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Patrocínio:
©Thiago Machado Cascabulho 2008

Reservam-se os direitos desta edição ao autor Thiago Machado Cascabulho. A reprodução
total ou parcial desta obra somente será permitida com a autorização do autor.

Pesquisa
Julieta Abiusi

Coordenação Editorial/Gráfica
Caraminholas Produções

Produção Executiva
Alexandre Malaguti

Texto
Thiago Cascabulho

Revisão
Andréa Ramos

Ilustrações
Gilberto Cortes

Projeto Pedagógico
Professora Giovânia Cristina de Almeida Alves

Diagramação e Artefinalização
Bruno Pettendorfer
Ramon Gil




  CIP - Brasil. Catalogação-na-fonte
  Sindicato Nacional dos editores de Livros, RJ.


  C331a

  Cascabulho, Thiago, 1981-
  	         Amiga Lata, Amigo Rio
  	         / Thiago Cascabulho - 1 ed. - Niterói,RJ: TM Cascabulho, 2008
  	         40p. : il. ;

  	          ISBN 978-85-61548-00-1

  	          1. Literatura Infanto-juvenil. I. Título.

  08-1177.		 CDD: 028.5
  		CDU:          087.5

  25.03.08 26.03.08					005914


www.projetodouradinho.com.br
contato@caraminholas.com
Ilustrações:
Gilberto Cortes
Para meu pai.
Capítulo I
                   Vai um Cascudo?

A personagem da história que contaremos aqui é um Cascudo. Você
conhece o Cascudo? Se alguém, em algum lugar, perguntasse o que
é um Cascudo, você saberia responder, ou ficaria com medo de le-
var um “cascudo” na cabeça? Para vocês que não sabem, o Cascudo
é um peixe. E muito conhecido!
   Aposto que se visse este pequeno peixe de rio, sem graça e feio,
não entenderia a pergunta que eu fiz antes. Poderia até dizer: — Para
que quero conhecer este tal de Cascudo? Feio. Pequeno. Vive na lama
e no lodo. Que nojo!
   Bem... Ele pode ser tudo isso sim, até concordo. Mas este Cascu-
do que vocês vão conhecer agora é bem diferente. Digamos que ele
seja um verdadeiro herói dentre os peixes! Quer saber?




                                 5
Capítulo II
          Nadando contra a corrente

Douradinho não é um Cascudo comum. Afinal, se fosse igual a to-
dos, não seria chamado de Douradinho. Os Cascudos costumam ter
uma cor escura para melhor se esconderem na lama e no lodo dos
rios. Douradinho também era assim, mas por um pequeno acidente
acabou se tornando diferente dos outros.
  Tudo aconteceu quando ele estava passeando pelo fundo do rio
procurando alimento... e zapt! Um anzol ficou preso em sua na-
dadeira. Como se não bastasse, grudada ao anzol estava uma lata
amassada. Essa lata era toda dourada e reluzia muito. Por isso ele
ganhou o apelido de Douradinho.




                                6
O pequeno peixe vivia perto da foz de um rio muito poluído. Lá,
a água não é de boa qualidade e por isso sua vida sempre foi muito
difícil. Douradinho nasceu ali. Aliás, pouca coisa nasce no rio, devi-
do à poluição. Às vezes, ficava tão deserto... O peixinho não tinha
companhia. Passou a falar a maior parte do tempo com a latinha;
sempre brilhante no meio da sujeira.
  — Oi, lata! Você ainda está aí? — Douradinho queria puxar as-
sunto. — Agora sei porque me segue! Não tem mais ninguém com
quem conversar...
   Um dia, Douradinho encontrou um velho amigo, Cascudo como
ele, que estava desesperado:
   — Não aguento mais, Douradinho! Vivo solitário neste rio! Di-
zem que subindo a correnteza existe um paraíso. Mas não tenho
forças para nadar mais longe. Vou deixar que o rio me leve até o
mar, aquele que chamam de “o desconhecido”. Vamos comigo?
  — Vou pensar. Encontre-me aqui, à noite. — disse Douradinho.


                                  7
Ele não sabia o que fazer. Conversou muito com sua lata:
  — Latinha que brilha e me faz diferente, o que faço? Tenho medo do
“desconhecido”, mas também não quero morrer aqui sozinho e sem ar!
  Como sempre, a latinha apenas brilhou refletindo a luz do sol.
Então, ele decidiu.
  No horário combinado, quando o dia já tinha se transformado
em noite, Douradinho foi encontrar seu amigo.
  — Aqui estou. Viajaremos juntos. — disse Douradinho.
  Junto a ele, estavam outros peixes. Alguns magros ou doentes. To-
dos nervosos e com medo. Douradinho ainda deu uma última olhada
para sua latinha, com dúvidas se iria encontrá-la no “desconhecido”.
  — Adeus, amiga. — choramingou.
  — Vamos! Agora! — gritou outro peixe.




                                 8
Todos pararam de bater suas nadadeiras. A correnteza os pegou
em um turbilhão de velocidade. Batiam-se uns contra os outros,
contra o chão ou até contra o lixo que passava. Douradinho ficou de
olhos fechados. Não queria nem ver.
  Foi quando sentiu que parava. Ele disse trêmulo:
  — Che-chegamos?
   Depois de dar uma olhada, viu que não havia chegado a lugar
algum. Sua latinha tinha se prendido em um monte de lixo. O pei-
xinho entendeu aquilo como uma mensagem da amiga, que pedia
para não ir.
   — Acho que entendi seu sinal, você não quer ir até o “desco-
nhecido”, não é latinha? — ela apenas brilhava, refletindo a luz do
luar. — Não quer? — mais brilho. — Então, vamos nadar contra a
corrente! Vamos viver uma aventura diferente da dos outros peixes!

                                9
Capítulo III
                      Dona Língua

Douradinho e sua lata resolveram subir o rio. Tinham que coman-
dar seu destino e ir contra a corrente. Era um grande desafio.
  — O que será que encontraremos subindo o rio, minha amiga?
— a lata não respondeu.
  — Será que existem perigos no lado de lá? Fiquei sabendo que
podemos encontrar mais peixes. E assim a gente vai ter com quem
conversar! Mas, e se eles forem maiores e resolverem nos devorar,
você me protege? Já sei! Ofusca os olhos do inimigo com seu brilho!
   Douradinho foi conversando com a latinha noite adentro até que
se sentiu cansado.
  — Acho que vou procurar um lugar para dormir...
   Ainda estavam em uma parte muito poluída do rio, quando, de
repente, nada mais se via, nem o brilho da lua, que estava cheia.
  — Mas, como pode! — Exclamou o peixinho. — Não consigo ver
nada. E que cheiro estranho!
  Uma voz grossa fez-se ouvir pela escuridão:
  — Sou eu!
  — Eu quem? — Douradinho nada entendia.
  — Siga minha voz! Estou bem perto!
   Ele resolveu ir ao encontro da voz. Quem sabe ela não diria ao
certo o que existe rio acima?
  — Está me vendo agora? — perguntou a Língua Negra para o
peixe Douradinho.
  — Quem é você?
                                10
— Sou a Língua Negra, não vê?
  — Mas onde você está? — disse o peixinho, que ainda não conse-
guia enxergar a tal Língua Negra.
  — Por toda parte... — sua voz era arrepiante. Grossa.
  — De onde você vem? — perguntou Douradinho, com medo.
  — Do cano acima da superfície. Não quer dar uma olhada?
  — Mas eu não posso ir para a superfície, Dona Língua Negra.
Sou um peixe!
  — Um peixe! Há quanto tempo não vejo um! Pensei que você
fosse uma latinha dourada!
   — Ah! — Douradinho compreendeu. — Esta é a minha amiga, a
lata. Eu estou amarrado a ela.
  — Hum! Que engraçado! Você está camuflado em mim! Nem eu
consigo te ver!
  — É que está muito escuro aqui, Dona Língua! — o peixinho
apertava os olhos.
  — Bem... Aqui sempre é assim.
                               11
— Acho que não estou me sentindo muito bem neste lugar, com
toda esta poluição... Será? — disse Douradinho, tossindo.
  — Deve ser, querido. Deve ser a poluição que te faz passar mal.
Todos reclamam de mim, mas na hora de dar descarga, com quem
você acha que eles contam?
  — Eles quem, Dona Língua?
  — Eles! Os homens.
  — Quem? — Douradinho nunca tinha visto nenhum homem an-
tes na vida.
  Homens! São criaturas que vivem na superfície. Não iria gostar
de conhecê-los. Eles comem peixes.
   — É..., acho bom mesmo não conhecer! — disse o peixe, mui-
to resignado.
  — Para onde viaja? — perguntou a Língua Negra.
  — Para o paraíso que existe além da correnteza! — respondeu.
  — Quer morrer, peixe? Seu lugar é aqui, que é escuro, onde você
pode se esconder!
  — Não quero me esconder, Dona Língua! — Douradinho não
entendia a opinião da nova conhecida. — Quero viver em um lugar
mais puro e limpo!
  — Ah! Então você também me culpa por esta sujeira? — A Lín-
gua Negra parecia zangada.



                               12
Foi aí que o peixinho percebeu que parte da poluição do rio vi-
nha da Língua Negra.
  — Acho que agora entendi! Desculpe, Dona Língua, mas não
gosto de quem polui o rio!
   Dizendo isso, o peixe começou a se afastar. Nadou e nadou, mas
ainda escutava aquela voz grossa falando:
  — Não sou eu, peixinho! A culpa é do homem e de suas descar-
gas! A culpa é do homem e de sua irresponsabilidade! A culpa é do
homem! A culpa é do homem!
   Douradinho não queria saber de quem era a culpa. O resultado é
o que importa: um ambiente inabitável.

                               13
Capítulo IV
                 Uma nova amiga

O dia amanhecia quando Douradinho despertou.
  — Uhaaa! Bom dia, latinha! Dormiu bem? — a lata limitou-se
apenas a brilhar. Parecia contente.
  Douradinho nem sabia onde estava. Havia se escondido no meio
de uns galhos para fugir da desagradável Língua Negra.
  — Será que aqui estou seguro? — perguntou Douradinho.
   — Seguro? — uma voz bem aguda gritou, desesperada. — Não
seguro mais nada! Já estou sobrecarregada!
  — Quem fala? — o peixe ficou preocupado. Será a Língua Ne-
gra? — pensou.
  — Aqui, filho! Não está me vendo? Você dorme no meu colo!
  As raízes da árvore, que estavam submersas, conversavam
com Douradinho.




                             14
— Você é uma raiz, não é? — perguntou o peixinho.
  — Mais ou menos, meu amigo! — riu a Árvore. — Você está ven-
do apenas parte de mim. Estou aqui fora, plantada na beira do rio.
Sou uma árvore.
  — E o que é uma árvore? — ele estava curioso. — Não polui o rio, polui?
   — Claro que não, amiguinho! Na verdade, sem mim, acho que
nem você existiria. Hahaha! — a Árvore ria de dar gosto! — Diga-
mos que a minha profissão é preencher o mundo com vida! Meu
trabalho é muito importante!
  — Então, por que disse que não quer segurar mais nada? — per-
guntou ele, deixando a Árvore sem graça.
   — Você acha que é fácil para mim? Sozinha deste jeito, segurar
tanta terra! Não aguento!
                                  15
Douradinho não estava entendendo nada:
  — Segurar a terra? Que terra?
  — Não está vendo, peixinho? Toda esta terra que envolve o rio? Se
não fossem minhas raízes... Estaria tudo soterrado e a água bloqueada!
   Douradinho olhou para sua lata. Queria ver a expressão da amiga.
Talvez ela estivesse entendendo esta tal de Árvore, que continuou:
   — Nesta margem resto eu apenas. Mal tenho forças para segurar
tanta terra! Antes, muitas existiam! Como era bom! Tagarelávamos
muito! Sabe, criávamos passarinhos. Cada uma com um ninho dife-
rente em seus galhos! Mas isso tem muito tempo!
   — Que trabalho importante, Dona Árvore! Não sabia que al-
guém trabalhava pelo bem do rio... — disse Douradinho, feliz com
a nova amiga.
  — Pois é, mas hoje em dia são poucos os que trabalham para sal-
var o rio... — a Árvore parecia triste.
  Douradinho lembrou da Dona Língua Negra e falou:
  — Concordo... Conheci alguém que só atrapalha...
   — Eu também conheço! — a Árvore sacudia suas raízes. — Quem
mais causa estragos é o homem! Unpf! Joga tudo que é tranqueira
no rio, arranca as árvores para transformar o solo em pasto! Onde
já se viu! Beira de rio não foi feita para boi pastar!
   — O que é um boi? — Douradinho nunca tinha ouvido falar em
tal criatura.
  — Esquece. — disse a Árvore, cansada.
  O peixe se lembrou da sua jornada e resolveu perguntar se ela
sabia de algum lugar para onde pudesse ir. A Árvore respondeu:



                                 16
— Alguns passarinhos me falaram de um lugar, subindo o rio,
que ainda está preservado. Não posso afirmar se eles estão cer-
tos. Você não conhece os passarinhos... — a Árvore soltou uma
risadinha — Mentirosos...
   — Não quer ir comigo, Dona Árvore? Aposto que lá existem mui-
tas como você! — o rosto de Douradinho iluminou-se com a idéia.
  — Hahaha! Que engraçado! Você ainda tem muito que aprender,
meu filho! Árvore não anda. E mesmo que andasse, não poderia
deixar meu trabalho de lado. Você sabe, tenho que segurar a terra,
senão tudo corre o risco de ir por água abaixo.
   Douradinho ficou com pena de deixar a amiga sozinha, mas en-
tendeu suas intenções. Com tão nobre trabalho, não podia ser di-
ferente. Chamando por sua lata, que sempre o seguia, continuou
sua caminhada, rumo ao paraíso. Quem sabe lá não encontraria um
belo presente para sua amiga Árvore?

                               17
Capítulo V
          O caminho de águas claras

Douradinho e sua lata já haviam nadado demais. A cada momento
descobriam coisas novas:
   — Olha lá, latinha! — exclamou o peixe, animado. — O que
será aquilo?
   Douradinho apontava para um pequeno filete de água que ia ao
encontro do rio. Passando por ali, logo percebeu que aquela água
não era poluída como a da Língua Negra. — Que engraçado! —
pensou Douradinho — Como é diferente esta água!
   O peixe nunca tinha visto água tão limpa em toda sua vida. Pen-
sou até em seguir aquele caminho, caminho de águas claras.
   — Alto lá! — gritou o Afluente.
   — Quem fala? — Douradinho olhava para todos os lados, procu-
rando o dono da voz.
   — Não está sentindo? Sou um dos afluentes do rio!




                               18
— E o que é um afluente?
  — Não se faça de bobo, peixinho! Até parece que não estava se
divertindo com o frescor de minhas águas limpas!
  — Ah! — o peixe agora entendia. — Você é este bracinho de água
que deságua no rio!
  — Sou sim... Mas não pense que vai me enrolar com este papo mole.
Não deixarei você entrar em meus domínios, se é este o seu plano!
  O Afluente parecia bravo. Sua voz muito suave ficou grave em
um instante!
 — Claro que não entrarei em seus domínios, se assim quiser.
Mas, diga, por que não posso?
   — Você acha que vou deixar entrar em meu mundo uma lata
de alumínio como esta que você carrega? Nem morto! Aliás, já vi
peixes usando brincos, etiquetas, escamas tingidas, mas... Lata de
alumínio pendurada na nadadeira... Nunca! Cada uma...
  Douradinho não gostou de ouvir aquilo:
  — Não fale assim de minha amiga! Ela pode ficar magoada! Não
entendo por que tanto medo de uma simples latinha!
   O Afluente explicou pacientemente: — Sabe, peixinho... Uma
lata como esta, solta no rio, demoraria uma eternidade para ser de-
gradada. É um lixo terrível!
  — Não é terrível... — Douradinho começou a chorar. — Ela é
minha amiga, e você a está magoando! Pode ficar despreocupado!
Não vou entrar em seus domínios!
  O Afluente ficou com pena daquela criaturinha que não parava
de chorar:
                                19
— Meu filhinho... Tente entender! Existe uma fábrica aqui do
lado que já joga lixo demais no rio!
   — Mas você nem rio é... — Douradinho soluçava de tristeza.
   — Claro que sim! Faço parte do rio! E não se engane! Uma parte
muito importante! O que seria de um rio se não existissem afluentes
para engrossar suas águas?
   O peixe lembrou-se de sua amiga:
   — Conheci uma árvore que também se diz ser muito importante
para o rio...
   — Uma árvore! — o Afluente abriu-se em um sorriso. — Ela não
está mentindo. Aliás, todos nós, seres que dependemos do rio, so-
mos responsáveis por sua sobrevivência.
   — Até o homem? — Douradinho queria saber mais sobre esta
criatura desconhecida.
   — O homem! Sim, até o homem! — disse o Afluente. — Infeliz-
mente, ele também usa suas mãos para construir fábricas que po-
luem o rio. Não entendo... Quando pequenos, adoram pescar e nadar
nas águas claras. Depois, constroem estes monstros de poluição.
   — Onde estão tais criaturas? — perguntou Douradinho.




                                20
— Peixinho bobo! Fábricas não são criaturas! São construções! É
lá que são feitos os produtos que, mais tarde, serão levados para os
homens consumirem!
   Douradinho não entendia essa tal de fábrica: — Como ela pode
fazer coisas boas para as pessoas e ao mesmo tempo prejudicar
tanto o rio?
  O Afluente ficou intrigado com a pergunta de Douradinho:
   — Sabe que nunca havia pensado nisso antes? Realmente, não
dá para entender! O homem é um animal estranho. Cria coisas be-
líssimas e, através delas, destrói outras belezas.
  O encontro com o Afluente foi bom para o peixinho. Descobriu
mais sobre o homem, este animal estranho. Uma pena não obter
permissão para entrar naquelas águas claras! Como bom amigo,
não poderia nunca abandonar sua amiga lata.
                                21
Capítulo VI
             Encontro com o menino

Algumas dúvidas do peixinho sobre o homem estavam para ser des-
vendadas. Douradinho nadava, agora bem perto das casas na beira do
rio. Eram muito pequenas. Feitas de madeira e tijolos sem acabamento.
  — Olhe, latinha! É ali que o homem vive! Que coisa estranha!
Pelo que vejo daqui de baixo, não é tão diferente da minha casa.
Que sujeira!
   A latinha não parava de brilhar um só instante. O sol do meio-dia
estava forte.
  Na beira do rio, Douradinho avistou pela primeira vez um ho-
mem. Lembrou-se do que a Língua Negra havia falado: “os homens
comem peixes”. O peixinho ficou com medo de ser pescado e na-
dou ainda com mais força.
   — Lata! — Douradinho disse, aflito. — Acho que este humano
está nos seguindo! Vamos fugir!
   Realmente, havia alguém seguindo o peixe. O menino Mino ca-
minhava para casa observando o rio, quando reparou no brilho da
latinha que Douradinho carregava.
  — Tem alguma coisa debaixo do rio! Será um tesouro? — per-
guntou-se o menino.
  Ele passou a seguir a latinha, que brilhava mais e mais.
  — Que coisa estranha! O brilho está indo contra a corrente!
   Douradinho nadava desesperadamente. Pensava em tudo o que
lhe contaram sobre o homem e teve medo. Mas olhando para a sua
lata, que brilhava mais do que nunca, ganhou coragem para falar:

                                 22
— Por que me persegue?
   — Perseguir, eu? Quem está falando? — Mino não sabia de onde
vinha aquela pergunta.
  Você sabe que estou aqui, no rio! Homem mau!
  Mino respondeu às acusações:
  — Primeiro, ainda não sou um homem. Sou um menino. Segun-
do, não sou mau. Apenas quero conhecê-lo! Quem é você?
  Douradinho lembrou-se do que o Afluente havia dito sobre os ho-
mens quando crianças. Nesta idade, eles não oferecem perigo. Saben-
do disso, o peixinho parou de fugir e aproximou-se da margem.

                                23
— Ah! Então, você é um peixe! — exclamou Mino. — Que engra-
çado! Um peixe com uma lata presa na nadadeira!
  Douradinho ofendeu-se:
  — Mais estranho digo eu! Nunca vi menino falar com peixe.
   — Nem eu! Acho que estou impressionado com o que a professora
disse na aula de hoje sobre o rio e ando vendo coisas... Ou será o sol?
  — Por que falam do meu rio? Querem aterrá-lo? Arrancar suas ár-
vores? Construir fábricas em suas margens? — perguntou Douradinho.
  — Calma, peixinho! Já disse que não sou mau. Estávamos apren-
dendo na escola a proteger o rio!
   — Não acredito! — disse o peixe, desconfiado. — Humanos que-
rendo cuidar do rio? Esta é nova!
  — Verdade! Depois de conversar com a professora e saber dos
problemas, todos prometemos que, depois de crescidos, cuidare-
mos do rio.




                                 24
— Que coisa estranha! Se quando crianças vocês aprendem sobre a
importância do rio, por que não podem fazer nada agora? Vão esperar
ser adultos? Pelo que aprendi, os adultos também poluem o rio...
   O menino entristeceu-se. De uma forma ou de outra, aquilo
era verdade.
  — Então, mesmo menino, como posso ajudar a preservar o rio?
  O peixinho não sabia responder àquela pergunta, mas tinha um
palpite: — Conversei com uma árvore e com um afluente. Eles me
explicaram o porquê de serem tão importantes para o rio. Quem
sabe aí não mora a resposta?
   — É verdade! — exclamou Mino. — A professora nos disse que
plantar árvores pode ser uma saída para preservar o rio!
  Douradinho agora sentia-se bem em conversar com o menino.
Quem sabe ele não faria alguma coisa boa?
  — Vocês meninos tem coração puro. — O peixinho falava com
emoção. — Não é preciso ser grande para ajudar! Uma sementinha
que seja plantada nas margens do rio pode ser útil!
   O menino encarou o conselho do peixe com seriedade. Era uma
missão! No dia seguinte, na escola, iria organizar um grupo de co-
legas e começar a plantar árvores. Quem sabe, assim, poderiam sal-
var o rio.
  — Obrigado pelos conselhos, peixinho. Posso fazer algo em troca
por você? Quer que eu tire essa lata da sua nadadeira?
  O peixe balançou a cabeça em negativa:
   — Não precisa agradecer, menino. Quanto à latinha, acho me-
lhor não tirá-la. Lembre-se de que foi ela que chamou a sua atenção
para mim...
                                25
Capítulo VII
                        Nascente

Douradinho já tinha nadado muito. Não via a hora de chegar até o
paraíso que diziam existir. Mas o tempo passava e ele apenas en-
contrava lixo, poluição e tristeza pelo caminho.
   — Tem certeza de que quer continuar me seguindo, latinha? — a
lata brilhou timidamente. — Aposto que está curiosa em conhecer
o paraíso também, não é?
  Sem que Douradinho percebesse, o rio estreitava-se mais e mais.
Com o tempo, ele reparou que a correnteza estava mais forte.
  — Acho que estamos chegando, latinha! A água aqui parece bem
mais limpa!




                               26
Foi em uma manhã, depois de nadar toda a noite, que aconteceu
o esperado. O sol nascia e jogava sobre o rio uma calma luz. O céu se
abriu e, entre pedras gigantes, o rio passava, lindo, cristalino e puro.
   O peixinho ficou encantado com tamanha beleza. A água era
fresca e boa para nadar. Havia muitas árvores plantadas nas mar-
gens. E muitos peixes brincavam e pulavam, como se estivessem
dançando. Ele estava na nascente do rio.
  — Chegamos, latinha! Chegamos ao paraíso!
  Logo, cardumes inteiros vieram recebê-lo. Nadavam e sorriam
em torno do visitante. Douradinho também entrou na dança. Não
sabia que seu rio, que era tão poluído perto do mar, ali em sua nas-
cente era tão lindo.

                                  27
Muitas árvores balançavam seus galhos e mostravam seus pássa-
ros umas às outras, fofocando.
  — Ah, se minha amiga Árvore estivesse aqui! — exclamou Dou-
radinho, cheio de felicidade.
  Todos os peixes o cumprimentavam. Um a um foram se apresentando:
  — Sou o Mandi, e você?
  — Prazer, Mandi! Sou o Douradinho!
  — E eu sou o Lambari. Muito Prazer, Douradinho!
  — O prazer é todo meu, Lambari.
  No meio de tamanha alegria, o peixinho até havia se esquecido de
sua latinha, que continuava a brilhar. Foi quando um dos peixes falou:
  — Douradinho, o que é isso aí grudado em você?
  Foi aí que, depois de tanto nadar e lutar contra a correnteza, o
anzol que prendia a lata ao peixe se soltou e foi levado pelas águas.




                                 28
— Não! — gritou Douradinho, nadando desesperado atrás da
latinha amiga.
   Mas a correnteza ali era muito forte e a lata muito leve. Não havia
como resgatá-la. O peixinho viu a pobre latinha escorrer rio abaixo
e sofreu.
   — Sem ela não sou mais Douradinho! Nada sou! Nada! — o pei-
xe não parava de chorar.
  Sentiu-se muito triste e só. Mas foi assim que teve a grande ideia.
  — Vou salvar o rio, latinha! Por você, pela árvore, pela nascente,
pelos afluentes, pelo menino, por mim! Eu juro!



                                 29
Capítulo VIII
                           Final

O pequeno Douradinho não deixou de cumprir a promessa. Pas-
sou algum tempo morando na nascente do rio para se recuperar de
tantos anos respirando poluição. Quando se sentiu bem disposto,
decidiu partir.
  — Não vá, Douradinho! — choramingou um.
  — Tenho de cumprir minha promessa, meu amigo. — expli-
cou Douradinho.
  — O que um pequeno peixe pode fazer contra tamanha polui-
ção? Melhor ficar aqui, escondido! — insistiam.




                              30
Douradinho olhou para os amigos com um olhar decidido:
  — Sei que não posso fazer muito. Mas também sei que se ninguém
tomar iniciativa, logo a sujeira estará aqui, nesta bela nascente. Aí,
não vai nem existir lugar para se esconder. O rio secará e será o fim.
   Os peixes ficaram pensando em tudo aquilo que ele acabava de
lhes dizer. Douradinho sabia que ali já tinha plantado a esperança,
e partiu. Tinha muito a fazer.
  Nadou para perto da beira do rio e pediu para que uma das ár-
vores lhe desse uma semente.
  — Claro, Douradinho! — disse a goiabeira. — Aqui está!
   Do galho mais alto caiu uma goiaba, que bateu no chão e abriu-
-se em dois pedaços, jogando para dentro do rio algumas sementes.
Douradinho pegou rapidamente uma delas com a boca e agrade-
ceu. Seria um belo presente para certa amiga.
   O peixinho voltou-se novamente a favor da correnteza e nadou
pelo caminho que conhecera antes, mas na direção oposta. Viu o
sol e a lua aparecerem e sumirem do céu várias vezes. Passou por
diversos afluentes do rio. Alguns nem tão saudáveis quanto o que
havia conhecido.
                                 31
Pelo caminho de volta, sentiu novamente a sujeira e o lixo. La-
mentou o descaso dos homens com tudo aquilo e seguiu em frente.
Tinha uma missão a cumprir. Depois de muito tempo de viagem,
avistou a Árvore, solitária, plantada no meio da erosão:
  — Olá, minha amiga árvore! Lembra-se de mim?
   — Minha criança! Hahaha — a Árvore parecia surpresa em rever
o peixinho. — Que bom revê-lo! Você chegou ao paraíso?
  — Consegui chegar, minha amiga! E lá entendi a importância do
seu trabalho!
  Com o discurso do peixinho, a Árvore ficou emocionada:
  — Que é isso, menino!? Faço apenas o meu dever.
  E ele prosseguiu:
  — Faz o seu dever. Mas, de agora em diante, vai ter uma
nova concorrente...




                               32
Para a alegria e surpresa da Árvore, o peixe saltou acima da su-
perfície e de lá jogou a semente em um pedaço de terra ao lado.
  — Meu filho... — a Árvore emocionou-se...
  Não longe dali, na escola de Mino, as crianças começavam a or-
ganizar uma campanha para salvar os rios.
   — Pessoal, nós temos força para melhorar esta situação. O rio
também é parte de nossa casa! Temos que amá-lo e respeitá-lo. É de
lá que retiramos o alimento. É dali que bebemos. É dali que sobrevi-
vemos. É o nosso futuro e a nossa condição de vida! — disse Mino.
   Todos os olhares se voltaram para a janela aberta da escola. De lá
dava para ver o rio, como sempre. Mas quem o conhece realmente
sabe muito bem... Ali no fundo... Bem no fundo... Debaixo do lixo
acumulado, do lodo e da sujeira, ainda vive um sorriso de esperança.
  Ele sorri e canta.




                              FIM
                                 33
Olha! Chegaram umas
cartas para você!




               34
Carta do Mino

  Olá! Tudo bem?
   Meu nome é Mino, gosto de brincar de pique-pega, de comer goia-
ba, de ler, escrever e fazer muito amigos! Na minha escola eu tenho
um grupo de colegas muito legal... Foi por isso que a professora me
pediu pra eu te escrever esta carta! Quero te convidar pra entrar pro
nosso clube! Você já recebeu uma carta antes? Se nunca recebeu, esta
vai ser a sua primeira! Você já participou de algum clube?
   Foi um amigo que me contou (um peixe chamado Douradinho) que
a minha cidade só nasceu por causa de um rio. Isso mesmo! Se não
fosse o rio que passa pertinho lá de casa, não poderia existir nenhuma
plantação, criação de animais, nenhuma casa, venda ou escola... A ci-
dade não existiria! Tudo isso porque não conseguimos viver sem água!




                                 35
A professora disse que, antigamente, era costume fazer queimadas
pra limpar o solo depois da colheita. Por isso, muitas árvores acabaram
queimadas e muitas nascentes de rios secaram. Como eu gostaria de
voltar no tempo e dar uma bronca nesses queimadores de árvores!
   Você consegue imaginar como era a sua cidade antigamente,
muitos e muitos anos atrás? Hoje mesmo pergunto pro meu avô se
tinha mais passarinhos, se era mais fresco, se o rio dava mais pei-
xe... Acho que a cidade cresceu e acabou espantando muitas coisas
bonitas da natureza. Pergunte pros mais velhos como era no passa-
do pra conferir...




                                 36
O pior é que ainda tem gente que gosta de jogar lixo e esgoto nos
rios, fazer queimadas e cortar árvores! Se continuar assim, aposto
com você que a cidade vai sofrer de falta d’agua.
  Foi por causa disso que eu e meus amigos da escola nos juntamos
pra formar o Clube do Rio! Não queremos mais nenhum adulto
ou criança poluindo ou machucando as árvores. Quer participar do
nosso clube? Você pode chamar seus amigos também!
   Em primeiro lugar, fale com a professora, ela vai poder dizer o
nome dos rios que passam perto da sua cidade, onde eles nascem e
pra onde correm. Depois, que tal fazer um passeio até lá pra ver se
ainda existem árvores nas margens, se as águas são muito sujas, se
ainda tem como pescar...
   Um dia, aqui na escola, nós levamos um monte de mudas de
árvores pra plantar na beira do rio. Foi muito divertido! Cada alu-
no ganhou um cartão postal em branco pra desenhar e escrever à
vontade sobre como preservar a natureza. Por que você não faz um
desenho também? Eu desenhei o meu amigo Douradinho brincan-
do em um rio limpo, cheio de outros peixes, onde as crianças da
cidade também podiam nadar sem medo de ficarem doentes por
causa da sujeira. Será quem um dia conseguiremos ter uma cidade
mais limpa e cheia de árvores?
  Bom, eu tenho que ir agora pra encontrar meus amigos do clube.
Tô curioso pra ver o seu desenho e saber mais sobre o rio da sua cida-
de! Tenho certeza de que um dia a gente vai se encontrar pra brincar.
  Até lá!
  Mino



                                 37
Carta do Afluente

Eu não quero me gabar, mas sou o afluente de um rio brasileiro.
Você sabia que o Brasil tem uma das maiores reservas de água doce
do mundo? É verdade! No norte do país está a Bacia do rio Amazo-
nas, com o rio de maior volume d’agua do planeta! No coração do
Brasil vive a Bacia do Tocantins, que tem muitos trechos navegáveis
e é grande produtor de energia limpa.
   Temos também a Bacia Platina, segunda maior Bacia Hidrográ-
fica do planeta, e a Bacia do rio São Francisco, que atravessa o ser-
tão mineiro e o baiano. Há também a Bacia do Atlântico Sul, com




                                 38
muitos rios famosos como o Parnaíba no trecho norte-nordeste, o
Paraíba do Sul no trecho leste e o Jacuí no trecho sudeste-sul.
   Embora o Brasil seja um país com muita água, algumas regiões,
como o sertão nordestino, sofrem com a seca. Os fazendeiros não con-
seguem irrigar suas plantações ou dar de beber ao gado. Que triste!
Muitos bairros das grandes cidades, principalmente os mais pobres,
também sofrem com a falta d’agua por não ter uma boa distribuição.
   É por isso que é importante saber como usar a água sem des-
perdícios. Por exemplo, na hora de tomar banho, que tal desligar
o chuveiro quando for passar sabonete e xampu? Uma chuveirada
de 15 minutos gasta mais de 60 litros de água! Também não é nada
bom escovar os dentes com a torneira aberta...
   Fique atento aos vazamentos em torneiras e descargas. De pingo
em pingo muita água potável se perde à toa. Quando for regar as
plantas ou lavar a casa, evite usar a mangueira, o que gasta muita
água. Prefira o regador ou o balde.
   Na escola, pergunte para a professora ou pesquise sobre o que é
que está sendo feito no país para diminuir os problemas com a seca
e a má distribuição de água. Aposto que vai descobrir muitas coisas
interessantes e muitas formas de ajudar!
   Mesmo sendo um afluente forte e bonito, eu preciso de uma
mãozinha de vocês para continuar abastecendo às cidades. Pensem
nisso: todos nós fazemos parte da natureza e somos responsáveis
por seu cuidado. E agora? Você também vai ser um protetor do rio?
  Abraço!
  Afluente



                                39
Carta da Árvore

   Nosso planeta chama-se Terra. Unpf! Para mim, ele deveria cha-
mar-se “Planeta Água”. Você sabia que ¾ da superfície da terra são
cobertos de água? Assim, apenas ¼ da superfície fica fora d’agua!
Tem muita água neste nosso planetinha azul! É aí que você me per-
gunta: “Dona Árvore, então por que temos que nos preocupar tanto
com a preservação da água?”. E eu respondo: É que grande parte
dela (97,5%) é salgada. Você bebe água salgada, por acaso? Claro
que não! Nós dependemos da água doce, que corresponde somente
a 2,5% e, mesmo assim, nem toda ela está disponível. 69,5% da água
doce está congelada e 30,1% no subsolo. Sem considerar a água at-
mosférica e os pântanos insalubres, apenas 0,27% é facilmente uti-
lizável pelo homem e está nos rios e lagos. Portanto, meus filhos,
vamos economizar!
  Beijos,
  Árvore.




                               40
41
42
Querido leitor,
Você gosta de desenhar? E de escrever? Se a resposta é
SIM!, então tenho uma ótima novidade pra você.
Através do Projeto Douradinho, você vai receber um
cartão postal em branco. Coloque seu nome nele e co-
mece já a fazer um lindo desenho sobre o que leu no
livro Amiga Lata, Amigo Rio ou então escreva alguma
mensagem bem bonita.
Que tal falar sobre as aventuras do peixe Douradinho?
Ou sobre o rio de sua cidade, sua importância e seus
problemas? Você pode inventar outra história com os
personagens do livro!
Depois que o cartão postal estiver pronto, fale com a
professora e chame seus amigos de turma para fazer
uma grande exposição! Toda a escola vai querer ver!
Se quiser, você também pode dar o cartão para um
amigo ou enviar para mim por correio! Vou adorar re-
ceber seu desenho e descobrir o que achou do livro
que escrevi.
Grande abraço,
Thiago Cascabulho


Obs: meu endereço é
Rua Álvares de Azevedo, 150/602 – Icaraí – Niterói, RJ
CEP 24220-021
www.projetodouradinho.com.br
www.thiagocascabulho.com.br
contato@caraminholas.com
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Amiga lata amigo rio

  • 1.
  • 2.
  • 4. ©Thiago Machado Cascabulho 2008 Reservam-se os direitos desta edição ao autor Thiago Machado Cascabulho. A reprodução total ou parcial desta obra somente será permitida com a autorização do autor. Pesquisa Julieta Abiusi Coordenação Editorial/Gráfica Caraminholas Produções Produção Executiva Alexandre Malaguti Texto Thiago Cascabulho Revisão Andréa Ramos Ilustrações Gilberto Cortes Projeto Pedagógico Professora Giovânia Cristina de Almeida Alves Diagramação e Artefinalização Bruno Pettendorfer Ramon Gil CIP - Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos editores de Livros, RJ. C331a Cascabulho, Thiago, 1981- Amiga Lata, Amigo Rio / Thiago Cascabulho - 1 ed. - Niterói,RJ: TM Cascabulho, 2008 40p. : il. ; ISBN 978-85-61548-00-1 1. Literatura Infanto-juvenil. I. Título. 08-1177. CDD: 028.5 CDU:  087.5 25.03.08 26.03.08 005914 www.projetodouradinho.com.br contato@caraminholas.com
  • 7. Capítulo I Vai um Cascudo? A personagem da história que contaremos aqui é um Cascudo. Você conhece o Cascudo? Se alguém, em algum lugar, perguntasse o que é um Cascudo, você saberia responder, ou ficaria com medo de le- var um “cascudo” na cabeça? Para vocês que não sabem, o Cascudo é um peixe. E muito conhecido! Aposto que se visse este pequeno peixe de rio, sem graça e feio, não entenderia a pergunta que eu fiz antes. Poderia até dizer: — Para que quero conhecer este tal de Cascudo? Feio. Pequeno. Vive na lama e no lodo. Que nojo! Bem... Ele pode ser tudo isso sim, até concordo. Mas este Cascu- do que vocês vão conhecer agora é bem diferente. Digamos que ele seja um verdadeiro herói dentre os peixes! Quer saber? 5
  • 8. Capítulo II Nadando contra a corrente Douradinho não é um Cascudo comum. Afinal, se fosse igual a to- dos, não seria chamado de Douradinho. Os Cascudos costumam ter uma cor escura para melhor se esconderem na lama e no lodo dos rios. Douradinho também era assim, mas por um pequeno acidente acabou se tornando diferente dos outros. Tudo aconteceu quando ele estava passeando pelo fundo do rio procurando alimento... e zapt! Um anzol ficou preso em sua na- dadeira. Como se não bastasse, grudada ao anzol estava uma lata amassada. Essa lata era toda dourada e reluzia muito. Por isso ele ganhou o apelido de Douradinho. 6
  • 9. O pequeno peixe vivia perto da foz de um rio muito poluído. Lá, a água não é de boa qualidade e por isso sua vida sempre foi muito difícil. Douradinho nasceu ali. Aliás, pouca coisa nasce no rio, devi- do à poluição. Às vezes, ficava tão deserto... O peixinho não tinha companhia. Passou a falar a maior parte do tempo com a latinha; sempre brilhante no meio da sujeira. — Oi, lata! Você ainda está aí? — Douradinho queria puxar as- sunto. — Agora sei porque me segue! Não tem mais ninguém com quem conversar... Um dia, Douradinho encontrou um velho amigo, Cascudo como ele, que estava desesperado: — Não aguento mais, Douradinho! Vivo solitário neste rio! Di- zem que subindo a correnteza existe um paraíso. Mas não tenho forças para nadar mais longe. Vou deixar que o rio me leve até o mar, aquele que chamam de “o desconhecido”. Vamos comigo? — Vou pensar. Encontre-me aqui, à noite. — disse Douradinho. 7
  • 10. Ele não sabia o que fazer. Conversou muito com sua lata: — Latinha que brilha e me faz diferente, o que faço? Tenho medo do “desconhecido”, mas também não quero morrer aqui sozinho e sem ar! Como sempre, a latinha apenas brilhou refletindo a luz do sol. Então, ele decidiu. No horário combinado, quando o dia já tinha se transformado em noite, Douradinho foi encontrar seu amigo. — Aqui estou. Viajaremos juntos. — disse Douradinho. Junto a ele, estavam outros peixes. Alguns magros ou doentes. To- dos nervosos e com medo. Douradinho ainda deu uma última olhada para sua latinha, com dúvidas se iria encontrá-la no “desconhecido”. — Adeus, amiga. — choramingou. — Vamos! Agora! — gritou outro peixe. 8
  • 11. Todos pararam de bater suas nadadeiras. A correnteza os pegou em um turbilhão de velocidade. Batiam-se uns contra os outros, contra o chão ou até contra o lixo que passava. Douradinho ficou de olhos fechados. Não queria nem ver. Foi quando sentiu que parava. Ele disse trêmulo: — Che-chegamos? Depois de dar uma olhada, viu que não havia chegado a lugar algum. Sua latinha tinha se prendido em um monte de lixo. O pei- xinho entendeu aquilo como uma mensagem da amiga, que pedia para não ir. — Acho que entendi seu sinal, você não quer ir até o “desco- nhecido”, não é latinha? — ela apenas brilhava, refletindo a luz do luar. — Não quer? — mais brilho. — Então, vamos nadar contra a corrente! Vamos viver uma aventura diferente da dos outros peixes! 9
  • 12. Capítulo III Dona Língua Douradinho e sua lata resolveram subir o rio. Tinham que coman- dar seu destino e ir contra a corrente. Era um grande desafio. — O que será que encontraremos subindo o rio, minha amiga? — a lata não respondeu. — Será que existem perigos no lado de lá? Fiquei sabendo que podemos encontrar mais peixes. E assim a gente vai ter com quem conversar! Mas, e se eles forem maiores e resolverem nos devorar, você me protege? Já sei! Ofusca os olhos do inimigo com seu brilho! Douradinho foi conversando com a latinha noite adentro até que se sentiu cansado. — Acho que vou procurar um lugar para dormir... Ainda estavam em uma parte muito poluída do rio, quando, de repente, nada mais se via, nem o brilho da lua, que estava cheia. — Mas, como pode! — Exclamou o peixinho. — Não consigo ver nada. E que cheiro estranho! Uma voz grossa fez-se ouvir pela escuridão: — Sou eu! — Eu quem? — Douradinho nada entendia. — Siga minha voz! Estou bem perto! Ele resolveu ir ao encontro da voz. Quem sabe ela não diria ao certo o que existe rio acima? — Está me vendo agora? — perguntou a Língua Negra para o peixe Douradinho. — Quem é você? 10
  • 13. — Sou a Língua Negra, não vê? — Mas onde você está? — disse o peixinho, que ainda não conse- guia enxergar a tal Língua Negra. — Por toda parte... — sua voz era arrepiante. Grossa. — De onde você vem? — perguntou Douradinho, com medo. — Do cano acima da superfície. Não quer dar uma olhada? — Mas eu não posso ir para a superfície, Dona Língua Negra. Sou um peixe! — Um peixe! Há quanto tempo não vejo um! Pensei que você fosse uma latinha dourada! — Ah! — Douradinho compreendeu. — Esta é a minha amiga, a lata. Eu estou amarrado a ela. — Hum! Que engraçado! Você está camuflado em mim! Nem eu consigo te ver! — É que está muito escuro aqui, Dona Língua! — o peixinho apertava os olhos. — Bem... Aqui sempre é assim. 11
  • 14. — Acho que não estou me sentindo muito bem neste lugar, com toda esta poluição... Será? — disse Douradinho, tossindo. — Deve ser, querido. Deve ser a poluição que te faz passar mal. Todos reclamam de mim, mas na hora de dar descarga, com quem você acha que eles contam? — Eles quem, Dona Língua? — Eles! Os homens. — Quem? — Douradinho nunca tinha visto nenhum homem an- tes na vida. Homens! São criaturas que vivem na superfície. Não iria gostar de conhecê-los. Eles comem peixes. — É..., acho bom mesmo não conhecer! — disse o peixe, mui- to resignado. — Para onde viaja? — perguntou a Língua Negra. — Para o paraíso que existe além da correnteza! — respondeu. — Quer morrer, peixe? Seu lugar é aqui, que é escuro, onde você pode se esconder! — Não quero me esconder, Dona Língua! — Douradinho não entendia a opinião da nova conhecida. — Quero viver em um lugar mais puro e limpo! — Ah! Então você também me culpa por esta sujeira? — A Lín- gua Negra parecia zangada. 12
  • 15. Foi aí que o peixinho percebeu que parte da poluição do rio vi- nha da Língua Negra. — Acho que agora entendi! Desculpe, Dona Língua, mas não gosto de quem polui o rio! Dizendo isso, o peixe começou a se afastar. Nadou e nadou, mas ainda escutava aquela voz grossa falando: — Não sou eu, peixinho! A culpa é do homem e de suas descar- gas! A culpa é do homem e de sua irresponsabilidade! A culpa é do homem! A culpa é do homem! Douradinho não queria saber de quem era a culpa. O resultado é o que importa: um ambiente inabitável. 13
  • 16. Capítulo IV Uma nova amiga O dia amanhecia quando Douradinho despertou. — Uhaaa! Bom dia, latinha! Dormiu bem? — a lata limitou-se apenas a brilhar. Parecia contente. Douradinho nem sabia onde estava. Havia se escondido no meio de uns galhos para fugir da desagradável Língua Negra. — Será que aqui estou seguro? — perguntou Douradinho. — Seguro? — uma voz bem aguda gritou, desesperada. — Não seguro mais nada! Já estou sobrecarregada! — Quem fala? — o peixe ficou preocupado. Será a Língua Ne- gra? — pensou. — Aqui, filho! Não está me vendo? Você dorme no meu colo! As raízes da árvore, que estavam submersas, conversavam com Douradinho. 14
  • 17. — Você é uma raiz, não é? — perguntou o peixinho. — Mais ou menos, meu amigo! — riu a Árvore. — Você está ven- do apenas parte de mim. Estou aqui fora, plantada na beira do rio. Sou uma árvore. — E o que é uma árvore? — ele estava curioso. — Não polui o rio, polui? — Claro que não, amiguinho! Na verdade, sem mim, acho que nem você existiria. Hahaha! — a Árvore ria de dar gosto! — Diga- mos que a minha profissão é preencher o mundo com vida! Meu trabalho é muito importante! — Então, por que disse que não quer segurar mais nada? — per- guntou ele, deixando a Árvore sem graça. — Você acha que é fácil para mim? Sozinha deste jeito, segurar tanta terra! Não aguento! 15
  • 18. Douradinho não estava entendendo nada: — Segurar a terra? Que terra? — Não está vendo, peixinho? Toda esta terra que envolve o rio? Se não fossem minhas raízes... Estaria tudo soterrado e a água bloqueada! Douradinho olhou para sua lata. Queria ver a expressão da amiga. Talvez ela estivesse entendendo esta tal de Árvore, que continuou: — Nesta margem resto eu apenas. Mal tenho forças para segurar tanta terra! Antes, muitas existiam! Como era bom! Tagarelávamos muito! Sabe, criávamos passarinhos. Cada uma com um ninho dife- rente em seus galhos! Mas isso tem muito tempo! — Que trabalho importante, Dona Árvore! Não sabia que al- guém trabalhava pelo bem do rio... — disse Douradinho, feliz com a nova amiga. — Pois é, mas hoje em dia são poucos os que trabalham para sal- var o rio... — a Árvore parecia triste. Douradinho lembrou da Dona Língua Negra e falou: — Concordo... Conheci alguém que só atrapalha... — Eu também conheço! — a Árvore sacudia suas raízes. — Quem mais causa estragos é o homem! Unpf! Joga tudo que é tranqueira no rio, arranca as árvores para transformar o solo em pasto! Onde já se viu! Beira de rio não foi feita para boi pastar! — O que é um boi? — Douradinho nunca tinha ouvido falar em tal criatura. — Esquece. — disse a Árvore, cansada. O peixe se lembrou da sua jornada e resolveu perguntar se ela sabia de algum lugar para onde pudesse ir. A Árvore respondeu: 16
  • 19. — Alguns passarinhos me falaram de um lugar, subindo o rio, que ainda está preservado. Não posso afirmar se eles estão cer- tos. Você não conhece os passarinhos... — a Árvore soltou uma risadinha — Mentirosos... — Não quer ir comigo, Dona Árvore? Aposto que lá existem mui- tas como você! — o rosto de Douradinho iluminou-se com a idéia. — Hahaha! Que engraçado! Você ainda tem muito que aprender, meu filho! Árvore não anda. E mesmo que andasse, não poderia deixar meu trabalho de lado. Você sabe, tenho que segurar a terra, senão tudo corre o risco de ir por água abaixo. Douradinho ficou com pena de deixar a amiga sozinha, mas en- tendeu suas intenções. Com tão nobre trabalho, não podia ser di- ferente. Chamando por sua lata, que sempre o seguia, continuou sua caminhada, rumo ao paraíso. Quem sabe lá não encontraria um belo presente para sua amiga Árvore? 17
  • 20. Capítulo V O caminho de águas claras Douradinho e sua lata já haviam nadado demais. A cada momento descobriam coisas novas: — Olha lá, latinha! — exclamou o peixe, animado. — O que será aquilo? Douradinho apontava para um pequeno filete de água que ia ao encontro do rio. Passando por ali, logo percebeu que aquela água não era poluída como a da Língua Negra. — Que engraçado! — pensou Douradinho — Como é diferente esta água! O peixe nunca tinha visto água tão limpa em toda sua vida. Pen- sou até em seguir aquele caminho, caminho de águas claras. — Alto lá! — gritou o Afluente. — Quem fala? — Douradinho olhava para todos os lados, procu- rando o dono da voz. — Não está sentindo? Sou um dos afluentes do rio! 18
  • 21. — E o que é um afluente? — Não se faça de bobo, peixinho! Até parece que não estava se divertindo com o frescor de minhas águas limpas! — Ah! — o peixe agora entendia. — Você é este bracinho de água que deságua no rio! — Sou sim... Mas não pense que vai me enrolar com este papo mole. Não deixarei você entrar em meus domínios, se é este o seu plano! O Afluente parecia bravo. Sua voz muito suave ficou grave em um instante! — Claro que não entrarei em seus domínios, se assim quiser. Mas, diga, por que não posso? — Você acha que vou deixar entrar em meu mundo uma lata de alumínio como esta que você carrega? Nem morto! Aliás, já vi peixes usando brincos, etiquetas, escamas tingidas, mas... Lata de alumínio pendurada na nadadeira... Nunca! Cada uma... Douradinho não gostou de ouvir aquilo: — Não fale assim de minha amiga! Ela pode ficar magoada! Não entendo por que tanto medo de uma simples latinha! O Afluente explicou pacientemente: — Sabe, peixinho... Uma lata como esta, solta no rio, demoraria uma eternidade para ser de- gradada. É um lixo terrível! — Não é terrível... — Douradinho começou a chorar. — Ela é minha amiga, e você a está magoando! Pode ficar despreocupado! Não vou entrar em seus domínios! O Afluente ficou com pena daquela criaturinha que não parava de chorar: 19
  • 22. — Meu filhinho... Tente entender! Existe uma fábrica aqui do lado que já joga lixo demais no rio! — Mas você nem rio é... — Douradinho soluçava de tristeza. — Claro que sim! Faço parte do rio! E não se engane! Uma parte muito importante! O que seria de um rio se não existissem afluentes para engrossar suas águas? O peixe lembrou-se de sua amiga: — Conheci uma árvore que também se diz ser muito importante para o rio... — Uma árvore! — o Afluente abriu-se em um sorriso. — Ela não está mentindo. Aliás, todos nós, seres que dependemos do rio, so- mos responsáveis por sua sobrevivência. — Até o homem? — Douradinho queria saber mais sobre esta criatura desconhecida. — O homem! Sim, até o homem! — disse o Afluente. — Infeliz- mente, ele também usa suas mãos para construir fábricas que po- luem o rio. Não entendo... Quando pequenos, adoram pescar e nadar nas águas claras. Depois, constroem estes monstros de poluição. — Onde estão tais criaturas? — perguntou Douradinho. 20
  • 23. — Peixinho bobo! Fábricas não são criaturas! São construções! É lá que são feitos os produtos que, mais tarde, serão levados para os homens consumirem! Douradinho não entendia essa tal de fábrica: — Como ela pode fazer coisas boas para as pessoas e ao mesmo tempo prejudicar tanto o rio? O Afluente ficou intrigado com a pergunta de Douradinho: — Sabe que nunca havia pensado nisso antes? Realmente, não dá para entender! O homem é um animal estranho. Cria coisas be- líssimas e, através delas, destrói outras belezas. O encontro com o Afluente foi bom para o peixinho. Descobriu mais sobre o homem, este animal estranho. Uma pena não obter permissão para entrar naquelas águas claras! Como bom amigo, não poderia nunca abandonar sua amiga lata. 21
  • 24. Capítulo VI Encontro com o menino Algumas dúvidas do peixinho sobre o homem estavam para ser des- vendadas. Douradinho nadava, agora bem perto das casas na beira do rio. Eram muito pequenas. Feitas de madeira e tijolos sem acabamento. — Olhe, latinha! É ali que o homem vive! Que coisa estranha! Pelo que vejo daqui de baixo, não é tão diferente da minha casa. Que sujeira! A latinha não parava de brilhar um só instante. O sol do meio-dia estava forte. Na beira do rio, Douradinho avistou pela primeira vez um ho- mem. Lembrou-se do que a Língua Negra havia falado: “os homens comem peixes”. O peixinho ficou com medo de ser pescado e na- dou ainda com mais força. — Lata! — Douradinho disse, aflito. — Acho que este humano está nos seguindo! Vamos fugir! Realmente, havia alguém seguindo o peixe. O menino Mino ca- minhava para casa observando o rio, quando reparou no brilho da latinha que Douradinho carregava. — Tem alguma coisa debaixo do rio! Será um tesouro? — per- guntou-se o menino. Ele passou a seguir a latinha, que brilhava mais e mais. — Que coisa estranha! O brilho está indo contra a corrente! Douradinho nadava desesperadamente. Pensava em tudo o que lhe contaram sobre o homem e teve medo. Mas olhando para a sua lata, que brilhava mais do que nunca, ganhou coragem para falar: 22
  • 25. — Por que me persegue? — Perseguir, eu? Quem está falando? — Mino não sabia de onde vinha aquela pergunta. Você sabe que estou aqui, no rio! Homem mau! Mino respondeu às acusações: — Primeiro, ainda não sou um homem. Sou um menino. Segun- do, não sou mau. Apenas quero conhecê-lo! Quem é você? Douradinho lembrou-se do que o Afluente havia dito sobre os ho- mens quando crianças. Nesta idade, eles não oferecem perigo. Saben- do disso, o peixinho parou de fugir e aproximou-se da margem. 23
  • 26. — Ah! Então, você é um peixe! — exclamou Mino. — Que engra- çado! Um peixe com uma lata presa na nadadeira! Douradinho ofendeu-se: — Mais estranho digo eu! Nunca vi menino falar com peixe. — Nem eu! Acho que estou impressionado com o que a professora disse na aula de hoje sobre o rio e ando vendo coisas... Ou será o sol? — Por que falam do meu rio? Querem aterrá-lo? Arrancar suas ár- vores? Construir fábricas em suas margens? — perguntou Douradinho. — Calma, peixinho! Já disse que não sou mau. Estávamos apren- dendo na escola a proteger o rio! — Não acredito! — disse o peixe, desconfiado. — Humanos que- rendo cuidar do rio? Esta é nova! — Verdade! Depois de conversar com a professora e saber dos problemas, todos prometemos que, depois de crescidos, cuidare- mos do rio. 24
  • 27. — Que coisa estranha! Se quando crianças vocês aprendem sobre a importância do rio, por que não podem fazer nada agora? Vão esperar ser adultos? Pelo que aprendi, os adultos também poluem o rio... O menino entristeceu-se. De uma forma ou de outra, aquilo era verdade. — Então, mesmo menino, como posso ajudar a preservar o rio? O peixinho não sabia responder àquela pergunta, mas tinha um palpite: — Conversei com uma árvore e com um afluente. Eles me explicaram o porquê de serem tão importantes para o rio. Quem sabe aí não mora a resposta? — É verdade! — exclamou Mino. — A professora nos disse que plantar árvores pode ser uma saída para preservar o rio! Douradinho agora sentia-se bem em conversar com o menino. Quem sabe ele não faria alguma coisa boa? — Vocês meninos tem coração puro. — O peixinho falava com emoção. — Não é preciso ser grande para ajudar! Uma sementinha que seja plantada nas margens do rio pode ser útil! O menino encarou o conselho do peixe com seriedade. Era uma missão! No dia seguinte, na escola, iria organizar um grupo de co- legas e começar a plantar árvores. Quem sabe, assim, poderiam sal- var o rio. — Obrigado pelos conselhos, peixinho. Posso fazer algo em troca por você? Quer que eu tire essa lata da sua nadadeira? O peixe balançou a cabeça em negativa: — Não precisa agradecer, menino. Quanto à latinha, acho me- lhor não tirá-la. Lembre-se de que foi ela que chamou a sua atenção para mim... 25
  • 28. Capítulo VII Nascente Douradinho já tinha nadado muito. Não via a hora de chegar até o paraíso que diziam existir. Mas o tempo passava e ele apenas en- contrava lixo, poluição e tristeza pelo caminho. — Tem certeza de que quer continuar me seguindo, latinha? — a lata brilhou timidamente. — Aposto que está curiosa em conhecer o paraíso também, não é? Sem que Douradinho percebesse, o rio estreitava-se mais e mais. Com o tempo, ele reparou que a correnteza estava mais forte. — Acho que estamos chegando, latinha! A água aqui parece bem mais limpa! 26
  • 29. Foi em uma manhã, depois de nadar toda a noite, que aconteceu o esperado. O sol nascia e jogava sobre o rio uma calma luz. O céu se abriu e, entre pedras gigantes, o rio passava, lindo, cristalino e puro. O peixinho ficou encantado com tamanha beleza. A água era fresca e boa para nadar. Havia muitas árvores plantadas nas mar- gens. E muitos peixes brincavam e pulavam, como se estivessem dançando. Ele estava na nascente do rio. — Chegamos, latinha! Chegamos ao paraíso! Logo, cardumes inteiros vieram recebê-lo. Nadavam e sorriam em torno do visitante. Douradinho também entrou na dança. Não sabia que seu rio, que era tão poluído perto do mar, ali em sua nas- cente era tão lindo. 27
  • 30. Muitas árvores balançavam seus galhos e mostravam seus pássa- ros umas às outras, fofocando. — Ah, se minha amiga Árvore estivesse aqui! — exclamou Dou- radinho, cheio de felicidade. Todos os peixes o cumprimentavam. Um a um foram se apresentando: — Sou o Mandi, e você? — Prazer, Mandi! Sou o Douradinho! — E eu sou o Lambari. Muito Prazer, Douradinho! — O prazer é todo meu, Lambari. No meio de tamanha alegria, o peixinho até havia se esquecido de sua latinha, que continuava a brilhar. Foi quando um dos peixes falou: — Douradinho, o que é isso aí grudado em você? Foi aí que, depois de tanto nadar e lutar contra a correnteza, o anzol que prendia a lata ao peixe se soltou e foi levado pelas águas. 28
  • 31. — Não! — gritou Douradinho, nadando desesperado atrás da latinha amiga. Mas a correnteza ali era muito forte e a lata muito leve. Não havia como resgatá-la. O peixinho viu a pobre latinha escorrer rio abaixo e sofreu. — Sem ela não sou mais Douradinho! Nada sou! Nada! — o pei- xe não parava de chorar. Sentiu-se muito triste e só. Mas foi assim que teve a grande ideia. — Vou salvar o rio, latinha! Por você, pela árvore, pela nascente, pelos afluentes, pelo menino, por mim! Eu juro! 29
  • 32. Capítulo VIII Final O pequeno Douradinho não deixou de cumprir a promessa. Pas- sou algum tempo morando na nascente do rio para se recuperar de tantos anos respirando poluição. Quando se sentiu bem disposto, decidiu partir. — Não vá, Douradinho! — choramingou um. — Tenho de cumprir minha promessa, meu amigo. — expli- cou Douradinho. — O que um pequeno peixe pode fazer contra tamanha polui- ção? Melhor ficar aqui, escondido! — insistiam. 30
  • 33. Douradinho olhou para os amigos com um olhar decidido: — Sei que não posso fazer muito. Mas também sei que se ninguém tomar iniciativa, logo a sujeira estará aqui, nesta bela nascente. Aí, não vai nem existir lugar para se esconder. O rio secará e será o fim. Os peixes ficaram pensando em tudo aquilo que ele acabava de lhes dizer. Douradinho sabia que ali já tinha plantado a esperança, e partiu. Tinha muito a fazer. Nadou para perto da beira do rio e pediu para que uma das ár- vores lhe desse uma semente. — Claro, Douradinho! — disse a goiabeira. — Aqui está! Do galho mais alto caiu uma goiaba, que bateu no chão e abriu- -se em dois pedaços, jogando para dentro do rio algumas sementes. Douradinho pegou rapidamente uma delas com a boca e agrade- ceu. Seria um belo presente para certa amiga. O peixinho voltou-se novamente a favor da correnteza e nadou pelo caminho que conhecera antes, mas na direção oposta. Viu o sol e a lua aparecerem e sumirem do céu várias vezes. Passou por diversos afluentes do rio. Alguns nem tão saudáveis quanto o que havia conhecido. 31
  • 34. Pelo caminho de volta, sentiu novamente a sujeira e o lixo. La- mentou o descaso dos homens com tudo aquilo e seguiu em frente. Tinha uma missão a cumprir. Depois de muito tempo de viagem, avistou a Árvore, solitária, plantada no meio da erosão: — Olá, minha amiga árvore! Lembra-se de mim? — Minha criança! Hahaha — a Árvore parecia surpresa em rever o peixinho. — Que bom revê-lo! Você chegou ao paraíso? — Consegui chegar, minha amiga! E lá entendi a importância do seu trabalho! Com o discurso do peixinho, a Árvore ficou emocionada: — Que é isso, menino!? Faço apenas o meu dever. E ele prosseguiu: — Faz o seu dever. Mas, de agora em diante, vai ter uma nova concorrente... 32
  • 35. Para a alegria e surpresa da Árvore, o peixe saltou acima da su- perfície e de lá jogou a semente em um pedaço de terra ao lado. — Meu filho... — a Árvore emocionou-se... Não longe dali, na escola de Mino, as crianças começavam a or- ganizar uma campanha para salvar os rios. — Pessoal, nós temos força para melhorar esta situação. O rio também é parte de nossa casa! Temos que amá-lo e respeitá-lo. É de lá que retiramos o alimento. É dali que bebemos. É dali que sobrevi- vemos. É o nosso futuro e a nossa condição de vida! — disse Mino. Todos os olhares se voltaram para a janela aberta da escola. De lá dava para ver o rio, como sempre. Mas quem o conhece realmente sabe muito bem... Ali no fundo... Bem no fundo... Debaixo do lixo acumulado, do lodo e da sujeira, ainda vive um sorriso de esperança. Ele sorri e canta. FIM 33
  • 36. Olha! Chegaram umas cartas para você! 34
  • 37. Carta do Mino Olá! Tudo bem? Meu nome é Mino, gosto de brincar de pique-pega, de comer goia- ba, de ler, escrever e fazer muito amigos! Na minha escola eu tenho um grupo de colegas muito legal... Foi por isso que a professora me pediu pra eu te escrever esta carta! Quero te convidar pra entrar pro nosso clube! Você já recebeu uma carta antes? Se nunca recebeu, esta vai ser a sua primeira! Você já participou de algum clube? Foi um amigo que me contou (um peixe chamado Douradinho) que a minha cidade só nasceu por causa de um rio. Isso mesmo! Se não fosse o rio que passa pertinho lá de casa, não poderia existir nenhuma plantação, criação de animais, nenhuma casa, venda ou escola... A ci- dade não existiria! Tudo isso porque não conseguimos viver sem água! 35
  • 38. A professora disse que, antigamente, era costume fazer queimadas pra limpar o solo depois da colheita. Por isso, muitas árvores acabaram queimadas e muitas nascentes de rios secaram. Como eu gostaria de voltar no tempo e dar uma bronca nesses queimadores de árvores! Você consegue imaginar como era a sua cidade antigamente, muitos e muitos anos atrás? Hoje mesmo pergunto pro meu avô se tinha mais passarinhos, se era mais fresco, se o rio dava mais pei- xe... Acho que a cidade cresceu e acabou espantando muitas coisas bonitas da natureza. Pergunte pros mais velhos como era no passa- do pra conferir... 36
  • 39. O pior é que ainda tem gente que gosta de jogar lixo e esgoto nos rios, fazer queimadas e cortar árvores! Se continuar assim, aposto com você que a cidade vai sofrer de falta d’agua. Foi por causa disso que eu e meus amigos da escola nos juntamos pra formar o Clube do Rio! Não queremos mais nenhum adulto ou criança poluindo ou machucando as árvores. Quer participar do nosso clube? Você pode chamar seus amigos também! Em primeiro lugar, fale com a professora, ela vai poder dizer o nome dos rios que passam perto da sua cidade, onde eles nascem e pra onde correm. Depois, que tal fazer um passeio até lá pra ver se ainda existem árvores nas margens, se as águas são muito sujas, se ainda tem como pescar... Um dia, aqui na escola, nós levamos um monte de mudas de árvores pra plantar na beira do rio. Foi muito divertido! Cada alu- no ganhou um cartão postal em branco pra desenhar e escrever à vontade sobre como preservar a natureza. Por que você não faz um desenho também? Eu desenhei o meu amigo Douradinho brincan- do em um rio limpo, cheio de outros peixes, onde as crianças da cidade também podiam nadar sem medo de ficarem doentes por causa da sujeira. Será quem um dia conseguiremos ter uma cidade mais limpa e cheia de árvores? Bom, eu tenho que ir agora pra encontrar meus amigos do clube. Tô curioso pra ver o seu desenho e saber mais sobre o rio da sua cida- de! Tenho certeza de que um dia a gente vai se encontrar pra brincar. Até lá! Mino 37
  • 40. Carta do Afluente Eu não quero me gabar, mas sou o afluente de um rio brasileiro. Você sabia que o Brasil tem uma das maiores reservas de água doce do mundo? É verdade! No norte do país está a Bacia do rio Amazo- nas, com o rio de maior volume d’agua do planeta! No coração do Brasil vive a Bacia do Tocantins, que tem muitos trechos navegáveis e é grande produtor de energia limpa. Temos também a Bacia Platina, segunda maior Bacia Hidrográ- fica do planeta, e a Bacia do rio São Francisco, que atravessa o ser- tão mineiro e o baiano. Há também a Bacia do Atlântico Sul, com 38
  • 41. muitos rios famosos como o Parnaíba no trecho norte-nordeste, o Paraíba do Sul no trecho leste e o Jacuí no trecho sudeste-sul. Embora o Brasil seja um país com muita água, algumas regiões, como o sertão nordestino, sofrem com a seca. Os fazendeiros não con- seguem irrigar suas plantações ou dar de beber ao gado. Que triste! Muitos bairros das grandes cidades, principalmente os mais pobres, também sofrem com a falta d’agua por não ter uma boa distribuição. É por isso que é importante saber como usar a água sem des- perdícios. Por exemplo, na hora de tomar banho, que tal desligar o chuveiro quando for passar sabonete e xampu? Uma chuveirada de 15 minutos gasta mais de 60 litros de água! Também não é nada bom escovar os dentes com a torneira aberta... Fique atento aos vazamentos em torneiras e descargas. De pingo em pingo muita água potável se perde à toa. Quando for regar as plantas ou lavar a casa, evite usar a mangueira, o que gasta muita água. Prefira o regador ou o balde. Na escola, pergunte para a professora ou pesquise sobre o que é que está sendo feito no país para diminuir os problemas com a seca e a má distribuição de água. Aposto que vai descobrir muitas coisas interessantes e muitas formas de ajudar! Mesmo sendo um afluente forte e bonito, eu preciso de uma mãozinha de vocês para continuar abastecendo às cidades. Pensem nisso: todos nós fazemos parte da natureza e somos responsáveis por seu cuidado. E agora? Você também vai ser um protetor do rio? Abraço! Afluente 39
  • 42. Carta da Árvore Nosso planeta chama-se Terra. Unpf! Para mim, ele deveria cha- mar-se “Planeta Água”. Você sabia que ¾ da superfície da terra são cobertos de água? Assim, apenas ¼ da superfície fica fora d’agua! Tem muita água neste nosso planetinha azul! É aí que você me per- gunta: “Dona Árvore, então por que temos que nos preocupar tanto com a preservação da água?”. E eu respondo: É que grande parte dela (97,5%) é salgada. Você bebe água salgada, por acaso? Claro que não! Nós dependemos da água doce, que corresponde somente a 2,5% e, mesmo assim, nem toda ela está disponível. 69,5% da água doce está congelada e 30,1% no subsolo. Sem considerar a água at- mosférica e os pântanos insalubres, apenas 0,27% é facilmente uti- lizável pelo homem e está nos rios e lagos. Portanto, meus filhos, vamos economizar! Beijos, Árvore. 40
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  • 45. Querido leitor, Você gosta de desenhar? E de escrever? Se a resposta é SIM!, então tenho uma ótima novidade pra você. Através do Projeto Douradinho, você vai receber um cartão postal em branco. Coloque seu nome nele e co- mece já a fazer um lindo desenho sobre o que leu no livro Amiga Lata, Amigo Rio ou então escreva alguma mensagem bem bonita. Que tal falar sobre as aventuras do peixe Douradinho? Ou sobre o rio de sua cidade, sua importância e seus problemas? Você pode inventar outra história com os personagens do livro! Depois que o cartão postal estiver pronto, fale com a professora e chame seus amigos de turma para fazer uma grande exposição! Toda a escola vai querer ver! Se quiser, você também pode dar o cartão para um amigo ou enviar para mim por correio! Vou adorar re- ceber seu desenho e descobrir o que achou do livro que escrevi. Grande abraço, Thiago Cascabulho Obs: meu endereço é Rua Álvares de Azevedo, 150/602 – Icaraí – Niterói, RJ CEP 24220-021 www.projetodouradinho.com.br www.thiagocascabulho.com.br contato@caraminholas.com