46 tratamento da caquexia no paciente em cuidados paliativos
1. Tratamento da Caquexia no
paciente em Cuidados Paliativos
Salete Santos da Hora Crecencio
Mestranda em Ensino e Ciências da Saúde (UNIFESP)
Especialista em Nutrição Clínica
Especializanda em Cuidados Paliativos
Nutricionista ambulatorial das especialidades de Hematologia,
Oncologia e Radioterapia do AME (Ambulatório Médico de
Especialidades) do Hospital Santa Marcelina e Docente da
Faculdade Santa Marcelina
2. CUIDADOS PALIATIVOS
Definição
“Cuidado Paliativo é a abordagem que promove qualidade
de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que
ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e
alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce,
avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas
de natureza física, psicossocial e espiritual.”
OMS, 2002.
3. CAQUEXIA- DEFINIÇÃO
Caquexia” deriva do grego, “kakos” má e “hexis”, condição.
“Síndrome multifatorial, na qual há perda contínua de
massa muscular (com perda ou ausência de perda
de massa gorda), que não pode ser totalmente revertida
pela terapia nutricional convencional, conduzindo ao
comprometimento funcional progressivo do organismo”.
FEARON et al, 2006; MUSCARITOLI et al, 2010.
4. CAQUEXIA
A síndrome de caquexia afeta cerca de 60% dos pacientes com
doença avançada.
Aumento da morbidade e mortalidade, influenciando ainda de
forma negativa a resposta aos tratamentos.
Implica um prognóstico desfavorável, uma diminuição da
qualidade de vida e um aumento significativo do tempo de
internação e custos hospitalares.
Estima-se que 20% dos óbitos de doentes neoplásicos está relacionado a
caquexia.
ARGILES, 2006; AVERSA et al, 2006; DAHELE e FEARON, 2006; CARMO e CORREIA, 2009.
5. Sinais Clínicos da Caquexia
Perda de habilidades
Anemia motoras e físicas
Alterações do
Anorexia paladar
Fadiga
Exacerbada perda
ponderal CAQUEXIA Perda de imuno
competência
Náuseas
Apatia
Astenia
Alterações do metabolismo
BROWN, J.K., 2002; ARGILES et al, 2006.
6. Sintomas Mais Prevalentes na Caquexia
Fadiga 74 %
Perda de apetite 53%
Perda de peso 46%
Disgeusia, Vômitos e saciedade precoce 20- 23%
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2011.
7. Mediadores Bioquímicos da Caquexia
-Fator de Necrose Tumoral (TNF-α).
-Interleucina 1 (IL-1).
-Interleucina 6 (IL-6).
-Interferon-gama (IFN-γ).
-Fator Indutor de Proteólise (PIF).
-Fator Mobilizador de Lipídeos.
-Leptina.
-Neuropeptídeo Y.
Recentemente , detectou-se que alguns polimorfismos de genes para
citocinas estão associados a risco aumentado do paciente.
TAN e FEARON, 2010; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2011.
8. CAQUEXIA
Principais Alterações Metabólicas
Gasto energético (GE) basal: Aumento do gasto energético em repouso.
Metabolismo de Metabolismo de Metabolismo de
Lipídeos Carboidratos Proteínas
Maior gliconeogênese, Redução da capacidade
na glicogenólise, de reter aminoácido e
Aumento da lipólise,
resistência à insulina e perda de massa muscular
redução da lipogênese e
síntese de insulina limitada. esquelética.
hipertrigliceridemia.
GARÓFOLO, 2012.
10. TRATAMENTO DA CAQUEXIA
Ação multimodal/ Interdisciplinar.
-Profissionais da equipe.
-Paciente/ Familiares.
IMPORTANTES CONTRIBUIÇÕES
11. TRATAMENTO DA CAQUEXIA
Tratamento da doença de base.
Intervenção Farmacológica- Estimulantes de Apetite:
Progestágenos, corticosteróides, anabolizantes (testosterona),
cloridrato de ciproeptadina, antiinflamatórios não hormonais.
Terapia Nutricional (TN).
Aconselhamento nutricional.
Nutracêutico: Ômega 3.
12. INDICAR OU NÃO
TERAPIA NUTRICIONAL?
• O consenso da ESPEN 2006 preconiza que pacientes
incuráveis podem receber nutrição enteral para minimizar
perda de peso se for este o desejo do paciente e se não está em
processo de morte.
•O uso de complemento alimentar por via oral ou a utilização
da via enteral /parenteral, devem ser muito bem pensados e
discutidos individualmente.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2011.
13. TERAPIA NUTRICIONAL
•Avaliar os benefícios e problemas relacionados à TN
artificial, especialmente se por via parenteral ( tempo de
hospitalização e complicações do acesso venoso central ).
Independente da terapia escolhida a intervenção nutricional no
cuidado paliativo tem como objetivo:
Alívio de sintomas e promover qualidade de vida do paciente.
14. Algoritmo Para Via de Alimentação em Pacientes em
Cuidados Paliativos
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2011.
15. TERAPIA NUTRICIONAL ORAL (TNO)
Complementos nutricionais.
Terapia de conforto, incluindo alimento e água, de
acordo com a tolerância (alterações no paladar e olfato,
saciedade precoce, funcionamento intestinal, etc).
Pequenas quantidades de líquidos podem ajudar a evitar
estados de confusão induzidos por desidratação.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2011.
16. Aconselhamento nutricional
Dieta adaptada ao gosto do paciente (favorecer a aceitação alimentar).
Oferta de pequenas refeições com maior frequência ao longo do dia.
Incentivo para alimentação em ambiente agradável.
Boa apresentação da refeição.
Evitar o isolamento de pacientes durante as refeições (ocasião social).
a oferta energética por via oral.
Consistência de acordo com a preferência do paciente.
Complementos alimentares calórico-protéicos (em pó ou líquido).
AIRES, 2008; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS, 2011.
17. Importance of Nutritional Therapy and Pain Control for Patients
in the Terminal Phase of Cancer — Palliative Care Nutrition
Support Team Activities
TAKASHI HIGASHIGUCHI, Fujita Health University School of
Medicine, Tsu, Mie, Japan
Equipe de Cuidados Paliativos e Apoio Nutricional ( Formada em 2003)
Objetivo: Fornecer aos pacientes terminais de câncer tratamento adequado
da dor e manejo nutricional.
18. Importance of Nutritional Therapy and Pain Control for Patients
in the Terminal Phase of Cancer — Palliative Care Nutrition
Support Team Activities
TAKASHI HIGASHIGUCHI, Fujita Health University School of
Medicine, Tsu, Mie, Japan
Resultados:
-87,7% dos pacientes -distúrbios nutricionais severos no momento da admissão.
-Após intervenção: 54,4% dos pacientes apresentaram melhora desse quadro.
-A duração da manutenção da ingestão por via oral aumentou significativamente
de 26,8 dias para 57,9 dias nos 3 anos seguintes.
- O tempo de sobrevida aumentou significativamente de 35,7 dias para 57,9 dias
após a intervenção dessa equipe nos 3 anos posteriores..
CONCLUSÃO: A intervenção deste grupo propiciou a melhora de distúrbios
nutricionais severos e aumentou significativamente a duração da manutenção
da alimentação por via oral e sobrevida dos pacientes.
19. Estudo internacional, multicêntrico, randomizado e duplo cego.
200 pacientes- suplemento oral contendo ou não EPA.
620kcal, 32g ptn, 12g de Lipid ( 1,1g do EPA/ Vit A, C, E e selênio).
A perda média de peso antes do início do estudo foi de 3,3kg por mês.
Finalização: 110 pacientes (50 no experimental e 60 no controle).
Ingestão média 1,4 lata/ dia nos 2 grupos.
Resultado: Após 4 e 8 semanas, o peso e a massa magra estáveis entre os dois
grupos, sem diferença no tempo de sobrevida.
Grupo experimental, ganho de peso (massa magra ) foram observados entre os
pacientes que ingeriram entre uma lata e meia a duas latas de suplemento.
20. Revisão sistemática da literatura- 17 estudos: Recomendações de uso clínico do
ômega 3.
-Casos clínicos ou estudos observacionais prospectivos de pacientes com câncer
com expectativa de vida maior que 2 meses.
peso e de apetite, morbidade pós-cirúrgica e melhora da qualidade de vida.
Período mínimo de 8 semanas.
Administração de Ômega 3 (EPA/ DHA) em dose de pelo menos 1,5 g/ dia:
melhora de parâmetros clínicos, biológicos e qualidade de vida.
Suplementos orais enriquecidos com Ômega 3 podem beneficiar pacientes com
câncer em estado avançado e com perda de peso, e estão indicados em tumores do
trato digestivo superior e pâncreas.
21. Metanálise Ômega-3
-244 artigos, com 38 publicações incluídas na avaliação final.
Resultados:
-Estudos menores, não randomizados/ sem grupo controle, demonstraram um
bom efeito em pacientes com câncer avançado e caquexia.
-Ensaios clínicos maiores, randomizados não encontraram efeitos significativos.
-Incidência baixa de efeitos adversos (desconforto abdominal, eructação, sabor
de peixe, náuseas e diarréia): impacto negativo sobre a qualidade de vida.
Não há evidência suficiente para apoiar os benefícios do ômega 3 em caquexia
em câncer avançado.
22. CAQUEXIA
Diretriz da ASPEN 2009
-Suplementação com Ômega 3 como possível auxílio na
estabilização do peso em pacientes com câncer com
redução de peso involuntária e progressiva recebendo
dieta oral, sugerindo a dose alvo de 2 g de EPA
diariamente.
-Grau de evidência B.
August et al., 2009
23. CONCLUSÕES
Tentar prevenir talvez seja menos complicado do que tentar tratar.
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL: INICIAR PRECOCEMENTE.
Benefícios:
-Melhorar o estado nutricional.
-Amenizar os efeitos deletérios dos tratamentos, evitando a interrupção
dos mesmos (pior prognóstico).
-Melhorar a funcionalidade.
-Favorecer o desempenho de sistemas vitais como a função imunológica.
PROPORCIONAR UM IMPACTO POSITIVO NO PROGNÓSTICO
DE PACIENTES, POR MEIO DE MELHORES CONDIÇÕES PARA
TRATAMENTO DA DOENÇA DE BASE.
24. CONCLUSÕES
O tratamento do paciente oncológico deve ser sempre individualizado,
considerando as particularidades de cada paciente.
O trabalho de uma Equipe Multidisciplinar/ Interdisciplinar atuante
pode propiciar muitos benefícios ao paciente.
A participação do paciente (autonomia) e da família deve ser sempre
considerado em qualquer tomada de decisão.
O cuidado integral consegue melhorar a saúde de
pessoas, mesmo quando muito adoecidas.
26. REFERÊNCIAS
AIRES, E.M. Síndrome da Caquexia/Anorexia (SCA). IN: REINALDO AYER (Coord.).
Cuidado Paliativo. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, p.484-
98, 2008.
ARGILÉS, J.M. et al. Pathophysiology of neoplasic cachexia. Nutr Hosp 2006 May; 21;suppl. 3
Fearon, K.C. et al.Effect of a protein and energy dense n-3 fatty acid enriched oral supplement
on loss of weight and lean tissue in cancer cachexia: a randomised double blind trial.
Gut; v. 52, p. 1479–1486, 2003.
ARGILÉS, J. M. et al. Fisiopatologia de la caquexia neoplásica. Nutr. Hosp. v. 21, p. 4-9, 2006.
Associação Brasileira de Cuidados Paliativos. Consenso Brasileiro de Caquexia e Anorexia em
Cuidados Paliativos. Rev Bras Cuidados Paliativos, v.3, n.3, Supl 1, Mai, 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS. Consenso Brasileiro de Caquexia e
Anorexia em Cuidados Paliativos. Rev Bras Cuidados Paliativos, v.3, n.3, Supl 1, Mai 2011.
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Treatment and in Hematopoietic Cell Transplantation. Journal of Parenteral and Enteral
Nutrition, v.33, n.5, p.472-500, 2009.
AVERSA, Z; BELLANTONE, R; BOSSOLA, M; FANELLI, F.R.; MUSCARITOLI, M. Prevention
and treatment of cancer cachexia: new insights into an old problem. Eur J Cancer, v.42, p. 31-
41, 2006.
27. REFERÊNCIAS
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CARMO, M.C.N.S; CORREIA, M.I.T.D. A Importância dos Ácidos Graxos Ômega-3 no
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28. REFERÊNCIAS
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GARÓFOLO, A. Nutrição clínica, funcional e preventiva aplicada à oncologia: teoria
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MUSCARITOLI et al, 2010. Consensus definition of sarcopenia, cachexia and pre-
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Dieta, nutrição e câncer. São Paulo: atheneu, p. 626-29, 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Definition of Palliative Care. Disponível em:
http://www.who.int/cancer/palliative/definition/en/. Acessado no dia 09 de agosto de 2012.