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O Antigo Regime e a Sociedade de
Ordens
Por Raul Silva
Na Idade Moderna vigorou na Europa uma economia de tipo pré-industrial caracterizada por uma
base agrícola e pelo atraso tecnológico. A debilidade tecnológica não permitia aumentar a
produtividade, logo, o aumento da população era afectado pelas fomes.
As crises demográficas caracterizavam-se por um crescimento elevado das mortes para o dobro ou o
triplo da Taxa de Mortalidade corrente, acompanhada por uma quebra muito acentuada nos
nascimentos e dos casamentos, a que se seguia uma fase de recuperação da crise, restabelecendo-se os
índices habituais de mortalidade, natalidade e nupcialidade.
No século XVII, em virtude do arrefecimento climático, as colheitas apodreciam, pelo que o preço dos
cereais se elevava e, em consequência, os mais pobres eram atingidos pela fome.
Por seu turno, a fome tornava os corpos menos resistentes às epidemias: peste negra, peste bubónica,
difteria, cólera, febre tifóide, varíola, tosse convulsa, escarlatina, tuberculose, malária, sífilis e outros males
saltam de região para região, de cidade para cidade. A falta de condições de higiene e de assistência
médica, em especial nas cidades, agravavam o panorama das crises populacionais.
Somava-se a estes dois fatores a guerra, responsável por um número elevado de perdas humanas, quer
pelo confronto entre tropas inimigas, quer pelos efeitos da passagem dos exércitos pelas aldeias. Com os
exércitos marcham também as epidemias que sempre proliferaram nas concentrações excessivas de
homens, sobretudo numa época em que se desrespeitam as mais elementares regras sanitárias.
CADERNODIÁRIO
EXTERNATO LUÍS DE
CAMÕES
N.º 5
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17deNovembrode2014
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CADERNODIÁRIO17deNovembrode2014
Os lares europeus
e a economia pré-
industrial
in Mémoires des Intendents sur l’ état des
Généralités, 1687
Verificámos que, quase por todo o lado,
o número de famílias diminuiu. (…)
Que lhes aconteceu? A miséria
dissipou-as. Debandaram-se para pedir
esmolas nas cidades e acabaram por
morrer nos hospitais ou pelo caminho.
Já não se vêem, nas aldeias e pequenas
vilas, jogos ou divertimentos; tudo aqui
desfalece; tudo está triste porque a
alegria e o prazer só se encontram na
abundância e eles mal conseguem
sobreviver.
Mas onde se pode conhecer, melhor
que em qualquer outro lado, a miséria
dos camponeses é nos seus lares, onde
se encontra uma pobreza extrema.
Dormem sobre a palha; não possuem
outro vestuário senão o que trazem
vestido e que se apresenta em péssimas
condições; não possuem móveis nem
qualquer outro equipamento para a
vida: enfim, tudo neles representa
necessidade.
O Antigo Regime
uma sociedade de
ordens
Na Idade Moderna vigorou na Europa
uma economia de tipo pré-industrial
caracterizada por uma base agrícola e
pelo atraso tecnológico. A debilidade
tecnológica não permitia aumentar a
produtividade, logo, o aumento da
população era afetado pelas fomes.
As crises demográficas caraterizavam-
se por um crescimento elevado das
mortes para o dobro ou o triplo da
Taxa de Mortalidade corrente,
acompanhada por uma quebra muito
acentuada nos nascimentos e dos
casamentos, a que se seguia uma fase
de recuperação da crise,
restabelecendo-se os índices habituais
de mortalidade, natalidade e
nupcialidade.
No século XVII, em virtude do
arrefecimento climático, as colheitas
apodreciam, pelo que o preço dos
cereais se elevava e, em consequência,
os mais pobres eram atingidos pela
fome.
Por seu turno, a fome tornava os corpos
menos resistentes às epidemias: peste
negra, peste bubónica, difteria, cólera,
febre tifóide, varíola, tosse convulsa,
escarlatina, tuberculose, malária, sífilis e
outros males saltam de região para
região, de cidade para cidade. A falta de
condições de higiene e de assistência
médica, em especial nas cidades,
agravavam o panorama das crises
populacionais.
Somava-se a estes dois fatores a guerra,
responsável por um número elevado de
perdas humanas, quer pelo confronto
entre tropas inimigas, quer pelos efeitos
da passagem dos exércitos pelas aldeias.
Com os exércitos marcham também as
epidemias que sempre proliferaram nas
concentrações excessivas de homens,
sobretudo numa época em que se
desrespeitam as mais elementares regras
sanitárias.
No Antigo Regime, tal como na Idade
Média, a sociedade encontra-se
fortemente hierarquizada em ordens ou
estados. O poder, a ocupação, a
consideração social de cada indivíduo
são definidos pelo nascimento e
reforçados por um estatuto jurídico
diferenciado.
A sociedade do Antigo Regime divide-
se, então, em três ordens ou estados: o
clero, a nobreza e o povo ou Terceiro
Estado, multiplicadas por várias
subcategorias.
Responder:
a) Caraterize a demografia pré-
industrial
b) Descreva a vida dos
camponeses na Europa do
século XVII
c) Caraterize a sociedade do Antigo
Regime
Pesquisar:
Demografia, taxa de natalidade, taxa de
mortalidade, Antigo Regime, sociedade
de ordens, Louis de Nain
Refletir:
http://externatohistoria.blogspot.pt/
2014/03/a-sociedade-de-ordens.html
“Todos suspeitavam uns
dos outros e se
afastavam mesmo que
fossem parentes ou
amigos. (…) A cada
passo se encontravam
corpos caídos (…).
Dentro das casas
encontrávamos, na
mesma cama, um doente
a dar o último suspiro,
outro desesperado e um
terceiro a dormir um
sono profundo”
Jean Grillet
Crises demográficas
Em 1661, a esperança média de vida atingiria
os 25. Estes números brutais significam que,
nesse tempo, tal como o cemitério estava no
centro da vila, a morte estava no centro da
vida.
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O clero, considerado o primeiro estado, é o único
que não se adquire pelo nascimento, mas pela
tonsura e goza de imunidades e privilégios
(isenção fiscal e militar) e beneficia do direito à
cobrança do dízimo, desempenhando altos cargos,
que lhe conferem grande prestígio e consideração
social.
A nobreza constitui o segundo estado, sendo uma
peça fundamental para o regime monárquico.
Como ordem de maior prestígio, organiza-se
como um grupo fechado, demarcado pelas
condições de nascimento, pelo poder fundiário,
pela sua função militar e desempenho dos mais
altos cargos administrativos que lhe conferem
poder, riqueza, ostentação e grande prestígio. A
sua categoria e prestígio social era muito díspar,
contudo o seu estatuto legal conferia-lhe um
conjunto de privilégios (isenção de pagamentos ao
Estado, excepto em caso de guerra, regime
jurídico próprio, usufruto de alguns direitos de
natureza senhorial).
O Terceiro Estado é a ordem não privilegiada,
inferior na consideração pública. É a ordem
tributária por excelência, de composição muito
heterogénea, cujas diferenças residem
essencialmente na actividade profissional e modo
de vida. Assim, podemos salientar o estrato dos
camponeses, o da burguesia (constituído tanto por
mercadores como financeiros – banqueiros e
cambistas, por letrados – advogados, notários e,
por fim, artesãos, trabalhadores assalariados não
qualificados, geralmente associados ao trabalho
braçal).
A sociedade de ordens é sobretudo uma sociedade
de símbolos. A distinção faz-se através dos trajes
(reservando-se o uso de certos tecidos, de certos
adornos como a prata para a nobreza), das formas
de saudação e tratamento que se adoptavam e a
que tinham direito pela sua condição social (por
exemplo, um eclesiástico receberia o tratamento
de Sua Eminência, Sua Excelência ou Sua
Senhoria, Vossa Mercê ou Dom). A este
tratamento correspondia também um conjunto
rígido de regras de protocolo, sendo todos os
comportamentos previstos. Mesmo a forma como
se apresentavam em público, acompanhados de
menor ou maior número de criadagem, dependia
da sua posição social.
Responder:
a) Diferencie as três ordens, a sua
composição e o seu estatuto
b) Reconheça, nos comportamentos, os
valores da sociedade de ordens
Refletir:
http://externatohistoria.blogspot.pt/2013/10/
manifestacoes-da-hierarquia-social-no.html
“Não podemos viver todos na mesma
condição. É necessário que uns
comandem e outros obedeçam. Os
que comandam têm várias categorias
ou graus: os soberanos mandam em
todos os do seu reino, transmitindo o
seu comando aos grandes, os
grandes aos pequenos e estes ao
povo.”
Charles Loyseau
A sociedade de ordens
e a hierarquia social
CADERNODIÁRIO17deNovembrode2014
Privilégios da
nobreza
A diversidade de
estatuto estava
plenamente patente
no regime jurídico.
Normalmente, os
nobres estavam
isentos das penas
consideradas mais
vis, como o
enforcamento, e eram
poupados às
humilhações e
exposições públicas.
Hierarquia social
e as suas manifestações
in Retrato e reverso do Reino de Portugal
Ao nobre parece não existir nobreza semelhante
à sua, pelo que julga que todos os outros lhe
ficam muito atrás. Procura, em todas as coisas,
fazer como fazem os reis ou príncipes (…). Em
casa chama os criados pelo nome dos seus cargos:
mordomo, secretário, criado de quarto, moço das
cavalariças (…).
Só estuda questões de gravidade e etiqueta
porque é em coisas como estas e não na virtude
que consiste a nobreza. Ponderam a quem devem
tratar por tu, por Vós, por Mercê, por Senhoria,
por Excelência e por Alteza, porque o título de
majestade ainda lá não chegou. (…) Dão tratos à
cabeça para pensar a quem devem tirar o chapéu
(...). Estudam, por fim, que todos os seus actos
sejam medidos com termos de gravidade mais do
que cansativos.
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O filme conta a história da jovem rainha da
França do século XVIII, Maria Antonieta.
A princesa austríaca Maria Antonieta é enviada
ainda adolescente à França para se casar com o
príncipe Luis XVI, como parte de um acordo
entre os países.
Na corte de Versalhes, ela é envolvida em rígidas
regras de etiqueta, ferrenhas disputas familiares e
fofocas insuportáveis, mundo em que nunca se
sentiu confortável. Detestada pela corte francesa,
Maria Antonieta também ganhou gradualmente a
antipatia do povo, que a acusava de perdulária e
promíscua e de influenciar o marido a favor dos
interesses austríacos.
Praticamente exilada, decide criar um universo à
parte dentro daquela corte, no qual pode se
divertir e aproveitar sua juventude. Só que, fora
das paredes do palácio, a revolução estava prestes
a explodir.
Refletir:
a) Identifique, a partir da figura da rainha
Maria Antonieta, as características da corte
do Antigo Regime
b) Comente os costumes época
“No topo da hierarquia social, o rei
afirma-se como poder único, absoluto
e sacralizado. A sua autoridade
reforça-se, quer pela mão dos
teóricos, quer pela determinação e
arrojo político de alguns monarcas.
Dentre todos, emerge Luís XIV,
paradigma do próprio absolutismo, tal
como o seu palácio, Versalhes, se
tornará no símbolo da magnificência e
do culto da pessoa régia.”
Piganiol de la Force
Marie Antoinette
a vida na corte de Versalhes
in imdb.com
CADERNODIÁRIO17deNovembrode2014
Marie Antoinette
Filme
Sofia Coppola
2006
127 minutos