I) O documento discute o conceito de região na geografia, destacando que não é exclusivo desta área e está relacionado a discussões políticas, organização cultural e diversidade espacial. II) Apresenta diferentes abordagens do conceito ao longo do tempo, como a região natural de Vidal de La Blache e a região crítica influenciada por Marx. III) Discutem a aplicação do conceito e como ele tem se adaptado aos processos de globalização.
1. O conceito de Região na ciência geográfica
Joel Pereira Silva Neto
Yuri Anderson Rodrigues Da Silva
Mateus Roberto Silva Rego
Erick Chaves Pinheiro
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização do Espaço. Editora Ática, São
Paulo, 1987 – Série Princípio.
GOMES, Paulo C. da C. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná E.;
GOMES, Paulo C.; CORRÊA, Roberto L. Geografia: conceitos e temas. Rio de
Janeiro, Bertrand Brasil, 1995, p. 49-76.
2. Região – um conceito mais que geográfico
O conceito de Região não é exclusividade da Geografia;
Esse conceito tem implicação fundadora no campo da
discussão política, da dinâmica do Estado, da organização da
cultura e do estatuto da diversidade espacial; Também está
relacionado as projeções no espaço das noções de autonomia,
soberania, direito e de suas representações;
A geografia é um campo privilegiado da discussão da região,
sendo a mesma um dos seus conceitos-chave;
3. A palavra região deriva do latim Regere trazendo a noção de
administração ou regência diretamente ligada a centralização
do poder em um local e a extensão dele sobre uma área
4. A região geográfica abordada pelo paradigma possibilista é
elaborada na França no final do século XIX, por La blache.
Posteriormente se expande para a Alemanha e para os Estados
unidos no século XX. A preocupação do geografo esta em
evidenciar as individualidades e singularidades oriundas da
combinação entre elementos humanos e naturais ou seja a região
geográfica. Foi construída sobre as bases teóricas do empirismo
5. Apoiando-se, por um lado, nos resultados obtidos pelos geólogos e, por outro, em
sua formação essencialmente de historiador, Vidal concebe o espaço dos países
como sendo a combinação da história do solo e a história dos homens.
Partindo de quadros naturais – geologia, geomorfologia, vegetação relevo, clima,
hidrografia –, ele mostra como a geologia e o clima oferecem uma série de
possibilidades, cujo emprego depende dos homens, e que é o grupo humano que,
ao fazer uso da natureza, diferencia uma região “transformando a sua extensão
numa medalha cunhada como a esfinge de um povo” (VIDAL DE LA BLACHE,
1979, p.8). Para Vidal, cabe ao geógrafo explicar e compreender a lógica interna de
cada fragmento da superfície terrestre revelando sua individualidade, cuja réplica
exata não se encontra em nenhuma outra parte. É atribuição do geógrafo estudar a
organização de cada espaço diferenciado e individualizado.
6. Desde 1889, Vidal propõe uma primeira concepção das “divisões
fundamentais do solo francês”. Quinze anos de reflexão sobre o tema o
levam à elaboração de seu mais famoso livro Tableau de la géographie de
la France (Quadro da Geografia da França), em 1903, no qual ele apresenta
um espaço hierarquizado em graus diferenciados. No entanto, o ponto de
partida permanece sendo a “região natural”, apoiada na geologia, no
relevo ou no clima – Bassin parisien, Massif Central, Midi océanique.
Essas regiões se diversificam em unidades mais reduzidas e são
compreendidas segundo aspectos históricos, em função de elementos
políticos e de desenvolvimento econômico – as rotas – ou em função de
elementos oriundos do raio de influência de uma cidade.
7.
8. Gomes (1995) conseguiu distinguir pelo menos três grandes domínios
nos quais a noção de região está presente:
1- No senso comum, o conceito de região está relacionado a dois
princípios: localização e extensão de um certo fenômeno -
referência a limites espaciais;
Emprega-se assim termos como região mais pobre; área montanhosa
e etc. como referência a uma espacialidade de domínio de
determinada característica que a distingue de outras;
9. 2. A região tem também um sentido bastante conhecido
enquanto unidade administrativa - divisão regional como
hierarquia e o controle do Estado;
10. • Essa malha administrativa define competências e os limites
das autonomias dos poderes locais na gestão do território dos
Estados modernos;
• É preciso destacar que empresas e instituições utilizam os
recortes regionais para delimitação de circunscrições
hierárquicas administrativas, Ex. NRE; Jogos Escolares e etc.
3. Por fim a região está no domínio das “ciências em geral” nas
quais o seu emprego associa-se também a ideia de localização
de determinados fenômenos ou de um certo domínio;
• Ex. domínio de uma dada espécie; de um afloramento; de uma
dada propriedade da matemática; de um tipo climático;
• É possível perceber o seu emprego próximo de sua etimologia,
ou seja, área sob um certo domínio ou área definida por uma
regularidade de propriedades que a definem;
11. • O conceito de região está ligado à noção fundamental de
diferenciação de área;
• Na geografia, o uso da região é um pouco mais complexo, dada
as indefinições e a força de uso na linguagem comum;
• Umas das alternativas foi a adjetivação da noção de região
para diferencia-la do seu uso no senso comum;
• Há vários conceitos de região, e cada um tem um significado
próprio e se insere dentro de um dos paradigmas da
Geografia;
12. Região e Geografia Crítica
• Tem-se uma diferenciação causada por um desenvolvimento
distinto das sociedades: o aparecimento da divisão social do
trabalho, da propriedade da terra, dos meios e das técnicas
de produção, das classes sociais e suas lutas;
• Tudo isto se deu com enorme distância em termos espaço-
temporais, levando a uma diferenciação inter e intra grupos;
• Considera região sob uma
articulação dos modos de
produção;
• A região é uma dimensão
espacial das especificidades
sociais, em uma totalidade
espaço social;
13. • Região pode ser vista
como resultado do
desenvolvimento
desigual e combinado,
caracterizado pela sua
inserção na DIT e pela
associação da relação
de produção distintas;
• Calcado no materialismo e na dialética marxista, a região é
vista como “relações dialéticas entre formas espaciais e os
processos históricos que modelam os grupos sociais”, (Corrêa,
1995);
• Nessa concepção, o conceito de região é articulado à luz dos
modos de produção, através das conexões entre classes
sociais e acumulação capitalista, por meio das relações entre
Estado e a sociedade local;
14. • Região é considerada uma entidade concreta, resultado da
efetivação dos mecanismos de regionalização sobre um
quadro territorial já previamente ocupado;
• É a realização de um processo universal, em um quadro
territorial menor, onde combinam o modo dominante de
produção, o capitalismo, elemento uniformizador, e o
particular, as determinações já efetivadas, elemento de
diferenciação;
• A região é uma
dimensão espacial
das
especificidades
sociais em uma
totalidade
espaço-social;
15. • Diante desta “novidade”, muitos afirmaram que os novos
tempos anunciavam o fim das regiões pela homogeneização do
espaço - uniformização das relações sociais;
• Por outro lado, os movimentos regionais em geral, vistos como
movimentos de resistência à esta homogeneização, contam
com a simpatia e a adesão imediata de muitas pessoas.
• Este discurso permite várias análises: regionalismo =
preservação da elite local; globalização = manutenção das
diferenças sociais, pois não conseguiu suprimir a diversidade
espacial; e a criação de novas regiões (CEE, Nafta etc).
• Temário atual, Globalização - expressa
a ideia de uma economia unificada e
hegemônica, de uma sociedade que só
pode ser compreendida como um
processo de reprodução social global.
16. Aplicação do conceito de Região
• O estabelecimento de regiões
passa a ser uma técnica da
Geografia, um meio para
demonstração de uma hipótese e
não mais um produto final de
pesquisa;
• Regionalizar passa a ser a tarefa de dividir o espaço segundo
diferentes critérios que são devidamente explicitados e que
variam segundo as intenções explicativas de cada trabalho;
• As divisões não são definitivas, nem pretendem inscrever a
totalidade da diversidade espacial, elas devem simplesmente
contribuir para um certo entendimento de um problema;
• A variabilidade das divisões possíveis é quase infinita, pois
são muitas as possibilidades que trazem novas explicações;
17. • O conceito de região tem sido largamente empregado para
fins de ação e controle;
• A medida que a história do homem acontece, marcada pela
dinâmica da sociedade de classes e de suas lutas, o processo
de regionalização torna-se mais complexo;
• No modo de produção capitalista o processo de
regionalização se acentua – simultaneidade dos processos de
diferenciação e integração;
• A Região crítica não tem nada
de harmoniosa como a vidalina,
não é única mas particular, ou
seja, é a especificação de uma
totalidade da qual faz parte
através de uma articulação que
é ao mesmo tempo funcional e
espacial;
18. • No capitalismo, as regiões de planejamento são unidades
territoriais através das quais um discurso da recuperação e
desenvolvimento é aplicado;
• Trata-se na verdade do emprego, em um dado território, de
uma ideologia que tenta restabelecer o equilíbrio rompido
com o processo de desenvolvimento;
• Este discurso esquece, que no capitalismo as desigualdades
regionais constituem, mais do que em outros modos de
produção, um elemento fundamental de organização social;
19. Há também o emprego de processos de recuperação, de
maneira que a região sob intervenção planejadora passar a
ficar sob maior controle do capital; Diante da diversidade
global-fragmentadora do mundo contemporâneo pode-se
sugerir que a regionalização, deve utilizar diferentes
critérios, ou critérios mais flexíveis, “adaptáveis” aos
distintos espaços objetos de nosso estudo;
A utilização de um determinado critério de “coesão”, para
regionalizar deve ser aplicado através de escalas
diferentes – o que não implicaria, obrigatoriamente, o
“fechamento”, ou melhor, a contiguidade das regiões.
20. III) foi na Geografia que
as discussões atingiram
maior importância, já que
região é um conceito-
chave desta ciência.
Com relação a região Gomes (1995) chega a três grandes
conclusões:
I) permitiu o surgimento das discussões políticas sobre a
dinâmica do Estado, a organização da cultura e o estatuto da
diversidade espacial;
II) permitiu a incorporação da dimensão espacial nas
discussões relativas à política, cultura e economia, e no que
se refere às noções de autonomia, soberania, direitos, etc; e
21. A internacionalização do capital, em seu novo período técnico-
científico, mostrou a debilidade do antigo conceito de região. A aceleração
da acumulação de capital tornou mais seletivas suas ações no espaço. O
edifício regional estável e coeso dá lugar à instabilidade e às frequentes
mudanças em sua forma e seu conteúdo. As relações internas estão mais
condicionadas pelas demandas externas, o que não elimina a região, mas
gera mudanças em seu conteúdo. “Mas o que faz a região não é a
longevidade do edifício, mas a coerência funcional, que a distingue das
outras entidades, vizinhas ou não. O fato de ter vida curta não muda a
definição do recorte territorial” (SANTOS, 1997:197).
22. Graças ao domínio da fluidez e da velocidade de circulação das
mercadorias e das informações – características do mundo globalizado –,
alguns declamaram o fim das especificidades regionais, irrelevantes diante
da homogeneidade imposta globalmente.
No entanto, Milton Santos relembra que, ao contrário do que parece, a
região se torna ainda mais importante no mundo contemporâneo. Na
realidade, o que se passa é o contrário da homogeneização. A velocidade
dos fluxos e a instantaneidade dos eventos reforçam a conformação da
região, fazem com que os espaços se tornem especializados, normatizados
a partir das necessidades globais da produção, da circulação, da
distribuição e do consumo.
23. As regiões deixam de ser sede de seu próprio poder, de sua própria
gestão. Fruto de uma solidariedade orgânica, elas passam a se constituir
por meio de uma solidariedade organizacional. No antigo conceito de
região, a base era a solidariedade orgânica entre seus habitantes, que
estabeleciam uma relação longeva com seu lugar e se organizavam
segundo as necessidades da própria região. Atualmente, ela é definida pela
solidariedade que se constitui dentro dela, mas a partir de uma
organização
que vem de fora. A solidariedade, então, deixa de ser orgânica – originária
da própria vida da região e das variáveis constitutivas dela – e se
transforma em solidariedade organizacional (SANTOS, 2003).