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80 national geographic • especial cidades
Nossas cidades
estão parando.
Há carros demais,
transporte público
de menos e
congestionamentos
quase diários.
Afinal, quais
são as soluções
possíveis para
a mobilidade
urbana?
nócomo desatar este
A montagem criada
pelo fotógrafo Cássio
Vasconcellos é um
avassalador retrato
do caos a que chegamos:
o espaço público das
cidades foi dominado
pelos automóveis.
81
Cássio VAsConCellos
NGE159 mobilidade.indd 80-81 6/5/13 4:51 PM
Marginal do rio Pinheiros, em são Paulo: as soluções para a mobilidade passam por investimentos em vários modais de transporte: veículos, trens e ciclovias. no Brasil, o uso dos rios ainda é incipiente. ViCtor MoriyAMA
NGE159 mobilidade.indd 82-83 6/5/13 4:51 PM
mobilidade 8584 national geographic • especial cidades
em 2002, um estudo apelidado de “custo São
Paulo”, que calcula o prejuízo causado por seu
trânsito. Segundo dados consolidados de 2012,
estima-se que ele seja de cerca de 40 bilhões de
reais ou aproximadamente 80% do PIB mu-
nicipal, que é de 52 bilhões. Só dos chamados
custos pecuniários (preços da gasolina por qui-
lômetro rodado, desgaste dos veículos e manu-
tenção de vias, além dos gastos com poluição e
seus efeitos nocivos à saúde pública) perde-se
cerca de 10 bilhões de reais ao ano. O que não
se ganha, ou seja, os custos de oportunidade
(soma de tudo aquilo que a cidade deixa de
consumir, produzir e arrecadar enquanto sua
força de trabalho está estagnada no trânsito),
representa mais 30 bilhões. “Isso sem falar na
parcela da população presa dentro dos ônibus”,
explica Marcos Cintra. No Rio de Janeiro, estudo
semelhante feito pela UFRJ revela que o tem-
po perdido no trânsito gera um prejuízo de até
12 bilhões de reais ao ano à capital fluminense.
O caos do trânsito começa a alastrar-se. Em
tempos de expansão de crédito e redução de
impostos para a indústria automotiva, houve
uma série de quebras de recorde na venda de
veículos, de modo que outras cidades brasilei-
ras começam a enfrentar crises de mobilidade.
Um estudo do Observatório das Metrópoles,
órgão de pesquisa ligado ao Instituto Nacional
de Ciência e Tecnologia, aponta que, em dez
anos (de 2001 a 2011), a frota das 12 principais
regiões metropolitanas do país, incluindo seus
239 municípios-satélite, cresceu, em média,
77,8%. São, no total, 20,5 milhões de veículos a
mais. Manaus lidera o ranking. No período, sua
frota aumentou 141,9%, seguida por Belo Ho-
rizonte (108,5%), Distrito Federal (103,6%) e
Goiânia (100,5%). Um dos problemas mais sérios
atinge a região metropolitana de Belém do Pará,
onde, na última década, o número de automó-
veis cresceu 97,3% – enquanto o de motos saltou
708,3%. A se manter nesse ritmo, estima-se que
em 2020 haverá 1 milhão de carros e 3,2 milhões
de motos. Levando em conta só a capital paraen-
se, isso significaria um carro para cada quatro
habitantes – índice igual ao de São Paulo de hoje.
Como as vias não aumentam na mesma velo-
cidade, o resultado é óbvio: a população leva bem
mais tempo para se deslocar. Segundo estudo de
Rafael Pereira, técnico de pesquisa e planejamen-
to do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), em coautoria com Tim Schwanen, da Uni-
versidade de Oxford, que compara dados de dez
regiões metropolitanas brasileiras e 20 estrangei-
ras com mais de 2 milhões de habitantes, o tempo
médio de percurso entre a casa e o trabalho no
Rio de Janeiro e em São Paulo é de 43 minutos
– 31% maior que em outros países. Essas capitais
só ficam atrás de Xangai: 50 minutos. Em Brasília
e Recife (média de 37 minutos), gasta-se mais que
em Nova York, Tóquio e Paris.
diário com as filas, a espera angustiosa pelos
ônibus que tardam – e eles não bastam, pois seu
número não cresceu no mesmo ritmo vertigino-
so da expansão da cidade”, continua ele.
Poderia ser um retrato atual da maior metró-
pole do país. Mas é a São Paulo de 1952, então
com 2,5 milhões de habitantes, em um docu-
mentário restaurado do fotógrafo francês Jean
Manzon sobre a demanda de transporte público
na época. No fim do filme, ele pergunta: “Quan-
do será o dia em que São Paulo não mais verá
quadros como este?” E 50 anos depois, em 1o
de
junho de 2012, uma combinação de acidentes
nas principais ruas e avenidas, chuva e excesso
de carros criou o maior congestionamento da
história: 295 quilômetros de filas. A cidade que
não pode parar anda a passos de tartaruga.
O cenário piora a cada dia. Uma hora, esse nó
vai estrangular a capital paulistana. São Paulo tem
cerca de 11,4 milhões de habitantes e uma frota
de 4,8 milhões de automóveis. Sua população
cresceu cerca de 8% de 2001 até 2012, enquanto
a frota aumentou 60,1% entre 2003 e 2012. Mais
de 2,5 milhões de veículos foram colocados nas
ruas, entre eles 1,5 milhão de carros particulares e
510 mil motocicletas, que, durante o mesmo pe-
ríodo, aumentaram 197,3%. Na média, são quase
22 mil veículos por mês (730 por dia) a mais.
O preço que se paga por esse absurdo é ele-
vadíssimo. Marcos Cintra, economista e vice-
presidente da Fundação Getúlio Vargas, criou,
por Julio lamas
sto é São Paulo, a cidade do trabalho, o gigante de concreto armado
que se torna dia a dia maior”, introduz o locutor de voz profunda
e limpa da era do rádio enquanto passam imagens da multidão
nas ruas a caminho do trabalho. “Porém, há dramas que não
se podem ocultar. E, entre eles, a luta pelo transporte, o sofrimento
‘‘I
os congestionamentos avançam noite adentro em águas Claras, quase um bairro-dormitório
no Distrito Federal, onde boa parte da população usa o carro para ir e voltar do trabalho.
o metrô que liga Brasília a algumas cidades-satélite não dá conta da demanda de passageiros.
ériCo hiller
NGE159 mobilidade.indd 84-85 6/5/13 4:51 PM
mobilidade 87
A pesquisa revela ainda que, em alguns pe-
ríodos, obras e investimentos em transporte
conseguiram reduzir o tempo perdido no trân-
sito, mas, depois, tudo volta à estaca zero. “No
Rio de Janeiro, a construção da linha Amarela
e de nove estações de metrô melhorou um pou-
co. O mesmo ocorreu em Brasília, onde, depois
de muito atraso, o metrô começou a operar em
2001, além da construção da ponte Juscelino
Kubitschek, mais uma ligação entre o Lago Sul
e a região central da cidade”, comenta Pereira.
“As melhorias, porém, duram pouco. Depois de
alguns anos, as vias se saturam de novo, e o trân-
sito empaca”, conta. Segundo ele, é o que ocorreu
em São Paulo em 2004, em razão do rodízio de
veículos, e depois, em 2009, com a ampliação da
Marginal Tietê, em que foram gastos cerca de
2 bilhões de reais. “Fazer política de transporte
no Brasil tem sido como enxugar gelo: mesmo
aumentando a oferta de infraestrutura, ainda fica
aquém da demanda. Estamos sempre correndo
atrás do prejuízo”, explica Pereira.
Um bom exemplo disso é que o ocorre na
capital paulista. A prefeitura calcula que, entre
2002 e 2011, o volume de usuários de transporte
coletivo da cidade deu um salto de 86%, pulando
de 2,8 milhões para 5,2 milhões de pessoas por
dia. No mesmo período, houve um aumento de
apenas 50% na extensão e no número de estações
do metrô com a construção de mais uma linha.
Sinal evidente de que o transporte coletivo está
aquém das necessidades é o que acontece todos
os dias na estação Corinthians-Itaquera, zona
leste paulistana, no extremo da mais movimen-
tada linha de metrô. Só para passar pelas catra-
cas, os usuários demoram de 30 a 40 minutos.
Para piorar, o número de ônibus municipais, que
servem 55% do total de passageiros, é o mesmo
desde 2003: cerca de 15 mil. “Há uma inversão da
lógica em nosso modelo de urbanismo. Primei-
ro, coloca-se o povo para morar longe. Depois,
tenta-se organizar o caos pelo transporte”, afirma
Lúcio Gomes Machado, professor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Para
ele, há outro grave problema. “Privilegiou-se o
uso do transporte individual em detrimento do
coletivo. Isso fica explícito no projeto de Brasília,
cidade construída com avenidas longas e amplas
para andar de carro, e nos projetos de São Paulo,
com viadutos horrorosos, como o Minhocão”,
ressalta o professor Machado.
Começam, porém, a surgir algumas medidas
para reverter esse cenário. Há pouco mais de
um ano vigora a Lei no
12 587/2012, instituindo
as diretrizes da Política Nacional de Mobilida-
de Urbana, que buscam priorizar os meios de
transporte não motorizados e os serviços públi-
cos coletivos. Até 2015, as prefeituras de cidades
de grande porte deverão apresentar revisões em
seus planos diretores para atender a essas exi-
gências. Para isso, o governo federal pretende,
ainda, investir cerca de 32 bilhões de reais em
mobilidade urbana como parte do pacote do Pla-
no de Aceleração de Crescimento (PAC). Para a
Copa do Mundo de 2014, preveem-se mais de
12 bilhões de reais aplicados na implantação de
projetos de mobilidade – quase 50% do total a
ser investido no evento internacional.
Uma das soluções passa pelo investimento
no transporte público de alta capacidade, como
o metrô, que pode deslocar até 80 mil pessoas
por hora. É o que faz Xangai desde 1995. Hoje,
seu sistema tem 437 quilômetros de extensão e o
maior ritmo de expansão no planeta: em média,
16,2 estações abertas e 24,3 quilômetros inaugu-
rados por ano. Nova Délhi, na Índia, em menos
de 11 anos de operação, tem 193 quilômetros.
O metrô de Seul, capital da Coreia do Sul, iniciou
seu funcionamento em 1974. Hoje, é o maior do
mundo, com 560 quilômetros, enquanto o paulis-
tano, inaugurado no mesmo ano, tem apenas 74.
Sua maior desvantagem, porém, está no preço.
A Associação Nacional de Transportes Públicos
(ANTP) calcula que cada quilômetro de metrô
construído custe entre 80 milhões e 90 milhões
de dólares. Para ter uma ideia de tal empreendi-
mento, a China, que hoje possui mil quilômetros
de metrô, investirá mais 146 bilhões de dólares
para, até 2015, construir outros 2 mil apenas em
Guangzhou e Xangai. “Não precisamos gastar
tanto. Ideias boas e baratas podem ser encon-
tradas aqui mesmo, como é o caso do Bus Rapid
Transit (BRT). Em Recife, por exemplo, essa é
uma das opções mais promissoras”, afirma César
Cavalcanti, diretor da ANTP no Nordeste.
Quase 30 vezes mais barato que o transpor-
te subterrâneo, menos poluente e mais flexível,
o conceito de Bus Rapid Transit, sistema de ôni-
bus de alta capacidade que opera em faixas exclu-
sivas e funciona como o metrô, virou o preferido
entre governos e especialistas em mobilidade,
tornando-se modelo de exportação. Implanta-
do na década de 1970 em Curitiba, onde é cha-
mado de “Ligeirinho”, o BRT foi desenvolvido
pelo urbanista, e então prefeito da cidade, Jaime
Lerner, como opção atrativa, barata e confortá-
vel para cidades com mais de 500 mil habitan-
tes. “Desde então, ele foi tão aperfeiçoado que
cada BRT funciona como uma célula inteligente.
A tecnologia trouxe grande ganho operacional
e redução de custos se comparada à do metrô.
Além disso, a capacidade de transporte em uma
mesma extensão de faixa é dez vezes maior em
relação ao carro, com a vantagem de não parar
no trânsito”, explica Antônio Lindau, presidente
da Embarq Brasil, entidade criada pelo World
Resources Institute (Instituto de Recursos Mun-
diais) para promover a mobilidade sustentável.
A ideia do BRT popularizou-se a partir dos
anos 2000 – hoje há mais de 275 corredores,
ou cerca de 4 mil quilômetros, em 154 cidades
nos cinco continentes, atendendo 25 milhões de
passageiros por dia. Em cidades que sofreram
transformações significativas nos últimos anos,
como Bogotá (Colômbia), onde o BRT é chama-
do de Transmilenio, ele tornou-se o modal de
preferência, e transporta todos os dias 1,8 mi-
lhão de passageiros. Do ponto de vista ambiental,
o Metrobus da Cidade do México, com capaci-
dade para transportar 775 mil passageiros por
hora, demonstra que o sistema também ajuda a
reduzir as emissões de gás carbônico. “Lá, onde
a quarta linha foi inaugurada em 2012, estima-se
que houve redução de 110 mil toneladas de CO2
emitidas por ano”, conta Lindau, que coordenou
um projeto de simulação virtual do BRT no Rio
de Janeiro, essencial para demonstrar que a cida-
de seria capaz de receber os Jogos Olímpicos em
2016. O projeto carioca inclui a integração com
26 quilômetros de Veículos Leves sobre Trilhos
(VLT) e metrô. A primeira linha, a TransOeste,
de quase 56 quilômetros de extensão, foi entre-
gue em 2012. “Até 2014, serão quatro linhas em
operação – uma delas passa pela avenida Brasil, e
terá 60 quilômetros. Será uma das maiores linhas
de BRT no mundo”, explica ele. Em Belo Hori-
zonte, onde os projetos estão em ritmo acelerado,
o sistema está sendo implementado nas princi-
pais avenidas, e, em São Paulo, o prefeito Fernan-
do Haddad prevê a construção de 150 quilôme-
tros de faixas para o BRT.
Para desafogar o trânsito, há ainda quem es-
tude a possibilidade do uso dos rios. É o caso de
Alexandre Delijaicov, outro professor da FAU-
USP, autor de um projeto que mostra a viabili-
dade de um hidroanel metropolitano para São
Paulo – uma rede de vias navegáveis, composta
pelos rios Tietê e Pinheiros, integrada a um canal
Carros
em trânsito
1 350
Ciclistas Pedestres BRT
4 500
13 500 13 500
CAPACiDADe MáxiMA De DesloCAMento De PessoAs/horA
gráFiCo De ng-BrAsil
Fonte: BoAreto 2007, usDot 2004 highway capacity manual 2000, linDAu et al, 2013
asvIrtudesdolIgeIrInho
OBRT(BusRapidTransit)
é umsistemadeônibusqueopera
em faixasexclusivas.Ográfico
comparaototaldepessoas
deslocadasduranteumahora
emdiferentesmeiosdetransporte
desuperfície,emumafaixa
de3,5 metrosdelargura.
NGE159 mobilidade.indd 86-87 6/5/13 4:51 PM
88 national geographic • especial cidades
artificial que ligaria as represas Billings e Taiaçu-
peba. Seriam 170 quilômetros de hidrovias a se-
rem utilizadas por barcos, como os vaporetti de
Veneza e os bateaux mouches de Paris. A exemplo
do porto fluvial de Saint-Martin, no Sena, em
Paris, e da Randstad holandesa – região metro-
politana interligada de Utrecht, Roterdã, Haia
e Amsterdã –, que ostenta uma eficiente rede
de transportes integrados, com bondes, metrôs,
trens, barcos e ciclovias, para seus 7 milhões de
habitantes, o hidroanel paulistano teria mais de
33 ecoportos para lazer e esportes.
Outras soluções podem emergir do uso de no-
vas tecnologias. É o que acontece na cidade de
Ann Arbor, nos Estados Unidos, onde o Depar-
tamento de Trânsito e a Universidade de Michi-
gan testam, desde agosto de 2012, um programa
chamado Safety Pilot, que, por meio de comu-
nicação sem fio entre 3 mil veículos, direciona
os motoristas às vias menos saturadas enquanto
envia dados do trânsito a uma central de contro-
le. “Ele será testado até agosto deste ano, mas já
estamos avaliando a possibilidade, em conjunto
com a iniciativa privada, de estendê-lo a motoci-
cletas, bicicletas e pedestres”, explica James Sayer,
coordenador do programa. Para os especialistas,
porém, ainda é um desafio transformar grandes
quantidades de dados, como os vindos de redes
celulares, por exemplo, em informações relevan-
tes para melhorar os deslocamentos nas grandes
cidades. “É preciso criar cálculos muito rápidos”,
diz o português Francisco Pereira, pesquisador
do Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(MIT, na sigla em inglês) em Cingapura, onde
são desenvolvidas ferramentas tecnológicas para
mobilidade nas cidades do futuro, entre elas
o Simmobility e o DynaMIT.
O Simmobility é um simulador de alta capa-
cidade que cria cenários hipotéticos variados, do
mais simples (como fechar uma rua por algum
tempo) ao mais elaborado plano de criação de
uma região urbana. “Ele considera desde influên-
cias do nível socioeconômico até comportamen-
tos de motoristas e pedestres. Por sua vez, esses
novos hábitos originarão outros impactos em
toda a cidade”, explica Francisco Pereira.
Já o DynaMIT é um programa de gerencia-
mento criado para ajudar os gestores de tráfego a
tomar decisões coordenadas em tempo real, com
base nas informações que recebem de câmeras,
contadores de veículos, dados de GPS e internet.
Seu vanguardismo é combinar essas informações
com o que já se sabe sobre o trânsito local para
tentar compreender mudanças repentinas. “Ele
sabe como a cidade reage em caso de acidentes,
eventos esportivos ou chuvas fortes”, conta Fran-
cisco Pereira. Segundo ele, esses projetos pode-
riam ser implantados em São Paulo e no Rio de
Janeiro, pois os custos não são muito elevados.
Alguns testes já estão sendo feitos em Cingapura
e Mumbai, na Índia.
Outra boa iniciativa vem de Tel-Aviv, em Is-
rael, onde as autoridades locais promoveram o
uso gratuito do aplicativo Waze, criado por lá,
em 2008, para controlar o tráfego carregado em
decorrência da visita do presidente americano
Barack Obama ao país. O aplicativo, que também
é popular no Brasil, conta com 75 mil voluntários
para editar seus mapas informativos e 40 milhões
de usuários. Nos Estados Unidos, durante a pas-
sagem do furacão Sandy, em novembro de 2012,
ele foi essencial para informar sobre a situação
nas ruas e as filas nos postos de gasolina.
Mas, afinal, para que ter carro se você pode
alugar um? Essa é a premissa que rege o sucesso
do car-sharing, sistema em que muitas pessoas
compartilham o aluguel de alguns poucos car-
ros para serem usados conforme a necessidade
e deixados em uma das garagens da empresa.
A francesa Buzzcar tem 605 mil membros que
compartilham 9 mil veículos. Em São Paulo,
2 300 usuários já aderiram à novidade, oferecida
pela Zazcar, empresa em franca expansão. Aliás,
deixar de ter carro na garagem representa uma
mudança cultural, que começa a ser observada
em vários lugares. “Hoje, a socialização não de-
pende mais do automóvel, da locomoção. Ela
acontece pela internet. Os jovens não dão tanta
importância ao carro, como seus pais faziam”,
diz Walter Hook, CEO do Instituto de Desen-
volvimento de Políticas para o Transporte (ITDP,
na sigla em inglês), entidade que promove ações
o urbanista Alexandre Delijaicov, da universidade de são Paulo, acredita
no transporte fluvial como solução. ele é autor de um projeto (acima) que prevê
a construção de usinas de tratamento, portos e 33 canais – como o de saint-Martin,
em Paris (à esquerda) – nos rios Pinheiros e tietê. seriam áreas voltadas
para lazer, esporte e recuperação do espaço verde na capital paulista.
Doug sCott Age FotostoCK/gruPo Keystone (ACiMA, à esquerDA).
ilustrAção De gruPo MetróPole FluViAl, FACulDADe De ArquiteturA e urBAnisMo DA uniVersiDADe De são PAulo
NGE159 mobilidade.indd 88-89 6/5/13 4:51 PM
mobilidade 9190 national geographic • especial cidades
de mobilidade sustentável. “Em Copenhague,
na Dinamarca, e em Zurique, na Suíça, 30% das
viagens diárias das pessoas são realizadas de bi-
cicleta. Até porque, em cidades como essas, é ca-
ríssimo estacionar. Em Paris, é quase impossível”,
diz ele, que mora em Nova York, onde uma vaga
pode custar até 1 000 dólares por mês em regiões
como Manhattan.
Retirar os carros das ruas é fundamental para
dar mais fluidez ao trânsito. Por isso, iniciativas
para desencorajar o transporte individual têm
sido colocadas em prática em várias metrópoles
do mundo. Em San Francisco, nos Estados Uni-
dos, por exemplo, foi criado o SF Park, programa
que, por meio de parquímetros eletrônicos, altera
o preço das vagas de estacionamento conforme
o horário, o tráfego e os eventos que estão ocor-
rendo, como shows e jogos. Em Londres, há o
pedágio urbano. No distrito de Canary Wharf,
em que trabalham 100 mil pessoas, há apenas
3 mil vagas. O The Shard, o maior arranha-céu
da União Europeia, com 310 metros de altura,
localizado no distrito financeiro da cidade que
abriga centenas de escritórios e caríssimos apar-
tamentos, possui só 48 espaços para estacionar.
Nesse sentido, no Brasil, andamos na con-
tramão. “A nova lei de mobilidade que veio de
Brasília não percorreu todos os caminhos até ser
realidade em nossas metrópoles. A lei municipal
dos polos geradores de tráfego em São Paulo,
que obriga os novos empreendimentos a plane-
jar um número mínimo de vagas em relação ao
total de metros quadrados construídos, é uma
das mais absurdas”, reclama Maurício Lopes,
promotor de habitação e urbanismo do Minis-
tério Público de São Paulo. Ele cita o caso de um
shopping que está sendo erguido na região da
avenida Paulista, no qual o grupo francês respon-
sável pela obra será obrigado a reservar mais de
2 mil vagas. O grupo pede a revisão da lei, já que
o empreendimento será em uma das regiões mais
congestionadas e supridas de opções de trans-
porte coletivo. “Se o Masp, que é um patrimônio
tombado, fosse construído hoje, teria sido em-
bargado por falta de vagas para estacionar”, co-
menta o promotor militante da não motorização.
Outro problema, segundo Lopes, além da baixa
qualidade do transporte público e da política de
estacionamento, são os 35 mil quilômetros de cal-
çadas pouco convidativas para caminhadas. Em
1985, o prefeito Jânio Quadros tornou as calçadas
paulistanas responsabilidade legal dos munícipes.
A falta de manutenção, inclusive, está sujeita à
multa, embora a fiscalização inexista. No momen-
to, há um projeto na Câmara dos Vereadores que
reverte essa decisão. “Se a via pública, ou seja, o
leito carroçável, é responsabilidade da prefeitura,
por que ela não deve cuidar também da calçada,
que é do pedestre?”, questiona o promotor.
Desde a década 1970, países como Israel, In-
glaterra, Suécia e Japão têm apostado em em-
preendimentos mais amigáveis para o pedestre,
como os espaços woonerf, ou pátio/vizinhança,
que foram desenvolvidos na Holanda. São áreas
de paisagismo bem cuidado, sem placas para
carros e sem distinção entre calçada e rua, o que
prioriza a caminhada e a bicicleta. Na Alema-
nha e na Holanda, já foram feitos mais de 3 500
espaços assim. “Acredito que até 2050 veremos
a era das ‘ruas completas’, que fornecem espaço e
prioridade a pedestres, ônibus e ciclistas, além de
motoristas”, comenta Paul White, presidente da
ONG nova-iorquina Transportation Alternatives.
White acredita que ruas melhores são a pro-
posta mais promissora para reocupar os centros
urbanos com novos moradores. Ao fechar, nos
últimos anos, áreas como a Times Square e a
Broadway para os automóveis, Nova York tem
demonstrado como se pode acabar com a depen-
dência do carro após muito tempo investindo em
viadutos e túneis, que só traziam mais trânsito
à cidade. “Quando a velocidade do automóvel
excede os 35 quilômetros por hora, a qualidade
humana nas ruas começa a perder; o barulho
aumenta, tornando as conversas mais difíceis;
além do perigo que cresce de forma exponencial”,
afirma. Esse cenário torna a vida arriscada e des-
confortável para quem não está em um veículo
motorizado. “Quando as pessoas começam a evi-
tar a rua, aquele ciclo virtuoso de gente atraindo
gente se perde, até que, por fim, isso tudo desa-
parece”, alerta White. j
em várias cidades brasileiras já existem os “bike-anjos” (acima), ciclistas experientes que
compõem uma rede para auxiliar novatos que desejam adotar a bicicleta como meio
de transporte. na Alemanha e na holanda foram criados 3 500 woonerf (à direita), espaços
que priorizam a caminhada e a bicicleta, e não há distinção entre a calçada e a rua.
ViCtor MoriyAMA (ACiMA, à esquerDA); hollAnDse hoogte/rex FeAtures
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Como desatar-este-no

  • 1. 80 national geographic • especial cidades Nossas cidades estão parando. Há carros demais, transporte público de menos e congestionamentos quase diários. Afinal, quais são as soluções possíveis para a mobilidade urbana? nócomo desatar este A montagem criada pelo fotógrafo Cássio Vasconcellos é um avassalador retrato do caos a que chegamos: o espaço público das cidades foi dominado pelos automóveis. 81 Cássio VAsConCellos NGE159 mobilidade.indd 80-81 6/5/13 4:51 PM
  • 2. Marginal do rio Pinheiros, em são Paulo: as soluções para a mobilidade passam por investimentos em vários modais de transporte: veículos, trens e ciclovias. no Brasil, o uso dos rios ainda é incipiente. ViCtor MoriyAMA NGE159 mobilidade.indd 82-83 6/5/13 4:51 PM
  • 3. mobilidade 8584 national geographic • especial cidades em 2002, um estudo apelidado de “custo São Paulo”, que calcula o prejuízo causado por seu trânsito. Segundo dados consolidados de 2012, estima-se que ele seja de cerca de 40 bilhões de reais ou aproximadamente 80% do PIB mu- nicipal, que é de 52 bilhões. Só dos chamados custos pecuniários (preços da gasolina por qui- lômetro rodado, desgaste dos veículos e manu- tenção de vias, além dos gastos com poluição e seus efeitos nocivos à saúde pública) perde-se cerca de 10 bilhões de reais ao ano. O que não se ganha, ou seja, os custos de oportunidade (soma de tudo aquilo que a cidade deixa de consumir, produzir e arrecadar enquanto sua força de trabalho está estagnada no trânsito), representa mais 30 bilhões. “Isso sem falar na parcela da população presa dentro dos ônibus”, explica Marcos Cintra. No Rio de Janeiro, estudo semelhante feito pela UFRJ revela que o tem- po perdido no trânsito gera um prejuízo de até 12 bilhões de reais ao ano à capital fluminense. O caos do trânsito começa a alastrar-se. Em tempos de expansão de crédito e redução de impostos para a indústria automotiva, houve uma série de quebras de recorde na venda de veículos, de modo que outras cidades brasilei- ras começam a enfrentar crises de mobilidade. Um estudo do Observatório das Metrópoles, órgão de pesquisa ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, aponta que, em dez anos (de 2001 a 2011), a frota das 12 principais regiões metropolitanas do país, incluindo seus 239 municípios-satélite, cresceu, em média, 77,8%. São, no total, 20,5 milhões de veículos a mais. Manaus lidera o ranking. No período, sua frota aumentou 141,9%, seguida por Belo Ho- rizonte (108,5%), Distrito Federal (103,6%) e Goiânia (100,5%). Um dos problemas mais sérios atinge a região metropolitana de Belém do Pará, onde, na última década, o número de automó- veis cresceu 97,3% – enquanto o de motos saltou 708,3%. A se manter nesse ritmo, estima-se que em 2020 haverá 1 milhão de carros e 3,2 milhões de motos. Levando em conta só a capital paraen- se, isso significaria um carro para cada quatro habitantes – índice igual ao de São Paulo de hoje. Como as vias não aumentam na mesma velo- cidade, o resultado é óbvio: a população leva bem mais tempo para se deslocar. Segundo estudo de Rafael Pereira, técnico de pesquisa e planejamen- to do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em coautoria com Tim Schwanen, da Uni- versidade de Oxford, que compara dados de dez regiões metropolitanas brasileiras e 20 estrangei- ras com mais de 2 milhões de habitantes, o tempo médio de percurso entre a casa e o trabalho no Rio de Janeiro e em São Paulo é de 43 minutos – 31% maior que em outros países. Essas capitais só ficam atrás de Xangai: 50 minutos. Em Brasília e Recife (média de 37 minutos), gasta-se mais que em Nova York, Tóquio e Paris. diário com as filas, a espera angustiosa pelos ônibus que tardam – e eles não bastam, pois seu número não cresceu no mesmo ritmo vertigino- so da expansão da cidade”, continua ele. Poderia ser um retrato atual da maior metró- pole do país. Mas é a São Paulo de 1952, então com 2,5 milhões de habitantes, em um docu- mentário restaurado do fotógrafo francês Jean Manzon sobre a demanda de transporte público na época. No fim do filme, ele pergunta: “Quan- do será o dia em que São Paulo não mais verá quadros como este?” E 50 anos depois, em 1o de junho de 2012, uma combinação de acidentes nas principais ruas e avenidas, chuva e excesso de carros criou o maior congestionamento da história: 295 quilômetros de filas. A cidade que não pode parar anda a passos de tartaruga. O cenário piora a cada dia. Uma hora, esse nó vai estrangular a capital paulistana. São Paulo tem cerca de 11,4 milhões de habitantes e uma frota de 4,8 milhões de automóveis. Sua população cresceu cerca de 8% de 2001 até 2012, enquanto a frota aumentou 60,1% entre 2003 e 2012. Mais de 2,5 milhões de veículos foram colocados nas ruas, entre eles 1,5 milhão de carros particulares e 510 mil motocicletas, que, durante o mesmo pe- ríodo, aumentaram 197,3%. Na média, são quase 22 mil veículos por mês (730 por dia) a mais. O preço que se paga por esse absurdo é ele- vadíssimo. Marcos Cintra, economista e vice- presidente da Fundação Getúlio Vargas, criou, por Julio lamas sto é São Paulo, a cidade do trabalho, o gigante de concreto armado que se torna dia a dia maior”, introduz o locutor de voz profunda e limpa da era do rádio enquanto passam imagens da multidão nas ruas a caminho do trabalho. “Porém, há dramas que não se podem ocultar. E, entre eles, a luta pelo transporte, o sofrimento ‘‘I os congestionamentos avançam noite adentro em águas Claras, quase um bairro-dormitório no Distrito Federal, onde boa parte da população usa o carro para ir e voltar do trabalho. o metrô que liga Brasília a algumas cidades-satélite não dá conta da demanda de passageiros. ériCo hiller NGE159 mobilidade.indd 84-85 6/5/13 4:51 PM
  • 4. mobilidade 87 A pesquisa revela ainda que, em alguns pe- ríodos, obras e investimentos em transporte conseguiram reduzir o tempo perdido no trân- sito, mas, depois, tudo volta à estaca zero. “No Rio de Janeiro, a construção da linha Amarela e de nove estações de metrô melhorou um pou- co. O mesmo ocorreu em Brasília, onde, depois de muito atraso, o metrô começou a operar em 2001, além da construção da ponte Juscelino Kubitschek, mais uma ligação entre o Lago Sul e a região central da cidade”, comenta Pereira. “As melhorias, porém, duram pouco. Depois de alguns anos, as vias se saturam de novo, e o trân- sito empaca”, conta. Segundo ele, é o que ocorreu em São Paulo em 2004, em razão do rodízio de veículos, e depois, em 2009, com a ampliação da Marginal Tietê, em que foram gastos cerca de 2 bilhões de reais. “Fazer política de transporte no Brasil tem sido como enxugar gelo: mesmo aumentando a oferta de infraestrutura, ainda fica aquém da demanda. Estamos sempre correndo atrás do prejuízo”, explica Pereira. Um bom exemplo disso é que o ocorre na capital paulista. A prefeitura calcula que, entre 2002 e 2011, o volume de usuários de transporte coletivo da cidade deu um salto de 86%, pulando de 2,8 milhões para 5,2 milhões de pessoas por dia. No mesmo período, houve um aumento de apenas 50% na extensão e no número de estações do metrô com a construção de mais uma linha. Sinal evidente de que o transporte coletivo está aquém das necessidades é o que acontece todos os dias na estação Corinthians-Itaquera, zona leste paulistana, no extremo da mais movimen- tada linha de metrô. Só para passar pelas catra- cas, os usuários demoram de 30 a 40 minutos. Para piorar, o número de ônibus municipais, que servem 55% do total de passageiros, é o mesmo desde 2003: cerca de 15 mil. “Há uma inversão da lógica em nosso modelo de urbanismo. Primei- ro, coloca-se o povo para morar longe. Depois, tenta-se organizar o caos pelo transporte”, afirma Lúcio Gomes Machado, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP). Para ele, há outro grave problema. “Privilegiou-se o uso do transporte individual em detrimento do coletivo. Isso fica explícito no projeto de Brasília, cidade construída com avenidas longas e amplas para andar de carro, e nos projetos de São Paulo, com viadutos horrorosos, como o Minhocão”, ressalta o professor Machado. Começam, porém, a surgir algumas medidas para reverter esse cenário. Há pouco mais de um ano vigora a Lei no 12 587/2012, instituindo as diretrizes da Política Nacional de Mobilida- de Urbana, que buscam priorizar os meios de transporte não motorizados e os serviços públi- cos coletivos. Até 2015, as prefeituras de cidades de grande porte deverão apresentar revisões em seus planos diretores para atender a essas exi- gências. Para isso, o governo federal pretende, ainda, investir cerca de 32 bilhões de reais em mobilidade urbana como parte do pacote do Pla- no de Aceleração de Crescimento (PAC). Para a Copa do Mundo de 2014, preveem-se mais de 12 bilhões de reais aplicados na implantação de projetos de mobilidade – quase 50% do total a ser investido no evento internacional. Uma das soluções passa pelo investimento no transporte público de alta capacidade, como o metrô, que pode deslocar até 80 mil pessoas por hora. É o que faz Xangai desde 1995. Hoje, seu sistema tem 437 quilômetros de extensão e o maior ritmo de expansão no planeta: em média, 16,2 estações abertas e 24,3 quilômetros inaugu- rados por ano. Nova Délhi, na Índia, em menos de 11 anos de operação, tem 193 quilômetros. O metrô de Seul, capital da Coreia do Sul, iniciou seu funcionamento em 1974. Hoje, é o maior do mundo, com 560 quilômetros, enquanto o paulis- tano, inaugurado no mesmo ano, tem apenas 74. Sua maior desvantagem, porém, está no preço. A Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) calcula que cada quilômetro de metrô construído custe entre 80 milhões e 90 milhões de dólares. Para ter uma ideia de tal empreendi- mento, a China, que hoje possui mil quilômetros de metrô, investirá mais 146 bilhões de dólares para, até 2015, construir outros 2 mil apenas em Guangzhou e Xangai. “Não precisamos gastar tanto. Ideias boas e baratas podem ser encon- tradas aqui mesmo, como é o caso do Bus Rapid Transit (BRT). Em Recife, por exemplo, essa é uma das opções mais promissoras”, afirma César Cavalcanti, diretor da ANTP no Nordeste. Quase 30 vezes mais barato que o transpor- te subterrâneo, menos poluente e mais flexível, o conceito de Bus Rapid Transit, sistema de ôni- bus de alta capacidade que opera em faixas exclu- sivas e funciona como o metrô, virou o preferido entre governos e especialistas em mobilidade, tornando-se modelo de exportação. Implanta- do na década de 1970 em Curitiba, onde é cha- mado de “Ligeirinho”, o BRT foi desenvolvido pelo urbanista, e então prefeito da cidade, Jaime Lerner, como opção atrativa, barata e confortá- vel para cidades com mais de 500 mil habitan- tes. “Desde então, ele foi tão aperfeiçoado que cada BRT funciona como uma célula inteligente. A tecnologia trouxe grande ganho operacional e redução de custos se comparada à do metrô. Além disso, a capacidade de transporte em uma mesma extensão de faixa é dez vezes maior em relação ao carro, com a vantagem de não parar no trânsito”, explica Antônio Lindau, presidente da Embarq Brasil, entidade criada pelo World Resources Institute (Instituto de Recursos Mun- diais) para promover a mobilidade sustentável. A ideia do BRT popularizou-se a partir dos anos 2000 – hoje há mais de 275 corredores, ou cerca de 4 mil quilômetros, em 154 cidades nos cinco continentes, atendendo 25 milhões de passageiros por dia. Em cidades que sofreram transformações significativas nos últimos anos, como Bogotá (Colômbia), onde o BRT é chama- do de Transmilenio, ele tornou-se o modal de preferência, e transporta todos os dias 1,8 mi- lhão de passageiros. Do ponto de vista ambiental, o Metrobus da Cidade do México, com capaci- dade para transportar 775 mil passageiros por hora, demonstra que o sistema também ajuda a reduzir as emissões de gás carbônico. “Lá, onde a quarta linha foi inaugurada em 2012, estima-se que houve redução de 110 mil toneladas de CO2 emitidas por ano”, conta Lindau, que coordenou um projeto de simulação virtual do BRT no Rio de Janeiro, essencial para demonstrar que a cida- de seria capaz de receber os Jogos Olímpicos em 2016. O projeto carioca inclui a integração com 26 quilômetros de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) e metrô. A primeira linha, a TransOeste, de quase 56 quilômetros de extensão, foi entre- gue em 2012. “Até 2014, serão quatro linhas em operação – uma delas passa pela avenida Brasil, e terá 60 quilômetros. Será uma das maiores linhas de BRT no mundo”, explica ele. Em Belo Hori- zonte, onde os projetos estão em ritmo acelerado, o sistema está sendo implementado nas princi- pais avenidas, e, em São Paulo, o prefeito Fernan- do Haddad prevê a construção de 150 quilôme- tros de faixas para o BRT. Para desafogar o trânsito, há ainda quem es- tude a possibilidade do uso dos rios. É o caso de Alexandre Delijaicov, outro professor da FAU- USP, autor de um projeto que mostra a viabili- dade de um hidroanel metropolitano para São Paulo – uma rede de vias navegáveis, composta pelos rios Tietê e Pinheiros, integrada a um canal Carros em trânsito 1 350 Ciclistas Pedestres BRT 4 500 13 500 13 500 CAPACiDADe MáxiMA De DesloCAMento De PessoAs/horA gráFiCo De ng-BrAsil Fonte: BoAreto 2007, usDot 2004 highway capacity manual 2000, linDAu et al, 2013 asvIrtudesdolIgeIrInho OBRT(BusRapidTransit) é umsistemadeônibusqueopera em faixasexclusivas.Ográfico comparaototaldepessoas deslocadasduranteumahora emdiferentesmeiosdetransporte desuperfície,emumafaixa de3,5 metrosdelargura. NGE159 mobilidade.indd 86-87 6/5/13 4:51 PM
  • 5. 88 national geographic • especial cidades artificial que ligaria as represas Billings e Taiaçu- peba. Seriam 170 quilômetros de hidrovias a se- rem utilizadas por barcos, como os vaporetti de Veneza e os bateaux mouches de Paris. A exemplo do porto fluvial de Saint-Martin, no Sena, em Paris, e da Randstad holandesa – região metro- politana interligada de Utrecht, Roterdã, Haia e Amsterdã –, que ostenta uma eficiente rede de transportes integrados, com bondes, metrôs, trens, barcos e ciclovias, para seus 7 milhões de habitantes, o hidroanel paulistano teria mais de 33 ecoportos para lazer e esportes. Outras soluções podem emergir do uso de no- vas tecnologias. É o que acontece na cidade de Ann Arbor, nos Estados Unidos, onde o Depar- tamento de Trânsito e a Universidade de Michi- gan testam, desde agosto de 2012, um programa chamado Safety Pilot, que, por meio de comu- nicação sem fio entre 3 mil veículos, direciona os motoristas às vias menos saturadas enquanto envia dados do trânsito a uma central de contro- le. “Ele será testado até agosto deste ano, mas já estamos avaliando a possibilidade, em conjunto com a iniciativa privada, de estendê-lo a motoci- cletas, bicicletas e pedestres”, explica James Sayer, coordenador do programa. Para os especialistas, porém, ainda é um desafio transformar grandes quantidades de dados, como os vindos de redes celulares, por exemplo, em informações relevan- tes para melhorar os deslocamentos nas grandes cidades. “É preciso criar cálculos muito rápidos”, diz o português Francisco Pereira, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) em Cingapura, onde são desenvolvidas ferramentas tecnológicas para mobilidade nas cidades do futuro, entre elas o Simmobility e o DynaMIT. O Simmobility é um simulador de alta capa- cidade que cria cenários hipotéticos variados, do mais simples (como fechar uma rua por algum tempo) ao mais elaborado plano de criação de uma região urbana. “Ele considera desde influên- cias do nível socioeconômico até comportamen- tos de motoristas e pedestres. Por sua vez, esses novos hábitos originarão outros impactos em toda a cidade”, explica Francisco Pereira. Já o DynaMIT é um programa de gerencia- mento criado para ajudar os gestores de tráfego a tomar decisões coordenadas em tempo real, com base nas informações que recebem de câmeras, contadores de veículos, dados de GPS e internet. Seu vanguardismo é combinar essas informações com o que já se sabe sobre o trânsito local para tentar compreender mudanças repentinas. “Ele sabe como a cidade reage em caso de acidentes, eventos esportivos ou chuvas fortes”, conta Fran- cisco Pereira. Segundo ele, esses projetos pode- riam ser implantados em São Paulo e no Rio de Janeiro, pois os custos não são muito elevados. Alguns testes já estão sendo feitos em Cingapura e Mumbai, na Índia. Outra boa iniciativa vem de Tel-Aviv, em Is- rael, onde as autoridades locais promoveram o uso gratuito do aplicativo Waze, criado por lá, em 2008, para controlar o tráfego carregado em decorrência da visita do presidente americano Barack Obama ao país. O aplicativo, que também é popular no Brasil, conta com 75 mil voluntários para editar seus mapas informativos e 40 milhões de usuários. Nos Estados Unidos, durante a pas- sagem do furacão Sandy, em novembro de 2012, ele foi essencial para informar sobre a situação nas ruas e as filas nos postos de gasolina. Mas, afinal, para que ter carro se você pode alugar um? Essa é a premissa que rege o sucesso do car-sharing, sistema em que muitas pessoas compartilham o aluguel de alguns poucos car- ros para serem usados conforme a necessidade e deixados em uma das garagens da empresa. A francesa Buzzcar tem 605 mil membros que compartilham 9 mil veículos. Em São Paulo, 2 300 usuários já aderiram à novidade, oferecida pela Zazcar, empresa em franca expansão. Aliás, deixar de ter carro na garagem representa uma mudança cultural, que começa a ser observada em vários lugares. “Hoje, a socialização não de- pende mais do automóvel, da locomoção. Ela acontece pela internet. Os jovens não dão tanta importância ao carro, como seus pais faziam”, diz Walter Hook, CEO do Instituto de Desen- volvimento de Políticas para o Transporte (ITDP, na sigla em inglês), entidade que promove ações o urbanista Alexandre Delijaicov, da universidade de são Paulo, acredita no transporte fluvial como solução. ele é autor de um projeto (acima) que prevê a construção de usinas de tratamento, portos e 33 canais – como o de saint-Martin, em Paris (à esquerda) – nos rios Pinheiros e tietê. seriam áreas voltadas para lazer, esporte e recuperação do espaço verde na capital paulista. Doug sCott Age FotostoCK/gruPo Keystone (ACiMA, à esquerDA). ilustrAção De gruPo MetróPole FluViAl, FACulDADe De ArquiteturA e urBAnisMo DA uniVersiDADe De são PAulo NGE159 mobilidade.indd 88-89 6/5/13 4:51 PM
  • 6. mobilidade 9190 national geographic • especial cidades de mobilidade sustentável. “Em Copenhague, na Dinamarca, e em Zurique, na Suíça, 30% das viagens diárias das pessoas são realizadas de bi- cicleta. Até porque, em cidades como essas, é ca- ríssimo estacionar. Em Paris, é quase impossível”, diz ele, que mora em Nova York, onde uma vaga pode custar até 1 000 dólares por mês em regiões como Manhattan. Retirar os carros das ruas é fundamental para dar mais fluidez ao trânsito. Por isso, iniciativas para desencorajar o transporte individual têm sido colocadas em prática em várias metrópoles do mundo. Em San Francisco, nos Estados Uni- dos, por exemplo, foi criado o SF Park, programa que, por meio de parquímetros eletrônicos, altera o preço das vagas de estacionamento conforme o horário, o tráfego e os eventos que estão ocor- rendo, como shows e jogos. Em Londres, há o pedágio urbano. No distrito de Canary Wharf, em que trabalham 100 mil pessoas, há apenas 3 mil vagas. O The Shard, o maior arranha-céu da União Europeia, com 310 metros de altura, localizado no distrito financeiro da cidade que abriga centenas de escritórios e caríssimos apar- tamentos, possui só 48 espaços para estacionar. Nesse sentido, no Brasil, andamos na con- tramão. “A nova lei de mobilidade que veio de Brasília não percorreu todos os caminhos até ser realidade em nossas metrópoles. A lei municipal dos polos geradores de tráfego em São Paulo, que obriga os novos empreendimentos a plane- jar um número mínimo de vagas em relação ao total de metros quadrados construídos, é uma das mais absurdas”, reclama Maurício Lopes, promotor de habitação e urbanismo do Minis- tério Público de São Paulo. Ele cita o caso de um shopping que está sendo erguido na região da avenida Paulista, no qual o grupo francês respon- sável pela obra será obrigado a reservar mais de 2 mil vagas. O grupo pede a revisão da lei, já que o empreendimento será em uma das regiões mais congestionadas e supridas de opções de trans- porte coletivo. “Se o Masp, que é um patrimônio tombado, fosse construído hoje, teria sido em- bargado por falta de vagas para estacionar”, co- menta o promotor militante da não motorização. Outro problema, segundo Lopes, além da baixa qualidade do transporte público e da política de estacionamento, são os 35 mil quilômetros de cal- çadas pouco convidativas para caminhadas. Em 1985, o prefeito Jânio Quadros tornou as calçadas paulistanas responsabilidade legal dos munícipes. A falta de manutenção, inclusive, está sujeita à multa, embora a fiscalização inexista. No momen- to, há um projeto na Câmara dos Vereadores que reverte essa decisão. “Se a via pública, ou seja, o leito carroçável, é responsabilidade da prefeitura, por que ela não deve cuidar também da calçada, que é do pedestre?”, questiona o promotor. Desde a década 1970, países como Israel, In- glaterra, Suécia e Japão têm apostado em em- preendimentos mais amigáveis para o pedestre, como os espaços woonerf, ou pátio/vizinhança, que foram desenvolvidos na Holanda. São áreas de paisagismo bem cuidado, sem placas para carros e sem distinção entre calçada e rua, o que prioriza a caminhada e a bicicleta. Na Alema- nha e na Holanda, já foram feitos mais de 3 500 espaços assim. “Acredito que até 2050 veremos a era das ‘ruas completas’, que fornecem espaço e prioridade a pedestres, ônibus e ciclistas, além de motoristas”, comenta Paul White, presidente da ONG nova-iorquina Transportation Alternatives. White acredita que ruas melhores são a pro- posta mais promissora para reocupar os centros urbanos com novos moradores. Ao fechar, nos últimos anos, áreas como a Times Square e a Broadway para os automóveis, Nova York tem demonstrado como se pode acabar com a depen- dência do carro após muito tempo investindo em viadutos e túneis, que só traziam mais trânsito à cidade. “Quando a velocidade do automóvel excede os 35 quilômetros por hora, a qualidade humana nas ruas começa a perder; o barulho aumenta, tornando as conversas mais difíceis; além do perigo que cresce de forma exponencial”, afirma. Esse cenário torna a vida arriscada e des- confortável para quem não está em um veículo motorizado. “Quando as pessoas começam a evi- tar a rua, aquele ciclo virtuoso de gente atraindo gente se perde, até que, por fim, isso tudo desa- parece”, alerta White. j em várias cidades brasileiras já existem os “bike-anjos” (acima), ciclistas experientes que compõem uma rede para auxiliar novatos que desejam adotar a bicicleta como meio de transporte. na Alemanha e na holanda foram criados 3 500 woonerf (à direita), espaços que priorizam a caminhada e a bicicleta, e não há distinção entre a calçada e a rua. ViCtor MoriyAMA (ACiMA, à esquerDA); hollAnDse hoogte/rex FeAtures NGE159 mobilidade.indd 90-91 6/5/13 4:51 PM