O documento discute a importância de se ter um enfoque cristocêntrico na interpretação das Escrituras Sagradas. Afirma que (1) Jesus é o intérprete divino do Velho Testamento e deve abrir nossas mentes para compreender as profecias nele contidas, (2) os escritores do Novo Testamento interpretavam as Escrituras Hebraicas com foco em Cristo e isso deve ser o nosso guia, (3) precisamos de princípios bíblicos derivados da própria Escritura para evitar interpretações especul
A Necessidade de um Foco Cristocêntrico na Interpretação Profética
1. O FOCO CRISTOCÊNTRICO DE TODA A ESCRITURA
SAGRADA
A Bíblia é incomparável na literatura humana. Não há sequer um
segundo livro como este, no qual o Criador do Céu e da Terra revelou-Se
e revelou a Sua vontade à humanidade através de promessas e
cumprimentos, como esboçados no Velho e no Novo Testamento.
A Bíblia é basicamente um livro espiritual porque Deus que é
Espírito, revelou-Se nela. O homem, originalmente criado à imagem e
semelhança de Deus, destituiu-se Dele pela futilidade dos pensamentos e
desconfiança de Sua Palavra revelada. Paulo descreve a destituição
mental, moral e religiosa do homem caído:
obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da
ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração (Efésios 4:18; cf.
também 2:1-3).
Não é de se admirar que Jesus Cristo tenha salientado para
Nicodemos, um dos principais intérpretes das Escrituras Hebraicas em
Jerusalém, que "se alguém não nascer de novo não pode ver o reino de
Deus" – isto é, não pode compreender a natureza ou partilhar as bênçãos
do reino de Deus (João 3:3). Cristo explicou que o novo nascimento não
é resultado de realizações do próprio homem, mas um ato sobrenatural e
um dom de Deus: "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido
do Espírito é espírito" (João 3:6).
Assim, Cristo ensinou que a experiência do renascimento pelo
Espírito Santo é uma condição essencial para a compreensão do Velho
Testamento em seu verdadeiro propósito espiritual, em sua mensagem
teológica de salvação e para entender o reino de Deus.
Pedro relembra-nos que as profecias das Escrituras hebraicas se
originaram, não na própria presciência ou invenção do profeta, mas
"homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito
Santo" (2 Pedro 1:21). Assim, as profecias do Velho Testamento
possuem um propósito moral: salvação através do Messias.
2. O Foco Cristocêntrico de Toda a Escritura Sagrada 2
Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem
em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o
dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração (2 Pedro 1:19; ênfase
acrescentada).
A Brilhante Estrela da Manhã é Cristo (Apocalipse 22:16). Este
foco cristológico da Bíblia hebraica em suas duas dimensões de um
Messias-Servo sofredor e de um Messias real exaltado, não está óbvio ou
claro para a mente natural, como a rejeição de Jesus pelos líderes judeus
o demonstrou.
Não se deve, por isso concluir que o Velho Testamento não revela
suficientemente a verdade sobre o sofrimento e a morte expiatória do
Messias ou que Cristo proclamou um Reino e um Messias que era
completamente diferente daquele que os judeus esperavam. O problema
não estava num suposto obscurantismo ou incompreensibilidade da
revelação divina das Escrituras hebraicas, mas na teimosia da mente não
espiritual. Jesus reprovou mesmo aos Seus próprios seguidores:
Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo
o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo
padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo
por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas
as Escrituras.
Essa explicação do Velho Testamento pelo Cristo ressurreto trouxe
uma nova visão da verdade messiânica à mente judaica que resultou em
um renovado amor por Deus. Os discípulos testificaram, "E disseram um
ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho,
nos falava, quando nos expunha as Escrituras?" (Lucas 24:32; ênfase
acrescentada). Cristo "lhes abriu o entendimento para compreenderem
as Escrituras" (Lucas 24:45; ênfase acrescentada).
Portanto, concluímos: Por Jesus ser o Intérprete divino do Velho
Testamento, Ele deve abrir as Escrituras para nós. Nossa mente deve ser
aberta por Ele, a fim de vermos a luz messiânica nas Escrituras de Israel.
Essa conclusão implica que a fé em Jesus como Cristo, o Messias das
3. O Foco Cristocêntrico de Toda a Escritura Sagrada 3
profecias, é uma qualificação essencial para o intérprete cristão das
Escrituras hebraicas.
Aqueles intérpretes que não podem ver a Cristo no coração de todas
os escritos do Velho Testamento não serão capazes de explicar os reais
intentos das profecias de Israel. Paulo afirmou quanto à rejeição de
Cristo pelos judeus:
Mas os sentidos deles se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando
fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo
revelado que, em Cristo, é removido (2 Coríntios 3:14).
Para o apóstolo Paulo, a verdade central da Bíblia hebraica não era
a respeito de Israel e seu futuro nacional, mas a respeito do Messias
Jesus, o Senhor de Israel, o Redentor do mundo (Romanos 16:25-27;
Gálatas 3:16, 29; Filipenses 3:3-10).
O apóstolo diz que nenhum dos governantes desta geração
compreendeu a sabedoria oculta de Deus nas Escrituras.
Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as
coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus... Ora, nós não temos
recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que
reconheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também
falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas
ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o
homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente
(1 Coríntios 2:10, 12-14; ênfase acrescentada).
Estas palavras de Paulo são plenas de promessas para o estudante
da palavra profética. Ellen G. White nos assegura mesmo hoje: "Ainda
há veios de verdade a serem descobertos; mas as coisas espirituais se
discernem espiritualmente".1 O estudante da Bíblia, portanto, deve estar
sempre disposto a considerar a Palavra profética no espírito de um
constante aprendiz humilde sob a guia do Espírito Santo. Sempre
disposto a esconder o eu em Cristo e a tirar do depósito sagrado, coisas
novas e coisas velhas (Mateus 13:53).
4. O Foco Cristocêntrico de Toda a Escritura Sagrada 4
A Necessidade de um Foco Cristocêntrico na Interpretação Profética
A ampla confusão evidente entre os modernos intérpretes das
profecias bíblicas relacionadas com os eventos dos últimos dias é, em
grande medida, devida à falta de princípios claramente definidos de
interpretação profética. A necessidade de princípios hermenêuticos
sadios para a interpretação da Bíblia é geralmente reconhecida hoje e
manifesta no recente desenvolvimento da ciência teológica da
hermenêutica, o estudo da metodologia de interpretação das Sagradas
Escrituras, a ciência e a arte da interpretação correta da Bíblia,
A tarefa básica da hermenêutica bíblica é determinar o que Deus
disse nas Escrituras Sagradas e o que isso significa para nós hoje, "A
hermenêutica é uma ciência que pode determinar certos princípios para
descobrir o significado de um documento, e indicar em que esses
princípios não são uma mera lista de regras, mas produzir uma ligação
orgânica entre eles".2
A habilidosa aplicação dos princípios da hermenêutica bíblica é
tarefa da disciplina teológica da exegese, ou seja, ela é a hermenêutica
aplicada. Comparativamente, pouco tem sido publicado sobre a
hermenêutica especial de princípios proféticos que desvelam a natureza
da revelação progressiva do eterno propósito de Deus nas porções
apocalípticas das Escrituras. Em outras palavras, as regras hermenêuticas
válidas de interpretação das Escrituras devem ser "princípios inspirados"
que são legítima e sistematicamente derivados das próprias Escrituras e
constituem, dentro do organismo vivo da Bíblia, a estrutura inerente e
unificadora do corpo total dos Sagrados Escritos.
É um ato irresponsável lançar-se despreparado na arena das
profecias bíblicas dos últimos dias. Ao considerar tais porções
apocalípticas das Sagradas Escrituras isoladamente e sem levar em
consideração a estrutura profético-messiânica do todo, o intérprete cairá
necessariamente na cova de um literalismo geográfico e étnico.
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Esses intérpretes não se envergonham de comparar as profecias
bíblicas ao "quebra-cabeças" (H. Lindsey). Mas, sem o Espírito a letra
permanece sem espírito e a bendita esperança torna-se especulação
ociosa do cenário futuro, É necessário mais do que uma exegese
histórico-gramatical de partes isoladas das Escrituras, Cada método de
estudo do texto que apela para as letras dos versos bíblicos, não
considerando o seu contexto teológico imediato e mais amplo, e
conseqüentemente não relacionando os versos ao santo concerto de Deus
com sua estrutura messiânica, nega a unidade teológica da Palavra de
Deus e obscurece as questões religiosas e morais da guerra apocalíptica
entre o Céu e a Terra.
O "método" como tal é um instrumento muito limitado para
assimilar a profunda verdade teológica. Mais básico ainda do que ele, é a
perspectiva espiritual e as pressuposições teológicas com as quais o
intérprete aborda os textos proféticos das Escrituras.
Os intérpretes cristãos aproximam-se do Velho Testamento com
uma perspectiva teológica diferente dos expositores judeus. Suas
conclusões serão inteiramente diferentes em relação à guerra final na
profecia.
A compreensão cristã do Velho Testamento é determinada pelo
foco cristocêntrico com o qual os escritores do Novo Testamento
interpretavam as Escrituras hebraicas. Por isso, é essencial para um
cristão descobrir os princípios e procedimentos com os quais Cristo e os
Seus apóstolos compreendiam e expunham os Escritos de Moisés, os
Salmos, e os Profetas hebreus. De outra maneia, ele estará em grande
perigo de ler as profecias do Velho Testamento de uma maneira não
cristã e dessa forma, equivocar-se e destorcer as profecias bíblicas
simplesmente por não interpretar o Velho Testamento tendo o novo
como chave. O Velho Testamento não é mais a última palavra sobre
profecias do tempo do fim, uma vez que o próprio Messias da profecia
veio como a última Palavra. O Novo Testamento foi escrito como a
norma final para o cumprimento e interpretação das profecias de Israel.
6. O Foco Cristocêntrico de Toda a Escritura Sagrada 6
Um cristão negaria sua fé e o Seu Senhor se lesse o Velho
Testamento como uma entidade fechada, como a mensagem plena e final
de Deus para os judeus independente da cruz e da ressurreição de Jesus,
o Messias, e à parte da explicação neotestamentária dos Escritos
hebraicos.
É de vital importância, por isso, preparar-nos para o estudo das
profecias ainda não consumadas do Velho Testamento analisando,
primeiramente os padrões de promessa e cumprimento nas profecias já
cumpridas. Uma clara compreensão desses padrões neotestamentários é
essencial para a adequada interpretação de todos os símbolos e imagens
da profecia. Devemos partir do conhecido para o desconhecido.
Um conhecimento prático dos princípios neotestamentários de
aplicar o Velho Testamento é indispensável para a acurada compreensão
das Escrituras como um todo. Nossa pressuposição cristã fundamental é
a confissão histórica protestante da unidade espiritual em Cristo do plano
e do concerto de Deus em ambos os Testamentos.
Tanto para Lutero quanto para Calvino, a escatologia era
essencialmente cristocêntrica, com a mensagem de Cristo como a
verdade central das Escrituras Sagradas. Muito embora a escatologia
desses reformadores deixava muito a desejar quanto à amplitude cósmica
e a grandeza da esperança bíblica por causa da negligência de certos
aspectos de conteúdo profético, a perspectiva cristológica da teologia
evangélica dos reformadores é uma salvaguarda válida contra toda a
interpretação especulativa tanto do literalismo exegético quanto do
alegorismo. Precisamos de princípios bíblicos derivados da plenitude da
própria Escritura, a fim de detectar qualquer abordagem especulativa às
imagens e símbolos proféticos.
O apóstolo Paulo adverte ao seu associado mais jovem, Timóteo, a
fazer o seu melhor a fim de apresentar-se "a Deus aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra
da verdade" (2 Timóteo 2:15).
7. O Foco Cristocêntrico de Toda a Escritura Sagrada 7
Essas interpretações modernas da Palavra profética que excluem a
Cristo, Sua graça salvadora, e o Seu povo do novo concerto do centro
das profecias do tempo do fim relativas a Israel, basicamente carecem da
marca divina e exaltam uma tocha de falsa profecia. Cristo é "o Alfa e o
Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim" (Apocalipse 22:13)
de toda a Palavra profética. Ele é a brilhante Estrela da manhã, que
ilumina cada promessa do concerto e cada profecia com Sua presença
salvadora. Ele é "Raiz e a Geração de Davi" (Apocalipse 22:16), o que
significa que Ele é o Senhor de Davi, bem como o Seu Filho. Representa
Jeová, o Deus de Israel em tudo que diz e faz (João 12:44-50). Cristo, o
Espírito Santo e Deus o Pai estão tão intimamente unidos que o foco
cristocêntrico é a marca inalienável de uma exposição bíblico-teológica
da Palavra profética de Israel.
Os adventistas do sétimo dia receberam conselhos especiais para
lançarem todos os olhares sobre Cristo como o centro da esperança em
suas interpretações proféticas:
Deixemos que Daniel fale, que fale o Apocalipse e digam a verdade.
Mas seja qual for o aspecto do assunto apresentado, elevai a Jesus como
centro de toda a esperança, "a Raiz e a geração de Davi, a resplandecente
Estrela da manhã".3
De todos os professos cristãos, devem os adventistas do sétimo dia ser
os primeiros a levantar a Cristo perante o mundo.4
Referências Bibliográficas:
1. Ellen G. White, Fundamentos da Educação Cristã (CD "Obras de
Ellen White", 1ª Edição), p. 188.
2. Bernard Ramm, Protestant Biblical Interpretation, 3rd ed. (Grand
Rapids, Mich.: Baker Boork House, 1970), p. 11.
3. Ellen G. White, Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélico,
p. 118.
4. Ellen G. White, Evangelismo, p. 188.