O conto descreve a lealdade de uma aia que troca os berços do príncipe e de um escravo para proteger o príncipe de um ataque do tio bastardo. Quando o tio rapta o que pensa ser o príncipe, a aia revela a troca e salva a vida do verdadeiro príncipe, suicidando-se em seguida por sua lealdade extrema.
2. AÇÃO
• ESTRUTURA
Introdução – desde “Era uma vez um rei…” até “… à beira de um
grande rio.”
• Apresentação do rei e do seu reino;
• Partida e morte do rei, deixando sozinhos a rainha, o seu filho e o reino.
Desenvolvimento – começa em “A rainha chorou
magnificamente…” e termina em “…que valia uma província”.
A reação da rainha face à morte do rei;
O príncipe fica exposto aos ataques dos inimigos;
O tio bastardo deseja o tesouro;
3. Caracterização comparativa do príncipe e do escravo, amamentação de ambos pela aia;
A lealdade da aia, nascida naquela casa real;
Certa noite, a aia pressente uma movimentação estranha no palácio;
A aia troca as crianças dos respetivos berços;
O tio bastardo invade o palácio e arrebata, por engano, o escravozinho;
A rainha fica em desespero com o rapto, no entanto, a aia acalma-a, mostrando-lhe o berço onde
dormia o príncipe;
Com este gesto, a aia mostra uma grande lealdade;
O tio bastardo, a sua horda e o escravozinho morrem;
A rainha mostra o seu filho à multidão, que questiona quem terá salvo o príncipe;
Como forma de agradecimento à aia, a rainha quer recompensá-la, conduzindo-a à câmara dos
tesouros;
O caminhar doloroso da aia e o comovido “cortejo fúnebre”;
A descrição da magnificência do tesouro real;
A escolha da recompensa da aia: o punhal.
4. Conclusão – desde “Agarrara o punhal…” até “E cravou o punhal
no coração.”
• suicídio da aia.
5. • ORGANIZAÇÃO DAS SEQUÊNCIAS NARRATIVAS
O processo de organização utilizado é o encadeamento, uma vez que as ações
se sucedem cronologicamente.
• DELIMITAÇÃO DA AÇÃO
Esta é uma narrativa fechada, pois a ação é solucionada, a personagem
principal, a aia, morre.
6. PERSONAGENS
• RELEVO
• personagem principal – a aia (nela que se centra toda a ação)
• personagens secundárias - rainha, tio bastardo, principezinho, escravozinho, rei,
cavaleiro do rei, capitão das guardas e um velho de casta nobre.
• figurantes - senhores, cavaleiros, aias, homens de armas, rebeldes e multidão.
NOTA: As personagens não estão identificadas com nome próprio, o que acentua o carácter intemporal e
universal da história.
7. • DEFINIÇÃO (COMPOSIÇÃO)
A aia é uma personagem modelada (redonda), dado que é dotada de
complexidade psicológica, agindo sempre de acordo com as suas convicções
religiosas e apresentando um comportamento que nos surpreende.
A rainha e o tio bastardo são personagens planas, uma vez que mantém
sempre o mesmo comportamento, sem surpreender o leitor.
8. • TIPOS DE CARACTERIZAÇÃO
No conto existe:
- caracterização física – ex.: “bela e robusta escrava”
- caracterização psicológica – ex.: “leal escrava”
- caracterização social – ex.: “escrava”
9. • PROCESSOS DE CARACTERIZAÇÃO
No conto, estão presentes os seguintes processos:
- caracterização direta – ex.: “leal escrava”
- caracterização indireta – ex.: “tremia pelo seu principezinho…”
(preocupada, ansiosa)
10. Retrato físico Retrato psicológico
Aia
Bela;
Robusta.
Leal;
Determinada;
Corajosa;
Mãe extremosa, dedicada, carinhosa;
Perspicaz;
Acredita na vida para além da morte;
Conformada com a sua condição social.
Rei
Moço (jovem):
Formoso;
Valente;
Alegre;
Sonhador;
Ambicioso/ conquistador.
Rainha Desgrenhada.
Solitária;
Desventurosa;
Sofredora;
Mãe ditosa.
Tio
Enorme;
De face flamejante, mais escura que a noite;
Com um manto negro sobre a cota de malha.
Temeroso;
Depravado;
Bravio;
Cruel;
Faminto do trono;
Consumido de cobiças grosseiras.
11. Principezinho Escravozinho
DIFERENÇAS
“cabelo louro e fino”
“berço magnífico e de marfim entre brocados”
fragilidade/insegurança
“cabelo negro e crespo”
“berço pobre e de verga”
nada tinha a recear/liberdade
SEMELHANÇAS
os olhos eram reluzentes
nasceram na mesma noite de Verão
eram criados pela aia
a aia cercava-os de carinho
eram beijados pela rainha
12. TEMPO
• Tempo da história (cronológico)
Referências temporais:
“Era uma vez”;
“A lua cheia…começava a minguar”;
“havia anos”;
“agora”;
“na mesma noite de Verão”;
“E ela um dia”;
“Ora uma noite, noite de silêncio e escuridão”;
13. “Depois”;
“nesse instante”;
“a luz da madrugada”;
“céu fresco de madrugada”;
“já o sol se erguia, e era tarde”;
“os primeiros raios de sol”.
Os principais acontecimentos ocorrem durante a noite e a madrugada.
14. • Tempo psicológico
Ex.: “pensava na sua fragilidade nos anos lentos que correriam antes que ele
fosse ao menos do tamanho de uma espada”
Transmite a ansiedade e a preocupação da Aia
15. • Tempo histórico
Toda a atmosfera sugere que a ação se passa na Idade Média, em que os
reis partiam para a guerra para conquistar, para ganhar mais poder. Era uma
época de monarquia.
16. ESPAÇO
Espaço físico
“reino abundante em cidades e searas”, “terras distantes”, “à beira de um grande rio”, “castelo
sobre os montes”, “planície”, “aldeias”, “casa real”, “serras”, “palácio”, “entrada dos vergéis”,
“entre os jasmineiros”, “fundo da galeria”, “os pátios”, “câmara”,, “galeria de mármore”, “entre o
palácio e a cidadela”, “na galeria”, “ao tesouro real”, “câmara dos tesouros” “no meio da câmara”.
Espaço exterior - alto – movimenta-se o tio bastardo e a sua horda (terror e ambição);
Espaço exterior - baixo – movimenta-se a população feliz (desproteção);
Espaço interior – a rainha, a aia, o principezinho e o escravozinho (fragilidade e receio).
• NOTA: A descrição é do geral para o particular, do exterior para o interior, uma vez que tudo se vai
concentrar à volta da aia (intensificação da ação).
17. • Espaço psicológico
“O rei seu amo, decerto, já estaria agora reinando num outro reino, para além
das nuvens…” – a aia julga que o seu senhor continua a reinar no seu palácio noutra
vida, que ela acredita existir depois da morte.
• Espaço social
A ação desenvolve-se num ambiente de corte palaciana, onde existem os
reis, os senhores, os cavaleiros, os criados e os guardas.
“Senhores, aias, homens de armas, seguiam num respeito…”
18. NARRADOR
• Presença
O narrador é não participante (heterodiegético), pois não participa na ação e
narra-a na terceira pessoa- “A rainha chorou magnificamente o rei.”.
• Posição
O narrador é subjetivo, uma vez que emite comentários e transmite alguma
parcialidade em relação às personagens- “Ai! A presa agora era aquela criancinha”;
“…à maneira de um lobo que, de atalaia, espera a presa.”.
• Focalização
O narrador é omnisciente, porque conhece todos os factos da história que narra,
as personagens, os seus pensamentos e emoções- “Quantas vezes, com ele
pendurado do peito, pensava na sua fragilidade…”.
19. MODOS DE REPRESENTAÇÃO DA AÇÃO/DO DISCURSO
No conto existe:
• Narração: “A rainha chorou magnificamente o seu rei”; “Descerrou violentamente a
cortina.”.
• Descrição: “do chão de rocha até às sombrias abóbadas, por toda a câmara,
reluziam, cintilavam, refulgiam os escudos de ouro, as armas…”; “Era um punhal de um
velho rei, todo cravejado de esmeraldas, e que valia uma província.”
• Diálogo: existe apenas uma fala no final do conto – “ – Salvei o meu príncipe - e
agora vou dar de mamar ao meu filho!”
20. LINGUAGEM E ESTILO
Advérbio de modo
Ex.: “A rainha chorou magnificamente o rei. Chorou ainda desoladamente o esposo...chorou
ansiosamente o pai que assim deixava o filhinho desamparado… ” – os advérbios de modo
utilizados intensificam o sentimento da rainha que perdeu o seu rei, seu marido, deixando-a
preocupada com o futuro do seu filho que ficou privado do seu pai, da sua proteção e do seu
amor.
Adjetivação
- dupla adjetivação
Ex.: “homem depravado e bravio” – a dupla adjetivação reforça o caráter negativo da
personagem (tio bastardo).
● Antítese
Ex.: “O berço de um era magnífico e de marfim entre brocados – e o berço do outro pobre
e de verga” – a antítese realça a diferença existente entre a riqueza do príncipe e a pobreza
do escravo (a diferença social).
21. ● Comparação
Ex.: “…arrancou a criança, como se arranca uma bolsa de oiro,…” – esta comparação realça a
violência, a crueldade e a ambição do tio, bem como do valor que o príncipe tinha para ele.
● Metáfora
Ex.: “E sem que a sua face de mármore perdesse a rigidez, com um andar de morta...ela foi
assim conduzida...” – as metáforas realçam a rigidez e a palidez da aia, expressam a dor sentida
pela personagem.
● Enumeração
Ex.: “...reluziam... montões de diamantes, as pilhas de moedas, os longos fios de pérolas,...” –
a enumeração destaca a grande riqueza existente no tesouro real.
● Símbolo
Ex.: “Uma roca não governa como uma espada” – realça a fragilidade do reino, agora nas mãos da
rainha.
● Sinédoque
Ex.: “…o filhinho desamparado…sem um braço que o defendesse…” – salienta a preocupação da
rainha relativamente à fragilidade do filho.
22. • Hipérbole
Ex.: “…tio cruel, de face mais escura do que a noite…” - a hipérbole reforça o lado obscuro
do tio através do seu físico.
• Personificação
Ex.: “A Lua cheia que o vira marchar…” – a lua como testemunha da morte do rei.
• Interrogações retóricas
Ex.: “Mas como? Que bolsas de ouro podem pagar um filho?” – evidenciam a impossibilidade
de existir uma recompensa para perda de um filho.
• Frases exclamativas
Ex: “Mas ai! Dor sem nome!...” – realçam a emoção perante a morte do suposto príncipe.