SlideShare a Scribd company logo
1 of 7
Download to read offline
A ENFERMAGEM E O ENFERMEIRO NA VISÃO DE CLIENTES INTERNADOS EM UM
                              HOSPITAL PRIVADO

                    Alessandra Mazzo Caldonha(1), Isabel Amélia Costa Mendes(2), Maria
                 AuxiliadoraTrevizan(2), Maria Suely Nogueira(3), Miyeko Hayashida(4)
  Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem Fundamental do Programa de Pós-graduação do Departamento de Enfermagem Geral e
1(1)

Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP (DEGE/EERP-USP). Centro Colaborador da OMS para o
desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. (2)Enfermeira. Professor Titular do DEGE/EERP-USP. Av. Bandeirantes, 3900 14040-
902 Ribeirão Preto-SP e-mail iamendes@eerp.usp.br (3)Enfermeira. Professor Associado do DEGE/EERP-USP msnog@eerp.usp.br (4)
Enfermeira. Doutor em Enfermagem Fundamental. Especialista em laboratório da EERP-USPmiyeko@eerp.usp.br

Realizado em um hospital privado do interior paulista, este estudo teve como objetivo identificar e analisar a
visão que o cliente tem da enfermagem e do enfermeiro com o propósito de oferecer indicação de possíveis
contribuições à definição do papel destes profissionais. Os dados foram coletados através de entrevista
norteada por questões abertas acerca da identificação e função dos elementos do serviço de enfermagem.
Foram entrevistados 102 clientes internados há mais de 3 dias com idade entre 18 e 88 anos. Verificou-se que
os clientes relacionam a enfermagem com a ação de cuidar mas não conseguem identificar o enfermeiro
enquanto profissional responsável pelo gerenciamento da assistência ou como prestador do cuidado. Por outro
lado, destacou-se que a postura tênue em termos de papel profissional que o enfermeiro tem adotado ao
abordar o cliente, revelado pela sua comunicação genérica e informal, dificulta a configuração de uma imagem
definida e requerida pela profissão.
Palavras-chave: identidade, enfermeiro, enfermagem, visão, cliente

     NURSING AND THE NURSE IN THE VIEW OF IN PATIENTS AT A PRIVATE HOSPITAL
This study was held at a private hospital in the interior of São Paulo State and aimed at identifying and
analyzing how the client views nursing and the nurse with a view indicating possible contributions to the
definition of these professionals’ roles. Data were collected through an interview guided by open questions
about the identification and functions of the nursing service elements. One hundred and two clients were
interviewed who had been in hospital for more than three days and whose age ranged from 18 to 88 years old.
It was verified that clients relate nursing to the action of caring, but are not able to identify the nurse as a
professional responsible for care management or as a care provider. On the other hand, it stood out that the
tenuous attitude adopted by the nurse in approaching the client in terms of professional role, which is revealed
by generic and informal communication, hinders the configuration of a definite image required by the
profession.
Key words: identity, nurse, nursing, view, client.


1. INTRODUÇÃO
           A enfermagem vem enfrentando dificuldades no seu processo de trabalho, agravado pela falta de
delimitação do papel do enfermeiro, seja dentro da própria profissão ou na ação conjunta com outros
profissionais.
           O enfermeiro atuante nas instituições hospitalares tem, ao longo do tempo, assumido diversas
atribuições, muitas delas não relacionadas à assistência prestada, seja de cunho puramente administrativo-
burocrático visando, sobretudo, ao atendimento das necessidades da instituição, ou ainda que poderiam ser
delegadas ao pessoal auxiliar ou a profissionais de outros serviços.
           A enfermagem assume a responsabilidade diuturna pelo cliente no âmbito hospitalar. A garantia da
presença do enfermeiro ininterruptamente neste ambiente, para fins de cuidado, é um dos fatores que conferem
a ele a assunção da função de coordenar a assistência prestada ao cliente pelo pessoal de enfermagem e por
todos os outros profissionais. Assim, a constituição multidisciplinar da equipe de saúde que opera no contexto
hospitalar, com sua diversidade de domínio de conhecimento, de especialidades, de funções e de
especificidades de ações com limites de tempo diversos, direciona a coordenação àquela categoria profissional
que está sempre presente.
         A bidimensionalidade no compromisso do enfermeiro, ou seja, o compromisso com a profissão e
com a organização, tem gerado conflitos e disfunções, cujas soluções beneficiam quase que somente a
organização (TREVIZAN et al., 1998).
          Paradoxalmente, os enfermeiros são preparados pelos órgãos formadores para a assistência direta
ao paciente, tornando-se cada vez mais evidente a dicotomia teoria-prática, "com uma profunda dissonância
entre o que é dito que o enfermeiro deve fazer, e o que ele executa de fato" (LUNARDI et al., 1994).
Portanto, os enfermeiros ligados à assistência direta ao cliente enfrentam dificuldades ao assumirem sua
prática, pois na maioria das vezes deparam-se com o confronto de valores entre a formação oferecida pela
academia e a expectativa do mercado de trabalho. Esta situação, classicamente denominada por Kramer
(1970) como choque da realidade, propicia a perda da identidade profissional, construída e internalizada
durante seu processo de formação acadêmica. Este choque de valores confunde o enfermeiro, influenciando-o
a assumir atividades de outros profissionais.
          Cada vez mais os enfermeiros têm se afastado do cuidado e da prática clínica e têm assumido
funções que não são suas (LUNARDI et al., 1994); muitas vezes assumem os lugares de profissionais que não
estão presentes nas equipes de saúde (LOPES, 1983). Acresça-se a isso que a atuação do enfermeiro está
alicerçada no modelo médico, caracterizado pela grande especialização e intervenção fragmentada. A este
quadro agrega-se a também fragmentada composição da equipe de enfermagem, dividida em categorias, com o
pessoal auxiliar representando a maior parte de seu contingente de trabalho.
          Nesse cenário, o enfermeiro passa a assumir muitas vezes as funções do pessoal auxiliar e/ou a
exercer aquilo que o médico e as instituições esperam dele (FERREIRA-SANTOS, 1973; TREVIZAN, 1978;
VARGAS, 1994).
          Por todos estes fatores, urge que o enfermeiro tenha seu papel bem definido e internalizado para
que possa transmitir aos clientes uma clara imagem de identidade profissional. Desta forma, tendo em
perspectiva o propósito de contribuir para uma melhor compreensão do papel do enfermeiro, pretende-se com
este estudo identificar e analisar a visão que o cliente tem da enfermagem e do enfermeiro, com o intento de
oferecer indicações de possíveis contribuições à definição do papel do profissional em questão.
2. METODOLOGIA
         Este estudo foi desenvolvido em um hospital privado de grande porte de uma cidade do interior
paulista, com 164 leitos distribuídos em alas de internação supervisionadas por 16 enfermeiras, as quais estão
subordinadas a uma coordenadora de enfermagem.
         Fizeram parte do estudo todos os clientes internados no referido hospital no período de 28/09/1998 a
12/10/1998 e que satisfizeram os seguintes critérios de inclusão: estar internado entre 3 e 5 dias; estar
consciente/orientado; ter idade acima de 18 anos; estar instalado nas alas de internação; exercer qualquer
ocupação, exceto enfermagem.
Obteve-se autorização dos órgãos competentes do hospital e os clientes foram informados acerca dos
objetivos do estudo, da garantia de anonimato e do caráter voluntário de sua participação. Incluiu-se,
portanto, aqueles que manifestaram de forma livre e espontânea o interesse em participar.
           De posse da lista diária de clientes internados, fornecida pelo setor de processamento de dados do
hospital, onde constavam o nome, data de internação, leito e tipo de convênio, selecionou-se os pacientes de
acordo com os critérios de inclusão estabelecidos.
           A abordagem aos pacientes ocorreu de forma individual, em seus respectivos quartos, quando
observou-se as condições físicas e psicológicas, para verificar a viabilidade de sua participação. Quando
favoráveis, apresentou-se a proposta do estudo, oferecendo esclarecimentos quanto ao objetivo e obtendo-se o
consentimento de participação e uso das informações. Na seqüência, as entrevistas foram realizadas norteadas
por um instrumento de coleta de dados, contendo os itens referentes à caracterização dos clientes e perguntas
abertas, questionando sobre quais os profissionais que estavam cuidando deles e o que eles fazem; quais os
profissionais do serviço de enfermagem e o que cada um deles faz; qual o profissional responsável pelo
serviço de enfermagem e porque atribui à ele esta responsabilidade e, finalmente, quem é o enfermeiro e o que
ele faz.
           O conteúdo das respostas abertas foi analisado e agrupado em categorias criadas de acordo com a
similaridade temática, quantificado e apresentado em freqüência e porcentagem.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização dos sujeitos da amostra
            No período estabelecido para a coleta de dados, estiveram internados 343 clientes nas unidades de
internação do hospital em estudo. Destes, 102 (29,7%) satisfizeram aos critérios de inclusão, sendo 60
(58,8%) homens e 42 (41,2%) mulheres. A idade variou entre 18 e 88 anos, com mais da metade (51,0%) dos
clientes em faixa menor que 57 anos e maior concentração na faixa etária de 58 a 67 anos (24,5%).
            Quando se trata da ocupação atual, a maioria compõe as categorias de aposentado (24,5%), do lar
(22,5%) e comerciante (21,6%). O restante, aproximadamente um terço (31,4%), compreende as demais
categorias (bancário, motorista, eletricista, professor, zelador, estudante, lavrador, fiscal de campo, pedreiro,
pintor, massagista e arquiteto).
           Do total de clientes entrevistados, 58 (56,9%) tiveram internação anterior e 44 (43,1%) nunca
estiveram internados. Estavam internados para tratamento clínico (51%) ou cirúrgico (49%) em várias
especialidades.
3.2 Opinião dos clientes sobre os profissionais que prestam cuidado
            Ao serem questionados sobre os profissionais que estavam cuidando deles, todos os entrevistados
referiram-se ao enfermeiro como o profissional que lhes presta cuidados. O médico foi apontado por 100
(98%) deles e apenas 10 (9,8%) citaram o assistente social. O técnico/auxiliar de enfermagem (4,9%) e
fisioterapeuta (4,9%) foram citados igualmente por cinco clientes. Na categoria outros, indicada por oito
clientes (7,8%), foram incluídos os funcionários do laboratório e do serviço de nutrição, além da indicação
genérica de equipe do hospital e de enfermagem.
Vale ressaltar que os “enfermeiros” aqui citados pelos clientes, correspondem aos profissionais/
ocupacionais de enfermagem que lhe prestavam cuidado. Eles não diferenciaram os enfermeiros dos demais
membros da equipe de enfermagem. A imagem que o cliente tem a respeito do enfermeiro pode ser definida
como o “modelo, que significa nossas crenças e conhecimento de um fenômeno ou situação” como define
Normann (1993), ou seja, o cliente percebe o enfermeiro como a própria enfermagem
           Na descrição das atividades dos “enfermeiros”, desempenhar técnicas foi citada por 59 (57,8%)
pacientes e tratar/cuidar por 45 (44,1%). Essas respostas reforçam a idéia de que a enfermagem é reconhecida
principalmente pelo seu envolvimento com procedimentos e pelo domínio da técnica do cuidado.
           Com base na indicação de atividades relativas ao tratar/cuidar parece claro à quase metade dos
clientes que o cuidado é a base do trabalho da enfermagem. Entretanto, como salienta Ferraz (1989), parece
que a enfermagem esquece que essa é a sua essência e busca seu aprimoramento em técnicas e outras práticas.
           Acreditamos que ao aproveitar a oportunidade de coordenar aquilo que o cliente espera - o cuidado,
e deixar de desempenhar as atividades de outros profissionais, poderiam se constituir em um recurso
importante para o reconhecimento das ações e, consequentemente, da visibilidade do enfermeiro. Assumir a
coordenação pelo cuidado evidenciaria o papel do enfermeiro, uma vez que o cliente deseja e necessita do
cuidado.
           Ainda, outras duas categorias de respostas relacionar com o paciente foi mencionada por sete
(6,9%) pacientes e definida nos seguintes termos: “conversam”, “brincam”, “dão carinho”; e cinco (4,9%)
atribuíram à enfermagem a função de acompanhar/ajudar o médico descrita como “acompanha o médico” e
“auxilia o doutor”.
           Quando perguntamos aos clientes quais as pessoas da equipe de enfermagem que cuidavam deles,
64 (62,7%) identificaram com os termos “enfermeiros” e/ou “enfermeiras”. Importa destacar novamente que
não foram identificados como profissional enfermeiro, pois muitos clientes responderam a essa questão
denominando “enfermeiros e enfermeiras”, mas referindo-se aos profissionais da equipe de enfermagem que
cuidam deles. Assim, não diferenciam os enfermeiros e referem-se a eles como sendo toda equipe de
enfermagem.
           Encontramos nove respostas (8,8%) identificando o “chefe” como profissional que lhes presta
cuidado; porém, não informaram quem é o profissional designado chefe; seis (5,9%) referem-se ao auxiliar e
um (1,0%) ao técnico; dois (2,0%) não sabem quem são os profissionais de enfermagem que cuidam deles e
quinze (14,7%) referem outros profissionais: médico, práticos, pessoal do posto e várias pessoas (indefinidas).
Alguns clientes não deram respostas definidas e identificaram como “todos atendem igual”, “tudo usa branco,
é tudo igual”, “são todos iguais”.
           Em seguida perguntamos quais as atividades do enfermeiro e 71 (69,6%) pacientes identificaram
como prestar cuidados/procedimentos. Voltamos a salientar o trabalho de Ferraz (1989) que coloca o cuidado
como trabalho da enfermagem e instiga a enfermeira a questionar e pensar seu cuidado e sua prática.
           Identificaram ainda como função do enfermeiro, ouvir informações sobre o atendimento, citada por
sete (6,9%) deles. Mais uma vez, a indefinição da função do enfermeiro volta a emergir já que o hospital
mantém um serviço de atendimento ao cliente para este fim. O enfermeiro afasta-se do cuidado para realizar
esta função.
          E finalmente, o ato de apresentar-se foi identificado como uma das ações do enfermeiro por três
clientes (2,9%) e o mesmo número deles (2,9%) não conseguiu apontar as atividades do enfermeiro.
          Ao serem indagados quanto às atividades dos técnicos e auxiliares, 74 (72,5%) deles não souberam
identificar esses profissionais e indicaram “são todos enfermeiros”; estas respostas vem reforçar a questão de
que eles não conseguem identificar, nem diferenciar quais são os profissionais da enfermagem.
          Houve 34 respostas onde nenhum dos sujeitos conseguiu diferenciar o técnico do auxiliar, para os
quais 20 (19,6%) deles atribuem as atividades de cuidar/fazer técnicas, dois (2%) disseram que auxilia a
enfermeira e os 12 (5,9%) restantes não souberam informar.
          Em reposta à questão que trata dos profissionais responsáveis pelo Serviço de Enfermagem (Tabela
1), 35 (34,3%) indicaram “enfermeira chefe” como a responsável, 14 (13,7%) a “enfermeira padrão”, 13
(12,7%) a “enfermeira”. A esse respeito parece que não há uma uniformização do conceito do termo
enfermeira, uma vez que várias denominações foram atribuídas como “enfermeira-padrão”, “enfermeira-
chefe” e “enfermeira” totalizando 60,8%.
Tabela 1- Distribuição dos pacientes de um hospital privado segundo as qualificações utilizadas para designar os
          responsáveis pelo Serviço de Enfermagem. Ribeirão Preto, 1998.

Responsáveis pelo serviço de enfermagem                         Nº                            %
“Enfermeira” chefe                                               35                          34,3
“Enfermeira padrão                                               14                          13,7
“Enfermeira”                                                     13                          12,7
Chefe                                                            12                          11,8
Médico                                                           6                            5,9
Auxiliar de enfermagem                                           2                            2,0
Não sabe                                                         20                          19,6
Total                                                           102                         100,0
          O restante ficou distribuído entre aqueles que identificaram como “chefe” (11,8%) o responsável,
sem mencionar a sua qualificação profissional, o médico (5,9%) e o auxiliar de enfermagem (2,0%) como o
profissional responsável pelo serviço. Uma parcela considerável de clientes (19,6%) não soube informar qual
o profissional responsável pelo serviço de enfermagem.
          Quanto ao motivo (Tabela 2) pelo qual os clientes atribuíram aos profissionais a responsabilidade
pelo serviço de enfermagem, 45 (44,1%) deles mencionaram a apresentação no momento da visita e 11
(10,8%) atribuíram responsabilidade aos chefes porque estes exercem atividade de coordenação. Outros 7
(6,9%) clientes indicaram o responsável argumentando que sempre existe um chefe, por isso neste serviço
também deve haver. Estes resultados indicam que o enfermeiro não está sendo reconhecido pelas suas
atividades e sim pela maneira com que se apresenta ao outro.

Tabela 2- Distribuição dos pacientes de um hospital privado segundo os motivos que os levaram a identificar o
          responsável pelo Serviço de Enfermagem. Ribeirão Preto, 1998.

Motivo de atribuição das responsabilidades                                    nº                    %
Apresenta-se                                                                  45                 44,1
Ordena/coordena/comanda                                                       11                 10,8
Sempre existe um chefe                                                       7                 6,9
Aparência física                                                             5                 4,9
Verifica se o cliente precisa de alguma coisa                                4                 3,9
É mais experiente                                                            4                 3,9
Médico é o que manda/Fala com o médico                                       2                 2,0
Não sabe                                                                    24                 23,5
Total                                                                      102                100,0


           Há algum tempo, autores como Trevizan (1988) defendem a função de coordenador da assistência,
mas os resultados obtidos em nosso estudo comprovam que o enfermeiro ainda não está assumindo este papel.
O estudo realizado por Fernandes (2000), também mostrou que ainda na atualidade as atividades do
enfermeiro estão muito mais voltadas para a administração da unidade de internação do que da assistência de
enfermagem.
           É imprescindível, como afirma Ferraz (1995), enfocar as ações do enfermeiro orientadas para o
cuidado do doente com a intenção de recolocar a atividade administrativa num patamar mais qualitativo.
Embora considere a função administrativa do enfermeiro de muita importância e utilidade na condução das
ações de enfermagem, Favero (1996) aponta também que da forma como tem sido exercida não tem
possibilitado uma assistência orientada para a pessoa do cliente, tem preterido os valores da profissão e os
anseios dos trabalhadores. A conduta profissional do enfermeiro privilegia as atividades administrativas que
visam aos objetivos da organização e se voltam muito mais às atividades administrativas burocráticas
(DEIENNO, 1993; CURY, 1999).
           Sob a ótica do próprio profissional, Melo (1996) identificou que, quando analisadas em seu
conjunto, as ações dos enfermeiros, estão voltadas principalmente para a complementariedade do ato médico,
denotando a ausência de um elemento que coordene o trabalho, o que pode contribuir para a não integralidade
da assistência de enfermagem.
CONCLUSÃO
        Pelo presente estudo foi possível observar que embora o cliente saiba que a função da enfermagem é
prestar cuidados, ele não consegue identificar o enfermeiro e nem mesmo os integrantes da equipe. As
atividades do enfermeiro e do pessoal auxiliar também não foram identificadas, caracterizando indefinição de
ações e responsabilidades sob a ótica do cliente. Em termos de papel profissional há que se destacar a postura
tênue que o enfermeiro tem adotado ao abordar o cliente, revelada pela sua comunicação genérica e informal
que pode ser observada tanto em nosso cotidiano, quanto nas justificativas que os clientes apontaram para
indicar o responsável pelo serviço de enfermagem; esta postura está dificultando a configuração de uma
imagem definida e requerida pela profissão.
         Do exposto, podemos visualizar a inconsistência da imagem que passamos aos clientes, mostrando
que não estamos sendo capazes de oferecer-lhes meios que possibilitem o reconhecimento profissional, para
que saibam das nossas responsabilidades pela equipe de enfermagem e pelo cuidado prestado. Se assim
procedêssemos, os clientes poderiam requisitar ou exigir o trabalho do enfermeiro junto às instituições de
saúde. Ainda falta muito espaço e investimento para definir, junto aos usuários do sistema de saúde e à
população em geral, a imagem da profissão e conhecer a sua complexa internalidade quanto às funções de
diferentes categorias.
Referências bibliográficas
CURY, S.R.R. Focalizando a liderança do enfermeiro em unidades de internação e de atendimento ao trauma.
Ribeirão Preto, 1999. 157 p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
DEIENNO, S.R.R. Atuação do enfermeiro em unidade de internação: enfoque sobre as atividades administrativas
burocráticas e não burocráticas. Ribeirão Preto, 1993. 99 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto, Universidade de São Paulo.
FÁVERO, N. O gerenciamento do enfermeiro na assistência ao paciente hospitalizado. Ribeirão Preto, 1996. 92 p.
Tese (Livre-docência) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
FERNANDES, M.S. A função do enfermeiro nos anos 90: réplica de um estudo. Ribeirão Preto, 2000. 134 p.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
FERRAZ, C.A. Compreensão do exercício profissional do enfermeiro: uma análise fenomenológica. Ribeirão Preto,
1989. 83 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
____________ A transfiguração da administração em enfermagem: da gerência científica à gerência sensível. Ribeirão
Preto, 1995. 248 p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
FERREIRA-SANTOS, C.A. A enfermagem como profissão: estudo num hospital escola. São Paulo, Pioneira/Edusp,
1973.
KRAMER, M. Role conception of baccalauteate nurses and success in hospital nursing. Nurs. Res., v.19, n.5, p.428-39,
1970.
LOPES, C.M. A produção dos enfermeiros assistenciais em relação à pesquisa em enfermagem em um município
paulista. Ribeirão Preto, 1983. 133 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade
de São Paulo.
LUNARDI, V.L.; LUNARDI FILHO, W.D; BORBA, M.R. Como o enfermeiro utiliza o tempo de trabalho numa unidade
de internação. Rev. Bras. Enfermagem, v.47, n.1, p.7-14, 1994.
MELO, M.R.A.C. O sistema único de saúde e as ações do enfermeiro na instituição hospitalar. Ribeirão Preto, 1996.
155 p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
NORMANN, R. Administração de serviços: estratégia e liderança na empresa de serviços. Trad. Ailton Bomfim
Brandão. Imagem. São Paulo, Atlas. Cap.9, p.126-35, 1993.
TREVIZAN, M.A. Estudo das atividades dos enfermeiros-chefes de unidades de internação de um hospital escola.
Ribeirão Preto, 1978. 92 p. Tese (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
_____________ Enfermagem hospitalar: administração & burocracia. Brasília, UnB, 1988.
TREVIZAN, M.A.; MENDES, I.A.C.; FERRAZ, C.A.; ÉVORA, Y.D.M.; VENTURA, C.A.A. Struggling for
establisment of a new ethics to nurses managerial work. In: WORLD CONGRESS ON MEDICAL LAW, 12. Hungary,
1998. Proceeding. Hungary, 1998. P. 656-66.
VARGAS, G.O.P. Mercado comum do sul: saúde e enfermagem. Rev. Bras. Enfermagem, v.47, n.1, p.42-50, 1994.

More Related Content

What's hot

Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...
Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...
Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...Camila Ferreira
 
Sistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de EnfermagemSistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de EnfermagemWhevergton Santos
 
Qualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidar
Qualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidarQualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidar
Qualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidarUniversidade Estadual de Maringá
 
Instrumento para coleta de dados em enfermagem
Instrumento para coleta de dados em enfermagemInstrumento para coleta de dados em enfermagem
Instrumento para coleta de dados em enfermagemNayara Kalline
 
FamíLia E Equipe De SaúDe
FamíLia E Equipe De SaúDeFamíLia E Equipe De SaúDe
FamíLia E Equipe De SaúDeLuiza Farias
 
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomiasDiagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomiasresenfe2013
 
O cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensiva
O cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensivaO cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensiva
O cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensivaUniversidade Estadual de Maringá
 
Gerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúde
Gerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúdeGerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúde
Gerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúdeAroldo Gavioli
 
Humanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicas
Humanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicasHumanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicas
Humanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicasCharles Nascimento
 
Artigo home care
Artigo home careArtigo home care
Artigo home carepetrus24
 
96020392 anamnese-examefisico-cap-01
96020392 anamnese-examefisico-cap-0196020392 anamnese-examefisico-cap-01
96020392 anamnese-examefisico-cap-01Klíscia Rosa
 

What's hot (20)

SAE
SAE SAE
SAE
 
Sae
SaeSae
Sae
 
Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...
Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...
Pré Projeto: Avaliação do Conhecimento dos Graduandos de Enfermagem sobre asp...
 
Sistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de EnfermagemSistematização da Assistência de Enfermagem
Sistematização da Assistência de Enfermagem
 
Qualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidar
Qualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidarQualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidar
Qualidade de vida do cuidador de enfermagem e sua relação com o cuidar
 
Instrumento para coleta de dados em enfermagem
Instrumento para coleta de dados em enfermagemInstrumento para coleta de dados em enfermagem
Instrumento para coleta de dados em enfermagem
 
Modulo9 urgencia emergencia
Modulo9 urgencia emergenciaModulo9 urgencia emergencia
Modulo9 urgencia emergencia
 
FamíLia E Equipe De SaúDe
FamíLia E Equipe De SaúDeFamíLia E Equipe De SaúDe
FamíLia E Equipe De SaúDe
 
Enfermagem
EnfermagemEnfermagem
Enfermagem
 
Seminári..
 Seminári.. Seminári..
Seminári..
 
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomiasDiagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
Diagnóstico de Enfermagem: uso das taxonomias
 
O cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensiva
O cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensivaO cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensiva
O cuidador de enfermagem e o cuidar em uma unidade de terapia intensiva
 
Enfermagem em clínica cirúrgica
Enfermagem em clínica cirúrgicaEnfermagem em clínica cirúrgica
Enfermagem em clínica cirúrgica
 
Gerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúde
Gerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúdeGerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúde
Gerenciamento de enfermagem: avaliação de serviços de saúde
 
Humanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicas
Humanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicasHumanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicas
Humanização no atendimento prestado pelo profissional das técnicas radiológicas
 
estresse
 estresse estresse
estresse
 
Apresentacao accr -_enf._maria_teresa_g._franco
Apresentacao accr -_enf._maria_teresa_g._francoApresentacao accr -_enf._maria_teresa_g._franco
Apresentacao accr -_enf._maria_teresa_g._franco
 
Artigo home care
Artigo home careArtigo home care
Artigo home care
 
Tcd finalizado
Tcd finalizadoTcd finalizado
Tcd finalizado
 
96020392 anamnese-examefisico-cap-01
96020392 anamnese-examefisico-cap-0196020392 anamnese-examefisico-cap-01
96020392 anamnese-examefisico-cap-01
 

Similar to A enfermagem na visão do cliente internado

Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidadoComunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidadoGabriela Montargil
 
A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...
A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...
A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...Eli Paula
 
Enfermeiro atribuições legais-psf
Enfermeiro atribuições legais-psfEnfermeiro atribuições legais-psf
Enfermeiro atribuições legais-psfEnfermare Home Care
 
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docx
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docxA ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docx
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docxPriscilaAnielly
 
Atribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevenção
Atribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevençãoAtribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevenção
Atribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevençãoRayomara Lima
 
Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...
Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...
Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...Letícia Spina Tapia
 
NBH situações de insatisfação no trab.pdf
NBH situações de insatisfação no trab.pdfNBH situações de insatisfação no trab.pdf
NBH situações de insatisfação no trab.pdfMiguelAlmeida502577
 
Equipe multiprofissional de saúde
Equipe multiprofissional de saúdeEquipe multiprofissional de saúde
Equipe multiprofissional de saúdenaiellyrodrigues
 
A Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao ExplicitaA Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao ExplicitaJosiane M F Tonelotto
 
O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...
O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...
O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...Universidade Estadual de Maringá
 
A Comunicação Clínica como instrumento de qualificação da Consulta de Enfer...
A Comunicação Clínica como  instrumento de qualificação da  Consulta de Enfer...A Comunicação Clínica como  instrumento de qualificação da  Consulta de Enfer...
A Comunicação Clínica como instrumento de qualificação da Consulta de Enfer...Portal da Inovação em Saúde
 

Similar to A enfermagem na visão do cliente internado (20)

Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidadoComunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
Comunicação terapêutica em enfermagem: instrumento essencial do cuidado
 
Nir
NirNir
Nir
 
Artigo 1.pdf
Artigo 1.pdfArtigo 1.pdf
Artigo 1.pdf
 
3447-7631-1-PB.pdf
3447-7631-1-PB.pdf3447-7631-1-PB.pdf
3447-7631-1-PB.pdf
 
Anais
AnaisAnais
Anais
 
A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...
A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...
A prática clínica do enfermeiro na atenção básica um processo em construção u...
 
Enfermeiro atribuições legais-psf
Enfermeiro atribuições legais-psfEnfermeiro atribuições legais-psf
Enfermeiro atribuições legais-psf
 
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docx
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docxA ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docx
A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TCC PÓS.docx
 
ACOLHIMENTO NO ÂMBITO HOSPITALAR
ACOLHIMENTO NO ÂMBITO HOSPITALARACOLHIMENTO NO ÂMBITO HOSPITALAR
ACOLHIMENTO NO ÂMBITO HOSPITALAR
 
Atribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevenção
Atribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevençãoAtribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevenção
Atribuiçoes do enfermeiro do trabalho na prevenção
 
Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...
Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...
Atuação de enfermagem em unidades de terapia intensiva, implicações para diss...
 
NBH situações de insatisfação no trab.pdf
NBH situações de insatisfação no trab.pdfNBH situações de insatisfação no trab.pdf
NBH situações de insatisfação no trab.pdf
 
Equipe multiprofissional de saúde
Equipe multiprofissional de saúdeEquipe multiprofissional de saúde
Equipe multiprofissional de saúde
 
PDF M1U4 - EPAS.pdf
PDF M1U4 - EPAS.pdfPDF M1U4 - EPAS.pdf
PDF M1U4 - EPAS.pdf
 
A Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao ExplicitaA Importância Da Relação Médico Versao Explicita
A Importância Da Relação Médico Versao Explicita
 
O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...
O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...
O significado de qualidade de vida para cuidadores de enfermagem de uma unida...
 
Artigo
ArtigoArtigo
Artigo
 
Art5 perfil
Art5 perfilArt5 perfil
Art5 perfil
 
Processo decisório-em-enfermagem.2
Processo decisório-em-enfermagem.2Processo decisório-em-enfermagem.2
Processo decisório-em-enfermagem.2
 
A Comunicação Clínica como instrumento de qualificação da Consulta de Enfer...
A Comunicação Clínica como  instrumento de qualificação da  Consulta de Enfer...A Comunicação Clínica como  instrumento de qualificação da  Consulta de Enfer...
A Comunicação Clínica como instrumento de qualificação da Consulta de Enfer...
 

Recently uploaded

SDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratorioSDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratoriolaissacardoso16
 
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannRegiane Spielmann
 
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)a099601
 
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdfMichele Carvalho
 
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptxCURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptxKarineRibeiro57
 
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...Leila Fortes
 

Recently uploaded (7)

SDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratorioSDR - síndrome do desconforto respiratorio
SDR - síndrome do desconforto respiratorio
 
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
 
apresentacao-NR 12 2024.ppt
apresentacao-NR                        12 2024.pptapresentacao-NR                        12 2024.ppt
apresentacao-NR 12 2024.ppt
 
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
Psicologia Hospitalar (apresentação de slides)
 
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
 
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptxCURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
CURSO TÉCNICO DE ENFERMAGEM..........pptx
 
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
8 - O Teste de sentar e levantar em 1 minuto como indicador de resultado nos ...
 

A enfermagem na visão do cliente internado

  • 1. A ENFERMAGEM E O ENFERMEIRO NA VISÃO DE CLIENTES INTERNADOS EM UM HOSPITAL PRIVADO Alessandra Mazzo Caldonha(1), Isabel Amélia Costa Mendes(2), Maria AuxiliadoraTrevizan(2), Maria Suely Nogueira(3), Miyeko Hayashida(4) Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem Fundamental do Programa de Pós-graduação do Departamento de Enfermagem Geral e 1(1) Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP (DEGE/EERP-USP). Centro Colaborador da OMS para o desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. (2)Enfermeira. Professor Titular do DEGE/EERP-USP. Av. Bandeirantes, 3900 14040- 902 Ribeirão Preto-SP e-mail iamendes@eerp.usp.br (3)Enfermeira. Professor Associado do DEGE/EERP-USP msnog@eerp.usp.br (4) Enfermeira. Doutor em Enfermagem Fundamental. Especialista em laboratório da EERP-USPmiyeko@eerp.usp.br Realizado em um hospital privado do interior paulista, este estudo teve como objetivo identificar e analisar a visão que o cliente tem da enfermagem e do enfermeiro com o propósito de oferecer indicação de possíveis contribuições à definição do papel destes profissionais. Os dados foram coletados através de entrevista norteada por questões abertas acerca da identificação e função dos elementos do serviço de enfermagem. Foram entrevistados 102 clientes internados há mais de 3 dias com idade entre 18 e 88 anos. Verificou-se que os clientes relacionam a enfermagem com a ação de cuidar mas não conseguem identificar o enfermeiro enquanto profissional responsável pelo gerenciamento da assistência ou como prestador do cuidado. Por outro lado, destacou-se que a postura tênue em termos de papel profissional que o enfermeiro tem adotado ao abordar o cliente, revelado pela sua comunicação genérica e informal, dificulta a configuração de uma imagem definida e requerida pela profissão. Palavras-chave: identidade, enfermeiro, enfermagem, visão, cliente NURSING AND THE NURSE IN THE VIEW OF IN PATIENTS AT A PRIVATE HOSPITAL This study was held at a private hospital in the interior of São Paulo State and aimed at identifying and analyzing how the client views nursing and the nurse with a view indicating possible contributions to the definition of these professionals’ roles. Data were collected through an interview guided by open questions about the identification and functions of the nursing service elements. One hundred and two clients were interviewed who had been in hospital for more than three days and whose age ranged from 18 to 88 years old. It was verified that clients relate nursing to the action of caring, but are not able to identify the nurse as a professional responsible for care management or as a care provider. On the other hand, it stood out that the tenuous attitude adopted by the nurse in approaching the client in terms of professional role, which is revealed by generic and informal communication, hinders the configuration of a definite image required by the profession. Key words: identity, nurse, nursing, view, client. 1. INTRODUÇÃO A enfermagem vem enfrentando dificuldades no seu processo de trabalho, agravado pela falta de delimitação do papel do enfermeiro, seja dentro da própria profissão ou na ação conjunta com outros profissionais. O enfermeiro atuante nas instituições hospitalares tem, ao longo do tempo, assumido diversas atribuições, muitas delas não relacionadas à assistência prestada, seja de cunho puramente administrativo- burocrático visando, sobretudo, ao atendimento das necessidades da instituição, ou ainda que poderiam ser delegadas ao pessoal auxiliar ou a profissionais de outros serviços. A enfermagem assume a responsabilidade diuturna pelo cliente no âmbito hospitalar. A garantia da presença do enfermeiro ininterruptamente neste ambiente, para fins de cuidado, é um dos fatores que conferem a ele a assunção da função de coordenar a assistência prestada ao cliente pelo pessoal de enfermagem e por todos os outros profissionais. Assim, a constituição multidisciplinar da equipe de saúde que opera no contexto hospitalar, com sua diversidade de domínio de conhecimento, de especialidades, de funções e de
  • 2. especificidades de ações com limites de tempo diversos, direciona a coordenação àquela categoria profissional que está sempre presente. A bidimensionalidade no compromisso do enfermeiro, ou seja, o compromisso com a profissão e com a organização, tem gerado conflitos e disfunções, cujas soluções beneficiam quase que somente a organização (TREVIZAN et al., 1998). Paradoxalmente, os enfermeiros são preparados pelos órgãos formadores para a assistência direta ao paciente, tornando-se cada vez mais evidente a dicotomia teoria-prática, "com uma profunda dissonância entre o que é dito que o enfermeiro deve fazer, e o que ele executa de fato" (LUNARDI et al., 1994). Portanto, os enfermeiros ligados à assistência direta ao cliente enfrentam dificuldades ao assumirem sua prática, pois na maioria das vezes deparam-se com o confronto de valores entre a formação oferecida pela academia e a expectativa do mercado de trabalho. Esta situação, classicamente denominada por Kramer (1970) como choque da realidade, propicia a perda da identidade profissional, construída e internalizada durante seu processo de formação acadêmica. Este choque de valores confunde o enfermeiro, influenciando-o a assumir atividades de outros profissionais. Cada vez mais os enfermeiros têm se afastado do cuidado e da prática clínica e têm assumido funções que não são suas (LUNARDI et al., 1994); muitas vezes assumem os lugares de profissionais que não estão presentes nas equipes de saúde (LOPES, 1983). Acresça-se a isso que a atuação do enfermeiro está alicerçada no modelo médico, caracterizado pela grande especialização e intervenção fragmentada. A este quadro agrega-se a também fragmentada composição da equipe de enfermagem, dividida em categorias, com o pessoal auxiliar representando a maior parte de seu contingente de trabalho. Nesse cenário, o enfermeiro passa a assumir muitas vezes as funções do pessoal auxiliar e/ou a exercer aquilo que o médico e as instituições esperam dele (FERREIRA-SANTOS, 1973; TREVIZAN, 1978; VARGAS, 1994). Por todos estes fatores, urge que o enfermeiro tenha seu papel bem definido e internalizado para que possa transmitir aos clientes uma clara imagem de identidade profissional. Desta forma, tendo em perspectiva o propósito de contribuir para uma melhor compreensão do papel do enfermeiro, pretende-se com este estudo identificar e analisar a visão que o cliente tem da enfermagem e do enfermeiro, com o intento de oferecer indicações de possíveis contribuições à definição do papel do profissional em questão. 2. METODOLOGIA Este estudo foi desenvolvido em um hospital privado de grande porte de uma cidade do interior paulista, com 164 leitos distribuídos em alas de internação supervisionadas por 16 enfermeiras, as quais estão subordinadas a uma coordenadora de enfermagem. Fizeram parte do estudo todos os clientes internados no referido hospital no período de 28/09/1998 a 12/10/1998 e que satisfizeram os seguintes critérios de inclusão: estar internado entre 3 e 5 dias; estar consciente/orientado; ter idade acima de 18 anos; estar instalado nas alas de internação; exercer qualquer ocupação, exceto enfermagem.
  • 3. Obteve-se autorização dos órgãos competentes do hospital e os clientes foram informados acerca dos objetivos do estudo, da garantia de anonimato e do caráter voluntário de sua participação. Incluiu-se, portanto, aqueles que manifestaram de forma livre e espontânea o interesse em participar. De posse da lista diária de clientes internados, fornecida pelo setor de processamento de dados do hospital, onde constavam o nome, data de internação, leito e tipo de convênio, selecionou-se os pacientes de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos. A abordagem aos pacientes ocorreu de forma individual, em seus respectivos quartos, quando observou-se as condições físicas e psicológicas, para verificar a viabilidade de sua participação. Quando favoráveis, apresentou-se a proposta do estudo, oferecendo esclarecimentos quanto ao objetivo e obtendo-se o consentimento de participação e uso das informações. Na seqüência, as entrevistas foram realizadas norteadas por um instrumento de coleta de dados, contendo os itens referentes à caracterização dos clientes e perguntas abertas, questionando sobre quais os profissionais que estavam cuidando deles e o que eles fazem; quais os profissionais do serviço de enfermagem e o que cada um deles faz; qual o profissional responsável pelo serviço de enfermagem e porque atribui à ele esta responsabilidade e, finalmente, quem é o enfermeiro e o que ele faz. O conteúdo das respostas abertas foi analisado e agrupado em categorias criadas de acordo com a similaridade temática, quantificado e apresentado em freqüência e porcentagem. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização dos sujeitos da amostra No período estabelecido para a coleta de dados, estiveram internados 343 clientes nas unidades de internação do hospital em estudo. Destes, 102 (29,7%) satisfizeram aos critérios de inclusão, sendo 60 (58,8%) homens e 42 (41,2%) mulheres. A idade variou entre 18 e 88 anos, com mais da metade (51,0%) dos clientes em faixa menor que 57 anos e maior concentração na faixa etária de 58 a 67 anos (24,5%). Quando se trata da ocupação atual, a maioria compõe as categorias de aposentado (24,5%), do lar (22,5%) e comerciante (21,6%). O restante, aproximadamente um terço (31,4%), compreende as demais categorias (bancário, motorista, eletricista, professor, zelador, estudante, lavrador, fiscal de campo, pedreiro, pintor, massagista e arquiteto). Do total de clientes entrevistados, 58 (56,9%) tiveram internação anterior e 44 (43,1%) nunca estiveram internados. Estavam internados para tratamento clínico (51%) ou cirúrgico (49%) em várias especialidades. 3.2 Opinião dos clientes sobre os profissionais que prestam cuidado Ao serem questionados sobre os profissionais que estavam cuidando deles, todos os entrevistados referiram-se ao enfermeiro como o profissional que lhes presta cuidados. O médico foi apontado por 100 (98%) deles e apenas 10 (9,8%) citaram o assistente social. O técnico/auxiliar de enfermagem (4,9%) e fisioterapeuta (4,9%) foram citados igualmente por cinco clientes. Na categoria outros, indicada por oito clientes (7,8%), foram incluídos os funcionários do laboratório e do serviço de nutrição, além da indicação genérica de equipe do hospital e de enfermagem.
  • 4. Vale ressaltar que os “enfermeiros” aqui citados pelos clientes, correspondem aos profissionais/ ocupacionais de enfermagem que lhe prestavam cuidado. Eles não diferenciaram os enfermeiros dos demais membros da equipe de enfermagem. A imagem que o cliente tem a respeito do enfermeiro pode ser definida como o “modelo, que significa nossas crenças e conhecimento de um fenômeno ou situação” como define Normann (1993), ou seja, o cliente percebe o enfermeiro como a própria enfermagem Na descrição das atividades dos “enfermeiros”, desempenhar técnicas foi citada por 59 (57,8%) pacientes e tratar/cuidar por 45 (44,1%). Essas respostas reforçam a idéia de que a enfermagem é reconhecida principalmente pelo seu envolvimento com procedimentos e pelo domínio da técnica do cuidado. Com base na indicação de atividades relativas ao tratar/cuidar parece claro à quase metade dos clientes que o cuidado é a base do trabalho da enfermagem. Entretanto, como salienta Ferraz (1989), parece que a enfermagem esquece que essa é a sua essência e busca seu aprimoramento em técnicas e outras práticas. Acreditamos que ao aproveitar a oportunidade de coordenar aquilo que o cliente espera - o cuidado, e deixar de desempenhar as atividades de outros profissionais, poderiam se constituir em um recurso importante para o reconhecimento das ações e, consequentemente, da visibilidade do enfermeiro. Assumir a coordenação pelo cuidado evidenciaria o papel do enfermeiro, uma vez que o cliente deseja e necessita do cuidado. Ainda, outras duas categorias de respostas relacionar com o paciente foi mencionada por sete (6,9%) pacientes e definida nos seguintes termos: “conversam”, “brincam”, “dão carinho”; e cinco (4,9%) atribuíram à enfermagem a função de acompanhar/ajudar o médico descrita como “acompanha o médico” e “auxilia o doutor”. Quando perguntamos aos clientes quais as pessoas da equipe de enfermagem que cuidavam deles, 64 (62,7%) identificaram com os termos “enfermeiros” e/ou “enfermeiras”. Importa destacar novamente que não foram identificados como profissional enfermeiro, pois muitos clientes responderam a essa questão denominando “enfermeiros e enfermeiras”, mas referindo-se aos profissionais da equipe de enfermagem que cuidam deles. Assim, não diferenciam os enfermeiros e referem-se a eles como sendo toda equipe de enfermagem. Encontramos nove respostas (8,8%) identificando o “chefe” como profissional que lhes presta cuidado; porém, não informaram quem é o profissional designado chefe; seis (5,9%) referem-se ao auxiliar e um (1,0%) ao técnico; dois (2,0%) não sabem quem são os profissionais de enfermagem que cuidam deles e quinze (14,7%) referem outros profissionais: médico, práticos, pessoal do posto e várias pessoas (indefinidas). Alguns clientes não deram respostas definidas e identificaram como “todos atendem igual”, “tudo usa branco, é tudo igual”, “são todos iguais”. Em seguida perguntamos quais as atividades do enfermeiro e 71 (69,6%) pacientes identificaram como prestar cuidados/procedimentos. Voltamos a salientar o trabalho de Ferraz (1989) que coloca o cuidado como trabalho da enfermagem e instiga a enfermeira a questionar e pensar seu cuidado e sua prática. Identificaram ainda como função do enfermeiro, ouvir informações sobre o atendimento, citada por sete (6,9%) deles. Mais uma vez, a indefinição da função do enfermeiro volta a emergir já que o hospital
  • 5. mantém um serviço de atendimento ao cliente para este fim. O enfermeiro afasta-se do cuidado para realizar esta função. E finalmente, o ato de apresentar-se foi identificado como uma das ações do enfermeiro por três clientes (2,9%) e o mesmo número deles (2,9%) não conseguiu apontar as atividades do enfermeiro. Ao serem indagados quanto às atividades dos técnicos e auxiliares, 74 (72,5%) deles não souberam identificar esses profissionais e indicaram “são todos enfermeiros”; estas respostas vem reforçar a questão de que eles não conseguem identificar, nem diferenciar quais são os profissionais da enfermagem. Houve 34 respostas onde nenhum dos sujeitos conseguiu diferenciar o técnico do auxiliar, para os quais 20 (19,6%) deles atribuem as atividades de cuidar/fazer técnicas, dois (2%) disseram que auxilia a enfermeira e os 12 (5,9%) restantes não souberam informar. Em reposta à questão que trata dos profissionais responsáveis pelo Serviço de Enfermagem (Tabela 1), 35 (34,3%) indicaram “enfermeira chefe” como a responsável, 14 (13,7%) a “enfermeira padrão”, 13 (12,7%) a “enfermeira”. A esse respeito parece que não há uma uniformização do conceito do termo enfermeira, uma vez que várias denominações foram atribuídas como “enfermeira-padrão”, “enfermeira- chefe” e “enfermeira” totalizando 60,8%. Tabela 1- Distribuição dos pacientes de um hospital privado segundo as qualificações utilizadas para designar os responsáveis pelo Serviço de Enfermagem. Ribeirão Preto, 1998. Responsáveis pelo serviço de enfermagem Nº % “Enfermeira” chefe 35 34,3 “Enfermeira padrão 14 13,7 “Enfermeira” 13 12,7 Chefe 12 11,8 Médico 6 5,9 Auxiliar de enfermagem 2 2,0 Não sabe 20 19,6 Total 102 100,0 O restante ficou distribuído entre aqueles que identificaram como “chefe” (11,8%) o responsável, sem mencionar a sua qualificação profissional, o médico (5,9%) e o auxiliar de enfermagem (2,0%) como o profissional responsável pelo serviço. Uma parcela considerável de clientes (19,6%) não soube informar qual o profissional responsável pelo serviço de enfermagem. Quanto ao motivo (Tabela 2) pelo qual os clientes atribuíram aos profissionais a responsabilidade pelo serviço de enfermagem, 45 (44,1%) deles mencionaram a apresentação no momento da visita e 11 (10,8%) atribuíram responsabilidade aos chefes porque estes exercem atividade de coordenação. Outros 7 (6,9%) clientes indicaram o responsável argumentando que sempre existe um chefe, por isso neste serviço também deve haver. Estes resultados indicam que o enfermeiro não está sendo reconhecido pelas suas atividades e sim pela maneira com que se apresenta ao outro. Tabela 2- Distribuição dos pacientes de um hospital privado segundo os motivos que os levaram a identificar o responsável pelo Serviço de Enfermagem. Ribeirão Preto, 1998. Motivo de atribuição das responsabilidades nº % Apresenta-se 45 44,1 Ordena/coordena/comanda 11 10,8
  • 6. Sempre existe um chefe 7 6,9 Aparência física 5 4,9 Verifica se o cliente precisa de alguma coisa 4 3,9 É mais experiente 4 3,9 Médico é o que manda/Fala com o médico 2 2,0 Não sabe 24 23,5 Total 102 100,0 Há algum tempo, autores como Trevizan (1988) defendem a função de coordenador da assistência, mas os resultados obtidos em nosso estudo comprovam que o enfermeiro ainda não está assumindo este papel. O estudo realizado por Fernandes (2000), também mostrou que ainda na atualidade as atividades do enfermeiro estão muito mais voltadas para a administração da unidade de internação do que da assistência de enfermagem. É imprescindível, como afirma Ferraz (1995), enfocar as ações do enfermeiro orientadas para o cuidado do doente com a intenção de recolocar a atividade administrativa num patamar mais qualitativo. Embora considere a função administrativa do enfermeiro de muita importância e utilidade na condução das ações de enfermagem, Favero (1996) aponta também que da forma como tem sido exercida não tem possibilitado uma assistência orientada para a pessoa do cliente, tem preterido os valores da profissão e os anseios dos trabalhadores. A conduta profissional do enfermeiro privilegia as atividades administrativas que visam aos objetivos da organização e se voltam muito mais às atividades administrativas burocráticas (DEIENNO, 1993; CURY, 1999). Sob a ótica do próprio profissional, Melo (1996) identificou que, quando analisadas em seu conjunto, as ações dos enfermeiros, estão voltadas principalmente para a complementariedade do ato médico, denotando a ausência de um elemento que coordene o trabalho, o que pode contribuir para a não integralidade da assistência de enfermagem. CONCLUSÃO Pelo presente estudo foi possível observar que embora o cliente saiba que a função da enfermagem é prestar cuidados, ele não consegue identificar o enfermeiro e nem mesmo os integrantes da equipe. As atividades do enfermeiro e do pessoal auxiliar também não foram identificadas, caracterizando indefinição de ações e responsabilidades sob a ótica do cliente. Em termos de papel profissional há que se destacar a postura tênue que o enfermeiro tem adotado ao abordar o cliente, revelada pela sua comunicação genérica e informal que pode ser observada tanto em nosso cotidiano, quanto nas justificativas que os clientes apontaram para indicar o responsável pelo serviço de enfermagem; esta postura está dificultando a configuração de uma imagem definida e requerida pela profissão. Do exposto, podemos visualizar a inconsistência da imagem que passamos aos clientes, mostrando que não estamos sendo capazes de oferecer-lhes meios que possibilitem o reconhecimento profissional, para que saibam das nossas responsabilidades pela equipe de enfermagem e pelo cuidado prestado. Se assim procedêssemos, os clientes poderiam requisitar ou exigir o trabalho do enfermeiro junto às instituições de saúde. Ainda falta muito espaço e investimento para definir, junto aos usuários do sistema de saúde e à
  • 7. população em geral, a imagem da profissão e conhecer a sua complexa internalidade quanto às funções de diferentes categorias. Referências bibliográficas CURY, S.R.R. Focalizando a liderança do enfermeiro em unidades de internação e de atendimento ao trauma. Ribeirão Preto, 1999. 157 p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. DEIENNO, S.R.R. Atuação do enfermeiro em unidade de internação: enfoque sobre as atividades administrativas burocráticas e não burocráticas. Ribeirão Preto, 1993. 99 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. FÁVERO, N. O gerenciamento do enfermeiro na assistência ao paciente hospitalizado. Ribeirão Preto, 1996. 92 p. Tese (Livre-docência) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. FERNANDES, M.S. A função do enfermeiro nos anos 90: réplica de um estudo. Ribeirão Preto, 2000. 134 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. FERRAZ, C.A. Compreensão do exercício profissional do enfermeiro: uma análise fenomenológica. Ribeirão Preto, 1989. 83 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. ____________ A transfiguração da administração em enfermagem: da gerência científica à gerência sensível. Ribeirão Preto, 1995. 248 p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. FERREIRA-SANTOS, C.A. A enfermagem como profissão: estudo num hospital escola. São Paulo, Pioneira/Edusp, 1973. KRAMER, M. Role conception of baccalauteate nurses and success in hospital nursing. Nurs. Res., v.19, n.5, p.428-39, 1970. LOPES, C.M. A produção dos enfermeiros assistenciais em relação à pesquisa em enfermagem em um município paulista. Ribeirão Preto, 1983. 133 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. LUNARDI, V.L.; LUNARDI FILHO, W.D; BORBA, M.R. Como o enfermeiro utiliza o tempo de trabalho numa unidade de internação. Rev. Bras. Enfermagem, v.47, n.1, p.7-14, 1994. MELO, M.R.A.C. O sistema único de saúde e as ações do enfermeiro na instituição hospitalar. Ribeirão Preto, 1996. 155 p. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. NORMANN, R. Administração de serviços: estratégia e liderança na empresa de serviços. Trad. Ailton Bomfim Brandão. Imagem. São Paulo, Atlas. Cap.9, p.126-35, 1993. TREVIZAN, M.A. Estudo das atividades dos enfermeiros-chefes de unidades de internação de um hospital escola. Ribeirão Preto, 1978. 92 p. Tese (Mestrado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. _____________ Enfermagem hospitalar: administração & burocracia. Brasília, UnB, 1988. TREVIZAN, M.A.; MENDES, I.A.C.; FERRAZ, C.A.; ÉVORA, Y.D.M.; VENTURA, C.A.A. Struggling for establisment of a new ethics to nurses managerial work. In: WORLD CONGRESS ON MEDICAL LAW, 12. Hungary, 1998. Proceeding. Hungary, 1998. P. 656-66. VARGAS, G.O.P. Mercado comum do sul: saúde e enfermagem. Rev. Bras. Enfermagem, v.47, n.1, p.42-50, 1994.