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(*) Tal incondicional não existe1
                                                                                              Paula de Paula


                                                            Déjeme decirle, a riesgo de parecer ridículo,
                                                            que el revolucionário verdadero está guiado
                                                                       por grandes sentimientos de amor
                                                                                      Ernesto Guevara

        Uma política verdadeira foi retomada quando aceitamos este sinal (*). Tomo-o como
sinal de algo novo na política dos conselhos e espero que o efeito deste pequeno sinal seja grande
o suficiente para dar mostras de uma política para além das imagens e das identificações.
        Mas o que é uma política verdadeira? É uma política fiel a idéia de que as crises podem
ser superadas quando se fala e se é escutado generosamente, daí aparecendo algo novo que
modifique as coordenadas simbólicas da situação.
        E qual é a situação? Duas chapas concorrendo aos plenários do CFP e do CRP, o que por
si só já nos impõem dificuldades, pois estamos capturados imaginariamente por nossa própria
condição. Ainda assim resistimos a repetir uma política estática e por isso não temos cabeça e
nem pé. Estamos construindo coletivamente tudo como se estivéssemos partindo do zero, embora
seja claro que isso não é verdade, pois há um movimento que nos antecede e que tem uma
historia nacional. A causa deste coletivo em Minas é a de nomear e defender a sociedade do
falatório desenfreado das metas totalitárias de todo sistema que exclua a dimensão do vazio.
        Sabemos o quanto é difícil ter uma identidade que não se apóie em significantes
identificatorios (sejam eles quais forem), mas estamos buscando algo que possa ser
universalizável na defesa dos direitos de cidadania. Assim, quanto menos identificações
tivermos, mais teremos uma identidade que se marque pela diferença de tudo que está ai. Não
devemos apelar para a solidariedade, pois ela está fundada na violência original da formação dos
grupos. Temos que ultrapassá-la indo de encontro ao amor, um amor para além do Pai, onde a
diferença não seja motivo de exclusão.
        Um pedido de apoio nem sempre é uma demanda de amor, porque o amor espera do outro
um dom e deste amor estamos advertidos desde Sócrates. A dimensão de nosso desejo já é fruto
de uma inversão, produto de analise. A falta que provoca a demanda e a dependência vê seu
valor se inverter e ao invés de se reenviar à outras demandas infinitas e de ser percebida como
uma deficiência, torna-se fundadora de um desejo advertido. O que sempre levava a demanda
para além dela mesma torna-se a verdade da falta onde se afirma o traço humano do desejo. Para
mim, uma boa política deve se propor a inventar um novo amor, pois sem o amor e a arte dos
bons encontros que o favorece, não se pode falar em democracia.
        O que buscamos no apoio de Célio não é sua imagem, mas o exemplo da condução ética
de um desejo sempre aberto e generoso à interação com todas as experiências possíveis da
psicologia e em todos os campos de atuação do psicólogo. Aprendo no convívio com Célio que a
sua política implica em radicalizar o amor no em comum das varias formas de vida, bens, afetos e
conhecimentos às quais ele se expõe.
Para aqueles que pensam que capturaram Célio por terem com ele uma foto ou um filme,
dizemos que se equivocaram. Dizemos também que não queremos abrir mão de seu apoio e de
seu amor. Queremos fazer desta sua forma de viver que, teima em não se deixar prender às
identificações, a nossa política.
        O que Célio pediu foi para que se colocasse um sinal em seu nome e é isso que fazemos
agora, pois não damos valor as imagens que foram usadas em beneficio da propaganda eleitoral
da campanha adversária, reiterando com o seu consentimento de que este incondicional que eles
dizem ter não existe!



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    Publicado com autorização dada pelo Célio Garcia em 22-07-2010 ao Movimento Cuidar da Profissão MG.

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Texto (*) Sinal_apoio_celio_garcia_cuidar_mg_22/07/2010

  • 1. (*) Tal incondicional não existe1 Paula de Paula Déjeme decirle, a riesgo de parecer ridículo, que el revolucionário verdadero está guiado por grandes sentimientos de amor Ernesto Guevara Uma política verdadeira foi retomada quando aceitamos este sinal (*). Tomo-o como sinal de algo novo na política dos conselhos e espero que o efeito deste pequeno sinal seja grande o suficiente para dar mostras de uma política para além das imagens e das identificações. Mas o que é uma política verdadeira? É uma política fiel a idéia de que as crises podem ser superadas quando se fala e se é escutado generosamente, daí aparecendo algo novo que modifique as coordenadas simbólicas da situação. E qual é a situação? Duas chapas concorrendo aos plenários do CFP e do CRP, o que por si só já nos impõem dificuldades, pois estamos capturados imaginariamente por nossa própria condição. Ainda assim resistimos a repetir uma política estática e por isso não temos cabeça e nem pé. Estamos construindo coletivamente tudo como se estivéssemos partindo do zero, embora seja claro que isso não é verdade, pois há um movimento que nos antecede e que tem uma historia nacional. A causa deste coletivo em Minas é a de nomear e defender a sociedade do falatório desenfreado das metas totalitárias de todo sistema que exclua a dimensão do vazio. Sabemos o quanto é difícil ter uma identidade que não se apóie em significantes identificatorios (sejam eles quais forem), mas estamos buscando algo que possa ser universalizável na defesa dos direitos de cidadania. Assim, quanto menos identificações tivermos, mais teremos uma identidade que se marque pela diferença de tudo que está ai. Não devemos apelar para a solidariedade, pois ela está fundada na violência original da formação dos grupos. Temos que ultrapassá-la indo de encontro ao amor, um amor para além do Pai, onde a diferença não seja motivo de exclusão. Um pedido de apoio nem sempre é uma demanda de amor, porque o amor espera do outro um dom e deste amor estamos advertidos desde Sócrates. A dimensão de nosso desejo já é fruto de uma inversão, produto de analise. A falta que provoca a demanda e a dependência vê seu valor se inverter e ao invés de se reenviar à outras demandas infinitas e de ser percebida como uma deficiência, torna-se fundadora de um desejo advertido. O que sempre levava a demanda para além dela mesma torna-se a verdade da falta onde se afirma o traço humano do desejo. Para mim, uma boa política deve se propor a inventar um novo amor, pois sem o amor e a arte dos bons encontros que o favorece, não se pode falar em democracia. O que buscamos no apoio de Célio não é sua imagem, mas o exemplo da condução ética de um desejo sempre aberto e generoso à interação com todas as experiências possíveis da psicologia e em todos os campos de atuação do psicólogo. Aprendo no convívio com Célio que a sua política implica em radicalizar o amor no em comum das varias formas de vida, bens, afetos e conhecimentos às quais ele se expõe. Para aqueles que pensam que capturaram Célio por terem com ele uma foto ou um filme, dizemos que se equivocaram. Dizemos também que não queremos abrir mão de seu apoio e de seu amor. Queremos fazer desta sua forma de viver que, teima em não se deixar prender às identificações, a nossa política. O que Célio pediu foi para que se colocasse um sinal em seu nome e é isso que fazemos agora, pois não damos valor as imagens que foram usadas em beneficio da propaganda eleitoral da campanha adversária, reiterando com o seu consentimento de que este incondicional que eles dizem ter não existe! 1 Publicado com autorização dada pelo Célio Garcia em 22-07-2010 ao Movimento Cuidar da Profissão MG.