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CURSO BÁSICO
DE
JORNALISMO MANIPULATIVO
ESTILO PIG
UM ESTUDO BEM-HUMORADO DAS MANIPULAÇÕES DA MÍDIA OPOSICIONISTA
Mais de 400 técnicas de manipulação
Manual de autoria coletiva da Equipe de Criação
Blog do Curso: http://cbjm.wordpress.com/
Terceira Edição Atualizada
© 2010
EPÍGRAFES
RIA COM ELES
"Journalists do not believe the lies of politicians, but they do repeat them – which is even worse!"
(Jornalistas não acreditam nas mentiras dos políticos, mas eles as repetem – o que é ainda pior!)
Michel Colucci.
"People everywhere confuse what they read in newspapers with news."
(As pessoas, em todos os lugares, confundem o que elas leem nos jornais com notícias.)
A.J. Liebling.
RIA DELES
"O dirigismo da mídia brasileira é um escândalo. Alguém precisa fazer uma coletânea com essas
barbaridades. Seria um manual utilíssimo para entregar aos estudantes de jornalismo."
César Bento.
"Fica chato ter de começar o texto lembrando as famosas 'exceções de sempre', mas é inevitável. Então
vamos lá: com as famosas exceções de sempre, a chamada grande imprensa decidiu se comportar como
linha auxiliar do governo Lula."
Reinaldo Azevedo.
O SIGNIFICADO DE PIG
PIG é a sigla de Partido da Imprensa Golpista, expressão cunhada por André Alírio para designar o
conjunto de órgãos, jornalistas, colunistas e parajornalistas da Grande Mídia que utilizam seu trabalho
para desqualificar as realizações do Governo Lula e supervalorizar os erros do presidente e de seus
aliados, chegando ao ponto de fabricar escândalos, fazer acusações caluniosas e pedir o impeachment, ao
mesmo tempo em que escondem ou atenuam os defeitos e as falcatruas dos políticos de Oposição que
desejam alçar ao poder.
As técnicas apresentadas a seguir valem, evidentemente, para qualquer grupo atacante, qualquer alvo
e qualquer objeto de defesa política. Mas como elas foram criadas e amplamente usadas, inicialmente,
com esse propósito histórico (o ataque ao Governo Lula e a defesa de seus detratores), estarão associadas
neste Curso, por uma questão de merecimento profissional, a esta sigla e aos órgãos de imprensa, aos
jornalistas, colunistas e parajornalistas que participaram dessas manobras políticas.
A exemplo de outras qualificações pejorativas que foram assumidas orgulhosamente pelos alvos
originais de crítica e deboche (vide o caso do urubu rubro-negro, no futebol), os integrantes do PIG a
princípio rejeitaram, mas depois aceitaram essa denominação, ainda que não o reconheçam publicamente.
O MANUAL
Este Curso Básico de Jornalismo Manipulativo é um documento altamente secreto que só deve
circular entre os integrantes do PIG, especialmente aqueles de maior poder e influência. Nem é necessário
alertar sobre o perigo de se deixar este material nas mãos de jornalistas comuns, quanto mais de
simpatizantes do Governo, dos quais estão infestadas nossas redações. A propósito, você leu a terceira
epígrafe da página anterior?
Trate o manual como trataria um arquivo que contivesse informações desabonadoras sobre a sua
própria pessoa.
SUMÁRIO
PRIMEIRA PARTE – BASES DA ATUAÇÃO DO PIG
PRINCÍPIOS E ATITUDES
O PIG
O grupo: palco e bastidores, luz e sombra ..................... 9
O modo de atuação ............................................. 10
O mito da coordenação infalível ............................... 10
O PIG e a sociedade
O PIG e a sociedade ........................................... 11
A relação do PIG com o seu público
Os três participantes do jogo social .......................... 12
A importância social da mídia ................................. 13
Tendências atuais da mídia .................................... 13
Tendências emocionais ......................................... 13
. Imediatismo
. Ânsia pela novidade
. Exageração
. Aproveitamento máximo dos novos fatos
Tendências intelectuais ....................................... 17
. Credulidade
. Avaliação crítica seletiva
. Supervalorização de fatos por descontextualização
Tendências comportamentais .................................... 22
. Ocultação de fontes e interesses
. Parcialidade
. Prevalência da opinião sobre a informação
. Dirigismo
Tendências estéticas .......................................... 25
. Eugenia visual
Tendências psicológicas ....................................... 26
. Valorização da futilidade
. Incentivo ao arrivismo
. Recompensa à sociopatia
Tendências morais ............................................. 27
. Contradição estrutural entre os valores assumidos e os praticados
Verdades inconvenientes sobre o nosso público ................. 29
. Foco psicológico no presente
. Emocionalismo
. Ignorância histórica
. Incapacidade intelectual e passividade física
. Masoquismo cívico
. Parcialidade
O PIG e o jornalismo
A visão do PIG sobre a função social do jornalismo ............ 33
A situação atual .............................................. 33
Os vários jornalismos do jornalismo ........................... 36
Princípios de atuação do PIG
Princípio do realismo ......................................... 38
Princípio da influência e do poder ............................ 39
Princípio da relatividade absoluta dos valores ................ 42
Princípio do descarte estratégico ............................. 43
Princípio da projeção do Bem .................................. 43
Princípio da criação, aproveitamento e repercussão ............ 44
Princípio do corredor polonês ................................. 44
Princípio do sangramento contínuo ............................. 46
Atitudes definidoras do PIG
Atitudes filosóficas .......................................... 48
. Acolhimento da Sombra
. Flexibilidade interesseira
. Oposicionismo ontológico
Atitudes operacionais ......................................... 52
. Competência universal e inquestionável
. Editorialização
. Instigação da Sombra
. Estimulação da dinâmica de amor e ódio
. Transferência do ônus da prova
. Demonização do adversário
. Criminalização do adversário
. Justiceirismo
SEGUNDA PARTE – TÉCNICAS DE ATUAÇÃO DO PIG
1. Técnicas de ataque ao "outro lado" – 205 técnicas
(O número de técnicas vem ao lado)
Manipulação de manchetes – 28 ................................. 61
Manipulação de declarações – 6 ................................ 84
Manipulação de documentos – 1 ................................. 89
Manipulação de números – 4 .................................... 90
Manipulação de significados – 3 ............................... 93
Atribuição de intenção reprovável – 4 ......................... 97
Atribuição de caráter reprovável – 9 .......................... 102
Aproveitamento de situação favorável – 15 ..................... 109
Organização de informações – 2 ................................ 120
Assassinato de reputação – 5 .................................. 124
Desestabilização – 7 .......................................... 129
Criminalização – 7 ............................................ 140
Eliminação simbólica do adversário – 1 ........................ 145
Desvio de foco – 13 ........................................... 146
Disseminação de ideias – 2 .................................... 154
Instigação do pânico – 4 ...................................... 170
Argumentação capciosa – 25 .................................... 177
Confrontação – 12 ............................................. 195
Repercussão – 8 ............................................... 205
Escandalização – 3 ............................................ 211
Criação de fatos – 16 ......................................... 215
Criação de impressão – 1 ...................................... 233
Denominação - 3 ............................................... 234
Aproveitamento de aliados – 10 ................................ 240
Manipulação visual – 16 ....................................... 257
2. Técnicas de defesa do "nosso lado" – 77 técnicas
Manipulação de manchetes – 13 ................................. 268
Desvio de foco – 14 ........................................... 277
Proteção – 34 ................................................. 292
Eliminação de mérito – 4 ...................................... 331
Apropriação de mérito – 2 ..................................... 335
Criação de fatos – 1 .......................................... 342
Inviabilização preventiva de ataques – 2 ...................... 344
Contestação falaciosa de críticas – 7 ......................... 346
3. Técnicas de ataque e defesa – 2 técnicas
Mudança da História – 2 ....................................... 354
4. Técnicas de orientação política – 23 técnicas
A. Agentes do jogo
Chamamento à luta – 6 ......................................... 358
Validação de esforços – 1 ..................................... 363
Direcionamento de esforços – 1 ................................ 364
Redirecionamento de esforços – 6 .............................. 365
B. Receptores
Orientação intelectual – 7 .................................... 369
Orientação emocional – 2 ...................................... 374
5. Técnicas de editorialização – 14 técnicas
Técnicas não-verbais – 2 ...................................... 378
Qualificação – 6 .............................................. 379
Enquadramento – 4 ............................................. 383
Técnicas frasais – 2 .......................................... 385
6. Técnicas neutras – 4 técnicas
Solicitação de ajuda – 4 ...................................... 388
7. Técnicas de utilização da internet – 42 técnicas
Utilização de blogueiros – 10 ................................. 394
Utilização de caixas de comentários – 2 ....................... 405
Utilização da própria caixa de comentários – 5 ................ 406
Participação em caixas de comentários do "outro lado" – 6 ..... 418
Utilização do e-mail – 1 ...................................... 421
Utilização de páginas da Web – 5 .............................. 421
Utilização do Twitter – 4 ..................................... 424
Utilização do YouTube – 6 ..................................... 426
Contra-ataque – 3 ............................................. 429
8. A técnica das técnicas – 1 técnica
Metatécnica – 1 ............................................... 433
9. O PIG como veículo de jogadas – 28 técnicas
Jogadas geopolíticas – 6 ...................................... 435
Jogadas no mercado financeiro ................................. 440
Jogadas no mercado empresarial – 7 ............................ 441
Jogadas jurídicas – 2 ......................................... 446
Jogadas com o Executivo – 5 ................................... 447
Jogadas com o Legislativo – 2 ................................. 451
Jogadas políticas – 3 ......................................... 454
Jogadas derivadas de relações pessoais – 3 .................... 455
O jornalista e o PIG .......................................... 457
10. A apresentação ao público – 5 técnicas
A apresentação ao vivo ........................................ 460
A apresentação gravada ........................................ 465
A apresentação visual ......................................... 466
PALAVRAS FINAIS ............................................... 468
TUDO FAZ PARTE DO JOGO ........................................ 469
O HOMEM DO ANO ................................................ 470
UM DIA, O BRASILEIRO LERÁ ESTE ................................ 471
PRIMEIRA PARTE
BASES DA ATUAÇÃO
DO PIG
PRINCÍPIOS E ATITUDES
O PIG
O GRUPO: PALCO E BASTIDORES, LUZ E SOMBRA
Nenhum homem é uma ilha, nenhum grupo trabalha em estado de isolamento.
A visão convencional da sociedade sobre o PIG é enganosa, um equívoco de imagem que nos
convém manter indefinidamente. Isso porque não só os órgãos da mídia, os jornalistas, os colunistas e os
parajornalistas integram o "nosso lado". Outros grupos e indivíduos somam esforços a esses
companheiros para lutar pelos nossos interesses e combater os interesses do "outro lado".
Na verdade, muitas vezes a contribuição mais importante para a nossa luta vem daqueles que não são
automaticamente associados ao PIG, porque o público recebe de espírito desarmado as suas contribuições
Essa constatação, porém, jamais nos deverá fazer esquecer nosso papel de atores principais da peça. A
função de protagonismo é nossa; os demais são somente nossos auxiliares.
Por exemplo, um de nossos mais destacados grupos de apoio é o dos especialistas. Atualmente, sua
contribuição efetiva sofre desgaste porque o público já notou a nossa escolha seletiva e questiona a falta
de competência e sensatez desses profissionais selecionados (e também sua notória falta de isenção). Se
tivéssemos apenas o grupo de especialistas como coadjuvantes, estaríamos com sérios problemas.
Entretanto, nossa rede de atuação e solidariedade é vasta.
É importante você sentir que realmente pertence a um grande grupo cujos interesses, somados,
representam uma força social poderosíssima.
Há quem trabalhe no palco, como os órgãos da mídia, os jornalistas, colunistas e parajornalistas, mas
há também quem trabalhe nos bastidores, como grandes empresários, financistas, advogados e políticos
(estes, quando secretamente nos fornecem material relevante) e até grupos religiosos, semissecretos ou
secretos.
Há quem trabalhe na luz, como nossos especialistas e os blogueiros simpatizantes, mas há também
quem trabalhe na sombra, como blogueiros contratados, nossos comentaristas de blogs (contratados de
empresas ou voluntários de partidos), criadores e disseminadores de campanhas de e-mails, ex-membros
da comunidade de informações, denunciantes infiltrados no "outro lado" etc.
Há quem sempre pertenceu ao "nosso lado", assim como há quem pertence ao "outro lado" apenas
formalmente, trocando favores conosco, e quem dele se desligou e trouxe valiosas informações para a luta
política, especialmente em forma de denúncias, verdadeiras ou não.
Há, por fim, um número enorme de inocentes úteis, cidadãos politicamente passivos e indivíduos
desprovidos de autonomia intelectual que constituem, em seu todo, um dos focos prioritários de nosso
trabalho de opinião pública. Lembre-se sempre de que eles se orgulham de fazer parte do "nosso lado"
(seja este qual for) e que estão sempre ávidos para ceder à nossa influência, dando-nos, em troca desse
convencimento, um benefício inestimável: seu voto (direcionado por nós).
Para nós, principais atores do PIG, são nossos irmãos todos aqueles que defendem ou promovem os
nossos interesses contextuais e temporários.
A impressão falsa de que essa forma incisiva de atuação da imprensa restringe-se à época atual e aos
governantes atualmente no poder nos é muito útil porque, primeiro, oculta o verdadeiro papel histórico da
imprensa de modo geral (a sua ligação preferencial com as elites, e não com a população; a sua ligação
com os donos presentes ou futuros do poder, e não com a democracia), e segundo, porque oculta a real
importância dos agentes sociais dos quais somos os principais representantes na mídia em geral.
O MODO DE ATUAÇÃO
Outra vantagem da concentração do significado de "PIG", na visão popular, num número restrito de
órgãos e profissionais é a ocultação das técnicas usadas em nossa atuação cotidiana. São elas, mais do que
os órgãos e as pessoas do PIG, que geram os efeitos importantes para os nossos interesses. Por isso, este
manual concentra-se na identificação, explicação e ensino destas técnicas.
O MITO DA COORDENAÇÃO INFALÍVEL
O uso repetido da sigla PIG pelos nossos adversários pode sugerir uma espécie de central de
coordenação de ações da Grande Mídia, ao estilo dos grupos dominadores do mundo que permeiam as
teorias da conspiração.
É óbvio que temos ações coordenadas em algum grau porque faz parte do comportamento social
humano o espírito gregário. Políticos tramam, empresários acertam-se, empresários da comunicação
traçam estratégias, e tais ações desenvolvem-se nos bastidores. Em reuniões sociais, vários atores do jogo
político, de diferentes origens, podem conversar e chegar a pontos comuns de interesse mútuo. Em
reuniões classistas, determinadas linhas de ação podem ser definidas para implementação conjunta.
Entretanto, a ideia difundida de um comando único para o PIG é, como toda ideia semelhante,
humanamente ilógica e estrategicamente inviável.
O que existe, sim, são objetivos comuns.
A liga que nos une são os interesses. E interesses são dinâmicos. Evidentemente, quando o alvo é
estático, ou seja, quando um grupo "do outro lado" assume o poder e nele se estabelece, é natural que
várias forças sociais se unam para combatê-lo, cada uma com seus interesses particulares, mas todas com
um interesse maior e único: expulsar aquele grupo do poder, substituindo-o por outro grupo de pessoas
simpáticas aos nossos variados interesses.
Outro ponto que gera a suspeita da existência de uma coordenação oculta é a coincidência notável do
conteúdo de ataques e defesas realizadas pela Grande Mídia em relação ao "outro lado". Ilustrando
brevemente o ponto, em relação ao presidente Lula são temas recorrentes entre os jornalistas do "nosso
lado" os ataques que o caracterizam como "inculto" e "populista", a seus seguidores como "mal
informados", a seus auxiliares como "sindicalistas corruptos", à sua política econômica como
"continuação da política do governo anterior", a suas medidas sociais como "tentativa de estabelecer um
controle de Estado", entre muitas outras críticas recorrentes.
É fácil explicar o porquê. Assim como os caricaturistas, os jornalistas precisam tornar suas
mensagens compreensíveis; por isso, optam muitas vezes pela lei do menor esforço, ou seja, pela
interpretação ou pelo argumento mais superficial. Também é necessário reforçar preconceitos vigentes em
determinadas classes sociais (e contra outras classes). Além disso, alguns de nossos integrantes tomam de
empréstimo a outros um ataque ou uma defesa que, de algum modo, surtiu efeito positivo na luta política.
E determinados temas se impõem por uma questão de oportunidade ou importância: uma declaração
manipulável, uma gafe, uma medida que ameace os interesses do "nosso lado", uma vitória importante do
"outro lado" que precisa ser depreciada.
Nada disso, porém, justifica a impressão de que exista uma central de distribuição de conteúdo
uniformizado aos integrantes do PIG. Mais uma vez, a questão restringe-se a interesses comuns e às
táticas necessárias ou disponíveis para garantir esses interesses.
O PIG E A SOCIEDADE
A mídia, e mais particularmente a imprensa, situa-se na interface entre grupos dominantes na
sociedade – os agentes do processo – e a sociedade em seu aspecto mais passivo que ativo – a chamada
opinião pública.
Os vários grupos dominantes possuem interesses específicos e, muitas vezes, conflitantes. Esses
conflitos refletem-se na mídia, expressando-se de diversas maneiras: notinhas, reportagens, matérias,
entrevistas, artigos, colunas, blogs etc. O conteúdo dessas formas jornalísticas e virtuais é o tema da
Segunda Parte deste Curso.
Nossa relação com esses grupos sociais dominantes se dá pelos mais variados motivos e das mais
variadas maneiras, que não convém especificar neste trabalho. Basta saber que o PIG tem interesses que
às vezes podem coincidir, às vezes não, com os interesses de um ou mais desses grupos. No primeiro
caso, desenvolvemos ações de defesa dos interesses deles, que também são os nossos interesses, e de
ataque aos interesses dos grupos rivais; no segundo caso, a atuação é oposta: ataque aos interesses dos
grupos de interesses destoantes dos nossos e defesa dos interesses de grupos simpáticos aos nossos
interesses, rivais daqueles.
O importante é perceber que, assim como a Grande Mídia não é, em essência, todo o PIG, e que não
estamos sozinhos em nossa luta, o PIG não existe num vácuo social, mas se constitui, na verdade, num
veículo de interesses alheios – quando estes concordam com os nossos interesses.
Neste manual, adotaremos a expressão "nosso lado" para denominar uma configuração de interesses
PIG–grupos sociais, em que nós atuamos na defesa desses grupos e no ataque a seus grupos rivais; e a
expressão "outro lado" para denominar uma configuração de interesses representada pelos grupos rivais
aos interesses do PIG e dos grupos a que estamos associados.
Como será explicado mais adiante, o "nosso lado" (ou o "outro lado") não é algo fixo, imutável,
independente de época, circunstâncias etc. O jogo do mercado, da influência e do poder é dinâmico;
assim, nosso aliado de hoje pode ser o rival de amanhã, e os interesses defendidos por nós hoje podem ser
os interesses atacados amanhã.
A RELAÇÃO DO PIG COM O SEU PÚBLICO
OS TRÊS PARTICIPANTES DO JOGO SOCIAL
Didaticamente, podemos dividir os participantes do jogo social, no que se refere à relação com a
Grande Mídia, em três grupos:
1. O grupo mais ativo, dinâmico e lutador (mesmo entre si), que está por trás da mídia, pressionando
para que ela defenda ou promova seus interesses. Este grupo, na verdade, é composto de vários subgrupos
importantes.
. Influências do mercado.
As grandes empresas nacionais (Comércio, Indústria, Tecnologia).
Os banqueiros, especuladores e financistas (Finanças).
Lobistas (representantes de interesses de vários setores da sociedade).
. Influências políticas.
Os grupos atualmente dominantes no poder municipal, estadual ou nacional.
Os grupos que desejam tomar esse poder (ou voltar a ele).
Lideranças políticas individuais (quando não possuem sua própria mídia).
Partidos políticos.
. Influências geopolíticas.
Governos estrangeiros, na defesa de seus interesses nacionais.
Empresas estrangeiras, interessadas na exploração de negócios e riquezas nacionais.
. Influências do submundo.
Organizações criminosas (em especial as que se dedicam a crimes do colarinho branco).
Etc.
Esses grupos possuem alto poder de pressão porque não lhes falta dinheiro, poder e influência – nem
meios, legais ou ilegais, para conseguir o que desejam.
2. A própria mídia.
Situada entre os grupos sociais dominantes e a população, a mídia possui seus próprios interesses,
quando não se trata de um dos grupos dominantes, como no caso de empresas de comunicações de âmbito
nacional ou internacional.
Assim, as pressões ou solicitações que venha a sofrer por parte de outros grupos dominantes só serão
aceitas e implementadas caso sejam harmônicas a seus próprios interesses, mesmo que essa harmonia se
dê por meio de um acordo do tipo toma-lá-dá-cá.
Além disso, os interesses empresariais ou estratégicos de uma organização da mídia podem levá-la a
procurar um ou mais desses grupos para que seus interesses prevaleçam no mercado, nos governos ou na
sociedade em geral.
3. A população em geral, consumidora dos serviços e produtos da mídia.
Assim como há grupos sociais dominantes por trás da mídia, há uma enorme população à frente dela.
Da sociedade vêm os interesses maiores, que precisam da mídia para a sua promoção ou concretização; da
população vêm exigências que precisam ser satisfeitas para que exista uma boa relação consumidor-
imprensa, contexto dentro do qual se dará a influência emocional, intelectual e comportamental que leva à
satisfação dos nossos interesses (e dos interesses dos grupos dominantes a que estamos associados).
É bem verdade que alguns setores da população estão abandonando o papel passivo que sempre os
caracterizou e estão tentando entrar no jogo como atores importantes. As ONGs, os movimentos sociais e,
graças à internet, os próprios blogueiros, começam aqui e ali a tentar influenciar as relações da imprensa
com os seus principais aliados, mas o efeito, embora preocupante, ainda não afeta as regras do jogo.
* * * * *
Portanto, esses três conjuntos genéricos de interesses (dos grupos sociais dominantes, da própria
mídia e dos consumidores) precisam estar harmonizados para que nossa atuação seja bem-sucedida. As
pressões de "cima", os objetivos do "meio" e as necessidades de "baixo" representam as principais forças
atuantes nesta questão, pautando as relações da mídia com os grupos dominantes, com os interesses dela
mesma e com a população consumidora.
Em linguagem popularesca, nossa função, na maior parte do tempo, é harmonizar os interesses da
gente graúda, aliada de nossos objetivos, com as paixões dos pequeninos.
A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA MÍDIA
Antigamente, a família e a escola formavam cidadãos. O mundo mudou, as crianças e os jovens se
desgarraram, e a mídia se tornou sua principal influência formadora, especialmente ao se estabelecer a
dominância cultural norte-americana no chamado Mundo Livre, a partir da década de 60.
Aqui cabe especificar uma lição da plasticidade do comportamento humano, importante para quem
exerce atividades de convencimento do público.
Se imaginarmos um espectro em que um povo ocupasse um dos extremos e outro povo o espectro
oposto, poderíamos tranquilamente colocar num deles o povo brasileiro e no outro o povo estadunidense.
É difícil imaginar povos mais diferentes do que esses dois, em quase tudo.
Pense na história dos povos; pense em seus valores espontâneos; pense em seus comportamentos
típicos; pense em sua relação com os estrangeiros; pense em sua atitude ante as leis, as regras sociais e as
normas em geral; pense em sua relação com o trabalho; pense em sua visão da vida. Tudo, absolutamente
tudo diferente.
Apesar disso, a cultura estrangeira mais influente na cultura nacional, atualmente, é a estadunidense:
no idioma, no comportamento dos jovens, na música, no cinema, na literatura, nas relações com as
empresas, nos modismos sociais...
Pense nisso sempre que se sentir desanimado em seus esforços para convencer e direcionar o
coração, a mente e o comportamento dos brasileiros. Se um povo inteiro pode prescindir de partes
fundamentais de sua própria alma e se entregar feliz a outro povo situado no extremo oposto de suas
tendências naturais, por que não poderíamos aproveitar essa incrível plasticidade humana para impor
nossos interesses? É tudo uma questão de técnica e de ação inteligente.
TENDÊNCIAS ATUAIS DA MÍDIA
Se analisarmos com objetividade a imprensa e suas relações com a população, atualmente, veremos
estas tendências mais ou menos consolidadas, em todas as editorias (jornalismo político, entretenimento,
esportes etc.). Em primeiro lugar, as tendências superficiais, destinadas a satisfazer o gosto do público.
Elas são a cobertura do bolo, algo doce que é oferecido para que possamos garantir os objetivos das
tendências mais profundas, o recheio do bolo.
TENDÊNCIAS EMOCIONAIS
Este conjunto de tendências tem como objetivo primordial a estimulação de emoções fortes e, se
possível, duradouras. Para tanto, baseia-se nas formas mais seguras de estimulação e nas emoções mais
fáceis de serem estimuladas.
Imediatismo
Tendência manifestada pela supervalorização do presente e pela pronta exploração de qualquer fato
que prometa desenvolvimentos rápidos e empolgantes. Como resultado, qualquer outro fato que vinha
sendo desenvolvido, mesmo aqueles socialmente mais importantes, acaba sendo abandonado à própria
sorte.
O imediatismo, somado à compressão do limiar de saturação do público (cada vez mais próximo do
início da exploração dos assuntos), acarreta a alta rotatividade das notícias e impossibilita o
aproveitamento consequente de matérias ou temas socialmente relevantes.
Como a mídia é a instituição-mãe do mundo moderno, essa tendência acaba contaminando outros
setores ligados a ela:
"A pauta do Congresso, por exemplo, é muito marcada pelo imediatismo. Sai uma notícia na mídia,
aquela notícia é tratada no debate do dia, no debate da semana. Não se focalizam as questões de longo
prazo, cuja preocupação caracteriza o estadista. O que é o estadista? O político que tem a feição do
estadista quer ver o que vai acontecer com o país, não amanhã ou no mês que vem ou no ano que vêm,
mas daqui a dez ou vinte anos. Ele se preocupa com esse horizonte." (Saturnino Braga.)
http://www.direito2.com.br/asen/2006/jul/14/saturnino-diz-que-ha-cobica-externa-por-recursos-
naturais-brasileiros
Ânsia pela novidade
Tendência manifestada pela receptividade entusiástica a qualquer notícia, mesmo frívola, fútil, boba,
forçada, por causa do fator "novidade", e só por ele. "Novo" é um critério mais decisivo na escolha da
mídia do que "relevante", "útil" ou "importante".
Essa tendência é exacerbada pela competição entre os veículos, que tentam chegar antes a "furos" que
sejam impactantes e que permitam desenvolvimento ao longo de dias, trazendo a atenção do público para
o seu veículo.
"Na ânsia de sair na frente dos concorrentes, os meios de comunicação publicam o conteúdo antes de
investigar." (Alberto Dines.)
http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/cme/081118_resumo_487.htm
Exageração
A tendência ao exagero é uma forma de desrespeito à realidade que se manifesta de várias formas na
imprensa:
. A "escandalização do nada", na área da política.
"Jornalismo de escândalos." (José César dos Santos.)
http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=2276
. A transformação de fatos corriqueiros da vida pessoal de celebridades e subcelebridades em notícia
de imprescindível interesse social.
Notícia na home-page da Globo.com (note a receptividade do público expressa no número 1,
indicativa da matéria mais lida):
. A criação de polêmicas fúteis (descrição de situações de modo a ressaltar ou instigar rivalidades).
"Praticamente inexiste oconceito de relevância na matéria jornalística. Em qualquer cobertura de fato
relevante, a tendência é de se realçar o imprevisto, a frase que pode gerar conflito, deflagrar a catarse
em lugar de relatar a essência do assunto." (Luis Nassif, O Jornalismo dos Anos 90.)
Esta é uma das especialidades do jornalismo esportivo.
. A preferência por declarações de impacto pinçadas de uma entrevista.
Declaração da cantora e compositora Ana Carolina (21/12/2005):
. O jornalismo-espetáculo, marcado pela exploração de denúncias, polêmicas, crimes.
As "filas quilométricas" do porto de Paranaguá, segundo o "Jornal Nacional" – que não existiam:
http://www.youtube.com/watch?v=b7MVYlRAKlg&feature=related
O alarmismo da RPC no Paraná:
http://www.youtube.com/watch?v=rk3iUud1wu0&feature=related
Essa tendência leva, às vezes, à confrontação por parte do "outro lado", atingido pelas denúncias. A
resposta do governador Roberto Requião:
http://www.youtube.com/watch?v=4RZ8dnuuj9k&feature=related
. A instigação emocional, exemplificada pela preferência dada a fatos chocantes.
Um exemplo clássico: o comportamento acrítico e açodado da Grande Mídia no caso da brasileira
Paula Oliveira, cujo corpo teria sido marcado por neonazistas suíços.
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_Post=160714
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Paula_Oliveira
. A instigação emocional pode se expressar no próprio tratamento de questões polêmicas.
Repare no exagero expresso visualmente pelo número de armas de alto calibre apontadas para o
cidadão indefeso.
Notícia do jornal Zero Hora, edição de 15 de janeiro de 2010.
. A escandalização social, prenúncio da instigação do "clamor das ruas", cujo símbolo maior no País
foi o caso da Escola Base (1994).
Resumo do blogueiro Gabriel:
http://senadormandabrasa.zip.net/arch2008-09-21_2008-09-27.html
Onze anos depois do caso (2005):
"Shimada teve três enfartes desde 94, fuma bastante e tem medo de andar na rua. Atualmente toca a
vida numa xerox no centro de São Paulo. Sua esposa faz tratamento psicológico desde o episódio. Os
outros acusados se mudaram para o interior. Os repórteres que cobriram o caso continuam suas vidas
profissionais normalmente. Nenhum veículo foi punido, nenhuma desculpa foi dada com o mesmo espaço
das acusações. (Thiago Domenici.)
http://www.fazendomedia.com/novas/educacao300705.htm
O mea-culpa, convenientemente, só é feito depois do fim da exploração, quando o caso virou bagaço.
Um exemplo recente:
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/12/27/erramos
Aproveitamento máximo dos novos fatos
Tendência manifestada pela gana com que se explora um fato novo e promissor, refletida tanto no
aspecto quantidade (número de matérias, colunas, comentários etc.), quanto no aspecto tempo (o máximo
possível). A transformação de situações corriqueiras em "novelas", nas áreas do entretenimento e do
esporte, é um bom exemplo dessa tendência. Na área do crime, idem:
"A novelização do Caso Eloá." (Valdeir Almeida.)
http://www.ponderantes.com.br/2008/10/novelizao-do-caso-elo.html
Seu símbolo máximo, entretanto, vem da área do jogo do poder: o escândalo-borracha, no qual
comentaristas, editores, repórteres, especialistas etc. se esforçam para estender a sua vigência de modo a
desgastar a posição do "outro lado".
TENDÊNCIAS INTELECTUAIS
Credulidade
Tendência manifestada pelo descuido na verificação da validade objetiva das informações recebidas
de especialistas ou de outros meios de comunicação, o que leva ao endosso de afirmações falsas, fatos
inexistentes e conclusões precipitadas – isso, quando não gera uma gafe que marcará para sempre o
profissional ou o órgão de imprensa.
A área mais prejudicada por essa tendência são as Ciências, notadamente nas situações de divulgação
e interpretação de notícias sobre pesquisas, teorias, invenções e curiosidades, nas quais são comuns
afirmações exageradas sobre a validade objetiva e o alcance do assunto abordado.
Como exemplo, recentemente a mídia divulgou como verdadeiras duas inverdades científicas: a
regeneração do dedo de um amputado, que teria sido conseguida por meio de um pozinho mágico, ...
http://www.badscience.net/2008/05/finger-bullshit/
... e a descoberta de que um paciente em coma durante 23 anos teria mantido a consciência e a
capacidade cognitiva por todo esse período:
http://www.badscience.net/2009/12/so-brillliantly-youve-presented-a-really-transgressive-case-
through-the-mainstream-media/
A falta de espírito crítico dos editores e, em especial, de um responsável pelo filtro das notícias
científicas, leva a mídia a estabelecer uma cadeia de irresponsabilidade em que um órgão alimenta o outro
com falsidades que seriam de fácil identificação por especialistas. Esse filtro, se existisse, implicaria na
desmistificação das noções do cientista como autoridade inquestionável, da palavra do cientista como
fonte inquestionável, e do texto da agência como verdade inquestionável.
* * *
Um outro exemplo, bem simples:
"Os animais de estimação, sejam eles gatos ou cachorros, poluem duas vezes mais do que um carro,
de acordo com cientistas neo-zelandeses que calcularam a superfície necessária para produzir a carne e os
cereais consumidos por eles." (Tradução de matéria da Agência France Press.)
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1420504-5603,00-
CIENTISTAS+DIZEM+QUE+CAES+E+GATOS+POLUEM+MAIS+QUE+CARROS.html
Os cientistas avaliaram toda a poluição gerada pelas atividades e produtos necessários para os gatos e
cães "funcionarem", comparando esse fator com a poluição gerada pelo funcionamento dos automóveis –
em vez de levar em consideração toda a poluição gerada pelas atividades e produtos que são necessários
para os veículos funcionarem, isto é, as atividades de produção de veículos – sem as quais eles não
existiriam.
Cães e gatos poluem quase nada pelo que fazem e (aparentemente) muito pelas atividades exigidas
para sustentá-los; carros poluem muito pelo que fazem e outro tanto pelas atividades exigidas para
produzi-los.
* * *
Mais um exemplo:
"'Louras são mais 'guerreiras', diz estudo.
"Pesquisa na Califórnia indica que cor do cabelo também influencia tratamento que se recebe."
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1451072-5603,00.html
Repare que a notícia saiu no canal de Ciências e Saúde de um grande portal brasileiro (Globo.com).
Foi reproduzida de modo acrítico, sem nenhum comentário, como se representasse a mais pura verdade
científica.
Eis o artigo original:
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/science/genetics/article6990988.ece
Se o canal tivesse um responsável pela filtragem e avaliação das notícias, que perguntas ele
imediatamente se faria?
1. Qual foi a amostra utilizada pelos pesquisadores para chegar a esta afirmação de validade
universal, e qual a representatividade dessa amostra no conjunto geral das mulheres louras?
"A pesquisa, que envolveu 156 estudantes da universidade [da Califórnia], ..."
Ou seja, 156 mulheres, entre louras e morenas. Apenas 156 para mais de 3 bilhões no total.
O pesquisador revela ter alguma consciência das circunstâncias culturais e geográficas que poderiam
influenciar o resultado de uma pesquisa:
"'Nós esperávamos que as louras sentissem ter mais direito (ao sucesso) do que outras jovens.
Estamos no sul da Califórnia, o habitat natural da loura bem-sucedida', afirmou ao Sunday Times Aaron
Sell, que coordenou a equipe de pesquisadores." (BBC.)
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1451072-5603,00.html
O que vale para uma subcultura estadunidense vale para todos os países? É correto, cientificamente,
extrapolar a conclusão de um estudo sobre 156 estudantes da Universidade da Califórnia para todo o
mundo?
2. Que outras características pessoais poderiam ter influenciado o resultado ou poderão minimizar, no
mundo real, a relevância da conclusão tirada a partir dele?
A Ciência já foi apresentada há muito tempo a conceitos como tipos psicológicos, temperamento
emocional, formação familiar... Bastaria o gene do cabelo louro (ou mesmo a pintura desse cabelo) para
gerar o comportamento mais agressivo na mulher, numa relação infalível e mecânica de causa e efeito? E
os outros fatores humanos, como ficam? Qual a influência relativa deles no comportamento feminino?
3. Qual foi o resultado preciso, em números, que fez o pesquisador sentir-se seguro de estar diante de
uma diferença estatisticamente significativa?
Ou seja, qual é a quantificação desse "mais guerreiras"? Mais quanto? Um por cento, cem por cento?
Não há menção a números no artigo.
4. Qual é a importância científica do responsável pela pesquisa?
Aaron Sell é realmente um professor da Universidade da Califórnia. Eis a sua página no site da
instituição:
http://www.psych.ucsb.edu/research/cep/grads/Sell/Research.html
Estudioso da agressividade humana, tem vários artigos publicados. Um deles talvez fosse sério
candidato a ganhar o IgNobel, o prêmio satírico dado ao estudo científico mais esquisito (ou irrelevante)
do ano:
"My research shows that bicep circumference is a good predictor of anger, entitlement, and support
for warfare among men but not women." (Minha pesquisa mostra que a circunferência do bíceps é um
bom índice de predição da raiva, da sensação de direito adquirido e da predisposição à atitude guerreira
entre os homens, mas não entre as mulheres.)
5. Qual é o título original da pesquisa e onde ela pode ser consultada?
Na página do professor não há menção a essa pesquisa sobre louras e morenas.
No artigo original do jornal britânico, lê-se:
"... published in the Proceedings of the National Academy of Science." ("...publicado em Proceedings
of the National Academy of Sciences.")
http://www.pnas.org/
Na página da instituição estadunidense encontramos apenas um artigo do professor, publicado em
agosto de 2009: "Formidability and the logic of human anger":
http://www.ia.ucsb.edu/93106/2009/October/attitudes.html
Nas páginas de notícias, nada:
http://www.pnas.org/site/misc/news.shtml
Uma busca nos arquivos da instituição não revela nenhum artigo sobre o comportamento das louras,
nem qualquer relação do professor com o tema:
http://www.ucsb.edu/index.shtml
"Your search - "aaron sell" blonde - did not match any documents."
Na página de "press release", nenhuma notícia sobre a pesquisa:
http://www.instadv.ucsb.edu/pa/archive.aspx
E no número atual da publicação, de 12 de janeiro, acessível na página de entrada no site, também
nada, apesar de o artigo original informar que o estudo já havia sido publicado: "...the study which has
been published in the Proceedings of the National Academy of Science."
O artigo original foi reproduzido acriticamente por jornais no mundo inteiro. Talvez a pesquisa seja
verdadeira, mas os dados divulgados (e não verificados) pela imprensa aconselham uma atitude de
prudência. E a conclusão derivada da pesquisa, logicamente, é estapafúrdia.
Não há mais desculpas para tal comportamento relapso da mídia. Muito menos no caso da grande
imprensa brasileira. Já sofremos muito com nossa peculiar parcialidade no trato da questão política. Ao
menos naqueles assuntos que não interfiram no jogo do mercado, da influência e do poder, temos a
obrigação de fazer um trabalho competente.
* * *
A ausência de senso crítico é explorada corriqueiramente por brincalhões para mostrar, na prática, a
complacência intelectual da mídia. No final de 2009, um "estudo científico" inglês que correlacionava o
culto ao Papai Noel à obesidade, entre outros bobagens, foi reproduzido acriticamente pela mídia
nacional.
A pegadinha:
http://blog.newsweek.com/blogs/nurtureshock/archive/2009/12/18/santa-s-a-health-menace-media-
everywhere-are-falling-for-it-but-the-entire-study-is-a-fake.aspx
"Papai Noel promove estilo de vida pouco saudável, diz especialista." (Estado de S. Paulo.)
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,papai-noel-promove-estilo-de-vida-pouco-saudavel-diz-
especialista,484119,0.htm
"Papai Noel promove estilo de vida pouco saudável, diz especialista." (Globo.com.)
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1419727-5603,00-
PAPAI+NOEL+PROMOVE+ESTILO+DE+VIDA+POUCO+SAUDAVEL+DIZ+ESPECIALISTA.html
"Papai Noel é mau exemplo ao combate à obesidade, dizem especialistas." (UOL Tabloide.)
http://noticias.uol.com.br/tabloide/tabloideanas/2006/12/13/ult1594u926.jhtm
"Forma física de Papai Noel vira polêmica na web." (Zero Hora.)
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?
uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a2753037.xml
"Papai Noel precisa entrar em forma, diz estudo de saúde pública." (RedeTV!)
http://www.redetv.com.br/portal/entretenimento/noticia.aspx?
cdNoticia=97112&cdEditoria=142&Title=Papai-Noel-precisa-entrar-em-forma-diz-estudo-de-saude-
publica
* * *
A tendência também se manifesta na cobertura de casos médicos, onde não se procura o
contraditório, estabelecendo-se a autoridade suprema do médico ou da junta médica que controla as
informações; e nos casos policiais, onde o contraditório também não é procurado, estabelecendo-se a
autoridade suprema do delegado ou do Secretário de Segurança.
Nos dois casos, a realidade chega deturpada à opinião pública, segundo a conveniência de quem
controla as informações. Vários desses casos são abordados no livro O Jornalismo dos Anos 90, de Luis
Nassif:
http://www.projetobr.com.br/c/document_library/get_file?folderId=213&name=DLFE-
487.pdf&download=true
A "epidemia de gripe suína", que matou bem menos pessoas que uma gripe comum, gerou manchetes
alarmistas, pânico na população e um lucro estupendo à empresa farmacêutica Novartis, fabricante do
Tamiflu. Quando a realidade surgiu, veio com ela a noção do exagero: "França cancela encomenda de 50
milhões de vacinas para gripe H1N1" (AFP).
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iTqpR5RZ7IkKcMUeT7Zn3HjZxAyw
Avaliação crítica seletiva
Se o órgão de imprensa defende de modo quase obsessivo uma posição política, econômica ou social,
os fatos só têm importância para ilustrar essa posição, seja no aspecto negativo (críticas a quem está no
lado oposto), seja no aspecto positivo (elogios e louvação a quem está no lado "certo").
Um exemplo clássico de crítica "engatilhada" é a capa da revista Veja sobre Cazuza (26/4/1989),
pouco antes da morte do cantor e compositor.
Um exemplo clássico de louvação "engatilhada" é a matéria da Veja, em maio de 2007, sobre o
emirado árabe de Dubai, um dos principais destinos dos super-ricos do mundo: "Milagre no deserto":
"O resultado dessa atmosfera pró-negócios é de fazer arrepiar o mais blasé dos estatísticos. No ano
passado, o PIB de Dubai cresceu a uma taxa de 16%, enquanto o da China alcançou 10,5%. O índice de
desemprego de Dubai é tecnicamente nulo. A população cresce a uma taxa de 10% ao ano,
principalmente devido à imigração, e a demanda por imóveis é incessante. Não há outro lugar no mundo
em que a indústria da construção civil esteja tão atarefada:..." (Diogo Schelp, "O Reino Encantado", 30 de
maio de 2007.)
http://veja.abril.com.br/300507/p_096.shtml
O trecho abaixo é de 2008:
"Recentemente, mais e mais estrangeiros estão investindo em Dubai, graças à perspectiva de
crescimento e à solidez da economia, que levam a projeções de que no futuro Dubai será um centro
mundial de finanças e turismo."
http://www.riquissimos.com.br/category/viagem/page/2/
Alguns aspectos condenáveis desse progresso não incomodavam muito seus apreciadores:
"Êxito econômico de Dubai esconde sistema de trabalho com características de escravidão." (Andy
Robinson, La Vanguardia.)
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lavanguardia/2008/06/09/ult2684u457.jhtm
"O que Dubai tem que o Brasil não tem?" perguntava invejosa a jornalista Eliane Cantanhêde em abril
de 2009.
http://dedeabel.zip.net/arch2009-04-01_2009-04-15.html#2009_04-09_09_22_51-8592662-0
Em novembro de 2009, o outro lado do sucesso estrondoso surge como do nada, sem aviso: a
possibilidade de falência de Dubai e o atraso no pagamento de dívidas:
"Crise em Dubai faz ressurgir fantasma da falência de vários países. "(Jérémy Tordjman, Agência
France Press.)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u658005.shtml
Supervalorização de fatos por descontextualização
"A mulher mais bem-vestida do ano", "a mulher do século", "a mulher mais sexy do mundo"... Na
verdade, resultados de enquetes feitas numa revista, num site, numa TV, de um só país, baseadas num
universo limitado e centradas em poucas atrizes e modelos, todas presentes na mídia.
O título não combina com a real importância e a real dimensão do fato. Mas é impactante, por isso a
imprensa o reproduz acriticamente, criando maravilhas vivas da humanidade que são, na verdade, apenas
expoentes temporários da mídia imediatista.
Para quem não se lembra, a "mulher do século XX" chama-se Maria Fernanda Cândido. A "eleição"
foi realizada por telefone no programa "Fantástico", da Rede Globo. Apenas por uma coincidência, Maria
Fernanda era a atriz principal da telenovela que a Globo desejava divulgar, na época ("Terra Nostra"). O
título honorífico é lembrado com regularidade em matérias da imprensa.
http://www.tiosam.com/?q=Terra_Nostra
TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS
Ocultação de fontes e interesses
Tendência que é mais do que mera tendência: trata-se, na verdade, de um dos fundamentos da
atividade jornalística da atualidade (e talvez de sempre). Desde o jornalismo de celebridades, em que
matérias e fotos enviadas por assessorias de imprensa passam por conteúdo apurado pela redação, até as
manobras políticas e empresariais que determinam o conteúdo de notinhas, colunas, reportagens etc., a
preservação da fonte não se dá, como no bom jornalismo, por uma questão ética; ao contrário, ela é
preservada para não se admitir a falta de ética: se revelada, mostraria o interesse escuso ou a falta de
profissionalismo que pautou a atuação do jornalista.
Do mesmo modo, a ocultação de interesses políticos ou empresariais é uma norma na atuação da
Grande Mídia ao participar do jogo da influência e do poder. Tenta-se passar ao leitor a impressão de
integridade, imparcialidade, patriotismo, defesa da democracia, entre outros belos valores, enquanto se
escondem as verdadeiras intenções associadas a interesses por vezes opostos a esses ideais.
Parcialidade
A facilidade com que os jornalistas divulgam o clichê da impossibilidade do exercício da
imparcialidade diz muito sobre a ligação deles com essa tendência. Obviamente, a distorção dos fatos faz
parte da própria atividade da consciência humana, mas a intenção de imparcialidade tende a levar o
profissional até o ponto mais próximo possível dos fatos, ou seja, de uma apreensão objetiva da realidade.
Essa intenção louvável age fazendo o jornalista perceber os processos psicológicos de distorção e
incentivando-o a contrabalançar sua própria inclinação no assunto e a aplicar técnicas que garantam um
alto grau de fidelidade na representação dos eventos percebidos e descritos.
As técnicas são conhecidas: não só ouvir, como também dar importância, tempo e espaço
equivalentes ao outro lado da questão, prática tão rara hoje em dia por causa da editorialização
compulsiva; a apresentação de versões diferentes do mesmo fato, quando relevantes; o questionamento
inteligente da capacidade dos especialistas e a comunicação ao público sobre suas ligações com partes
envolvidas e sobre sua importância relativa no meio profissional; a investigação paciente, quando a
questão parece ainda confusa e os fatos carecem de peso próprio. E outras técnicas bem conhecidas no
meio.
Tudo isso pertence ao mundo ideal. No mundo real prevalecem os interesses. E a parcialidade, em
especial na política, passou de exceção a regra.
Prevalência da opinião sobre a informação
A epidemia do colunismo, somada à parcialidade dos comentaristas e analistas políticos, levou à
substituição do jornalismo pela palpitagem. Colunistas, parajornalistas (amadores que tentam
canhestramente atuar como jornalistas sem compromisso com as normas da profissão), âncoras do rádio e
da TV, analistas políticos e econômicos, quase todos descambaram para o achismo, a editorialização, as
previsões inconsequentes. Especialistas em tudo passaram a frequentar a mídia, em colunas ou nas
entrevistas.
A facilidade de pontificar sobre um assunto (ou qualquer assunto) tem um contraponto: o desleixo
nas obrigações jornalísticas, como pesquisar, investigar, checar informações, verificar fatos, exemplos,
argumentos... Se basta para alguém sentar-se, digitar cinco ou seis parágrafos em 15 minutos, pensando
rapidamente, e depois enviar o texto por e-mail, garantindo um extra mensal; se quase todos estão agindo
dessa maneira; e se a lei do menor esforço é recompensada no final do mês, como esperar que esse
comportamento fique restrito a incompetentes ou apressados?
Não é só o conteúdo que sofre: a forma da maioria dos textos é, no máximo, passável.
E olhos atentos percebem com facilidade os erros que se sucedem nesses textos. Um exemplo:
"Royalties e pitombas." (Urariano Mota, sobre coluna de Ruy Castro.)
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=568FDS004
"Existe dificuldade enorme de se conferir tratamento analítico aos temas, de analisar ponto
por ponto os diversos ângulos da questão, apresentar as versões conflitantes, inseri-lo em um contexto
mais amplo, em suma, pensar de maneira moderna. Em geral as análises são substituídas por opiniões
quase sempre taxativas, quase nunca analíticas, que espelham muito mais as preferências do autor do que
análises acuradas." (Luis Nassif, O Jornalismo dos Anos 90.)
Esse comportamento gerou um efeito contraditório: embora os jornalistas profissionais destaquem o
abismo qualitativo que os separa dos blogueiros amadores, ao virarem palpiteiros acabaram se igualando
a seus novos rivais – em certos casos, saindo-se pior do que eles porque os blogueiros têm mais espaço
para serem criativos, engraçados, surpreendentes. E, volta e meia, também são mais inteligentes em sua
análise da realidade e em sua visão de mundo.
Faz parte da natureza do brasileiro palpitar sobre tudo, achar-se especialista num assunto não
conhece, sentir que tem a verdade sobre um fato que acabou de ser divulgado. Jogar conversa fora, é
conosco mesmos. A antecessora histórica da coluna de jornal, a crônica do cotidiano, é uma criação
brasileira.
Ao ser brindado com um espaço e com a palavra, vem ao brasileiro a sensação de autoridade e dá-se
a expressão da sua sabedoria universal – e não é conveniente passar por estraga-prazeres, solicitando as
reais qualificações, atestadas na prática, do palpiteiro empolgado.
Assim, "cientistas políticos" que vivem enclausurados na elegante Zona Sul do Rio de Janeiro
comentam com suposta autoridade os bastidores de Brasília ou a política local do Nordeste. Um apagão
transforma pessoas que não entendem a função de um simples capacitor em especialistas no sistema
elétrico nacional. Adultos que não distinguem um cirro de um cúmulo-nimbo (tipos de nuvens) querem
passar por sumidades em aquecimento global.
Quando erros grosseiros de análise, previsão e aconselhamento são cometidos, nada disso abala a
autoimagem dos sábios, nem a sua imagem social, porque o público sabe que quase todos os colegas
agem do mesmo modo.
"As redações passaram a atuar com excessiva benevolência para com os erros cometidos pelos
jornalistas. O engenheiro que comete um erro de cálculo passa imediatamente a ser mal visto pelos
colegas. No jornalismo, ainda não existe esse círculo de censura interna, inibindo a ação do amador ou do
leviano." (Luis Nassif, O Jornalismo dos Anos 90.)
Isso porque a total liberdade de palpitar é o melhor contexto para influenciar a opinião pública. Se
cada um ficasse restrito às suas áreas de competência, se lhe fosse exigido rigor nas análises e nas
previsões, se houvesse responsabilização por equívocos, o jogo da influência e do poder seria
prejudicado. E o jogo tem a prioridade.
Negativismo
. Tome uma.
"Foram apenas duas semanas, e o ano já parece velho. Enchentes, deslizamentos e mortes no Rio, em
Angra, em São Luiz do Paraitinga alertaram para os riscos que a população urbana corre. Crise
institucional na Argentina. Crise econômica e racionamento na Venezuela. Catástrofe no Haiti, país mais
pobre das Américas, em dimensões não vistas em 200 anos.
"O ano de 2010, que começou cercado de esperanças na área econômica, pesou de repente. A
primeira semana foi dolorosamente ocupada pela morte e destruição das tempestades em várias áreas do
Brasil. A segunda semana excedeu tudo o que se pudesse imaginar na pior ficção de terror." (Miriam
Leitão.)
http://arquivoetc.blogspot.com/2010/01/amargo-comeco-miriam-leitao.html
. Tome duas.
"Tudo somado, o Senado tinha vagas sem funcionários, e as Câmaras Municipais têm vereadores
potenciais sem vagas. Num caso, sobram vagas. No outro, sobram candidatos. As contas não fecham.
Aliás, as contas nunca estão fechando.
"E a gente ainda diz que Honduras é que é República de Bananas..." (Eliane Cantanhêde.)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/elianecantanhede/ult681u629474.shtml
. Tome três.
"Ou seja: o Brasil vai bem, mas os brasileiros, nem tanto. O maior problema continua sendo o da
distribuição macabra de renda, com uma minoria nadando em dinheiro e a maioria sem educação, sem
saúde, muitas vezes sem comida. E todos sem segurança." (Eliane Cantanhêde.)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/elianecantanhede/ult681u356519.shtml
. E vamos parando por aí.
"Tornar públicas as mazelas é obrigação da imprensa em um país livre. Mas falar somente do que há
de ruim na vida nacional, dia após dia, alimenta e realimenta a visão negativa que o brasileiro ainda tem
de si.
"Se as coisas por aqui caminham para um futuro mais promissor, é porque, em vários âmbitos,
estamos fazendo o que é o certo." (Emílio Odebrecht, "A Imprensa e o novo Brasil".)
http://blogdogersonnogueira.wordpress.com/2010/01/10/pensata-a-imprensa-e-o-novo-brasil/
* * *
A impressão de que a imprensa brasileira é negativista, vendo sempre o lado ruim dos fatos,
superdimensionando problemas, dificuldades e crises, torcendo pelo fracasso das iniciativas
governamentais e depreciando as qualidades e as realizações do País é tanto verdadeira quanto falsa.
Verdadeira porque essa atitude é uma tática necessária na luta pelo poder, quando ele está ocupado
por um grupo adversário dos nossos interesses e dos interesses daqueles que representamos. Não faz
sentido louvar realizações do adversário, incentivar a simpatia da opinião pública em relação a ele, ver o
lado bom das situações problemáticas, se isso representará mais votos e mais tempo no poder para o
"outro lado".
Por outro lado, essa impressão é falsa porque o negativismo não é uma característica inerente à
imprensa ou, de modo especial, ao PIG. Basta lembrar o nosso comportamento durante o Governo FHC:
abafamos escândalos, não apuramos fatos potencialmente desabonadores, escondemos deslizes e
inconveniências, exaltamos as iniciativas do presidente, como o programa de privatizações, fomos
favoráveis à mudança da Constituição para que ele pudesse se reeleger – enfim, onde o negativismo?
Claro que, ao final do Governo, quando se consumou o seu fracasso e a rejeição popular se tornou
insuperável (apenas 18% de aprovação dos brasileiros), tivemos que nos curvar aos fatos e nos tornamos
suavemente críticos de suas medidas.
Como tudo o mais em nossa atuação, a atitude básica que expressamos em nosso comportamento
deriva das circunstâncias, da situação presente e da relação dela com os nossos interesses. Se a situação
for uma, o comportamento é um; se a situação for outra, o comportamento é outro. Simples assim.
Dirigismo
O dirigismo é a atitude de querer determinar a realidade e, particularmente, o comportamento alheio.
Ele está por trás do comportamento parcial; das opiniões; do sentido dado aos palpites, às análises, às
previsões – é causa desses efeitos e, em si mesmo, é o representante de interesses próprios do jornalista,
do órgão para o qual trabalha ou das forças sociais externas que determinam a posição empresarial,
política ou social do jornalista.
O dirigismo está presente na seleção tendenciosa de fatos, ângulos, notícias, frases, declarações etc.,
assim como na repercussão também seletiva desse conteúdo por outros órgãos ou colegas, que
potencializam seu valor de influência ou choque.
O dirigismo tornou-se tão disseminado na mídia nacional que o costume de determinar o que é certo
e o que é errado, quem é do Bem e quem é do Mal, quem merece elogios e quem merece críticas,
desrespeitando fronteiras profissionais, sociais e pessoais, expandiu-se para outras áreas do jornalismo.
Os fiscais-de-tudo fazem escola, por exemplo, na área do entretenimento.
Itálico acrescentado:
"A repórter Giuliana Morrone contou que Gisele está radiante com a maternidade, linda e em forma
como sempre, seis semanas depois do nascimento do bebê.
"'Gisele [Bündchen] passa simplicidade, espiritualidade, mostra que tem uma preocupação em viver
bem, ser feliz e, agora, em ser uma excelente mãe. Pelo que vi na entrevista, acho que ela está no
caminho certo', conta a repórter."
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1465859-15605,00.html
Quem decide qual é o caminho certo para uma pessoa? Ela mesma ou uma repórter que jamais
conviveu com ela?
TENDÊNCIAS ESTÉTICAS
Eugenia visual
Corresponde à preferência ou mesmo à exclusividade, nos meios visuais como a TV e a internet, da
presença de rostos bonitos e corpos em forma, tomados como padrão de qualidade física humana, contra o
qual a feiura e a desproporção física chegam a parecer deformações ou se tornar um natural objeto de
ridículo.
O aparecimento de pessoas do povo tende a gerar nos espectadores da TV, treinados a esperar a
beleza natural ou "comprada", uma reação de repulsa ou escárnio, assim como acontece numa plateia de
cinema em projeções que não sejam trailers e o próprio filme. Essa reação indica a incorporação
psicológica, nos indivíduos, de um valor social destoante da realidade das ruas e casas de um país (e do
mundo em geral). Um tanto esquizofrenicamente, as pessoas aceitam na realidade aquilo que desprezam
na mídia e no cinema.
TENDÊNCIAS PSICOLÓGICAS
Valorização da futilidade
Especialmente na mídia do entretenimento, uma das mais populares na atualidade, dá-se o incentivo à
vaidade, à fama fútil, ao sucesso pelo sucesso, à visibilidade social como um valor dissociado de
qualidades pessoais. Seu símbolo maior são as chamadas subcelebridades, pessoas que por algum acaso,
ou caso, ou programa do tipo reality show, passaram a frequentar as notícias por motivos também fúteis:
um novo amor, uma nova tatuagem, uma nova cirurgia plástica, um descuido conveniente que revela mais
do que o esperado, uma polêmica armada, ou uma outra ideia genial da assessoria de imprensa.
A mensagem transmitida pela mídia à sociedade é: "Se vocês seguirem esse exemplo, nós lhes
daremos destaque semelhante". E a mensagem é captada: nas lista das notícias mais clicadas dos
principais portais brasileiros, sempre há alguma subcelebridade no topo.
Reparou na qualificação da primeira subcelebridade? "Ex-nora."
A premiação da futilidade causa estragos na própria imagem social de "arte". As subcelebridades são
denominadas "artistas", embora possam jamais ter feito um trabalho artístico. TV, Cinema e Música são
as artes dominantes na mídia oficial, e dela vêm quase todos os "artistas" privilegiados pela mídia.
Pessoas vaidosas, fúteis, exibicionistas, infantilizadas tornam-se um modelo de ser humano que
muitos almejam seguir para obterem o mesmo sucesso social e financeiro de seus ídolos.
"Fabíola Reipert é a blogueira mais visitada do R7 [portal da Rede Record]." (Rosana Hermann.)
http://blogs.r7.com/querido-leitor/2010/01/05/mion-x-fabiola/
Incentivo ao arrivismo
Essa tendência está associada à anterior. Chegar à fama pelo caminho mais rápido é a intenção bem
realizada por muitas subcelebridades. O trabalho convencional representa, dessa perspectiva, um meio
precário, custoso e demorado para o sucesso e a segurança financeira.
O programa de maior faturamento para a Rede Globo e para a Rede Record é o reality show de cada
uma: Big Brother Brasil e A Fazenda. Agrada ao patrão, agrada ao povão.
Recompensa à sociopatia
A sociopatia é um desvio comportamental caracterizado por atos de natureza anti-social, não
acompanhados de arrependimento, culpa ou remorso, e geralmente precedidos de avaliação fria e
calculista da situação, centrada nos benefícios pessoais em detrimento do bem-estar alheio. A
incapacidade de se colocar na pele da outra pessoa (a empatia) e de sentir afeto por ela (a conexão
emocional) são as marcas emocionais da sociopatia.
A categoria pode abranger desde os tradicionais vilões da ficção e das telenovelas, e os monstros
humanos da vida real, até os políticos que desfalcam o erário sabendo que aquele dinheiro seria destinado
à educação, à saúde, ao transporte ou a outro benefício concreto para a sua comunidade.
"Eu fiz isso por curiosidade há dois anos atrás: as últimas 80 capas da Veja, eu te digo uma coisa, se
não tinha ali 60% de sociopatas, pelo menos 40% tinha." (Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra.)
http://www.youtube.com/watch?v=1wq49iB3tjg
Uma das verdades da ficção – e também da vida real – é a superioridade do comportamento não-
verbal (os atos e os gestos) sobre o comportamento verbal (a fala), quando se deseja conhecer quais
valores motivam uma pessoa.
Quando a mais importante revista semanal brasileira privilegia sociopatas em suas capas, ela está
transmitindo uma mensagem e assumindo um valor, assim como o faz a mídia em geral ao elevar as
subcelebridades a ideais humanos. A mensagem: "Quer fama? Olhe aqui como conseguir".
Numa época em que os vilões se confundem com os heróis, em que chefes do crime organizado,
político ou empresarial são pilares da sociedade, a transformação (não assumida) de sociopatas e
psicopatas em heróis é um passo que não destoa do contexto.
TENDÊNCIAS MORAIS
Contradição estrutural entre os valores assumidos e os praticados
Das tendências anteriores se deduz esta. Os valores defendidos na prática pela imprensa e pela mídia
não concordam com aqueles assumidos verbalmente por seus profissionais.
Há várias versões do juramento do jornalista profissional. Algumas, bem genéricas:
Exemplo 1
"Juro cumprir minhas obrigações como jornalista dentro dos princípios universais de justiça e
democracia, coerente com as ideias de comunhão e fraternidade entre os homens, para que o exercício da
profissão redunde no aprimoramento das relações humanas que resultará na construção de um futuro mais
digno, mais justo, para que os que virão depois de nós."
Exemplo 2
"Juro, como profissional de Comunicação Social, lutar pela liberdade de pensamento e expressão e
agir de acordo com os princípios éticos. Como jornalista, prometo respeitar os outros como a mim
mesmo, empenhar-me na construção da solidariedade humana e agir honestamente na busca pela
informação. Dessa forma, assumo o compromisso de ter na sociedade a fonte e o fim principal dos bons
frutos do meu trabalho e remover os obstáculos para que todos compreendam a importância da
comunicação para a sociedade e para a humanidade. "
Esta, entretanto, é problemática por causa do seu terceiro parágrafo:
Exemplo 3
"Juro, no exercício das funções de meu grau, assumir meu compromisso com a verdade e com a
informação.
"Juro empenhar todos os meus atos e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para a
construção de uma nação consciente de sua história e de sua capacidade.
"Juro, no exercício do meu dever profissional, não omitir, não mentir e não distorcer informações,
não manipular dados e, acima de tudo, não subordinar em favor de interesses pessoais o direito do
cidadão à informação."
Este manual não seria possível se os princípios do terceiro parágrafo recebessem, na prática, a
atenção devida. Sendo direto: não haveria o PIG. O uso da atividade profissional do jornalismo como
meio para atingir objetivos, e não para informar, "construir a solidariedade humana", "aprimorar as
relações humanas" e outras generalizações espertamente imprecisas, é a marca da atuação do PIG e, em
geral, do jornalismo praticado na maioria dos países.
A bela cerimônia do juramento do jornalista profissional é, em muitos casos, o último momento de
contato com aqueles ideais.
A comparação do conteúdo dos livros e das aulas de um curso de jornalismo com a prática dessa
profissão chega a surpreender, quando comparada com a mesma situação em outras profissões. O médico,
por exemplo, realmente realiza aqueles exames, procedimentos e intervenções que são ensinados nos
livros e no curso profissional. O engenheiro, idem, quanto aos conhecimentos de sua atividade.
Compare, na média, o desempenho de vários profissionais em temos de ética, competência e
compromisso social. Agora imagine se houvesse, entre os outros profissionais, um descompasso tão
grande entre o ensino e a prática quanto o verificado na categoria dos jornalistas. O pão quentinho da
padaria é pão e sai quentinho – porque, segundo um colega brincalhão, não foi feito por um jornalista.
Se analisássemos a situação severamente, com olhos idealistas, poderíamos até dizer que os
jornalistas da Grande Mídia nacional, por sua própria iniciativa, tornaram-se uma subcategoria
profissional, a milhas de distância das demais, em termos de ética, competência e compromisso social.
Mas esta não é a nossa função.
Os conteúdos estranhos à realidade (e opostos aos valores assumidos) vêm de várias fontes:
. A posição do veículo.
. Os interesses empresariais do veículo.
. Os interesses empresariais ou políticos alheios, dos quais o veículo é representante.
. A posição do jornalista.
. A necessidade de adaptar a notícia ao público-alvo.
O sentido ético do jornalismo vai dos fatos para a notícia: a notícia está subordinada aos fatos e,
portanto, ela possui valor denotativo da realidade. O sentido aético vai da intenção prévia para os fatos e
daí para a notícia: a notícia está subordinada à intenção e, portanto, ela (a notícia) possui valor ilustrativo
da intenção e pouco valor denotativo quanto aos fatos.
A contradição de valores se dá também no nível da imagem pública: em seu trabalho, o jornalista
defende valores politicamente corretos, mas pauta sua vida por valores opostos. O contraste se torna
explícito, às vezes, por algum descuido lamentável, prejudicando a nossa imagem ante a opinião pública.
Um exemplo recente:
"Que merda: dois lixeiros desejando felicidades ... do alto de suas vassouras. Dois lixeiros... o mais
baixo na escala do trabalho". (Boris Casoy.)
http://www.youtube.com/watch?v=0H9znNpeFao
Outro exemplo, mais antigo (1998): "Isso é coisa de viado" (Pedro Bial).
http://www.youtube.com/watch?v=4U7fdjmh9wk
Este exemplo é de 2008. Durante a transmissão da Festival Folclórico de Parintins, no Bumbódromo,
o apresentador José Luiz Datena revelou o que realmente pensava e sentia sobre o espetáculo (achando
que o áudio não estava sendo transmitido) – uma posição bem diferente das afirmações elogiosas feitas
antes e depois destas falas:
http://www.youtube.com/watch?v=eLJJ2TYtAT8
* * *
Observe como as tendências reveladas acima integram-se perfeitamente com a visão do jornalismo
como linha fundamental do jogo do mercado, da influência e do poder. Nesse contexto de relaxamento
profissional é fácil inserir notícias de interesse desse ou daquele grupo, deturpar declarações e posições de
grupos adversários, esconder fatos incômodos, promover causas e situações favoráveis a um ou outro lado
– enfim, manipular a realidade no sentido dos interesses do manipulador.
E a opinião pública, acostumada a esse nível de desempenho profissional, treinada a esperar mais do
mesmo, quando não uma intensificação desse processo de degradação jornalística, ou cai na armadilha ou
reclama inutilmente porque no jogo só entra quem tem cacife. Só recentemente o chamado "grande
público" conseguiu o seu cacife – a internet, a grande novidade desse jogo –, cuja atuação já se revela
preocupante.
Outra vantagem do conteúdo alienante e fútil oferecido pela mídia ao grande público é sua função de
atrativo irresistível, conveniente desvio de atenção das jogadas que se desenvolvem nos bastidores da
sociedade – e que acabam influenciando de maneira decisiva a vida cotidiana da população entretida com
futilidades.
VERDADES INCONVENIENTES SOBRE O NOSSO PÚBLICO
Muito se fala, especialmente na blogosfera, sobre os defeitos da Grande Mídia. Somos vitrine, por
isso é fácil acertar pedras em nosso vidro fumê (que esconde estrategicamente os bastidores). Pouco ou
nada se fala sobre os defeitos do público – e eles são muitos.
Mas não é nossa função apontar esses defeitos, mesmo quando somos atacados. Nosso alvo é sempre
aquele que poderá nos trazer algum benefício. Incompatibilizar-se com a população significaria entregá-la
ao "outro lado". Lembre-se: são eles que compram, são eles que consomem, são eles que acessam, são
eles que votam.
Um exemplo arriscado:
"Brasileiro só sai da abulia quando soldados e voluntários roubam flagelados. Não são piores que
pais da pátria que surfam na marolinha sob a mansidão do rebanho que paga a conta." (Augusto Nunes.)
http://arquivoetc.blogspot.com/2008/12/augusto-nunes-sete-dias_21.html
Aqui, o jornalista não só criticou indiscriminadamente os brasileiros (de quem dependemos para
nossos objetivos), como também associou-os em ruindade ao nosso inimigo político. Esse tipo de
provocação só cabe nos textos dos clowns (palhaços) e dos cães-ferozes da mídia, dos quais o leitor
espera tudo: o ataque se transforma em riso, ou então o leitor entende que, como no caso acima,
brasileiro refere-se aos outros brasileiros, e não a ele, leitor, e ao jornalista, impolutos integrantes da elite
moral da nação.
Outros exemplos
1. "Aprendam os que ainda não sabem: eu não dou a menor pelota para a massa, para o homem-
massa, para a grita das ruas. Eu quero que a massa se dane!" (Reinaldo Azevedo.)
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/eu-quero-que-a-massa-se-dane/
2. "O verdadeiro analfabeto brasileiro é o eleitor." (Guilherme Fiuza.)
http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza/2009/11/09/dilma-e-inocente/
* * *
Conhecer os defeitos do público é, na verdade, o caminho para usá-los em nosso benefício – eis a
única razão para incluir este item no manual. Jamais acuse o público, apontando-lhe os defeitos óbvios
listados a seguir.
Foco psicológico no presente
Não é à toa que se associa o povo brasileiro às ideias de vida, emoção, intensidade, desfrute. É um
povo que, existencialmente, vive no presente.
Esse foco temporal tem duas desvantagens. A primeira é a tendência ao imediatismo, que leva o
brasileiro a não avaliar as consequências dos atos presentes; a reações emocionais rápidas, não mediadas
pelo pensamento; e à facilidade de ser manipulado pela apresentação de fatos aparentemente
convincentes. A segunda desvantagem é a dificuldade de lembrar o passado, que leva o brasileiro a não
fazer as relações necessárias de causa e efeito entre seu presente e seu passado (vide o proverbial
esquecimento dos candidatos em quem ele votou, poucos meses depois do voto); a desconsiderar as lições
do passado em suas avaliações; e à facilidade de ser manipulado pela apresentação de fatos supostamente
ocorridos no passado (que ele não lembra), como base de um argumento interesseiro.
As técnicas de rodízio de escândalos e de repetição de mantras, entre outras, são de certo modo uma
resposta inteligente à facilidade de esquecimento do brasileiro. A técnica de reinterpretação positiva do
passado também se baseia nessa tendência, neste caso para impor ao fato esquecido um novo significado,
favorável aos nossos interesses.
Emocionalismo
O ser humano é um animal emocional. O brasileiro, nesse aspecto, é humano como poucos.
Essa familiaridade com as emoções leva à ânsia pela estimulação afetiva. A demanda gera a oferta:
baixarias televisivas, polêmicas forjadas, "o bicho vai pegar", instigação das lágrimas nos entrevistados,
quadros de exploração paternalista da pobreza, tragédias superdimensionadas, declarações fortes, medidas
severas, o ataque pelo ataque, críticas ferozes, xingamentos, escândalos, "isso é uma vergonha" – pratos
feitos com a preferência nacional, entregues à mesa do lar para degustação ávida.
Centrada no emocionalismo, qualquer ficção agradável ao povo e útil a nossos interesses passa – e
esta é uma mentirinha boa de verdade.
Ignorância histórica
Enumere as contribuições relevantes que serão deixadas pelos principais jornalistas, colunistas e
parajornalistas do PIG – aquelas que não estarão datadas daqui a 5 ou 10 anos, ou seja, que não se
relacionam ao dia-a-dia do jogo da influência e do poder. Compare essa produção com a de jornalistas
importantes de outros países, como os Estados Unidos.
A falta de cultura e erudição dos nossos representantes da mídia é notória, mas é também notória a
ignorância histórica da população brasileira: não conhece o passado da própria nação nem se interessa em
conhecê-lo. Trata-se de um defeito tão evidente que nem é necessário comentá-lo.
Incapacidade intelectual e passividade física
Um de nossos principais representantes na mídia televisiva definiu com precisão o brasileiro médio:
"Depois de um simpático 'bom-dia', [William] Bonner informa sobre uma pesquisa realizada pela
Globo que identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se que ele tem muita
dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por
exemplo. Na redação, foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático mas obtuso personagem
dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da
família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. É preguiçoso e tem
o raciocínio lento." (Laurindo Lalo Leal Filho.)
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=358asp010
Acertou na verdade, errou na escolha dos receptores da verdade. Repetindo uma verdade óbvia:
muitas verdades da vida são politicamente incorretas. Por isso, cuidado para não reconhecê-las na frente
de estranhos. Os mais cuidadosos fazem ainda melhor: jamais enunciam essas verdades, embora sejam
exemplos vivos de sua existência. Aja com base nelas, sem assumi-las verbalmente.
A tendência à passividade física, mesclada com certo grau de masoquismo cívico, é reconhecida até
mesmo por apoiadores do "outro lado", como se pode ler neste comentário:
Horridus Bendegó disse:18/12/2009 às 19:31
"Para um país que já teve congelamento de depósitos bancários e não houve nenhuma revolução, não
me admira que um povo com mansidão bovina (só para questões políticas) tolere mais um dispositivo
(artifício ilegal) que afronta o Estado de Direito."
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/12/18/a-pec-dos-precatorios/#comments
Civismo não é indignação udenista, mas participação política efetiva. Graças à Web, essa
possibilidade, paradoxalmente, ficou mais longe da população em geral. Antes, o povo não tinha
nenhuma válvula de escape de sua indignação: quando ela se acumulava, saía às ruas. Hoje, no minuto
seguinte ao de uma frustração, raiva ou mera discordância intelectual, lá está o internauta teclando e
aliviando a pressão, que não tem tempo de se acumular. Quando um protesto é marcado, quase ninguém
comparece. Para quê, se já disseram o que tinham a vociferar, se já xingaram o suficiente, se já sentiram
que sua opinião "contou", de alguma forma?
A incapacidade intelectual é o correspondente mental da passividade física. Multidões acompanham
caladas verdadeiras nulidades dizendo bobagens nos palcos de milhares de templos religiosos
recentemente construídos no País. Ninguém se levanta e diz: "Não concordo".
Todos temos em nossa família ao menos um exemplo de pessoa supostamente inteligente que
"acredita" em seus jornais preferidos ou nos telejornais de sua predilação.
A facilidade com que o PIG realizava seu trabalho de convencimento e influência, antes do Governo
Lula, surpreendia até os mais entusiasmados propagandistas do poder da mídia.
Os jornalistas se adaptam ao nível intelectual do público quando escrevem deste jeito (chamada no
site da revista Veja em 19/12/2009):
Repare em "blábláblá" (detalhe adicional: três acentos numa palavra) e "pé frio" (detalhe adicional:
sem hífen).
Não é nossa função corrigir defeito algum do público, mas sim aproveitá-lo. Aproveitamos a
passividade, por exemplo, quando caprichamos na manchete, sabendo que a maioria dos leitores não
passará dela. Aproveitamos a incapacidade intelectual quando usamos qualquer argumento troncho para
justificar um ataque ao "outro lado" ou uma defesa do "nosso lado". É simples assim.
Masoquismo cívico
Decorre das tendências anteriores esta conclusão: o brasileiro é, civicamente, um masoquista. Ele se
comporta exatamente do modo como deveria, se tivesse interesse de se prejudicar politicamente e de
prejudicar a própria nação, socialmente.
Deixa-se enganar com facilidade, aceita ideias e argumentos absurdos que o prejudicam, não defende
seus direitos com inteligência, esperteza ou, até mesmo, com a violência devida, não pressiona seus
parlamentares (que nem sabe quais são), reclama sem vontade de transformar a reclamação em ato –
enfim, só consegue manter a imagem de cidadão consciente porque elimina tudo isso da própria
consciência e nós, da imprensa, não temos a menor intenção de fustigá-lo por tendências de que tanto nos
aproveitamos.
Parcialidade
Muito se condena a imprensa por sua parcialidade. Pouco se comenta sobre a parcialidade típica do
brasileiro. Nem é preciso recorrer ao futebol, no qual ganhar um jogo contra o maior rival, aos 51 minutos
do segundo tempo, num lance em que o jogador está impedido e usou a mão é o sonho supremo de muitos
torcedores.
Nas questões sociais e políticas, o brasileiro tende a se fechar em sua escolha, lendo somente aquilo
que corrobora suas posições, eliminando jornais, rádios, TVs, sites e blogs que destoem de suas
preferências, e evitando ao máximo a famosa dissonância cognitiva, isto é, a percepção de que há pessoas
e ideias diferentes no mundo.
Essa forma de, mais do que puxar a sardinha, inclinar o mundo para o seu lado, pode ser aproveitada
para fixar posições favoráveis ao nosso interesse, até porque a teimosia é um componente associado à
parcialidade. Se alguém vem para o "nosso lado", tende a ficar nele. Além disso, torna-se mais fácil
realizar uma aplicação bem-sucedida de qualquer das técnicas deste manual porque a parcialidade é
acrítica: se a opinião que transmitimos é concordante com a da pessoa parcial, que a lê, ela aceitará as
maiores barbaridades lógicas e as mais flagrantes mentiras – apenas porque reforçam a sua posição já
escolhida.
O PIG E O JORNALISMO
A VISÃO DO PIG SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DO JORNALISMO
Se você tem mais de 18 anos, já viveu o suficiente para saber que toda sociedade comporta um
conjunto de práticas socialmente assumidas e outro conjunto de práticas sabiamente ocultadas. E que esse
último conjunto de práticas é aquele que realmente explica o funcionamento da sociedade.
Se você pratica o jornalismo há mais de um ano, já conheceu o suficiente para saber que as técnicas e
os valores ensinados no seu curso de formação profissional são importantes no contexto universitário – e
só. Eles são o conjunto de práticas socialmente assumidas pelos profissionais, mas não o conjunto de
práticas ... praticadas.
Falando sem rodeios: a função social do jornalismo não é informar corretamente, servir aos interesses
da população ou fiscalizar o governo – estas são funções secundárias, subordinadas a interesses maiores.
O jornalismo é uma das mais importantes invenções humanas na luta pelo poder empresarial, social e
político. E como tal nós o usamos em nossas atividades profissionais, com maestria.
A SITUAÇÃO ATUAL
O adjetivo "preocupante" é suave para descrever a situação atual do jornalismo e da imprensa, não só
no Brasil como em todo o mundo. Vivemos uma fase de crescente desprestígio (ou decrescente prestígio,
melhor dizendo), fustigados pelas novidades do mundo digital, pelo abandono de anunciantes, pelo
deslocamento do público para a internet, pelo descompasso entre nosso conteúdo (tido como defasado) e
o conteúdo das novas mídias, e pelas dificuldades financeiras decorrentes desses fatores.
A tábua de salvação representada pelos contratos com o Estado só funciona em certos casos e mesmo
ela está sendo alvo de fiscalização inédita. Blogueiros e comentaristas virtuais se transformaram em
autoridades sociais que às vezes ameaçam pontualmente nossos interesses, processo cujo
desenvolvimento pode trazer ameaças mais do que pontuais. A identificação de nossas marcas com
antigas famílias do jornalismo, com políticos de vida polêmica ou com empresários suspeitos de crimes é
outro fator prejudicial à nossa imagem.
A surpreendente perda de influência da Grande Mídia no Brasil tornou-se um assunto público por
causa dos resultados nefastos de nossa atuação durante o Governo Lula. Depois de 7 anos inteiros de
ataques, pouco se conseguiu exceto a eliminação de pessoas-chave da administração federal, atingidas por
escândalos falsos ou verdadeiros. Um sinal objetivo desse fracasso foi a pesquisa, divulgada em 1/1/2010,
que revelou o presidente Lula como o "brasileiro mais confiável" em todo o país – justamente o nosso
alvo principal:
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/01/01/lula-o-brasileiro-mais-confiavel-aponta-
datafolha-254044.asp
Repare que, na Região Sudeste, um de nossos expoentes veio em segundo lugar:
"Entre os mais escolarizados e mais ricos, o presidente fica em quinto. Nesse recorte, Chico Buarque
lidera, seguido por William Bonner, Caetano Veloso e Roberto Carlos." (Fernando Barros de Mello.)
São dados frustrantes e animadores. Frustrantes porque revelam que erramos, animadores porque
indicam onde poderemos acertar.
Nosso trabalho vem sendo feito por jornalistas, colunistas e parajornalistas que são muito conhecidos
do público, e cujo viés político é mais do que sabido. Alguns deles ficaram marcados por erros crassos de
avaliação, previsões catastróficas não realizadas, repercussão de dossiês falsos e outros problemas
menores. Tudo que é demais cansa. A rotina desgasta. Talvez esteja na hora de repensar a estratégia de
mídia para que o leitor não chegue ao ponto de pensar: "Ah, não, de novo. Sempre aqueles gatos-
pingados, os mesmos de 10 anos atrás".
Por outro lado, o resultado animador no Sudeste, em que um simples âncora de TV (da nossa mais
fiel Rede) é visto como mais confiável que o presidente, sugere uma adaptação interessante dessa
estratégia. Nossos expoentes na mídia estão identificados justamente com o Sudeste, onde foi registrado o
único resultado positivo.
O erro provavelmente não está nesses representantes, cujo trabalho foi bem-sucedido em sua região
de influência, mas na difusão do trabalho deles para outras regiões do País. Suas colunas e matérias são
publicadas nacionalmente, e aí está o descompasso: pessoas que nunca foram em certas regiões e que
(verdade seja dita) nem se interessam por elas, querem influenciar seus habitantes. Os textos, em forma e
conteúdo, não estão adaptados ao jeito próprio de cada região, ao linguajar, aos valores, às coisas locais,
nada. Tudo transpira Sudeste em nossas peças de influência divulgadas no Centro-Oeste, no Nordeste, no
Norte...
O Governo Federal vem fazendo uma diversificação bem-sucedida na distribuição de verbas para
publicações regionais e adaptando sua mensagem a cada região. Nosso erro foi não ter percebido essa
necessidade antes dele.
Trecho de Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo, de André Singer, 2009.
http://www.slideshare.net/LuisNassif/razes-sociais-e-ideolgicas-do-lulismo?src=embed
Falar a língua dos apoiadores do "outro lado" será a próxima evolução da estratégia do PIG.
Dois exemplos ilustrativos.
1. Alguém minimamente sensato conseguirá ler sem estranheza este primeiro parágrafo do editorial
intitulado "Erro de avaliação", publicado no jornal O Globo em 12 de janeiro de 2010?
"Na volta das curtas férias de virada de ano, o presidente Lula está sendo obrigado a usar toda a
experiência de administrador de ambiguidades para manter sem fissuras irreversíveis um governo
assentado em eclética aliança políticopartidária, formada por frações dos mais diversos quadrantes da
geografia ideológica. Sempre que o Planalto pende para um dos lados, e rompe este equilíbrio instável, os
sismógrafos registram o movimento."
http://arquivoetc.blogspot.com/2010/01/erro-de-avaliacao.html
Se o presidente fala a linguagem do povo, alguns editorialistas falam a linguagem das nuvens.
A situação é grave também entre os especialistas, estes por questões de deformação e costume
profissional. Ao tentarem baixar seu texto, das nuvens intelectuais, conceituais e outras que tais até o
nível do cidadão comum, atrapalham-se e demonstram imperícia constrangedora, semelhante à de um
intelectual de óculos grossos querendo seduzir uma adolescente gostosona.
Eis o antropólogo Roberto DaMatta lamentando a velhice:
"Coisa triste: um par de seios jovens jamais vão pulsar novamente nas nossas mãos tortas de artrite."
("Por que morremos?")
http://www.sombradesonhos.blogger.com.br/2003_10_01_archive.html
Não vão mesmo, se a técnica da sedução for tão inepta quanto a técnica de convencimento
intelectual. Um exemplo. Eis o antropólogo Roberto DaMatta ensinando ao cidadão brasileiro como deve
lidar com os fantasmas do passado cultural, como a covardia e a corrupção. Ele aconselha uma variante
americana da tradicional técnica "Buuu!":
"Tal como no plano político a corrupção e a má-fé são o fantasma de um passado familístico e
hierárquico ainda não resolvido.
"Nos Estados Unidos, porém, quando surge um fantasma, como ocorreu com uma amiga americana
numa casa assombrada na Universidade de Brown, ela – ao ver-se em plena madrugada diante do espectro
de um jovem que morrera afogado e ficara ligado à residência que hoje serve de mini-hospedaria para
professores visitantes – não hesitou em perguntar em alto e bom som um 'what do you want?' (o que é que
você quer?). O enfrentamento, contou-me, dissipou imediatamente a assombração."
http://arquivoetc.blogspot.com/2010/01/roberto-damatta-coluna-assombrada.html
Se alguém pergunta "O que você quer?" a um corrupto brasileiro, ele desaparece… ou faz uma
proposta amplamente vantajosa para os dois lados?
De tudo isso fica a certeza de que precisamos aperfeiçoar a nossa capacidade de comunicação com o
grande público – enquanto ainda conseguimos falar com ele.
Além dessa diversificação de nomes, estilos e conteúdos, contamos ainda com a entrada de novos
militantes do "nosso lado" para trazer, com a sua criatividade, técnicas originais de ataque e defesa. Nosso
repertório precisa variar e crescer, sempre. Por isso, a primeira página do Curso indica que esta já é a
Terceira Edição. Outras vieram antes e outras virão para ensinar novas técnicas a novos e antigos
integrantes do PIG.
Para terminar, uma esperança no nível macro da Política.
Acuada, em vários países a mídia começa a experimentar um novo modelo de atuação, movendo-se
para dentro dos outros poderes da República. O Quarto Poder, além de ser o fiscalizador e, em muitas
situações, o orientador de outros poderes (como o Legislativo), lentamente vai percebendo que,
dependendo das circunstâncias, é mais vantajoso ser o poder do que influenciá-lo.
Apenas como ilustração, o premiê italiano Silvio Berlusconi, dono de um império das comunicações,
e o estadunidense Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, deram esse passo com sucesso. Outras
tentativas fracassaram, como o golpe de Estado de 2002 na Venezuela, patrocinado pela mídia do país,
em especial a RCTV, que preferiu instalar um testa de ferro temporariamente no poder.
Soluções antigas já não estão disponíveis:
"Está tudo lá, no livro 1964: A Conquista do Estado, de Rene Armand Dreifuss. O golpe marcou a
conquista do Estado por um grupo de empresários nacionais e estrangeiros, aliados aos militares e a
Washington, cujo principal resultado foi a supressão de direitos políticos e econômicos já conquistados, a
supressão das ferramentas que poderiam ser utilizadas para novas conquistas e o arrocho salarial." (Luiz
Carlos Azenha.)
http://www.viomundo.com.br/opiniao/o-cidadao-boilesen/
Mas o novo caminho está aberto, e será interessante (ou assustador – só depende de nós) verificar o
que nos reserva o futuro.
OS VÁRIOS JORNALISMOS DO JORNALISMO
Em nossa luta cotidiana nenhum apoio deve ser recusado, por critério algum: ético, moral, legal,
profissional etc. Por isso, estamos sempre receptivos à exploração das várias formas de fazer jornalismo,
das mais nobres às mais baixas. Cada camada da população (o povão, a classe média, as classes mais
instruídas) prefere uma dessas formas; portanto, convém oferecer-lhes todas.
1. A imprensa dita marrom.
Sua função é fazer o trabalho sujo, batendo abaixo da linha da cintura. Apetece ao povão, que gosta
de emoções fortes, situações de conflito, paixões à solta. Tudo é válido: sensacionalismo, veiculação de
mentiras, calúnias, insinuações maldosas, ataques injustificados, geralmente a serviço de interesses
inconfessáveis mas válidos na luta pela influência e pelo poder.
2. A imprensa engajada.
Agrada a quem prefere o jornalismo livre das amarras da ilusória obrigação de imparcialidade. É
representada por publicações assumidamente defensoras do "nosso lado" e por colunistas (geralmente
parajornalistas) que dão um toque de imprensa marrom a certos cantos de jornais ou revistas, a momentos
de telejornais e a páginas de portais da Web.
3. A imprensa "séria".
Os órgãos tradicionais, formadores da Grande Mídia, têm a reputação de seriedade e credibilidade.
Sem eles seria impossível fazer o trabalho de convencimento da classe média e o trabalho de
representação dos interesses das classes mais abastadas. Sua função de formadores de opinião no País,
entretanto, ficou abalada a partir do Governo Lula, é forçoso reconhecer.
4. Imprensa oficial.
Divulga fatos e notícias de interesse do órgão oficial a que o veículo está subordinado, visando à
propaganda positiva de suas qualidades e realizações.
5. A imprensa alternativa.
Atualmente, essa imprensa corresponde à internet. Blogueiros do "nosso lado", nossas equipes de
comentaristas, nossos criadores e difusores de campanhas de e-mails, entre outros, sustentam essa nova
frente de luta, num meio do qual vem a principal ameaça à influência e ao poder do PIG. Isso porque, do
"outro lado", um conjunto de indivíduos usa a Web para veicular opiniões e interpretações diversas
daquelas que interessam ao "nosso lado", atuando como novos formadores autônomos de opinião, às
vezes com mais eficiência que seus rivais do mundo real.
6. O jornalismozinho.
Não se trata, na verdade, de um outro campo do jornalismo, mas de uma forma nova e disfarçada de
praticar o jornalismo engajado, na qual se evitam duas armadilhas: assumir o engajamento e cair no
jornalismo marrom. Essa forma inovadora foi sendo gestada lentamente para atender à sensibilidade de
um público mais refinado: em vez de baixaria, ironia; em vez de xingamento, recado; em vez de
acusações diretas, insinuações.
O neologismo "jornalismozinho" surgiu da forma diminutiva com que se denominam as várias
técnicas de atuação desses companheiros: a ironiazinha, a piadinha, a criticazinha, o debochinho, a
pirracinha, a picuinha, o estilo emburradinho – e vai por aí.
O excelente efeito obtido inicialmente nos blogs de jornalistas profissionais que foram pioneiros na
atividade online transferiu-se quase inconscientemente às suas colunas de jornais e às de seus colegas,
servindo de saudável contraponto à atuação mais aberta e violenta de parajornalistas, com seus estilos
clown, cão-feroz etc.
* * *
Para entender melhor as várias formas de atuação midiática do PIG, imagine que dentro de uma
mesma pessoa convivem aspectos infantis (mais ligados à emoção), aspectos adultos (mais ligados à
razão) e aspectos sociais ou culturais (mais ligados à moral). Metaforicamente, teríamos em nosso interior
uma criança, um adulto e uma autoridade moral (de funções semelhantes às do pai).
Nesse enquadramento, as várias formas de atuação do PIG sempre resultam na estimulação
preferencial de uma dessas três partes da personalidade: a imprensa marrom (ou seus procedimentos
típicos), a imprensa engajada e parte da imprensa alternativa cuidam do lado "criança" ao proporcionarem
companhia confortadora e incentivarem a liberação das emoções fortes; a imprensa séria e parte da
imprensa alternativa cuidam do lado adulto, ao comunicar os hard facts, fatos e argumentos "frios",
supostamente lógicos, que sustentam os interesses do "nosso lado"; e o jornalismozinho cuida do lado pai,
ao validar uma posição de autoridade e superioridade moral que justifica o lançamento contínuo de dardos
envenenados a quem se encontre em posição inferiorizada (o pessoal do "outro lado").
Essas formas de atuação podem ser exercitadas no mundo real ou no mundo virtual.
Evidentemente, quem já apresenta uma propensão a ver a realidade de um desses três modos tende a
preferir o estímulo que mais lhe agrada e mais incentive a recorrência de seu comportamento padrão.
Observe-se também que o povão, caracterizado pela afetividade mais solta, tende a preferir a primeira
opção; a classe média, de comportamento mais controlado (pelos valores da elite) e supostamente
responsável, opta pela segunda alternativa; e as classes altas se deliciam com as técnicas do
jornalismozinho.
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Curso Básico de Jornalismo Manipulativo - Terceira Edição

  • 1. CURSO BÁSICO DE JORNALISMO MANIPULATIVO ESTILO PIG UM ESTUDO BEM-HUMORADO DAS MANIPULAÇÕES DA MÍDIA OPOSICIONISTA Mais de 400 técnicas de manipulação Manual de autoria coletiva da Equipe de Criação Blog do Curso: http://cbjm.wordpress.com/ Terceira Edição Atualizada © 2010
  • 2. EPÍGRAFES RIA COM ELES "Journalists do not believe the lies of politicians, but they do repeat them – which is even worse!" (Jornalistas não acreditam nas mentiras dos políticos, mas eles as repetem – o que é ainda pior!) Michel Colucci. "People everywhere confuse what they read in newspapers with news." (As pessoas, em todos os lugares, confundem o que elas leem nos jornais com notícias.) A.J. Liebling. RIA DELES "O dirigismo da mídia brasileira é um escândalo. Alguém precisa fazer uma coletânea com essas barbaridades. Seria um manual utilíssimo para entregar aos estudantes de jornalismo." César Bento. "Fica chato ter de começar o texto lembrando as famosas 'exceções de sempre', mas é inevitável. Então vamos lá: com as famosas exceções de sempre, a chamada grande imprensa decidiu se comportar como linha auxiliar do governo Lula." Reinaldo Azevedo.
  • 3. O SIGNIFICADO DE PIG PIG é a sigla de Partido da Imprensa Golpista, expressão cunhada por André Alírio para designar o conjunto de órgãos, jornalistas, colunistas e parajornalistas da Grande Mídia que utilizam seu trabalho para desqualificar as realizações do Governo Lula e supervalorizar os erros do presidente e de seus aliados, chegando ao ponto de fabricar escândalos, fazer acusações caluniosas e pedir o impeachment, ao mesmo tempo em que escondem ou atenuam os defeitos e as falcatruas dos políticos de Oposição que desejam alçar ao poder. As técnicas apresentadas a seguir valem, evidentemente, para qualquer grupo atacante, qualquer alvo e qualquer objeto de defesa política. Mas como elas foram criadas e amplamente usadas, inicialmente, com esse propósito histórico (o ataque ao Governo Lula e a defesa de seus detratores), estarão associadas neste Curso, por uma questão de merecimento profissional, a esta sigla e aos órgãos de imprensa, aos jornalistas, colunistas e parajornalistas que participaram dessas manobras políticas. A exemplo de outras qualificações pejorativas que foram assumidas orgulhosamente pelos alvos originais de crítica e deboche (vide o caso do urubu rubro-negro, no futebol), os integrantes do PIG a princípio rejeitaram, mas depois aceitaram essa denominação, ainda que não o reconheçam publicamente. O MANUAL Este Curso Básico de Jornalismo Manipulativo é um documento altamente secreto que só deve circular entre os integrantes do PIG, especialmente aqueles de maior poder e influência. Nem é necessário alertar sobre o perigo de se deixar este material nas mãos de jornalistas comuns, quanto mais de simpatizantes do Governo, dos quais estão infestadas nossas redações. A propósito, você leu a terceira epígrafe da página anterior? Trate o manual como trataria um arquivo que contivesse informações desabonadoras sobre a sua própria pessoa.
  • 4. SUMÁRIO PRIMEIRA PARTE – BASES DA ATUAÇÃO DO PIG PRINCÍPIOS E ATITUDES O PIG O grupo: palco e bastidores, luz e sombra ..................... 9 O modo de atuação ............................................. 10 O mito da coordenação infalível ............................... 10 O PIG e a sociedade O PIG e a sociedade ........................................... 11 A relação do PIG com o seu público Os três participantes do jogo social .......................... 12 A importância social da mídia ................................. 13 Tendências atuais da mídia .................................... 13 Tendências emocionais ......................................... 13 . Imediatismo . Ânsia pela novidade . Exageração . Aproveitamento máximo dos novos fatos Tendências intelectuais ....................................... 17 . Credulidade . Avaliação crítica seletiva . Supervalorização de fatos por descontextualização Tendências comportamentais .................................... 22 . Ocultação de fontes e interesses . Parcialidade . Prevalência da opinião sobre a informação . Dirigismo Tendências estéticas .......................................... 25 . Eugenia visual Tendências psicológicas ....................................... 26 . Valorização da futilidade . Incentivo ao arrivismo . Recompensa à sociopatia Tendências morais ............................................. 27 . Contradição estrutural entre os valores assumidos e os praticados Verdades inconvenientes sobre o nosso público ................. 29 . Foco psicológico no presente . Emocionalismo . Ignorância histórica . Incapacidade intelectual e passividade física . Masoquismo cívico
  • 5. . Parcialidade O PIG e o jornalismo A visão do PIG sobre a função social do jornalismo ............ 33 A situação atual .............................................. 33 Os vários jornalismos do jornalismo ........................... 36 Princípios de atuação do PIG Princípio do realismo ......................................... 38 Princípio da influência e do poder ............................ 39 Princípio da relatividade absoluta dos valores ................ 42 Princípio do descarte estratégico ............................. 43 Princípio da projeção do Bem .................................. 43 Princípio da criação, aproveitamento e repercussão ............ 44 Princípio do corredor polonês ................................. 44 Princípio do sangramento contínuo ............................. 46 Atitudes definidoras do PIG Atitudes filosóficas .......................................... 48 . Acolhimento da Sombra . Flexibilidade interesseira . Oposicionismo ontológico Atitudes operacionais ......................................... 52 . Competência universal e inquestionável . Editorialização . Instigação da Sombra . Estimulação da dinâmica de amor e ódio . Transferência do ônus da prova . Demonização do adversário . Criminalização do adversário . Justiceirismo SEGUNDA PARTE – TÉCNICAS DE ATUAÇÃO DO PIG 1. Técnicas de ataque ao "outro lado" – 205 técnicas (O número de técnicas vem ao lado) Manipulação de manchetes – 28 ................................. 61 Manipulação de declarações – 6 ................................ 84 Manipulação de documentos – 1 ................................. 89 Manipulação de números – 4 .................................... 90 Manipulação de significados – 3 ............................... 93 Atribuição de intenção reprovável – 4 ......................... 97 Atribuição de caráter reprovável – 9 .......................... 102 Aproveitamento de situação favorável – 15 ..................... 109 Organização de informações – 2 ................................ 120 Assassinato de reputação – 5 .................................. 124 Desestabilização – 7 .......................................... 129 Criminalização – 7 ............................................ 140 Eliminação simbólica do adversário – 1 ........................ 145 Desvio de foco – 13 ........................................... 146 Disseminação de ideias – 2 .................................... 154 Instigação do pânico – 4 ...................................... 170 Argumentação capciosa – 25 .................................... 177 Confrontação – 12 ............................................. 195 Repercussão – 8 ............................................... 205
  • 6. Escandalização – 3 ............................................ 211 Criação de fatos – 16 ......................................... 215 Criação de impressão – 1 ...................................... 233 Denominação - 3 ............................................... 234 Aproveitamento de aliados – 10 ................................ 240 Manipulação visual – 16 ....................................... 257 2. Técnicas de defesa do "nosso lado" – 77 técnicas Manipulação de manchetes – 13 ................................. 268 Desvio de foco – 14 ........................................... 277 Proteção – 34 ................................................. 292 Eliminação de mérito – 4 ...................................... 331 Apropriação de mérito – 2 ..................................... 335 Criação de fatos – 1 .......................................... 342 Inviabilização preventiva de ataques – 2 ...................... 344 Contestação falaciosa de críticas – 7 ......................... 346 3. Técnicas de ataque e defesa – 2 técnicas Mudança da História – 2 ....................................... 354 4. Técnicas de orientação política – 23 técnicas A. Agentes do jogo Chamamento à luta – 6 ......................................... 358 Validação de esforços – 1 ..................................... 363 Direcionamento de esforços – 1 ................................ 364 Redirecionamento de esforços – 6 .............................. 365 B. Receptores Orientação intelectual – 7 .................................... 369 Orientação emocional – 2 ...................................... 374 5. Técnicas de editorialização – 14 técnicas Técnicas não-verbais – 2 ...................................... 378 Qualificação – 6 .............................................. 379 Enquadramento – 4 ............................................. 383 Técnicas frasais – 2 .......................................... 385 6. Técnicas neutras – 4 técnicas Solicitação de ajuda – 4 ...................................... 388 7. Técnicas de utilização da internet – 42 técnicas Utilização de blogueiros – 10 ................................. 394 Utilização de caixas de comentários – 2 ....................... 405 Utilização da própria caixa de comentários – 5 ................ 406 Participação em caixas de comentários do "outro lado" – 6 ..... 418 Utilização do e-mail – 1 ...................................... 421 Utilização de páginas da Web – 5 .............................. 421 Utilização do Twitter – 4 ..................................... 424 Utilização do YouTube – 6 ..................................... 426 Contra-ataque – 3 ............................................. 429 8. A técnica das técnicas – 1 técnica Metatécnica – 1 ............................................... 433 9. O PIG como veículo de jogadas – 28 técnicas Jogadas geopolíticas – 6 ...................................... 435 Jogadas no mercado financeiro ................................. 440 Jogadas no mercado empresarial – 7 ............................ 441 Jogadas jurídicas – 2 ......................................... 446 Jogadas com o Executivo – 5 ................................... 447 Jogadas com o Legislativo – 2 ................................. 451
  • 7. Jogadas políticas – 3 ......................................... 454 Jogadas derivadas de relações pessoais – 3 .................... 455 O jornalista e o PIG .......................................... 457 10. A apresentação ao público – 5 técnicas A apresentação ao vivo ........................................ 460 A apresentação gravada ........................................ 465 A apresentação visual ......................................... 466 PALAVRAS FINAIS ............................................... 468 TUDO FAZ PARTE DO JOGO ........................................ 469 O HOMEM DO ANO ................................................ 470 UM DIA, O BRASILEIRO LERÁ ESTE ................................ 471
  • 8. PRIMEIRA PARTE BASES DA ATUAÇÃO DO PIG PRINCÍPIOS E ATITUDES
  • 9. O PIG O GRUPO: PALCO E BASTIDORES, LUZ E SOMBRA Nenhum homem é uma ilha, nenhum grupo trabalha em estado de isolamento. A visão convencional da sociedade sobre o PIG é enganosa, um equívoco de imagem que nos convém manter indefinidamente. Isso porque não só os órgãos da mídia, os jornalistas, os colunistas e os parajornalistas integram o "nosso lado". Outros grupos e indivíduos somam esforços a esses companheiros para lutar pelos nossos interesses e combater os interesses do "outro lado". Na verdade, muitas vezes a contribuição mais importante para a nossa luta vem daqueles que não são automaticamente associados ao PIG, porque o público recebe de espírito desarmado as suas contribuições Essa constatação, porém, jamais nos deverá fazer esquecer nosso papel de atores principais da peça. A função de protagonismo é nossa; os demais são somente nossos auxiliares. Por exemplo, um de nossos mais destacados grupos de apoio é o dos especialistas. Atualmente, sua contribuição efetiva sofre desgaste porque o público já notou a nossa escolha seletiva e questiona a falta de competência e sensatez desses profissionais selecionados (e também sua notória falta de isenção). Se tivéssemos apenas o grupo de especialistas como coadjuvantes, estaríamos com sérios problemas. Entretanto, nossa rede de atuação e solidariedade é vasta. É importante você sentir que realmente pertence a um grande grupo cujos interesses, somados, representam uma força social poderosíssima. Há quem trabalhe no palco, como os órgãos da mídia, os jornalistas, colunistas e parajornalistas, mas há também quem trabalhe nos bastidores, como grandes empresários, financistas, advogados e políticos (estes, quando secretamente nos fornecem material relevante) e até grupos religiosos, semissecretos ou secretos. Há quem trabalhe na luz, como nossos especialistas e os blogueiros simpatizantes, mas há também quem trabalhe na sombra, como blogueiros contratados, nossos comentaristas de blogs (contratados de empresas ou voluntários de partidos), criadores e disseminadores de campanhas de e-mails, ex-membros da comunidade de informações, denunciantes infiltrados no "outro lado" etc. Há quem sempre pertenceu ao "nosso lado", assim como há quem pertence ao "outro lado" apenas formalmente, trocando favores conosco, e quem dele se desligou e trouxe valiosas informações para a luta política, especialmente em forma de denúncias, verdadeiras ou não. Há, por fim, um número enorme de inocentes úteis, cidadãos politicamente passivos e indivíduos desprovidos de autonomia intelectual que constituem, em seu todo, um dos focos prioritários de nosso trabalho de opinião pública. Lembre-se sempre de que eles se orgulham de fazer parte do "nosso lado" (seja este qual for) e que estão sempre ávidos para ceder à nossa influência, dando-nos, em troca desse convencimento, um benefício inestimável: seu voto (direcionado por nós). Para nós, principais atores do PIG, são nossos irmãos todos aqueles que defendem ou promovem os nossos interesses contextuais e temporários. A impressão falsa de que essa forma incisiva de atuação da imprensa restringe-se à época atual e aos governantes atualmente no poder nos é muito útil porque, primeiro, oculta o verdadeiro papel histórico da imprensa de modo geral (a sua ligação preferencial com as elites, e não com a população; a sua ligação com os donos presentes ou futuros do poder, e não com a democracia), e segundo, porque oculta a real importância dos agentes sociais dos quais somos os principais representantes na mídia em geral.
  • 10. O MODO DE ATUAÇÃO Outra vantagem da concentração do significado de "PIG", na visão popular, num número restrito de órgãos e profissionais é a ocultação das técnicas usadas em nossa atuação cotidiana. São elas, mais do que os órgãos e as pessoas do PIG, que geram os efeitos importantes para os nossos interesses. Por isso, este manual concentra-se na identificação, explicação e ensino destas técnicas. O MITO DA COORDENAÇÃO INFALÍVEL O uso repetido da sigla PIG pelos nossos adversários pode sugerir uma espécie de central de coordenação de ações da Grande Mídia, ao estilo dos grupos dominadores do mundo que permeiam as teorias da conspiração. É óbvio que temos ações coordenadas em algum grau porque faz parte do comportamento social humano o espírito gregário. Políticos tramam, empresários acertam-se, empresários da comunicação traçam estratégias, e tais ações desenvolvem-se nos bastidores. Em reuniões sociais, vários atores do jogo político, de diferentes origens, podem conversar e chegar a pontos comuns de interesse mútuo. Em reuniões classistas, determinadas linhas de ação podem ser definidas para implementação conjunta. Entretanto, a ideia difundida de um comando único para o PIG é, como toda ideia semelhante, humanamente ilógica e estrategicamente inviável. O que existe, sim, são objetivos comuns. A liga que nos une são os interesses. E interesses são dinâmicos. Evidentemente, quando o alvo é estático, ou seja, quando um grupo "do outro lado" assume o poder e nele se estabelece, é natural que várias forças sociais se unam para combatê-lo, cada uma com seus interesses particulares, mas todas com um interesse maior e único: expulsar aquele grupo do poder, substituindo-o por outro grupo de pessoas simpáticas aos nossos variados interesses. Outro ponto que gera a suspeita da existência de uma coordenação oculta é a coincidência notável do conteúdo de ataques e defesas realizadas pela Grande Mídia em relação ao "outro lado". Ilustrando brevemente o ponto, em relação ao presidente Lula são temas recorrentes entre os jornalistas do "nosso lado" os ataques que o caracterizam como "inculto" e "populista", a seus seguidores como "mal informados", a seus auxiliares como "sindicalistas corruptos", à sua política econômica como "continuação da política do governo anterior", a suas medidas sociais como "tentativa de estabelecer um controle de Estado", entre muitas outras críticas recorrentes. É fácil explicar o porquê. Assim como os caricaturistas, os jornalistas precisam tornar suas mensagens compreensíveis; por isso, optam muitas vezes pela lei do menor esforço, ou seja, pela interpretação ou pelo argumento mais superficial. Também é necessário reforçar preconceitos vigentes em determinadas classes sociais (e contra outras classes). Além disso, alguns de nossos integrantes tomam de empréstimo a outros um ataque ou uma defesa que, de algum modo, surtiu efeito positivo na luta política. E determinados temas se impõem por uma questão de oportunidade ou importância: uma declaração manipulável, uma gafe, uma medida que ameace os interesses do "nosso lado", uma vitória importante do "outro lado" que precisa ser depreciada. Nada disso, porém, justifica a impressão de que exista uma central de distribuição de conteúdo uniformizado aos integrantes do PIG. Mais uma vez, a questão restringe-se a interesses comuns e às táticas necessárias ou disponíveis para garantir esses interesses.
  • 11. O PIG E A SOCIEDADE A mídia, e mais particularmente a imprensa, situa-se na interface entre grupos dominantes na sociedade – os agentes do processo – e a sociedade em seu aspecto mais passivo que ativo – a chamada opinião pública. Os vários grupos dominantes possuem interesses específicos e, muitas vezes, conflitantes. Esses conflitos refletem-se na mídia, expressando-se de diversas maneiras: notinhas, reportagens, matérias, entrevistas, artigos, colunas, blogs etc. O conteúdo dessas formas jornalísticas e virtuais é o tema da Segunda Parte deste Curso. Nossa relação com esses grupos sociais dominantes se dá pelos mais variados motivos e das mais variadas maneiras, que não convém especificar neste trabalho. Basta saber que o PIG tem interesses que às vezes podem coincidir, às vezes não, com os interesses de um ou mais desses grupos. No primeiro caso, desenvolvemos ações de defesa dos interesses deles, que também são os nossos interesses, e de ataque aos interesses dos grupos rivais; no segundo caso, a atuação é oposta: ataque aos interesses dos grupos de interesses destoantes dos nossos e defesa dos interesses de grupos simpáticos aos nossos interesses, rivais daqueles. O importante é perceber que, assim como a Grande Mídia não é, em essência, todo o PIG, e que não estamos sozinhos em nossa luta, o PIG não existe num vácuo social, mas se constitui, na verdade, num veículo de interesses alheios – quando estes concordam com os nossos interesses. Neste manual, adotaremos a expressão "nosso lado" para denominar uma configuração de interesses PIG–grupos sociais, em que nós atuamos na defesa desses grupos e no ataque a seus grupos rivais; e a expressão "outro lado" para denominar uma configuração de interesses representada pelos grupos rivais aos interesses do PIG e dos grupos a que estamos associados. Como será explicado mais adiante, o "nosso lado" (ou o "outro lado") não é algo fixo, imutável, independente de época, circunstâncias etc. O jogo do mercado, da influência e do poder é dinâmico; assim, nosso aliado de hoje pode ser o rival de amanhã, e os interesses defendidos por nós hoje podem ser os interesses atacados amanhã.
  • 12. A RELAÇÃO DO PIG COM O SEU PÚBLICO OS TRÊS PARTICIPANTES DO JOGO SOCIAL Didaticamente, podemos dividir os participantes do jogo social, no que se refere à relação com a Grande Mídia, em três grupos: 1. O grupo mais ativo, dinâmico e lutador (mesmo entre si), que está por trás da mídia, pressionando para que ela defenda ou promova seus interesses. Este grupo, na verdade, é composto de vários subgrupos importantes. . Influências do mercado. As grandes empresas nacionais (Comércio, Indústria, Tecnologia). Os banqueiros, especuladores e financistas (Finanças). Lobistas (representantes de interesses de vários setores da sociedade). . Influências políticas. Os grupos atualmente dominantes no poder municipal, estadual ou nacional. Os grupos que desejam tomar esse poder (ou voltar a ele). Lideranças políticas individuais (quando não possuem sua própria mídia). Partidos políticos. . Influências geopolíticas. Governos estrangeiros, na defesa de seus interesses nacionais. Empresas estrangeiras, interessadas na exploração de negócios e riquezas nacionais. . Influências do submundo. Organizações criminosas (em especial as que se dedicam a crimes do colarinho branco). Etc. Esses grupos possuem alto poder de pressão porque não lhes falta dinheiro, poder e influência – nem meios, legais ou ilegais, para conseguir o que desejam. 2. A própria mídia. Situada entre os grupos sociais dominantes e a população, a mídia possui seus próprios interesses, quando não se trata de um dos grupos dominantes, como no caso de empresas de comunicações de âmbito nacional ou internacional. Assim, as pressões ou solicitações que venha a sofrer por parte de outros grupos dominantes só serão aceitas e implementadas caso sejam harmônicas a seus próprios interesses, mesmo que essa harmonia se dê por meio de um acordo do tipo toma-lá-dá-cá. Além disso, os interesses empresariais ou estratégicos de uma organização da mídia podem levá-la a procurar um ou mais desses grupos para que seus interesses prevaleçam no mercado, nos governos ou na sociedade em geral. 3. A população em geral, consumidora dos serviços e produtos da mídia. Assim como há grupos sociais dominantes por trás da mídia, há uma enorme população à frente dela. Da sociedade vêm os interesses maiores, que precisam da mídia para a sua promoção ou concretização; da população vêm exigências que precisam ser satisfeitas para que exista uma boa relação consumidor- imprensa, contexto dentro do qual se dará a influência emocional, intelectual e comportamental que leva à satisfação dos nossos interesses (e dos interesses dos grupos dominantes a que estamos associados).
  • 13. É bem verdade que alguns setores da população estão abandonando o papel passivo que sempre os caracterizou e estão tentando entrar no jogo como atores importantes. As ONGs, os movimentos sociais e, graças à internet, os próprios blogueiros, começam aqui e ali a tentar influenciar as relações da imprensa com os seus principais aliados, mas o efeito, embora preocupante, ainda não afeta as regras do jogo. * * * * * Portanto, esses três conjuntos genéricos de interesses (dos grupos sociais dominantes, da própria mídia e dos consumidores) precisam estar harmonizados para que nossa atuação seja bem-sucedida. As pressões de "cima", os objetivos do "meio" e as necessidades de "baixo" representam as principais forças atuantes nesta questão, pautando as relações da mídia com os grupos dominantes, com os interesses dela mesma e com a população consumidora. Em linguagem popularesca, nossa função, na maior parte do tempo, é harmonizar os interesses da gente graúda, aliada de nossos objetivos, com as paixões dos pequeninos. A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA MÍDIA Antigamente, a família e a escola formavam cidadãos. O mundo mudou, as crianças e os jovens se desgarraram, e a mídia se tornou sua principal influência formadora, especialmente ao se estabelecer a dominância cultural norte-americana no chamado Mundo Livre, a partir da década de 60. Aqui cabe especificar uma lição da plasticidade do comportamento humano, importante para quem exerce atividades de convencimento do público. Se imaginarmos um espectro em que um povo ocupasse um dos extremos e outro povo o espectro oposto, poderíamos tranquilamente colocar num deles o povo brasileiro e no outro o povo estadunidense. É difícil imaginar povos mais diferentes do que esses dois, em quase tudo. Pense na história dos povos; pense em seus valores espontâneos; pense em seus comportamentos típicos; pense em sua relação com os estrangeiros; pense em sua atitude ante as leis, as regras sociais e as normas em geral; pense em sua relação com o trabalho; pense em sua visão da vida. Tudo, absolutamente tudo diferente. Apesar disso, a cultura estrangeira mais influente na cultura nacional, atualmente, é a estadunidense: no idioma, no comportamento dos jovens, na música, no cinema, na literatura, nas relações com as empresas, nos modismos sociais... Pense nisso sempre que se sentir desanimado em seus esforços para convencer e direcionar o coração, a mente e o comportamento dos brasileiros. Se um povo inteiro pode prescindir de partes fundamentais de sua própria alma e se entregar feliz a outro povo situado no extremo oposto de suas tendências naturais, por que não poderíamos aproveitar essa incrível plasticidade humana para impor nossos interesses? É tudo uma questão de técnica e de ação inteligente. TENDÊNCIAS ATUAIS DA MÍDIA Se analisarmos com objetividade a imprensa e suas relações com a população, atualmente, veremos estas tendências mais ou menos consolidadas, em todas as editorias (jornalismo político, entretenimento, esportes etc.). Em primeiro lugar, as tendências superficiais, destinadas a satisfazer o gosto do público. Elas são a cobertura do bolo, algo doce que é oferecido para que possamos garantir os objetivos das tendências mais profundas, o recheio do bolo. TENDÊNCIAS EMOCIONAIS
  • 14. Este conjunto de tendências tem como objetivo primordial a estimulação de emoções fortes e, se possível, duradouras. Para tanto, baseia-se nas formas mais seguras de estimulação e nas emoções mais fáceis de serem estimuladas. Imediatismo Tendência manifestada pela supervalorização do presente e pela pronta exploração de qualquer fato que prometa desenvolvimentos rápidos e empolgantes. Como resultado, qualquer outro fato que vinha sendo desenvolvido, mesmo aqueles socialmente mais importantes, acaba sendo abandonado à própria sorte. O imediatismo, somado à compressão do limiar de saturação do público (cada vez mais próximo do início da exploração dos assuntos), acarreta a alta rotatividade das notícias e impossibilita o aproveitamento consequente de matérias ou temas socialmente relevantes. Como a mídia é a instituição-mãe do mundo moderno, essa tendência acaba contaminando outros setores ligados a ela: "A pauta do Congresso, por exemplo, é muito marcada pelo imediatismo. Sai uma notícia na mídia, aquela notícia é tratada no debate do dia, no debate da semana. Não se focalizam as questões de longo prazo, cuja preocupação caracteriza o estadista. O que é o estadista? O político que tem a feição do estadista quer ver o que vai acontecer com o país, não amanhã ou no mês que vem ou no ano que vêm, mas daqui a dez ou vinte anos. Ele se preocupa com esse horizonte." (Saturnino Braga.) http://www.direito2.com.br/asen/2006/jul/14/saturnino-diz-que-ha-cobica-externa-por-recursos- naturais-brasileiros Ânsia pela novidade Tendência manifestada pela receptividade entusiástica a qualquer notícia, mesmo frívola, fútil, boba, forçada, por causa do fator "novidade", e só por ele. "Novo" é um critério mais decisivo na escolha da mídia do que "relevante", "útil" ou "importante". Essa tendência é exacerbada pela competição entre os veículos, que tentam chegar antes a "furos" que sejam impactantes e que permitam desenvolvimento ao longo de dias, trazendo a atenção do público para o seu veículo. "Na ânsia de sair na frente dos concorrentes, os meios de comunicação publicam o conteúdo antes de investigar." (Alberto Dines.) http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/cme/081118_resumo_487.htm Exageração A tendência ao exagero é uma forma de desrespeito à realidade que se manifesta de várias formas na imprensa: . A "escandalização do nada", na área da política. "Jornalismo de escândalos." (José César dos Santos.) http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=2276 . A transformação de fatos corriqueiros da vida pessoal de celebridades e subcelebridades em notícia de imprescindível interesse social. Notícia na home-page da Globo.com (note a receptividade do público expressa no número 1, indicativa da matéria mais lida):
  • 15. . A criação de polêmicas fúteis (descrição de situações de modo a ressaltar ou instigar rivalidades). "Praticamente inexiste oconceito de relevância na matéria jornalística. Em qualquer cobertura de fato relevante, a tendência é de se realçar o imprevisto, a frase que pode gerar conflito, deflagrar a catarse em lugar de relatar a essência do assunto." (Luis Nassif, O Jornalismo dos Anos 90.) Esta é uma das especialidades do jornalismo esportivo. . A preferência por declarações de impacto pinçadas de uma entrevista. Declaração da cantora e compositora Ana Carolina (21/12/2005): . O jornalismo-espetáculo, marcado pela exploração de denúncias, polêmicas, crimes. As "filas quilométricas" do porto de Paranaguá, segundo o "Jornal Nacional" – que não existiam: http://www.youtube.com/watch?v=b7MVYlRAKlg&feature=related O alarmismo da RPC no Paraná: http://www.youtube.com/watch?v=rk3iUud1wu0&feature=related Essa tendência leva, às vezes, à confrontação por parte do "outro lado", atingido pelas denúncias. A resposta do governador Roberto Requião: http://www.youtube.com/watch?v=4RZ8dnuuj9k&feature=related . A instigação emocional, exemplificada pela preferência dada a fatos chocantes. Um exemplo clássico: o comportamento acrítico e açodado da Grande Mídia no caso da brasileira Paula Oliveira, cujo corpo teria sido marcado por neonazistas suíços. http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_Post=160714 http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Paula_Oliveira . A instigação emocional pode se expressar no próprio tratamento de questões polêmicas.
  • 16. Repare no exagero expresso visualmente pelo número de armas de alto calibre apontadas para o cidadão indefeso. Notícia do jornal Zero Hora, edição de 15 de janeiro de 2010. . A escandalização social, prenúncio da instigação do "clamor das ruas", cujo símbolo maior no País foi o caso da Escola Base (1994). Resumo do blogueiro Gabriel: http://senadormandabrasa.zip.net/arch2008-09-21_2008-09-27.html Onze anos depois do caso (2005): "Shimada teve três enfartes desde 94, fuma bastante e tem medo de andar na rua. Atualmente toca a vida numa xerox no centro de São Paulo. Sua esposa faz tratamento psicológico desde o episódio. Os outros acusados se mudaram para o interior. Os repórteres que cobriram o caso continuam suas vidas profissionais normalmente. Nenhum veículo foi punido, nenhuma desculpa foi dada com o mesmo espaço das acusações. (Thiago Domenici.) http://www.fazendomedia.com/novas/educacao300705.htm O mea-culpa, convenientemente, só é feito depois do fim da exploração, quando o caso virou bagaço. Um exemplo recente: http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/12/27/erramos Aproveitamento máximo dos novos fatos Tendência manifestada pela gana com que se explora um fato novo e promissor, refletida tanto no aspecto quantidade (número de matérias, colunas, comentários etc.), quanto no aspecto tempo (o máximo possível). A transformação de situações corriqueiras em "novelas", nas áreas do entretenimento e do esporte, é um bom exemplo dessa tendência. Na área do crime, idem: "A novelização do Caso Eloá." (Valdeir Almeida.) http://www.ponderantes.com.br/2008/10/novelizao-do-caso-elo.html
  • 17. Seu símbolo máximo, entretanto, vem da área do jogo do poder: o escândalo-borracha, no qual comentaristas, editores, repórteres, especialistas etc. se esforçam para estender a sua vigência de modo a desgastar a posição do "outro lado". TENDÊNCIAS INTELECTUAIS Credulidade Tendência manifestada pelo descuido na verificação da validade objetiva das informações recebidas de especialistas ou de outros meios de comunicação, o que leva ao endosso de afirmações falsas, fatos inexistentes e conclusões precipitadas – isso, quando não gera uma gafe que marcará para sempre o profissional ou o órgão de imprensa. A área mais prejudicada por essa tendência são as Ciências, notadamente nas situações de divulgação e interpretação de notícias sobre pesquisas, teorias, invenções e curiosidades, nas quais são comuns afirmações exageradas sobre a validade objetiva e o alcance do assunto abordado. Como exemplo, recentemente a mídia divulgou como verdadeiras duas inverdades científicas: a regeneração do dedo de um amputado, que teria sido conseguida por meio de um pozinho mágico, ... http://www.badscience.net/2008/05/finger-bullshit/ ... e a descoberta de que um paciente em coma durante 23 anos teria mantido a consciência e a capacidade cognitiva por todo esse período: http://www.badscience.net/2009/12/so-brillliantly-youve-presented-a-really-transgressive-case- through-the-mainstream-media/ A falta de espírito crítico dos editores e, em especial, de um responsável pelo filtro das notícias científicas, leva a mídia a estabelecer uma cadeia de irresponsabilidade em que um órgão alimenta o outro com falsidades que seriam de fácil identificação por especialistas. Esse filtro, se existisse, implicaria na desmistificação das noções do cientista como autoridade inquestionável, da palavra do cientista como fonte inquestionável, e do texto da agência como verdade inquestionável. * * * Um outro exemplo, bem simples: "Os animais de estimação, sejam eles gatos ou cachorros, poluem duas vezes mais do que um carro, de acordo com cientistas neo-zelandeses que calcularam a superfície necessária para produzir a carne e os cereais consumidos por eles." (Tradução de matéria da Agência France Press.) http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1420504-5603,00- CIENTISTAS+DIZEM+QUE+CAES+E+GATOS+POLUEM+MAIS+QUE+CARROS.html Os cientistas avaliaram toda a poluição gerada pelas atividades e produtos necessários para os gatos e cães "funcionarem", comparando esse fator com a poluição gerada pelo funcionamento dos automóveis – em vez de levar em consideração toda a poluição gerada pelas atividades e produtos que são necessários para os veículos funcionarem, isto é, as atividades de produção de veículos – sem as quais eles não existiriam. Cães e gatos poluem quase nada pelo que fazem e (aparentemente) muito pelas atividades exigidas para sustentá-los; carros poluem muito pelo que fazem e outro tanto pelas atividades exigidas para produzi-los. * * * Mais um exemplo:
  • 18. "'Louras são mais 'guerreiras', diz estudo. "Pesquisa na Califórnia indica que cor do cabelo também influencia tratamento que se recebe." http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1451072-5603,00.html Repare que a notícia saiu no canal de Ciências e Saúde de um grande portal brasileiro (Globo.com). Foi reproduzida de modo acrítico, sem nenhum comentário, como se representasse a mais pura verdade científica. Eis o artigo original: http://www.timesonline.co.uk/tol/news/science/genetics/article6990988.ece Se o canal tivesse um responsável pela filtragem e avaliação das notícias, que perguntas ele imediatamente se faria? 1. Qual foi a amostra utilizada pelos pesquisadores para chegar a esta afirmação de validade universal, e qual a representatividade dessa amostra no conjunto geral das mulheres louras? "A pesquisa, que envolveu 156 estudantes da universidade [da Califórnia], ..." Ou seja, 156 mulheres, entre louras e morenas. Apenas 156 para mais de 3 bilhões no total. O pesquisador revela ter alguma consciência das circunstâncias culturais e geográficas que poderiam influenciar o resultado de uma pesquisa: "'Nós esperávamos que as louras sentissem ter mais direito (ao sucesso) do que outras jovens. Estamos no sul da Califórnia, o habitat natural da loura bem-sucedida', afirmou ao Sunday Times Aaron Sell, que coordenou a equipe de pesquisadores." (BBC.) http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1451072-5603,00.html O que vale para uma subcultura estadunidense vale para todos os países? É correto, cientificamente, extrapolar a conclusão de um estudo sobre 156 estudantes da Universidade da Califórnia para todo o mundo? 2. Que outras características pessoais poderiam ter influenciado o resultado ou poderão minimizar, no mundo real, a relevância da conclusão tirada a partir dele? A Ciência já foi apresentada há muito tempo a conceitos como tipos psicológicos, temperamento emocional, formação familiar... Bastaria o gene do cabelo louro (ou mesmo a pintura desse cabelo) para gerar o comportamento mais agressivo na mulher, numa relação infalível e mecânica de causa e efeito? E os outros fatores humanos, como ficam? Qual a influência relativa deles no comportamento feminino? 3. Qual foi o resultado preciso, em números, que fez o pesquisador sentir-se seguro de estar diante de uma diferença estatisticamente significativa? Ou seja, qual é a quantificação desse "mais guerreiras"? Mais quanto? Um por cento, cem por cento? Não há menção a números no artigo. 4. Qual é a importância científica do responsável pela pesquisa? Aaron Sell é realmente um professor da Universidade da Califórnia. Eis a sua página no site da instituição: http://www.psych.ucsb.edu/research/cep/grads/Sell/Research.html Estudioso da agressividade humana, tem vários artigos publicados. Um deles talvez fosse sério candidato a ganhar o IgNobel, o prêmio satírico dado ao estudo científico mais esquisito (ou irrelevante) do ano:
  • 19. "My research shows that bicep circumference is a good predictor of anger, entitlement, and support for warfare among men but not women." (Minha pesquisa mostra que a circunferência do bíceps é um bom índice de predição da raiva, da sensação de direito adquirido e da predisposição à atitude guerreira entre os homens, mas não entre as mulheres.) 5. Qual é o título original da pesquisa e onde ela pode ser consultada? Na página do professor não há menção a essa pesquisa sobre louras e morenas. No artigo original do jornal britânico, lê-se: "... published in the Proceedings of the National Academy of Science." ("...publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences.") http://www.pnas.org/ Na página da instituição estadunidense encontramos apenas um artigo do professor, publicado em agosto de 2009: "Formidability and the logic of human anger": http://www.ia.ucsb.edu/93106/2009/October/attitudes.html Nas páginas de notícias, nada: http://www.pnas.org/site/misc/news.shtml Uma busca nos arquivos da instituição não revela nenhum artigo sobre o comportamento das louras, nem qualquer relação do professor com o tema: http://www.ucsb.edu/index.shtml "Your search - "aaron sell" blonde - did not match any documents." Na página de "press release", nenhuma notícia sobre a pesquisa: http://www.instadv.ucsb.edu/pa/archive.aspx E no número atual da publicação, de 12 de janeiro, acessível na página de entrada no site, também nada, apesar de o artigo original informar que o estudo já havia sido publicado: "...the study which has been published in the Proceedings of the National Academy of Science." O artigo original foi reproduzido acriticamente por jornais no mundo inteiro. Talvez a pesquisa seja verdadeira, mas os dados divulgados (e não verificados) pela imprensa aconselham uma atitude de prudência. E a conclusão derivada da pesquisa, logicamente, é estapafúrdia. Não há mais desculpas para tal comportamento relapso da mídia. Muito menos no caso da grande imprensa brasileira. Já sofremos muito com nossa peculiar parcialidade no trato da questão política. Ao menos naqueles assuntos que não interfiram no jogo do mercado, da influência e do poder, temos a obrigação de fazer um trabalho competente. * * * A ausência de senso crítico é explorada corriqueiramente por brincalhões para mostrar, na prática, a complacência intelectual da mídia. No final de 2009, um "estudo científico" inglês que correlacionava o culto ao Papai Noel à obesidade, entre outros bobagens, foi reproduzido acriticamente pela mídia nacional. A pegadinha: http://blog.newsweek.com/blogs/nurtureshock/archive/2009/12/18/santa-s-a-health-menace-media- everywhere-are-falling-for-it-but-the-entire-study-is-a-fake.aspx "Papai Noel promove estilo de vida pouco saudável, diz especialista." (Estado de S. Paulo.)
  • 20. http://www.estadao.com.br/noticias/geral,papai-noel-promove-estilo-de-vida-pouco-saudavel-diz- especialista,484119,0.htm "Papai Noel promove estilo de vida pouco saudável, diz especialista." (Globo.com.) http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1419727-5603,00- PAPAI+NOEL+PROMOVE+ESTILO+DE+VIDA+POUCO+SAUDAVEL+DIZ+ESPECIALISTA.html "Papai Noel é mau exemplo ao combate à obesidade, dizem especialistas." (UOL Tabloide.) http://noticias.uol.com.br/tabloide/tabloideanas/2006/12/13/ult1594u926.jhtm "Forma física de Papai Noel vira polêmica na web." (Zero Hora.) http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp? uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a2753037.xml "Papai Noel precisa entrar em forma, diz estudo de saúde pública." (RedeTV!) http://www.redetv.com.br/portal/entretenimento/noticia.aspx? cdNoticia=97112&cdEditoria=142&Title=Papai-Noel-precisa-entrar-em-forma-diz-estudo-de-saude- publica * * * A tendência também se manifesta na cobertura de casos médicos, onde não se procura o contraditório, estabelecendo-se a autoridade suprema do médico ou da junta médica que controla as informações; e nos casos policiais, onde o contraditório também não é procurado, estabelecendo-se a autoridade suprema do delegado ou do Secretário de Segurança. Nos dois casos, a realidade chega deturpada à opinião pública, segundo a conveniência de quem controla as informações. Vários desses casos são abordados no livro O Jornalismo dos Anos 90, de Luis Nassif: http://www.projetobr.com.br/c/document_library/get_file?folderId=213&name=DLFE- 487.pdf&download=true A "epidemia de gripe suína", que matou bem menos pessoas que uma gripe comum, gerou manchetes alarmistas, pânico na população e um lucro estupendo à empresa farmacêutica Novartis, fabricante do Tamiflu. Quando a realidade surgiu, veio com ela a noção do exagero: "França cancela encomenda de 50 milhões de vacinas para gripe H1N1" (AFP). http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iTqpR5RZ7IkKcMUeT7Zn3HjZxAyw Avaliação crítica seletiva Se o órgão de imprensa defende de modo quase obsessivo uma posição política, econômica ou social, os fatos só têm importância para ilustrar essa posição, seja no aspecto negativo (críticas a quem está no lado oposto), seja no aspecto positivo (elogios e louvação a quem está no lado "certo"). Um exemplo clássico de crítica "engatilhada" é a capa da revista Veja sobre Cazuza (26/4/1989), pouco antes da morte do cantor e compositor.
  • 21. Um exemplo clássico de louvação "engatilhada" é a matéria da Veja, em maio de 2007, sobre o emirado árabe de Dubai, um dos principais destinos dos super-ricos do mundo: "Milagre no deserto": "O resultado dessa atmosfera pró-negócios é de fazer arrepiar o mais blasé dos estatísticos. No ano passado, o PIB de Dubai cresceu a uma taxa de 16%, enquanto o da China alcançou 10,5%. O índice de desemprego de Dubai é tecnicamente nulo. A população cresce a uma taxa de 10% ao ano, principalmente devido à imigração, e a demanda por imóveis é incessante. Não há outro lugar no mundo em que a indústria da construção civil esteja tão atarefada:..." (Diogo Schelp, "O Reino Encantado", 30 de maio de 2007.) http://veja.abril.com.br/300507/p_096.shtml O trecho abaixo é de 2008: "Recentemente, mais e mais estrangeiros estão investindo em Dubai, graças à perspectiva de crescimento e à solidez da economia, que levam a projeções de que no futuro Dubai será um centro mundial de finanças e turismo." http://www.riquissimos.com.br/category/viagem/page/2/ Alguns aspectos condenáveis desse progresso não incomodavam muito seus apreciadores: "Êxito econômico de Dubai esconde sistema de trabalho com características de escravidão." (Andy Robinson, La Vanguardia.) http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lavanguardia/2008/06/09/ult2684u457.jhtm "O que Dubai tem que o Brasil não tem?" perguntava invejosa a jornalista Eliane Cantanhêde em abril de 2009. http://dedeabel.zip.net/arch2009-04-01_2009-04-15.html#2009_04-09_09_22_51-8592662-0 Em novembro de 2009, o outro lado do sucesso estrondoso surge como do nada, sem aviso: a possibilidade de falência de Dubai e o atraso no pagamento de dívidas: "Crise em Dubai faz ressurgir fantasma da falência de vários países. "(Jérémy Tordjman, Agência France Press.)
  • 22. http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u658005.shtml Supervalorização de fatos por descontextualização "A mulher mais bem-vestida do ano", "a mulher do século", "a mulher mais sexy do mundo"... Na verdade, resultados de enquetes feitas numa revista, num site, numa TV, de um só país, baseadas num universo limitado e centradas em poucas atrizes e modelos, todas presentes na mídia. O título não combina com a real importância e a real dimensão do fato. Mas é impactante, por isso a imprensa o reproduz acriticamente, criando maravilhas vivas da humanidade que são, na verdade, apenas expoentes temporários da mídia imediatista. Para quem não se lembra, a "mulher do século XX" chama-se Maria Fernanda Cândido. A "eleição" foi realizada por telefone no programa "Fantástico", da Rede Globo. Apenas por uma coincidência, Maria Fernanda era a atriz principal da telenovela que a Globo desejava divulgar, na época ("Terra Nostra"). O título honorífico é lembrado com regularidade em matérias da imprensa. http://www.tiosam.com/?q=Terra_Nostra TENDÊNCIAS COMPORTAMENTAIS Ocultação de fontes e interesses Tendência que é mais do que mera tendência: trata-se, na verdade, de um dos fundamentos da atividade jornalística da atualidade (e talvez de sempre). Desde o jornalismo de celebridades, em que matérias e fotos enviadas por assessorias de imprensa passam por conteúdo apurado pela redação, até as manobras políticas e empresariais que determinam o conteúdo de notinhas, colunas, reportagens etc., a preservação da fonte não se dá, como no bom jornalismo, por uma questão ética; ao contrário, ela é preservada para não se admitir a falta de ética: se revelada, mostraria o interesse escuso ou a falta de profissionalismo que pautou a atuação do jornalista. Do mesmo modo, a ocultação de interesses políticos ou empresariais é uma norma na atuação da Grande Mídia ao participar do jogo da influência e do poder. Tenta-se passar ao leitor a impressão de integridade, imparcialidade, patriotismo, defesa da democracia, entre outros belos valores, enquanto se escondem as verdadeiras intenções associadas a interesses por vezes opostos a esses ideais. Parcialidade A facilidade com que os jornalistas divulgam o clichê da impossibilidade do exercício da imparcialidade diz muito sobre a ligação deles com essa tendência. Obviamente, a distorção dos fatos faz parte da própria atividade da consciência humana, mas a intenção de imparcialidade tende a levar o profissional até o ponto mais próximo possível dos fatos, ou seja, de uma apreensão objetiva da realidade. Essa intenção louvável age fazendo o jornalista perceber os processos psicológicos de distorção e incentivando-o a contrabalançar sua própria inclinação no assunto e a aplicar técnicas que garantam um alto grau de fidelidade na representação dos eventos percebidos e descritos. As técnicas são conhecidas: não só ouvir, como também dar importância, tempo e espaço equivalentes ao outro lado da questão, prática tão rara hoje em dia por causa da editorialização compulsiva; a apresentação de versões diferentes do mesmo fato, quando relevantes; o questionamento inteligente da capacidade dos especialistas e a comunicação ao público sobre suas ligações com partes envolvidas e sobre sua importância relativa no meio profissional; a investigação paciente, quando a questão parece ainda confusa e os fatos carecem de peso próprio. E outras técnicas bem conhecidas no meio. Tudo isso pertence ao mundo ideal. No mundo real prevalecem os interesses. E a parcialidade, em especial na política, passou de exceção a regra.
  • 23. Prevalência da opinião sobre a informação A epidemia do colunismo, somada à parcialidade dos comentaristas e analistas políticos, levou à substituição do jornalismo pela palpitagem. Colunistas, parajornalistas (amadores que tentam canhestramente atuar como jornalistas sem compromisso com as normas da profissão), âncoras do rádio e da TV, analistas políticos e econômicos, quase todos descambaram para o achismo, a editorialização, as previsões inconsequentes. Especialistas em tudo passaram a frequentar a mídia, em colunas ou nas entrevistas. A facilidade de pontificar sobre um assunto (ou qualquer assunto) tem um contraponto: o desleixo nas obrigações jornalísticas, como pesquisar, investigar, checar informações, verificar fatos, exemplos, argumentos... Se basta para alguém sentar-se, digitar cinco ou seis parágrafos em 15 minutos, pensando rapidamente, e depois enviar o texto por e-mail, garantindo um extra mensal; se quase todos estão agindo dessa maneira; e se a lei do menor esforço é recompensada no final do mês, como esperar que esse comportamento fique restrito a incompetentes ou apressados? Não é só o conteúdo que sofre: a forma da maioria dos textos é, no máximo, passável. E olhos atentos percebem com facilidade os erros que se sucedem nesses textos. Um exemplo: "Royalties e pitombas." (Urariano Mota, sobre coluna de Ruy Castro.) http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=568FDS004 "Existe dificuldade enorme de se conferir tratamento analítico aos temas, de analisar ponto por ponto os diversos ângulos da questão, apresentar as versões conflitantes, inseri-lo em um contexto mais amplo, em suma, pensar de maneira moderna. Em geral as análises são substituídas por opiniões quase sempre taxativas, quase nunca analíticas, que espelham muito mais as preferências do autor do que análises acuradas." (Luis Nassif, O Jornalismo dos Anos 90.) Esse comportamento gerou um efeito contraditório: embora os jornalistas profissionais destaquem o abismo qualitativo que os separa dos blogueiros amadores, ao virarem palpiteiros acabaram se igualando a seus novos rivais – em certos casos, saindo-se pior do que eles porque os blogueiros têm mais espaço para serem criativos, engraçados, surpreendentes. E, volta e meia, também são mais inteligentes em sua análise da realidade e em sua visão de mundo. Faz parte da natureza do brasileiro palpitar sobre tudo, achar-se especialista num assunto não conhece, sentir que tem a verdade sobre um fato que acabou de ser divulgado. Jogar conversa fora, é conosco mesmos. A antecessora histórica da coluna de jornal, a crônica do cotidiano, é uma criação brasileira. Ao ser brindado com um espaço e com a palavra, vem ao brasileiro a sensação de autoridade e dá-se a expressão da sua sabedoria universal – e não é conveniente passar por estraga-prazeres, solicitando as reais qualificações, atestadas na prática, do palpiteiro empolgado. Assim, "cientistas políticos" que vivem enclausurados na elegante Zona Sul do Rio de Janeiro comentam com suposta autoridade os bastidores de Brasília ou a política local do Nordeste. Um apagão transforma pessoas que não entendem a função de um simples capacitor em especialistas no sistema elétrico nacional. Adultos que não distinguem um cirro de um cúmulo-nimbo (tipos de nuvens) querem passar por sumidades em aquecimento global. Quando erros grosseiros de análise, previsão e aconselhamento são cometidos, nada disso abala a autoimagem dos sábios, nem a sua imagem social, porque o público sabe que quase todos os colegas agem do mesmo modo. "As redações passaram a atuar com excessiva benevolência para com os erros cometidos pelos jornalistas. O engenheiro que comete um erro de cálculo passa imediatamente a ser mal visto pelos colegas. No jornalismo, ainda não existe esse círculo de censura interna, inibindo a ação do amador ou do leviano." (Luis Nassif, O Jornalismo dos Anos 90.)
  • 24. Isso porque a total liberdade de palpitar é o melhor contexto para influenciar a opinião pública. Se cada um ficasse restrito às suas áreas de competência, se lhe fosse exigido rigor nas análises e nas previsões, se houvesse responsabilização por equívocos, o jogo da influência e do poder seria prejudicado. E o jogo tem a prioridade. Negativismo . Tome uma. "Foram apenas duas semanas, e o ano já parece velho. Enchentes, deslizamentos e mortes no Rio, em Angra, em São Luiz do Paraitinga alertaram para os riscos que a população urbana corre. Crise institucional na Argentina. Crise econômica e racionamento na Venezuela. Catástrofe no Haiti, país mais pobre das Américas, em dimensões não vistas em 200 anos. "O ano de 2010, que começou cercado de esperanças na área econômica, pesou de repente. A primeira semana foi dolorosamente ocupada pela morte e destruição das tempestades em várias áreas do Brasil. A segunda semana excedeu tudo o que se pudesse imaginar na pior ficção de terror." (Miriam Leitão.) http://arquivoetc.blogspot.com/2010/01/amargo-comeco-miriam-leitao.html . Tome duas. "Tudo somado, o Senado tinha vagas sem funcionários, e as Câmaras Municipais têm vereadores potenciais sem vagas. Num caso, sobram vagas. No outro, sobram candidatos. As contas não fecham. Aliás, as contas nunca estão fechando. "E a gente ainda diz que Honduras é que é República de Bananas..." (Eliane Cantanhêde.) http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/elianecantanhede/ult681u629474.shtml . Tome três. "Ou seja: o Brasil vai bem, mas os brasileiros, nem tanto. O maior problema continua sendo o da distribuição macabra de renda, com uma minoria nadando em dinheiro e a maioria sem educação, sem saúde, muitas vezes sem comida. E todos sem segurança." (Eliane Cantanhêde.) http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/elianecantanhede/ult681u356519.shtml . E vamos parando por aí. "Tornar públicas as mazelas é obrigação da imprensa em um país livre. Mas falar somente do que há de ruim na vida nacional, dia após dia, alimenta e realimenta a visão negativa que o brasileiro ainda tem de si. "Se as coisas por aqui caminham para um futuro mais promissor, é porque, em vários âmbitos, estamos fazendo o que é o certo." (Emílio Odebrecht, "A Imprensa e o novo Brasil".) http://blogdogersonnogueira.wordpress.com/2010/01/10/pensata-a-imprensa-e-o-novo-brasil/ * * * A impressão de que a imprensa brasileira é negativista, vendo sempre o lado ruim dos fatos, superdimensionando problemas, dificuldades e crises, torcendo pelo fracasso das iniciativas governamentais e depreciando as qualidades e as realizações do País é tanto verdadeira quanto falsa. Verdadeira porque essa atitude é uma tática necessária na luta pelo poder, quando ele está ocupado por um grupo adversário dos nossos interesses e dos interesses daqueles que representamos. Não faz sentido louvar realizações do adversário, incentivar a simpatia da opinião pública em relação a ele, ver o lado bom das situações problemáticas, se isso representará mais votos e mais tempo no poder para o "outro lado".
  • 25. Por outro lado, essa impressão é falsa porque o negativismo não é uma característica inerente à imprensa ou, de modo especial, ao PIG. Basta lembrar o nosso comportamento durante o Governo FHC: abafamos escândalos, não apuramos fatos potencialmente desabonadores, escondemos deslizes e inconveniências, exaltamos as iniciativas do presidente, como o programa de privatizações, fomos favoráveis à mudança da Constituição para que ele pudesse se reeleger – enfim, onde o negativismo? Claro que, ao final do Governo, quando se consumou o seu fracasso e a rejeição popular se tornou insuperável (apenas 18% de aprovação dos brasileiros), tivemos que nos curvar aos fatos e nos tornamos suavemente críticos de suas medidas. Como tudo o mais em nossa atuação, a atitude básica que expressamos em nosso comportamento deriva das circunstâncias, da situação presente e da relação dela com os nossos interesses. Se a situação for uma, o comportamento é um; se a situação for outra, o comportamento é outro. Simples assim. Dirigismo O dirigismo é a atitude de querer determinar a realidade e, particularmente, o comportamento alheio. Ele está por trás do comportamento parcial; das opiniões; do sentido dado aos palpites, às análises, às previsões – é causa desses efeitos e, em si mesmo, é o representante de interesses próprios do jornalista, do órgão para o qual trabalha ou das forças sociais externas que determinam a posição empresarial, política ou social do jornalista. O dirigismo está presente na seleção tendenciosa de fatos, ângulos, notícias, frases, declarações etc., assim como na repercussão também seletiva desse conteúdo por outros órgãos ou colegas, que potencializam seu valor de influência ou choque. O dirigismo tornou-se tão disseminado na mídia nacional que o costume de determinar o que é certo e o que é errado, quem é do Bem e quem é do Mal, quem merece elogios e quem merece críticas, desrespeitando fronteiras profissionais, sociais e pessoais, expandiu-se para outras áreas do jornalismo. Os fiscais-de-tudo fazem escola, por exemplo, na área do entretenimento. Itálico acrescentado: "A repórter Giuliana Morrone contou que Gisele está radiante com a maternidade, linda e em forma como sempre, seis semanas depois do nascimento do bebê. "'Gisele [Bündchen] passa simplicidade, espiritualidade, mostra que tem uma preocupação em viver bem, ser feliz e, agora, em ser uma excelente mãe. Pelo que vi na entrevista, acho que ela está no caminho certo', conta a repórter." http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1465859-15605,00.html Quem decide qual é o caminho certo para uma pessoa? Ela mesma ou uma repórter que jamais conviveu com ela? TENDÊNCIAS ESTÉTICAS Eugenia visual Corresponde à preferência ou mesmo à exclusividade, nos meios visuais como a TV e a internet, da presença de rostos bonitos e corpos em forma, tomados como padrão de qualidade física humana, contra o qual a feiura e a desproporção física chegam a parecer deformações ou se tornar um natural objeto de ridículo. O aparecimento de pessoas do povo tende a gerar nos espectadores da TV, treinados a esperar a beleza natural ou "comprada", uma reação de repulsa ou escárnio, assim como acontece numa plateia de
  • 26. cinema em projeções que não sejam trailers e o próprio filme. Essa reação indica a incorporação psicológica, nos indivíduos, de um valor social destoante da realidade das ruas e casas de um país (e do mundo em geral). Um tanto esquizofrenicamente, as pessoas aceitam na realidade aquilo que desprezam na mídia e no cinema. TENDÊNCIAS PSICOLÓGICAS Valorização da futilidade Especialmente na mídia do entretenimento, uma das mais populares na atualidade, dá-se o incentivo à vaidade, à fama fútil, ao sucesso pelo sucesso, à visibilidade social como um valor dissociado de qualidades pessoais. Seu símbolo maior são as chamadas subcelebridades, pessoas que por algum acaso, ou caso, ou programa do tipo reality show, passaram a frequentar as notícias por motivos também fúteis: um novo amor, uma nova tatuagem, uma nova cirurgia plástica, um descuido conveniente que revela mais do que o esperado, uma polêmica armada, ou uma outra ideia genial da assessoria de imprensa. A mensagem transmitida pela mídia à sociedade é: "Se vocês seguirem esse exemplo, nós lhes daremos destaque semelhante". E a mensagem é captada: nas lista das notícias mais clicadas dos principais portais brasileiros, sempre há alguma subcelebridade no topo. Reparou na qualificação da primeira subcelebridade? "Ex-nora." A premiação da futilidade causa estragos na própria imagem social de "arte". As subcelebridades são denominadas "artistas", embora possam jamais ter feito um trabalho artístico. TV, Cinema e Música são as artes dominantes na mídia oficial, e dela vêm quase todos os "artistas" privilegiados pela mídia. Pessoas vaidosas, fúteis, exibicionistas, infantilizadas tornam-se um modelo de ser humano que muitos almejam seguir para obterem o mesmo sucesso social e financeiro de seus ídolos. "Fabíola Reipert é a blogueira mais visitada do R7 [portal da Rede Record]." (Rosana Hermann.) http://blogs.r7.com/querido-leitor/2010/01/05/mion-x-fabiola/ Incentivo ao arrivismo Essa tendência está associada à anterior. Chegar à fama pelo caminho mais rápido é a intenção bem realizada por muitas subcelebridades. O trabalho convencional representa, dessa perspectiva, um meio precário, custoso e demorado para o sucesso e a segurança financeira. O programa de maior faturamento para a Rede Globo e para a Rede Record é o reality show de cada uma: Big Brother Brasil e A Fazenda. Agrada ao patrão, agrada ao povão. Recompensa à sociopatia A sociopatia é um desvio comportamental caracterizado por atos de natureza anti-social, não acompanhados de arrependimento, culpa ou remorso, e geralmente precedidos de avaliação fria e calculista da situação, centrada nos benefícios pessoais em detrimento do bem-estar alheio. A incapacidade de se colocar na pele da outra pessoa (a empatia) e de sentir afeto por ela (a conexão emocional) são as marcas emocionais da sociopatia.
  • 27. A categoria pode abranger desde os tradicionais vilões da ficção e das telenovelas, e os monstros humanos da vida real, até os políticos que desfalcam o erário sabendo que aquele dinheiro seria destinado à educação, à saúde, ao transporte ou a outro benefício concreto para a sua comunidade. "Eu fiz isso por curiosidade há dois anos atrás: as últimas 80 capas da Veja, eu te digo uma coisa, se não tinha ali 60% de sociopatas, pelo menos 40% tinha." (Ana Beatriz Barbosa Silva, psiquiatra.) http://www.youtube.com/watch?v=1wq49iB3tjg Uma das verdades da ficção – e também da vida real – é a superioridade do comportamento não- verbal (os atos e os gestos) sobre o comportamento verbal (a fala), quando se deseja conhecer quais valores motivam uma pessoa. Quando a mais importante revista semanal brasileira privilegia sociopatas em suas capas, ela está transmitindo uma mensagem e assumindo um valor, assim como o faz a mídia em geral ao elevar as subcelebridades a ideais humanos. A mensagem: "Quer fama? Olhe aqui como conseguir". Numa época em que os vilões se confundem com os heróis, em que chefes do crime organizado, político ou empresarial são pilares da sociedade, a transformação (não assumida) de sociopatas e psicopatas em heróis é um passo que não destoa do contexto. TENDÊNCIAS MORAIS Contradição estrutural entre os valores assumidos e os praticados Das tendências anteriores se deduz esta. Os valores defendidos na prática pela imprensa e pela mídia não concordam com aqueles assumidos verbalmente por seus profissionais. Há várias versões do juramento do jornalista profissional. Algumas, bem genéricas: Exemplo 1 "Juro cumprir minhas obrigações como jornalista dentro dos princípios universais de justiça e democracia, coerente com as ideias de comunhão e fraternidade entre os homens, para que o exercício da profissão redunde no aprimoramento das relações humanas que resultará na construção de um futuro mais digno, mais justo, para que os que virão depois de nós." Exemplo 2 "Juro, como profissional de Comunicação Social, lutar pela liberdade de pensamento e expressão e agir de acordo com os princípios éticos. Como jornalista, prometo respeitar os outros como a mim mesmo, empenhar-me na construção da solidariedade humana e agir honestamente na busca pela informação. Dessa forma, assumo o compromisso de ter na sociedade a fonte e o fim principal dos bons frutos do meu trabalho e remover os obstáculos para que todos compreendam a importância da comunicação para a sociedade e para a humanidade. " Esta, entretanto, é problemática por causa do seu terceiro parágrafo: Exemplo 3 "Juro, no exercício das funções de meu grau, assumir meu compromisso com a verdade e com a informação. "Juro empenhar todos os meus atos e palavras, meus esforços e meus conhecimentos para a construção de uma nação consciente de sua história e de sua capacidade. "Juro, no exercício do meu dever profissional, não omitir, não mentir e não distorcer informações, não manipular dados e, acima de tudo, não subordinar em favor de interesses pessoais o direito do cidadão à informação." Este manual não seria possível se os princípios do terceiro parágrafo recebessem, na prática, a atenção devida. Sendo direto: não haveria o PIG. O uso da atividade profissional do jornalismo como
  • 28. meio para atingir objetivos, e não para informar, "construir a solidariedade humana", "aprimorar as relações humanas" e outras generalizações espertamente imprecisas, é a marca da atuação do PIG e, em geral, do jornalismo praticado na maioria dos países. A bela cerimônia do juramento do jornalista profissional é, em muitos casos, o último momento de contato com aqueles ideais. A comparação do conteúdo dos livros e das aulas de um curso de jornalismo com a prática dessa profissão chega a surpreender, quando comparada com a mesma situação em outras profissões. O médico, por exemplo, realmente realiza aqueles exames, procedimentos e intervenções que são ensinados nos livros e no curso profissional. O engenheiro, idem, quanto aos conhecimentos de sua atividade. Compare, na média, o desempenho de vários profissionais em temos de ética, competência e compromisso social. Agora imagine se houvesse, entre os outros profissionais, um descompasso tão grande entre o ensino e a prática quanto o verificado na categoria dos jornalistas. O pão quentinho da padaria é pão e sai quentinho – porque, segundo um colega brincalhão, não foi feito por um jornalista. Se analisássemos a situação severamente, com olhos idealistas, poderíamos até dizer que os jornalistas da Grande Mídia nacional, por sua própria iniciativa, tornaram-se uma subcategoria profissional, a milhas de distância das demais, em termos de ética, competência e compromisso social. Mas esta não é a nossa função. Os conteúdos estranhos à realidade (e opostos aos valores assumidos) vêm de várias fontes: . A posição do veículo. . Os interesses empresariais do veículo. . Os interesses empresariais ou políticos alheios, dos quais o veículo é representante. . A posição do jornalista. . A necessidade de adaptar a notícia ao público-alvo. O sentido ético do jornalismo vai dos fatos para a notícia: a notícia está subordinada aos fatos e, portanto, ela possui valor denotativo da realidade. O sentido aético vai da intenção prévia para os fatos e daí para a notícia: a notícia está subordinada à intenção e, portanto, ela (a notícia) possui valor ilustrativo da intenção e pouco valor denotativo quanto aos fatos. A contradição de valores se dá também no nível da imagem pública: em seu trabalho, o jornalista defende valores politicamente corretos, mas pauta sua vida por valores opostos. O contraste se torna explícito, às vezes, por algum descuido lamentável, prejudicando a nossa imagem ante a opinião pública. Um exemplo recente: "Que merda: dois lixeiros desejando felicidades ... do alto de suas vassouras. Dois lixeiros... o mais baixo na escala do trabalho". (Boris Casoy.) http://www.youtube.com/watch?v=0H9znNpeFao Outro exemplo, mais antigo (1998): "Isso é coisa de viado" (Pedro Bial). http://www.youtube.com/watch?v=4U7fdjmh9wk Este exemplo é de 2008. Durante a transmissão da Festival Folclórico de Parintins, no Bumbódromo, o apresentador José Luiz Datena revelou o que realmente pensava e sentia sobre o espetáculo (achando que o áudio não estava sendo transmitido) – uma posição bem diferente das afirmações elogiosas feitas antes e depois destas falas: http://www.youtube.com/watch?v=eLJJ2TYtAT8 * * *
  • 29. Observe como as tendências reveladas acima integram-se perfeitamente com a visão do jornalismo como linha fundamental do jogo do mercado, da influência e do poder. Nesse contexto de relaxamento profissional é fácil inserir notícias de interesse desse ou daquele grupo, deturpar declarações e posições de grupos adversários, esconder fatos incômodos, promover causas e situações favoráveis a um ou outro lado – enfim, manipular a realidade no sentido dos interesses do manipulador. E a opinião pública, acostumada a esse nível de desempenho profissional, treinada a esperar mais do mesmo, quando não uma intensificação desse processo de degradação jornalística, ou cai na armadilha ou reclama inutilmente porque no jogo só entra quem tem cacife. Só recentemente o chamado "grande público" conseguiu o seu cacife – a internet, a grande novidade desse jogo –, cuja atuação já se revela preocupante. Outra vantagem do conteúdo alienante e fútil oferecido pela mídia ao grande público é sua função de atrativo irresistível, conveniente desvio de atenção das jogadas que se desenvolvem nos bastidores da sociedade – e que acabam influenciando de maneira decisiva a vida cotidiana da população entretida com futilidades. VERDADES INCONVENIENTES SOBRE O NOSSO PÚBLICO Muito se fala, especialmente na blogosfera, sobre os defeitos da Grande Mídia. Somos vitrine, por isso é fácil acertar pedras em nosso vidro fumê (que esconde estrategicamente os bastidores). Pouco ou nada se fala sobre os defeitos do público – e eles são muitos. Mas não é nossa função apontar esses defeitos, mesmo quando somos atacados. Nosso alvo é sempre aquele que poderá nos trazer algum benefício. Incompatibilizar-se com a população significaria entregá-la ao "outro lado". Lembre-se: são eles que compram, são eles que consomem, são eles que acessam, são eles que votam. Um exemplo arriscado: "Brasileiro só sai da abulia quando soldados e voluntários roubam flagelados. Não são piores que pais da pátria que surfam na marolinha sob a mansidão do rebanho que paga a conta." (Augusto Nunes.) http://arquivoetc.blogspot.com/2008/12/augusto-nunes-sete-dias_21.html Aqui, o jornalista não só criticou indiscriminadamente os brasileiros (de quem dependemos para nossos objetivos), como também associou-os em ruindade ao nosso inimigo político. Esse tipo de provocação só cabe nos textos dos clowns (palhaços) e dos cães-ferozes da mídia, dos quais o leitor espera tudo: o ataque se transforma em riso, ou então o leitor entende que, como no caso acima, brasileiro refere-se aos outros brasileiros, e não a ele, leitor, e ao jornalista, impolutos integrantes da elite moral da nação. Outros exemplos 1. "Aprendam os que ainda não sabem: eu não dou a menor pelota para a massa, para o homem- massa, para a grita das ruas. Eu quero que a massa se dane!" (Reinaldo Azevedo.) http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/eu-quero-que-a-massa-se-dane/ 2. "O verdadeiro analfabeto brasileiro é o eleitor." (Guilherme Fiuza.) http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza/2009/11/09/dilma-e-inocente/ * * * Conhecer os defeitos do público é, na verdade, o caminho para usá-los em nosso benefício – eis a única razão para incluir este item no manual. Jamais acuse o público, apontando-lhe os defeitos óbvios listados a seguir.
  • 30. Foco psicológico no presente Não é à toa que se associa o povo brasileiro às ideias de vida, emoção, intensidade, desfrute. É um povo que, existencialmente, vive no presente. Esse foco temporal tem duas desvantagens. A primeira é a tendência ao imediatismo, que leva o brasileiro a não avaliar as consequências dos atos presentes; a reações emocionais rápidas, não mediadas pelo pensamento; e à facilidade de ser manipulado pela apresentação de fatos aparentemente convincentes. A segunda desvantagem é a dificuldade de lembrar o passado, que leva o brasileiro a não fazer as relações necessárias de causa e efeito entre seu presente e seu passado (vide o proverbial esquecimento dos candidatos em quem ele votou, poucos meses depois do voto); a desconsiderar as lições do passado em suas avaliações; e à facilidade de ser manipulado pela apresentação de fatos supostamente ocorridos no passado (que ele não lembra), como base de um argumento interesseiro. As técnicas de rodízio de escândalos e de repetição de mantras, entre outras, são de certo modo uma resposta inteligente à facilidade de esquecimento do brasileiro. A técnica de reinterpretação positiva do passado também se baseia nessa tendência, neste caso para impor ao fato esquecido um novo significado, favorável aos nossos interesses. Emocionalismo O ser humano é um animal emocional. O brasileiro, nesse aspecto, é humano como poucos. Essa familiaridade com as emoções leva à ânsia pela estimulação afetiva. A demanda gera a oferta: baixarias televisivas, polêmicas forjadas, "o bicho vai pegar", instigação das lágrimas nos entrevistados, quadros de exploração paternalista da pobreza, tragédias superdimensionadas, declarações fortes, medidas severas, o ataque pelo ataque, críticas ferozes, xingamentos, escândalos, "isso é uma vergonha" – pratos feitos com a preferência nacional, entregues à mesa do lar para degustação ávida. Centrada no emocionalismo, qualquer ficção agradável ao povo e útil a nossos interesses passa – e esta é uma mentirinha boa de verdade. Ignorância histórica Enumere as contribuições relevantes que serão deixadas pelos principais jornalistas, colunistas e parajornalistas do PIG – aquelas que não estarão datadas daqui a 5 ou 10 anos, ou seja, que não se relacionam ao dia-a-dia do jogo da influência e do poder. Compare essa produção com a de jornalistas importantes de outros países, como os Estados Unidos. A falta de cultura e erudição dos nossos representantes da mídia é notória, mas é também notória a ignorância histórica da população brasileira: não conhece o passado da própria nação nem se interessa em conhecê-lo. Trata-se de um defeito tão evidente que nem é necessário comentá-lo. Incapacidade intelectual e passividade física Um de nossos principais representantes na mídia televisiva definiu com precisão o brasileiro médio: "Depois de um simpático 'bom-dia', [William] Bonner informa sobre uma pesquisa realizada pela Globo que identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se que ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por exemplo. Na redação, foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. É preguiçoso e tem o raciocínio lento." (Laurindo Lalo Leal Filho.) http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=358asp010
  • 31. Acertou na verdade, errou na escolha dos receptores da verdade. Repetindo uma verdade óbvia: muitas verdades da vida são politicamente incorretas. Por isso, cuidado para não reconhecê-las na frente de estranhos. Os mais cuidadosos fazem ainda melhor: jamais enunciam essas verdades, embora sejam exemplos vivos de sua existência. Aja com base nelas, sem assumi-las verbalmente. A tendência à passividade física, mesclada com certo grau de masoquismo cívico, é reconhecida até mesmo por apoiadores do "outro lado", como se pode ler neste comentário: Horridus Bendegó disse:18/12/2009 às 19:31 "Para um país que já teve congelamento de depósitos bancários e não houve nenhuma revolução, não me admira que um povo com mansidão bovina (só para questões políticas) tolere mais um dispositivo (artifício ilegal) que afronta o Estado de Direito." http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/12/18/a-pec-dos-precatorios/#comments Civismo não é indignação udenista, mas participação política efetiva. Graças à Web, essa possibilidade, paradoxalmente, ficou mais longe da população em geral. Antes, o povo não tinha nenhuma válvula de escape de sua indignação: quando ela se acumulava, saía às ruas. Hoje, no minuto seguinte ao de uma frustração, raiva ou mera discordância intelectual, lá está o internauta teclando e aliviando a pressão, que não tem tempo de se acumular. Quando um protesto é marcado, quase ninguém comparece. Para quê, se já disseram o que tinham a vociferar, se já xingaram o suficiente, se já sentiram que sua opinião "contou", de alguma forma? A incapacidade intelectual é o correspondente mental da passividade física. Multidões acompanham caladas verdadeiras nulidades dizendo bobagens nos palcos de milhares de templos religiosos recentemente construídos no País. Ninguém se levanta e diz: "Não concordo". Todos temos em nossa família ao menos um exemplo de pessoa supostamente inteligente que "acredita" em seus jornais preferidos ou nos telejornais de sua predilação. A facilidade com que o PIG realizava seu trabalho de convencimento e influência, antes do Governo Lula, surpreendia até os mais entusiasmados propagandistas do poder da mídia. Os jornalistas se adaptam ao nível intelectual do público quando escrevem deste jeito (chamada no site da revista Veja em 19/12/2009): Repare em "blábláblá" (detalhe adicional: três acentos numa palavra) e "pé frio" (detalhe adicional: sem hífen). Não é nossa função corrigir defeito algum do público, mas sim aproveitá-lo. Aproveitamos a passividade, por exemplo, quando caprichamos na manchete, sabendo que a maioria dos leitores não passará dela. Aproveitamos a incapacidade intelectual quando usamos qualquer argumento troncho para justificar um ataque ao "outro lado" ou uma defesa do "nosso lado". É simples assim. Masoquismo cívico Decorre das tendências anteriores esta conclusão: o brasileiro é, civicamente, um masoquista. Ele se comporta exatamente do modo como deveria, se tivesse interesse de se prejudicar politicamente e de prejudicar a própria nação, socialmente. Deixa-se enganar com facilidade, aceita ideias e argumentos absurdos que o prejudicam, não defende seus direitos com inteligência, esperteza ou, até mesmo, com a violência devida, não pressiona seus
  • 32. parlamentares (que nem sabe quais são), reclama sem vontade de transformar a reclamação em ato – enfim, só consegue manter a imagem de cidadão consciente porque elimina tudo isso da própria consciência e nós, da imprensa, não temos a menor intenção de fustigá-lo por tendências de que tanto nos aproveitamos. Parcialidade Muito se condena a imprensa por sua parcialidade. Pouco se comenta sobre a parcialidade típica do brasileiro. Nem é preciso recorrer ao futebol, no qual ganhar um jogo contra o maior rival, aos 51 minutos do segundo tempo, num lance em que o jogador está impedido e usou a mão é o sonho supremo de muitos torcedores. Nas questões sociais e políticas, o brasileiro tende a se fechar em sua escolha, lendo somente aquilo que corrobora suas posições, eliminando jornais, rádios, TVs, sites e blogs que destoem de suas preferências, e evitando ao máximo a famosa dissonância cognitiva, isto é, a percepção de que há pessoas e ideias diferentes no mundo. Essa forma de, mais do que puxar a sardinha, inclinar o mundo para o seu lado, pode ser aproveitada para fixar posições favoráveis ao nosso interesse, até porque a teimosia é um componente associado à parcialidade. Se alguém vem para o "nosso lado", tende a ficar nele. Além disso, torna-se mais fácil realizar uma aplicação bem-sucedida de qualquer das técnicas deste manual porque a parcialidade é acrítica: se a opinião que transmitimos é concordante com a da pessoa parcial, que a lê, ela aceitará as maiores barbaridades lógicas e as mais flagrantes mentiras – apenas porque reforçam a sua posição já escolhida.
  • 33. O PIG E O JORNALISMO A VISÃO DO PIG SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DO JORNALISMO Se você tem mais de 18 anos, já viveu o suficiente para saber que toda sociedade comporta um conjunto de práticas socialmente assumidas e outro conjunto de práticas sabiamente ocultadas. E que esse último conjunto de práticas é aquele que realmente explica o funcionamento da sociedade. Se você pratica o jornalismo há mais de um ano, já conheceu o suficiente para saber que as técnicas e os valores ensinados no seu curso de formação profissional são importantes no contexto universitário – e só. Eles são o conjunto de práticas socialmente assumidas pelos profissionais, mas não o conjunto de práticas ... praticadas. Falando sem rodeios: a função social do jornalismo não é informar corretamente, servir aos interesses da população ou fiscalizar o governo – estas são funções secundárias, subordinadas a interesses maiores. O jornalismo é uma das mais importantes invenções humanas na luta pelo poder empresarial, social e político. E como tal nós o usamos em nossas atividades profissionais, com maestria. A SITUAÇÃO ATUAL O adjetivo "preocupante" é suave para descrever a situação atual do jornalismo e da imprensa, não só no Brasil como em todo o mundo. Vivemos uma fase de crescente desprestígio (ou decrescente prestígio, melhor dizendo), fustigados pelas novidades do mundo digital, pelo abandono de anunciantes, pelo deslocamento do público para a internet, pelo descompasso entre nosso conteúdo (tido como defasado) e o conteúdo das novas mídias, e pelas dificuldades financeiras decorrentes desses fatores. A tábua de salvação representada pelos contratos com o Estado só funciona em certos casos e mesmo ela está sendo alvo de fiscalização inédita. Blogueiros e comentaristas virtuais se transformaram em autoridades sociais que às vezes ameaçam pontualmente nossos interesses, processo cujo desenvolvimento pode trazer ameaças mais do que pontuais. A identificação de nossas marcas com antigas famílias do jornalismo, com políticos de vida polêmica ou com empresários suspeitos de crimes é outro fator prejudicial à nossa imagem. A surpreendente perda de influência da Grande Mídia no Brasil tornou-se um assunto público por causa dos resultados nefastos de nossa atuação durante o Governo Lula. Depois de 7 anos inteiros de ataques, pouco se conseguiu exceto a eliminação de pessoas-chave da administração federal, atingidas por escândalos falsos ou verdadeiros. Um sinal objetivo desse fracasso foi a pesquisa, divulgada em 1/1/2010, que revelou o presidente Lula como o "brasileiro mais confiável" em todo o país – justamente o nosso alvo principal: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/01/01/lula-o-brasileiro-mais-confiavel-aponta- datafolha-254044.asp Repare que, na Região Sudeste, um de nossos expoentes veio em segundo lugar: "Entre os mais escolarizados e mais ricos, o presidente fica em quinto. Nesse recorte, Chico Buarque lidera, seguido por William Bonner, Caetano Veloso e Roberto Carlos." (Fernando Barros de Mello.) São dados frustrantes e animadores. Frustrantes porque revelam que erramos, animadores porque indicam onde poderemos acertar. Nosso trabalho vem sendo feito por jornalistas, colunistas e parajornalistas que são muito conhecidos do público, e cujo viés político é mais do que sabido. Alguns deles ficaram marcados por erros crassos de avaliação, previsões catastróficas não realizadas, repercussão de dossiês falsos e outros problemas menores. Tudo que é demais cansa. A rotina desgasta. Talvez esteja na hora de repensar a estratégia de
  • 34. mídia para que o leitor não chegue ao ponto de pensar: "Ah, não, de novo. Sempre aqueles gatos- pingados, os mesmos de 10 anos atrás". Por outro lado, o resultado animador no Sudeste, em que um simples âncora de TV (da nossa mais fiel Rede) é visto como mais confiável que o presidente, sugere uma adaptação interessante dessa estratégia. Nossos expoentes na mídia estão identificados justamente com o Sudeste, onde foi registrado o único resultado positivo. O erro provavelmente não está nesses representantes, cujo trabalho foi bem-sucedido em sua região de influência, mas na difusão do trabalho deles para outras regiões do País. Suas colunas e matérias são publicadas nacionalmente, e aí está o descompasso: pessoas que nunca foram em certas regiões e que (verdade seja dita) nem se interessam por elas, querem influenciar seus habitantes. Os textos, em forma e conteúdo, não estão adaptados ao jeito próprio de cada região, ao linguajar, aos valores, às coisas locais, nada. Tudo transpira Sudeste em nossas peças de influência divulgadas no Centro-Oeste, no Nordeste, no Norte... O Governo Federal vem fazendo uma diversificação bem-sucedida na distribuição de verbas para publicações regionais e adaptando sua mensagem a cada região. Nosso erro foi não ter percebido essa necessidade antes dele. Trecho de Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo, de André Singer, 2009. http://www.slideshare.net/LuisNassif/razes-sociais-e-ideolgicas-do-lulismo?src=embed Falar a língua dos apoiadores do "outro lado" será a próxima evolução da estratégia do PIG. Dois exemplos ilustrativos. 1. Alguém minimamente sensato conseguirá ler sem estranheza este primeiro parágrafo do editorial intitulado "Erro de avaliação", publicado no jornal O Globo em 12 de janeiro de 2010? "Na volta das curtas férias de virada de ano, o presidente Lula está sendo obrigado a usar toda a experiência de administrador de ambiguidades para manter sem fissuras irreversíveis um governo assentado em eclética aliança políticopartidária, formada por frações dos mais diversos quadrantes da geografia ideológica. Sempre que o Planalto pende para um dos lados, e rompe este equilíbrio instável, os sismógrafos registram o movimento." http://arquivoetc.blogspot.com/2010/01/erro-de-avaliacao.html Se o presidente fala a linguagem do povo, alguns editorialistas falam a linguagem das nuvens. A situação é grave também entre os especialistas, estes por questões de deformação e costume profissional. Ao tentarem baixar seu texto, das nuvens intelectuais, conceituais e outras que tais até o nível do cidadão comum, atrapalham-se e demonstram imperícia constrangedora, semelhante à de um intelectual de óculos grossos querendo seduzir uma adolescente gostosona.
  • 35. Eis o antropólogo Roberto DaMatta lamentando a velhice: "Coisa triste: um par de seios jovens jamais vão pulsar novamente nas nossas mãos tortas de artrite." ("Por que morremos?") http://www.sombradesonhos.blogger.com.br/2003_10_01_archive.html Não vão mesmo, se a técnica da sedução for tão inepta quanto a técnica de convencimento intelectual. Um exemplo. Eis o antropólogo Roberto DaMatta ensinando ao cidadão brasileiro como deve lidar com os fantasmas do passado cultural, como a covardia e a corrupção. Ele aconselha uma variante americana da tradicional técnica "Buuu!": "Tal como no plano político a corrupção e a má-fé são o fantasma de um passado familístico e hierárquico ainda não resolvido. "Nos Estados Unidos, porém, quando surge um fantasma, como ocorreu com uma amiga americana numa casa assombrada na Universidade de Brown, ela – ao ver-se em plena madrugada diante do espectro de um jovem que morrera afogado e ficara ligado à residência que hoje serve de mini-hospedaria para professores visitantes – não hesitou em perguntar em alto e bom som um 'what do you want?' (o que é que você quer?). O enfrentamento, contou-me, dissipou imediatamente a assombração." http://arquivoetc.blogspot.com/2010/01/roberto-damatta-coluna-assombrada.html Se alguém pergunta "O que você quer?" a um corrupto brasileiro, ele desaparece… ou faz uma proposta amplamente vantajosa para os dois lados? De tudo isso fica a certeza de que precisamos aperfeiçoar a nossa capacidade de comunicação com o grande público – enquanto ainda conseguimos falar com ele. Além dessa diversificação de nomes, estilos e conteúdos, contamos ainda com a entrada de novos militantes do "nosso lado" para trazer, com a sua criatividade, técnicas originais de ataque e defesa. Nosso repertório precisa variar e crescer, sempre. Por isso, a primeira página do Curso indica que esta já é a Terceira Edição. Outras vieram antes e outras virão para ensinar novas técnicas a novos e antigos integrantes do PIG. Para terminar, uma esperança no nível macro da Política. Acuada, em vários países a mídia começa a experimentar um novo modelo de atuação, movendo-se para dentro dos outros poderes da República. O Quarto Poder, além de ser o fiscalizador e, em muitas situações, o orientador de outros poderes (como o Legislativo), lentamente vai percebendo que, dependendo das circunstâncias, é mais vantajoso ser o poder do que influenciá-lo. Apenas como ilustração, o premiê italiano Silvio Berlusconi, dono de um império das comunicações, e o estadunidense Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, deram esse passo com sucesso. Outras tentativas fracassaram, como o golpe de Estado de 2002 na Venezuela, patrocinado pela mídia do país, em especial a RCTV, que preferiu instalar um testa de ferro temporariamente no poder. Soluções antigas já não estão disponíveis: "Está tudo lá, no livro 1964: A Conquista do Estado, de Rene Armand Dreifuss. O golpe marcou a conquista do Estado por um grupo de empresários nacionais e estrangeiros, aliados aos militares e a Washington, cujo principal resultado foi a supressão de direitos políticos e econômicos já conquistados, a supressão das ferramentas que poderiam ser utilizadas para novas conquistas e o arrocho salarial." (Luiz Carlos Azenha.) http://www.viomundo.com.br/opiniao/o-cidadao-boilesen/ Mas o novo caminho está aberto, e será interessante (ou assustador – só depende de nós) verificar o que nos reserva o futuro.
  • 36. OS VÁRIOS JORNALISMOS DO JORNALISMO Em nossa luta cotidiana nenhum apoio deve ser recusado, por critério algum: ético, moral, legal, profissional etc. Por isso, estamos sempre receptivos à exploração das várias formas de fazer jornalismo, das mais nobres às mais baixas. Cada camada da população (o povão, a classe média, as classes mais instruídas) prefere uma dessas formas; portanto, convém oferecer-lhes todas. 1. A imprensa dita marrom. Sua função é fazer o trabalho sujo, batendo abaixo da linha da cintura. Apetece ao povão, que gosta de emoções fortes, situações de conflito, paixões à solta. Tudo é válido: sensacionalismo, veiculação de mentiras, calúnias, insinuações maldosas, ataques injustificados, geralmente a serviço de interesses inconfessáveis mas válidos na luta pela influência e pelo poder. 2. A imprensa engajada. Agrada a quem prefere o jornalismo livre das amarras da ilusória obrigação de imparcialidade. É representada por publicações assumidamente defensoras do "nosso lado" e por colunistas (geralmente parajornalistas) que dão um toque de imprensa marrom a certos cantos de jornais ou revistas, a momentos de telejornais e a páginas de portais da Web. 3. A imprensa "séria". Os órgãos tradicionais, formadores da Grande Mídia, têm a reputação de seriedade e credibilidade. Sem eles seria impossível fazer o trabalho de convencimento da classe média e o trabalho de representação dos interesses das classes mais abastadas. Sua função de formadores de opinião no País, entretanto, ficou abalada a partir do Governo Lula, é forçoso reconhecer. 4. Imprensa oficial. Divulga fatos e notícias de interesse do órgão oficial a que o veículo está subordinado, visando à propaganda positiva de suas qualidades e realizações. 5. A imprensa alternativa. Atualmente, essa imprensa corresponde à internet. Blogueiros do "nosso lado", nossas equipes de comentaristas, nossos criadores e difusores de campanhas de e-mails, entre outros, sustentam essa nova frente de luta, num meio do qual vem a principal ameaça à influência e ao poder do PIG. Isso porque, do "outro lado", um conjunto de indivíduos usa a Web para veicular opiniões e interpretações diversas daquelas que interessam ao "nosso lado", atuando como novos formadores autônomos de opinião, às vezes com mais eficiência que seus rivais do mundo real. 6. O jornalismozinho. Não se trata, na verdade, de um outro campo do jornalismo, mas de uma forma nova e disfarçada de praticar o jornalismo engajado, na qual se evitam duas armadilhas: assumir o engajamento e cair no jornalismo marrom. Essa forma inovadora foi sendo gestada lentamente para atender à sensibilidade de um público mais refinado: em vez de baixaria, ironia; em vez de xingamento, recado; em vez de acusações diretas, insinuações. O neologismo "jornalismozinho" surgiu da forma diminutiva com que se denominam as várias técnicas de atuação desses companheiros: a ironiazinha, a piadinha, a criticazinha, o debochinho, a pirracinha, a picuinha, o estilo emburradinho – e vai por aí. O excelente efeito obtido inicialmente nos blogs de jornalistas profissionais que foram pioneiros na atividade online transferiu-se quase inconscientemente às suas colunas de jornais e às de seus colegas, servindo de saudável contraponto à atuação mais aberta e violenta de parajornalistas, com seus estilos clown, cão-feroz etc. * * * Para entender melhor as várias formas de atuação midiática do PIG, imagine que dentro de uma mesma pessoa convivem aspectos infantis (mais ligados à emoção), aspectos adultos (mais ligados à razão) e aspectos sociais ou culturais (mais ligados à moral). Metaforicamente, teríamos em nosso interior uma criança, um adulto e uma autoridade moral (de funções semelhantes às do pai).
  • 37. Nesse enquadramento, as várias formas de atuação do PIG sempre resultam na estimulação preferencial de uma dessas três partes da personalidade: a imprensa marrom (ou seus procedimentos típicos), a imprensa engajada e parte da imprensa alternativa cuidam do lado "criança" ao proporcionarem companhia confortadora e incentivarem a liberação das emoções fortes; a imprensa séria e parte da imprensa alternativa cuidam do lado adulto, ao comunicar os hard facts, fatos e argumentos "frios", supostamente lógicos, que sustentam os interesses do "nosso lado"; e o jornalismozinho cuida do lado pai, ao validar uma posição de autoridade e superioridade moral que justifica o lançamento contínuo de dardos envenenados a quem se encontre em posição inferiorizada (o pessoal do "outro lado"). Essas formas de atuação podem ser exercitadas no mundo real ou no mundo virtual. Evidentemente, quem já apresenta uma propensão a ver a realidade de um desses três modos tende a preferir o estímulo que mais lhe agrada e mais incentive a recorrência de seu comportamento padrão. Observe-se também que o povão, caracterizado pela afetividade mais solta, tende a preferir a primeira opção; a classe média, de comportamento mais controlado (pelos valores da elite) e supostamente responsável, opta pela segunda alternativa; e as classes altas se deliciam com as técnicas do jornalismozinho.