O documento discute o papel dos museus da Fundação Nacional Pró-Memória (FNpM) no período de 1979 a 1988. A FNpM reorganizou o espaço social em pequenos museus, transformando centros culturais em locais para aplicar ideais de integração cultural. As edições do Boletim Iphan/FNpM também mostram como as instituições construíram conjunto as reconceituações constitucionais da cultura em 1988.
Si sobre cultura popular tradicional e música folclórica
A hora e o papel dos museus
1. FORUM PATRIMÔNIO: amb. constr. e patr. sust.,Belo Horizonte,v.3,n.2, jul./dez. 2009.
RESUMO
O trabalho, realizado com base em registros do Boletim Iphan/FNpM, periódico editado entre 1980 e
1988, apresenta parte da pesquisa sobre a rede de museus do MinC/Iphan. O conjunto de edificios
preservados — museus e casas históricas — abrigava as bases locais de interação das
comunidades, integrando-as “esteticamente” com os poderes governamentais. As pequenas cidades
tornaram-se reconhecidos objetos de estudos de historiadores, historiadores da arte, sociólogos,
antropólogos, arqueólogos, arquitetos e, last but not least, museólogos. As edições do Boletim
Iphan/FNpM, delinearam a atual necessidade de reconstruir a infraestrutura, redefinir e atualizar os
padrões conceituais e formais, envolvendo positivamente instituições governamentais e privadas,
lucrativas ou não. Verifica-se, ainda, que, sob a liderança da FNpM, as organizações profissionais do
campo da arte e do entretenimento construíram, juntas, a trilha das reconceituações constitucionais
da cultura em 1988. As atividades registradas no Boletim Iphan/FNpM sugerem também o
aprofundamento da hipótese de que a atual rede de museus do Iphan, gerenciada no momento pelo
Departamento de Museus e Centros Culturais, foi ampliada como forma de resistência ao regime
militar de 1964.
PALAVRAS CHAVES: Patrimônio Cultural. Museus. Iphan. FNpM.
ABSTRACT
This paper is based on the Iphan/FNpM Bulletin, periodical issued 1980 until 1988,presents part of
the research on MinC/Iphan museums network. Preserved buildings as a whole – museumshistorical
houses – covered local basis of community interaction, integrating them on an “aesthetic” mode with
government authority. Small cities turned into study objects for historians, art historians, sociologists,
anthropologists, archaeologists, architects and, last but not least, museologists. The Iphan/FNpM
Bulletin issues drew present need for infrastructure rebuilding, formconcept standards updating,
positively involving privatepublic organizations, profitablenot. One can also notice that, under FNpM
command, artentertainment professional organizations build together a track of 1988 culture new
concepts. Activities registered on Iphan/FNpM Bulletin also reinforce the theory according which
present Iphan museums network, managed by MuseumsCultural Centers Department, was extended
as an answer to 1964 military regime.
KEYWORDS: cultural heritage. Museums. iphan (national historicalartistic heritage institute). fnpm
(pro-memory national foundation).
A HORA E O PAPEL DOS MUSEUS DA FUNDAÇÃO
NACIONAL PRÓ-MEMÓRIA
THE TIME AND TNE ROLE OF MUSEUMS FOUNDATION OF
NATIONAL PRO-MEMORY
Maria da Conceição Alves de Guimarães
cessa.ntg@terra.com.br
2. FORUM PATRIMÔNIO: amb. constr. e patr. sust.,Belo Horizonte,v.3,n.2, jul./dez. 2009.
1.APRESENTAÇÃO
O trabalho que se apresenta a seguir foi realizado com base em registros do
Boletim Sphan/FNpM, e faz parte da pesquisa sobre a rede de museus do
MinC/Iphan. O Boletim FNpM, periódico editado entre 1979 e 1988, difundia as
idéias dos componentes do sistema federal de preservação em breves notícias e
reportagens, editoriais e pequenos ensaios. Naquela época, o Boletim manteve
periodicidade constante e, no que diz respeito à promoção das atividades da
Sphan/FNpM, substituiu a Revista do Patrimônio registrando fatos e atos da gestão
de Aloísio Magalhães e das equipes que o sucederam.1
Até hoje o Boletim – com cerca de 42 edições ou números – permanece
inexplorada fonte para o entendimento da geração de preservacionistas que,
liderada por Aloísio Magalhães, criou o Centro Nacional de Referência Cultural em
1975 e consolidou-o durante a Nova República.
Os registros pesquisados demonstram que a FNpM reorganizou o espaço “do
social” em pequenos museus no Brasil, transformando um programa arquitetônico
que, entre 1950 e 1964, estava politicamente agregado ao tipo "Centro Cultural
Polivalente". Portanto, na fase estertorante da ditadura militar, demandando esforço
intelectual e, ao mesmo tempo, cooptação política2, os espaços museológicos da
FNpM foram lugares especialmente voltados para a aplicação dos embrionários
ideais de integração dos espaços culturais.
Com base na leitura de Londres Fonseca (1996-97), é possível delinear, no Boletim
Iphan/FNpM, a tese contemporânea de que, naquela época, a consciência da
necessidade de reconstruir a infra-estrutura, redefinir e atualizar os padrões
conceituais e formais envolveu positivamente instituições governamentais e
privadas, lucrativas ou não. Verifica-se, ainda nessas mesmas edições que, sob a
liderança da FNpM em 1988, outras Fundações e organizações profissionais do
campo da arte e do entretenimento construíram a trilha das reconceituações
constitucionais da cultura.
Os planos para a então denominada “auto-suficiência” – hoje, gongoricamente
rotulada de sustentabilidade –, visavam “desencadear ações e mecanismos
indutores capazes de estimular processos de desenvolvimento sócio-econômico e
cultural, adequando esses elementos ao contexto real das cidades nas quais se
inserem”. (Boletim, nº 11, p. 16). Dessa maneira, o ente cidade, sob variadas
formas, assume o lugar de eixo gerador do novo e “jovem” nacionalismo
patrimonial.
No início do século 21, a necessidade de geração de maiores aportes financeiros
prioriza as revisões conceituais e amplia as responsabilidades das políticas que
privilegiam as atividades de reabilitação dos objetos patrimoniais. As operações de
“salvamento” se fixam em bens materiais, embora, paradoxalmente, consolidem a
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idéia de imaterialidade. Assim, os lugares da “memória e das culturas” ainda
ancoram os principais programas e políticas de governo. Esses programas,
apoiados pela iniciativa privada, parecem destinar-se à geração de emprego, renda
e oportunidades de desenvolvimento. Portanto, na cidade e para a cidade, o culto
ao monumento e o esquecimento das “coisas” materiais e imateriais se mantém,
transformando e reverenciando, ao mesmo tempo, pretensas mudanças.
Entretanto, a eficácia das respostas ao desafio de conciliar interesses político-
mercadológicos e conflitos conservacionistas torna-se, também, a condição básica
para a sobrevivência de grande parte ou, às vezes, da maior parte, dos habitantes
de pequenos centros urbanos. Alguns desses núcleos, situados em médias ou
pequenas cidades, são conjuntos e sítios históricos tombados que existem apenas
porque são ‘contenedores’ de bens patrimoniais, ou seja, museus urbanos em
formação.3
2. AS JANELAS DA PROMOÇÃO CULTURAL
Desde os passos colonizadores iniciais, na época da invasão holandesa, as
medidas preservacionistas priorizavam os edifícios e seus acervos.4 O século 19
reproduziu em nosso país o surto museístico europeu sendo o museu Real criado
em 1818 para, segundo palavras de d. João VI, difundir as Ciências Naturais no
Reino do Brasil. O museu encerrava, de acordo com o mesmo rei, “os objetos
dignos de observação e exame e que podem ser empregados em benefício do
Comércio, da Indústria e das Artes. ”5(LOURENÇO:1999:91).
Nas horas ainda pós-imperiais das primeiras décadas do século 20, quando
vigorava o primário regime democrático inicial, a origem republicana das atribuições
de definir, preservar e promover as expressões da cultura nacional revelava-se na
criação, em 1922, do Museu Histórico e Nacional (MHN). Neste museu, Gustavo
Barroso – reconhecido por suas idéias integralistas –, iniciou os cursos de
Conservadores de Museus e dirigiu a Delegacia dos Monumentos Nacionais,
quando nomeou de Monumento Nacional a cidade de Ouro Preto no ano de 1933.
Instalado no antigo Arsenal de Guerra, o MHN foi também fruto da reunião dos
museus de Artilharia e do Estado Maior do Exército (FONSECA DE CASTRO:
2002:5). Os artefatos das guerras feitas de feitos da infantaria e cavalaria do século
anterior pareciam correr lado a lado ao desejo irrefreável de progressismo
tecnológico. E, (por que não?), a constituição, no mesmo ano, da rádio oficial, tem
muito a dever a este impulso à memória. Resultado da confrontação de pares
opostos, no mesmo sentido em que se contrapõe aos avanços técnicos, o território
da memória era vetor de futuro.
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Em O patrimônio histórico e artístico e a missão da Universidade - discurso
pronunciado na UFBa quando, no ano de 1963, recebeu o título de doutor honoris
causa -, Rodrigo Melo Franco de Andrade declarou que:
“A função dos museus, na sociedade contemporânea, adquiriu tal relevo e tem
produzido tais benefícios culturais, que a criação de um deles, com a categoria e as
condições desejáveis, constitui realização de mérito indiscutível. Prova do valor
cada vez maior atribuído universalmente a essas instituições é sua multiplicação e
prestígio nos Estados de regime socialista, ao mesmo tempo que nos países mais
evoluídos no regime da democracia representativa.”
Nestor Goulart Reis Filho produziu no Quadro da arquitetura no Brasil, a abordagem
científica do sistema tipológico da arquitetura brasileira, do ponto de vista da
estruturação urbana. Além desse tema, conteúdo principal do livro, o autor delineia,
no último capítulo, (1970: 191-206) a “nova perspectiva” para a conservação de
prédios e conjuntos arquitetônicos que representam o patrimônio de cultura do país.
Assim, em 1970, ao publicar as notas e ensaios escritos a partir de 1962 no
Suplemento Literário de O Estado de São Paulo, Reis Filho antecipou comentários
sobre a importância de uma rede de museus e centros culturais. Embora precoces,
as observações deGoulart foram realizadas sob a luz de articulações criteriosas
tanto do ponto de vista da preservação patrimonial quanto do turismo e, portanto,
resistem até hoje.
“A noção contemporânea de museu”, aliada à essência renovadora do processo
cultural, e a “disponibilidade de quadros (..) amplos (...) atuando no campo da
cultura” no Rio, em São Paulo e em outras capitais de importância regional, fizeram
Reis Filho, então, afirmar:
“(....) falta uma rede de centros de cultura a partir dos quais seriam coordenadas,
em todas as áreas, as atividades culturais. Esses centros podem ser instalados em
edifícios restaurados ou conservados, obras arquitetônicas representativas de cada
fase, que seriam desse modo, postas em contato permanente com o público,
confirmando e reforçando sua destinação cultural.” (1970: 203)
Ao registrar as inúmeras conexões da trajetória da ação preservacionista com os
museus, a historiografia denota os grupos gerenciadores da legislação na condição
de agentes importantes para a criação e fortalecimento dessas instituições. No
século 20, as Inspetorias de Monumentos e o Serviço do Patrimônio prosseguiram
com a mesma política; e, para não fugir à regra, em 1979, ano de criação da
FNpM,6 os edifícios e os objetos históricos foram também monumentalizados na
condição de coisas excepcionais.7
O ‘espírito do Iphan’ pretendeu, a partir de 1970, alargar e dar mais a conhecer aos
cidadãos o imenso e amplo acervo que deveria preservar. Para tanto, a instituição
manteve uma política de preservação que visou, primordialmente, tornar todos os
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documentos da formação e da memória nacional acessíveis a todos. Esta atitude se
justificou porque, segundo os maiores colaboradores da FNpM, funda-se, nessas
expressões, a idéia de que todo cidadão brasileiro, então travestido em povo e não
mais em elite, fixaria e exerceria a cidadania, com a qual construiria e re-construiria
a própria história. (FONSECA, 1997: 153-163)
O início do século 21 parece pródigo em demonstrar a importância econômica dos
museus, ou seja, dos edifícios que guardam a parte mais valiosa da produção das
sociedades humanas. As dificuldades e os problemas que essas instituições
atravessam as enquadram no campo da gestão das coisas públicas e a mídia
impressa e visual insiste em expor as contradições e necessidades de seu
gerenciamento ao exibi-los na condição de âncora para as atividades turísticas das
principais cidades. Atualmente, a maioria dos museus existentes em centros
urbanos é composta de edifícios históricos com uso original alterado, o que faz com
que autilização apropriada e as condições de manutenção sejam pontos
imprescindíveis à conservação dessas expressões arquitetônicas.
No Brasil, as formas de tratamento dos bens culturais sob a guarda institucional da
União são expostas em museus grandes onde se destacam os seguintes: Nacional
de Belas Artes, República, Histórico Nacional e Imperial. Além desses, inúmeros
outros de diferente porte possuem acervos de expressão nacional são do tipo
galerias de arte e centros culturais, como o Paço Imperial; e ainda pequenos
museus, tais como: Chácara do Céu e Açude, Villa-Lobos e Benjamin Constant,
situados no Rio de Janeiro; e o museu de Arqueologia de Itaipu em Niterói, Museu
das Bandeiras em Goiás, e do Ouro em Minas Gerais.
Este conjunto, composto por grandes museus nacionais e mais de cinco dezenas
de casas e pontos difusores de cultura, história e arte, constitui o raio da ação
multifacetada do Iphan na linha das atividades museológicas e documentais. As
diferenças regionais abarcam as ações referentes à dinâmica educativa, o que leva
a supor a necessidade de um trabalho de ordem social. Sob diversos sentidos, no
que diz respeito à formação da mentalidade patrimonial, a atividade educativa é
prioridade importante para a formação de público, futuro gerador de recursos de
toda a ordem. Assim, diversa e democraticamente, tanto do ponto de vista material
quanto, algumas vezes, da perspectiva conceitual, tornam-se acessíveis ao público
– em salas de exposição, auditórios, bibliotecas e arquivos, parques e outros tipos
de espaços de arte, pesquisa, cultura e lazer – os objetos que guardam um variado
Brasil.
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3. O BOLETIM SPHAN E OS VÁRIOS INTERESSES DA FNPM
FIGURA 1 — Página do Boletim SPHAN
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O breve roteiro de temas da historiografia dos museus brasileiros que envolvem
algumas ações do sistema federal de preservação, apresentado a seguir, resulta da
pesquisa do Boletim SPHAN/próMemória (figura 1) que, conforme vimos
observando, talvez seja a publicação com o maior número de edições da área de
proteção aos bens culturais no setor federal preservacionista.
A diversidade de tipos de museu foi incrementada nesse período sendo inúmeros
os registros do Boletim sobre este assunto. Entre outros exemplos dessa variedade,
segundo os registros pesquisados, também tiveram incentivo constante da FNpM
os museus de rua – sem paredes, com o uso de painéis fotográficos –, os museus
monográficos e os de processos semi-industriais situados em pequenas
localidades.
O número Zero do periódico tinha o nome de Boletim SPHAN –, sigla da Secretaria
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que então completava 43 anos. A
definição (ou a “antidefinição”) de bem cultural, a urbanização rápida e a integração
do PCH e do CNRC ao Sphan foram os temas inaugurais. Nesse número, a história
administrativa, conceitual e operativa, bem como os principais objetivos desses
novos grupos institucionais preservacionistas, que privilegiavam o uso social, a
pesquisa, ou reflexão, em paralelo à busca das referências culturais, foi tratada
desde 1973 até 1979.8
O inicial número Zero foi pródigo em textos e matérias que destacavam um
pensamento renovador identificado com o enfrentamento da desigualdade social e
a participação de todos. Ao revelar que os bens culturais eram a “expressão
completa da qualidade de vida do homem” as idéias expostas incluíam que a
“realidade nova e o conseqüente crescimento turístico alteravam a visão iphaniana”
(Boletim SPHAN, nº 0, p. 1-3). Do ponto de vista físico, na cena patrimonial, o
conjunto arquitetônico sobrepunha-se ao monumento único, tornando-se a metáfora
da comunidade que substituía o indivíduo na luta pela proteção dos bens culturais.
O número 1 tratava do ato de formação do Fundo Nacional pró-Memória, onde a
identificação dos bens da Sphan no Patrimônio da União revelaria “um patrimônio
rentável, [que seria] enriquecido por um sistema de captação de recursos privados
e outros provenientes de agências federais de nível federal, estadual e municipal”
(Boletim SPHAN nº 1, p. 1). As notícias sobre o primeiro pedido brasileiro para a
inscrição na lista de Patrimônio Mundial da Unesco, ou seja, a cidade de Ouro
Preto, junto com a implantação do museu ao Ar Livre de Orleans em Santa
Catarina9, e o início da restauração do Solar Grandjean de Montigny da PUC-RJ,
são representativas dos assuntos de interesse deste artigo, constantes desse
Boletim nº 1.
Os programas de implantação de circuitos históricos abrangiam as principais
regiões do país. Em matéria do nº 14 (p. 21), a cidade-patrimônio era vista como um
museu e os centros históricos eram áreas com os seguintes predicados:
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sociais – porque eram espaços de vida e de trabalho;
culturais – por serem testemunhos da história e identidade;
econômicos – pelo fato de abrigarem democraticamente setores de atividades
formais e informais;
urbanísticos – porque eram legítimos exemplos arquitetônicos e de uso do solo; e
ambientais – pelo fato de estarem sujeitas a pressões de ciclos de transformação.
Para as equipes da FNpM, o estabelecimento de itinerários turístico-culturais, aliado
ao processo de desenvolvimento econômico de algumas das cidades capitais e dos
pequenos e médios municípios, calcava-se na intenção de “promover a preservação
natural de modos de viver” (Boletim SPHAN, nº 7, p. 1-3).10
Na década de 1980, a proteção das formas tradicionais de plantio e beneficiamento
de produtos agro-pastoris, em paralelo à reurbanização de monumentos e seus
entornos, tinha como pressuposto o envolvimento das comunidades – principais
beneficiárias dos centros culturais –, com o “turismo de veranistas”. Além de obras
de restauração de edifícios históricos, os documentos e objetos, casas, sobrados, e
até anexos de igrejas, foram restaurados para essa finalidade. As comunidades,
“apoiadas” por setores governamentais e empresas públicas e privadas, garantiram
a inclusão de culturas de imigrantes com a incorporação dessas culturas aos
acervos de museus.
A musealização de objetos patrimoniais artísticos, tais como o adro-escadaria do
Santuário de Congonhas, a agregação do museu acervo do naturalista Alberto
Ruschi para criar o Museu de Biologia Melo Leitão no Espírito Santo, e a reforma de
seis praças em Tiradentes – cujos projetos, desenvolvidos e executados por Burle
Marx, tiveram as obras financiadas pela Embratur –, são diferentes fatos que
revelam a visão unitária do turismo cultural voltado para a massa. Confrontando
atos de conservação e fatos originados na hegemonia da “exigência social”, as
ações eram integradas e envolviam educação e planejamento urbano com a
proteção de bens culturais.
A visitação de museus e alguns aspectos que cercam o tema foram tratados na
edição derradeira do Boletim. Esse número 42 foi especial pois trazia matéria sobre
o I Seminário Museus Nacionais: perfil e perspectivas. O Encontro, realizado em
junho de 1988 e organizado pelo sistema Sphan/PróMemória, imprimia ênfase ao
termo “sustentabilidade”; este assunto, embora não estivesse na época tão em
voga quanto hoje, era a “menina dos olhos” dos modelos administrativos então
vigentes que prenunciavam as parcerias público-privadas, com o enxugamento e a
diminuição do Estado. Portanto, de acordo com os organizadores, a característica
principal do Seminário, que abria “a discussão da temática museológica” à
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sociedade e priorizava a abordagem interdisciplinar, era “o fato de ter sido
financiado quase que exclusivamente pela iniciativa privada, através da Lei Sarney.”
(Boletim, nº 42, p. 2)
“A que público fala o museu, a quem estão dirigidos os seus serviços?”,
perguntava-se o antropólogo Antonio Augusto Arantes, hoje presidente do Iphan. A
socióloga Celina Moreira Franco dizia que “uma casa sem público está morta”. A
estas observações, além das discussões conceituais e soluções expográficas,
juntava-se o tema da atualização do programa arquitetônico em edifícios de
museus. Este foi um tópico da palestra da jornalista Marion Strecker, da Folha de
São Paulo, quando afirmava que, para aumentar a freqüência de público, os
museus “precisam ter mais atrativos: uma boa biblioteca, livrarias, lojas,
lanchonetes, shows.”
Por outro lado, a professora e designer Silvia Steinberg acreditava que “o público
apreende muito pouco” durante a visita a uma exposição. Segundo Steinberg e
Maria Célia Moura Santos, o maior problema dos museus não era a falta de público
e, sim, a ausência de postura política que garantisse uma identidade brasileira de
fato; ambas confessam que a museologia brasileira, sem análise ou reflexão,
reproduz um pastiche do que existe no exterior. (Boletim, nº 42, p. 4-7).
A freqüência aos museus, em termos quantitativos, foi abordada por Gilberto Velho,
professor e antropólogo que trabalha no Museu Nacional da UFRJ. Para Velho, o
público de 50 mil pessoas por mês era atraído pelo acervo, composto de múmias e
esqueletos de dinossauros, e pelo fato de o edifício ser o antigo Paço Imperial,
onde viveram os imperadores do Brasil.
Embora o poder de atração, exercido pelo fato da acessibilidade aos objetos reais,
ainda constituísse a “peça de resistência de qualquer mostra”, os aspectos que
relacionavam os veículos de comunicação de massas com a freqüência e formas de
visitação foram enfocados por diversos profissionais do setor televisivo e por
museólogas. No entanto, a unanimidade das opiniões deixou claro que não havia
experiências nem resultados satisfatórios e que as fórmulas para ampliar o número
de visitantes também não eram precisas.
Segundo Thomas Seligman, um dos convidados americanos presentes ao
Seminário, existia naquele país “quatro mil museus, jardins botânicos, zoológicos e
centros de arte classificados como de caráter beneficente, isentos de impostos”. A
ajuda do setor público não era suficiente e havia uma ampla faixa de público
disposta a colaborar com a manutenção; além disso, afirmava Seligman, nos
Estados Unidos, àquela época, a quantidade medida pela freqüência era de “cem
milhões de pessoas por ano, curiosamente mais de que todos os eventos
esportivos.”
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4. MARKETING & AUTO-SUFICIÊNCIA: SUSTENTABILIDADE?
Em 1988, o termo da moda na área cultural era o marketing. Portanto, um dos
assuntos mais polêmicos no Seminário foi a “possibilidade da utilização de técnicas
do marketing para aprimorar o desempenho dos museus”.
Para Maurício Segall, diretor do Museu Lasar Segall, o museu “não devia integrar a
sociedade de consumo de massa” porque “são foros de resistência” e “assim
devem permanecer.” Para a artista plástica Fayga Ostrower “a freqüência não deve
ser superdesejada, utilizando-se o marketing e o merchadising de forma
exagerada”. Ao referir-se a uma exposição sobre Van Gogh que visitou nos Estados
Unidos, Ostrower dizia que, após percorrerem a mostra, “os visitantes caíam num
shopping com todas as peças promocionais possíveis sobre o pintor – sacolas,
bolsas, livros, lenços etc”. E concluía: “Era isso a tragédia de Van Gogh?”
Entretanto, mais de uma vez, a crítica ao excesso de experimentalismo das ações
destinadas a ampliar o número de visitantes e a conservação dos museus conduziu
à importância do marketing em projetos de modernização porque “resolveria a crise
de auto-suficiência” ou, se quisermos usar vocábulos mais atuais, ´a questão da
sustentabilidade’.
Com base nas discussões sobre o assunto, os mais de mil e duzentos museus
existentes em 1988 tratariam de viabilizar-se economicamente. Para José Carlos
Barbosa, então diretor do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tornando-se “pontos
de mídia e referências culturais para as cidades”, ao atualizar linguagens, ampliar a
dinâmica funcional e, em suma, visar a eficácia utilizando estratégias agressivas de
marketing, os museus superariam a crise de demanda e falta de público.
A auto-suficiência resultaria da implantação do modelo, seguido desde 1978 em
alguns museus americanos, que previa: “venda de livros, slides e reproduções do
acervo; aluguel de espaços para encontros de negócios e festas de aniversário;
recursos provenientes da iniciativa privada captados pelo Conselho Curador;
trabalho de voluntários; e, principalmente, a contribuição de associados.” (Boletim,
nº 42, p. 11)
O efeito multiplicador, um dos principais atributos da auto-suficiência, deveria ser
resultado das ações voltadas a captar de recursos; desse modo, segundo Ricardo
de Holanda, criavam-se “as condições para o desenvolvimento de uma mentalidade
voltada para o marketing e para o entrosamento com a iniciativa privada.”
A então coordenadora-geral de acervos museológicos do sistema
Sphan/próMemória, Maria de Lourdes Parreiras Horta, atual diretora do Museu
Imperial de Petrópolis, afirmava que, para os americanos, o hábito de freqüentar
museus era uma atitude moderna,
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fazia parte do cotidiano (...) assim como ir a um restaurante jantar. Na
França, freqüentar museus é ser francês, é motivo de profundo
orgulho da tradição museológica e do patrimônio que está nos
museus. Na Alemanha, de museus moderníssimos, ser intelectual ou
artista é freqüentar museu. Bem como freqüentar museu na Inglaterra
é ser um gentleman. Já no Brasil freqüentar museu não é nada
disso. Freqüentar museus no Brasil é ser exótico, infelizmente.
(Boletim, nº 42, p. 16)
5. OS MUSEUS DO RIO EM REDE
FIGURA 2 — Museus e marcos históricos no Rio de Janeiro
A pesquisa do Boletim possibilita ainda a compreensão do processo de decadência
do Rio de Janeiro, que parece perder a condição de centro da cultura de “alto
espírito”. Neste sentido, inicialmente admitimos que o policentrismo urbanístico e a
proliferação de oportunidades no comércio dos bairros recuperaram os diferentes
centros para as atividades de entretenimento e lazer populares. Entretanto, em
oposição a este fato, consideramos também que o forte contraponto estabelecido
pela sempre emergente Barra da Tijuca cristalizou a idéia de centro histórico do
Centro do Rio. E, que, até hoje, a antes progressista Área Central de Negócios não
se arrisca a dispensar este significado. Nessa perspectiva, verifica-se que os
edifícios dos principais museus (figura 2) têm papel de importância crescente no
trabalho de requalificação do centro da cidade.11
O Boletim da FNpM, nº 34 do mês de janeiro de 1985, contém matérias sobre a
restauração e nova utilização do Paço Imperial. Transformado em centro cultural e
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“devolvido à comunidade”, o edifício, que passava completamente a ser
administrado pelo Iphan, abrigaria “exposições, recitais de música, seminários,
projeções de filmes, encenações teatrais, venda de produtos culturais, além de
mostras sobre o edifício e as descobertas arqueológicas”. Em paralelo, essa
mesma edição promovia também a Casa da Hera, situada em Vassouras, na
condição de arquitetura colonial urbana “da época do café”, administrada pelo Iphan
desde 1965.
FIGURA 3 — Croquis de L.C. Antonelli para a exposição permanente do MHN em 1985.
O nº 35 registrava a modernização das técnicas do circuito da exposição
permanente do MHN (figura 3) e o projeto de transformação do Sítio Burle Marx em
“centro de estudos, pesquisas, seminários e outras atividades que contribuam para
o conhecimento e valorização do paisagismo”.
Na edição nº 38 do Boletim, mais uma vez o Paço Imperial era citado na condição
de “um dos principais centros culturais do país”; portanto, a previsão do fechamento
da rua da Assembléia e a instalação de cafeteria – considerada projeto inovador em
termos de Brasil, “onde as casas de cultura não têm a tradição de prestar esse tipo
de serviço” foram os destaques da matéria, publicada em maio de 1987.
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Prosseguindo, é importante notar que, em julho de 1985, o Boletim nº 37 noticiava
que o museu da Imperial Irmandade de N.S. da Glória era “um museu-piloto no Rio
de Janeiro” porque o processo de revitalização do acervo previa a organização e
restauração das peças, da mesma forma que o uso de equipamentos eletrônicos,
adequados a corretos e científicos modos de acesso e conservação.
A origem e a criação da Casa França-Brasil foram também motivos para promover,
na edição nº 36, a museografia com o emprego da informática, com base na
parceria da Fundação Roberto Marinho e do Inepac com o Conselho Nacional de
Pesquisa Científica da França. A atuação ‘modernizada’ para o uso do espaço pela
comunidade prenunciava-se também com a “nova filosofia de trabalho” do museu
da República que, em junho 1985, segundo o mesmo nº 36, programava uma
atuação mais dinâmica dos núcleos museológicos.
6. TÓPICOS PARA CONCLUSÃO
A interpretação dos fatos promotores das atividades museológicas, constantes no
Boletim comprova que, na primeira década perdida, a perspectiva virtual de
utilização “em rede” garantiria a manutenção da estrutura física dos bens culturais.
Ao lado das “novas” formas estéticas de representação do pensamento e da
“equilibrada” ação política, o conjunto de museus da FNpM reinaugurou no Brasil
novas estratégias administrativas. Essa “atitude” foi compulsória, pois resultou da
aliança com a transnacional industria cultural capitalista. Desse modo, as formas de
gerenciamento que essas instituições conduziram têm pontos em comum com as
atuais Parcerias-Público-Privadas.
Então, hoje é possível afirmar que apesar (ou seria por causa?) da situação
precária e necessidade constante de modernização da maioria dos seus
componentes, a rede de museus do IPHAN possuiria os seguintes atributos:
- potencialidade de garantir impacto midiático porque os bens culturais
arquitetônicos gerariam atividades turísticas direta e indireta;
- potencialidade sinérgica porque o sucesso de cada um desses bens culturais
dependeria do êxito de outros;
- capacidade de catalisar a conservação dos núcleos históricos porque integraria,
com o objetivo de equilibrar, a distribuição dos investimentos privados e
governamentais, beneficiando as economias em níveis locais, regionais e nacionais.
O contexto atual demonstra que, quando a cultura é um “abre-alas”, os empresários
vêm “atrás fazendo negócios”.12 Neste sentido, é importante ressaltar a proliferação
da Associações de Amigos dos museus que abrange as contemporâneas
discussões sobre as Parcerias Público Privadas, destinadas a concretizar as ações
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para modernização dos edifícios. Finalmente, destaque-se que a eficaz atuação do
binômio Cultura & Desenvolvimento, conforme se deduz das leituras e referências
sobre as políticas de governos citadas no Boletim, é fruto de investimentos
abrangentes em infra-estrutura. E, ainda mais, envolve a articulação de diversas
instâncias governamentais e privadas, além da participação ativa de
´desinteressados´ componentes de grupos das comunidades.
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REFERÊNCIAS
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B4.
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CHOAY, F. L’alegorie du patrimoine. Paris: Éditions du Seuil, 1992.
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preservação nos anos 70 e 80. Revista do Patrimônio, São Paulo, n. 24, p. 153-
163, 1996.
_____. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no
Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ / IPHAN, 1997.
GUIMARAENS, C.; IWATA, N. Construindo a cultura na idéia de Centro. São Paulo:
Vitruvius online, 2002. Disponível em: <www.vitruvius.org.br>
GUIMARAENS, C. e POLLY, V. Inventário dos museus do Rio de Janeiro: sobre
conceitos e alguns resultados. Petrópolis: Congresso do ICOM-Brasil, 1998.
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2002.
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PROTEÇÃO e revitalização do patrimônio cultural no Brasil: uma trajetória. Brasília:
MEC/ SPHAN, 1980.
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1998. p. 8.
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VERÍSSIMO, L.C. Cooptação. O Globo. 5/12/2004, p. 7.
WERTHEIM, J. Patrimônio e gestão urbana. O Globo, 23/6/2003, p.7.
1Na fase de consolidação da Fundação Nacional pró-Memória, a atividade de
restaurar edifícios para a finalidade museológica estabeleceu o momento singular
de renovação e fusão das expressões tradicionais e modernistas no campo da
preservação do patrimônio cultural. A ênfase que cercava o trabalho didático e
difusor dos museus era uma das bases da política que priorizava as parcerias com
as comunidades.
2“O termo “cooptar”, no sentido de se apoderar malandramente, dominar
absorvendo ou modificar adaptando, é relativamente recente. Começou em
linguagem de suplemento para descrever como qualquer movimento cultural novo
acabava sendo domesticado e integrado à cultura mediana. Um fenômeno da era
da publicidade e da obsolescência instantânea, em que a vanguarda de um dia vira
o corriqueiro do outro e tudo feito para espantar os burgueses, os burgueses
adoram. E adotam.” (VERÍSSIMO, 2004).
3Na Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2001, divulgada em dezembro
de 2002 pelo IBGE, consta que apenas 17% dos municípios brasileiros possuem
museus. (FOLHA, 14/12/2003. p. C4).
4Ver: Proteção e revitalização do patrimônio cultural no Brasil: uma trajetória.
Brasília: MEC, 1980.
5O Museu Real, hoje Museu Nacional da UFRJ, originou-se de uma coleção
mineralógica e do patrimônio de bichos empalhados da Casa dos Pássaros; criada
em 1779, a Casa pode ser considerada o primeiro museu de história natural
brasileiro.
6Até hoje, o período de Aloísio Magalhães – o criador da Fundação Nacional pró-
Memória – tem grande importância por ter acontecido em tempos do “Brasil
grande”, quando a transição “democrática” ainda era conduzida veladamente e,
portanto, de forma ambígua e, se não, autoritária. Porém, em tempos de início da
crise do “milagre econômico”, o discurso em que se espelhava a estrutura básica da
pró-Memória ou FNpM privilegiava a participação das comunidades e era vivido
lateralmente à ampliação da crença de que a variada realidade brasileira,
preservada, se integraria ao processo de desenvolvimento. Na revisão das idéias-
matrizes, aquelas geradas também em outra fase decadente (a do final do governo
Vargas), os incluídos seriam os excluídos, mas com nova roupagem.
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7Na década de 1970, as políticas culturais do governo militar de que participaram,
entre outros, Jarbas Passarinho, Ney Braga, Eduardo Portella e Afonso Arinos de
Melo Franco, foram, mais uma vez, expressivas da consciência dos intelectuais
sobre as possibilidades de uso político da cultura. Nessa época, foram criadas
novas oportunidades de ampliação das bases conceituais e das atividades
preservacionistas.
8Verifica-se que, tanto na Revista, quanto no Boletim, as obras de restauro detêm a
maior quantidade de referências. Portanto, considero que, embora a
sustentabilidade não constituísse objetivo claro, a restauração dos edifícios
tombados e dos bens a estes integrados era o eixo da promoção patrimonial
superando, em número, as outras atividades.
9O museu ao Ar Livre de Orleans teve o arquiteto Alcides da Rocha Miranda como
“consultor para a distribuição espacial” (Boletim nº 7, p. 1-3).
10O plano de Museus e Casas Históricas, ao prever a criação de centros culturais
sob a gestão do sistema Sphan/FNpM, também expressava esse objetivo.
11A discussão sobre a filial sul-americana do Guggenheim faz emergir, literalmente,
a Zona Portuária do Centro do Rio que, programada para receber moradores de
baixa-renda, se vê alçada a níveis estratosféricos na bolsa de arte internacional.
12As aspas referem-se às palavras de Edmar Cid Ferreira que foi presidente da
Bienal de São Paulo em 1992, criou a empresa Brasil Connects em 2001, trouxe
mega-exposições para o Brasil e “para forjar sua imagem de mecenas, levou
mostras de arte brasileira para Nova York e Pequim e tem três exposições
agendadas para 2005 em Paris. Cid Ferreira dizia que era a reencarnação de Assis
Chateaubriand, o empresário que criou o Masp em 1947. Esses personagens
podem ser comparados a Roberto Marinho por suas amplas redes de atividades e
negócios ligados à promoção da “cultura do espírito”, tanto para a elite quanto para
a população “em geral”. (FOLHA, 2004)