O documento descreve as revoluções que ocorreram na Europa entre 1830 e 1870, marcadas por sublevações populares e questionamentos à Igreja Católica. Nesse período, houve ondas revolucionárias na França, Alemanha e outros países, enquanto a Itália foi unificada. Isso levou à perda dos Estados Pontifícios e ao confinamento do Papa no Vaticano. O documento também discute as ideias desse período que contestavam a autoridade da Igreja.
2. ESQUEMA GERAL DA EXPOSIÇÃO A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
3. 1830. Começa na França, por sublevações organizadas por sociedades secretas, e se estende por vários outros países. Na Polônia, a revolução é levada por católicos unidos a maçons contra russos ortodoxos. Na Bélgica, católicos e liberais se unem contra os holandeses. Na Irlanda, pelos católicos; em Portugal, pelos maçons. Espanha, Bálcãs, etc. 1848. Nova onda revolucionária, atingindo França, Alemanha, Hungria, etc. Os movimentos trazem agora um anticlericalismo mitigado (alguns padres chegam a participar das sublevações!), mas temperado com a questão operária, já premente. Influência milenarista e historicista. Primeiras manifestações socialistas. 1860-70. Unificação da Itália. Os revoltosos são organizados por sociedades secretas. As terras pontifícias são tomadas, deixando tão-somente Roma, que depois também é tomada e tornada capital da Itália unificada (em substituição a Florença). O Papa torna-se “prisioneiro do Vaticano”. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
4. imagens que dizem muito x Pensamentos reveladores A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
13. “Eis que chega o terceiro mundo. Eis que se desenha o arco-íris da humanidade, este sinal de suprema e eterna aliança! Acabou-se a era da graça, a do mérito começa! ... Cabe à humanidade criar sua própria vida, cabe a ela criar a terra prometida! Chegamos ao término da era inaugurada por Cristo! ... Delineia-se um futuro que precisamos conhecer a partir das premissas contidas no passado.” Cieskowski A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
14. “Homens do futuro! É a vós que está reservado realizar essa profecia, se Deus estiver conosco. Será obra de uma nova revelação, de uma nova religião, de uma nova sociedade, de uma nova humanidade! Essa religião não abjurará o cristianismo, mas o despojará de suas formas. Será para o cristianismo o que é a filha para a sua mãe, quando uma é levada ao túmulo enquanto a outra está no auge da vida.” George Sand A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
15. “O caráter mais marcante ... que distingue exclusivamente o homem é o progresso, um progresso contínuo, indefinido; e todo o progresso se resume em um progresso social ... O homem sozinho, portanto, não passa de um fragmento de ser: o ser verdadeiro é o ser coletivo, a Humanidade, que não morre nunca, que, em sua unidade, se desenvolve sem cessar, recebendo de cada um de seus membros o produto de sua atividade própria e comunicando a cada um, na medida em que este pode participar dela, o produto da atividade de todos.” Lamennais A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
16. “O que separava os irmãos oscila e desaba; as próprias distâncias se apagam. Entrevê-se ao longe a época feliz em que o mundo formará uma mesma cidade regida pela mesma lei, a lei de justiça, de igualdade e fraternidade, religião futura da raça humana inteira, que saudará em Cristo seu legislador supremo e derradeiro...” “Cada homem individual e a humanidade inteira devem se transfigurar, passar de um estado inferior a um estado mais elevado, por uma espécie de crescimento que só tem limite em Deus mesmo.” Lamennais A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
17. “Graças a dezoito séculos de sofrimentos e esforços, começamos também a dominar a matéria; servimo-nos dela como de um escravo. As forças naturais começam a ser subjugadas e entrevemos o momento em que a luta da natureza e do homem poderá terminar com a vitória da inteligência. Como poderíamos, como os cristãos, lançar ao mundo e à natureza um anátema reprovador e buscar a vida beata fora das condições do mundo? Um homem que pregasse hoje o fim próximo do mundo com o mesmo entusiasmo de São Pedro e São Paulo e de todos os apóstolos não apenas não seria escutado , mas seria tido como insensato.” Pierre Leroux A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
18. “O abalo que a revolução produziu foi tamanho e tantas coisas extraordinárias foram vistas, tantas montanhas rebaixadas, tantos vales preenchidos, que não há mais milagre social que não pareça possível ... Coisa nova, grande em si, presságio do futuro! Há homens que acreditavam já abraçar o seu ideal. O que outrora chamava-se engodo, utopia, chama-se agora teorias. Não desprezemos os sonhos!” Edgar Quinet A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
19. “A humanidade há de ser apenas uma família de heróis, de cientistas e de artistas” Proudhon “A cidade socialista não tem igreja nem cemitério. Deus está suprimido e os mortos transformam-se em cinzas. Os vivos têm o seu clube e os cadáveres o seu forno crematório. A cidade antiga agrupava suas casas baixas em torno do campanário. A cidade socialista agrupa seus altos prédios em torno da escola!” Vaillan-Couturier A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
20. NON DOMINO SED NOBIS A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
22. Giovanni Mastai-Ferretti . Papa de 1846 a 1878. Foi eleito num conclave dividido entre conservadores e reformadores. No início de seu pontificado era tido por liberal , aberto às novas idéias do século. Ao final, é considerado um Papa reacionário, conservador, avesso às reformas e ao progresso. Foi beatificado por João Paulo II, em setembro de 2000. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
23. Pio IX foi o Papa da Encíclica Quanta Cura, que se fez acompanhar por um documento que enunciava oitenta erros do século: o conhecido SYLLABUS ERRORUM. Foi o Papa que convocou o Concílio Vaticano I. A Igreja entre liberais fanáticos, católicos liberais, reformadores, tradicionais. A Igreja entre estados nacionais que querem arregimentá-la para atingir os seus objetivos (Itália contra Áustria, Polônia contra Rússia, etc.). A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
30. Pio IX também definiu o dogma da Imaculada Conceição (Encíclica Ineffabilis Deus) e consagrou o mundo inteiro ao Sagrado Coração de Jesus, em 16 de junho de 1875. Foi no seu reinado que a Itália foi unificada, em 1860, sob a liderança de Vittorio Emanuele, que deixa apenas Roma sob a autoridade pontifícia. Em 1870 , Roma também é tomada e ao Papa é garantida tão-somente a extraterritorialidade dos palácios papais na cidade. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
32. Questões polêmicas que foram ventiladas antes de sua convocação, em 1868: Sendo o 1º concílio após a reforma, os protestantes poderiam participar? Os chefes dos estados que se separaram da Igreja deveriam ser convidados? (alguns, sobretudo na América do Sul, eram maçons) Para que um concílio se o Papa pode decidir sem ele? As questões mal-resolvidas da Revolução Francesa (Igreja vs. Estado) seriam retomadas no Concílio? Os liberais temiam Pio IX, os tradicionais temiam os teólogos alemães e franceses, considerados liberais. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
33. CONVOCAÇÃO: Bula AeternisPatris, de junho de 1868. SESSÕES: Primeira: início em 8 de dezembro de 1869, com o decreto de abertura do Concílio. Segunda: início em 6 de janeiro de 1870, com a profissão de fé. Terceira: início em 24 de abril de 1870, encerrando com a aprovação da Constituição Dogmática Dei Filiussobre a fé católica. Quarta: início em 18 de julho de 1870, concluída com a aprovação da Constituição Dogmática Pastor Aeternussobre a Igreja de Cristo, que declara o dogma da infalibilidade papal. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
34. CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI FILIUS – principais pontos Há um Deus pessoal, livre, Criador de todas as coisas e independente do mundo criado (contra o materialismo e o panteísmo). A existência de Deus pode ser conhecida com certeza pela luz natural da razão humana. Houve uma Revelação Divina, que nos chega pela tradição e pelas Escrituras Sagradas. A fé é uma adesão livre do homem a Deus, que surge de um dom da graça divina. O desacordo entre a razão e a fé pode vir da falsa compreensão das proposições da fé ou das conclusões da razão. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
35. CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA PASTOR AETERNUS - INFALIBILIDADE PAPAL As condições para o exercício do carisma da infalibilidade, de acordo com o dogma estabelecido, são quatro: 1 - que o Papa se pronuncie como sucessor de Pedro, usando os poderes das chaves, concedidas ao Apóstolo pelo próprio Cristo;2 - que se pronuncie sobre fé e moral;3 - que queira ensinar à Igreja inteira;4 - que defina uma questão, declarando o que é certo, proibindo que se ensine a tese oposta. A forma do pronunciamento é irrelevante: pode ser numa encíclica ou num decreto especial, bula, constituição apostólica etc.; o Papa tem que deixar evidente que o faz nessas quatro condições citadas. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
39. Primeiro documento a sistematizar a doutrina social da IgrejaA IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
40. A condição dos operários O problema nem é fácil de resolver, nem isento de perigos. É difícil, efetivamente, precisar com exatidão os direitos e os deveres que devem, ao mesmo tempo, reger a riqueza e o proletariado, o capital e o trabalho. Em todo caso, estamos persuadidos, e todos concordam nisto, que é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a que eles estão, pela maior parte, numa situação de infortúnio e de miséria imerecida. A usura voraz veio condenar ainda mais o mal. Condenada muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado de ser praticada sob outra forma por homens, ávidos de ganância, e de insaciável ambição. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
41. Refutação da solução socialista Os socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres o ódio contra os que possuem, e pretendem que toda a propriedade de bens particulares deve ser suprimida, que os bens de um indivíduo qualquer dever ser comuns a todos, e que a sua administração deve voltar para os Municípios ou para o Estado. Mas, e isso parece ainda mais grave, o remédio proposto está em oposição flagrante com a justiça, porque a propriedade particular e pessoal é, para o homem, de direito natural. ... a teoria socialista da propriedade coletiva deve absolutamente repudiar-se como prejudicial àqueles mesmos a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como desnaturando as funções do Estado, e perturbando a tranqüilidade pública. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
42. O papel do Estado ... E se os indivíduos e as famílias, entrando na sociedade, nela achassem em, vez de apoio, um obstáculo, em vez de proteção uma diminuição de seus direitos, dentro em pouco a sociedade seria mais para evitar do que para procurar. Querer, pois, que o poder civil invada arbitrariamente o santuário da família, é um erro grave e funesto. Certamente, se existe algures uma família que se encontre numa situação desesperada e que faça esforços vãos para sair dela, é justo que, em tais extremos, o poder público venha em seu auxílio, porque cada família é um membro da sociedade. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
43. O papel da Igreja É a Igreja, efetivamente, que haure no Evangelho doutrinas capazes ou de pôr termo ao conflito ou ao menos de o suavizar, expurgando-o de tudo o que ele tenha de severo e áspero; a Igreja, que não se contenta em esclarecer o espírito de seus ensinos, mas também se esforça em regular, de harmonia com eles a vida e os costumes de cada um. O primeiro princípio é que o homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os socialistas; mas contra a natureza, todos os esforços são vãos. O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES
44. Patrões e empregados [o operário] deve fornecer integralmente e fielmente todo o trabalho a que se comprometeu por contrato livre e conforme à equidade; não deve lesar o seu patrão, nem nos seus bens, nem na sua pessoa; as suas reivindicações devem ser isentas de violências. [os patrões] não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do cristão. [...] O que é vergonhoso e desumano e usar dos homens como de vis instrumentos de lucro. [...] entre os deveres principais do patrão, é necessário colocar, em primeiro lugar, o de dar a cada um o salário que convém. Certamente, para fixar a justa medida do salário. A IGREJA O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES