aquele dia, a título de 'satisfazer inúmeros pedidos, com a reprise da
vitoriosa revista-fantasia'. A mesma propaganda aproveitava para anunciar que, na mesma
semana, estrearia nova peça, desta vez Carvão nacional. (...)" p 123
"Entrementes, em meados de setembro, Preto e branco saíra mesmo de cartaz,
sendo substituída pelo Tudo preto, que voltara como salvadora. (...)" p 125
"Porém, em meio à expectativa de um novo sucesso redentor, surge, pela primeira
vez, a notícia de uma possível divisão da Companhia, havendo mesmo a menção da nova
trupe, 'Ba-Ta-Clan Preta', que realmente será o nome da futura organização de De
Chocolat, até aquele momento, não passava de uma maneira de pressionar Jaime Silva, que
teimava em não atender De Chocolat, na pretensão de formalizar efetivamente a sociedade
pactuada entre os dois. (...)" 127
3.2 Um pequeno combate: as cinzas do Carvão nacional
"Mas seriam mesmo apresentados em São Paulo os dois textos de De Chocolat,
ante a incerteza de que ficaria ou não na sociedade com Jaime Silva? [...] De qualquer
modo, o jornal local afiançava que podia adiantar que De Chocolat não voltaria mais a
fazer parte da Companhia Negra de Revistas, e que Jaime Silva, 'por espírito de
honestidade e dedicação à raça negra, que muito admira, continuará até aqui a
responsabilizar-se pela referida companhia'. Com efeito, na propaganda veiculada no dia
25, já não aparece o nome de De Chocolat, com um 'N.B.' – note bem - no qual a empresa
diz que se reserva o direito de 'alterar o programa em caso de força maior. [...] Fora da
companhia, De Chocolat, em carta publicada no dia 25, valeu-se do A Pátria para dar uma
irônica versão do acontecido:
Rio de Janeiro, 24 de setembro de 1926.
Ais meus amigos, admiradores e inimigos também, declaro que deixei a
direção da Companhia Negra de Revistas, por não ter querido o meu querido sócio
e amigo Sr. Jaime Silva, assinar o contrato, que há muito devei estar assinado.
Consta que o Sr. Raul Zaloma assumiu a direção da dita Companhia, tendo, desde
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ontem, prestado os seus bons serviços como ensaiador. Ao meu distintíssimo sócio,
amigo e grande artista, o rei da cenografia Sr. Jaime Silva, agradecimentos pelo
tempo que passamos em adorável convivência.
Hode mibi cras tibi." P 130-131
"Não demorou para que De Chocolat se movimentasse para criar uma nova trupe de
artistas negros. No dia 30, surgiu na imprensa, pela segunda vez o nome da Ba-Ta-Clan
Preta. (...)" p 133
"Com algumas dificuldades e inevitáveis tropeços, seguiam os ensaios da Ba-Ta-
Clan carioca, porém na direção de seu efetivo funcionamento. Mas, como De Chocolat
talvez fosse, para usar termo usual na época, um 'confusionista', um pequeno tropeço bem
poderia quebrar ossos. E isto novamente se deu enquanto prosseguiam os preparativos,
quando, em A Manhã, sob o sugestivo título 'A queima do Carvão nacional', o parceiro de
De Chocolat na revista aludida resolveu declarar que era o único e verdadeiro autor da
peça. No dia seguinte, dia 10, veio a resposta, longa e detalhada, publicada por inteiro
naquele Jornal. (...)" p 136
"Mas o pequeno combate entre os dois autores bem servia à imprensa, sendo
motivo de muita glosa." P 139
3.3 A Irmã Paula e as cozinheiras
"Enquanto De Chocolat enfrentava suas atribulações e dificuldades, entre as quais a
de encontrar um sócio capaz de dividir com ele as despesas de instalação da Ba-Ta-Clan
Preta, pela metade do mês a Companhia Negra obtinha grande sucesso em Campos, no
Estado do Rio. (...)" p 140
"O que havia acontecido é que, enquanto Jaime Silva corria com sua empresa pelo
interior do Estado do Rio, De Chocolat conseguiu superar suas dificuldades, pondo em
andamento a sua trupe. O que fez foi, simplesmente, aproveitar a campanha que a imprensa
paulista fizera em torno das apresentações da que havia idealizado – e ele não mais
participava – para introduzir a sua recente Ba-ta-Clam-Preta. Os paulistas agora não teriam
apenas uma, mas duas companhias negras." P 141-142
"A Ba-Ta-Clan, entretanto, não podia ainda anunciar o dia de sua estreia em São
Paulo em sua propaganda, havendo ainda muita incerteza sobre seu destino, (...)" p 144
Jorge C. Freitas - fichamento 20
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3.4 Discursos e confusões na Paulicéia
"(...) No Rio, por sinal, parecia que a Ba-Ta-Clan-Preta, finalmente, encontrara seu
caminho, pois no dia 19 de outubro, véspera da estreia da Companhia negra no Apolo,
anunciava-se que os ensaios estavam sendo ultimados, dando parte dos papéis dos artistas
principais. (...)" p 148
"Tanto tudo corria bem que, no dia 27, como era comum, celebrou-se o festival
artístico de que a esposa do homenageado, a bailarina Dóris Montenegro, que havia
recentemente chegado do Teatro Colón de Buenos Aires, faria parte de Na penumbra. (...)"
p 149
"(...) No dia 22, anúncio no O Estado de São Paulo comunicava que, sob a direção
do fundador do teatro negro no Brasil, a Ba-Ta-Clan estrearia em novembro no Teatro
Santa Helena. Mas havia um adendo muito importante, sob forma de 'aviso ao público',
transcrito de O Globo, do Rio de janeiro: 'O Juiz da 3ª Pretoria Civil, por sentença de
ontem, concedeu um interdito proibitório contra a Companhia Negra de Revistas, para que
esta não mais represente a revista Tudo preto, da autoria do autor teatral De Chocolat.
Nesse sentido, foi dada ciência ao Sr. Jaime Silva que, assim, teve de suspender as
representações da peça referida. (...)
(...) Fato é que havia uma grande confusão em torno das duas companhias e das
peças que apresentaram. Por exemplo, quando O Estado de São Paulo notificou que a Ba-
Ta-Clan Preta estava por estrear no Santa Helena, referiu-se a ela também como 'a
companhia negra de revistas, fundada no Rio de Janeiro e que nesta capital está agradando
imenso', o que era uma incoerência, porque não podia agradar uma trupe que ainda não
havia estreado. (...) p 150
"Que a Companhia Negra fazia sucesso de público é inegável, com ou sem
confusão. Mas faltava, entretanto, depois de algumas apresentações, quem se dispusesse a
fazer uma apreciação mais aprofundada sobre a índole e o sentido das apresentações. (...)"
p 151
"O Clarim D'Alvorada, publicação paulista voltada para a população negra, não fez
nenhuma restrição, achando que os brasileiros desejavam labutar para o 'reerguimento da
nossa raça'. Como de hábito, nestas circunstâncias, os nomes de homens negros ilustres e
suas obras eram lembrados, como os de Lima Barreto, Cruz e Souza, Luís Gama e
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Patrocínio Filho, sendo este último 'um dos consagrados teatristas brasileiros'. A
Companhia Negra, para o Clarim, estava no mesmo caso, na direção do progresso do
homem de cor, graças aos esforços de De Chocolat – não lembraram que este tinha sido
afastado da Companhia -, e dos artistas negros. (...)" p 152
3.5 Uma apreciação crítica "lindamente brasileira"
"Se a Ba-Ta-Clan Preta estava passando por tantas peripécias, a ponto de ter
dificuldade onde ensaiar, no entanto, não chegou a desanimar os empresários de São Paulo
que queriam exibi-la de qualquer modo, confiantes que estavam em aproveitar o filão do
teatro negro, tentando preencher o vácuo do meteórico sucesso que a rival da trupe de De
Chocolat cumpria na capital paulista. [...] Em 1º de novembro, houve a informação de que
o empresário Simões Coelho havia chegado ao Rio no dia anterior para buscar a
Companhia Ba-Ta-Clan Preta, que deveria estrear mesmo no Santa Helena, no dia 11
próximo com a revista Na penumbra. (...) p 158
"No mesmo dia em que anunciava-se a despedida da Companhia Negra de Revistas
do Malfada, 6 de novembro, vinha a informação de que a Ba-Ta-Clan Preta era esperada
pela manhã na estação ferroviária. (...)
"No dia 8, data da volta da Companhia Negra ao centro da cidade para as
apresentações no Cassino Antártica, também foram postos à venda os bilhetes de ingresso
no Santa Helena para a estreia da Ba-Ta-Clan Preta, havendo ainda outras informações
sobre ambas as companhias. (...)" p 171
"(...) No dia 10, véspera da aguardada estreia da Ba-Ta-Clan Preta, a Companhia
Negra deixou o Cassino Antártica e a capital, viajando para Santos, onde estrearia no dia
seguinte no Teatro Guarani. (...)" p 172
"(...) Os preços da 'Temporada Preta', incluindo imposto: frisas e camarotes a
30$000; poltronas numeradas e balcões a 6$000. [...] Agora, era esperar pela acolhida do
público e da crítica ao Na penumbra, na noite do dia 11." P 173
"No dia seguinte, o crítico da Folha da Manhã achou a companhia 'interessante',
elogiando principalmente Índia do Brasil, que havia se movimentado 'desembaraçadamente
e mesmo com graça', mas também não fez reservas a De Chocotal e Deo Costa, dizendo
dela que era graciosa e 'um elegante tipo de mulata'. (...)
Jorge C. Freitas - fichamento 22
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O mesmo crítico também enveredou por longa mas essencial digressão,
comparando os talentos dos negros brasileiros e norte-americanos, vendo neste último mais
estabilidade profissional, tendo em vista que na América havia muitas companhias
experientes de atores negros, não só de revistas como de outros gêneros, representando
diariamente para um público de 'vários milhões de pretos que constituem uma cidade
dentro do próprio Estado'. Por isso, achava pertinente indagar se o teatro negro no Brasil
poderia manter-se contando quase que exclusivamente com a presença de brancos da elite,
sem as recíprocas afinidades de artistas e públicos. (...)" p 174
"(...) Mas, as 'incertezas' que o crítico da Folha tinha sentido na peça de estreia
parece que se confirmavam porque, depois das apresentações do dia 14, a revista seria
substituída pelo velho e bom Tudo preto, prometendo agora, acrescido de números novos,
que o que havia sido apresentado no Rialto com sucesso pela Companhia Negra seria ainda
melhor pela Ba-Ta-Clan Preta. Mas o Santa Helena não era uma casa de primeira
qualidade e não poderia oferecer muito à Ba-Ta-Clan, não passando de um cineteatro que
não podia perder o frequentador habitual de suas projeções, de sorte que, no dia 14, um
domingo, na tela, em 3 sessões, foi exibido um filme cômico, entremeadas com as duas
apresentações da revista.
"(...) Mesmo assim, a Ba-Ta-Clan colheu o aplauso do público, e agradeceu njma
propaganda, declarando que o merecimento vinha de que preto também era gente...." p 175
CAPÍTULO 4
A República do Café Torrado
4.1 A peregrinação café com leite
"Nos anos 20, o teatro era ainda um meio de entretenimento muito popular, com a
vantagem – que logo se perderia - de contar com uso da língua falada, e ainda mais, da
fala nacional, que o cinema não pôde superar senão ao longo dos anos, com a instalação
dos sistemas sonoros." P 185
Tendo realizado sua última apresentação em São Paulo em 10 de novembro de
1926, a Companhia Negra cumpriu daí em diante jornada estafante pelo interior paulista,
até a metade de janeiro do ano seguinte, cumprindo, pois, apresentações durante mais de
dois meses. (...)" p 187
Jorge C. Freitas - fichamento 23
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"Digna de nota foi a estadia em Campinas, onde se apresentou no Cine-Teatro Rink
em 23 de novembro. Nesta cidade, como havia ocorrido em Campos no Estado do Rio, e
na capital paulista, a Companhia foi alvo de homenagens de diversas entidades
representativas dos direitos dos homens negros e de outras organizações. (...)
Em 21 de janeiro de 1927, a Companhia estreou em Itajubá. Uma comitiva foi
recebê-la à estação ferroviária e dela fazia parte o ex-presidente da República Venceslau
Brás. (...) Foi quem saudou Jaime Silva e os artistas negros, e aquele respondeu falando da
vida simples de cidadão comum do ex-presidente, um exemplo para os brasileiros. (...)" p
188
"(...) Jaime Silva, no último espetáculo em Itajubá, homenageou Venceslau Brás,
em agradecimento à recepção. (...)" p 189
4.2 Um prodígio, em segunda dentição
"(...) a principal atração, incorporada em São Paulo à Companhia, começava a
receber destaque na imprensa, sempre da maneira a mais encomiástica, tornando-se
imediatamente o argumento predileto com que se cultivou então o interesse do público
revisteiro: (...) p 192
"Tratava-se do Pequeno Otelo, de quem se dizia ter feito grande sucesso na
excursão ao interior, (...)" p 193
"No dia 19, voltou a falar da 'grande curiosidade do público em conhecer o
Pequeno Otelo, um garoto pretinho, de seis anos, que afirmam ser um verdadeiro
assombro' [...] No dia seguinte, Mário Nunes voltou a insistir no assombro que era o
Pequeno Otelo, 'talento precoce, formidável, que em toda a parte onde esse pequeno grande
artista tem trabalhado o sucesso tem sido estupendo e as referências da imprensa as mais
elogiosas', o que muito aumentava a expectativa da estreia da nova peça, que era 'boa e
montada com um luxo deslumbrante.'" P 194
"(...) Começa, enfim, o ano no Rio de Janeiro, inicia-se vida nova, já não pesa sobre
os empreendimentos a quase certeza de um mau êxito. (...)
"(...) E, de fato, o ano teatral começava – em março, depois do carnaval -, com um
certo desânimo nas rodas teatrais, por não se saber, por ora, de novas iniciativas,
configurando uma crise evidente, que não era, afinal, de artistas nem de autores, mais do
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público, isto é, de dinheiro. Aí estava o problema central. Para Mário Nunes, o causador de
tudo isso era o prefeito recém nomeado por Washington Luís, Prado Junior, que, alegando
ter encontrado o tesouro municipal em desordem, precisa de dinheiro, de aumentar a
arrecadação. Lamenta-se o colunista dizendo que era crença geral que, confiando a direção
dos negócios do município a um paulista, este trouxesse ao teatro imediato desafogo,
traduzindo em leis e medidas que o beneficiassem. Mas tal não se tinha dado; ao contrário
não havendo o que esperar 'senão arrocho e extorsão', que ameaçava não só o teatro, mas
também a economia pela sobrecarga de impostos. (...)" p 196-197
"O pessoal do teatro, empresários, autores, a SBAT e os colunistas trataram de se
movimentar e exercer pressão. Constituíram uma comissão e foram procurar Carlos de
Campos, conhecido parlamentar, recém eleito presidente do Estado de São Paulo, com
quem combinaram uma palestra, com assistência do público interessado, no Teatro
Municipal. [...] No ano de 1925, sob os auspícios da SBAT, já se reunira um congresso
artístico brasileiro, cujos anais ainda se publicavam recentemente, cujos objetivos não
diferiam muito daqueles do encontro com Carlos de Campos em 1927. Se o congresso se
organizara especialmente em virtude da desconfortável concorrência do teatro com o
cinema, provocando o fechamento de muitas casas, ou as convertendo em cine-teatros, a
reunião do Municipal servia para mostrar às autoridades, de maneira enfática, que o
problema da 'crise dos palcos' era, em essência, econômico e fiscal.
No ano precedente, os autores haviam procurado Getúlio Vargas, então deputado
federal, para apresentar um projeto de regulamentação dos direitos autorais. Naquele
instante, em 1927, o projeto tramitava (seria aprovado no ano seguinte), com grande
interesse de Vargas, naquela altura ministro da Fazenda de Washington Luís e virtual
candidato à presidência do Rio Grande do Sul. [...] Com o tempo, as coisas e ajustaram um
tanto, sem atender inteiramente ao pessoal do teatro, mas o insuportável daquela hora se
superou, (...)" P 198
"As 19:45 da noite de 5 de março de 1927, em primeira sessão, subia à cena no
Teatro República a nova revista da Companhia Negra, Café torrado, de diálogos que
faziam rir a sala da Avenida Gomes Freire. [...] Conforme o esperado, o trunfo da estreia
foi mesmo o ator paulista trazido por Jaime Silva, que iria usá-lo ao máximo na capital
federal (...)" p 203
Jorge C. Freitas - fichamento 25
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"Assim, Otelo acabou quase por ocultar o desempenho dos outros artistas, e o
qualificativo que se transformara em seu nome artístico inicial, 'Pequeno' já se alterava
desde a estreia: 'A Companhia Negra de Revistas resume-se hoje no grande Pequeno Otelo,
moleque de pouco mais de uma polegada de altura, mas que é um verdadeiro 'diseur'. O
primeiro a atribuir 'grande' a Otelo Gonçalves foi O Paiz, (...) p 206
4.3 De norte a sul, ou um cenógrafo distraído por outros misteres
"Reportando a estreia em Recife, seja lá por que modo obtivemos a detalhada
informação, disse que quem havia assistido a estreia da Companhia Negra de ter tido 'uma
agradável sensação de legítimo orgulho e de real deslumbramento', registrando a presença
'das pessoas de bom gosto e da nossa primeira sociedade', isto é,' da burguesia, na noite da
estreia em Recife que se dedicaram com a exibição do espetáculo original e inédito.
Aproveitou para fazer comentário sobre o preconceito há muito disseminados: 'Quem anda
eivado de preconceito, há muito rechaçado pela lógica e pela experimentação, pensando
que a raça negra é inferior, desprovida de inteligência, espírito de ordem e eficiência, teria
ontem o mais formal dos desmentidos com a luxuosa apresentação da Companhia Negra,
(...)" 223
Epílogo: a Companhia Negra contra os foros da civilização
"Durante a existência da Companhia, algumas vezes houve menção a excursão ao
exterior, primeiramente no rio, depois em Recife, adiante na Bahia e, por fim, no Rio
Grande do sul. [...] estando a Companhia em excursão na Bahia em abril de 1927, um
jornal local, de maneira detalhada, noticiou que uma empresa argentina a convidara para
apresentações em Buenos Aires e no Uruguai, podendo levá-la ainda a Europa, indicando o
nome do empresário contratante e dando outras informações. Como os jornais do Rio não
deram atenção ou não tomaram conhecimento da notícia, não houve repercussão no meio
teatral carioca. [...] No começo de julho, deu-se a primeira reação negativa, tendo uma
revista especializada em teatro publicado que 'segundo informações que nos merecem todo
crédito, a Companhia Negra de Revista, que trabalhou o ano passado no Rialto e que se
encontra presente em Pelotas, está arrumando as malas para uma 'tournée' a Buenos Aires.
Não é o caso dos poderes públicos, principalmente do Ministério das Relações Exteriores
evitar essa propaganda do nosso país e, logo onde, na República vizinha e amiga?(...)
Jorge C. Freitas - fichamento 26
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Naquele mesmo momento, a notícia repercutiu na SBAT, que, como sociedade de
autores, não havia mostrado nenhum interesse pela Companhia Negra até então. Com
efeito, houve discussão a respeito em ata que 'O Sr Bastos Tigre participa que, chegando ao
seu conhecimento que os empresários Jaime Silva e Avelar pereira pretendem levar à
Argentina e ao Uruguai a Companhia Negra de Revistas, o que redundará em descrédito do
nosso país, a SBAT, como lhe cumpre, irá agir energicamente a fim de impedir a
consumação desse atentado aos foros da nossa civilização' (...)" p 230
"(...) De modo, uns poucos levavam em conta que o esforço de De Chocolat e Jaime
Silva pela criação da Companhia Negra devia ser reconhecido como uma tentativa de
adaptar o sentido civilizado e moderno do teatro negro francês, enquanto outros se
colocavam em posição agressivamente contrária como o A Rua. [...] Contudo, entendendo
a criação da Companhia como um ato de 'resistência', ou de 'reconhecimento', isto poderia
se complicar devido à inevitável relação com a questão social. De fato, seis meses antes da
fundação da trupe negra, o candidato à presidência da República, Washington Luís,
declarava no Rio de Janeiro que as 'resistências' eram incivilizadas: (...)" p 231
"O relacionamento do pessoal da SBAT com os círculos políticos brasileiros era
forte e crescente, com um promissor estreitamento de relações com o recentemente
empossado governo Washington Luís, estando em curso a tramitação de projetos de
interesse da classe artística sob o patrocínio do governo, sobretudo a lei de direitos
autorais, que seria aprovada em 1928, e que fora apresentada à Câmara dos deputados em
1926 por Getúlio Vargas, pouco antes de assumir o Ministério da Fazenda do governo em
curso. (...)" p 232-33
"(...) A SBAT, embora entidade privada, não demorou a assumir feição oficial,
vindo a ter projeção máxima no tempo de Vargas. (...)" p 234
"(...) Para a elite brasileira, havia o incômodo da presença do nosso negro na
Argentina; para os argentinos o preconceito corrente contra a composição africana na
população do país vizinho.
No entanto, uma das predileções portenhas era pelos artistas negros e 'mulatones'
(como era corrente dizer) brasileiros. (...)" p 235
Mas como, por essa época, voltou a circular na imprensa brasileira a velha onda de
avaliação comparativa entre o Brasil e a Argentina, estando presentes os inevitáveis
Jorge C. Freitas - fichamento 27
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
conceitos de 'raça' e 'civilização,' a sugestão para que os nossos 'melhores negros' se
exibissem em Buenos Aires foi vista com desconforto por muita gente. Havia também
certa prevenção por tudo que pudesse parecer 'antipropaganda' do Brasil na Argentina, o
que irritava muito certos círculos." P 236
À margem da história da Companhia Negra de Revistas
Os filhotes da "Negra"
"Sabemos que foi De Chocolat o idealizador da Companhia Negra de Revistas.
Dele também foi a forma de espetáculo, ou melhor, a adaptação do teatro ligeiro
costumeiro à trupe de artistas negros, inaugurada em julho de 1926 com a estreia de Tudo
preto. (...)
Teatro de artistas negros, com temática da cultura afro-brasileira ou não,
continuaram a existir em tentativas espasmódicas até bem depois do tempo da Companhia
Negra, como é o caso da Companhia Mulata de Espetáculos Musicados, que existiu em
1941, e o Teatro Experimental do Negro, porém este com outra feição, iniciativa de Abdias
do Nascimento, nos anos 50. (...)" p 247
"(...) No Rio, ainda em 1931, prosseguiam os espetáculos com artistas importados,
como foi o da inauguração do Cine-Music-Hall, no Teatro Lírico, com o conjunto 'The
Black Revue', apresentação como 'os demônios da dança, os principais animadores da
Revista Negra' do Cassino de Paris. Vale dizer que a trupe americana se exibia no Rio
como contratada da 'South American Tour', a mesma empresa que tentara contratar a
Companhia Negra de Revistas, em 1927, para exibição na capital argentina." P 255
A mãe Preta e o Pai Branco
"Quando a Companhia Negra de Revistas estreou em julho de 1926, uma das partes
mais aplaudidas foi a apoteose final 'Mãe Preta', cujo tema era momentoso, em vista das
campanhas que a imprensa movia. Já estava em curso a arrecadação de fundos para a
elevação do monumento a Cristo Redentor no alto do Corcovado, (...)
(...) É assim que, no começo de abril de 1926, o jornal A Notícia, dizendo-se
inspirar na ação pró Cristo Redentor, achou por bem sugerir um esforço coletivo para erigir
um monumento à Mãe Preta. Só assim, os brasileiros poderiam cumprir um dever
Jorge C. Freitas - fichamento 28
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
fundamental, reconhecendo a 'gratidão pela raça dolorosa trazida da África e de que as leis
misteriosas da vida fizeram um dos mais dinâmicos elementos de nossa formação racial e
espiritual' (...)" p 268
"(...) A repercussão da iniciativa do jornal carioca chegou à América do Norte, e o
The Chicago Defender, em uma de suas edições de junho, estampou a manchete 'O Brasil
rende alta homenagem aos cidadãos pretos'. Como a discriminação racial contra o negro
nos Estados Unidos era muito reprovada na imprensa brasileira naquele tempo, causou
surpresa a simpatia pela campanha em curso no Brasil. (...)" p 273
"A campanha da Mãe Preta, as peças que se escreviam, as apoteoses das revistas
(não apenas a de De Chocolat) serviram positivamente para conscientizar a sociedade para
a questão do preconceito corrente (...)" p 275
"(...) Positivamente, o cinema não foi feliz em sua aproximação com o tema da Mãe
Preta. E, em 1928 e na maior parte de 29, o teatro também sossegou um pouco em relação
ao assunto." P 277
"Enquanto isso, pelo lado prático, a Comissão de Finanças do Senado aprovou o
projeto já aprovado pela Câmara e recomendou a abertura de crédito no valor de 200
contos para a ereção do monumento. (...)
Em São Paulo, o Legislativo estadual votou e aprovou crédito público de
50:000$000 para o monumento nacional (...)" p 278
"Em São Paulo, [...] O Clarim d'Alvorada fez edição especial, dando relevo ao
empenho de alguns vultos históricos da campanha abolicionista, como Joaquim Nabuco e o
Visconde do Rio Branco, mas também aproveitando para defender os 'legítimos interesses
e direitos dos homens de cor, a fim de integrá-los eficiente e plenamente no seio da
comunhão nacional'. O mesmo diário, especializado aproveitou para reivindicar a
instituição do 'Dia da Mãe Preta', a ser comemorado na mesma data da celebração da Lei
do Ventre Livre. Por esta época, voltou a circular a ideia de transformá-la em 'Dia do
Ventre Livre', novo feriado nacional, aliás projeto que tramitava lentamente desde 1926 no
Legislativo Federal, de autoria dos deputados Lindolfo Collor e Alcides Bahia. Mas a
revista humorística Careta não perdeu tempo em estampar charge nada elegante sob o
título de 'O Dia do Purgante'." P 279
Jorge C. Freitas - fichamento 29
Orlando de Barros - Corações De Chocolat
As mulatas rosadas
"A criação da Companhia Negra de Revistas e da Ba-Ta-Clan Preta suscitou, como
visto, todo um amplo movimento de geração de trupes de artistas negros e mulatos no
Brasil, acompanhando a voga reinante em boa parte do mundo, com centros irradiadores
conhecidos, como Paris, Londres e Nova York. Mas a criação das trupes negras brasileiras
não impediu que muitos artistas negros estrangeiros viessem a ocupar os palcos do Rio e
São Paulo muitas vezes sob o apelo, nas propagandas, de que eram 'autênticos e originais'.
(...)" p 292
"(...) Os jornais especializados em problemas da população negra, que quase
sempre não trataram do 'teatro negro' senão como uma demonstração de 'progresso do
homem de cor', ainda em 1930 continuavam no mesmo tom, só raramente corrigindo o
diapasão." P 293
Washington Luís e a questão social no teatro
"Washington Luís passou à história estigmatizado por uma acusação que, se não é
injusta, é inexata até certo ponto. Acusado de ter considerado a questão social um
problema de polícia, em 1920, durante a campanha ao governo paulista, a sentença
pronunciada foi retirada do contexto e sintetizada na fórmula que passou à posteridade.
Mas, em essência, era mesmo o que pensava a elite – e Washington Luís a representava -, a
respeito das tensões sociais reinantes nas relações entre os trabalhadores e a classe
patronal. (...)" p 296
"(...) E foi durante seu governo que tramitou a Lei Getúlio Vargas, referente ao
direito dos autores, que o presidente sancionou em 1928. [...] Assim, consideremos como
acertada a sentença de Otávio Rangel: 'Washington Luís foi, pois, para o teatro do Brasil,
meramente, um presidente a mais; mais um governo essencialmente politiqueiro, mais uma
aureolada quimera." P 299
Jorge C. Freitas - fichamento 30

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História da Companhia Negra de Revistas (1926-1927

  • 1. Orlando de Barros Corações de Chocolat: A História da Companhia Negra de Revistas (1926-1927) Editora Livre Expressão; Rio de Janeiro – 2005 Recortes por Jorge C. Freitas Abril de 2009 História – Micro-história/história e cultura negra
  • 2. Orlando de Barros - Corações De Chocolat RESUMO O livro trata da história das Companhias Negras de Revistas criadas por De Chocolate e Jaime Silva na década de 20. Destaca a importância destas revistas na implementação de debates sobre as questões do negro brasileiro, como o preconceito racial. Sem deixar de falar das discussões políticas que aconteciam paralelas às apresentações da Companhia Negra de Revistas, o autor mostra a influência que esta trouxe às criações do teatro ligeiro da época. Destaca a revelação de grandes nomes da cultura brasileira, como Pixinguinha e Grande Otelo, entre outros. O livro permite uma reflexão sobre as reivindicações dos movimentos negros atuais, visto que muitas ainda são as mesmas que já se pleiteavam naquele momento na sociedade brasileira. O destaque principal é De Chocolat, idealizador ou adaptador do teatro ligeiro francês à realidade cultural brasileira, permitindo ao artista negro um momento de destaque e glória, sem deixar de ser vítima dos preconceitos da sociedade, mas ainda assim, alcançando prestígio entre os principais círculos intelectuais das grandes capitais brasileiras. O livro relata também a existência de uma imprensa negra, que estranhamente, parecia passiva, ou atrasadas em tratar as causas das Companhias de De Chocolate e Jaime Silva. O que permite um debate sobre, o porque de o negro brasileiro ainda hoje ter dificuldades de ascensão no círculo cultural brasileiro. Jorge C. Freitas - fichamento 2
  • 3. Orlando de Barros - Corações De Chocolat Introdução "No final dos anos 20, o teatro musical, especialmente o gênero 'revista', era uma das formas de entretenimento das mais populares nas principais cidades brasileiras, sobretudo no Rio de Janeiro. Ainda assim, o que dominava o meio teatral naquele momento era o desânimo geral, em virtude de uma crise que já se delongava, com diminuição crescente de público e de renda, que não dava sinais de passar. O que a motivava era a consolidação do sistema cinematográfico, uma vez que o cinema se constituíra em diversão preferida das massas, graças à sólida aliança entre os exibidores brasileiros e as companhias distribuidoras norte-americanas, não fosse também por ser um divertimento mais barato. (...) Entretanto, continuava a resistir o teatro musical, mercê das falas em língua nacional e da música sem intermediação de aparelhos, não obstante a ameaça que vinha dos sucessivos anúncios do advento iminente do filme sonoro. (...)" p. 11 "A reação modernizadora para a conservação do público tornou-se particularmente forte depois da Primeira Guerra Mundial nos teatros de revista do Rio de Janeiro, onde faziam-se tentativas desesperadas em busca de novidades de todos os tipos, incorporando uma grande variedade de experimentos, tornando as montagens mais ágeis e feéricas, mais bem produzidas, mais 'técnica' e deslumbrantes em todos os aspectos, com uma organização quase industrial, em que o improviso, a falta de disciplina dos atores e o pouco rigor na seleção das coristas e vedetes, conforme a nova estética da nudez do 'teatro plástico', não poderiam mais ter continuidade. [...] Estas características foram reforçadas pela visita de companhias estrangeiras, como a espanhola Velasco e a francesa Ba-Ta- Clan. Esta última, dirigida por Mme. Rasimi e que tinha como estrela a célebre Mistingett, esteve no Brasil por ocasião do Centenário da Independência, em 1922, voltando em 24 e 26, e foi uma provocadora de intensas mudanças no teatro musical brasileiro, invocando sempre a busca incessante de espetáculos curiosos. Nessas circunstâncias, surgiu no Rio de Janeiro a Companhia Negra de Revistas que, entre 1926 e 27, eletrizou a crítica e o público, encenando algumas peças, também apresentadas em São Paulo, Minas Geras e em outros estados onde a companhia excursionou [...] Muitos desses artistas lograram reconhecimento, às vezes, amparados pela maior difusão dos espetáculos populares, na aurora da cultura de massa, participando do Jorge C. Freitas - fichamento 3
  • 4. Orlando de Barros - Corações De Chocolat mercado das partituras, dos primeiros filmetes e fonogramas [...], época em que Pixinguinha, o mais talentoso dentre eles, se profissionalizou, em 1912 (...) No fim da Belle-époque, o Rio de Janeiro alcançava o primeiro milhão de habitantes, ganhando então certo foro metropolitano, e perfil de mercado do entretenimento, vindo a se tornar um centro aglutinador de segmentos de população imigrada de diversas regiões do país, dentre eles, de modo especial, uma população considerável vinda da Bahia, que guardava um forte conteúdo de origem africana em seus usos, costumes e crenças, enriquecendo e adensando as manifestações culturais da capital federal da república recém-instaurada. Entretanto, havia uma resistência considerável aos negros e à sua cultura, muitas vezes revelada de maneira exacerbada no mundo do espetáculo." p 12-13 "A Companhia Negra de Revistas estreou em 31 de julho de 1926. Seu advento assinalou o início do 'teatro negro' no Brasil, isto é, uma variante temática do teatro ligeiro exibida pelas companhias ou pequenos grupos formados por artistas negros e mulatos que, sem modificar de maneira importante a estrutura dos gêneros existentes nas revistas e burletas, procuraram estilizá-los com números de danças e canções inspiradas na cultura afro-brasileira ou afro-americanas. (...) A Companhia Negra não deixou de ser um reflexo brasileiro de um movimento internacional de valorização da cultura negra sincrética, que já havia conquistado espaço desde a segunda metade do século XIX, acelerando-se particularmente depois da Primeira Grande Guerra, com o irrompimento do jazz e de diversos gêneros de danças que ganharam o mundo. [...] No começo dos anos 20, um artista mulato baiano, João Cândido Ferreira, o De Chocolat, esteve em Paris, apresentando-se em espetáculos de variedades, onde travou conhecimento com algumas estrelas do teatro ligeiro. [...] Nesse ínterim, em 1925, fez grande sucesso em Paris o histórico espetáculo da Revue Nègre, tendo por estrela máxima Josephine Baker. A repercussão no Brasil foi de tal monta que De Chocolat, [...] resolveu tentar a criação de uma versão brasileira do 'teatro negro', idealizando a fórmula e a adaptação, associando-se ao cenógrafo português Jaime Silva para organizar a Companhia Negra." p 14-15 Jorge C. Freitas - fichamento 4
  • 5. Orlando de Barros - Corações De Chocolat CAPÍTULO I O palco dos pretos: preparando o terreno 1.1 Baianos revisteiros No curto período de sua existência, de julho de 1926 julho do ano seguinte, a Companhia Negra de Revista traçou uma das histórias mais interessantes dos palcos brasileiros, provocando discussões e debates apaixonados e influindo em muitos acontecimentos paralelos. Atuando no último lustro da República Velha, ela apontou ou aludiu, em grande parte, às transformações sociais e culturais em curso, que não demorariam a se sublimar no movimento de 1930 e no período de Vargas. A Companhia foi, em larga medida, um manifesto do processo de modernização, em virtude da introdução ou renovação de alguns gêneros e temas do entretenimento, que logo não demorariam a se converter em insumo de valor econômico da cultura de massa nascente. [...] De outro modo, também foi importante do ponto de vista dos institutos e convenções de teatro musicado da época, fazendo, por tudo isso, um interessante objeto de estudo da história dessa trupe." P 25 "Os detratores exageravam nas apresentações da Companhia apenas uma manifestação bárbara e incivilizada, uma imitação barata da cultura 'branca' de origem européia, sem deixar de revelar igualmente alguma animosidade quanto ao valor estético da aparência física das vedetes e coristas. [...] Não levavam em conta sua contribuição regeneradora para o teatro ligeiro, tão necessitado de renovação. Mas o catalisador de todos os sentimento antagônicos foi, realmente, o fato de toda a Companhia ser inteiramente formada de negros e mulatos, exceto Jaime Silva (...)" p 26 "Antes da constituição definitiva da baiana como um personagem-tipo, o negro e o mestiço apareciam no teatro em posições subalternas, como criados ou moleques de recado, quase sempre em papéis de personagens ingênuos e infantilizados. Como tipo, ao contrário, a baiana tem personalidade forte e é diametralmente oposta aos ingênuos, pois ela é dos que se podem chamar de 'brejeira', com um recorte todo próprio, podendo-se dizer dela que era insidiosa, sedutora, maliciosa, capaz de toas as habilidade do palco e exibicionista quase sempre, para não dizer também que era frequentemente a rainha do duplo sentido e da luxúria. (...)" p 28 Jorge C. Freitas - fichamento 5
  • 6. Orlando de Barros - Corações De Chocolat "Entretanto, a baiana também se confudia com outro tipo, a mulata, muitas vezes trocando uma com a outra caracteres de identidade. (...) A mais famosa de todas as baianas dos palcos brasileiros fia Araci Cortes que iniciou a carreira em 1921, mesmo ano em que se dava o falecimento de Aurélia Delorme, a atriz que havia criado o tipo. (...) p 30 1.2 Ascendina Santos "(...) Estreou a atriz negra na burleta carnavalesca Ai Zizinha!, em 'première' a 15.01.1926, no Teatro Carlos Gomes [...] Ascendina acabou tornando-se a principal atração do espetáculo. (...) p 31 1.3 Rosa Negra Rosa Negra começou sua carreira quase ao mesmo tempo que Ascendina Santos e assim como esta, não teve carreira longa. [...] Lançada para o vedetismo do teatro ligeiro, logo mostrava bastante desembaraço, pois, em julho de 1926, Jornal do Brasil, em matéria especial, informava: "Quem haverá que não conheça a 'Rosa Negra? É uma negrinha vivia, elegante e faceira que inúmeras vezes se tem apresentado ao nosso público, ora cantando em cabarés, ora representando em teatros. (...) (...) Em 7 de abril, estreava Pirão de Areia e Rosa Negra liderava um grupo de 'black girls' e interpretava o quadro denominado 'Ascendinices', em evidente alusão aos espetáculos de Ascendina Santos. (...)" p 37 Ascendina e Rosa Negra são bons exemplos dos cartazes meteóricos e fugazes das 'estrelas de azeviche', com poucas oportunidades de mostrar talentos no teatro. Assim, o surgimento da Companhia Negra parecia prometer a instauração de uma vairante de sucesso duradouro nas revistas, o que não ocorreu também, porém, dessa vez, com uma repercussão nunca antes alcançada, inaugurando o 'teatro negro', que seguiria tentando se estabelecer décadas a fora. (...)" p 38 1.4 A Revue Nègre "futurista" e sua repercussão no Rio de Janeiro Jorge C. Freitas - fichamento 6
  • 7. Orlando de Barros - Corações De Chocolat "(...) havia uma recente popularidade de tudo que dissesse respeito à África em Paris [...] Na verdade, em 1925, a linda casa parisiense1 estava dando prejuízo devido à retração geral das rendas, proVocada pela diminuição dos frequentadores dos tetros, o que se agravou também pelo alto custo das produções no pós-guerra. O convite a Dudley para que realizasse o espet´culo de negros não passava de uma tentativa desesperada de atrair o público." P 39 "Os acontecimentos em torno da Revue Nègre não passaram desapercebidos no Rio de Janeiro, mesmo porque muitos dos jornais e revistas dos anos 20, e mesmo depois, noticiavam regularmente o que acontecia nos palcos de Paris., como um manifesto subsidiário da antiga vinculação cultural brasileira à francesa. (...)" p 45 1.5 De Chocolat "Com efeito, confirmando a previsão da revista Careta, desde o fim de fevereiro de 1926, circulam as notícias de que De Chocolat estava mesmo organizando 'sua tribo', (...) (...) Estava mesmo determinado a levar à cena a réplica brasileira da Revue Nègre a todo custo, desejo esse que se inspirava em muito de sua curiosa história pessoal, feita de lutas e aventuras, quando firmou posição como artista negro nos palcos da capital federal. João Cândido Ferreira era seu nome de batismo, nascido em Salvador, Bahia, em 18 de maio de 1887. Dizem que, ainda em Salvador, tinha muito interesse pelo teatro, vindo por isso mesmo, ainda muito jovem, a ingressar como cançonetista numa companhia espanhola de zazuelas, com a qual transferiu-se para o Rio. [...] Dos chopes berrantes e cervejarias chegou aos 'teatrinhos', casas muito populares no Rio, onde, nos primeiros tempos da carreira, fez sucesso em duetos com o cantor Boneco, ocasião em que ainda era conhecido pelo seu primeiro nome artístico, Jocanfer, composto pelas primeiras sílabas de seu nome." P 47 "Ao começar a Primeira Guerra Mundial, sua posição no ambiente do entretenimento do Rio de Janeiro estava firmada e De Chocolate não tardou a se exibir também em outras capitais, mormente em São Paulo. Logo depois, fez sua primeira viagem à Europa, tendo se demorado por mais tempo em Paris. A data desta viagem e as circunstâncias em que se deu são pouco conhecidas e as informações que se tem a respeito são muito contraditórias. (...)" p 48-49 1 Théâtre des Champs-Elusées Jorge C. Freitas - fichamento 7
  • 8. Orlando de Barros - Corações De Chocolat "Quando e por que João Cândido Ferreira deixou o Jocanfer pelo De Chocolat? A resposta unânime dos que trataram disto é que, trabalhando em vários cabarés parisienses, não tardou que lhe dessem o apelido de "Monsieur De Chocolat", logo depois abreviado pela retirada do "Monseieur". [...] A adoção do novo nome só teria sido feita depois da volta do artista. [...] É possível mesmo que já tivesse saído o De Chocolat, pois é no nosso país que a marca de diferença étinica é tão especialmente registrada na denominação da tez da pela. (...)" p 51 "(...) É caso de perguntar se não houve outro Chocolate que tenha precedido João Ferreira, em meio às aparições e desaparições tão comuns na vida artística, e que nos tenha escapado. De resto, algumas vezes, alguém criticava o De Chocolat como nome artístico pernóstico, como fez um jornal, certa vez: '... é possível alguém na vida se chamar De Chocolat'? E o artista respondeu em outro diário do Rio: 'Diz ainda o meu desconhecido atacante que 'De Chocolat' não é nome de gente!... Desconhecerá por acaso, o incógnito atacante, o valor da partícula 'De'?". P 52-53 "Em 1926, portanto, cerca de um lustro depois de sua volta de Paris, De Chocolat estava profissionalmente madura para organizar a Companhia Negra de Revistas. E esta não foi a única companhia que organizou, pois, em outubro de 1926, fundou a companhia Ba-Ta-Clan Preta, depois de ter rompido a sociedade com Jaime Silva, fundando ainda em 1936, a famosa 'Casa de Caboclo', em parceria com Duque e Humberto Miranda, no velho Teatro São José, que marcou época nos espetáculos do Rio, para a qual escreveu várias peças, em parceria com o mesmo Duque e ainda com Paulo Orlando. No decênio que vai de 26 a 36, pode-se dizer que chegou ao ápice profissional, período que começou com a criação da Companhia Negra, da qual foi idealizador e criador, deflagrando o movimento de um novo gênero, o chamado 'teatro negro', e que lhe trouxe muitos contratempos e aborrecimentos. Mesmo assim, em 1938, mais uma vez, De Chocolat ainda insistiu em formar outra companhia especializada, a Companhia Negra de Opereta e Revistas, desta vez sem insistir nos erros do passado, sobretudo em procurar outros caminhos de expressão que não fossem o 'do negro representar papel de branco', esforçando-se para não seguir como uma imagem invertida do que faziam alguns brancos norte-americanos, principalmente Al Jolson, isto é, a dos 'brancos imitadores de negros' (...)" p 54 Jorge C. Freitas - fichamento 8
  • 9. Orlando de Barros - Corações De Chocolat "Quando De Chocolat estava em baixa, logo tratava de trazer alguma ideia nova que, muitas vezes, acabava mesmo fazendo sucesso, voltando a recuperar o fôlego artístico. [...] Porém, De Chocolat procurava tirar dividendos de seu prestígio, às vezes de maneira muito perniciosa, o que lhe valia críticas de seus inimigos, das quais costumava se defender em longas cartas à imprensa. Não deixou também de cortejar o poder, de buscar bom relacionamento com pessoas de destaque na vida nacional. Em novembro de 1928, por exemplo, depois de malograr (e ser esbulhado pelo sócio) na Companhia Negra, tratou de organizar uma aparatosa festa no Teatro Fênix, em homenagem ao ministro das relações exteriores Otávio Mangabeira, 'com a presença de representantes do Estado da Bahia no Senado e na Câmara', a propósito, a festa de despedida De Chocolat, que estava se preparando para outra viagem a Paris. Estas 'festas', 'festivais' ou 'homenagens' eram então muito comuns, sempre úteis para agitar o meio teatral, sendo muito noticiadas. (...)" p 55 "Em torno de 1928, ocasião da segunda viagem à Europa, o antigo cantor dos teatrinhos e dos chopes berrantes já havia desenvolvido muitas habilidades e seguiria assim até o fim da vida, em contínuo desenvolvimento profissional. Além de cantor e cançonetista, foi dançarino, ator, compositor de cações populares, repentista, improvisador, imitador, 'cabaretier' e autor teatral. Também foi produtor teatral, colaborou em muitas companhias de revistas como diretor artístico, ensaiador e autor, deixou inúmeros quadros, encaixados em numerosas peças teatrais. Curioso e que, em 1956, um jornal afirmou também que ele foi bom transformista, o que nenhuma outra fonte corroborou. (...) p 56 "Muitas vezes costumava versejar de improviso, e esta capacidade sempre foi louvada, sobretudo quando dialogava em versos com os espectadores. Dizem que escrevia versos e, de fato, corroborando a informação, escreveu um livrinho de versos humorísticos, 'Aqui jazz..., epitávios constitucionalísticos e teatrais', inspirado pela assembleia constituinte que se preparava para dar magna carta de 1946. [...] Nos últimos anos de vida, ele escrevia sketches e produzia shows em boates, como a Night and day e a Cinelândia, trabalhando nestas casas como diretor artístico. Já no período em que vivia do trabalho nas boates também colaborou com o Departamento de Turismo e Certames da prefeitura do Rio, fazendo o 'presépio vivo', na Quinta da Boa Vista, uma encenação natalina representada por atores, iniciativa repetida durante alguns anos. Também foi incumbido pela prefeitura de reanimar o carnaval de rua, bem como foi ideia dele eviver o 'Bumba Jorge C. Freitas - fichamento 9
  • 10. Orlando de Barros - Corações De Chocolat meu boi', espetáculo levado a efeito na ilha de Brocoió. Consta também que, na mesma ocasião, De Chocolat dirigia o Serviço de Recreação Operária do Ministério do Trabalho, que acumulava com o cargo de ensaiador de peças teatrais que o Departamento de Turismo municipal encenava. Trabalhando como extranumerário da prefeitura, disse dele Alfredo Pessoa, seu antigo chefe: 'era muito meticuloso e honesto em seu trabalho'. Por ocasião da morte de De Chocolat, a gazeta de boêmio inveterado foi lembrada em todas as reportagens que se dedicaram a traçar um retrospecto da carreira do artista. Como boêmio autêntico, dizia-se que se deitava tarde, nunca antes das 2 da manhã, e levantava-se depois do meio dia. (...) p 57 "(...) Durante o tumultuado período de existência da Companhia Negra, De Chocolat teve disputas e conflitos com diversas pessoas, com o cenógrafo Jaime Silva, seu sócio, com jornalistas do jornal A Rua, com um de seus parceiros em texto de revista e com a vedete Deo Costa, sempre com repercussão na imprensa. Não foi à toa que, naquela época, se dizia que ele vivia 'armando confusão', embora o 'rei da bronca', quase sempre não fosse o causador dos dissídios. Na verdade, naquela época, os conflitos de De Chocolat tinham duas razões: a primeira, por puro preconceito contra o verdadeiro idealizador do 'teatro dos artistas pretos'; a segunda, simplesmente pelo desejo de excluí-lo da companhia de que era sócio, quer dizer, pelo velho esbulho, que será motivo de relato circunstanciado em outro capítulo. Mas o 'rei da bronca' tinha um sólido círculo de amizades. [...] Os mais chegados foram os compositores Bororó, autor de duas canções célebres Curare e Da cor do pecado, e Nelcy Deiroz, o autor de Palhaço. Também foi íntimo de Noel Rosa, Donga e Pixinguinha, sendo que este foi convidado por ele para trabalhar como o regente da Companhia Negra e, mais tarde, da Ba-Ta-Clan preta. Entre seus amigos diletos estavam também Álvaro Moreira e a esposa deste, Eugênia, bem como Dulcina, Barreto Pinto, Procópio Ferreira, Jaime Costa, Celeste Aida, que formavam um círculo no Bar Tangará, também conhecido por 'escritório dos boêmios'. Entre os artistas que teriam ajudado em início de carreira estariam Derci Gonçalves, a quem deu oportunidade na 'Casa de Caboclo', e Araci Cortes. Também era amigo de artistas de teatro menos conhecidos, como Ruth Silva, Joel Galiano e Marieta Monteiro. Nos últimos anos de vida, foi maior amigo de Alfredo Pessoa, diretor do Departamento de Turismo e Certames da prefeitura do Rio, que Jorge C. Freitas - fichamento 10
  • 11. Orlando de Barros - Corações De Chocolat o protegeu, e quem a ele ofereceu a oportunidade de organizar espetáculos nos festejos da municipalidade. [...] Faleceu em 27 de dezembro, e sua morte quase passou desapercebida devido às festas de fim de ano. (...)" p 59-60 Desde 1952, De Chocolat não andava bem de saúde, sofrendo do coração. Pouco antes, fora vítima de uma atropelamento, que lhe fraturou ambas as pernas, tendo de ficar por muito tempo no Hospital Sousa Aguiar. Depois, foi transferido para o Instituto de Cardiologia do Hospital Pedro Ernesto, onde se recuperou, podendo viver seus quatro anos restantes. (...)" p 61 "Recuperado, De Chocolat voltou a fazer ponto na Cinelândia, e continuou seu trabalho nas boates das redondezas. Residia então no Hotel Minas-São Paulo na Praça da República, quando na noite de 18 de dezembro foi acometido de um derrame cerebral, sendo socorrido no Hospital Sousa Aguiar, mas faleceu no dia 27. O corpo foi velado na capela de Santa Teresinha, na Praça da República, tendo comparecido seu velhos amigos. Como De Chocolat ficou sócio efetivo da SBAT – Sociedade Brasileira de Autores Teatrais -, a sociedade encarregou-se de custear as despesas, mas alguns de seus companheiros mostraram-se indignados porque encontraram o cadáver descalço e sem meias também porque a sociedade não havia mandado representante. Outro motivo de indignação foi que até as 23 horas, apenas quatro pessoas haviam velado o corpo do artista, chegando alguns mais, que logo saíram. Nenhum parente do morto foi localizado, tendo os velhos amigos Nely Deiroz e Marieta Monteiro tomado as providências. Da mesma forma contraditória foi a informação sobre o acompanhamento do féretro, o que ajuda a avaliar o que persistira da memória do artista na ocasião de sua morte. Um jornal fala de 'grande acompanhamento', de 'um pequena multidão a acompanhá-lo', de que o artista havia morrido cercado de carinho, enquanto outro foi peremptório: 'De Chocolat, enterrado anteontem, foi um dos mais característicos boêmios do teatro popular brasileiro. No entanto, morreu como nasceu: pobre e solteiro. O seu enterro foi, por outro lado, um tanto semelhante ao nascimento: poucas pessoas viram-no nascer e poucas gente acompanhou seus restos mortais. Desceu à sepultura às 10 horas da manhã do dia seguinte no Cemitério do Caju." P 62-63 "O necrológio publicado no número 295 de Revista de Teatro diz que De Chocolat, como autor teatral, além de ter escrito Tudo Preto, ainda produziu um grande número de Jorge C. Freitas - fichamento 11
  • 12. Orlando de Barros - Corações De Chocolat comédias, esquetes e revistas, como O petróleo do Lobato, Flor do mato, Algemas quebradas, A volta dos caboclos, Ao rufar dos tambores, Na penumbra, Deixa eu morrer com ela, Preto não é bom, e muitas outras, algumas delas consignadas à SBAT para efeito de cobrança de direitos autorais. [...] De Chocolat se considerava mesmo escritor, no sentido emprestado à palavra na SBAT, onde os autores de peças eram geralmente intitulados 'escritores teatrais'. E não foi por outra razão que, em novembro de 1926, estando em São Paulo a Ba-Ta-Clan Preta, companhia que havia recentemente organizado, assim se declarou De Chocolat na propaganda publicada nos jornais da revista Na penumbra: 'De Chocolat, o único escritor que sabe ter espírito em 'Língua de branco...!'. p 65 Por último, falemos um pouco mais do livrinho de versos que deixou. [...] De Chocolat ficou conhecido por fazer versos de improviso. [...] Em 1947, publicou livro de versos humorísticos 'Aqui jaz... epitáfios constitucionalistas e teatrais' com vistosa capa vermelha, desenhada por Vincent Cognac, também autor das ilustrações. [...] Também verseja sobre personagens do meio teatral. Os versos são epitáfios fictícios, às vezes engraçadíssimos, porque se referem a pessoas e então estavam vivíssimas, sendo que o último deles o poeta guarda para si próprio, arrematado com esta quadrinha: Por ter matando sorrindo, àquelas que conheceu, Um dia enchocolatou-se Estrebuchou e ... morreu!" p 66-67 CAPÍTULO 2 A ribalta dos negros e a plateia dos brancos 2.1 As baratas do Rialto "(...) O ano das comemorações do centenário2 não ia longe, e foi um bom momento para planos e projetos referentes à tipificação do que poderia ser uma vertente 'nacional' a explorar. E isso também não faltou ao teatro, embora as tentativas tivessem sido acanhadas. 2 Comemorações do centenário da Independência. Jorge C. Freitas - fichamento 12
  • 13. Orlando de Barros - Corações De Chocolat Uma semana antes de Mário Nunes ter anunciado a formação da Companhia Negra, José do Patrocínio Filho escrevia a Cardoso de Meneses, presidente da SBAT, dizendo que havia pouco publicado um manifesto da criação de uma 'companhia de teatro típico brasileiro', que pretendia fazer estrear em uma das casas de espetáculo da capital federal ainda naquele ano." P 68 "(...) A proposta não esclarecia o que o conhecido jornalista e homem de teatro Zeca Patrocínio tinha em mente como 'teatro típico brasileiro', mas dizia que se tratava de uma iniciativa 'de arte e de civismo', pela qual contava com o auxílio dos governos federal e estaduais. (...)" p 69 "De fevereiro ao começo de julho de 1926, De Chocolat e Jaime Silva se empenhavam nas medidas necessárias para compor o elenco da nova companhia teatral, distribuindo tarefas, angariando recursos e tentando conseguir local adequado para os ensaios, que acabou sendo o Teatro Rialto. Foi também neste período que De Chocolat foi aos poucos definindo melhor como seria a proposta artística que tinha em mente e a mesma ocasião em que escreveu Tudo preto, a primeira revista a ser encenada. Do dia 3 de julho em diante, os periódicos tratava regularmente dos ensaios. Naquela altura ainda havia muitas dúvidas sobre a competência dos artistas negros, agora guindados dos papéis secundários para o estrelato. (...)" p 70 "(...) Tudo parecia correr muito bem, em meio a curiosidade geral, sobretudo porque havia muita expectativa em torno da competência profissional dos artistas negros. (...) p 71" 2.2 Ensaios e sopa de letras "(...) De certo modo, a expectativa em torno de Tudo preto haveria de se abrandar porque chegava ao Rio, no dia 20 de julho, a onze dias da estreia da trupe de De Chocolat, nada mais nada menos que o Ba-Ta-Clan, vindo de paris, via Lisboa, onde se exibira gloriosamente no Trindade, chegando à Praça Mauá pelo 'Bele Isle'. E já tinha no dia seguinte espetáculo no Lírico, anunciado sob a seguinte manchete 'Vamos, a partir de amanhã, à noite, ter um pouco de Paris no Rio'. Não demorou muito para que a capital só falasse dos espetáculos irreverentes e divertidos do Ba-Ta-Clan, indiscretos e espirituosos, que 'tamanha fascinação exercem sobre todas as criaturas que buscam nos prazeres energia para a luta pela vida' (...) A Ba-Ta-Cla,de Mme Rasimi, estivera no Brasil por ocasião do Jorge C. Freitas - fichamento 13
  • 14. Orlando de Barros - Corações De Chocolat Centenário de Independência, em 1922, voltara em 24 e, agora, em 26, trazendo sempre seus espetáculos curiosos e provocadores, numa linha de proposta que, em alguns pontos, vinha concorrer com Tudo preto em marcha, inclusive trazendo artistas negros que haviam tomado parte na Revue Nègre, em 1925." P 78 "No dia 31, o da esperada estreia, os jornais estampavam a propaganda do teatro do Senhor Stambile e da Companhia Negra. (...) Fato é que a capital estava eletrizada pela expectativa criada pelas colunas especializadas, [...] Mas quase nada se fala do público no dia da estreia. Não duvidamos que a plateia estivesse 'repleta' na estreia da Companhia negra, [...] mas temos de considerar, realmente, se havia público para tantos espetáculos que se ofereciam ao espectador carioca naquela data. Neste ponto, Tudo preto foi pouco feliz, tendo de competir com companhias poderosas e espetáculos muito atraentes. Quase ao mesmo tempo em que os organizadores da nova companhia carioca superavam dificuldades sem conta, chegavam ao Rio três companhias de revistas estrangeiras. Além da Ba-Ta-Clan, ainda estavam aqui, na mesma ocasião, a Companhia Portuguesa de Revistas e a Companhia Argentina de Revistas. [...] Por coincidência, ao mesmo tempo, estavam também em cartaz outras peças de relativo sucesso de público, estreladas por artistas de destaque. Dez dias depois da estreia da Ba-Ta-Clan, era a vez da carioca Companhia Negra de Revistas, com a peça Tudo Preto, num teatro considerado malfadado pelos críticos." P 84-85 2.3 As enchentes do Rialto De Chocolat entendeu que devia ressaltar, quanto mais pudesse, o caráter negro do espetáculo, carregando nas citações dos costumes, dos hábitos, enfim, no que ele chamava de 'coisas da raça negra', e não foi por outra razão que havia encarregado Sebastião Cirino da partitura, pois este até então tinha granjeado a fama de ser 'um mestre na composição de músicas cem por cento brasileiras. (...)" p 96 "Através das entrevistas – muito poucas, por sinal – concedidas pelos organizadores e artistas da Companhia podemos buscar um tanto da vida interna. Um repórter, sob o pseudônimo de 'Lua', entrevistou Jaime Silva depois da estreia, no saguão do teatro, onde foi encontrá-lo 'embriagado pelo triunfo', recebendo 'uma avalanche de cumprimentos'. Jaime, depois de um sem números de considerações otimistas, falou ao repórter com Jorge C. Freitas - fichamento 14
  • 15. Orlando de Barros - Corações De Chocolat entusiasmo dos seus sonhos de artista, da sua companhia, dos seus projetos futuros, considerando De Chocolat um aliado indispensável e verdadeiro criador da ideia, que merecia ser aperfeiçoada. Mostrou-se também 'um perdulário d'alma e de dinheiro', desinteressado dos lucros que poderia ter com uma administração mais voltada para a exploração econômica da Companhia, declarando que seu interesse maior era a 'vitória artística da gente de cor'. Curioso que, sempre apresentado pelos críticos como o cenógrafo mais sofisticado do Rio, aqui Jaime Silva aparece como uma 'personalidade bondosa e sincera de um homem simples, que sem estudos, aprendeu a amar a arte e a natureza', no dizer do repórter 'Lua', que endossou as declarações entrevistado sem questioná-lo. Três dias depois foi a vez de De Chocolat vir a conceder 'Duas palavras' a um repórter de A Pátria. O jornalista elogiou a constância, a aplicação e o amor à disciplina como as maiores virtudes do entrevistado, a quem também achava que não faltavam engenho, paciência e habilidade para arregimentar. Ao ser felicitado, De Chocolat respondeu: 'Não é a mim a quem deveis felicitar, mas sim a Jaime Silva, o extraordinário artista, por isso que foram a sua arte, os seus capitais e os seus conselhos os motivos únicos do nosso triunfo. Duas semanas depois, em plena carreira de Tudo preto, 'Lua' voltou ao Rialto em busca de algo mais substancioso, com mais conteúdo, da parte do pessoal da Companhia. Encontrou Djanira Flora. [...] Registrou 'Lua' que a atriz falava com pausa, corretamente, sem eixar entrever nas suas palavras o menor laivo de ambição, mostrando- se de todo ingênua, encantadora, luminosa, e amplamente feliz apenas pelo dever cumprido. Assim, nas entrevistas, o pessoal da Companhia praticamente não se referiu à peça propriamente, atribuindo uns aos outros as qualidades do espetáculo, e isto podemos pôr em dúvidas, porque não demorariam a surgir dissensões e, por fim, a divisão da Companhia. Este quase silêncio de Tudo preto faz pensar sobre a concepção do espetáculo em si mesmo, pelos artistas e dirigentes, se desde cedo não houve dúvidas e sérias discordâncias." P 98-99 "(...) Como era de praxe, assegurado o sucesso de público, para comemorar o êxito no Rialto, Jaime Silva e De Chocolat fizeram rezar missa em ação de graça na Igreja da Lampadosa no dia 11, com grande comparecimento da gente do teatro. No dia 16, a empresa do Rialto comunicou à imprensa que não seria possível mudar de peça, como era esperado, porque o teatro continuava a encher-se diariamente de uma multidão que não se cansava de aplaudir 'a revista de De Chocolat, os seus intérpretes, e Jorge C. Freitas - fichamento 15
  • 16. Orlando de Barros - Corações De Chocolat sua música e os cenários que o ornam (...) sendo a mais alta novidade teatral do momento. (...) Mas nem tudo eram flores. No dia 13 os empresários do Rialto foram multados em 50$000 por permitir a entrada de menores de idade. O teatro de Stamili foi colhido por uma companhia dos fiscais nas casas de diversão do rio porque corria boatos de que menores estavam frequentando livremente 'teatro plástico', isto é, os espetáculos de nudismo, provocando denúncias e reação da censura. (...) p 100 "Tentativas de multar o Rialto e a Companhia Negra de Revestas não faltaram durante as apresentações de Tudo preto, mesmo na noite de estreia. A noite, publicando matéria sob o sugestivo título de 'Tudo de meia cara', diz que naquela data o suplente de serviço do Rialto quis multar a respectiva empresa, por excesso de lotação. A empresa, como era natural, dispôs-se a pagar a multa, mas procurou saber primeiro como seus bilheteiros e porteiros tinham permitido a infração. E o que se apurou foi que, exibindo distintivos, carteirinhas, etc., tinha penetrado no Rialto gratuitamente, de 'meia cara', para usar a expressão da época, nada menos de cinquenta funcionários da polícia. Foram eles que determinaram o excesso de lotação pelo qual pretendia a própria polícia multar a empresa. Diante do que ficou constatado, a multa teve mesmo que ficar sem efeito. (...)" p 101 "O meio teatral sempre foi muito conflituoso, fosse pela competição pelas oportunidades de trabalho ou renda, fosse pelas vaidades sempre exacerbadas no meio artístico. Mas havia muitos canais pelos quais se exercia a sociabilidade, em meio a suas convenções, que atenuavam os conflitos e aproximavam os profissionais. [...] Às vezes, pequenos episódios aparentemente sem importância, quando observados com atenção, mostram-se dignos de nota e lançam luz sobre a complexa rede cultural e social do mundo dos espetáculos e suas convenções, como são os casos das 'campanhas' e 'homenagens'. Por exemplo, foi o caso do auxílio a Cinira Polônio, que se encontrava desvalida em Paris. [...] a Companhia Negra, em 6 de agosto, dava conta de que ajudaria na campanha e, efetivamente, a vesperal do dia seguinte destinou 50% do seu produto total em benefício à atriz que, com outras rendas somadas, pôde assim escapar às peripécias." P 102 "Em 1º de setembro, em propaganda no Jornal do Brasil a empresa do Rialto conclamava o público para a última apresentação de Tudo preto, aproveitando para Jorge C. Freitas - fichamento 16
  • 17. Orlando de Barros - Corações De Chocolat anunciar a nova montagem da Companhia, Preto e branco, com estreia marcada para o dia 3, sexta-feira. (...)" p 103 "Mas a nova montagem, talvez não tão bem ensaiada quanto Tudo Preto não logrou o mesmo sucesso desta, e acabou tornando-se uma fonte de aborrecimentos para De Chocolat. Se a boa receptividade dos jornais foi predominante em relação à primeira montagem, de certo modo até mesmo surpreendente, com pouquíssimas restrições ao desempenho do elenco novato, com Preto e branco deu-se o contrário. (...)" p 104 2. 4 A Rua e a amargura "O jornal A Rua não circulou no mês de agosto, por ocasião das apresentações regulares de Tudo preto, voltando em setembro. Mas, na data da estreia de Preto e branco, voltando a circular, A Rua tratou da matéria. (...) A Rua foi, portanto, simpática aos esforços da Companhia e continuou sendo nos dias subesquentes, ao falar de Preto e branco. [...] Os elogios de A Rua fizeram com que Wladmiro di Roma escrevesse uma carta amável de agradecimento ao jornal, que acusou o recebimento em 6 de setembro. Daí em diante, até o dia 14, A Rua não tratou mais do Rialto, mas, naquela data, surpreendentemente, voltou ao assunto, e de maneira intempestiva." P 105 "(...) A reação enérgica de De Chocolat somente teve por efeito irritar ainda mais o 'ilustre incógnito', e ainda mais por ter declarado suspeitar de uma chantagem em curso. Os ataques continuaram adiante. (...) As relações com Jaime Silva já eram de franca colisão; se os ataques de A Rua tinham mesmo este objetivo, é certo que foi alcançado." P 107 "(...) Suspensa a temporada de Preto e branco no Rialto, a cizânia instalada alcançou seu auge entre os dias 20 e 27 de setembro. Não temos registro dos detalhes de como De Chocolat e Jaime Silva resolveram suas diferenças, mas o resultado foi o afastamento do primeiro, assumindo sozinho a Companhia o conhecido cenógrafo português, um branco à frente da trupe de negros. (...)" p 108 "(...) Na ocasião, havia alguns jornais especializados nas questões do homem negro, quase todos envolvidos na perspectiva do 'progresso dos homens de cor', quase todos publicações modestas, nem sempre regulares. Fomos consultá-los, mas apenas um deles se Jorge C. Freitas - fichamento 17
  • 18. Orlando de Barros - Corações De Chocolat referiu à estreia de Tudo preto, embora, mais adiante, quase todos tratassem da Companhia, por ocasião de suas excursões. O jornal em questão foi o paulista O Clarim D'Alvorada, que com grande atraso, tratou do surgimento da trupe de negros. O tom geral deste jornal, o que era também comum em publicações análogas, foi o do 'reconhecimento', da 'presença' dos negros na sociedade brasileira, sendo assim a aparição em causa, sob o título de 'Nossos parabéns"...' Começa dizendo que, 'apesar dos pesares', o 'nosso progresso' vinha se multiplicando diariamente em todas as atividades humanas, nas rodas esportivas, nas ciências, artes, em várias disciplinas e letras, de modo que tinha chegado auspiciosamente ao teatro ligeiro, mostrando que se concretizava a 'crescente evolução do homem de cor'." P 114 "(...) Em suma, o Tudo preto, devemos aceitar, não foi propriamente uma representação de negros para negros. Sendo uma população mais modesta que a dos brancos, a bilheteria era menos acessível para eles, (...) p 115 CAPÍTULO 3 A "Preta" contra a "Negra" 3.1 Preto e branco e o terremoto "No dia 2 de setembro, aparecia na imprensa a propaganda de Preto e branco, com os seguintes créditos: texto de Wladimiro di Roma, com música do maestro Lírio Panicalli, tendo 46 cenários de Jaime Silva, marcação coreográfica de Alexandre Montenegro e 'elaborada mise-en-scène' de De Chocolat." (p.116-117) "Mas a proposta de espetáculo 'negro', que tanta surpresa havia causado na peça anterior, haveria de ser problemática desta vez. A estreia dividiu a crítica. [...] O problema principal não estava na revista, que, sob certos aspectos era mesmo superior a Tudo preto; o pior tinha ocorrido com a 'mise-en-scène', apesar da boa qualidade dos cenários. Pareciam que os ensaios tinha sido insuficientes ou mal cuidados porque o corpo de 'ensemblistas', que se mostram tão disciplinado, na estreia de Preto e branco. [...]" p 118 "A nova peça apresentava problemas realmente, mesmo que elogiada em alguns pontos. E o problema principal, ao que parece, estava justamente com o idealizador da Companhia e seu diretor de cena principal. A posição de De Chocolat não era mesmo confortável; fazia parte da empresa como sócio de trabalho, portanto, dependente do sócio Jorge C. Freitas - fichamento 18
  • 19. Orlando de Barros - Corações De Chocolat de capital, Jaime Silva. [...] Logo depois, falhado o lançamento, já se falava de outra estreia, mas em meio a boatos de que a Companhia estava a ponto de se dividir." P 120 "Fato é que, no dia 14, voltava propaganda da empresa anunciando o retorno de Tudo preto para aquele dia, a título de 'satisfazer inúmeros pedidos, com a reprise da vitoriosa revista-fantasia'. A mesma propaganda aproveitava para anunciar que, na mesma semana, estrearia nova peça, desta vez Carvão nacional. (...)" p 123 "Entrementes, em meados de setembro, Preto e branco saíra mesmo de cartaz, sendo substituída pelo Tudo preto, que voltara como salvadora. (...)" p 125 "Porém, em meio à expectativa de um novo sucesso redentor, surge, pela primeira vez, a notícia de uma possível divisão da Companhia, havendo mesmo a menção da nova trupe, 'Ba-Ta-Clan Preta', que realmente será o nome da futura organização de De Chocolat, até aquele momento, não passava de uma maneira de pressionar Jaime Silva, que teimava em não atender De Chocolat, na pretensão de formalizar efetivamente a sociedade pactuada entre os dois. (...)" 127 3.2 Um pequeno combate: as cinzas do Carvão nacional "Mas seriam mesmo apresentados em São Paulo os dois textos de De Chocolat, ante a incerteza de que ficaria ou não na sociedade com Jaime Silva? [...] De qualquer modo, o jornal local afiançava que podia adiantar que De Chocolat não voltaria mais a fazer parte da Companhia Negra de Revistas, e que Jaime Silva, 'por espírito de honestidade e dedicação à raça negra, que muito admira, continuará até aqui a responsabilizar-se pela referida companhia'. Com efeito, na propaganda veiculada no dia 25, já não aparece o nome de De Chocolat, com um 'N.B.' – note bem - no qual a empresa diz que se reserva o direito de 'alterar o programa em caso de força maior. [...] Fora da companhia, De Chocolat, em carta publicada no dia 25, valeu-se do A Pátria para dar uma irônica versão do acontecido: Rio de Janeiro, 24 de setembro de 1926. Ais meus amigos, admiradores e inimigos também, declaro que deixei a direção da Companhia Negra de Revistas, por não ter querido o meu querido sócio e amigo Sr. Jaime Silva, assinar o contrato, que há muito devei estar assinado. Consta que o Sr. Raul Zaloma assumiu a direção da dita Companhia, tendo, desde Jorge C. Freitas - fichamento 19
  • 20. Orlando de Barros - Corações De Chocolat ontem, prestado os seus bons serviços como ensaiador. Ao meu distintíssimo sócio, amigo e grande artista, o rei da cenografia Sr. Jaime Silva, agradecimentos pelo tempo que passamos em adorável convivência. Hode mibi cras tibi." P 130-131 "Não demorou para que De Chocolat se movimentasse para criar uma nova trupe de artistas negros. No dia 30, surgiu na imprensa, pela segunda vez o nome da Ba-Ta-Clan Preta. (...)" p 133 "Com algumas dificuldades e inevitáveis tropeços, seguiam os ensaios da Ba-Ta- Clan carioca, porém na direção de seu efetivo funcionamento. Mas, como De Chocolat talvez fosse, para usar termo usual na época, um 'confusionista', um pequeno tropeço bem poderia quebrar ossos. E isto novamente se deu enquanto prosseguiam os preparativos, quando, em A Manhã, sob o sugestivo título 'A queima do Carvão nacional', o parceiro de De Chocolat na revista aludida resolveu declarar que era o único e verdadeiro autor da peça. No dia seguinte, dia 10, veio a resposta, longa e detalhada, publicada por inteiro naquele Jornal. (...)" p 136 "Mas o pequeno combate entre os dois autores bem servia à imprensa, sendo motivo de muita glosa." P 139 3.3 A Irmã Paula e as cozinheiras "Enquanto De Chocolat enfrentava suas atribulações e dificuldades, entre as quais a de encontrar um sócio capaz de dividir com ele as despesas de instalação da Ba-Ta-Clan Preta, pela metade do mês a Companhia Negra obtinha grande sucesso em Campos, no Estado do Rio. (...)" p 140 "O que havia acontecido é que, enquanto Jaime Silva corria com sua empresa pelo interior do Estado do Rio, De Chocolat conseguiu superar suas dificuldades, pondo em andamento a sua trupe. O que fez foi, simplesmente, aproveitar a campanha que a imprensa paulista fizera em torno das apresentações da que havia idealizado – e ele não mais participava – para introduzir a sua recente Ba-ta-Clam-Preta. Os paulistas agora não teriam apenas uma, mas duas companhias negras." P 141-142 "A Ba-Ta-Clan, entretanto, não podia ainda anunciar o dia de sua estreia em São Paulo em sua propaganda, havendo ainda muita incerteza sobre seu destino, (...)" p 144 Jorge C. Freitas - fichamento 20
  • 21. Orlando de Barros - Corações De Chocolat 3.4 Discursos e confusões na Paulicéia "(...) No Rio, por sinal, parecia que a Ba-Ta-Clan-Preta, finalmente, encontrara seu caminho, pois no dia 19 de outubro, véspera da estreia da Companhia negra no Apolo, anunciava-se que os ensaios estavam sendo ultimados, dando parte dos papéis dos artistas principais. (...)" p 148 "Tanto tudo corria bem que, no dia 27, como era comum, celebrou-se o festival artístico de que a esposa do homenageado, a bailarina Dóris Montenegro, que havia recentemente chegado do Teatro Colón de Buenos Aires, faria parte de Na penumbra. (...)" p 149 "(...) No dia 22, anúncio no O Estado de São Paulo comunicava que, sob a direção do fundador do teatro negro no Brasil, a Ba-Ta-Clan estrearia em novembro no Teatro Santa Helena. Mas havia um adendo muito importante, sob forma de 'aviso ao público', transcrito de O Globo, do Rio de janeiro: 'O Juiz da 3ª Pretoria Civil, por sentença de ontem, concedeu um interdito proibitório contra a Companhia Negra de Revistas, para que esta não mais represente a revista Tudo preto, da autoria do autor teatral De Chocolat. Nesse sentido, foi dada ciência ao Sr. Jaime Silva que, assim, teve de suspender as representações da peça referida. (...) (...) Fato é que havia uma grande confusão em torno das duas companhias e das peças que apresentaram. Por exemplo, quando O Estado de São Paulo notificou que a Ba- Ta-Clan Preta estava por estrear no Santa Helena, referiu-se a ela também como 'a companhia negra de revistas, fundada no Rio de Janeiro e que nesta capital está agradando imenso', o que era uma incoerência, porque não podia agradar uma trupe que ainda não havia estreado. (...) p 150 "Que a Companhia Negra fazia sucesso de público é inegável, com ou sem confusão. Mas faltava, entretanto, depois de algumas apresentações, quem se dispusesse a fazer uma apreciação mais aprofundada sobre a índole e o sentido das apresentações. (...)" p 151 "O Clarim D'Alvorada, publicação paulista voltada para a população negra, não fez nenhuma restrição, achando que os brasileiros desejavam labutar para o 'reerguimento da nossa raça'. Como de hábito, nestas circunstâncias, os nomes de homens negros ilustres e suas obras eram lembrados, como os de Lima Barreto, Cruz e Souza, Luís Gama e Jorge C. Freitas - fichamento 21
  • 22. Orlando de Barros - Corações De Chocolat Patrocínio Filho, sendo este último 'um dos consagrados teatristas brasileiros'. A Companhia Negra, para o Clarim, estava no mesmo caso, na direção do progresso do homem de cor, graças aos esforços de De Chocolat – não lembraram que este tinha sido afastado da Companhia -, e dos artistas negros. (...)" p 152 3.5 Uma apreciação crítica "lindamente brasileira" "Se a Ba-Ta-Clan Preta estava passando por tantas peripécias, a ponto de ter dificuldade onde ensaiar, no entanto, não chegou a desanimar os empresários de São Paulo que queriam exibi-la de qualquer modo, confiantes que estavam em aproveitar o filão do teatro negro, tentando preencher o vácuo do meteórico sucesso que a rival da trupe de De Chocolat cumpria na capital paulista. [...] Em 1º de novembro, houve a informação de que o empresário Simões Coelho havia chegado ao Rio no dia anterior para buscar a Companhia Ba-Ta-Clan Preta, que deveria estrear mesmo no Santa Helena, no dia 11 próximo com a revista Na penumbra. (...) p 158 "No mesmo dia em que anunciava-se a despedida da Companhia Negra de Revistas do Malfada, 6 de novembro, vinha a informação de que a Ba-Ta-Clan Preta era esperada pela manhã na estação ferroviária. (...) "No dia 8, data da volta da Companhia Negra ao centro da cidade para as apresentações no Cassino Antártica, também foram postos à venda os bilhetes de ingresso no Santa Helena para a estreia da Ba-Ta-Clan Preta, havendo ainda outras informações sobre ambas as companhias. (...)" p 171 "(...) No dia 10, véspera da aguardada estreia da Ba-Ta-Clan Preta, a Companhia Negra deixou o Cassino Antártica e a capital, viajando para Santos, onde estrearia no dia seguinte no Teatro Guarani. (...)" p 172 "(...) Os preços da 'Temporada Preta', incluindo imposto: frisas e camarotes a 30$000; poltronas numeradas e balcões a 6$000. [...] Agora, era esperar pela acolhida do público e da crítica ao Na penumbra, na noite do dia 11." P 173 "No dia seguinte, o crítico da Folha da Manhã achou a companhia 'interessante', elogiando principalmente Índia do Brasil, que havia se movimentado 'desembaraçadamente e mesmo com graça', mas também não fez reservas a De Chocotal e Deo Costa, dizendo dela que era graciosa e 'um elegante tipo de mulata'. (...) Jorge C. Freitas - fichamento 22
  • 23. Orlando de Barros - Corações De Chocolat O mesmo crítico também enveredou por longa mas essencial digressão, comparando os talentos dos negros brasileiros e norte-americanos, vendo neste último mais estabilidade profissional, tendo em vista que na América havia muitas companhias experientes de atores negros, não só de revistas como de outros gêneros, representando diariamente para um público de 'vários milhões de pretos que constituem uma cidade dentro do próprio Estado'. Por isso, achava pertinente indagar se o teatro negro no Brasil poderia manter-se contando quase que exclusivamente com a presença de brancos da elite, sem as recíprocas afinidades de artistas e públicos. (...)" p 174 "(...) Mas, as 'incertezas' que o crítico da Folha tinha sentido na peça de estreia parece que se confirmavam porque, depois das apresentações do dia 14, a revista seria substituída pelo velho e bom Tudo preto, prometendo agora, acrescido de números novos, que o que havia sido apresentado no Rialto com sucesso pela Companhia Negra seria ainda melhor pela Ba-Ta-Clan Preta. Mas o Santa Helena não era uma casa de primeira qualidade e não poderia oferecer muito à Ba-Ta-Clan, não passando de um cineteatro que não podia perder o frequentador habitual de suas projeções, de sorte que, no dia 14, um domingo, na tela, em 3 sessões, foi exibido um filme cômico, entremeadas com as duas apresentações da revista. "(...) Mesmo assim, a Ba-Ta-Clan colheu o aplauso do público, e agradeceu njma propaganda, declarando que o merecimento vinha de que preto também era gente...." p 175 CAPÍTULO 4 A República do Café Torrado 4.1 A peregrinação café com leite "Nos anos 20, o teatro era ainda um meio de entretenimento muito popular, com a vantagem – que logo se perderia - de contar com uso da língua falada, e ainda mais, da fala nacional, que o cinema não pôde superar senão ao longo dos anos, com a instalação dos sistemas sonoros." P 185 Tendo realizado sua última apresentação em São Paulo em 10 de novembro de 1926, a Companhia Negra cumpriu daí em diante jornada estafante pelo interior paulista, até a metade de janeiro do ano seguinte, cumprindo, pois, apresentações durante mais de dois meses. (...)" p 187 Jorge C. Freitas - fichamento 23
  • 24. Orlando de Barros - Corações De Chocolat "Digna de nota foi a estadia em Campinas, onde se apresentou no Cine-Teatro Rink em 23 de novembro. Nesta cidade, como havia ocorrido em Campos no Estado do Rio, e na capital paulista, a Companhia foi alvo de homenagens de diversas entidades representativas dos direitos dos homens negros e de outras organizações. (...) Em 21 de janeiro de 1927, a Companhia estreou em Itajubá. Uma comitiva foi recebê-la à estação ferroviária e dela fazia parte o ex-presidente da República Venceslau Brás. (...) Foi quem saudou Jaime Silva e os artistas negros, e aquele respondeu falando da vida simples de cidadão comum do ex-presidente, um exemplo para os brasileiros. (...)" p 188 "(...) Jaime Silva, no último espetáculo em Itajubá, homenageou Venceslau Brás, em agradecimento à recepção. (...)" p 189 4.2 Um prodígio, em segunda dentição "(...) a principal atração, incorporada em São Paulo à Companhia, começava a receber destaque na imprensa, sempre da maneira a mais encomiástica, tornando-se imediatamente o argumento predileto com que se cultivou então o interesse do público revisteiro: (...) p 192 "Tratava-se do Pequeno Otelo, de quem se dizia ter feito grande sucesso na excursão ao interior, (...)" p 193 "No dia 19, voltou a falar da 'grande curiosidade do público em conhecer o Pequeno Otelo, um garoto pretinho, de seis anos, que afirmam ser um verdadeiro assombro' [...] No dia seguinte, Mário Nunes voltou a insistir no assombro que era o Pequeno Otelo, 'talento precoce, formidável, que em toda a parte onde esse pequeno grande artista tem trabalhado o sucesso tem sido estupendo e as referências da imprensa as mais elogiosas', o que muito aumentava a expectativa da estreia da nova peça, que era 'boa e montada com um luxo deslumbrante.'" P 194 "(...) Começa, enfim, o ano no Rio de Janeiro, inicia-se vida nova, já não pesa sobre os empreendimentos a quase certeza de um mau êxito. (...) "(...) E, de fato, o ano teatral começava – em março, depois do carnaval -, com um certo desânimo nas rodas teatrais, por não se saber, por ora, de novas iniciativas, configurando uma crise evidente, que não era, afinal, de artistas nem de autores, mais do Jorge C. Freitas - fichamento 24
  • 25. Orlando de Barros - Corações De Chocolat público, isto é, de dinheiro. Aí estava o problema central. Para Mário Nunes, o causador de tudo isso era o prefeito recém nomeado por Washington Luís, Prado Junior, que, alegando ter encontrado o tesouro municipal em desordem, precisa de dinheiro, de aumentar a arrecadação. Lamenta-se o colunista dizendo que era crença geral que, confiando a direção dos negócios do município a um paulista, este trouxesse ao teatro imediato desafogo, traduzindo em leis e medidas que o beneficiassem. Mas tal não se tinha dado; ao contrário não havendo o que esperar 'senão arrocho e extorsão', que ameaçava não só o teatro, mas também a economia pela sobrecarga de impostos. (...)" p 196-197 "O pessoal do teatro, empresários, autores, a SBAT e os colunistas trataram de se movimentar e exercer pressão. Constituíram uma comissão e foram procurar Carlos de Campos, conhecido parlamentar, recém eleito presidente do Estado de São Paulo, com quem combinaram uma palestra, com assistência do público interessado, no Teatro Municipal. [...] No ano de 1925, sob os auspícios da SBAT, já se reunira um congresso artístico brasileiro, cujos anais ainda se publicavam recentemente, cujos objetivos não diferiam muito daqueles do encontro com Carlos de Campos em 1927. Se o congresso se organizara especialmente em virtude da desconfortável concorrência do teatro com o cinema, provocando o fechamento de muitas casas, ou as convertendo em cine-teatros, a reunião do Municipal servia para mostrar às autoridades, de maneira enfática, que o problema da 'crise dos palcos' era, em essência, econômico e fiscal. No ano precedente, os autores haviam procurado Getúlio Vargas, então deputado federal, para apresentar um projeto de regulamentação dos direitos autorais. Naquele instante, em 1927, o projeto tramitava (seria aprovado no ano seguinte), com grande interesse de Vargas, naquela altura ministro da Fazenda de Washington Luís e virtual candidato à presidência do Rio Grande do Sul. [...] Com o tempo, as coisas e ajustaram um tanto, sem atender inteiramente ao pessoal do teatro, mas o insuportável daquela hora se superou, (...)" P 198 "As 19:45 da noite de 5 de março de 1927, em primeira sessão, subia à cena no Teatro República a nova revista da Companhia Negra, Café torrado, de diálogos que faziam rir a sala da Avenida Gomes Freire. [...] Conforme o esperado, o trunfo da estreia foi mesmo o ator paulista trazido por Jaime Silva, que iria usá-lo ao máximo na capital federal (...)" p 203 Jorge C. Freitas - fichamento 25
  • 26. Orlando de Barros - Corações De Chocolat "Assim, Otelo acabou quase por ocultar o desempenho dos outros artistas, e o qualificativo que se transformara em seu nome artístico inicial, 'Pequeno' já se alterava desde a estreia: 'A Companhia Negra de Revistas resume-se hoje no grande Pequeno Otelo, moleque de pouco mais de uma polegada de altura, mas que é um verdadeiro 'diseur'. O primeiro a atribuir 'grande' a Otelo Gonçalves foi O Paiz, (...) p 206 4.3 De norte a sul, ou um cenógrafo distraído por outros misteres "Reportando a estreia em Recife, seja lá por que modo obtivemos a detalhada informação, disse que quem havia assistido a estreia da Companhia Negra de ter tido 'uma agradável sensação de legítimo orgulho e de real deslumbramento', registrando a presença 'das pessoas de bom gosto e da nossa primeira sociedade', isto é,' da burguesia, na noite da estreia em Recife que se dedicaram com a exibição do espetáculo original e inédito. Aproveitou para fazer comentário sobre o preconceito há muito disseminados: 'Quem anda eivado de preconceito, há muito rechaçado pela lógica e pela experimentação, pensando que a raça negra é inferior, desprovida de inteligência, espírito de ordem e eficiência, teria ontem o mais formal dos desmentidos com a luxuosa apresentação da Companhia Negra, (...)" 223 Epílogo: a Companhia Negra contra os foros da civilização "Durante a existência da Companhia, algumas vezes houve menção a excursão ao exterior, primeiramente no rio, depois em Recife, adiante na Bahia e, por fim, no Rio Grande do sul. [...] estando a Companhia em excursão na Bahia em abril de 1927, um jornal local, de maneira detalhada, noticiou que uma empresa argentina a convidara para apresentações em Buenos Aires e no Uruguai, podendo levá-la ainda a Europa, indicando o nome do empresário contratante e dando outras informações. Como os jornais do Rio não deram atenção ou não tomaram conhecimento da notícia, não houve repercussão no meio teatral carioca. [...] No começo de julho, deu-se a primeira reação negativa, tendo uma revista especializada em teatro publicado que 'segundo informações que nos merecem todo crédito, a Companhia Negra de Revista, que trabalhou o ano passado no Rialto e que se encontra presente em Pelotas, está arrumando as malas para uma 'tournée' a Buenos Aires. Não é o caso dos poderes públicos, principalmente do Ministério das Relações Exteriores evitar essa propaganda do nosso país e, logo onde, na República vizinha e amiga?(...) Jorge C. Freitas - fichamento 26
  • 27. Orlando de Barros - Corações De Chocolat Naquele mesmo momento, a notícia repercutiu na SBAT, que, como sociedade de autores, não havia mostrado nenhum interesse pela Companhia Negra até então. Com efeito, houve discussão a respeito em ata que 'O Sr Bastos Tigre participa que, chegando ao seu conhecimento que os empresários Jaime Silva e Avelar pereira pretendem levar à Argentina e ao Uruguai a Companhia Negra de Revistas, o que redundará em descrédito do nosso país, a SBAT, como lhe cumpre, irá agir energicamente a fim de impedir a consumação desse atentado aos foros da nossa civilização' (...)" p 230 "(...) De modo, uns poucos levavam em conta que o esforço de De Chocolat e Jaime Silva pela criação da Companhia Negra devia ser reconhecido como uma tentativa de adaptar o sentido civilizado e moderno do teatro negro francês, enquanto outros se colocavam em posição agressivamente contrária como o A Rua. [...] Contudo, entendendo a criação da Companhia como um ato de 'resistência', ou de 'reconhecimento', isto poderia se complicar devido à inevitável relação com a questão social. De fato, seis meses antes da fundação da trupe negra, o candidato à presidência da República, Washington Luís, declarava no Rio de Janeiro que as 'resistências' eram incivilizadas: (...)" p 231 "O relacionamento do pessoal da SBAT com os círculos políticos brasileiros era forte e crescente, com um promissor estreitamento de relações com o recentemente empossado governo Washington Luís, estando em curso a tramitação de projetos de interesse da classe artística sob o patrocínio do governo, sobretudo a lei de direitos autorais, que seria aprovada em 1928, e que fora apresentada à Câmara dos deputados em 1926 por Getúlio Vargas, pouco antes de assumir o Ministério da Fazenda do governo em curso. (...)" p 232-33 "(...) A SBAT, embora entidade privada, não demorou a assumir feição oficial, vindo a ter projeção máxima no tempo de Vargas. (...)" p 234 "(...) Para a elite brasileira, havia o incômodo da presença do nosso negro na Argentina; para os argentinos o preconceito corrente contra a composição africana na população do país vizinho. No entanto, uma das predileções portenhas era pelos artistas negros e 'mulatones' (como era corrente dizer) brasileiros. (...)" p 235 Mas como, por essa época, voltou a circular na imprensa brasileira a velha onda de avaliação comparativa entre o Brasil e a Argentina, estando presentes os inevitáveis Jorge C. Freitas - fichamento 27
  • 28. Orlando de Barros - Corações De Chocolat conceitos de 'raça' e 'civilização,' a sugestão para que os nossos 'melhores negros' se exibissem em Buenos Aires foi vista com desconforto por muita gente. Havia também certa prevenção por tudo que pudesse parecer 'antipropaganda' do Brasil na Argentina, o que irritava muito certos círculos." P 236 À margem da história da Companhia Negra de Revistas Os filhotes da "Negra" "Sabemos que foi De Chocolat o idealizador da Companhia Negra de Revistas. Dele também foi a forma de espetáculo, ou melhor, a adaptação do teatro ligeiro costumeiro à trupe de artistas negros, inaugurada em julho de 1926 com a estreia de Tudo preto. (...) Teatro de artistas negros, com temática da cultura afro-brasileira ou não, continuaram a existir em tentativas espasmódicas até bem depois do tempo da Companhia Negra, como é o caso da Companhia Mulata de Espetáculos Musicados, que existiu em 1941, e o Teatro Experimental do Negro, porém este com outra feição, iniciativa de Abdias do Nascimento, nos anos 50. (...)" p 247 "(...) No Rio, ainda em 1931, prosseguiam os espetáculos com artistas importados, como foi o da inauguração do Cine-Music-Hall, no Teatro Lírico, com o conjunto 'The Black Revue', apresentação como 'os demônios da dança, os principais animadores da Revista Negra' do Cassino de Paris. Vale dizer que a trupe americana se exibia no Rio como contratada da 'South American Tour', a mesma empresa que tentara contratar a Companhia Negra de Revistas, em 1927, para exibição na capital argentina." P 255 A mãe Preta e o Pai Branco "Quando a Companhia Negra de Revistas estreou em julho de 1926, uma das partes mais aplaudidas foi a apoteose final 'Mãe Preta', cujo tema era momentoso, em vista das campanhas que a imprensa movia. Já estava em curso a arrecadação de fundos para a elevação do monumento a Cristo Redentor no alto do Corcovado, (...) (...) É assim que, no começo de abril de 1926, o jornal A Notícia, dizendo-se inspirar na ação pró Cristo Redentor, achou por bem sugerir um esforço coletivo para erigir um monumento à Mãe Preta. Só assim, os brasileiros poderiam cumprir um dever Jorge C. Freitas - fichamento 28
  • 29. Orlando de Barros - Corações De Chocolat fundamental, reconhecendo a 'gratidão pela raça dolorosa trazida da África e de que as leis misteriosas da vida fizeram um dos mais dinâmicos elementos de nossa formação racial e espiritual' (...)" p 268 "(...) A repercussão da iniciativa do jornal carioca chegou à América do Norte, e o The Chicago Defender, em uma de suas edições de junho, estampou a manchete 'O Brasil rende alta homenagem aos cidadãos pretos'. Como a discriminação racial contra o negro nos Estados Unidos era muito reprovada na imprensa brasileira naquele tempo, causou surpresa a simpatia pela campanha em curso no Brasil. (...)" p 273 "A campanha da Mãe Preta, as peças que se escreviam, as apoteoses das revistas (não apenas a de De Chocolat) serviram positivamente para conscientizar a sociedade para a questão do preconceito corrente (...)" p 275 "(...) Positivamente, o cinema não foi feliz em sua aproximação com o tema da Mãe Preta. E, em 1928 e na maior parte de 29, o teatro também sossegou um pouco em relação ao assunto." P 277 "Enquanto isso, pelo lado prático, a Comissão de Finanças do Senado aprovou o projeto já aprovado pela Câmara e recomendou a abertura de crédito no valor de 200 contos para a ereção do monumento. (...) Em São Paulo, o Legislativo estadual votou e aprovou crédito público de 50:000$000 para o monumento nacional (...)" p 278 "Em São Paulo, [...] O Clarim d'Alvorada fez edição especial, dando relevo ao empenho de alguns vultos históricos da campanha abolicionista, como Joaquim Nabuco e o Visconde do Rio Branco, mas também aproveitando para defender os 'legítimos interesses e direitos dos homens de cor, a fim de integrá-los eficiente e plenamente no seio da comunhão nacional'. O mesmo diário, especializado aproveitou para reivindicar a instituição do 'Dia da Mãe Preta', a ser comemorado na mesma data da celebração da Lei do Ventre Livre. Por esta época, voltou a circular a ideia de transformá-la em 'Dia do Ventre Livre', novo feriado nacional, aliás projeto que tramitava lentamente desde 1926 no Legislativo Federal, de autoria dos deputados Lindolfo Collor e Alcides Bahia. Mas a revista humorística Careta não perdeu tempo em estampar charge nada elegante sob o título de 'O Dia do Purgante'." P 279 Jorge C. Freitas - fichamento 29
  • 30. Orlando de Barros - Corações De Chocolat As mulatas rosadas "A criação da Companhia Negra de Revistas e da Ba-Ta-Clan Preta suscitou, como visto, todo um amplo movimento de geração de trupes de artistas negros e mulatos no Brasil, acompanhando a voga reinante em boa parte do mundo, com centros irradiadores conhecidos, como Paris, Londres e Nova York. Mas a criação das trupes negras brasileiras não impediu que muitos artistas negros estrangeiros viessem a ocupar os palcos do Rio e São Paulo muitas vezes sob o apelo, nas propagandas, de que eram 'autênticos e originais'. (...)" p 292 "(...) Os jornais especializados em problemas da população negra, que quase sempre não trataram do 'teatro negro' senão como uma demonstração de 'progresso do homem de cor', ainda em 1930 continuavam no mesmo tom, só raramente corrigindo o diapasão." P 293 Washington Luís e a questão social no teatro "Washington Luís passou à história estigmatizado por uma acusação que, se não é injusta, é inexata até certo ponto. Acusado de ter considerado a questão social um problema de polícia, em 1920, durante a campanha ao governo paulista, a sentença pronunciada foi retirada do contexto e sintetizada na fórmula que passou à posteridade. Mas, em essência, era mesmo o que pensava a elite – e Washington Luís a representava -, a respeito das tensões sociais reinantes nas relações entre os trabalhadores e a classe patronal. (...)" p 296 "(...) E foi durante seu governo que tramitou a Lei Getúlio Vargas, referente ao direito dos autores, que o presidente sancionou em 1928. [...] Assim, consideremos como acertada a sentença de Otávio Rangel: 'Washington Luís foi, pois, para o teatro do Brasil, meramente, um presidente a mais; mais um governo essencialmente politiqueiro, mais uma aureolada quimera." P 299 Jorge C. Freitas - fichamento 30