Edgar Morin considera a cultura de massa como um sistema complexo de símbolos, valores e imagens que participa da construção da cultura das sociedades contemporâneas, mas não tem poder absoluto. A cultura de massa integra e é integrada por outras culturas, como a nacional, religiosa e humanista, embora também possa corroê-las. A indústria cultural busca padronizar conteúdos por meio de arquétipos transformados em estereótipos para atingir maior consumo de forma homogeneizada.
2. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Funcionalistas e críticos defendiam a
inevitabilidade do poder dos meios de
comunicação sobre a audiência.
• Portanto, analisavam o fenômeno da
comunicação na perspectiva do
“antes” e do “depois” da exposição à
comunicação, como forma de destacar
os efeitos desta.
3. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Para Edgar Morin, o tema da cultura é
muito mais complexo e a cultura de
massa é muito mais ampla do que
aquela imposta pela mídia.
• Valores e instituições culturais
importantes na vida das pessoas não
são totalmente obscurecidos pela
atuação da mídia.
Edgar Morin (1921)
4. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Edgar Morin considera a
cultura de massa como
sistema de símbolos, valores,
mitos e imagens relacionados
tanto à vida cotidiana como
ao imaginário coletivo.
5. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Realidades multiculturais presentes na cultura de massa não são
autônomas. Ao contrário, podem impregnar-se da cultura nacional,
religiosa e/ou humanista. Em contrapartida, podem também ser
incorporadas à cultura nacional, religiosa e/ou humanista.
6. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• No começo do século XX o poder industrial estendeu-se por todo o
globo terrestre. Este avanço vai dar origem a uma segunda
industrialização: a que se processa nas imagens e nos sonhos, a
industrialização do espírito.
• A segunda colonização não se processa em sentido horizontal
(conquista de territórios), mas vertical – penetrando a alma humana.
7. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A Indústria Cultural põe em movimento uma Terceira Cultura, oriunda
da imprensa, do cinema, do rádio, da televisão, que surge, desenvolve-
se, projeta-se, ao lado das culturas clássicas – religiosas ou humanistas
–, e nacionais.
• A cultura se constitui como um corpo complexo de normas, símbolos,
mitos e imagens penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam
os instintos, orientam as emoções.
8. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A cultura nacional, adquirida nos bancos escolares, nos imerge em
experiências mítico-vividas do passado, ligando-nos por relações de
identificação e projeção aos heróis da pátria, construindo a figura
materna da mãe-pátria, a quem devemos amar, e a figura paterna do
estado, a quem devemos obedecer.
9. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A cultura religiosa se baseia na identificação com o deus que salva e
com a grande comunidade maternal-paternal que constitui a igreja.
• A cultura humanista procura um saber e uma sensibilidade em que os
heróis do teatro e do romance, as efusões subjetivas dos poetas e as
reflexões dos moralistas desempenham, com mais sutileza, o papel dos
heróis das antigas mitologias e de sábios de antigas sociedades.
10. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A cultura de massa também é uma cultura, constituída de símbolos,
mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária, um
sistema de projeções e de identificações específicas.
• Ela se soma à cultura nacional, à cultura humanista, à cultura religiosa,
e entra em concorrência com essas culturas.
11. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A cultura midiática não encontra a sociedade destituída de
referências culturais. Antes, depara-se com outros fatores
transcendentais presentes na cultura: religião, folclore,
tradições etc.
12. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A mídia participa da construção da cultura, mas não tem
poder absoluto e tampouco é inevitável. Não é a única forma
de cultura das sociedades contemporâneas.
13. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Se bem que ela conquiste [cultura de massa] seu campo de ação
corroendo ou reprimindo as outras culturas, a cultura de massa não
pode fazer submergir ou desagregar a Religião ou o Estado. (168)
14. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• As sociedades modernas são policulturais. Focos culturais de
naturezas diferentes encontram-se em atividade afrontando-se ou
conjugando suas morais, seus mitos, seus modelos.
• A cultura de massa integra e se integra ao mesmo tempo, numa
realidade policultural. Faz-se conter, controlar, censurar (pela estado,
pela igreja) e, simultaneamente, tende a corroer e desagregar as outras
culturas.
15. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Ela [cultura de massa] não é autônoma: pode, ao contrário,
embebedar-se da cultura nacional, religiosa ou humanista, e ao mesmo
tempo, misturar-se à cultura nacional, religiosa ou humanista.
• Embora não seja a única expressão cultural do século XX, constitui-se
como a única corrente cultural verdadeiramente maciça e nova deste
século. Nascida nos EUA, se aclimatou à Europa e se espalhou por
todo o globo.
16. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Trata-se de uma cultura cosmopolita e planetária. Constitui-se como a
primeira cultura verdadeiramente universal da história da humanidade.
• A intelectualidade à direita a considera divertimento de hilotas,
barbarismo plebeu. Já a crítica marxista a considera como ópio do
povo e mistificação deliberada.
17. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Ambas correntes concordam na crítica à cultura de massa
classificando-a como produto cultural intelectualmente pobre, de baixa
qualidade estética, sem originalidade (kitsch).
18. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A Indústria Cultural tem controle da cultura de massa tanto nos
regimes autoritários como nos democráticos. No primeiro caso, a
produção e a distribuição são controladas pelo estado; no segundo
caso, grandes grupos empresariais de mídia controlam a produção e a
distribuição dos conteúdos.
• Em ambos os casos, atende aos interesses das classes dirigentes – no
primeiro caso, legitimando o exercício do poder; no segundo, gerando
lucro.
19. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Para se viabilizar, a Indústria Cultural precisa superar constantemente
uma contradição fundamental: por um lado, sua produção se opera por
meio da padronização dos conteúdos, em estruturas empresariais
burocráticas; por outro precisa sempre oferecer produtos
caracterizados pela inventividade e pela individualidade.
20. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A solução para o dilema está na estrutura do imaginário: o uso de
arquétipos que ordenam os sonhos. A Indústria Cultural padroniza
temas míticos e romanescos. Regras, convenções, gêneros artísticos
impõem estruturas exteriores à obra, enquanto situações-tipo e
personagens-tipo fornecem as estruturas internas das obras. A Indústria
reduz arquétipos a estereótipos.
• A condição é que os produtos resultantes da cadeia de produção sejam
e/ou pareçam individualizados.
21. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Para alcançar a padronização,
adota arquétipos (modelos),
com os quais constrói
estereótipos (padrões pré-
concebidos).
ARQUÉTIPOS: modelos, tipos,
paradigmas;
22. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
ESTEREÓTIPOS: lugar-comum, sem originalidade, padrão. O conteúdo
homogêneo é o lugar-comum onde as classes sociais se encontram.
23. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A Indústria Cultural, como qualquer sistema industrial, tende sempre
ao crescimento e ao consumo massificado. Por isso ela tende ao
público universal.
• A busca por um público universal impõe a constante busca pelo
denominador comum na produção cultural. A variedade no seio de
um jornal, um filme, um programa de rádio ou de TV, visa satisfazer
todos os interesses e gostos, de modo a obter o máximo de consumo.
24. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Contudo, essa variedade é uma variedade homogeneizada, obtida
segundo normas comuns. Sincretismo é a palavra mais apta para
traduzir a tendência a homogeneizar sob um denominador comum a
diversidade dos conteúdos.
• O cinema sincretiza num mesmo filme temas múltiplos que atendem
ao máximo possível de consumidores: num filme de aventura haverá
amor e comicidade; num filme de amor haverá aventura e comicidade;
num filme cômico haverá amor e aventura.
25. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A cultura de massa é animada por esse duplo movimento – do
imaginário simulando o real e do real pegando as cores do imaginário.
• Essa dupla contaminação do real e do imaginário, esse supremo e
prodigioso sincretismo, se inscreve na busca do máximo de consumo
e dão à cultura de massa um de seus caracteres fundamentais.
26. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A homogeneização da produção leva à homogeneização do consumo,
entre outros aspectos atenuando as barreiras entre as idades.
Conteúdos infantis da cultura de massa levam crianças precocemente
a temas para consumo de adultos; conteúdos adultos são apresentados
numa simplificação que os toma (os espectadores) como crianças.
28. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Essa homogeneização das idades tende a se fixar numa fase
predominante: a idade juvenil. A temática da juventude é um dos
elementos fundamentais da nova cultura.
• Do ponto de vista das classes sociais, pode-se afirmar que as mass
midia também contribuem para a padronização dos gostos e dos
interesses, democratizando o consumo dos produtos da Indústria
Cultural entre todos os nivelamentos sociais.
29. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Contudo, a cultura de massa é produto do diálogo entre um prolixo e
um mudo – a Indústria Cultural desenvolve as narrações, as histórias e
as imagens; o consumidor não responde – a não ser por sinais
pavlovianos: o sim ou não, determinando o sucesso ou o fracasso do
produto midiático
30. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• A cultura de massa é produto de uma (complexa) dialética produção-
consumo, no centro de uma dialética global que é a da sociedade em
sua totalidade.
• A cultura de massa pode ser considerada uma imensa ética do lazer.
Esta não faz outra coisa se não mobilizar o lazer através dos
espetáculos, das competições da televisão e do rádio, da leitura de
jornais e revistas.
31. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• O lazer não é apenas o pano de fundo no qual entram os conteúdos
essenciais da vida e no qual a aspiração à felicidade se torna
exigência. Ela é [cultura de massa], dessa forma, uma ética cultural.
32. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• As técnicas da cultura midiática criam uma
espécie de espectador puro, destacado
fisicamente do espetáculo, reduzido ao estado
passivo e voyeur. Tudo está diante de seus
olhos, mas ele não pode tocar e nem aderir
corporalmente àquilo que contempla. Em
compensação, seus olhos estão em toda parte,
do camarote das celebridades às sondas
exploratórias espaciais.
33. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR
MORIN
• Assim, participamos de mundos ao alcance da mão, mas fora do
alcance da mão. O espetáculo moderno é a maior presença e a maior
ausência.
34. PERSPECTIVA CULTUROLÓGICA DE EDGAR MORIN
Bibliografia recomendada
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo. Vol. 1. 10.
ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.
SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo, Col. Primeiros Passos, 16ª edição,
Ed. Brasiliense, 1996
WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa, Ed. Presença, 1999