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AS INTERFACES ENTRE FILOSOFIA E PEDAGOGIA
CABRAL, Carmen Lúcia de Oliveirali
TEODÓSIO, Hosiene Araújoii
RESUMO
No período antigo e medieval não havia uma separação entre filosofia e educação, entretanto
na modernidade, a ruptura entre esses campos de saber fez com que o discurso filosófico
ocupasse posição secundária na elaboração dos sistemas educacionais. No período
contemporâneo o vínculo entre Filosofia, Pedagogia e a Educação tem sido re-estabelecido
através da Filosofia da Educação; as separações existentes entre filosofia e pedagogia nos leva
fazer um exame teórico-metodológico, caracterizando os aspectos específicos em cada época
e em cada sociedade, a partir de orientações teóricas de Dalbosco (2008); Saviani (1990);
Reboul (1971), Tomazetti (2001, 2003) entre outros. O propósito desse artigo é estabelecer
quais contribuições existem entre os campos da Filosofia e da Pedagogia, levando-se em
consideração as tendências teóricas que caracterizam esses dois campos do conhecimento,
demonstrando suas implicações para a formação docente.
Palavras-chave: Filosofia. Educação. Pedagogia. Formação docente. Filosofia da Educação.
ABSTRACT
In ancient and medieval period there was a separation philosophy and education, though in
modern times, the gulf between these fields of knowledge has made the philosophical
discourse occupy a secondary position in the development of education systems. In the
contemporany period the bond between Philosophy, Pedagogy and Education has been re-
established through the philosophy of education, the separation between philosophy and
pedagogy leads to a theoretical and methodological review, featuring the distinctive features
in each and in every society, from theoretical approaches to Dalbosco (2008); Saviani (1990);
Reboul (1971); Tomazetti (2001, 2003) among others. The purpose of this paper is to
establish what contributions are among the field of Philosophy and Pedagogy, taking into
account the theoretical nature of these two fields of knowledge, demonstrating its implications
for teacher training.
Keywords: Philosophy. Education. Pedagogy Interfaces. Philosophy of Education.
Introdução
Dentro da relação entre filosofia e pedagogia o campo filosófico constitui-se como o
mais antigo tendo sua origem atribuída ao final do século VII e início do século VI a.C nas
colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto, sendo o primeiro filósofo Tales de
Mileto. A palavra filosofia é de origem grega composta pela junção das palavras Philo, que
significa amizade, amor fraterno, respeito e Sophia, que significa sabedoria assim, a filosofia
é entendida como sendo a amizade pela sabedoria e o filósofo visto como aquele que tem
amor pelo saber. Para Saviani (1990, p. 30) o filósofo é:
[...] um especialista do pensamento, [...] ele ‘não só pensa’ com maior rigor lógico,
com maior espírito de sistema, do que os outros homens, mas conhece toda a história
do pensamento, isto é, sabe quais as razões do desenvolvimento que o pensamento
sofreu até ele e está em condições de retomar os problemas a partir do ponto onde
eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução, etc.
Fazer filosofia é então estar em caminho, em busca; a consciência filosófica é uma
consciência inquieta, insatisfeita, presa a um ceticismo e não à posse de um saber absoluto.
Desde seu surgimento os filósofos os quais, “a História reconhece como os grandes
intelectuais que conseguiram expressar de forma mais elaborada os problemas das respectivas
fases de desenvolvimento da humanidade” (SAVIANI, 1990, p. 7), tiveram sua prática desde
a antiguidade vinculada a uma tarefa educativa, estabeleceram discussões referentes à
produção cultural humana como sendo algo a ser discutido dentro do campo filosófico tendo
em vista que “a filosofia, enquanto concepção de mundo formula e encaminha a solução dos
grandes problemas postos pela época que ela se constitui” (SAVIANI, 1990, p.7). Como meio
de entender a relação entre a filosofia e pedagogia a partir das reflexões filosóficas da
educação interrogamos: Quais interfaces existem entre os campos da filosofia e da
pedagogia? A pedagogia sendo considerado um campo de conhecimento específico
construirá com a filosofia um vínculo de natureza teórica?
Chauí (1997, p. 15) entende que:
A filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos
lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por
procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é
enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa
experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si
mesmas.
Através de tais caracterizações busca-se explicitar, discutir e analisar a natureza das
interfaces existentes entre os campos da filosofia e da pedagogia e que/ais contribuições
existem entre ambos, levando-se em consideração os objetos e finalidades das tendências
teóricas que caracterizam esses dois campos de conhecimento, demonstrando suas
implicâncias para a formação do educador através de uma abordagem teórico-metodológica.
Neste estudo, algumas tradições filosóficas foram privilegiadas em detrimento de outras, por
entendermos que alguns aspectos contribuem mais precisamente para caracterizar de modo
claro e objetivo à relação entre filosofia que “[...] nas sociedades civilizadas, determina os
processos educacionais e contribui na formação da imagem do homem e do mundo”
(DALBOSCO, 2008, p.5) e a pedagogia.
No contexto atual percebemos um envolvimento maior com os aspectos práticos da
educação do que com uma análise da teoria educacional. Logo, parti-se de questionamentos
do tipo “como”, “por que” e “para quê” é necessário haver uma distinção entre filosofia e
educação, analisando-se a presença e as contribuições dos grandes filósofos e seus sistemas
nas teorias e práticas do educador.
Como objetivos norteadores do estudo propõem-se: analisar os elementos centrais da
relação entre filosofia e pedagogia presentes nos escritos de filósofos e teóricos da educação,
que expressam as conexões entre esses campos de conhecimento; mapear os campos da
filosofia e da pedagogia, observando os aportes teóricos entre esses campos do conhecimento;
caracterizar a relação entre filosofia e pedagogia nos discursos clássico, moderno e
contemporâneo da filosofia e da educação com vistas ao esclarecimento da natureza da
interconexão entre esses campos de conhecimento; demonstrar como a relação entre filosofia
e pedagogia implica em uma relação necessária diante da finalidade entre ambas enquanto
campos de conhecimento; discutir a compreensão de que a filosofia apresenta uma dimensão
pedagógica intrínseca, bem como a reciprocidade da afirmação, demonstrada na formação e
atuação do educador.
A abrangência desta análise configura-se como sendo um estudo bibliográfico de
autores dos campos da filosofia e da educação; na aquisição dos dados utilizaram-se diversas
bibliografias, documentos e textos escritos encontrados em bibliotecas, acervos públicos,
internet e outros meios de informação cabíveis que se fizeram valorosos para a ampliação do
conhecimento sobre o tema em questão. A escolha por esta metodologia deu-se devido à
natureza da pesquisa, na qual buscamos abstrair uma gama de informações que se relacionam
com a constituição da formação do educador e qual/quais suas relações com o conhecimento
filosófico.
2 Conceitos articuladores entre filosofia, educação e pedagogia
Assim como a Filosofia a Pedagogia surgiu na Grécia Antiga sendo a palavra
pedagogia deriva de paidós (criança) e agogé (condução), etimologicamente a pedagogia
configura-se como sendo a condução da criança ao saber. Devido a essa relação intrínseca
desde a Grécia Antiga até os dias atuais há certo descaso com o campo pedagógico limitando
a função do pedagogo como aquele responsável pelo cuidar e zelar da criança nos seus
primeiros anos de vida, alguém responsável por “aprimorar” a educação que a criança recebe
em casa. Tal definição gerou um grande desafio para o campo pedagógico constitui-se
enquanto ciência; as obras “O Tratado Sobre a Educação”, de Luís Vives do século XVI e
“Didáctica Magna” de Comenius do século XVIII contribuíram para elevar a pedagogia à
categoria de ciência. Como lembra Reboul (1971), as ciências humanas estudam o objeto da
educação, em particular a criança, quanto à sua natureza, ao seu meio e á sua evolução. A
pedagogia estuda os meios da educação. A filosofia reflete sobre os seus fins: porque é que se
educa? Qual o critério de uma educação bem sucedida?
Ao perceber-se a relação de interdependência entre os campos da filosofia, educação
e pedagogia propõe-se uma discussão de cunho filosófico como forma de conhecer e refletir
sobre a importância dos filósofos. Saviani (1990, p. 7) entende que a produção intelectual dos
filósofos tidos como clássicos é considerada como sendo “[...] um patrimônio cultural da
humanidade, já que suas formulações embora radicadas numa época determinada extrapolem
os limites dessa época, mantendo o seu interesse mesmo para as épocas ulteriores”. Suas
reflexões favorecem para se compreender o processo educativo e as relações entre a filosofia
e a educação bem como a contribuição destas reflexões no processo de formação do ser
docente, entende-se para tal, a contribuição da filosofia através da filosofia da educação no
campo educacional. De acordo com Tomazetti (2003, p. 19) refletindo sobre “o dever-ser da
educação, filósofos como Platão, Aristóteles, Erasmo. “Montaigne, Locke, Kant, entre outros,
tornaram a Filosofia referência primeira da Pedagogia”. Seguindo está linha de raciocínio
Saviani (2002, p. 29) afirma que “a Filosofia seria fundamental para assegurar a promoção da
reflexão, não uma reflexão qualquer, mas uma reflexão radical, rigorosa e global sobre os
problemas que a nossa sociedade apresenta”, nessa perspectiva entende-se que o refletir é uma
função pertencente ao campo filosófico.
Ao final do século XVIII com a Revolução Francesa a educação passa a englobar,
além de uma reflexão sobre a formação geral do homem, uma reflexão sobre a escolarização.
Em seguida a escola passa a estar inscrita no espaço político e o espaço privado do preceptor
cede lugar ao espaço público da escolarização. A princípio é atribuído aos filósofos o papel
de formar (educar) em um sentido mais amplo o que lhe configurava a ser o preceptor de uma
criança ou jovem, ou como alguém que se propõe a pensar a educação. Estes entendiam que a
escolarização, como forma de educação e de instrução, não merecia uma reflexão específica,
pois cabia ao preceptor educar os filhos dos ricos e a escola, que começava a se tornar
universal abrigava as crianças pobres. A partir de então a filosofia passa a exigir do educador
uma postura, segundo a qual, é necessário pensar e refletir sobre “o que” se faz para, então,
decidir de forma consciente a realização da ação educativa, entendendo-se que, caso esta
reflexão não se faça presente acarretará em uma ação educativa questionável quanto à
validade de seus fins. Por isso, podemos afirmar em concordância com Paviani (2008, p. 12)
que:
A filosofia, separada da pedagogia, assume a tarefa de justificar, pressupostos éticos
e epistemológicos de processos educacionais. Procura exercer um papel crítico em
relação à racionalidade instrumental e ao esclarecimento do pensamento pedagógico
em si. Os sujeitos da educação e as teorias pedagógicas, o fazer e o agir educativos
realizam-se dentro de uma dimensão filosófica global e não mais específica.
Desenvolve-se uma determinação filosófica que sustenta a concepção educacional
antes de qualquer reflexão típica de uma filosofia da educação.
Temos que um dos papéis principais da filosofia consiste em examinar criticamente
as disputas intelectuais de cada época e sugerir maneiras alternativas de ver as coisas, à
educação passa a ser estabelecida como uma prática humana, direcionada por uma concepção
teórica, a pedagogia se traduz como uma concepção filosófica do papel da educação, em
relação à sociedade e ao homem que vive nesta sociedade. Durante esse processo crítico
reflexivo faz-se necessário o estudo de problemas educacionais, tomando como base o que
alguns teóricos e estudiosos elaboram, para assim, sair do senso comum e poder desenvolver
uma consciência reflexiva que estará sempre em busca de respostas para as indagações que
surgirem.
Partindo-se da indagação sobre quais sujeitos desejamos formar e qual sociedade
desejamos construir por meio da prática educativa, entendemos ser necessário enquanto
educador promover uma prática reflexiva para que “agentes manipuladores” não venham a
interferir na atuação do educador.
Para Benincá (2008, p. 185) “[...] a consciência aproxima-se do conceito de
concepção de mundo, visto que possui o sentido do mundo. Detentora desse sentido, a
consciência pode orientar as ações dos indivíduos”. Então, a prática educativa deve ser vista
como qualquer outra prática humana, que, entretanto, não pode ser banalizada, Saviani (1990,
p.8) afirma que “[...] a prática pedagógica é sempre tributária de determinada teoria que, por
sua vez pressupõe determinada concepção filosófica ainda que em grande parte dos casos essa
relação não esteja explicitada”. Outro ponto de vista pode ser percebido em Severino (1990,
p.21) “[...] a educação é fundamentalmente uma prática social, a filosofia vai ainda contribuir
significativamente para sua efetivação mediante uma reflexão voltada para os fins que a
norteiam”.
Nessa perspectiva, compreendem-se as inter-relações entre os campos pedagógicos e
filosóficos como algo que possibilita ao educador e educando estabelecer relações entre a sua
prática e a teoria que o circunda.
3 Filosofia e Filosofia da Educação
É fato que a Filosofia da Educação para diversos autores não é considerada
Pedagogia, como fala Reboul (1971) a filosofia da educação não pergunta como curar a
dislexia, mas de onde vem a importância que se atribui ao fato de ler; não pretende melhorar
as relações entre pais e filhos, mas indagar a natureza da família, o seu valor, os seus limites.
Para Paviani (2008, p. 17):
Com a perda da evidência das relações entre a filosofia e a educação, a disciplina
filosofia da educação adquiriu função própria e paulatinamente tronou-se o elo entre
os dois mundos. A redução da filosofia a filosofia da educação fez com que essa
disciplina se tornasse um reduto de conteúdos, dentro de uma determinada
concepção filosófica. Então, nos compêndio, via de regra, a filosofia da educação é
classificada, conforme as tendências, de metafísica, de humanidade, de analítica, de
fenomenológica, de hermenêutica, de dialética, de marxista, de crítica e de outras
denominações. Na disciplina filosofia da educação (aliás, como ocorre em geral com
as filosofias do direito, da cultura, da linguagem, etc.), a educação é vista a partir de
uma perspectiva externa.
Verifica-se a partir de então a necessidade de haver uma filosofia da educação, da
mesma forma que existe uma filosofia do direito, uma filosofia da linguagem, filosofia da
arte, filosofia da mente, entre tantas outras filosofias. De acordo com Tomazetti (2003, p. 21)
“[...] na França, até o final do século XIX e início do século XX, a Filosofia da Educação
esteve associada à Pedagogia Geral; o saber filosófico sobre educação era parte integrante dos
estudos de Pedagogia”. No Brasil os manuais de Pedagogia dos anos de 1950 apresentavam a
Filosofia da Educação como pedagogia teórica ou como pedagogia filosófica; o termo
pedagogia serviu apenas para dar nome ao Curso, não configurando no currículo de formação
do educador uma disciplina de pedagogia geral.
Assim, decorrente deste contexto, o abandono do discurso filosófico como
fundamentação do saber pedagógico deu abertura para a legitimação das ciências da educação
no campo educacional constituindo-se o discurso próprio da Filosofia da Educação. Elisete
Medianeira Tomazetti (2001) em seu artigo Filosofia da Educação e formação de professores
em algumas universidades brasileiras entre os anos 40 e os anos 60 apresenta inicialmente a
construção da disciplina de Filosofia da Educação em nosso país partindo-se de três processos
simultâneos, são eles: Estatização do ensino, segundo o qual o Estado é tido como órgão
competente por manter a estrutura em torno da educação; a Institucionalização da formação
de professores, na qual compete a União criar instituições de ensino superior e secundário,
nos Estados e no Distrito Federal e aos Estados caberia a criação e manutenção do ensino
primário, do ensino profissional, por fim, fala em uma Cientifização da pedagogia, em que se
observa serem as Escolas Normais durante muito tempo as únicas instituições formadoras de
professores, baseadas em modelos tradicionais que com o advento das idéias escolanovistas
passam a ser revistos.
Verifica-se que a formação do educador e o seu papel diante da sociedade deverão
está pautada na formação de um educador autônomo e crítico, capaz de enfrentar os
problemas colocados pela realidade educacional de seu tempo e produzir respostas teóricas e
práticas a esses problemas por meio da pesquisa, o que faz com que o professor seja ele
próprio um pesquisador. Tomazetti (2001) afirma que a partir dos anos 30 do século XX
torna-se consenso mundial a aceitação de uma cultura filosófica e científica na formação do
professor justificada pela necessidade de se promover uma reflexão sobre os fins e valores de
uma educação democrática pautada no conhecimento filosófico.
Pela filosofia, a pedagogia garante a compreensão de valores que deverão orientá-los
no futuro, sendo tarefa da Filosofia da Educação estabelecer as bases de uma reflexão rigorosa
sobre os problemas educacionais. Para Saviani (1990, p. 17) é tarefa da filosofia da educação
“[...] acompanhar reflexiva e criticamente a atividade educacional de modo a explicitar os
seus fundamentos, esclarecer a tarefa e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e
avaliar o significado das soluções escolhidas”. Promovendo uma análise acerca do estatuto da
filosofia da educação Mazzotti (2000, p. 185) fala que “toda e qualquer filosofia apresenta-se
como uma pedagogia, pois toda filosofia estabelece um percurso para a elucidação de
problemas humanos e se põe com o modo adequado e correto de elevar a consciência imediata
à consciência mediata1
”. Para tal, de acordo principalmente a época e a visão de quem retrata
(no caso, o professor de filosofia ou de filosofia da educação) escolhe-se um autor ou uma
escola filosófica e procura-se explicar o fenômeno educacional.
Em contrapartida a introdução de estudantes no campo da filosofia da educação é
vista como uma tarefa incômoda até mesmo para o mais experiente filósofo da educação
devido a esses alunos chegarem à graduação com pouca base no que se refere à filosofia como
uma disciplina de investigação; para Ericson (2000, p. 205) “[...] tais estudantes enquanto
inseridos nos programas de formação de professores são especialmente difíceis de se
comprometerem”, o que se configura como mais um “problema” a ser trabalhado além da
dificuldade com que freqüentemente o professor de filosofia da educação sobretudo nos
cursos de licenciatura terá que se deparar.
Como meio de superação para tal fato Ericson apresenta estratégias pedagógicas para
a introdução dos estudantes em filosofia da educação, tais estratégias podem ser adotadas
tanto por professores de filosofia da educação quanto por de outras matérias. A primeira
estratégia trata a filosofia da educação como sendo a história da filosofia da educação a qual
determina uma área específica da filosofia, indicando o estudo dos principais pensadores no
que se referem à educação; os alunos são deixados “livres” para construírem suas idéias e
argumentações relacionadas às suas próprias práticas.
A segunda estratégia caracteriza a “filosofia da educação como sendo um confronto
de ‘ismos’: realismo, idealismo, empirismo, racionalismo, pragmatismo, existencialismo e
assim por diante, [...] a abordagem a partir de ‘ismos’ toma o problema da relevância
seriamente e tenta estabelecer porque a filosofia da educação, dessa forma, é de grande
importância para os práticos” (ERICSON, 2000, p. 206); ressalta-se que alguns professores
tentam convencer seus alunos a adotarem sua corrente filosófica favorita. A terceira
estratégia, “apresenta uma abordagem histórica, mas com uma virada crítica”, ainda, segundo
esse autor (p. 207), há “um diálogo crítico baseado nas visões dos filósofos a respeito da
educação ao longo da história”; logo, tenta estimular os estudantes a adotarem um espírito
crítico.
                                                            
1
Entende-se por saída da consciência imediata em direção à consciência mediata, a superação do senso comum,
construído a partir das experiências cotidianas, para o senso crítico, capaz de refletir e questionar sobre o mundo
a sua volta. 
Como aspecto negativo em tal estratégia há “o fato de sua abordagem reside nos
alunos ‘impregnados’ por uma ânsia de “instrumentos de prática de sala de aula, ao fazerem
uma relação entre os erros e acertos dos filósofos concluírem não haver uma relevância
prática ao se estudar autores que nunca parecem realmente estar certos” (ERICSON, p. 207).
A quarta e última estratégia é apresentada “genericamente como sendo uma abordagem não
histórica, [...] figuras históricas são mencionadas somente quando suas perspectivas e suas
análises são bastante importantes para a questão ou conceito sob discussão” (ERICSON, p.
208).
Como afirma Reboul (1971) Se cada filósofo considera a educação em função do seu
sistema, seria possível mostrar, em contraposição, de que modo essa consideração interfere na
gênese do seu sistema (REBOULT, 1971). Relacionando tais estratégias e o papel do filósofo
da educação, teremos que uma filosofia da educação depende sempre das metafísicas do seu
autor, assim esta será diferente quanto a abordagem: racionalista, empirista, idealista,
materialista; conservador ou revolucionário.
4 Considerações finais
As teorias pedagógicas da modernidade se constituem a partir de concepções
filosóficas. Concordando com Paviani (2008, p. 14) quando este fala que
[...] a filosofia moderna apresenta-se como produtora de uma pedagogia antes
mesmo de constituir-se numa disciplina pedagógica específica. De Descartes a Kant,
nesse recorte histórico, os problemas filosóficos do conhecimento e da
subjetividade, das relações ente objeto e sujeito de conhecimento, entre consciência
e mundo, entre pessoa e cidadão impregnam todas as teorias pedagógicas.
Podemos a partir de então criar nossas primeiras impressões sobre quais
contribuições a filosofia possibilita ao campo da pedagogia e por que é necessária uma atitude
filosófica. Como afirma Reboul (1971) poder-se-ia afirmar que a educação é talvez a prova
decisiva do pensamento filosófico. Ela permite discernir o sentido humano dos debates
filosóficos para lá dos seus aspectos técnicos, colocar os conceitos mais abstratos a prova da
prática, bem como mostrar que a filosofia não é somente trabalho de especialistas, mas dos
homens.
Assim, para a atitude do educador ser entendida como filosófica, não basta apenas
falar sobre conceitos, no caso, dentro dos campos da filosofia e da pedagogia, mas questionar
o sentido e entender como os conceitos entre ambos os campos de conhecimento relacionam-
se entre si e quais fatos expressam a produção de uma atitude pedagógica com finalidade
reflexiva. Entende-se como de suma importância que o educador enquanto filósofo da
educação reflita sobre a problemática educacional ao qual ele está inserido e que este busque
um significado existencial para sua prática.
5 Referências
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997.
BENINCÁ, Elli. Pedagogia e senso comum. In: DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e
Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006.
DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas,
SP: Martins Fontes, 2006.
ERICSON, David P. Orientação para a filosofia da educação. In: GHIRALDELLI JR, Paulo
(Org.). O que é filosofia da educação? 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A. p: 205-223.
FOLSCHEID, Dominique. Metodologia filosófica. Tradução de Paulo Neves. 3. Ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2006.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia, exercício do filosofar e prática educativa. Em aberto,
Brasília, ano 9, n.45, p.29-46, jan./mar. 1990.
PAVIANI, Jayme. Filosofia e educação, filosofia da educação: aproximações e
distanciamentos. In: DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e
temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006.
PICHLER, Nadir Antônio; SOARES, Marcio. Educação, filosofia e antiguidade: algumas
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aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006.
SAVIANI, Dermeval Saviani. Contribuições da filosofia para a educação. Em aberto,
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SEVERINO, Antônio Joaquim. A contribuição da filosofia para a educação. Em aberto,
Brasília, ano 9, n.45, p.19-25, jan./mar. 1990.
REBOUL, Olivier. Quand demain ton fils te demadera. In: La Plhilosophie de l’éducation,
Paris: PUF, p.5-10, 1971. Disponível em
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/traducoes/reboul5.htm. Último acesso em
27/12/2009.
TOMAZETTI, Elisete Medianeira. Filosofia da Educação: um estudo sobre a história da
disciplina no Brasil. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.
TOMAZETTI, Elisete M. Filosofia da Educação e formação de professores em algumas
universidades brasileiras entre os anos 40 e os anos 60. Revista Perspectiva, Florianópolis,
v.19, n.2, p.443-467, jul./dez. 2001.
                                                            
i
 Graduação em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (1985) e Licenciatura Plena
em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí (1988), mestrado em Mestrado em Educação pela
Universidade Federal do Piauí (1999) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (2003). Atualmente, professora adjunto 3 da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Tem experiência na
área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas:
pedagogia, epistemologia da pedagogia, formação docente, saberes e prática pedagógica, ensino de filosofia.
E-mail: carmen.cabral@pq.cnpq.br  
ii
 Estudante do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Bolsista de
Iniciação Científica (CNPq/UFPI) na área de Filosofia da Educação. Atualmente desenvolve pesquisas nas áreas
de Filosofia, Filosofia da Educação, Filosofia para Crianças e Kant. E-mail: hosiene@hotmail.com  

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As interfaces entre filosofia e pedagogia

  • 1.   AS INTERFACES ENTRE FILOSOFIA E PEDAGOGIA CABRAL, Carmen Lúcia de Oliveirali TEODÓSIO, Hosiene Araújoii RESUMO No período antigo e medieval não havia uma separação entre filosofia e educação, entretanto na modernidade, a ruptura entre esses campos de saber fez com que o discurso filosófico ocupasse posição secundária na elaboração dos sistemas educacionais. No período contemporâneo o vínculo entre Filosofia, Pedagogia e a Educação tem sido re-estabelecido através da Filosofia da Educação; as separações existentes entre filosofia e pedagogia nos leva fazer um exame teórico-metodológico, caracterizando os aspectos específicos em cada época e em cada sociedade, a partir de orientações teóricas de Dalbosco (2008); Saviani (1990); Reboul (1971), Tomazetti (2001, 2003) entre outros. O propósito desse artigo é estabelecer quais contribuições existem entre os campos da Filosofia e da Pedagogia, levando-se em consideração as tendências teóricas que caracterizam esses dois campos do conhecimento, demonstrando suas implicações para a formação docente. Palavras-chave: Filosofia. Educação. Pedagogia. Formação docente. Filosofia da Educação. ABSTRACT In ancient and medieval period there was a separation philosophy and education, though in modern times, the gulf between these fields of knowledge has made the philosophical discourse occupy a secondary position in the development of education systems. In the contemporany period the bond between Philosophy, Pedagogy and Education has been re- established through the philosophy of education, the separation between philosophy and pedagogy leads to a theoretical and methodological review, featuring the distinctive features in each and in every society, from theoretical approaches to Dalbosco (2008); Saviani (1990); Reboul (1971); Tomazetti (2001, 2003) among others. The purpose of this paper is to establish what contributions are among the field of Philosophy and Pedagogy, taking into account the theoretical nature of these two fields of knowledge, demonstrating its implications for teacher training. Keywords: Philosophy. Education. Pedagogy Interfaces. Philosophy of Education.
  • 2. Introdução Dentro da relação entre filosofia e pedagogia o campo filosófico constitui-se como o mais antigo tendo sua origem atribuída ao final do século VII e início do século VI a.C nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto, sendo o primeiro filósofo Tales de Mileto. A palavra filosofia é de origem grega composta pela junção das palavras Philo, que significa amizade, amor fraterno, respeito e Sophia, que significa sabedoria assim, a filosofia é entendida como sendo a amizade pela sabedoria e o filósofo visto como aquele que tem amor pelo saber. Para Saviani (1990, p. 30) o filósofo é: [...] um especialista do pensamento, [...] ele ‘não só pensa’ com maior rigor lógico, com maior espírito de sistema, do que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe quais as razões do desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retomar os problemas a partir do ponto onde eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de solução, etc. Fazer filosofia é então estar em caminho, em busca; a consciência filosófica é uma consciência inquieta, insatisfeita, presa a um ceticismo e não à posse de um saber absoluto. Desde seu surgimento os filósofos os quais, “a História reconhece como os grandes intelectuais que conseguiram expressar de forma mais elaborada os problemas das respectivas fases de desenvolvimento da humanidade” (SAVIANI, 1990, p. 7), tiveram sua prática desde a antiguidade vinculada a uma tarefa educativa, estabeleceram discussões referentes à produção cultural humana como sendo algo a ser discutido dentro do campo filosófico tendo em vista que “a filosofia, enquanto concepção de mundo formula e encaminha a solução dos grandes problemas postos pela época que ela se constitui” (SAVIANI, 1990, p.7). Como meio de entender a relação entre a filosofia e pedagogia a partir das reflexões filosóficas da educação interrogamos: Quais interfaces existem entre os campos da filosofia e da pedagogia? A pedagogia sendo considerado um campo de conhecimento específico construirá com a filosofia um vínculo de natureza teórica? Chauí (1997, p. 15) entende que: A filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas.
  • 3. Através de tais caracterizações busca-se explicitar, discutir e analisar a natureza das interfaces existentes entre os campos da filosofia e da pedagogia e que/ais contribuições existem entre ambos, levando-se em consideração os objetos e finalidades das tendências teóricas que caracterizam esses dois campos de conhecimento, demonstrando suas implicâncias para a formação do educador através de uma abordagem teórico-metodológica. Neste estudo, algumas tradições filosóficas foram privilegiadas em detrimento de outras, por entendermos que alguns aspectos contribuem mais precisamente para caracterizar de modo claro e objetivo à relação entre filosofia que “[...] nas sociedades civilizadas, determina os processos educacionais e contribui na formação da imagem do homem e do mundo” (DALBOSCO, 2008, p.5) e a pedagogia. No contexto atual percebemos um envolvimento maior com os aspectos práticos da educação do que com uma análise da teoria educacional. Logo, parti-se de questionamentos do tipo “como”, “por que” e “para quê” é necessário haver uma distinção entre filosofia e educação, analisando-se a presença e as contribuições dos grandes filósofos e seus sistemas nas teorias e práticas do educador. Como objetivos norteadores do estudo propõem-se: analisar os elementos centrais da relação entre filosofia e pedagogia presentes nos escritos de filósofos e teóricos da educação, que expressam as conexões entre esses campos de conhecimento; mapear os campos da filosofia e da pedagogia, observando os aportes teóricos entre esses campos do conhecimento; caracterizar a relação entre filosofia e pedagogia nos discursos clássico, moderno e contemporâneo da filosofia e da educação com vistas ao esclarecimento da natureza da interconexão entre esses campos de conhecimento; demonstrar como a relação entre filosofia e pedagogia implica em uma relação necessária diante da finalidade entre ambas enquanto campos de conhecimento; discutir a compreensão de que a filosofia apresenta uma dimensão pedagógica intrínseca, bem como a reciprocidade da afirmação, demonstrada na formação e atuação do educador. A abrangência desta análise configura-se como sendo um estudo bibliográfico de autores dos campos da filosofia e da educação; na aquisição dos dados utilizaram-se diversas bibliografias, documentos e textos escritos encontrados em bibliotecas, acervos públicos, internet e outros meios de informação cabíveis que se fizeram valorosos para a ampliação do conhecimento sobre o tema em questão. A escolha por esta metodologia deu-se devido à natureza da pesquisa, na qual buscamos abstrair uma gama de informações que se relacionam com a constituição da formação do educador e qual/quais suas relações com o conhecimento filosófico.
  • 4. 2 Conceitos articuladores entre filosofia, educação e pedagogia Assim como a Filosofia a Pedagogia surgiu na Grécia Antiga sendo a palavra pedagogia deriva de paidós (criança) e agogé (condução), etimologicamente a pedagogia configura-se como sendo a condução da criança ao saber. Devido a essa relação intrínseca desde a Grécia Antiga até os dias atuais há certo descaso com o campo pedagógico limitando a função do pedagogo como aquele responsável pelo cuidar e zelar da criança nos seus primeiros anos de vida, alguém responsável por “aprimorar” a educação que a criança recebe em casa. Tal definição gerou um grande desafio para o campo pedagógico constitui-se enquanto ciência; as obras “O Tratado Sobre a Educação”, de Luís Vives do século XVI e “Didáctica Magna” de Comenius do século XVIII contribuíram para elevar a pedagogia à categoria de ciência. Como lembra Reboul (1971), as ciências humanas estudam o objeto da educação, em particular a criança, quanto à sua natureza, ao seu meio e á sua evolução. A pedagogia estuda os meios da educação. A filosofia reflete sobre os seus fins: porque é que se educa? Qual o critério de uma educação bem sucedida? Ao perceber-se a relação de interdependência entre os campos da filosofia, educação e pedagogia propõe-se uma discussão de cunho filosófico como forma de conhecer e refletir sobre a importância dos filósofos. Saviani (1990, p. 7) entende que a produção intelectual dos filósofos tidos como clássicos é considerada como sendo “[...] um patrimônio cultural da humanidade, já que suas formulações embora radicadas numa época determinada extrapolem os limites dessa época, mantendo o seu interesse mesmo para as épocas ulteriores”. Suas reflexões favorecem para se compreender o processo educativo e as relações entre a filosofia e a educação bem como a contribuição destas reflexões no processo de formação do ser docente, entende-se para tal, a contribuição da filosofia através da filosofia da educação no campo educacional. De acordo com Tomazetti (2003, p. 19) refletindo sobre “o dever-ser da educação, filósofos como Platão, Aristóteles, Erasmo. “Montaigne, Locke, Kant, entre outros, tornaram a Filosofia referência primeira da Pedagogia”. Seguindo está linha de raciocínio Saviani (2002, p. 29) afirma que “a Filosofia seria fundamental para assegurar a promoção da reflexão, não uma reflexão qualquer, mas uma reflexão radical, rigorosa e global sobre os problemas que a nossa sociedade apresenta”, nessa perspectiva entende-se que o refletir é uma função pertencente ao campo filosófico. Ao final do século XVIII com a Revolução Francesa a educação passa a englobar, além de uma reflexão sobre a formação geral do homem, uma reflexão sobre a escolarização. Em seguida a escola passa a estar inscrita no espaço político e o espaço privado do preceptor
  • 5. cede lugar ao espaço público da escolarização. A princípio é atribuído aos filósofos o papel de formar (educar) em um sentido mais amplo o que lhe configurava a ser o preceptor de uma criança ou jovem, ou como alguém que se propõe a pensar a educação. Estes entendiam que a escolarização, como forma de educação e de instrução, não merecia uma reflexão específica, pois cabia ao preceptor educar os filhos dos ricos e a escola, que começava a se tornar universal abrigava as crianças pobres. A partir de então a filosofia passa a exigir do educador uma postura, segundo a qual, é necessário pensar e refletir sobre “o que” se faz para, então, decidir de forma consciente a realização da ação educativa, entendendo-se que, caso esta reflexão não se faça presente acarretará em uma ação educativa questionável quanto à validade de seus fins. Por isso, podemos afirmar em concordância com Paviani (2008, p. 12) que: A filosofia, separada da pedagogia, assume a tarefa de justificar, pressupostos éticos e epistemológicos de processos educacionais. Procura exercer um papel crítico em relação à racionalidade instrumental e ao esclarecimento do pensamento pedagógico em si. Os sujeitos da educação e as teorias pedagógicas, o fazer e o agir educativos realizam-se dentro de uma dimensão filosófica global e não mais específica. Desenvolve-se uma determinação filosófica que sustenta a concepção educacional antes de qualquer reflexão típica de uma filosofia da educação. Temos que um dos papéis principais da filosofia consiste em examinar criticamente as disputas intelectuais de cada época e sugerir maneiras alternativas de ver as coisas, à educação passa a ser estabelecida como uma prática humana, direcionada por uma concepção teórica, a pedagogia se traduz como uma concepção filosófica do papel da educação, em relação à sociedade e ao homem que vive nesta sociedade. Durante esse processo crítico reflexivo faz-se necessário o estudo de problemas educacionais, tomando como base o que alguns teóricos e estudiosos elaboram, para assim, sair do senso comum e poder desenvolver uma consciência reflexiva que estará sempre em busca de respostas para as indagações que surgirem. Partindo-se da indagação sobre quais sujeitos desejamos formar e qual sociedade desejamos construir por meio da prática educativa, entendemos ser necessário enquanto educador promover uma prática reflexiva para que “agentes manipuladores” não venham a interferir na atuação do educador.
  • 6. Para Benincá (2008, p. 185) “[...] a consciência aproxima-se do conceito de concepção de mundo, visto que possui o sentido do mundo. Detentora desse sentido, a consciência pode orientar as ações dos indivíduos”. Então, a prática educativa deve ser vista como qualquer outra prática humana, que, entretanto, não pode ser banalizada, Saviani (1990, p.8) afirma que “[...] a prática pedagógica é sempre tributária de determinada teoria que, por sua vez pressupõe determinada concepção filosófica ainda que em grande parte dos casos essa relação não esteja explicitada”. Outro ponto de vista pode ser percebido em Severino (1990, p.21) “[...] a educação é fundamentalmente uma prática social, a filosofia vai ainda contribuir significativamente para sua efetivação mediante uma reflexão voltada para os fins que a norteiam”. Nessa perspectiva, compreendem-se as inter-relações entre os campos pedagógicos e filosóficos como algo que possibilita ao educador e educando estabelecer relações entre a sua prática e a teoria que o circunda. 3 Filosofia e Filosofia da Educação É fato que a Filosofia da Educação para diversos autores não é considerada Pedagogia, como fala Reboul (1971) a filosofia da educação não pergunta como curar a dislexia, mas de onde vem a importância que se atribui ao fato de ler; não pretende melhorar as relações entre pais e filhos, mas indagar a natureza da família, o seu valor, os seus limites. Para Paviani (2008, p. 17): Com a perda da evidência das relações entre a filosofia e a educação, a disciplina filosofia da educação adquiriu função própria e paulatinamente tronou-se o elo entre os dois mundos. A redução da filosofia a filosofia da educação fez com que essa disciplina se tornasse um reduto de conteúdos, dentro de uma determinada concepção filosófica. Então, nos compêndio, via de regra, a filosofia da educação é classificada, conforme as tendências, de metafísica, de humanidade, de analítica, de fenomenológica, de hermenêutica, de dialética, de marxista, de crítica e de outras denominações. Na disciplina filosofia da educação (aliás, como ocorre em geral com as filosofias do direito, da cultura, da linguagem, etc.), a educação é vista a partir de uma perspectiva externa. Verifica-se a partir de então a necessidade de haver uma filosofia da educação, da mesma forma que existe uma filosofia do direito, uma filosofia da linguagem, filosofia da arte, filosofia da mente, entre tantas outras filosofias. De acordo com Tomazetti (2003, p. 21) “[...] na França, até o final do século XIX e início do século XX, a Filosofia da Educação
  • 7. esteve associada à Pedagogia Geral; o saber filosófico sobre educação era parte integrante dos estudos de Pedagogia”. No Brasil os manuais de Pedagogia dos anos de 1950 apresentavam a Filosofia da Educação como pedagogia teórica ou como pedagogia filosófica; o termo pedagogia serviu apenas para dar nome ao Curso, não configurando no currículo de formação do educador uma disciplina de pedagogia geral. Assim, decorrente deste contexto, o abandono do discurso filosófico como fundamentação do saber pedagógico deu abertura para a legitimação das ciências da educação no campo educacional constituindo-se o discurso próprio da Filosofia da Educação. Elisete Medianeira Tomazetti (2001) em seu artigo Filosofia da Educação e formação de professores em algumas universidades brasileiras entre os anos 40 e os anos 60 apresenta inicialmente a construção da disciplina de Filosofia da Educação em nosso país partindo-se de três processos simultâneos, são eles: Estatização do ensino, segundo o qual o Estado é tido como órgão competente por manter a estrutura em torno da educação; a Institucionalização da formação de professores, na qual compete a União criar instituições de ensino superior e secundário, nos Estados e no Distrito Federal e aos Estados caberia a criação e manutenção do ensino primário, do ensino profissional, por fim, fala em uma Cientifização da pedagogia, em que se observa serem as Escolas Normais durante muito tempo as únicas instituições formadoras de professores, baseadas em modelos tradicionais que com o advento das idéias escolanovistas passam a ser revistos. Verifica-se que a formação do educador e o seu papel diante da sociedade deverão está pautada na formação de um educador autônomo e crítico, capaz de enfrentar os problemas colocados pela realidade educacional de seu tempo e produzir respostas teóricas e práticas a esses problemas por meio da pesquisa, o que faz com que o professor seja ele próprio um pesquisador. Tomazetti (2001) afirma que a partir dos anos 30 do século XX torna-se consenso mundial a aceitação de uma cultura filosófica e científica na formação do professor justificada pela necessidade de se promover uma reflexão sobre os fins e valores de uma educação democrática pautada no conhecimento filosófico. Pela filosofia, a pedagogia garante a compreensão de valores que deverão orientá-los no futuro, sendo tarefa da Filosofia da Educação estabelecer as bases de uma reflexão rigorosa sobre os problemas educacionais. Para Saviani (1990, p. 17) é tarefa da filosofia da educação “[...] acompanhar reflexiva e criticamente a atividade educacional de modo a explicitar os seus fundamentos, esclarecer a tarefa e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e avaliar o significado das soluções escolhidas”. Promovendo uma análise acerca do estatuto da filosofia da educação Mazzotti (2000, p. 185) fala que “toda e qualquer filosofia apresenta-se
  • 8. como uma pedagogia, pois toda filosofia estabelece um percurso para a elucidação de problemas humanos e se põe com o modo adequado e correto de elevar a consciência imediata à consciência mediata1 ”. Para tal, de acordo principalmente a época e a visão de quem retrata (no caso, o professor de filosofia ou de filosofia da educação) escolhe-se um autor ou uma escola filosófica e procura-se explicar o fenômeno educacional. Em contrapartida a introdução de estudantes no campo da filosofia da educação é vista como uma tarefa incômoda até mesmo para o mais experiente filósofo da educação devido a esses alunos chegarem à graduação com pouca base no que se refere à filosofia como uma disciplina de investigação; para Ericson (2000, p. 205) “[...] tais estudantes enquanto inseridos nos programas de formação de professores são especialmente difíceis de se comprometerem”, o que se configura como mais um “problema” a ser trabalhado além da dificuldade com que freqüentemente o professor de filosofia da educação sobretudo nos cursos de licenciatura terá que se deparar. Como meio de superação para tal fato Ericson apresenta estratégias pedagógicas para a introdução dos estudantes em filosofia da educação, tais estratégias podem ser adotadas tanto por professores de filosofia da educação quanto por de outras matérias. A primeira estratégia trata a filosofia da educação como sendo a história da filosofia da educação a qual determina uma área específica da filosofia, indicando o estudo dos principais pensadores no que se referem à educação; os alunos são deixados “livres” para construírem suas idéias e argumentações relacionadas às suas próprias práticas. A segunda estratégia caracteriza a “filosofia da educação como sendo um confronto de ‘ismos’: realismo, idealismo, empirismo, racionalismo, pragmatismo, existencialismo e assim por diante, [...] a abordagem a partir de ‘ismos’ toma o problema da relevância seriamente e tenta estabelecer porque a filosofia da educação, dessa forma, é de grande importância para os práticos” (ERICSON, 2000, p. 206); ressalta-se que alguns professores tentam convencer seus alunos a adotarem sua corrente filosófica favorita. A terceira estratégia, “apresenta uma abordagem histórica, mas com uma virada crítica”, ainda, segundo esse autor (p. 207), há “um diálogo crítico baseado nas visões dos filósofos a respeito da educação ao longo da história”; logo, tenta estimular os estudantes a adotarem um espírito crítico.                                                              1 Entende-se por saída da consciência imediata em direção à consciência mediata, a superação do senso comum, construído a partir das experiências cotidianas, para o senso crítico, capaz de refletir e questionar sobre o mundo a sua volta. 
  • 9. Como aspecto negativo em tal estratégia há “o fato de sua abordagem reside nos alunos ‘impregnados’ por uma ânsia de “instrumentos de prática de sala de aula, ao fazerem uma relação entre os erros e acertos dos filósofos concluírem não haver uma relevância prática ao se estudar autores que nunca parecem realmente estar certos” (ERICSON, p. 207). A quarta e última estratégia é apresentada “genericamente como sendo uma abordagem não histórica, [...] figuras históricas são mencionadas somente quando suas perspectivas e suas análises são bastante importantes para a questão ou conceito sob discussão” (ERICSON, p. 208). Como afirma Reboul (1971) Se cada filósofo considera a educação em função do seu sistema, seria possível mostrar, em contraposição, de que modo essa consideração interfere na gênese do seu sistema (REBOULT, 1971). Relacionando tais estratégias e o papel do filósofo da educação, teremos que uma filosofia da educação depende sempre das metafísicas do seu autor, assim esta será diferente quanto a abordagem: racionalista, empirista, idealista, materialista; conservador ou revolucionário. 4 Considerações finais As teorias pedagógicas da modernidade se constituem a partir de concepções filosóficas. Concordando com Paviani (2008, p. 14) quando este fala que [...] a filosofia moderna apresenta-se como produtora de uma pedagogia antes mesmo de constituir-se numa disciplina pedagógica específica. De Descartes a Kant, nesse recorte histórico, os problemas filosóficos do conhecimento e da subjetividade, das relações ente objeto e sujeito de conhecimento, entre consciência e mundo, entre pessoa e cidadão impregnam todas as teorias pedagógicas. Podemos a partir de então criar nossas primeiras impressões sobre quais contribuições a filosofia possibilita ao campo da pedagogia e por que é necessária uma atitude filosófica. Como afirma Reboul (1971) poder-se-ia afirmar que a educação é talvez a prova decisiva do pensamento filosófico. Ela permite discernir o sentido humano dos debates filosóficos para lá dos seus aspectos técnicos, colocar os conceitos mais abstratos a prova da prática, bem como mostrar que a filosofia não é somente trabalho de especialistas, mas dos homens. Assim, para a atitude do educador ser entendida como filosófica, não basta apenas falar sobre conceitos, no caso, dentro dos campos da filosofia e da pedagogia, mas questionar
  • 10. o sentido e entender como os conceitos entre ambos os campos de conhecimento relacionam- se entre si e quais fatos expressam a produção de uma atitude pedagógica com finalidade reflexiva. Entende-se como de suma importância que o educador enquanto filósofo da educação reflita sobre a problemática educacional ao qual ele está inserido e que este busque um significado existencial para sua prática. 5 Referências CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1997. BENINCÁ, Elli. Pedagogia e senso comum. In: DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006. DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006. ERICSON, David P. Orientação para a filosofia da educação. In: GHIRALDELLI JR, Paulo (Org.). O que é filosofia da educação? 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A. p: 205-223. FOLSCHEID, Dominique. Metodologia filosófica. Tradução de Paulo Neves. 3. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia, exercício do filosofar e prática educativa. Em aberto, Brasília, ano 9, n.45, p.29-46, jan./mar. 1990. PAVIANI, Jayme. Filosofia e educação, filosofia da educação: aproximações e distanciamentos. In: DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006. PICHLER, Nadir Antônio; SOARES, Marcio. Educação, filosofia e antiguidade: algumas questões sobre a Paidéia grega. In: DALBOSCO, Edison et al. Filosofia e Pedagogia: aspectos históricos e temáticos. Campinas, SP: Martins Fontes, 2006. SAVIANI, Dermeval Saviani. Contribuições da filosofia para a educação. Em aberto, Brasília, ano 9, n.45, p.3-18, jan./mar. 1990. SEVERINO, Antônio Joaquim. A contribuição da filosofia para a educação. Em aberto, Brasília, ano 9, n.45, p.19-25, jan./mar. 1990. REBOUL, Olivier. Quand demain ton fils te demadera. In: La Plhilosophie de l’éducation, Paris: PUF, p.5-10, 1971. Disponível em http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/traducoes/reboul5.htm. Último acesso em 27/12/2009. TOMAZETTI, Elisete Medianeira. Filosofia da Educação: um estudo sobre a história da disciplina no Brasil. Ijuí: Ed. Unijuí, 2003.
  • 11. TOMAZETTI, Elisete M. Filosofia da Educação e formação de professores em algumas universidades brasileiras entre os anos 40 e os anos 60. Revista Perspectiva, Florianópolis, v.19, n.2, p.443-467, jul./dez. 2001.                                                              i  Graduação em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (1985) e Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí (1988), mestrado em Mestrado em Educação pela Universidade Federal do Piauí (1999) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2003). Atualmente, professora adjunto 3 da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Filosofia da Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: pedagogia, epistemologia da pedagogia, formação docente, saberes e prática pedagógica, ensino de filosofia. E-mail: carmen.cabral@pq.cnpq.br   ii  Estudante do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia na Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Bolsista de Iniciação Científica (CNPq/UFPI) na área de Filosofia da Educação. Atualmente desenvolve pesquisas nas áreas de Filosofia, Filosofia da Educação, Filosofia para Crianças e Kant. E-mail: hosiene@hotmail.com