1. A História dos Batistas
Conta-se que numa determinada igreja do interior do Brasil, um grupo de
pessoas reuniu-se, como de costume, num dos cultos de quarta-feira, com o
objetivo de escolher o nome mais adequado para uma nova congregação a ser
fundada. Com a mediação equilibrada do pastor, todos os membros presentes
puderam dar sua sugestão, democraticamente, antes que a decisão fosse
tomada. No calor dos comentários e opiniões livremente expostas, uma idéia
de nome causou espanto: "Igreja Batista do Apocalipse 21", propôs um dos
participantes mais entusiasmados. Diante da explosão de exclamações de
espanto que sucederam a estranha proposição, o pastor solenemente
interpelou o autor: "Mas o irmão acredita que esse nome seja biblico?" Para
surpresa do ministro que presidia a sessão e de todos os presentes, a resposta
veio rápida e certeira: "Só não seria bíblico se a sugestão fosse, por exemplo,
Igreja Batista do Apocalipse 23, pois como o senhor bem sabe, não existe esse
capítulo na Bíblia", rebateu o fiel.
Essa simples anedota exemplifica de maneira clara um conceito fundamental
entre os adeptos da Igreja Batista, uma das mais sólidas e conceituadas
denominações protestantes do Brasil: a valorização da liberdade e da
democracia. Desde seus primórdios, os batistas decidem democraticamente
sobre todas as questões que se referem à sua igreja, desde que mantidas as
bases bíblicas, das quais não abrem mão. A postura batista com relação a
liberdade exercida por seus membros se confunde com a história da igreja. As
famosas Declarações de Fé - documentos escritos por teólogos da igreja que
através dos séculos reproduzem sua ideologia - já marcavam essa posição
muito antes do primeiro missionário pôr os pés no Brasil, em 1860. Naquele
ano, o missionário norte-americano Thomas Jefferson Bowen aportou na
cidade do Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil. Na longa travessia
marítima, dois livros foram seus companheiros de viagem em alto-mar: a Bíblia
e o Cantor Cristão.
Batistas no Brasil
O pastor Bowen foi o primeiro missionário enviado ao Brasil pela Junta de
Richmond, associação de igrejas batistas do Sul dos Estados Unidos. Sua
missão era organizar uma igreja de língua inglesa para os imigrantes
americanos. Também tinha intenção de trabalhar entre os escravos, já que
vinha de um longo período como missionário na África, onde inclusive
aprendera o dialeto iorubá, corrente entre os negros traficados para o Brasil.
Seu sonho missionário, entretanto, virou pesadelo. Além de sofrer sérios
problemas de saúde, o pastor foi impedido pelas autoridades de propagar uma
mensagem cristã que se caracterizava pela distância com os ensinos católicos,
até então a religião oficial do país. Bowen acabou ficando no Brasil por apenas
nove meses, período emque se comunicava com freqüência, através de
relatórios, com seus superiores da Junta. Nestas epístolas, o missionário se
queixava do alto custo de vida, do clima quente da cidade do Rio de Janeiro e
principalmente daameaça da febre amarela, problema crônico de saúde
naqueles idos do século 19.
2. A Junta de Richmond ficou tão decepcionada com as dificuldades enfrentadas
por Bowen que não quis mais arriscar e cancelou todos os planos missionários
para a América do Sul. Mas Deus tinha seus planos. Depois dessa primeira
tentativa frustrada, não demorou muito e um conflito social acabou sendo o
estopim que detonou a verdadeira explosão missionária no Brasil. Com a
Guerra de Secessão (1859-1865), entre os estados do Norte e do Sul dos EUA,
milhares de imigrantes americanos vieram para o Brasil a partir da segunda
metade do século passado, em busca do sonho da paz e prosperidade. Em sua
maioria, os colonos eram de formação protestante. Curiosamente, essa
segunda onda evangelística tinha um caráter bem mais informal - ao contrário
da missão de Bowen, planejada e patrocinada pela Junta de Missões
Estrangeiras, essa leva de protestantes emigrou em busca da sua própria
sobrevivência.
Estrutura da Igreja Batista no Brasil
Convenção Batista Brasileira (CBB)
Sede: Rio de Janeiro
Fundação: 1907
Presidente: Darci Dusilek
Fiéis: O último censo da denominação, realizado em 1995, encontrou 873.319
membros. A estimativa atual é de 1 milhão de fiéis
Pastores: 5.890
Templos: 5.554
Distribuição: As igrejas da CBB estão disseminadas por todo o território
nacional. A convenção mantém mais de 500 missionários no exterior.
Atividades da denominação: Existem dezenas de seminários em todo o
Brasil, dos quais o maior é o Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no
Rio de Janeiro, com mais de mil alunos, referência nacional do ensino religioso.
Como as igrejas batistas são independentes umas das outras, não existem
estatísticas centralizadas sobre atividades assistenciais como escolas, creches,
asilos e orfanatos, que são mantidos pelas congregações locais. Um dos
projetos mais destacados nessa imensa rede de ação é o Reencontro, da
Primeira Igreja Batista de Niterói (RJ). Utiliza amplo sistema de comunicação,
com programas de rádio e TV, além de revistas e jornais. Denominação
fortemente identificada com a História do país, a Igreja Batista tem influído, ao
longo do século, em diversos setores da sociedade, seja através de ações
diretas de seus departamentos ou da atuação de seus membros envolvidos na
política, nas instituições civis e no meio acadêmico.
3. Início dos Batistas
AVIVAMENTO
Um dos motivos de orgulho dos batistas brasileiros - a coesão - só veio a sofrer
um abalo considerável no final da década de 50. O Brasil presenciava um
avivamento pentecostal, iniciado pelo trabalho de missionários norte-
americanos. Foi a época do surgimento de grandes igrejas carismáticas, como
a Quadrangular, o Brasil Para Cristo e a Nova Vida. Paralelamente, diversos
setores evangélicos tradicionais experimentaram a renovação espiritual. Não
demorou muito e o movimento alcançou os arraiais batistas, através de um
pastor ainda pouco conhecido, mas que no futuro seria lembrado como um dos
maiores líderes evangélicos do século. Na noite de 18 de outubro de 1958, o
pastor José Rego do Nascimento, da Igreja Batista da Lagoinha, em Belo
Horizonte (MG), voltava de um culto no Seminário Batista do Sul do Brasil, no
Rio - um dos mais antigos e respeitados da denominação -, quando foi
abordado por um grupo de alunos. Convidado a participar de uma vigília de
oração promovida pelo grêmio estudantil, Rego, embora estivesse exausto,
aceitou. O que aconteceu naquela noite delineou a história do ramo batista
pentecostal no país. Rego e os seminaristas que participaram da reunião foram
batizados com o Espírito Santo - uma experiência que até então só conheciam
de ler no Novo Testamento, caracterizada pelo exercício de dons espirituais.
José Rego do Nascimento relatou os acontecimento a seu colega e também
pastor batista Enéas Tognini, que logo aderiu ao avivamento e tornou-se ícone
do movimento pentecostal que acabou dividindo a denominação. Em 1967,
Tognini fundou a CBN (Convenção Batista Nacional), reunindo 60 igrejas. Hoje,
a CBN é presidida pelo pastor Daniel Leite, de Betim (MG) e tem
aproximadamente 1,2 mil igrejas, todas independentes, mas vinculadas pela
teologia pentecostal. Além das duas grandes convenções, existem ainda a
Igreja Batista Regular, a Igreja Batista Independente, a Igreja Batista Bíblica e a
Igreja Batista Fundamental, que embora expressem interpretações bíblicas
diversas, têm como elo fundamental a soberania das decisões tomadas pelo
povo. Nas igrejas batistas, tudo é decidido pelos membros: desde a escolha do
pastor até o orçamento da comunidade. Até mesmo o nome de sociedades
internas como corais e grupos de jovens passam pelo voto. A tradição
democrática é até hoje um dos maiores orgulhos dos batistas.
por Marcelo Dutra
Estrutura da Igreja Batista Nacional
Convenção Batista Nacional (CBN)
Sede: São Paulo
Fundação: 1967
Presidente: Daniel Leite
4. Fiéis: 200 mil
Pastores: 1,4 mil
Templos: 1.100 igrejas e 2 mil congregações
Distribuição: A maior parte das igrejas está situada no Sudeste, notadamente
no Estado de Minas Gerais. Existem também trabalhos missionários no México,
Albânia, Espanha, Paraguai e Chile.
Atividades da denominação: Além de 18 seminários teológicos, a CBN
possui escolas, abrigos de menores, clínicas médicas e outras obras
assistenciais. Nas grandes cidades, os fiéis da denominação destacam-se pela
atuação em missões urbanas, como evangelismo ostensivo e distribuição de
donativos. Além das atividades nos templos, as comunidades ligadas à CBN
promovem cultos ao ar livre, concentrações, eventos musicais e reuniões
informais nas casas dos membros. Algumas igrejas caracterizam-se por cultos
carismáticos, onde a ênfase é dada aos dons espirituais como curas divinas e
profecias. As igrejas da CBN utilizam os meios de comunicação na divulgação
de sua mensagem.