O documento discute a importância de retomar o serviço de transporte marítimo entre o Centro de Ilhéus e o bairro do Pontal, usando lanchas. Descreve a história das lanchas que operavam nessa travessia no passado, mencionando seus nomes e características. Também destaca que a volta deste serviço traria benefícios não apenas para o transporte, mas também para o turismo na região.
1. TRAVESSIA PONTAL/ILHÉUS – AS LANCHAS
Vai e volta, o tema sobre a travessia Pontal/Centro, via
transporte marítimo vem à tona. E não tem como esquecer isto,
ainda mais agora, que o trânsito está cada vez mais um caos e
uma cidade que cresce assustadoramente, com tantas
construções de edifícios e mais moradores para zona sul, além
de vários empreendimentos que já estão saindo do papel, para
definição total, como é o caso da Ferrovia Leste Oeste, Porto
do Minério, Aeroporto Internacional, a duplicação da Rodovia
Jorge Amado (BR-415) e Zona de Processamento de
Exportação (ZPE).
Se realmente nada for feito, Ilhéus deverá parar sobre e sobre
a ponte, sem que se possa mover uma simples palha no
palheiro, de um lado para outro. Que viver, verás.
É difícil, para nós leigos entendermos, que empresários não
atentem para isso, e não disponibilizem este Meio de
2. Transporte em tempo. A não ser que os entraves sejam outros,
que desconhecemos.
Pontal e o Centro poderiam ser um
grande estacionamento, bem mais
confortável, eficiente e acima de tudo,
prático e rápido.
Guy do Sarafo e Zé Leite, dois cidadãos que
lutam pelo retorno das lanchas.
Tudo isso, se conseguíssemos por em
prática, o que no passado foi à solução
entre os dois extremos.
Temos conhecimento, que desde 1991,
existe uma Lei de número 2404, que já foi
alvo de nossos comentários em 14.01.2008, no site
www.r2cpress.com.br, com o título: Pontal – Travessia de
Lancha já tem Lei.
O texto de 1991 autoriza a concessão de serviço de transporte
coletivo marítimo entre o Centro de Ilhéus e as localidades de
Pontal, Teotônio Vilela, Maria Jape e Rio do Engenho.
Inclusive, foi uma iniciativa
do “cidadão ilheense”, José
Leite de Souza, quando
exercia a presidência da
CDL, que reivindicou ao
então prefeito João Lírio, e
daí para a Câmara de
Vereadores, que foi
aprovado por unanimidade.
3. Somos sabedor da importância da volta desta travessia, e
agora então, com lanchas mais modernas; e quem vem sempre
batendo nesta tecla é amigo Guy Valério do Sarrafo, é que
insistimos mais uma vez pela volta das lanchas.
A travessia mais rápida e simples poderá ser entre, a Praia do
Cristo e a Maramata, enquanto a PROMESSA da nova ponte,
não saia em definitivo do papel e a “toque de caixa”.
Até as empresas Viametro e São Miguel, poderiam tomar a
iniciativa e disponibilizassem com clareza todo o processo e
valor da passagem, e na pior das hipóteses fosse o mesmo
preço dos coletivos urbanos.
Se tiver outros interessados na administração/execução desta
travessia, seria a hora de regaçar as mangas e aproveitar para
obter lucros.
(Porto das Lanchas – Jorge Amado. 1923 – Acervo Marilson
Bittencourt)
Isto pode ter certeza, pois a volta das lanchas, não será
apenas para travessia, mas para passeios, pelos nossos rios e
4. pontos atrativos, não só por turistas, como também pelos
cidadãos ilheenses, que iriam finalmente conhecer uma nova
Ilhéus, que é de conhecimento de poucos.
VOLTANDO AO PASSADO DAS NOSSAS LANCHAS, BESOUROS E
CANOAS
Eu acho que poucos bairros de Ilhéus tenham tantas histórias
pra contar. O Pontal por não estar totalmente inteirado até
1966 com o centro da cidade e com os demais bairros,
vivíamos praticamente isolados. Era como aqui se fosse outra
cidade, até nos chamavam de “índios”.
Quando criança, ouvi dizer de uns dois casos de rapazes que
moravam do outro lado, terem que retornar a nado,
principalmente quando tentavam namorar alguma “menina” do
bairro, quando esta “menina” já era cobiçada por um
pontalense.
Até 15 de agosto de 1966, o bairro do Pontal interligava-se com
o centro da cidade via travessia em embarcações tipos:
lanchas, “besouros”, e canoas. E nada tão oportuno começar
com uma foto de
1923, tirada no Porto
das Lanchas e nada
menos com Jorge
Amado com 11 anos,
ao lado de seus pais,
o coronel João
Amado de Faria e
sua mãe Eulália Leal
Amado.
Lancha – 1965 – Acervo: Edilson Carvalho Silva
5. As lanchas maiores
acomodavam até oitenta
passageiros, já os
“besouros” comportavam
aproximadamente quatro
pessoas e eram mais
usados por fretamento,
por aqueles que não
queriam aguardar os
horários estabelecidos
de saídas das lanchas e
que tinham um poder
aquisitivo maior.
As canoas eram
utilizadas para o
transporte de
cargas, travessia
de carros e
caminhões, ou
ainda eram
utilizadas como
último recurso
pelos
“atrasadinhos”, que não partiam até às 23 horas, limite de
encerramento na travessia por lanchas.
Dos donos e ou condutores de “besouros” lembro-me de: Mané
Paquete, Zé Gato, Arlindo, Ednaldo (Nego Frequete) e de
canoas os senhores: Joventino, José Domingos (Pernalonga),
Antenor, Alcídes e Rodão.
As lembranças nos levam a citar as lanchas com suas
denominações e características: UBAITABA, NÚBIA, BAIANA,
IRAPUAN, APORÁ LAVIGNE e CRISTALEIRA; movidas à
6. gasolina, excetuando
a “Cristaleira”, que era
movida a diesel e
tinha suas laterais
visuais (proteção
contra chuva) toda em
vidros, daí esta
Porto das Lanchas –
Pontal e Centro/Ilhéus.
1962 – Acervo: Marilson)
denominação, as demais eram
protegidas por lonas. A Ubaitaba era
a mais exuberante; a Irapuan a mais
luxuosa, seus assentos eram
acolchoados; a Baiana foi a única a
pegar fogo no dia 25 de maio de
1963, num sábado, por volta das
12h30min, próximo a “boca da barra”, era como chamávamos o
local em frente ao Cristo, na
entrada da baía do Pontal.
Nesse incêndio ficaram dois
registros inesquecíveis – a
bravura do delegado de polícia
de Ilhéus, o Sr. Oscar Armando
de Souza Gallo (Dr. Gallo), que
salvou principalmente
crianças e mulheres
com suas sacolas,
colocando-as nas
embarcações que
vieram ao socorro e
só pulando no mar
quando seu paletó já
estava em chamas,
vindo há falecer 45
7. dias depois, não resistindo às queimaduras. O outro foi à
coragem e determinação da jovem Olga Bezerra, de apenas 10
anos, filha de Moacir Bezerra, um caminhoneiro muito
conhecido do bairro, que fez a travessia a nado até a praia do
Pontal. Todos os demais passageiros foram resgatados por
diversas embarcações.
Lancha em construção. 1957 –
Acervo: Agnaldo Macedo)
Porto das lanchas –
Pontal- Chegada da Miss
Flori.
Para colocar uma
lancha em movimento
era necessário contar
com os seguintes
profissionais: o proeiro (responsável pela atracação, colocação
da “prancha” para embarque e desembarque, e ainda auxiliava
os passageiros na subida e descida pela prancha das
embarcações); o mestre
(responsável pela
condução da
embarcação) e o
motorista/cobrador
(responsável pela
mecânica do motor e
ainda por algum tempo
como cobrador das
8. passagens ou recebedor dos bilhetes, quando vendidos nas
bilheterias no porto das lanchas).
Profissionais dessa época: Proeiros: Deraldo, Toroco,
Manezinho, Zé Biquinha, Chiquinho, Ailton, Luizão, Bananal.
Mestres: Didiel, Matias, Antonio Lobisomem, Afrânio, Sabino,
Antonio Bebeca, Almiro (Mestre Areia).
Motoristas/Cobradores: Berlito, Zequinha Paquete, João,
Toninho, Creone, Giru, Zé Gato.
Quando por um
defeito mecânico o
motor de uma
lancha ou besouro
deixava de
funcionar na Baía
do Pontal,
curiosamente
dizíamos que a
lancha ou besouro
“deu prego”. Nesse caso, ficávamos a depender do movimento
da maré e da habilidade do mestre para que a travessia fosse
um sucesso. Muitas vezes os passageiros entravam em pânico,
com muitas gritarias, choros e promessas para que tudo se
resolvesse. Mas, nunca houve nenhum registro de algum
acidente fatal.
As lembranças nos
remete ao casal
Berlito Sampaio,
motorista de uma
das lanchas e Meire
Bonfim na bilheteria,
que depois de um
longo período em
águas navegadas
tornaram-se marido
9. e mulher, estando aí vivos pra contarem um pouco desta
travessia, às vezes muito perigosa, mas, mesmo assim, ainda
nos traz saudades.
Com a inauguração da Ponte (1966), a ligação entre Pontal e o
Centro, ficou com as duas opções até 1967. Opções que ao
nosso entender deveriam perdurar até hoje. Acreditamos que a
cidade ganharia muito com isso, principalmente no aspecto
turístico, mas Ilhéus tem dessas coisas, restando nos
contentarmos com esta foto de 2013, tendo o mar como
lembrança, e esta paisagem da Praia do Cristo.
Vista do Cristo Redentor, do antigo Porto das Lanchas no Pontal