[1] A Transilvânia é uma região histórica na Romênia conhecida por seus castelos e cidades medievais, incluindo o Castelo Hunyadi, um dos mais espetaculares do mundo. [2] A região abriga conjuntos arquitetônicos medievais bem preservados e cidades como Sibiu, que mistura passado e presente. [3] Além de seus monumentos históricos, a paisagem nevoeirada da Transilvânia alimentou lendas sobre Drácula e contribuiu para fix
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HORIZONTES
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Cidades e castelos medievais são atrações da lendária Transilvânia, região
no coração da Romênia povoada por um fascinante patrimônio histórico
Texto e fotos JOHNNY MAZZILLI
Encontro com o passado
m 1897, ao criar o vampiro Drácula, o escritor irlandês Bram
Stoker lançou luzes sobre uma região no interior da Romênia muito pouco conhecida do mundo, a Transilvânia. É lá que
nasceu e viveu o sombrio personagem de carne e osso que inspirou Stoker a criar o mito do morto vivo bebedor de sangue:
Vlad Tepes (1428-1476), o Príncipe da Valáquia, que governou áreas do território romeno no século 15. Por meio de lendas,
livros e filmes de vampiros, a Transilvânia se fixou no imaginário coletivo. Cenário de conspirações e batalhas no passado,
foi durante a Segunda Guerra Mundial palco de combates dramáticos em volta dos Montes Cárpatos, a enorme cadeia
montanhosa em forma de arco que se estende por grande parte do país.Devido a suas características climáticas e geográ-
ficas, é considerada um dos lugares mais nevoeirentos do planeta – o que lhe confere uma atmosfera misteriosa.
E
Na página ao lado,
um dos mais belos
castelos do mundo,
o Hunyadi, em
Hunedoara. Acima,
cenas da vida romena
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É difícil imaginar,na Europa de hoje,uma região que remeta tanto ao pas-
sado como a Transilvânia. Ex-membro do antigo bloco de nações satélites da
extinta União Soviética, a Romênia foi longamente presidida com mãos de
ferro pelo ditador Nicolae Ceausescu (1918-1989), deposto e fuzilado por suas
próprias forças armadas em 1989, pondo fim a 24 anos de um regime tirânico
e encerrando a história do comunismo no país.Há dois anos a Romênia integra
a União Europeia,mas o isolamento na cortina de ferro durante décadas man-
teve a região anacronicamente agrária.
Por toda parte circulam carroças de madeira puxadas por bois ou cavalos.
Incontáveis velhinhas com rostos de expressões marcadas,vestidas com roupas
de lã e lenços coloridos na cabeça,pedalam bicicletas,puxam vacas pela coleira,
vendem uvas, cebolas e batatas à beira do asfalto ou em frente a suas casas.
Cenários medievais
Na Transilvânia encontram-se os conjuntos arquitetônicos medievais
mais bem preservados do mundo,alguns ainda habitados.EmTimosoara (pro-
nuncia-se Timixoára), cidade de 320 mil habitantes próxima à fronteira com a
Sérvia,o visual exótico da catedral ortodoxa impressiona os visitantes.Já Hune-
doara foi uma típica planta industrial soviética, uma cidade cinzenta onde o
regime estatal dos velhos tempos plantou gigantescas instalações, galpões e
selvas de tubos retorcidos, hoje entregues ao abandono.
Um castelo em um lugar como esse parece pouco plausível, mas é em
Hunedoara que se encontra um dos mais espetaculares do mundo, o Hunyadi
– conhecido pelos romenos por Corvin Castelul.Foi nele queVladTepes perma-
neceu preso por sete anos, durante um dos episódios em que foi deposto de
seu reinado. O castelo começou a ser construído no século 14 e passou por
diversas obras até o século 17, daí seus diferentes estilos arquitetônicos.
Vlad reinou por três curtos períodos no século 15 e foi responsável por
repelir ataques turcos.Embora tido como um governante justo com os súditos
e de ter erguido monastérios durante seu reinado,não foram exatamente seus
ideais de justiça que o tornaram famoso, e sim o destino cruel que reservava
aos invasores,aos opositores e aos fora-da-lei:a execução por empalamento.
Na página ao lado (em
sentido horário) catedral de
Timisoara; casa em Sibiu;
a medieval Sighsoara; e o
Castelo Hunyiadi. Acima,
contraste entre presente
e passado: nova geração
romena e costume de vender
cebolas à beira da estrada
Timisoara
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Sibiu, cidade de 180 mil habitantes localizada bem no centro da Tran-
silvânia, abriga o renomado Museu Bruckenthal, dono de uma arquitetura
peculiar. O local, erguido no final do século 18, foi a residência do barão
Samuel von Brukenthal e hoje abriga sua rica coleção de obras de arte,
além de uma biblioteca com mais de 300 mil obras de valor histórico.
Juntamente com Luxemburgo, Sibiu foi capital cultural europeia em 2007.
As estradas na região são sinuosas, estreitas e infestadas de grandes
caminhões. Um trajeto de 150 quilômetros pode levar mais de quatro
horas. E em todos os lugares as antigas carroças trafegam indiferentes à
proximidade dos caminhões. O gado cruza as pistas a torto e a direito.
Moradas do Drácula
O Castelo de Bran,situado na vila de mesmo nome,é outro lugar onde
Vlad Tepes viveu durante alguns anos. Construído em 1377, foi também
morada da família real da Romênia entre 1920 e 1947. O castelo abriga um
museu com mobiliário, obras de arte e cerâmicas, entre outras peças que
fazem parte da história europeia e da era medieval.
De Bran, uma longa e tortuosa jornada leva até um fim de mundo de
nome sonoro, Curtea de Arges. É lá que se encontram as ruínas de Cetatea
Poienari, o castelo onde Vlad viveu a maior parte de sua vida. Outra atração
da região é uma antiga cidadela fortificada, Cetatea Rasov, encastelada no
alto de uma montanha. Brasov, por sua vez, é uma cidade turística e bada-
lada, que mistura arquitetura medieval com art nouveau. Sighsoara é um
caso à parte. Uma das cidades mais medievais e “vampirescas” em toda a
Transilvânia, é a terra natal de Vlad. É lá que se situa o centro medieval
habitado mais preservado do mundo, com antigos arcos, igrejas, passagens
e escadarias.
Ao norte,na região vizinha de Maramures,na fronteira com a Ucrânia,
fica a pequena Sighetu Marmatiei, onde um intrigante cemitério com colo-
ridas lápides de madeira entalhadas encanta os poucos viajantes que se
aventuram até aquelas bandas. Os entalhes trazem referências bem-
humoradas sobre a vida do falecido, amenizando sua morte.
Onde ficar
Como chegar: não há voos diretos do Brasil. Os voos para Bucareste saem a partir de várias capitais europeias. A Transilvânia está
a 170 quilômetros da capital romena • Quando ir: a melhor época para conhecer a região da Transilvânia é de abril, primavera, até
outubro, final do outono. Nos demais meses do ano, a neve proporciona cenários espetaculares, mas o clima pode permanecer lon-
gamente encoberto • Passeios: Corvin Castelul: www.castelulcorvinilor.ro/Museu Bruckenthal: www.brukenthalmuseum.ro/
Castelo de Bran: www.brancastlemuseum.ro • Mais informações sobre turismo na Romênia: www.romaniatourism.com
Acima o Castelo de Bran,
que hoje abriga um museu.
Na página ao lado (em sentido
horário), vista de Sighsoara;
Cetatea Rasov, com suas
construções fortificadas;
e Brasov, uma cidade
turística movimentada