Este documento apresenta os objetivos e a equipe responsável por elaborar uma cartilha sobre festas religiosas populares em São João del Rei. A cartilha visa ensinar sobre o patrimônio cultural da cidade de acordo com a lei municipal, entendendo que as manifestações religiosas são uma dimensão essencial da cultura local. A cartilha será elaborada a partir de referências teóricas e com a participação de uma equipe multidisciplinar, incluindo estudantes e professores, sob a coordenação da Professora Glória Ribeiro.
Cultura Popular e Religiosidade em São João del Rei
1.
2.
3. UFSJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI
REITOR
Valéria Heloísa Kemp
VICE-REITORA
Sérgio Augusto Araújo da Gama Cerqueira
PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS
Prof. Paulo Henrique Caetano
CHEFE DE DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
E MÉTODOS
Prof. Dr. Antônio Rogério Picoli
COORDENADOR DO CURSO DE
FILOSOFIA
Prof. Dr. Fábio Barros Silva
COORDENAÇÃO GERAL DO PROJETO
Prof. Drª. Glória Maria Ferreira Ribeiro (DFIME)
EQUIPE DE EXECUÇÃO
Daniela da Conceição Diniz
Débora Cristina Resende
Etienny Natya Fonseca F Trindade
Isabela Alline Oliveira
Lucas Bertolino dos Santos
Maria Auxiliadora Martins
Nilson Anderson Lemos
Ulisses Passareli
EQUIPE DE APOIO
Fernanda Senna
Monique Kelly da Cunha
AGRADECIMENTOS
Balbino de Souza Rezende
José Omar Junqueira
Juvenal José de Sousa
Lazarino Francisco de Sousa
Luiz de Ávila e Silva
Maria Aparecida Sales Ribeiro
Maria José Ribeiro
Nagibe Francisco Murad
Raul Nogueira do Nascimento
Sebastião Vicente da Silva
4. Isabela Alline Oliveira
A oralidade é a ferramenta, A concepção
de cultura está intimamente relacionada às formas e hábitos de vida humano, aos seus fazeres
cotidianos e sua relação com o outro e com o
mundo. A cultura popular se refere aos hábitos
alimentares, saberes tradicionais, ofícios, e todas
as manifestações relacionadas ao comum da existência humana.
Partindo dessa perspectiva, pode-se conceber
que também a religião encontra-se na dimensão
mais intima da cultura. O termo religião deriva
do latim Re – Ligare, que exprime a religação
com o Divino. Essa relação com o transcendente
e com o Sagrado, marca sua existência, cultura e
história, pois é possível perceber que em todas
as sociedades essa relação se exprime de alguma
forma, seja com os mitos, celebrações, ritos, seja
através de formas mais elaboradas da manifestação religiosa.
Logo, quando pensarmos os fenômenos
de manifestação desse Sagrado percebemos que
estão relacionados à relação do homem com
uma realidade que está para além do que é comum no nosso mundo. È o lugar onde o comum
se relaciona com aquilo que o transcende. È o
lugar de ligação do Sagrado com o Profano.
Sobre essa relação do homem com o Sagrado
nos fala Mircea Eliade:
“o homo religiosus acredita sempre que existe uma realidade absoluta, o sagrado, que transcende este mundo,
que aqui se manifesta, santificando o e tornando o real.
Crê, além disso, que a vida tem uma origem sagrada e
que a existência humana atualiza todas as suas potencialidades na medida em que é religiosa, ou seja, participa da
realidade” (ELIADE, 2001, p.97).
Nesse sentido buscamos ao elaborar a
Cartilha de Festas Religiosas, expressar a maneira como o homem estabelece relação com
o Sagrado de forma cultural e variada, pois as
manifestações religiosas são propriamente uma
dimensão da cultura humana.
Destacamos ainda a importância das
manifestações religiosas no âmbito da cultura
popular, pois a dita cultura “não oficial” estabelece suas próprias religações com o Sagrado,
através do Congado, da Folia de Reis e Festas
Tradicionais que exprimem o mais intimo elo
entre memória coletiva, história e sacralidade.
A partir do material didático e referencial teórico buscamos atender a Lei Municipal
n° 3.826/2004 que dispõe sobre o ensino da
educação patrimonial nas Escolas Municipais
de São João del Rei, entendendo que a vivência
religiosa na cidade é um elemento constituir
essencial da cultura do povo da “terra onde os
sinos falam”.
6. EDITORIAL
Existência, Memória e Patrimônio
A memória deve ser antes a dimensão
de celebração de comemoração da própria existência. Isto porque para podermos preservar
o patrimônio cultural de um povo é preciso, antes de mais nada preservar a própria existência
humana, a própria dinâmica de manifestação da
vida.
“O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do
mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre
mudando. Afinam ou desafinam” ( Rosa, Guimarães.
Grande Sertão: Veredas”).
Existência que está sempre se fazendo,
se retomando desde o jogo do tempo que a
constitui. Tempo que escreve a história na qual
os destinos se cruzam, se entrecruzam e se realizam. A cada época dessa história a existência
se retoma, se reapropria de si mesma, de seu
ser, de um modo novo e sempre velho. Velho
porque são sempre as mesmas possibilidades de
ser e novo porque a existência sempre descobre
um outro modo de se apropriar de si mesma,
de interpretar-se. Deste modo, cada uma época
da história se mostra como um modo possível
de elaborar a questão sobre a existência do homem.
Existência compreendida desde a relação íntima e indissociável do homem com o seu mundo – mundo
que se revela no comércio cotidiano com as coisas e
com os outros.
A cidade se mostra como a
trama concreta na qual esse comércio com o mundo
se deixa ver, tornando-o tangível. Trama que sempre
de novo se renova, se utilizando sempre dos mesmos
fios.
Sendo assim,todo trabalho que vise a
preservação do patrimonio cultural de um povo
deve, antes de mais nada, viabilizar condições para
que essa existência se mantenha. Por isso, em nossas reflexões sobre a Educação Patrimonial, estamos
tendo sempre como elemento norteador o próprio
cultivo da existência humana, ao propormos ações
que celebrem (lembrem em conjunto, que co-memorem) a nossa condição que é a de estarmos sempre
“afinando e desafinando”. As nossas cartilhas são
uma tentativa de celebração desse nosso modo de
ser cotidiano – do qual faz parte o ato de comer, de
celebrar o divino, de contar estórias. É celebrar isso
é deixar que as pessoas brilhem porque “gente é feita
para brilhar” – seja o mediante o suor no corpo do
trabalhador, seja no brilho nos olhos da criança ao
perceber o caráter extraordinário do mundo, que
faz com que ele possa sempre ser reinventado (reinventado pelas brincadeiras de fundo de quintal, pelo
trabalho dos homens, pelo esforço e empenho dos
meus iestimáveis bolsistas de extensão. Gente é para
brilhar!
Glória Ribeiro
“O Senhor ... mire veja: o mais importante e bonito , do mundo, é isto: que
as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas – mas
que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam”
(Rosa,Guimarães. Grande Sertão: Veredas”)
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7. “Quando eu estiver velho, gostaria de ter no corredor da minha casa
Um mapa de Berlim com legenda
Pontos azuis designariam as ruas onde morei
Pontos amarelos, os lugares onde moravam minhas Namoradas
Triângulos marrons, os túmulos
nos cemitérios de Berlim onde jazem os que foram
próximos a mim
E linhas pretas redesenhariam os caminhos
no Zoológico ou no Tiergarten
que percorri conversando com as
garotas
E flechas de todas as cores apontariam os
lugares nos arredores
onde repensava as semanas berlinenses
E muitos quadrados vermelhos marcariam
os aposentos
Do amor da mais baixa espécie ou do
amor mais abrigado do vento”.
Walter Benjamin, “Fragmento”, 1932
“Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paiçandu deixem meu sexo
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a Liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus
Adeus”.
(Mario de Andrade, ao escrever sua Lira Paulistana (1944)
7
8. APRESENTAÇÃO
Em
diferentes contextos sociais e em distintas
épocas históricas o
termo cultura foi, e
vem sendo utilizado
de diferentes formas, para falar dos
hábitos de vida do
homem, entretanto
seu uso indistintamente carrega uma
concepção ideológica de seu significado.
Dentre
essas concepções de
cultura
podemos
perceber que muitas
pessoas associam a
cultura a algo que
se adquire ou que se
pode obter. O perigo
desse tipo de compreensão e de que
a cultura acabe assumindo um caráter
de mercadoria na
sociedade. Quando
se pensa a cultura
desde essa concepção, ela deixa de
ser associada aos
hábitos de vida do
homem que lhe são
naturais, e passa a
ser associada à algo
que o homem pode
adquirir como um
simples conjunto de
bens.
Adquirir cultura significa o mesmo
que poder possuir
um carro, uma casa,
ou ter uma rica biblioteca. Logo aque-
8
les que não podem
ter capital financeiro
o suficiente para enriquecer seu legado
cultural são tidos
como
ignorantes,
pessoas sem cultura,
que estão separadas
das outras na sociedade por essa condição. Daí surge os
desníveis de cultura,
que são fruto da divisão cultural entre
as pessoas. Sobre
isso Alfredo Bosi
em seu livro Cultura
Brasileira: tradição/
contradição nos diz:
“Quer dizer que as pessoas
que tem cultura devem exibir
certos tipos de comportamento, e devem ser poupadas de certas ações. Logo
aprece a divisão, os que tem
cultura de um lado, e os que
não tem cultura de outro. A
cultura dá a aureola da diferença’’. (BOSI, Alfredo,
1987, pg. 35).
Considerar
a cultura como um
conjunto de coisas
que se pode possuir
é a principal característica da chamada cultura reificada,
pois a cultura deixa
de ser entendida
como um processo
que segue a linha
sutil da existência
humana, para ter
seu significado concebido fora dessas
vivências humanas.
Logo o que antes se
remetia as relações
sociais entre os homens passa a ser
associado a uma
relação entre homens e coisas. Assim sendo, o que
era uma ideia fruto
da relação entre
homem e a sociedade, passa a ser
apenas uma relação
entre homens e objetos. E a cultura que
era a pura e simples
expressão da minha
condição
humana,
passa a ser vista
como um objeto fora
de mim.
“Na sociedade de massa
as pessoas sempre estão
diante de objetos da tecnologia mesmo que não sejam
a obras de arte. O fato delas
não participarem da construção do objeto, porque
são obra de uma indústria
especializada, apesar delas comprarem vender e,
estabelecer relação de uso,
elas não compreendem seu
mecanismo interno, alienação. Eu possuo um objeto
mais não compreendo como
ele funciona”. (BOSI, Alfredo, 1987, pg. 37).
Podemos ver
expressa em várias
esferas da sociedade
essa concepção, pois
a cultura está sempre ligada ao que
tem que ser visto,
apreciado,
preservado e mantido tal
como é sem que se
leve em consider-
ação a relação direta com o cotidiano,
porque nesse tipo de
compreensão do que
seja a cultura, as
coisas e ações do cotidiano não são consideradas bens culturais.Cultura como
ação e trabalho.
Repensar
o
ideário de cultura difundido em nossa sociedade é essencial
para que possamos
falar de uma sociedade democrática,
e
assumir
dessa
forma uma prática
coerente. Para isso
nossos esforços devem
direcionar-se
em desconstruir, em
nosso espírito e na
sociedade, a ideia de
cultura como objeto.
É necessário
repensarmos
essa
terminação de cultura como mercadoria, pois ela é segregadora, e faz com
que existam níveis
de cultura e distinção entre aqueles
que possuem cultura e os outros que
dela são destituídos. Por isso, ao repensarmos a noção
de cultura desde a
própria condição da
existência humana,
estaremos indiretamente contribuindo
para repensar a distinção de classes.
9. Isto porque
desde essa concepção de cultura
como
mercadoria, teríamos que
somente aqueles
que possuem bens
culturais, seriam
cultos;enquanto
que aqueles que
não possuem condições financeiras
para
possuí-los,
não têm cultura.
Para
que
torne
possível
redimensionar a
noção de cultura
é necessário considerar todos os
momentos do processo produtivo e
não somente ao
produto (o bem)
cultural que é seu
resultado. A concepção que nos
guia em nossas
atividades extensionistas, é aquela que desloca a
ideia de cultura
como mercadoria,
para uma concepção de cultura que
diga respeito diretamente à relação
que o homem estabelece com o
meio onde vive
– meio no qual
ele estabelece as
relações
sociais
que propriamente
o constitui.
Portanto a
obra (enquanto o
produto cultural elaborado nas relações
sociais entre homens) é aquela
que exprime exatamente o próprio trabalho enquanto processo e
resultado.
Um projeto
de cultura explicito
através das dimensões da memória e
identidade
O termo cultura diz respeito de
ao conjunto de saberes, crenças, leis,
costumes e todos os
outros hábitos e modos de vida de um
povo. De origem latina, a palavra cultura
deriva do verbo colo,
significando, “eu cultivo”, referenciando
particularmente, o
cultivo do solo e da
terra, sendo, portanto, o cuidado que se
mantinha com aquilo que se pretendia cultivar. Quando
se pensa em cultura, pensa-se em um
processo que vem
sendo
trabalhado
há muitos anos, há
séculos, que se recebe e se transmite
de geração a geração.
Do
mesmo
modo a palavra cultus, diz respeito ao
verbo colo, que traz
em si a determinação
de cultura que nos
interessa, pois nos
remete a importância da memória no
processo de constituição da identidade do individuo. A
cultura é compreendida como o conjunto de técnicas, práticas e valores que se
devem transmitir às
novas gerações. No
uso cotidiano, falamos em memória
nos referindo ao arquivamento de fatos
passados, a “faculdade de reter as
ideias,
impressões
e
conhecimentos
adquiridos anteriormente”. Dessa forma, lembrar é um
fenômeno individual. Porém, podemos compreender a
memória fora de
seu conceito usual,
como um fenômeno
coletivo; a memória
como o fruto da construção coletiva e
submetida a transformações e mudanças constantes.
Se a cultura é algo que se
busca transmitir às
novas gerações, e
necessário que tenhamos um projeto,
um caminho a oferecer as “novas gerações”, e isso acontece, na junção do
que foi com o que
é, e o que se pretende ser, da mesma
forma, o ponto de
encontro entre passado, presente e futuro. Por isso, Bosi
nos fala sobre o verbo cultus, não sendo
somente a lembrança do labor presente, mais do conjunto de coisas que
possibilitaram
que
esse labor, se tornasse presente, e de
um projeto implícito
na sua realização. A
respeito disso o historiador Alfredo Bosi
em seu livro Dialética da Colonização
nos diz:
Quando os camponeses do Lácio chamavam culta às suas plantações, queriam dizer algo
de cumulativo: o ato em si de
cultivar e o efeito de incontáveis tarefas, o que torna o
particípio cultus, esse nome
que é verbo, uma forma significante mais densa e vivida que
a simples nomeação do labor
presente. O ager cultus, a lavra,
o nosso roçado (também um
deverbal), junta a denotação
de trabalho sistemático a, qualidade obtida, e funde-se com
esta no sentimento de quem
fala. Cultus é sinal de que a sociedade que produziu o seu alimento já tem memória. (BOSI,
1992, p.13).
Nesse processo
a identidade ganha seu
lugar; pois, da mesma
forma que nos identificamos com um lugar marcado por uma
experiência individual, também acontece
com as experiências
coletivas que ganham
um aspecto marcante
para um determinado
grupo, fazendo com
que indivíduos se identifiquem
e
tenham
coesão a partir de experiências e vivências
comuns.
No
dicionário
Aurélio, identidade é
definida como:
1. Qualidade de idêntico; 2.
Conjunto de caracteres próprios
e exclusivos de uma pessoa:
nome, idade, estado, profissão, sexo, defeitos físicos, impressões digitais, etc.; 3. O aspecto coletivo de um conjunto
de característicos pelas quais
algo é definitivamente reconhecível, ou conhecido. (FERREIRA, 2004, p.1066).
Identidade é aquilo que faz com que
uma coisa seja exatamente aquilo que ela é,
e não seja outra coisa.
Desta forma, a identidade só pode ser concebida em comparação
com o diferente: “eu
sei o que sou à medida
que percebo que sou
diferente, desse ou
daquele outro.
9
10. Assim também
é possível a construção da identidade de grupo. Isto
acontece
quando
percebo que divido com outras
pessoas a mesma
origem ou os mesmos costumes. É
esse sentimento de
compartilhamento
que faz com que eu
me sinta integrante
daquele grupo.
Essa noção
de
identificação
nos remete novamente para a ideia
de cultura como
“cultivo de”, pois eu
cuido e busco manter e preservar aquilo do qual eu faço
parte, onde consigo
me perceber numa
relação de semelhança, no qual eu
me reconheço.
Desenvolvimento
A Educação
Patrimonial
Com o processo de
modernização das
cidades, percebese
a
constante
desvalorização
e
desconhecimento em relação ao
patrimônio cultural.
Portanto, desde
que em 1930 foi
criado o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN),
uma nova percepção em relação a
patrimônio,
ampliou
os
instrumentos e meios de
atuação, e estão
diretamente aliados
á criação das instancias estaduais
10
e municipais de
preservação.
O
campo
de educação patrimonial no Brasil
tem uma produção
acadêmica
ainda
incipiente, são muitas as publicações
utilizadas em ações
de educação patrimonial - e, em sua
maioria, essas publicações, não levam
em consideração o
aspecto central da
existência humana
– que é o fato de
ela estar num processo contínuo de
realização que só
acaba com a morte.
Dentre os trabalhos
acadêmicos
que
discutem o tema,
a maioria trata de
atividades pontuais
e estão ligadas a
uma análise circunscrita de casos.
Embora a educação patrimonial
seja
consensualmente considerada
como peça chave
para uma política
pública efetiva de
preservação
do
patrimônio cultural,
ainda é um tema
pouco
estudado,
principalmente se
tratando de práticas institucionais.
Dentro
da
temática, a educação patrimonial
pode ser basicamente
entendida
como um processo
durável que busca
levar os indivíduos
a um processo acionado de conhecimento, apropriação
e valorização do
patrimônio cultural,
com o intuito de que
sejam agentes da
preservação. Neste
aspecto, devemos
pensar o patrimônio
de forma ampliada.
As escolas ao
longo dos tempos
estão tendo sua estrutura depredada,
e
desvalorizada
dia após dia, pelos
seus próprios beneficiários, com isso
acreditamos
que
para a efetivação
da Educação Patrimonial no contexto
escolar
devemos
partir da realidade
dos alunos, possibilitando sua participação nas soluções
dos problemas.
“Chamamos de Educação
Patrimonial o processo
permanente e sistemático
de trabalho educativo, que
tem como ponto de partida
e centro o Patrimônio Cultural com todas as suas
manifestações.”
(GRUNBERG, 2007, p. 02).
Consideramos a partir do
conceito de educação
patrimonial, que esse tipo
de ação utiliza os
bens culturais como
fonte primária do
conhecimento. Gerando um diálogo
permanente entre
os indivíduos e os
bens culturais. Portanto, o maior desafio é fazer com
que o individuo crie
o hábito de valorizar e preservar o
patrimônio cultural,
pondo em prática
a própria noção de
cidadania. Fazendo
com que as pessoas
possam desenvolv-
er um conhecimento
crítico e uma apropriação consciente de seu
patrimônio.
Um
fator
indispensável no processo de
preservação sustentável desses bens culturais
é o fortalecimento do
sentimento de identidade e lugar no espaço
estudado.
Uma das maiores
dificuldades encontradas em se estabelecer
um ensino eficiente em
relação a patrimônio é
o complexo relacionamento entre a comunidade e os órgãos de
preservação. O IPHAN
na maioria dos casos é
tachado como um inimigo da sociedade,
um dos principais motivos deste impasse é
o desconhecimento das
pessoas sobre suas metodologias e ações utilizadas por esse órgão do
governo federal. Acredita-se que com a realização de boas práticas
educativas
voltadas
para a comunidade,
esse quadro pode ser
revertido.
Apesar da importância do tema retratado,
na
história
nunca houve uma visão
e atuação por parte do
IPHAN e outros órgãos
de preservação patrimonial que colocasse
como política publica
exclusiva visando a educação patrimonial, ou
mesmo como um processo de importância
equivalente ás demais
atividades
essenciais
por eles desempenhadas (tombamento, fiscalização, identificação,
etc.).
11. Assim,
a
educação
patrimonial vem sendo
tratada
apenas
como
atividade
complementar no
currículo escolar,
que se reflete diretamente no Iphan, e isso ocorre
devido a sua pouca estruturação e
institucionalização
no setor responsável pela educação patrimonial.
Além disso,
a
comunidade
dá ao patrimônio
cultural
pouca
importância
por
não possuir um
entendimento
aprofundado em
relação aos bens
culturais.
Segundo o
IPHAN:
“O Patrimônio material
(...) é composto por um
conjunto de bens culturais
classificados
segundo
sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico
e etnográfico; histórico;
belas artes; e das artes
aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis
como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos
e paisagísticos e bens individuais; e móveis como
coleções arqueológicas,
acervos museológicos,
documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e
cinematográficos’’.
(Disponível em: http://
www3.iphan.gov.br/ bibliotecavirtual/
?page_
id=283)
Enquanto
que o Patrimônio
Imaterial:
“O Patrimônio
Imaterial é transmitido
de geração em geração
e constantemente recriado pelas
comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua
história, gerando um sentimento
de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o
respeito à diversidade cultural e à
criatividade humana’’. (Disponível
em:
http://www3.iphan.gov.br/
bibliotecavirtual/?page_id=283,
acesso em 11 de abril de 2011) .
Por sua vez, a
UNESCO define como
Patrimônio Cultural Imaterial:
“(...) as práticas, representações,
expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares
culturais que lhes são associados
- que as comunidades, os grupos
e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural”.
(Disponível em http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/
world-heritage/cultural-heritage/,
acesso em 13 de abril de 2011).
A proposta metodológica de educação
patrimonial foi introduzida no Brasil em 1983,
balizada por um trabalho
educacional já desenvolvido na Inglaterra,
ao ser desenvolvido foi
adaptada aos contextos
patrimoniais locais. Em
alguns estados este trabalho está bem embasado e se solidifica, no
Rio Grande do Sul, por
exemplo, o tema esta
sendo trabalho por Maria
Beatriz Machado (2004),
José Itaqui entre outros.
Em suas pesquisas, eles
enfatizam a importância
de orientar os professores do ensino fundamental e médio de como
trabalhar e aplicar esta
metodologia no ambiente escolar.
Apesar de estar
sendo muito bem sucedida a atividade reali-
zada no Rio Grande
do Sul, esse é um
processo que está
ocorrendo de forma
isolada repercutindo
apenas nas regiões
onde
se
desenvolvem. A proposta
consiste na formação
de grupos de pesquisas para desenvolver
uma forma contínua
de projetos e ações,
que possam ser aplicadas
igualmente
em todo o território
brasileiro.
Existem
diversas formas de
se trabalhar com o
patrimônio cultural
dentro de sala de
aula,
articulando
todas as disciplinas do currículo escolar, matemática,
história,
geografia
e ciências podendo
ser elaborados exercícios e textos relacionados à educação
patrimonial. O importante neste caso
é estabelecer a interdisciplinaridade,
com isso os alunos
podem
desenvolver por si só ou juntamente com seus
professores, ações
dentro da escola
que incentivam a
multiplicação deste
conhecimento. Um
ótimo exemplo do
que pode ser gerado
é a construção de
um memorial, um
pequeno
museu,
ou ainda uma roda
de “contação” de
histórias, fazer oficinas e várias outras
atividades, a partir
destes métodos os
alunos desenvolvem
uma visão critica.
Ações realizadas
conjuntamente por todos os professores dentro das escolas podem
gerar atividades muito
interessantes - como
investigar em forma de
pesquisa monumentos
da cidade em que mora
isso ajuda a enfatizar
o patrimônio coletivo
e a memória coletiva,
além disso, investigar
a própria casa como
patrimônio
cultural
através de desenhos.
Essa
programação
diferenciada promove
uma identidade em
relação ao patrimônio
coletivo e gera um respeito em relação ao
patrimônio cultural.
A
transversalidade
mantém uma relação com a
interdisciplinaridade, bastante
difundida pela Pedagogia. São
maneiras de se trabalhar o
conhecimento buscando uma
reintegração de aspectos que
ficaram isolados uns dos outros
pelo tratamento das disciplinas
(MORAES, s. d., p. 7-8).
A Educação patrimonial no ensino de
história é outra forma
que viabiliza formação
de pessoas capazes de
conhecer a sua própria
historia cultural. Levando a educação para
este contexto nos faz
perceber que os indivíduos podem se diferenciar um dos outros,
e com isso podem visualizar a própria vida,
a própria cultura, a
própria história e, construir a sua memória
afetiva, além disso,
sua identidade cultural.
11
12. O patrimônio
cultural vem sofrendo grandes prejuízos
com a modernização
- um exemplo disso
ocorre aqui em São
João del Rei, onde
durante os anos de
1999 e 2001,muitos casarões históricos foram derrubados para dar lugar
a supermercados, a
casas de venda de
materiais de construção. Outro exemplo
aconteceu
em Araxá-MG, onde
uma praça com mais
de cinqüenta anos
totalmente arborizada, foi substituída por um calçadão
sem nenhuma arborização e sequer
bancos para as pessoas sentarem.
Outra questão
muito importante a
ser trabalhada é a
questão da identidade local nas escolas de ensino fundamental. Os alunos
aprendem
muitas
coisas relacionadas
ao mundo, e ao Brasil; mas, na maioria
das vezes, o ensino
é muito generalizado, fazendo com a
história do município
ao qual esses alunos
pertencem,
fique
esquecida o que
causa no individuo
um afastamento em
relação as suas origens perdendo de
vista o processo formador de sua identidade social.
Muitos estudiosos acham que é
mais fácil trabalhar
o patrimônio cul-
12
tural no âmbito disciplinar das ciências
humanas, por ela
estar muito próxima
do tema. Em outras
áreas do currículo, o
professor tem certa
dificuldade, porque
o tema não está
presente em suas
analises e reflexões
cotidianas. Contudo,
isso é uma limitação
e não pode ser levada ao pé da letra,
com a criatividade
dos pesquisadores e
professores podem
ser
desenvolvidas
atividades
dentro
da área de exatas,
ciências biológicas,
das ciências da terra, etc..
Metodologia
Através
das
atividades
extensionistas
desenvolvidas em nosso
projeto (nas Oficinas
de Educação Patrimonial realizadas na Escola Municipal Maria
Tereza bem como nas
oficinas realizadas no
espaço do Fortim dos
Emboabas localizado
no Alto das Mercês)
foi possível perceber
que as pessoas que
participaram dessas
atividades não se
reconhecem como
agentes
culturais
dentro da sociedade
da qual fazem parte.
Isto porque elas
reconhecem como
patrimônio cultural,
apenas aquilo que é
registrado e reconhecido pela chamada cultura erudita.
A
distinção
entre cultura popular e cultura erudita
recorrente em nossa
sociedade,
produz
efeitos
catastróficos na construção
da identidade dessas
pessoas. Mesmo expressões fortes como
o congado ou os ofícios e saberes passados de geração
em geração, se tornam eixos de resistência
de
suas
raízes na sociedade,
não são reconhecidos
como tal.
Por isso se justifica nosso trabalho
de responder a demanda da lei municipal n° 3.826/2004 que
torna obrigatório o ensino de educação patrimonial nas escolas da rede
municipal. Nosso trabalho é um tanto desafiador
quando aos métodos,
pois eles não podem ser
os métodos tradicionais
que são utilizados para
o ensino da chamada
cultura erudita.
Pela
característica mutável do
patrimônio imaterial
não é de nosso interesse
resguardálo tal como é (como
um objeto pronto e
acabado), mas sim
preservá-lo
através
de métodos que se
sintetizam exclusivamente nas vivencias
que A C ultura popular nos oferece. Dar
luzes para que ela por
si mesma se mostre e
se mantenha. Somos
receptáculos dessas
vivências.
“Se o sistema social é democrático se o povo
vive em condições digamos
razoáveis de sobrevivência ela próprio saberá gerir
as condições para que a
cultura seja conservada,
não pela cultura em si, mais
enquanto expressão da comunidade de grupo e de indivíduos em grupo’’. (BOSI,
Alfredo, 1987, pg. 44).
Atuando principalmente em São
João del Rei e região
o programa de extensão
“Embornal
de Causos - segundo
ano” é o desdobramento do projeto de
extensão “Embornal
de Causos a imagem
e o som, a escrita,
e o universo virtual
como veículo de registros e preservação
do patrimônio imaterial” sob a orientação da Dra. Glória
Ribeiro, junto com
os bolsistas de extensão Isabela Alline
Oliveira e Etienny
Trindade, e a bolsista atividade Daniela
da Conceição Diniz.
Como já foi mencionado, o trabalho
consiste
atender
á lei municipal n°
3.826/2004 que dispõe sobre a criação do
Programa
Municipal
de Educação Patrimonial em suas escolas
municipais - buscando
através do referencial
teórico
pesquisado,
capacitar os professores para o ensino da
educação patrimonial
dentro das escolas,
voltado para a cultura
regional e local.
13. Neste sentido, o programa busca utilizar as novas
mídias e redes sociais como ferramentas trazendo para
os professores do
ensino fundamental
a narrativa oral, saberes e fazeres embutidos na cultura
local.
Nosso
trabalho também teve
como
produto
a
produção
cartilhas para as escolas
públicas de ensino
fundamental,
os
bolsistas desenvolveram três cartilhas,
uma de culinária,
outra de causos e a
outra de festas religiosas; as quais
ainda
estão
em
processo de avaliação – recebemos a
avaliação apenas de
uma das escolas da
região, como poderá
ser observado nos
anexos do nosso
relatório final.
O
material
possui jogos, exercícios para serem
aplicados dentro de
sala de aula, textos e imagens. Cada
cartilha possui uma
peculiaridade diferente: a cartilha de
culinária contém receitas de São João
del Rei e região,
relatos de como o
queijo é fabricado
artesanalmente,
como são fabricados os fornos a partir da utilização do
barro e das fezes de
gado; a cartilha de
causos tem alguns
causos
transcritos
das entrevistas realizadas com moradores
de diferentes regiões,
além da bibliografia de
cada um dos contadores; e por fim a de festas religiosas descreve
manifestações religiosas presentes em São
João Del Rei.
Foram realizadas durante o ano de
2013 em parceria com
o programa de Implantação do Centro de
Referência de Cultura
Popular de São João
del Rei, promovemos
atividade
conjuntas
como foram as oficinas
do Inverno cultural,
contando com cerca
de 6 oficinas realizadas
no Fortim dos Emboabas entendendo que
por ser tratar de uma
população de risco ,
que entretanto mantêm uma tradição de
cultura popular muita
arraigada, nossos esforços em atuar principalmente com as crianças se justifica pelo
fato de as oficinas serem para as crianças do
Alto das Mercês uma
possibilidade de acesso, diversão e espaço
de lazer que a comunidade por si só não tem
condições de oferecer.
Também foram
oferecidas Oficinas de
Educação
Patrimonial desenvolvidas dos
dias 4 a 8 de Março de
2013 na Escola Municipal Maria Tereza, tendo
como público atingido
cerca de 150 alunos do
ensino fundamental.
to importante para
a
preservação
do
patrimônio
cultural,
as nossas ações ainda se mostram como
uma forma pontual
de se aplicar a educação patrimonial.
Para que um
trabalho como este
possa se desenvolver
de forma continua no
ensino fundamental
precisaríamos de uma
parceria entre o IPHAN, o governo federal e os órgãos locais
de cada município. O
que observamos na
analise deste conteúdo é que as ações são
desmembradas umas
das outras, não tendo
assim um elo entre as
iniciativas que já estão sendo produzidas
e os órgãos públicos.
No entanto, o
IPHAN ainda é desorganizado em relação
à educação patrimonial e não existe um
interesse por parte
dos professores em
aplicar o assunto dentro de sala de aula,
criando uma barreira
a este processo.
O
patrimônio
cultural ainda se encontra vulnerável. A
ideia que se passa
entre a juventude é
que não existe o novo
sem destruir o velho,
e isso faz com que a
memória caia no esquecimento.
Como
podemos
lembrarnos do passado, das
histórias contadas por
nossos avôs sem passar de geração a gerConclusão
ação? Na atual pós Embora
seja modernidade o ser
um
trabalho
mui- humano está sendo
tratado como objeto, uma boa parte
de idosos que fizeram parte da história
são abandonados e
isolados em locais
fora da área de convívio social intenso
(como é o caso dos
abrigos e albergues),
e não paramos para
pensar que através
deles as manifestações
culturais
vem sendo passadas de geração para
geração.
Portanto, necessitamos de uma
mudança radical em
relação ao patrimônio,
e por isso justificamos
neste estudo a importância da educação
patrimonial. Esta ação
pode ser comparada
como a “luz no fim
do túnel” porque a
partir dela os indivíduos podem repensar a relação entre a
memória e sua própria
identidade social.
13
14.
15. AS FESTAS RELIGIOSAS NA CULTURA
SÃO-JOANENSE
Daniela da Conceição Diniz
Quando
se
pronuncia a palavra
festa quase de imediato pensamos num
acontecimento no qual
as pessoas se reúnem
para celebrar algo. Isto
não se diferencia muito
quando o assunto é religião: na festa religiosa
a vida é comemorada, a
morte é reverenciada, o
Ser oculto dá sinais de
sua presença.
Religiosidade
talvez seja um dos aspectos mais marcantes
e interessantes de nossa
cultura. Aqui, nessa terra, onde se encontraram
por força do advento da
colonização europeia,
o negro o indígena e
o branco, se formou
o que hoje podemos
chamar de identidade
brasileira.
Os
elementos dessas culturas se
encontraram
(claro,
nem sempre pacificamente, causando alguns
choques culturais), se
misturando, se influenciando e dando origem
a uma cultura plural.
Pluralidade que podemos observar na religiosidade de nosso povo e
nas variadas formas de
festejá-la e representála.
Nesta cartilha
trataremos apenas de
duas manifestações de
caráter religioso presentes em São João del
Rei e região. Mas para
se falar em festas religiosas, faz-se necessário
rememorar o modo
como as manifestações
religiosas aqui vivenciadas foram introduzidas
no Brasil.
A tradição católica no
Brasil
Mais
tradicionalmente reconhecido no Brasil, o cristianismo chegou ao
país por meio dos colonos portugueses. Não,
porém, sem algumas
diferenças na forma de
vivenciar esse tipo de
religião.
A cultura cristã desenvolveu-se em
meio a acontecimentos
diversos, que fazem
com que esta seja o que
hoje perdura em nossos
tempos. No tempo do
Brasil colônia, a religião
católica teve como expressão marcante a presença dos jesuítas.
“Além da oratória por meio
das pregações, os portugueses também utilizavam
as músicas, festas e teatralização para conquistar
a confiança dos indígenas.
Os missionários tentavam
uma aproximação com os
nativos, entre os costumes
portugueses e indígenas empregando nestes rituais tanto elementos culturais não
profanos, quanto elementos
profanos e não cristãos”
(.SIGNES, 2011, pág. 05)
O projeto dos
Jesuitas não se limitava
apenas a ensinar aos
índios os preceitos da
religião católica, mas,
também tentaram introduzir todo o universo da cultura européia.
Contudo, os índios não
se submetiam facilmente aos preceitos da
Companhia de Jesus.
O choque entre duas
culturas tão diversas, a
resistência dos índios
diante da imposição de
um novo tipo de religião pôs por terra a
intenção de dominação
através da oratória e das
demais estratégias artísticas utilizadas pelos
jesuítas.
“no Brasil os primeiros missionários foram os jesuítas,
que tinha como chefe missionário o Pe. Manuel da
Nóbrega, que acreditava na
facilidade da conversão do
nativo, pois afirmava que
eles “eram um papel em
branco, onde se podia escrever a vontade.” Contudo,
logo se percebe que os nativos não era um povo sem
cultura e que não aceitaria
facilmente sua conversão.”
(SIGNES, 2011, pág. 03)
Diante dessa resistên-
cia, os jesuitas utilizam
a força física para subjugar os índios e a sua
cultura. Contudo, nem
mesmo assim a nova
religião (e o modelo de
cultura trazida no seu
bojo) é totalmente aceita pelos índios.
A mesma resistência pode ser observada com a chegada
dos africanos no Brasil.
No entanto, os africanos resistiram à pressão
exercida pelos portugueses e a sua cultura,
através da dissimulação.
Em virtude da violência exercida sobre os
africanos escravizados,
eles se viram obrigados a esconder as suas
práticas religiosas sob
a roupagem da religião
católica. Nesse processo estava implícito um
movimento de resistência e a tentativa de manutenção da identidade
daquele povo.
Nesse processo
de colonização, cheio de
violência e desrespeito
às diferenças culturais,
nasceu o povo brasileiro. Povo mestiço:
nascido da mistura de
índios, negros e brancos; povo influenciado
por diferentes culturas,
o brasileiro tem como
marca de nascença a
diversidade. E é na re-
15
16. Continuação
16
ligião, nas suas práticas que isso pode ser
observado.
As práticas
religiosas
sempre
foram marcadas pela
festa, pelos rituais,
que tem o intuito de
trazer à presença o
sagrado. É no ritual
que acontece o encontro do divino com
o humano. E para intensificar tal encontro, os fiéis utilizam
símbolos que cumprem um importante
papel, pois o símbolo
tem a função de representar através de
elementos concretos
fenômenos abstratos.
Na religião
predominante
no
Brasil, um ritual que
perdura até os tempos
atuais, com grande
participação dos fiéis
em Minas Gerais,
são as procissões –
herança da presença
dos jesuítas, que encenavam a Paixão de
Cristo no intuito de
persuadir os índios
brasileiros da força e
da presença do deus
do cristianismo.
A Procissão
é um rito da Igreja
Católica que tem o
sentido de caminhar
à sombra do Crucificado. Em Minas
Gerais este rito vem
sendo
conservado
em muitas cidades,
com grande participação dos fiéis. Em
São João del Rei, este
rito, inspira também
a conservação de diversos rituais que a
diferenciam, da mesma celebração realizadas em diferentes
regiões do Brasil.
Um dos diferenciais existentes nas
procissões desta cidade mineira é a Procissão do Encontro;
em cidades que ainda
conservam tal rito religioso, esta acontece
dentro da Semana
Santa. Enquanto que
já em São João del
Rei, tal Procissão acontece no 4° domingo da quaresma. Há
uma lenda que tenta
explicar, o motivo
dessa diferença de
datas:
“o Imperador, teria feito
uma visita a São João
del Rei em tempos de
Quaresma. Com o intuito de agradá-lo, e sabendo que na Semana
Santa o Imperador não
estaria mais na cidade,
querendo expor algo que
tinha grande fluência de
pessoas, a Procissão teria
sido adiantada, de modo
que ele pudesse assistir,
seguindo tal costume até
os tempos hodiernos”
(referência)
Outro grande
e importante diferencial na cidade de São
João del Rei são as
Capelas-Passos, espalhadas pelo centro
histórico da cidade,
comumente chamadas de Passinhos.
Estes Passinhos somente são abertos na
quaresma, quando os
fiéis, passando diante
deles, contemplam e
meditam os mistérios
da Paixão e Morte de
Jesus. Em seu interior, existem telas com
pinturas que narram
passagens da Paixão
e Morte de Jesus. Há
em São João del Rei,
cinco Passinhos que
são abertos e visitados pela Imagem de
Nosso Senhor dos
Passos. No momento
em que a Imagem
passa em frente do
Passinho, a procissão para e os fiéis
meditam a passagem
ali existente, com o
auxílio dos motetos
dos passos (Cantos meditativos que
lembram a Paixão e
Morte de Jesus), cantados em latim pela
orquestra e coro sanjoanense.
Não se pode
deixar de dizer que há
em São João del Rei
um ícone histórico de
suma importância nas
celebrações católicas
que é o toque dos sinos. Além de contar
com diversos significados, o toque dos
sinos deixou de ser
apenas uma prática
religiosa, passando
inclusive a fazer parte
da vivência cultural
do povo. São João
del Rei carrega consigo o codinome de
“Terra Onde os Sinos
Falam”, e falam em
língua que pode ser
entendida por grande
parte da população.
Embora os rituais católicos sejam
os que têm maior participação de fiéis, fazse necessário lembrar
que os rituais praticados pelas religiões de
matriz afrobrasileira,
como citado acima,
também fazem parte
da cultura brasileira, e
é claramente notável o
crescente número de
adeptos a estas práticas religiosas, na cidade
onde os sinos falam.
17. BREVE HISTÓRIA DA ORIGEM DO CONGADO
Dentre as atividades religiosas de descendência afro que se
desenvolveram no Brasil está a festa de Nossa
Senhora do Rosário que
ainda hoje perdura em
nossos dias, mais comumente conhecida por
Congado ou Festa Conga.
O congado é
uma festa religiosa resultada da miscigenação
das culturas europeias e
africanas e nascida em
berço brasileiro, mas de
raízes africanas e principalmente dos povos
Bantos (Poel, 2011),
presente em vários estados de nosso país,
com destaque para Minas Gerais onde tudo
começou. A evocação
das tradições e cultos
dos antepassados representou e representa até
hoje um elemento unificador e de sobrevivência
da identidade negra.
Nesse sentido
procuramos saber um
pouco mais das tradições
afro-brasileiras no intuito de compreendermos
e respeitarmos aqueles
que as praticam, pois
são também mais um
elemento cultural que
compõem a complexa
identidade Brasileira.
A origem do congado nos remete à antiga
“Mãe África” e ao tem-
po do tráfico de escravos
quando as colônias portuguesas necessitavam
de mão de obra para exploração da nova colônia
de Portugal.
Esses escravos
provinham de muitas
regiões da África, em
sua grande maioria da
África Centro Ocidental e dividem-se basicamente em três grandes
grupos étnicos: os Sudaneses, Guineo-sudaneses muçulmanos e
por último os Bantos ou
Bantus.
Os Bantos, a quem
se atribuem as festas de
congado, são o resultado
de uma grande mistura
entre vários povos da
África durante séculos
de migrações, guerras e
conquista de outros povos, antes mesmo da chegada dos Portugueses ao
continente.
Os Bantos formam
uma etnia com mais de
500 povos de culturas e
dialetos diferentes (Poel,
2011), e são esses que
vão compor em grande
maioria a população escrava de Minas Gerais
vindos principalmente
de Moçambique, Angola e outras regiões de
domínio Banto na África.
Quando chegavam
ao Brasil muitas vezes
eram separados de seus
familiares e conterrâneos e misturados a outros indivíduos de tribos,
culturas e dialetos diferentes afim de se evitar
revoltas e qualquer tipo
de agremiação em seus
futuros locais de trabalho.
As
comunidades
negras no Brasil foram formadas em meio a desagregação familiar resultante do
tráfico e as diversidades da
vida escrava. A condição escrava dificultou a formação
e consolidação de famílias e
comunidades, já que amigos
e parentes podiam ser separados pela venda para proprietários diferentes. (ALBUQUERQUE; FILHO, 2006,
p. 95)
Fatores
que
eventualmente resultavam em conflitos entre
etnias diferentes, mas de
uma forma bastante criativa os negros “driblavam” essas dificuldades
linguísticas e culturais
no intuito de melhorar
as condições do cativeiro e tentar formar uma
unidade social referida a
seus antigos valores.
Para
sobreviver
sob o cativeiro, os escravos
e escravas buscaram acionar
relações sociais aprendidas
na África e as aqui inventadas. Os vínculos formados a
partir do trabalho, da família,
dos grupos de convívio e da
religião foram fundamentais
para sobrevivência e para a
recriação de valores e referências culturais. (ALBUQUERQUE; FILHO, 2006, p. 95)
Na busca de
amenizar as diferenças
linguísticas e culturais
esses grupos africanos
ainda dentro dos navios
organizaram um novo
dialeto o chamado “português crioulo” no qual
pudessem haver pelo
menos uma unidade linguística para garantir a
“sobrevivência, também
cultural” (Poel, 2011,
pág.).
Somado a isso
identificamos a assimilação do cristianismo
como fator aliado importantíssimo para a
construção de nova
identidade e culto às antigas tradições africanas.
Como indica Francisco
van der Poel, muitos escravos de origem Banto
já haviam tido contato
com o cristianismo ainda em território africano,
além disso, os Bantos já
cultuavam a fé em um só
Deus, por ora os chamavam por vários nomes,
Nzámbi, Zambiapunga
entre outros. Documentos da própria igreja
comprovam a existência
da 'Confraria de Nossa
Senhora do Rosário' dos
Homens Pretos' datada
de 14 de Julho de 1496
pouco antes da chegada
dos portugueses ao Bra-
17
18. Continuação
18
sil (Poel, 2011, pág.).
seus valores culturais den
tro da tradição cristã. Não
A mais antiga men- podemos deixar de lembrar
ção a uma “Confraria de as inúmeras investiduras
Nossa Senhora do Rosário da igreja para depreciar e
dos Homens Pretos” encontramos em 14 de julho de perseguir as manifestações
1496, portanto, quatro anos africanas e suas influências
antes da chegada dos por- dentro do catolicismo ou
tugueses ao Brasil. Esta in- mesmo fora dele. Os neformação consta num alvará gros passam, então, a se
dado à dita confraria, sita no
mosteiro de S. Domingos de organizar em confrarias e
Lisboa, "para poderem dar aos poucos vão ganhando
círios e recolher as esmolas espaço podendo sair às
nas caravelas que vão à Mina ruas e podendo prestar
e aos rios da Guiné". Encon- suas homenagens aos seus
tramos o importante documento no Arquivo Nacional santos devotos nas portas
da Torre do Tombo em Lis- das igrejas.
boa: Confirmações Gerais,
As festas de coroL.2 fls.107v.-108. (Poel, Fran- ação de reis realizadas em
cisco van der. 2011)
devoção aos santos negros, como São Benedito,
O
congado
Nossa Senhora do Rosário
surge como um elee Santa Efigênia ocorrem
mento de resistência da
em diversas localidades
identidade africana e de
brasileiras, com destaque para os interiores de Minas Gerais. No entanto,
cada região possui suas características
próprias, e os tipos de guardas, ternos
ou bandas, possuem cada qual seu
próprio vestuário, adereços e autonomia. O mesmo tipo de terno pode
apresentar variações de um lugar para
outro, porém, todos possuem em comum a fé e a devoção ao santo protetor que é assegurada pelo Reinado.
As guardas são em número de sete e
são chamados irmãos. São eles: Candombe, Congo, Moçambique, Catopê,
Marujo, Caboclinho, e Vilão.
Fotos: Isaac Josué da Silva
19. O CONGADO COMO ELEMENTO DA CULTURA POPULAR
A cultura popular é o resultado de uma
interação contínua entre
pessoas de determinadas regiões e abarca um
complexo de padrões
de comportamento e
crenças de um povo.
Ultrapassando gerações,
adequando muito das
vezes as suas novas realidades. A cultura popular
surgiu na adaptação do
homem ao ambiente
onde vive diferenciando
um povo de uma determinada região, de outra
abrangendo um modo
especifico e peculiar de
um grupo.
Ao contrário da
‘cultura de elite’, a cultura popular surge das
tradições e costumes e
é transmitida de geração
para geração, principalmente, de forma oral.
O mais importante na
arte popular, ou cultura
popular, não é o objeto
produzido, mas sim o artista, o povo, a periferia,
isso faz com que a arte
popular seja contemporânea do seu tempo.
“A obra de arte popular constitui um tipo de linguagem
por meio da qual o homem
do povo expressa sua luta
pela sobrevivência. Cada objeto ou manifestação é um
momento de vida. Ele manifesta o testemunho de algum
acontecimento, ou denúncia
de alguma injustiça”. (BOSI,
1987, pág.29).
A inspiração da
cultura popular vem dos
acontecimentos
corriqueiros. Diferente da
cultura erudita, que é ensinada nas escolas, e que
às vezes é vista como um
“produto” e faz parte de
uma elite. Ao ver a cultura como algo amplo, sem
ser um produto, chegase a conclusão que toda
cultura é por definição
popular. Não existe
cultura pertencente a um
único grupo social, toda
cultura é baseada em fatos históricos sociais que
implicam na formação
cultural e na aceitação de
valores e costumes.
Para
Alfredo
Bosi o termo cultura é,
na maioria das vezes, associada ao fator financeiro, já que no período
clássico a cultura era um
bem atribuído somente
às pessoas que detinham
um poder aquisitivo
melhor; devido ao fato
de ser sempre relacionada com posses materiais. Ela era muitas vezes
relacionada com a boa
educação oferecida em
colégios
particulares,
com a posse de uma casa
na qual houvesse uma
boa biblioteca, assim
como bens materiais, de
forma que somente as
classes elitizadas tinham
o poder de compra. Segundo Bosi toda a cultura
que era vivenciada pelas
classes mais pobres era
tida como cultura de
“guetos” tida como nãoerudita.
Nessa perspectiva a cultura é entendida
como uma mercadoria e
algo que é herdado. Segundo Bosi é possível
encontrar em algumas
partes do mundo pessoas que ainda possuem
esse pensamento rotulado de cultura. Para o autor tal ideia tem sido reformulada, levando em
conta a riqueza de tais
manifestações antes vista como não-culturais,
bem como sua característica de determinar a
identidade de um povo.
Na perspectiva
de Guinsburg a cultura
popular é um elemento
produzido pelas classes
populares, que por muito
das vezes esse elemento
não é escolhido pelo
povo, nos locais onde
vivem, mas algo imposto
às mesmos por grupos
dominantes. Partindo
da ótica de Guinsburg
e Bosi, podemos analisar o congado como
uma forte manifestação
cultural em nossa sociedade, uma vez que, além
de o congado expressar
elementos religiosos ele
permite percebermos a
cultura africana trazida
pelos escravos, assim
como a sua mescla com
a cultura católica portuguesa.
Nesse sentido, o
congado é uma manifestação religiosa cultural
que pertence a uma das
práticas mais antigas
documentadas no Brasil, fazendo hoje parte
integrante do folclore
brasileiro. Tais manifestações, como tivemos
oportunidade de var acima, tiveram sua origem
na África vindas principalmente dos povos
bantos das regiões do
Congo, Moçambique e
Angola.
Segundo
os
congadeiros, o congado
chegou ao Brasil através
dos escravos trazidos
em navios negreiros em
condições desumanas,
para trabalharem nas minas de ouro existentes
no país. Algumas pessoas acreditam que a
história do congado em
Minas Gerais começou
com a vinda de Chico
Rei. Um senhor que era
considerado rei pelos
seus irmãos na África.
Segundo conta a história,
Chico Rei foi arrancado
de sua mãe pátria (África) juntamente com toda
sua família, chegando
aqui na metade do século XVIII. Na viagem,
Chico Rei perdeu sua
mulher e seus filhos, so-
19
20. brevivendo apenas um.
Conta à tradição
que ele era rei na África,
e chegando ao Brasil foi
reconhecido pelos seus
compatriotas. Ao chegar
ao Brasil, Chico Rei foi
vendido para senhores de
escravos em Vila Rica, trabalhou nas minas de ouro e
somando o trabalho de domingos e dias santos, conseguiu realizar a economia
necessária para comprar a
sua liberdade e a do filho.
Com o feito realizado, conta à história que Chico Rei
dançou e cantou em agradecimento a Nossa Senhora do Rosário e junto com
seus companheiros fundou
a igreja de Nossa Senhora
do Rosário dos Pretos. Depois Chico Rei conseguiu
comprar seus súditos de
nação e adquiriu uma mina
de ouro desativada. Casouse com uma nova rainha e
o prestígio do “rei negro”
se expandiu.
O congado retrata
basicamente três temas em
seu enredo: a vida de São
Benedito, o encontro de
Nossa Senhora do Rosário
submergida nas águas, e a
representação da luta de
Carlos Magno contra as
invasões mouras. Na celebração das festas onde
se reverenciam os santos,
a aclamação é animada
através de danças, com
muito batuque e som de
tambores. Há também uma
hierarquia na qual se destaca o rei, a rainha, os generais e capitães. Os congadeiros são divididos em
grupos de números variáveis, chamados ternos ou
guardas. Os tipos de ternos
20
variam de acordo com
sua função ou ritual, na
festa e no cortejo. Como
vimos anteriormente,
no congado os ternos
são divididos em grupos
chamados de família de
sete irmãos. Quais são
eles: Candombe; Congo;
Moçambique; Catupê;
Marujo;
Caboclinho;
Cavaleiros de São Jorge
e Vilão.
A festa do congado acontece na forma
de procissões ou cortejos misturando elementos tribais tradicionais
da África com elementos do catolicismo. Esse
fenômeno cultural é
conhecido como sincretismo religioso. Nestas
manifestações sagradas,
entidades dos cultos africanos são identificadas
aos santos do catolicismo. Os congadeiros reverenciam esses santos,
com levantamento de
mastro ao som dos tambores com muita música
e dança, tendo como padroeira Nossa Senhora
do Rosário. Diante de
elementos tão fortes no
catolicismo fez com que
a igreja, as autoridades e
os senhores de engenho
em geral aceitassem e,
muito das vezes, prestigiassem a solenidade,
tornando possíveis estas manifestações. Em
épocas na qual a igreja
comandava uma sociedade muito conservadora.
O congado, em
linhas gerais, faz uso da
memória e da oralidade,
recompondo as histórias
vivenciadas do sagrado.
Dentre a diversidade de
feições e multiplicidade
dos seus elementos constitutivos, destaca-se o
lamento dos congadeiros diante do mastro sagrado rememorando o
tráfico negreiro, a tragédia da escravidão vivida
no Brasil bem como a
aparição de Nossa Senhora do Rosário na luta
contra o cativeiro.
Trata-se
de
comemorar
(uma
comemoração coletiva)
o tempo primordial,
tempo no quais os negros podem reorganizar
reordenar a sua origem
e a sua história a par-
tir de uma experiência que
transcendem os limites temporais e geográficos. Não se
trata, portanto, de simplesmente reviver a história tal
e qual ela foi vivenciada no
tempo profano (portanto
não se trata da comemoração de uma história que
tem um começo e um fim)
- daí talvez a dificuldade dos
historiadores de determinarem com precisão a origem
desse tipo de manifestação
religiosa no Brasil. Tratase antes, de simplesmente
dar sentido à existência do
homem negro de forma que
ele possa reorganizar o seu
mundo (cosmo) a partir de
uma experiência que transcende o tempo e o espaço
profano. Nessa reorganização ele busca se integrar
a uma ordem que lhe é superior e, simbolicamente ele
assim o faz, na festa do congado ao ficar o mastro – no
“umbigo do mundo”, “no
centro da terra”.
Fotos: Isaac Josué da Silva
21. A FESTA DO CONGADO
A manifestação festiva dos
ternos de congado começa com o
levantamento dos mastros na porta da igreja, neles são colocados à
imagem dos Santos que serão reverenciados na festa. O grupo que
fica responsável em levantar os
mastros são os organizadores da
festa, este mastro é levantado oito
dias antes dos festejos.
No dia da festa o grupo
organizador da cerimônia tem a
função de receber todos os ternos de congado que vão participar dos festejos. Os grupos se
preparam e saem em cortejo com
seus reis e rainhas em direção a igreja do Rosário, onde foram fincados os mastros. Ao chegar diante
dos mastros, puxado pelos seus
capitães todos os ternos de congado cantam um lamento a Nossa
Senhora do Rosário rememorando sua luta contra a escravidão e
o cativeiro. Debaixo do mastro o
capitão apresenta aos santos reverenciados na festa sua bandeira
contendo a devoção do grupo,
todos cantam e dançam agradecendo as bênçãos concedidas e
pedindo proteção e prosperidade.
Terminada as manifestações sagradas diante dos mastros, os congadeiros partem em
direção a igreja onde tem um
altar especial dedicado a Nossa
Senhora do Rosário. Diante do altar
acontece o ponto alto da festa, no
qual há uma relação direta com o sagrado. Dentro da igreja todos rezam
manifestando a sua fé, em seguida todos cantam e dançam agradecendo e
homenageando a Nossa Senhora do
Rosário. Durante todo o dia os ternos
de congados se alternam nas homenagens aos Santos.
Nesse tipo de ritual, o tempo
e o espaço sagrado são vivenciados
de forma simbólica. O cosmo (o
mundo) se reorganiza e os congadeiros, através da devoção à Nossa
Senhora do Rosário, resignificam a
sua existência no mundo. Nesse processo ritual de resignificação, eles
retomam aquilo que os identificam
em sua existência enquanto homens
pretos. Não se trata de nenhum tipo
de “ação afirmativa” contra o racismo que ainda hoje impera em nosso
país, tampouco se trata de uma “representação teatral” do modo como os
primeiros negros chegaram ao Brasil.
O congado não se inscreve em nenhum desses discursos. Isto porque,
em sua maioria, os congadeiros são
homens e mulheres do povo, muitos
não concluíram sequer a antiga quarta
série primária. A prática do congado
não se confunde com nenhum tipo
de tematização teórica, nenhum tipo
de reflexão sobre a história da África
e dos africanos no Brasil que, por
ventura, estaria sendo dramatizada nas apresentações realizadas
pelos grupos. O congado é pura
e simplesmente uma experiência
religiosa que, em sua tentativa de
religar-se ao divino, transcende
qualquer tipo de discurso.
Representações simbólicas do Congado vestimentas
Conforme nos mostra
Saul Martins em seu livro Congado Família de Sete Irmãos (1988).
O grupos de congados se vestiam
originalmente da seguinte maneira:
Embora atualmente seja
notada uma grande variação na
composição dos ternos , no que
diz respeito às vestimentas ou até
mesmo na substituição de instrumentos, todos e cada um deles,
na festa saúdam a mãe de Jesus,
representada por Nossa Senhora
do Rosário, que coincidentemente
ou não se comemora no mesmo
dia da abolição da escravatura no
Brasil.
21
23. FOLIAS DE REIS: UMA JORNADA POR SUA HISTÓRIA
Ulisses Passarelli
Santa Helena,
mãe de Constantino,
imperador romano, empreendeu
verdadeira
caçada aos tesouros religiosos. No início do
século IV resgatou no
Oriente Médio os restos
mortais dos Três Reis
Magos que visitaram Jesus em Belém. Trouxe
os ossos para Constantinopla, guardando-os
na Catedral de Santa
Sofia. Em meados do
mesmo século, Eustórgio, primeiro bispo da
cidade italiana de Milão
os transportou para lá,
edificando um templo
próprio para os magos.
As relíquias foram conservadas num sarcófago
de pedra. No ano 1164,
foram transladadas para
Colônia
(Alemanha),
como despojos de guerra, graças a vitória do
Imperador Frederico I
(dito “Barba Roxa” ou
“Barba Ruiva”). Em
Colônia foi então edificada uma extraordinária
obra em estilo gótico, a
Catedral dos Santos Reis,
onde seus ossos ainda se
encontram, numa urna
artística de ouro.
Por toda época
e por onde estiveram as
relíquias, elas foram alvo
de romarias. Cristãos de
toda Europa vinham de
longe venerá-las e em
torno dessa devoção
foram criadas músicas,
cantos, danças, peças
teatrais e obras de arte.
No mais, os Magos
tornaram-se durante a
Idade Média, modelo da
realeza europeia, já que
foram considerados os
primeiros reis cristãos.
Soberanos
visitaram
as relíquias e deixaram
opulentas ofertas. Os
estudos do folclorista
Affonso Furtado, da
Casa Santos Reis, sobre
a história da tradição reiseira são um referencial
no Brasil, para quem se
aventurar no estudo de
tão intrincado tema.
Não é pois de
admirar que por toda
Europa surgissem formas populares de louvar
os Três Reis Magos por
meio de grupos folclóricos, muito arraigados
aos costumes de diversos países, inclusive os
ibéricos, de onde recebemos as matrizes que
deram origem às nossas
folias de Reis e demais
tipos de reisados.
Vem pois de uma antiga
prática europeia, o costume da cultura popular de cantar nas casas
versos que descrevem a
natividade, a visita dos
magos e pastores, com
ou sem representação
dramática, assumindo
diferentes aspectos e nomes conforme o país ou
região: Sternsinger (Alemanha, Bélgica, Luxem-
burgo, Áustria, Alsácia),
Vilancicos
(Península
Ibérica), Pastoradas, Reisadas, Janeiras (Portugal), Noel Christmas (Inglaterra), dentre outros.
França, Itália, Romênia,
igualmente conhecem
esses cantos.
O Brasil recebeu as
matrizes europeias (sobretudo ibéricas) que
ainda no período quinhentista foram representadas nas áreas
litorâneas, nos redutos
de catequese jesuítica e,
mais tarde, adentraramse pelo imenso interior.
Em cada região, sob as
influências locais, tomaram outras formatações,
mais ao gosto nacional.
Os
relatos
mostram que já no período quinhentista, ao
longo da costa brasileira,
os padres jesuítas se esforçavam por criar ou
aproveitar autos catequéticos
tematizados
nos Reis Magos, segundo modelos europeus,
adaptados à realidade
brasileira, que eram representados nos aldeamentos indígenas. Mais
tarde, adentraram pelo
imenso interior do país
e ganhando liberdade de
expressão, adquiriram a
cor local em cada região
do Brasil, gerando tipos
com características regionais. É muito claro o
abrasileiramento do cos-
tume ancestral de cantar
e dançar pelo período
natalino em memória da
visita dos Magos. Neste
processo de nacionalização do velho costume
a influência da cultura
africana nas terras do
Brasil foi fundamental.
Não nos limitamos a
imitar o estrangeiro, mas
tomando-o por modelo,
criamos uma nova realidade sobre ele.
Eis que o brasileiro não
se satisfez em imitar o
canto natalino europeu.
Adaptou-o com criatividade, acrescentou os
personagens regionais,
figuras provincianas e
seres mitológicos, enriquecendo sobremaneira o modelo europeu. Já
então, pode-se afirmar
sem dúvidas que a folia de Reis assim como
outros reisados do nosso país são expressões
legítimas de nossa cultura popular, que vão encontrar nos cantares
europeus apenas o seu
arquétipo. Em outras palavras, não há na Europa
uma folia como a nossa.
O cristianismo
dominante no Novo
Mundo tem uma gigantesca amplitude de
expressões, muitas de
natureza popular, extra
institucional
23
24. Dentre estas situa-se a
folia de Reis, grupo folclórico desenvolvido no
Brasil sobre modelos do
continente europeu e
mais especificamente de
Portugal e Espanha.
Constituem-se
na base de um pequeno grupo itinerante de
pessoas, sobretudo homens, outrora, aliás, só
homens, que vem no
período propício com
seus instrumentos musicais e cantorias louvar
e anunciar o nascimento
de Jesus, de porta em
porta, visitando os devotos em processo ritual
que envolve coleta de
donativos, destinados à
organização de uma festa dedicada aos Santos
Reis (Três Reis Magos
do Oriente, comemorados a 06 de janeiro), ou a
cooperação em obras de
melhoria ou construção
de igrejas, ou ainda, para
a caridade.
Cada folia de
Reis traz de praxe consigo como abre-alas, uma
bandeira ou estandarte
com estampa ou pintura,
que retrata a cena da natividade de Cristo; outras vezes apenas a figura
dos Reis Magos. Outras
mais, de certas regiões
substituem-nas por um
pequeno oratório ou
caixa contendo imagem
e há por fim as que não
se precedem por objeto
religioso, ficando esta
expressão limitada ao
verbo. Seja como for,
bandeira ou oratório é
sempre um foco de atenções e grande respeito
do grupo, de efeito con-
24
gregador e em suma o
elo de ligação entre participantes e visitados.
Em questão classificatória a folia de Reis
é o que coletivamente se
chama de um reisado.
Neste contexto entendese reisado como manifestações
folclóricas
natalinas, coreográficomusicais, baseadas direta
ou indiretamente nos
costumes ibéricos do
Ciclo do Natal, tendo ou
não preservado o fundo
religioso e independente da existência de
um entrecho dramático,
de peças teatralizadas,
figuras de entremeio ou
simulacros guerreiros.
Este termo “folia de Reis”, carrega na
vastidão territorial do
país uma lista de sinônimos, obviamente sujeita
às peculiaridades regionais: bando de Reis, folia de Santos Reis (do
Oriente), terno de Reis,
terno de Folia de Reis,
companhia de Reis,
comitiva de Reis, tripulação de Reis, grupo de
Reis, bandeira de Reis,
reis, tiradores de Reis.
É o folguedo
reiseiro mais comum
do país, havendo municípios com dezenas
deles. Há até mesmo associações e federações
que as congregam. É
também a variante reiseira de mais vasta bibliografia. Os rituais, detalhes, toadas, variam
muito de uma região à
outra, de um mesmo estado. Tradicionalmente
são rurais, mas o êxodo
trouxe muitos grupos
para os subúrbios da cidades onde hoje é tão ou
mais frequente que nas
roças.
A área mais
típica e irradiadora da
tradição é o sudeste
do Brasil, onde é bem
mais numerosa. Mas a
distribuição geográfica
abrange no todo: Rio
Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná, São
Paulo, Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Minas
Gerais, Bahia, Goiás,
Tocantins, Mato Grosso
do Sul, Pará e Rondônia.
Personagens
também
variam com as regiões inclusive os limites nomenclaturais. Os músicoscantores, cada um com
instrumento, são chamados comumente foliões
ou folieiros, em número
variável (na região das
Vertentes / MG, folião
é o chefe, folieiros os
demais); bandeireiro (=
bandeirista,
bandeira,
porta-bandeira, alferes,
alferes da bandeira),
mestre (= tirador, embaixador, folião de guia,
folião - responsável pela
cantoria, mestre-folião),
contramestre (ausente
em muitos grupos é o
imediato do mestre),
macuco (carregador das
prendas arrecadadas ausente em muitos grupos), diretor (= gerente,
dono da folia, chefe da
folia - responsável pelo
grupo; líder), palhaços
(mascarados
cômicos
e de função complexa,
também conhecidos por
sacatrapo, marungo, mocorongo, xará, alferes, matias, tenente, morgamu,
bastião,
francisquinho,
pastorinho, guarda-mor)
- em número variável.
Outrora havia em alguns
grupos rurais mais um
ou dois mascarados, a
catirina e o pai joão, praticamente abandonados.
Em Campos Altos / MG,
foi registrado o velho e a
velha, como nos bumbameu-boi e certos reisados.
A folia é um
grupo totalmente eivado
de práticas do catolicismo
popular. O ritual básico é
chegar em silêncio numa
casa, cantar anunciando
que Santos Reis ali chegou
para visitar e abençoar,
pedir para abrir a porta e
receber a bandeira, entrar,
venerar o presépio e
25. demais imagens da casa,
saudar os anfitriões,
pedir esmola, agradecer,
pedir a bandeira de volta, despedir. Os donos
da casa podem ofertar
comes-e-bebes e então
se agradece à comida e
bebida. Quando há palhaço, o mesmo pode se
apresentar à parte, com
danças agitadas e enunciação de versos humorísticos (chula).
O período de
visitação às casas chamase jornada ou giro. É
encarado como missão
sagrado pelos participantes. Respeita a períodos definidos: do dia de
Nossa Senhora da Conceição (8 de dezembro)
ao Natal saía-se com a
bandeira do Natal, em
pano branco, estampado
o Deus Menino, daí ser
chamada “folia do Menino Jesus”, cujas ofertas
eram revertidas ao Natal
dos pobres. Desapareceu, absorvida pela folia de Reis, que abarcou
seu período e se estende
até 6 de janeiro. Com
frequência a sua bandeira é azul (mas eventualmente surgem outras
cores: verde, rosa, branco, amarelo, vermelho) e
traz no “registro” (gravura sagrada) a estampa
dos Magos em adoração
ao redor da manjedoura.
Do dia 7 ao 20 de janeiro a bandeira é mudada
para a vermelha com
a estampa de São Sebastião, popularíssimo,
daí se dizer “folia de São
Sebastião”. O período
de carnaval e quaresma é
de recolhimento.
Fotos: Isaac Josué da Silva
Da Páscoa a Pentecostes as folias voltam à atividade,
agora com a bandeira do Espírito Santo, via de regra,
vermelha, com a estampa do Paráclito em forma de
pombinha branca. É a “folia do Divino”. Em outras
regiões surgem alguns outros tipos de folias mas são
raras e de natureza local. Aqui mesmo em São João delRei já existiu: folia de Nossa Senhora Aparecida, folia
de Santa Luzia, folia de São José e folia de São Gonçalo. Para apresentações culturais a folia sai em qualquer
época do ano, ressalvado carnaval e quaresma. Por pagamento de promessa qualquer época é válida.
As bandeiras são enfeitadas de fitas, flores,
ramos aromáticos de ervas medicinais, perfumadas.
Como objeto devocional articulam a troca de dádivas
entre folia e morador visitado, bênçãos via cantoria,
oferta pecuniária em retribuição caritativa.
Na zona urbana:
- Águas Férreas, folião
Geraldo Elói de Lacerda;
- Rua São João, Tijuco,
folião Antônio Ventura;
- Jardim São José, foliã
Maria Inês do Santos
Zim , a “Lilia” ;
- Guarda-mor, folião
João Batista do Nascimento, o “João Matias”;
- Bom Pastor, folião
Geraldo Domingos Resende, o “Didinho”;
- Bairro Araçá, folião
Luís Carlos Rosa, o “Luisinho Sanfoneiro”.
Na zona rural:
- da Colônia do José
Teodoro, folião Carlos
Leandro de Oliveira,
“Carlão”;
- do distrito de São Gonçalo do Amarante, folião
Lourival Amâncio de
Paula, o “Vavá”;
- do distrito de São Sebastião da Vitória, folião
Vítor Alexandre;
- do povoado do Tijuco,
Em São João del-Rei há informações que com- folião José Marcelino.
provam a existência das folias, desde a segunda metade do
século XIX, já com grande popularidade. O jornal Arau-
A tradição das
to de Minas, na sua edição n.10 (ano 6), de 08/02/1883, folias em São João delórgão de imprensa ligado aos conservadores, traz na Rei apesar de muito enprimeira página uma extensa matéria assinada pelo fig- raizada traduz pela lista
urão político Severiano de Resende, que a escreveu em acima uma preocupação.
cunho memorialístico, é da maior importância por ser O que aparenta ser um
simbolicamente a certidão de nascimento das folias regio- número
significativo
nais, Porém é de se supor, que o costume já estivesse aqui de grupos na realidade
enraizado muito antes. Difundidas por todo o município mostra uma redução
e nas vizinhanças, frente às mudanças sociais, entraram drástica deste quantiem declínio no último quartel do século XX.
tativo posto que a vinte
As folias persistem escassas em relação ao pas- anos este número era o
sado, mas ainda assim demonstram uma vitalidade diante dobro e quando recuado fenômeno de massificação, evidente no esforço de mos mais na memória
seus componentes em conservarem o costume de cantar popular atinge algumas
a boa nova à moda antiga.
dezenas.
Hoje se mantém ativos os seguintes grupos de
As folias eram
Folias de Reis no município de São João del-Rei, a saber: sobretudo rurais. O esvaziamento das roças
25
26. com o êxodo rural as trouxe para os
subúrbios da cidade mas ainda assim
ela tem uma carga simbólica muito
grande em termos de tradições do
campo.
No mais, todos os grupos
remanescentes no município, sem
exceção, enfrentam sérias dificuldades de continuidade. Os problemas são de diversas ordens. Algumas necessidades são de natureza
física (necessidades de uniformes,
instrumentais, transporte), outras
de inclusão social (a receptividade
nas casas já não é a mesma, por distanciamento ou desconhecimento
da sociedade atual acerca do significado do ritual ou de como lidar
com ele ou a simples não aceitação
em razão do número de moradores
de outras religiões ser grande e não
aceitá-los), perda de participantes
por mudança para religiões evangélicas, mas é sobretudo a renovação
que esbarra de forma ameaçadora
na tradição das folias de Reis.
Cada vez mais se percebe o
envelhecimento dos grupos. A faixa
etária dos participantes é quase toda
acima dos 40 anos, ficando na maioria em torno do 60 anos para mais.
A presença de jovens, adolescentes e
crianças e quase nula. Esta realidade
se assoberba sobre todas as outras dificuldades e paira como uma sombra
sobre os grupos.
A prática tem mostrado o encolhimento das folias em termos de
número de participantes, pois com a
morte ou saída de um membro por
qualquer razão, saúde debilitada no
geral, não encontra caminho de reposição. Quando um líder encerra
atividades, outro não aparece para
tomar a frente.
O elo de transmissão oral
do saberes está quebrado. A foliaescola é uma coisa do passado, onde
os grupos tinham cunho familiar: na
folia herdada do avô e por sua vez
do bisavô, participavam os filhos
desde pequeninos, sobrinhos, cunhados, afilhados, compadres. Daí se dizia, “folia dos Candinho”, “folia dos
Fortunato”, “folia dos Vinícius”,
“folia dos Irmãos Marinho”, etc.,
demonstrando sua vinculação familiar.
Ainda hoje se diz por força
de expressão: “folia do Araçá”, folia de tal lugar... mas na realidade
não é bem isto nos dias atuais. O
nome do bairro é uma referência
fixa à moradia do chefe, onde fica
a bandeira, onde se ensaia e reúne
para sair em jornada. Mas os participantes não são apenas das redondezas. Para manter o grupo
o folião busca gente de todos os
bairros, das vilas e até de municípios vizinhos. Isto é fácil comprovar
na mais simplória das estatísticas
que se venha a proceder.
Tudo isto em conjunto demonstra
a fragilidade atual das folias e a dificuldade de adaptação às questões
sociais em contínua e célere mudança, comprometendo seu presente e futuro.
Sugestões de leitura sobre as folias de São João del-Rei e microrregião Campos das Vertentes
26
- 8º Festival de Folias de Reis. Cidadania, São Tiago, n.45, fev.mar.2006.
- I Encontro de Folias de Reis. Informe Universitário, Lavras, UEMG/Campus Fundacional de Lavras, n.4, jun/1999, ano 2.
- Folia de Reis. Informativo Caminhos & Trilhas, Tiradentes, Agência Caminhos e Trilhas, n.7, jan.2005.
- Folias de Reis. Cidadania, São Tiago, n.35, fev/mar 2005.
- SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Dia de Santos Reis, Tribuna Sanjoanense, n.1055, 23/01/2001.
- SACRAMENTO, José Antônio de Ávila. Um pouco de história: sobre a epifania e Folias de Reis. O Grande Matosinhos,
Coluna Gente & Notícia, n.39, jan.2003.
- São Tiago cada vez mais inserido no Circuito Turístico de Minas. Cidadania, São Tiago,, n.86, maio/jun.2010.
- Encontro reúne folias das Vertentes na Colônia: entronização dos reis magos acontece hoje. Gazeta de São João del-Rei,
n.540, 03/01/2009.
- Folclore. Folha das Vertentes, São João del-Rei, n.118, jan.2009.
- Folias visitam largo de São Francisco. Gazeta de São João del-Rei, n.281, 10/01/2004.
- Folia de Reis ainda sobrevive em São João. Folha das Vertentes, n.21, jan.2005.
- Folias de São Sebastião visitam casas até o dia 20. Gazeta de São João del-Rei, n.128, 13/01/2001.
- Tradição da Folia de Reis na Rádio São João. Gazeta de São João del-Rei, n.26,16/01/1999.
- São João del-Rei se despede das luzes de natal. Gazeta de São João del-Rei, n.230, 11/01/2003.
- Folias de Reis visitam o Presépio da Muxinga: evento marca fim da programação natalina. Gazeta de São João del-Rei, n.229,
04/01/2003.
- Folia de Reis no Largo São Francisco. Tribuna Sanjoanense, n.1.142, 20/01/2004.
- 4º Encontro de Folia de reis e Pastorinhas vai ao Canal Rural. Folha das Vertentes, n.45, jan.2006.
- Folia de Reis encerra eventos do S.Francisco: grupos resgatam tradição difundida pelos europeus. Gazeta de São João delRei, n.488, 05/01/2008.
- São João del Rei mantém tradição das Folias de Reis. Jornal do Sindcomércio. n.70, dez.2007.
- Folias Eternas. Gazeta de São João del-Rei, n.540, 03/01/2009, editorial.
- Folia de Reis é atração em São João: encontro acontecerá no Largo do Rosário na próxima quarta-feira, 6. Gazeta de São
João del-Rei, n.592, 02/01/2010.
- Folia de Reis. Gazeta de São João del-Rei, n.541, 10/01/2009.
- Tradição e fé marcam Folia de Reis em São João. Folha das Vertentes, n.142, jan.2010.
- Festa folclórica apresenta música, dança e comida. Gazeta de São João del-Rei, n.212, 31/01/2002.
- Folia de Reis. Gazeta de São João del-Rei, n.489, 12/01/2008.
27. TRADIÇÃO DAS PASTORINHAS
EM SÃO JOÃO DEL REI E SUA ORIGEM
Tendo um enraizamento profundo na
Folia de Reis, surgem as
pastorinhas. Tal como a
Folia, ela é uma tradição
popular oral de caráter
cristão, esta representação pastoril, que na
maioria das vezes acontece no mês de dezembro em comemoração à
natalidade do menino Jesus, tem como finalidade
representar a passagem
bíblica que narra à visita
dos reis magos e pastores ao menino recémnascido.
Os Folguedos
Pastoris sempre foram
tradição em nosso país,
presente em variados
estados da federação. E
assim, como indica Ulisses Passarelli em seu
texto ‘Achegas ao estudo
das Pastorinhas’, essas
manifestações são bem
diferenciadas conforme
variação de sua localidade, temporalidade e
influência cultural.
“A extensão territorial brasileira e as múltiplas influências culturais, naturalmente
confluíram, com outros fatores, para dar às representações pastoris diversas formas...” (Passarelli, 2001, p. 1).
Podendo assumir diversos nomes como
Lapinha, Baile Pastoril,
Pastoril, Pastoral e como
Pastorinhas.
Sua origem remete ao
século XIII, por atitude
de são Francisco de Assis de montar um presépio com a intenção de
reproduzir o ambiente
em que Cristo nasceu,
além do cenário ainda
podia contar com uma
representação
teatral
com atores devidamente
vestidos como os personagens deste evento
estiveram.
(Passarelli,
2001). As representações natalinas muitas
vezes tinham também a
função de transmitirem
ensinamentos morais de
como um cristão deveria
se portar em certas situações.
Um aspecto interessante sobre essa
tradição é que apesar sua
origem se dar conforme
interesse e patrocínio
da igreja, ela não pode
deixar de ser considerada uma tradição popular ligada à oralidade.
Depois que esse tipo de
representação do nascimento de Cristo foi
com o tempo entrando
em desuso dentro da
igreja, sua prática continuou presente no cotidiano da população,
que consequentemente
ia lhe atribuindo novas
formas, novas músicas
e vestimentas, incluindo
mais personagens, havendo também até mudanças nas datas das
festas. Sua perpetuação
através do tempo se da
através da oralidade, passada as novas gerações
pela própria prática do
evento, o que permite
mudanças no jeito de
expressar a tradição, as
mudanças ocorrem conforme localidade, tempo
e culturas diferentes.
No Brasil as
Pastorinhas foram trazidas pelos portugueses,
mas foram se moldando
conforme a realidade de
nossa cultura, passando
a apresentar características diferentes, como
podemos observar nas
suas diversas manifestações nas diferentes
regiões do país.
Mas como é um
grupo de pastorinhas,
como acontece e quem
participa dele, como dissemos acima isso pode
variar dependendo da
região que estamos falando, mas tentaremos
descrever como ela acontece aqui na cidade de
São João del Rei onde
essa tradição é antiga e
que já contou com outros grupos, mas hoje
resiste apenas o grupo
denominado “Pastorinhas do Menino Jesus”
liderado e organizado
pelo casal Júlia Maria de
Lacerda e Geraldo Elói
de Lacerda, localizado
no bairro Tejuco em um
lugar chamado Águas
Férreas. É um grupo
composto por dez meninas, um menino e uma
banda de músicos que
varia em número. As
meninas vestem saias e
blusas com lenços no cabelo e no pescoço e um
aventalzinho, segurando
um bastão que marcam
o ritmo musical. São
dispostas em caminhada
em duas colunas aonde
vão a frente do cortejo.
Também se destacam
três crianças, um menino vestindo uma túnica
representando São José
alçado aos ombros um
embornal para depositar os donativos, uma
menina representando
um anjo e outra representando a virgem Maria. Os instrumentos
musicais utilizados geralmente são: violão, sanfona, triângulo, pandeiro
e surdo.
O cortejo tem
por finalidade sair a
cantar pela vizinhança
angariando
recursos
para obras de caridade
e reformas de capelas
na época que antecede o
natal e festa de São Sebastião em janeiro.
27
28. FOLIA DE REIS - 1883
Pesquisa, transcrição e comentários Ulisses Passarelli
28
“Logo após o dia 25 de Dezembro, em que a christandade comemora o nascimento do Menino Deus, na gruta de
Belém, apparecem os bandos de tiradores de Reis, folia que traz
a tradicção dos Magos, que vieram do Oriente, guiado pela resplendente luz de uma peregrina estrella, e depositar offerendas
aos pés do Messias, annunciado pelos prophetas e promettido ás
nações.
As lettras santas nada nos dizem acerca do genio e caracter dos trez coroados das plagas orientais; a regular, porem
pelos bandos, que anualmente os representam andando de porta
em porta a pedir pousada, eram elles rapazes folgasões, exigentes
e dados á pandega.
Não é somente um grupo de tiradores de Reis; ha varias
companhias e cada qual em seu genero: umas mais canalhocratas,
outras de gente mais escolhida; porém todas, da familia do sr. Zé
Povinho.
Logo ao anoutecer saem as folias á percorrer as ruas e a
bater de porta em porta.
Nada os detem na sua peregrinação; quer á noite esteja
esplenmdida, quer a impertinente chuva, como sempre acontece,
caia molhando-lhes o costado; não ha obstaculo que lhes empeça
a marcha.
Lá vem um dos taes bandos, acompanhemo-lo.
A parceirada é luzida, a comitiva e bando de musicos
são numerosos e exquisitos os instrumentos que estes empunham;
são elles um tambor, clarineta, viola, reque-reque, pandeiro e
uma sanfona.
Na frente do bando caminha, brandindo uma varinha
enfeitada de fitas, um mascarado, a que dão o nome de Bastião.
Apenas no limiar da porta da casa, que visitam, a muzica rompe a introducção, em que mais sobresaem as pancadas
no tambor e os sons agudos da esganiçada clarinetta.
O Bastião empertiga-se todo, sapatea meneando a varinha, corta jaca, soltando gritos de enthusiasmo e animação.
- Oh! diabo! Oh dannado! Branda fogo musgueiro!
Viva rapaziada!
Então, dentre o grupo dos tiradores de Reis, quasi todos
embuçados, como se tivessem vergonha de serem reconhecidos, com
os chapéus desabados e puchados sobre os olhos, ouve-se a voz
fanhosa e dasafinada do tirador mestre:
Ó de casa nobre gente
escutae e ouvireis
que das partes do Oriente
são chegados os trez Reis.
Á este solo segue-se o coro, verdadeiro berreiro, onde está
a voz aguda dos meninos, misturada ao falsete e ao baixo dos
marmanjos, produz um conjunto extravagante e insuportavel.
Terminado o introito por 3 pancadas do infallivel tambor, adianta-se o Bastião com uma bolsa, que apresenta ao dono
da casa, recebendo o que este lhes quer dar: variando a offerta
conforme a condição e generosidade do cavalheiro, a quem visitam.
Não são também muito exigentes os visitantes; tudo
aceitam de cara alegre e tudo lhes serve; em falta de pratas recebem contentes uma nota de 500 réis, um nichel de 200 ou 100
Rs., uns cobres e até galinhas, leitões ou ovos.
Logo que a offerta é lançada na bolsa o tambor dá o
signal do agradecimento, pandeiro e reque-reque, ouve-se o cantor:
Deus vos pague pela esmola
Deus vos dê muito que dar,
no reino dos céos se veja
para lá ir descançar.
Ou então:
Deus vos pague pela offerta
que destes com alegria,
no reino dos céos se veja
aos pés da Santa Maria.
Se a caza a que se dirigem é a de algum ricaço donde
esperam boa gorgeta, é este o solo da apresentação:
Bem sabemos que aqui mora
um grande homem de bem,
metta a mão em vossa bolsa
para nos dar um vintem.
Os bandos de Reis são em geral bem recebidos, todas as
casas se lhe abrem, moços, e velhos, raparigas e meninos correm
ás portas e janelas para apreciarem e a applaudirem a folia.
Todavia, como toda a regra, ha excepção, nesta cordialidade e satisfação no acolhimento aos bandos.
Há certas casas que se fecham á approximação dos folgasões tiradores de Reis; ou por que se vexam de dar pequena
esmola ou por que nada queiram finalmente.
_ Meninas, diz um velhote sistematico ás filhas que se acham á
janella recolham-se que vem esses mariolas e eu não quero cantigas á porta.
_ Papae, deixe-nos ver os Reis... não preciza dar muito,
basta meia pataca.
_ Meia pataca! Nem um vintém pilham-me elles... Não
faltava mais nada, concorrer eu para depois si divertirem em
cateretês!
_ Pois papae não tem medo que elles façam alguma?
_ O que hão de fazer?
29. _ Vingam-se cantando o “Esta casa fede á breu.”
_ Ora! que me importa isso?
Trancam-se todos, apagam as luzes e quando o bando
rufa e canta do lado de fóra ninguem se move; porem, nem assim
conseguem enganar aos foliões, que tomam a infallivel vingança,
cantando desesperadamente:
Esta casa fede á breu
mora aqui algum judeu...
Ou variando de estribilho:
Esta casa fede á unto
aqui mora algum defunto...
Outro bando, o dos mais casquilhos leva charanga á
frente, a musica rompe forte e marcial, á maneira de patriotadas,
onde o hymno nacional tem sempre o primeiro logar.
Em vez do Bastião, vae na frente um mocetão bem engravatado, empunhando uma salva de prata, e que, em sólo, canta
depois de estripitosa introducção:
Ó meu nobre cavalheiro
generoso, singular,
metta a mão em vossa bolsa
veja esmola p’ra nos dar.
Por toda parte cruzam os bandos, e não raro se encontram, desafiam-se e ha grande rolo, sahindo alguns de nariz
quebrado e costellas maltratadas.
Pelos arrabaldes da cidade, pelas fazendas correm
tambem as folias de tiradores de Reis; - ahi porem não aguardam
á noite - saem mesmo durante o dia.
Vão mascarados, formam danças; e quando o pouso é
bom, ficam durante um dia e uma noite entretendo os donos da
casa e comendo e bebendo.
Estes folguedos repetem-se todos os anos; apezar de já ir
perdendo aquelle enthusiasmo e casquilharia dos tempos idos.
Nos lembramos bem de vermos quando menino, esses
bandos de Reis em que se apresentavam á cavallo os trez Magos,
vestidos á phantasia, trajando roçagante manto, empunhando
áureo sceptro e tendo a cabeça cingida de resplendente diadema,
sobresahindo entre elles o rei “congo”.
Os bandos dão por terminada a sua jornada no dia 6
de janeiro, festa dos Reis dia santificado pela Egreja e destinado
pelos foliões á grande e enthusiasmado cateretê, cujas despezas
correm por conta dos devotos, que deitaram seu obolo nas mãos
dos piedosos peregrinos, que lhes foram cantar á porta.
S.João d’El-Rei, 1-1882 - Severiano de Rezende”
Comentários:
Texto intitulado “Tiradores de Reis”, transcrito
do folhetim do jornal “Arauto de Minas” , editado em São
João del-Rei por Severiano Nunes Cardoso de Rezende,
grande figurão da política local, que além de editor do
hebdomadário, também assina esta crônica. Edição n.10
(ano 6), de 08/02/1883.
Tem um aspecto relevante pela extensão e con-
teúdo, quanto mais se considerar-se que foi editado num
tempo que nenhum valor se dava a estas manifestações,
tidas então como divertimento da ralé; tanto mais se for
contado que figurou na primeira página de um jornal ligado ao Partido Conservador, escrito pelo coronel e potentado político. É um fato raro e notório. O folclorista
Affonso Maria Furtado da Silva, da Comissão Fluminense de Folclore, sem dúvidas o maior especialista em
devoções reiseiras do país, a quem dirigi cópia da desta
crônica de Severiano de Rezende, reputou-a como um
dos mais importantes textos para a história dos Reisados
brasileiros, pela extensão, conteúdo e antiguidade.
O tom depreciativo do escrito é reflexo do pensamento da época sobre o folclore e não diminui o valor
da crônica. Ninguém daquela época gostava de “perder
tempo” escrevendo sobre o folclore. Ele existia. Só não o
consideravam digno da imprensa.
O texto usa os seguintes termos designativos
para as Folias de Reis: Bandos, Companhias, Comitivas,
Folias e Tiradores de Reis. Distingue a existência de grupos humildes e outros mais rebuscados. Atesta sua popularidade. A clarineta desapareceu das Folias desta região
mineira (tal como a rabeca). Reco-reco e viola são raros
hoje. Introduziram novos instrumentos: banjo, cavaquinho, machete, bandolim. Xique-xique é antigo e persiste.
O adufe, raramente. O Palhaço continua a ser chamado
Bastião por aqui. Alguns ainda levam a varinha enfeitada,
ou bastão. Alguns Palhaços ainda sabem dançar o Corta-Jaca. Desapareceu o Maxixe de sua dança. Executam
ainda o Fogado, a Chula e a Chulinha (ou Pururuquinha).
De todos os versos citados neste texto, apenas o “Ó de
casa...” ainda é conservado. Os outros desapareceram.
Hoje em dia a esmola que cai na sacola do Bastião é só
dele. A esmola da Folia é posta na bolsa do Bandeireiro
e não se misturam jamais. O Cateretê ou Catira é uma
dança que desapareceu de nossa região. O verso de descante “Essa cada fede a breu / aqui mora algum judeu...”
, complementam assim em algumas versões: “... se não é
o dono da casa / é algum parente seu...” Notar o ódio ao
judeu como está explícito. Há outro descante assim: “O
senhor dono da casa / é um grande cará-cará [espécie de
gavião, ave de rapina] / esse barba de farelo / nada tem
para nos dá...” Descante quer dizer que se retira a cortesia
anteriormente cantada na chegada à casa. Quanto à salva
de prata para colher espórtulas é mais ligada à tradição
das Folias do Divino. Rei Congo: Baltazar, o negro. Não é
aqui o Rei Congo das Congadas. É apenas uma analogia.
Notar a ausência de menção a São Sebastião, o que condiz com os depoimentos de nossos mais antigos foliões:
outrora não cantavam para este santo nas Folias regionais,
como hoje se faz.
29
30. TRAZENDO A TRADIÇÃO PARA A ESCOLA
Como vimos a tradições populares
representam uma manifestação cultural que
traz consigo uma carga histórica e humana
inestimáveis, frutos da fusão dos diversos
povos que compõem o Brasil. Através delas,
podemos perceber elementos culturais que
resistiram durante séculos mesmo encontrando muitas dificuldades para a prática de
seus festejos.
É sabido que em São João del Rei
existe a lei Municipal nº. 3.826/2004 que
dispõe sobre a criação de um Programa
Municipal de Educação Patrimonial em
suas escolas municipais, por conseguinte,
Fotos: Inverno Cultural
30
a educação patrimonial transforma-se em
conteúdo programático dessas escolas. Buscando atender à demanda gerada pela Lei
Municipal de Educação Patrimonial, que
escrevemos esses textos introdutórios sobre
algumas manifestações que podemos encontrar aqui em nossa cidade, no intuito de
apresentar e valorizar as manifestações populares de nossa região e aproximar dos alunos nossas manifestações culturais em que
se encontram preservadas a nossa própria
identidade.
40. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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han
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