Karl Marx analisou o capitalismo socioeconomicamente. Ele acreditava que o sistema capitalista alienava os trabalhadores economicamente através da propriedade privada dos meios de produção e politicamente através do Estado que representa os interesses da classe dominante. Marx desenvolveu teorias como alienação, classes sociais, luta de classes e ideologia para explicar a exploração dos trabalhadores e a desigualdade social gerada pelo capitalismo.
1. KARL MARX (1818-1883) - A análise
socioeconômica do capitalismo
• Karl Marx (1818-1883) nasceu na cidade de Treves, na
Alemanha, em 1818. Em 1836, matriculou-se na Universidade
de Berlim, doutorando-se em filosofia em Jena (Iena).
• Mudou-se para Paris em 1842, onde conheceu Friedrich
Engels, seu companheiro de idéias e publicações por toda a
vida. Expulso da França em 1845, foi para Bruxelas participar
da récem-fundada Liga dos Comunistas.
• Em 1848 escreveu com Engels o Manifesto Comunista, obra
fundadora do ‘marxismo’ enquanto movimento político e
social a favor do proletariado.
• Com o malogro das revoluções sociais de 1848, muda-se para
Londres, onde se dedicou a um minucioso estudo crítico de
economia política, O Capital.
• Foi um dos fundadores da Primeira Internacional. Morreu em
1883, após intensa vida política e intelectual.
2. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Principais obras: A ideologia Alemã, Miséria da filosofia (em
resposta a Filosofia da miséria, de Pierre-Joseph Proudhon),
Contribuição para a crítica da economia política, A luta de classes
em França, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, O capital.
• A teoria marxista (materialismo histórico dialético), não buscava
somente contribuir para o desenvolvimento científico, bem como
propor uma transformação radical da sociedade capitalista. Pela
revolução proletária, a ordem liberal-capitalista seria superada,
dando lugar a uma sociedade igualitária, primeiro com a ditadura do
proletariado, fase anterior a sociedade comunista.
• O que caracteriza as formulações de Marx é que adquiriram
dimensões de ideal revolucionário e ação política efetiva.
• Podemos apontar algumas influências básicas no desenvolvimento
do pensamento marxista:
3. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Em primeiro lugar coloca-se a leitura crítica da filosofia de
Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou, de modo peculiar, o
método do materialismo histórico dialético. Também,
significativo foi seu contato com o pensamento socialista
francês do século XIX.
• Marx reconhece que a construção de sua teoria teria sido
impossível, sem a dialética (idealista) de Hegel, a economia
política inglesa ( Adam Smith e David Ricardo) e o socialismo
utópico de Claude Henri de Saint-Simon e Charles Fourier,
bem como a contribuição de Pierre Joseph Proudhon,
pensador anarquista.
• Esta trajetória é marcada pelo desenvolvimento de conceitos
importantes: alienação, ideologia, classes sociais, trabalho,
mais-valia, modos de produção, meios de produção, relações
de produção, luta de classes (materialismo histórico dialético),
infra-estrutura e superestrutura.
4. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Para Marx o homem é nas origens, um ser integralmente
comunitário; a individuação é uma construção histórica,
associada a divisão social do trabalho cada vez mais complexa
e especializada.
• A discussão marxista sobre a origem (gênese) e a lógica de
funcionamento da sociedade capitalista orienta-se pelo
estudo do conflito de classes. Seu método explicativo dos
fenômenos sociais concentra-se na análise das estruturas
econômicas da sociedade.
• Há controvérsias em relação às definições de classe social
usadas por Marx. O capítulo As Classes, parte do livro III de O
Capital, em que o tema seria discutido, jamais foi concluído,
deixando espaço para interpretações distintas (Marx, 1975,
livro III, p. 1.012-1.013). (Marcelo Medeiros IPEA)
5. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Como todo debate de caráter interpretativo, esse é um cuja
conclusão não é simples, pois o próprio Marx usa o termo
classe com várias conotações. É inequívoco, porém, que, em O
Capital, a posição dos indivíduos na estrutura de produção é
uma peça-chave para definir sua situação de classe.
• O grupo mais rico da sociedade é constituído pela classe
capitalista, que monopoliza os meios de produção e acumula
riqueza por meio da exploração dos trabalhadores.
• Essa exploração consiste em remunerar os trabalhadores com
salários cujo valor é inferior ao daquilo que eles produzem. Os
capitalistas apropriam-se de parte do valor do trabalho de
seus empregados (mais-valia) e a investem no processo
produtivo, expandindo a riqueza por meio da reprodução de
seu capital.
6. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• As classes sociais: Os pressupostos liberais (capitalistas)
consideram que os homens são, por natureza, iguais política e
juridicamente. Liberdade e igualdade são direitos inalienáveis
de todo cidadão.
• Marx afirma que inexiste tal igualdade natural e observa que o
liberalismo define os indivíduos como átomos, como esses
estivessem livres das desigualdades estabelecidas pela divisão
social do trabalho.
• Para Marx, as classes são formações derivadas do grau de
desenvolvimento das forças produtivas e do conjunto das
relações de produção.
• As duas principais classes, em conflito intermitente no sistema
capitalista são: os proprietários dos meios de produção (os
donos do capital) e os proletários (os trabalhadores
assalariados que vendem sua força de trabalho em troca de
um salário).
7. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Além das duas principais classes, temos:
• Os estratos de classe, que são constituídos por aqueles que
mantém uma relação de dependência funcional com uma das
classes e tendem a estabelecer uma identificação com a
classes à qual se associa.
• Por fim, o lúmpen-proletariado, é aquele grupo social à
margem do sistema de classes, pois sequer participa da
divisão social do trabalho. Por exemplo: as prostitutas, os
marginais, os mendigos.
• As desigualdades sociais são provocadas pelas relações de
produção de um modo específico de produção, aquele
baseado na propriedade privada dos meios de produção, o
modo de produção capitalista. As desigualdades sociais são a
base da formação das classes sociais.
8. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Os interesses de classe são antagônicos e baseados na
exploração entre as classes sociais, pois o capitalista, ou
reduzindo o salário ou aumentando a jornada de trabalho de
seus vendedores de força de trabalho, visa o lucro. Já o
proletário (trabalhador), procura diminuir a exploração ao
lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e
participação nos lucros.
• A história do homem é, segundo Marx, a história da luta de
classes, uma luta constante entre interesses opostos, embora
nem sempre se manifeste socialmente sob a forma de uma
luta declarada. Os antagonismos de classes estão subjacentes
a toda relação social, nos diferentes níveis da sociedade, em
todos os tempos, desde a instituição da propriedade privada.
• O materialismo histórico dialético, considera que todos os
grandes movimentos políticos, sociais e da história do
pensamento têm sido determinados pela maneira como os
homens organizam e distribuem a produção de bens.
(interessava a Marx a base material das sociedades).
9. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• O materialismo histórico dialético seria então a
totalidade daquilo a que damos o nome de história
universal não é senão a história da criação do
homem pelo trabalho humano. (Giddens: 49).
• “A consciência humana é condicionada pela relação
dialética entre o sujeito e o objeto, na qual o
homem dá forma ao mundo em que vive, sendo por
outro lado por ele também formado.” (Giddens: 52)
• “Os homens fazem a História, mas o fazem em
condições determinadas”. (Chauí: 172)
10. Karl Marx - A análise socioeconômica do
capitalismo
• Alienação (em latim outro se diz alienus): Marx baseou-se no
conceito de alienação elaborado por Ludwig Andreas Feuerbach.
• Feuerbach cria a noção de alienação religiosa: os homens criam as
religiões (Deus ou Deuses), dão poder à elas e, esquecem que foram
eles (os homens) que os criaram (Deus ou Deuses), passando a
submeter-se ao poder desse Deus/Deuses, representados pelas
religiões, não se reconhecendo nesse outro que criaram.
• Para Marx, a alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou
produzem alguma coisa, dão independência a essa criatura como se
ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se governar por
ela como se ela tivesse poder em si mesma e por si mesma, não se
reconhecem na obra que criaram. Fazendo-a um ser-outro,
separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles.
11. Karl Marx - A análise socioeconômica do
capitalismo
• Marx investigou sobretudo a alienação social, apesar de ter se
interessado também pela alienação religiosa (ver seu texto A
questão judaica). No entanto, seu interesse está em
compreender as causas pelas quais os homens ignoram que
são criadores da sociedade, da política, da cultura e agentes
da História.
• Porque os homens se deixam dominar pela sua própria obra
ou criação histórica?
• Porque os filósofos, teólogos e cientistas elaboram teorias
que reforçam a alienação?
• Para compreender o fenômeno da alienação, Marx estudou o
modo como às sociedades são produzidas historicamente pela
práxis dos homens.
12. Karl Marx - A análise socioeconômica do
capitalismo
• Verificou que, historicamente, uma sociedade se
estrutura a partir da divisão social do trabalho e que essa
divisão organiza todas as relações sociais, trata-se da
divisão social do trabalho (nos primórdios por gênero
(feminino-masculino) e daí por diante, evoluindo e
transformando a organização dos homens em sociedade.
• Daí toda e qualquer sociedade estar dividida entre
diferentes grupos sociais, alguns irão deter o poder, que
expresso de diferentes formas, irá se reproduzir e se
legitimar por meio de um discurso ideológico. (Chauí:
170)
13. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo
• O conceito de alienação:
• Para Marx, o capitalismo alienou economicamente, isto é, separou o
trabalhador dos seus meios de produção - as ferramentas, as
matérias-primas, a terra e as máquinas -, que se tornaram
propriedade privada do capitalista. O trabalhador, no sistema
capitalista de produção, perdeu ainda o controle do produto de seu
trabalho, também apropriado pelo capitalista. A industrialização, a
propriedade privada e o assalariamento separaram o trabalhador
dos meios de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da
alienação econômica do homem sob o capital.
• Politicamente, o homem também está alienado, pois o princípio de
representatividade, base do Estado liberal, difunde a ideia de um
Estado imparcial, capaz de representar TODA a sociedade (que
inexiste, já que é dividida em classes antagônicas) e dirigi-la por
meio do poder delegado pelos indivíduos (cidadãos ou súditos).
• O Estado (por meio dos governos) atua no interesse da classe
dominante, pois o Estado e suas instituições são comandadas pelos
representantes das classes dominantes.
14. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo
• Alienação social (produção do conhecimento): A divisão social do
trabalho tornou a atividade científica pertencente a um determinado
grupo (os estratos de classe).
• A divisão social do trabalho tornou a atividade do filósofo e do cientista
pertencente a um determinado grupo. Essa parcialidade e o fato de que
o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões parciais - como, por
exemplo, os pressupostos do liberalismo - transformaram a ciência e o
pensamento, em ‘conhecimento do Estado’.
• Assim, alienado, o homem só pode recuperar sua condição humana
através da crítica radical ao sistema econômico, pois a política, a
economia, a ciência e a filosofia o excluíram da participação efetiva da
vida social. Essa crítica radical só se efetiva na práxis, isto é, a ação
política consciente e transformadora.
• É exatamente por esse princípio que os marxistas vinculam a crítica da
sociedade à ação política. Marx propôs não apenas um novo método de
interpretar a realidade mas também um projeto para a ação. O método
marxista não aponta para soluções parciais e intermediárias, mas
pressupõe a transformação radical da sociedade.
15. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
16. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• As três grandes formas da alienação (política, econômica e no
âmbito do conhecimento) são a causa do surgimento, da
implantação e do fortalecimento da ideologia.
• O conceito de ideologia: é o processo pelo qual as ideias da
classe dominante (em qualquer época) se tornam ideias de
todas as classes sociais, se tornam as ideias dominantes
(válidas, verdadeiras e racionais).
• É concebida para fazer com que os homens creiam que suas
vidas são o que são em decorrência da ação de certas
entidades (a Natureza, os Deuses ou Deus, a Razão ou a
Ciência, o Estado) que existem em si e por si e às quais é
legítimo e legal que se submetam.
17. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• No livro a Ideologia Alemã, Marx afirma que: “as ideias da
classe dominante são, em todas as épocas, as ideias
dominantes, ou seja, a classe que é o poder material
(econômico, social e político) dominante da sociedade é, ao
mesmo tempo, o seu poder espiritual (das ideias) dominante
(...) Na medida em que dominam como classe e determinam
todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o
façam em toda a sua extensão e, consequentemente, entre
outras coisas, dominem também como pensadores, como
produtores de ideias; que regulem a produção e distribuição
das ideias de seu tempo e que suas ideias sejam, por isso
mesmo, as ideias dominantes da época.” (Ideologia Alemã:
56-7)
18. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• E COMO A IDEOLOGIA, enquanto um mecanismo de difusão de
ideias comuns à todos se estabelece?
• Para entendermos como a ideologia se traduz em ‘ideias de toda à
sociedade’; comum à todos, ela se difunde por meio da educação,
da religião, dos costumes, dos meios de comunicação. Como tais
ideias não exprimem a realidade real, mas representam a aparência
social, as imagens das coisas e dos homens, é possível passar a
considerá-las como independentes da realidade.
• Essa universalidade das ideias é abstrata porque não corresponde a
nada real e concreto, visto que no real existem concretamente
classes específicas (antagônicas no que concerne aos seus
interesses) e não a universalidade social. Portanto, as ideias que a
ideologia circunscreve são universais abstratos.
• A ideologia é, pois, um instrumento de dominação de classe e, como
tal, sua origem é a existência da divisão da sociedade em classes
contraditórias e em conflito.
19. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Em outros termos, o modo de produção da vida material (a base
econômica: quem produz, como produz, com o que produz, para
quem produz) condiciona o conjunto dos processos da vida social,
política e cultural, enfim, o sistema de valores, a IDEOLOGIA (em
sentido geral, aqui aplicado, sistema de ideias e costumes).
• No modo de produção capitalista o indivíduo destituído dos meios
de produção é obrigado a vender sua força de trabalho em troca de
um salário, que torna-se, nesse sistema, uma mercadoria. O salário
é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como
mercadoria. o cálculo do salário é determinado pelos bens
necessários à subsistência do trabalhador.
• Marx afirmou que a estrutura de uma sociedade depende da forma
como os homens organizam a produção social de bens. A produção
social, segundo Marx, engloba dois fatores básicos: as forças
produtivas e as relações de produção.
20. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• As forças produtivas constituem as condições materiais (objetos +
instrumentos: meios de produção) de toda a produção. Qualquer
processo de trabalho pressupõe: determinados objetos, isto é,
matérias-primas identificadas e extraídas da natureza; e
determinados instrumentos, conjuntos de forças naturais já
transformadas e adaptadas pelo homem, como ferramentas ou
máquinas.
• Os objetos e instrumentos - aos quais Marx se referia, em conjunto,
como meios de produção -, variam conforme as necessidades e
finalidades sociais a que se destinam. Os meios de produção
englobam o conjunto formado por clima, solo, água, matérias-
primas e conhecimento (máquinas, ferramentas).
• O modo de produção é a forma pela qual as forças produtivas e as
relações de produção existem e são reproduzidas em uma
determinada sociedade.
21. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Elas podem ser cooperativistas (como no comunismo
primitivo), escravistas (como na Antiguidade), servis (como no
Medievo) e de classes (como no sistema capitalista).
• As relações de produção são as formas pelas quais os homens
se organizam para executar a atividade produtiva. Forças
produtivas e relações de produção são condições naturais e
históricas de toda atividade produtiva que ocorre em
sociedade. A forma pela qual ambas existem e são
reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que
Marx denominou de modo de produção.
• Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental
para se compreender como se organiza e funciona a
sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são
consideradas as mais importantes relações sociais.
22. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Em cada modo de produção, a desigualdade de
propriedade, como fundamento das relações de
produção, cria contradições básicas com o
desenvolvimento das forças produtivas. Essas
contradições se acirram até provocar uma ruptura, com
a derrocada do modo de produção vigente e a ascensão
de outro.
• Para Marx a história do homem é portanto, a história do
desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de
produção.
23. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Os conceitos de infra-estrutura e superestrutura:
• Infra-estrutura: É a base econômica de toda e qualquer
sociedade, que engloba o nível de desenvolvimento das
forças produtivas e de suas relações de produção.
• Superestrutura: são os valores, as estruturas simbólicas
que os homens criam para possibilitar a vida em
sociedade, ou seja, as estruturas jurídicas (as leis), a
organização familiar, a religião, as instituições políticas,
que dependem do grau de desenvolvimento das forças
produtivas, da infra-estrutura.
24. Karl Marx - A análise socioeconômica
do capitalismo
• Para Marx a ordem jurídica e a organização política são
epifenômenos (fenômeno secundário, que não altera o
fenômeno principal, do qual depende) da economia.
• Isto quer dizer que as manifestações de ordem sociocultural +
a estrutura jurídico-política são determinados pela infra-
estrutura econômica, e além disso não têm existência própria.
A dominação de classe decorre das relações de produção, o
que torna a consciência reflexo dessa posição submissa,
produzindo assim, uma ideologia baseada na relação mando-
obediência, numa ideologia da submissão.
• Marx busca compreender o conjunto das sociedades a partir
de sua infra-estrutura (o desenvolvimento das forças
produtivas, dos conhecimentos científicos e técnicos, da
indústria e da organização do trabalho).
25. Karl Marx - As controvérsias da
sociologia marxista (R. ARON)
• Na análise marxista não há espaço para contingências
(eventualidades, incertezas, possibilidade de que algo aconteça ou
não). A definição de um regime social é realizada a partir de um
pequeno número de fatos considerados decisivos, a saber, o estado
das forças produtivas, as formas de propriedades e as relações de
produção.
• Para Marx o Estado é considerado essencialmente como
instrumento da dominação de uma classe. Em consequência, um
regime político é definido pela classe que exerce o poder. Os
regimes da democracia burguesa são àqueles em que a classe
capitalista exerce o poder, embora mantenham instituições livres,
que aparentam e legitimam um sistema essencialmente excludente.
• Dessa perspectiva, Marx concebe um regime econômico-social em
que não haja mais dominação de classe. Por isso, por definição, o
Estado desaparecerá, pois ele só existe na medida em que uma
classe necessita dele para explorar as outras.
26. Karl Marx - As controvérsias da
sociologia marxista (R. ARON)
• Entre a sociedade antagônica e a sociedade não-antagônica
do futuro interpõe-se o que é chamado de ditadura do
proletariado, expressão que encontramos em particular num
texto célebre de 1875, a Crítica do Programa do Partido
Operário Alemão, ou Crítica do Programa de Gotha. A
ditadura do proletariado é o fortalecimento do Estado, antes
do momento crucial de seu desaparecimento. Antes de
desaparecer, o Estado atingirá sua expansão máxima.
• A questão que se coloca é: COMO E QUEM irá administrar
numa sociedade complexa como a sociedade moderna?
Ninguém pode pensar, de modo razoável, que uma sociedade
industrial complexa como a nossa possa dispensar uma
administração sob certos aspectos, centralizada.
27. Karl Marx - As controvérsias da
sociologia marxista (R. ARON)
• As ideias de planificação da economia (própria do modo
de produção socialista) e de enfraquecimento do Estado
são contraditórias para o futuro previsível, enquanto for
importante produzir em larga escala, produzir em função
das diretrizes do plano, e de distribuir a produção entre
as classes sociais segundo as ideias dos governantes.
• Desse modo, o desaparecimento do Estado não pode
ocorrer a não ser num sentido simbólico. O que
desaparece é o caráter de classe do Estado considerado.
Pode-se de fato, pensar que, a partir do momento em
que desaparece a rivalidade das classes, as funções
administrativa e de direção, em vez de expressarem a
intenção egoísta de um grupo particular, tornam-se a
expressão de toda a sociedade.
28. Karl Marx - As controvérsias da
sociologia marxista (R. ARON)
• Entretanto, a garantia do desaparecimento dos antagonismos
implicaria que as rivalidades entre os grupos se originassem
exclusivamente na propriedade privada dos meios de
produção. Não há razão para que todos os interesses dos
membros de uma coletividade passem a ser harmônicos no
momento em que os meios de produção deixam de ser
passíveis de apropriação individual.
• Desaparecerá um tipo de antagonismo, mas outros tipos de
antagonismo poderão subsistir. Por outro lado, no momento
em que subsistem as funções administrativas ou de direção,
existe, por definição, o risco de que as pessoas que as
exerçam sejam injustas, insensatas, ou que estejam mal
informadas; em consequência, que os governados não se
satisfaçam com as decisões tomadas pelos governantes.
29. Karl Marx - As controvérsias da
sociologia marxista (R. ARON)
• Outro ponto a ser ressaltado é sobre a ordem política. Ela nos
parece tão essencial e autônoma quanto a ordem econômica.
As duas ordens estão imbricadas, porém mantém princípios
distintos.
• Em outras palavras, qualquer que seja o regime econômico e
social, o problema político persistirá, porque ele consiste em
determinar quem governa, como são recrutados os
governantes, como o poder é exercido, ou qual a relação de
consentimento ou revolta entre governantes e governados.
• Desse modo, nos parece falso pensar que uma determinada
organização da produção e da repartição dos recursos resolve
automaticamente o problema do comando, suprimindo-o.
30. Karl Marx - As controvérsias da
sociologia marxista (R. ARON)
• Posto de outra forma, nos parece que uma economia
planificada reforça o papel do Estado; e mesmo que não fosse
assim numa sociedade moderna (complexa), o problema do
comando, isto é, do exercício da autoridade, sempre estará
presente.
• Não é possível definir um regime político simplesmente pela
classe que se presume estar exercendo o poder. No regime
capitalista, não são os capitalistas que, pessoalmente,
exercem o poder; no regime socialista, não é o proletariado,
como um grupo, que exerce o poder (haverá àqueles que
representarão o proletariado e, por conseguinte, a questão da
representação persistirá).
• Nos dois casos trata-se de determinar QUEM EXERCERÁ as
funções políticas? COMO recrutá-las (quais os critérios?)?; de
que forma devem exercer a autoridade? qual é a relação entre
governantes e governados?
31. ANEXOS
• ANEXOS (TEXTO COMPLEMENTAR SOBRE IDEOLOGIA)
• SLIDES SEGUINTES: tratam de anexos sobre ideologia e
uma análise mais aprofundada de classes sociais e de
alienação social
32. IDEOLOGIA (J. A. Guilhon Albuquerque)
- ANEXOS
• A função da ideologia no Estado Moderno:
• O Dicionário de Política de Norberto Bobbio adota uma
distinção no significado do conceito ideologia: uma forte e
uma fraca.
• No seu significado fraco, ideologia significa: sistemas de
crenças políticas; um conjunto de ideias e de valores a
respeito da ordem pública, tendo como função orientar os
comportamentos políticos coletivos, ou dito de outro modo:
um conjunto de ideias que orienta a ação política de um grupo
social (conceito liberal de ideologia).
• O significado forte tem origem no conceito de ideologia de
Marx, entendido como falsa consciência das relações de
dominação entre as classes, tendo no próprio centro a noção
de falsidade: a ideologia é uma falsa crença.
33. IDEOLOGIA (J. A. Guilhon Albuquerque)
• Para Marx todo Estado é o modelo acabado de um sistema de
dominação entre classes sociais. Embora se estruture, em última
instância, sobre a violência, o Estado tem sua legitimidade acima
das classes e dos indivíduos, como representante inquestionável do
interesse geral. Esse reconhecimento da neutralidade do Estado
com relação aos interesses de classes, quando de fato o Estado nada
mais é do que a forma acabada da dominação entre as classes, fato
ao qual Marx irá denominar ideologia.
• A ideologia consiste, portanto, em se deixar levar pela aparência de
neutralidade do Estado, quando se é submetido à violência política
e à exploração econômica.
• Os interesses da classe dominante são aceitos na sua aparência de
universalidade por meio da ideologia. A ideologia, por sua vez, é
produto da própria violência e exploração de classe, mas é
concebida na aparência de uma livre expressão da razão universal.
34. IDEOLOGIA (J. A. Guilhon Albuquerque)
• Para Marx, a ideologia é o instrumento de hegemonia por
meio do qual uma classe obtém o consentimento ativo das
demais classes para exercer a direção da sociedade por meio
do Estado.
• Marx acreditava na superioridade da ciência e esperava que,
por meio do conhecimento da Economia Política, as falsas
aparências da ideologia dessem lugar ao conhecimento
verdadeiro - para Marx há uma verdade, e não diversas
interpretações do que seja a ‘verdade’ - da história.
• Marx esperava que a correção da ideologia pela ciência (a
economia política) trouxesse a guerra revolucionária contra a
ordem vigente. Dessa forma, depositava suas esperanças na
ciência e não na ideologia, como desencadeadora do processo
revolucionário.
35. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo -
ANEXOS
• Marx afirma, em diversos momentos de sua obra, que os
indivíduos nas classes são apenas portadores de relações
sociais.
• Em O Capital, por exemplo, a dinâmica das sociedades
capitalistas é explicada por uma teoria construída em termos
de relações entre CAPITAL E FORÇA DE TRABALHO e não entre
indivíduos capitalistas e trabalhadores.
• A diferenciação, que pode parecer preciosismo, pois as
últimas categorias são personificação das duas primeiras, não
deve ser subestimada. Ela implica que os motivos que fazem
de um determinado indivíduo um capitalista ocupam um
papel de menor relevância nas preocupações de Marx.
36. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo -
ANEXOS
• Em última instância, o capitalista possui poder de comandar o
trabalho não por suas qualidades pessoais ou humanas, mas
porque é proprietário do capital (Marx, 1978, v. 5, p. 322).
• Marx discorre extensivamente sobre a origem histórica do
capitalismo ao tratar da acumulação primitiva do capital. Esta
é resultado, em grande parte, da violência e da fraude, mas
ele mesmo reconhece que parte dessa acumulação se deu
independentemente da exploração, por meio do trabalho
acumulado ao longo de gerações (Marx, 1975, livro I, p. 662,
677, e 1973, caderno IV, p. 459).
• Isso não o impede de rejeitar, recorrentemente, aquilo que
ele chama de Teoria da Abstinência, ou seja, a justificativa
moral da riqueza por meio do argumento de que os
capitalistas são capazes de acumular suas propriedades
porque optaram por uma vida de consumo frugal e trabalho
duro.
37. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo -
ANEXOS
• Há pouca informação em sua obra que contribua para definir a
origem da situação de um capitalista individual, ao contrário do
volume representativo de informações que tratam da origem
histórica da classe capitalista.
• Embora existam menções de sua parte ao assunto, sua teoria
confere poucos instrumentos para relacionar os atributos de um
indivíduo à sua posição na estrutura social, o que não impede,
porém, a realização de algumas inferências a partir de sua teoria.
• Pode-se concluir, por exemplo, que as heranças têm papel
importante na transmissão intergeracional da situação de classe.
• A sucessão familiar, que é destacada nas análises sobre a
reprodução da classe trabalhadora, pode ser usada para explicar
como a acumulação de capital realizada em um determinado
momento da história se propaga até as sociedades capitalistas.
38. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo
• Marx registra, nos Manuscritos de Paris, que é pelo “direito
positivo”, isto é, pelo direito de sucessão, que alguém se
converte em proprietário de fundos produtivos, nos casos em
que o capital não é fruto do roubo ou da fraude (Marx, 1978,
v. 5, p. 321), e repete algo muito semelhante em uma carta
dirigida a Adolf Cluss (Marx, 1981, v. 39, p. 378).
• Em O Capital, escreve que a divisão das fortunas das famílias
determina, entre outros fatores, o número de capitalistas na
sociedade (Marx, 1975, livro I, p. 726).
39. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo -
ANEXOS
• A alienação no âmbito do conhecimento, resultante da separação
social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho
intelectual (que produz ideias/conhecimento). A divisão social entre
as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material
é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades
manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo
pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os
intelectuais também se alienam.
• Sua alienação é tripla:
• Primeiro, esquecem ou ignoram que suas ideias estão ligadas às
opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a
classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são ideias
universais, válidas para todos, em todos os tempos e lugares.
40. Karl Marx - A análise
socioeconômica do capitalismo -
ANEXOS
• Segundo, esquecem ou ignoram que as ideias são produzidas por
eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram
gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e
descrevem sob a forma de teorias gerais.
• Terceiro, esquecendo ou ignorando a origem social das ideias e seu
próprio trabalho para criá-las, acreditam que as ideias existem em si
e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e
dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que as ideias se
produzem umas as outras, são causas e efeitos umas das outras e
que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. As
ideias se tornam separadas de seus autores, externas a eles,
transcendentes a eles: tornam-se um outro (discurso ideológico).