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2010
Ferramentas de acesso à Família




                      Carlos Henrique Guimarães Brasil
                      Residência   em    Medicina    de   Família   e
                      Comunidade e Especialização em Saúde de
                      Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
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                                                                    Entre o sono e sonho,
                                                                    Entre mim e o que em mim
                                                                    É o quem eu me suponho
                                                                    Corre um rio sem fim.

                                                                    Passou por outras margens,
                                                                    Diversas mais além,
                                                                    Naquelas várias viagens
                                                                    Que todo o rio tem.

                                                                    Chegou onde hoje habito
                                                                    A casa que hoje sou.
                                                                    Passa, se eu me medito;
                                                                    Se desperto, passou.

                                                                    E quem me sinto e morre
                                                                    No que me liga a mim
                                                                    Dorme onde o rio corre -
                                                                    Esse rio sem fim.



                                                                    Fernando Pessoa




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Esta apostila é uma compilação de literatura referente ao tema, devendo servir apenas como orientador para os
Residentes, não tendo a pretensão de ser vislumbrado como um texto final. Existem inúmeras referências acerca do
tema, algumas delas listadas nas referências bibliográficas desta.

                                                                                          Carlos Henrique Guimarães Brasil
                                                                                                         Médico de Família




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CONTEÚDO
FERRAMENTAS DE ACESSO À FAMÍLIA......................................................... 5
O QUE É UMA FAMÍLIA? .............................................................................. 6
ESTRUTURA DA FAMÍLIA ............................................................................. 7
ETAPAS PARA SE TRABALHAR COM FAMÍLIAS ............................................. 8
     ASSOCIAÇÃO .................................................................................................................................................. 8
     AVALIAÇÃO ................................................................................................................................................... 8
     EDUCAÇÃO EM SAÚDE ..................................................................................................................................... 9
     FACILITAÇÃO.................................................................................................................................................. 9
     REFERÊNCIA................................................................................................................................................... 9

GENOGRAMA ............................................................................................ 10
CICLO DE VIDA FAMILIAR .......................................................................... 12
F.I.R.O. ...................................................................................................... 14
P.R.A.C.T.I.C.E. .......................................................................................... 16
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 18




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                                        FERRAMENTAS DE ACESSO À FAMÍLIA

          O acesso à família é um pré-requisito para atuar sobre a mesma. Uma intervenção na família sem
conhecê-la é o mesmo que instituir um tratamento sem um diagnóstico.
          Acesso, diagnóstico e intervenção estão intimamente ligados. Intervir numa enfermidade ou manter a
saúde no contexto da família significa entender sua estrutura, funções, desenvolvimento e relação do processo
saúde-doença.
          A família deve ser vista como um sistema em que um problema, ao atingir um de seus membros,
repercute nas relações como um todo.
          A resposta aos problemas apresentados pode ser adaptativa ou não, evidenciando-se por disfunções
que interferem na resposta dos indivíduos às enfermidades. Assim, um “paciente” rotulado pela família como
portador de sintomas pode ser a expressão de uma disfunção na mesma, portanto, seu processo de cura estará
relacionado à intervenção no sistema familiar.

                   “O sentido de ligação a outra pessoa é um requisito básico para o crescimento
                   individual. O relacionamento deve ser tal que cada pessoa seja considerada um
                   indivíduo com recursos para seu próprio desenvolvimento. O crescimento, às vezes,
                   envolve uma luta interna entre necessidades de dependência e de autonomia; mas o
                   indivíduo se sente livre para se encarar se tiver um relacionamento em que sua
                   capacidade seja reconhecida e valorizada e em que ele seja aceito e amado. Então ele
                   estará apto a desenvolver seu próprio potencial de vida, a tornar-se mais e mais
                   singular, autodeterminado e espontâneo”.
                                                                     Clark Moustakas (MIRANDA e MIRANDA, 1983)

           Deve-se ter em mente algumas situações em que se torna necessária uma avaliação mais detalhada da
família:
            Sintomas inespecíficos (cefaléias, lombalgias, dores abdominais) em pessoas com grande freqüência
             de consultas sem doença orgânica;
            Utilização excessiva dos serviços de saúde ou consultas freqüentes de diferentes membros da família
             (muito suspeito de disfunção familiar);
            Dificuldade no controle de doenças crônicas quando requerem dietas ou intervenção/ajuda dos
             outros membros da família;
            Problemas graves emocionais ou de comportamento;
            Efeito mimético1;
            Problemas conjugais (dependência excessivos) e sexuais (impotência e infertilidade);
            Triangulação, sobretudo com a criança;
            Doenças relacionadas ao estilo de vida e ao ambiente (doença hepática e alcoolismo, doença
             pulmonar e tabagismo, úlcera péptica e stress);
            Doenças nas fases de transição do ciclo de vida (a espera do primeiro filho, filhos na adolescência,
             ninho vazio, etc.);
            Morte na família, acidente grave, divórcio, etc.;
            Sempre que o modelo biomédico tradicional mostrar-se inadequado ou insuficiente.




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               Efeito mimético refere-se à repetição de padrões de resposta frente a algum problema semelhante vivido anteriormente pela família.


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                                         O QUE É UMA FAMÍLIA?

          Dificilmente conseguirá definir-se Família de forma satisfatória e abrangente. Essa definição pode não
abarcar determinados núcleos se levarmos em consideração a definição tradicional de “pai, mãe, filhos,...”. Apesar
de grande parte das sociedades definirem Família baseada na composição marital, optamos por uma maior
amplitude desse termo de forma a se ter um maior dinamismo e uma melhor contextualização:

                                               “Grupo de pessoas íntimas com passado e futuro comuns”.
                                                                      (RAMSON e VANDERVOOT, 1973).

           Entendemos Família como um sistema de relações interpessoais, dinâmica, estruturada segundo um
conjunto de crenças, valores e normas construído sob uma influência cultural determinada pelo contexto em que
vive. Constitui-se a unidade primordial de organização social.
           Como sistema, qualquer alteração que afete um dos membros repercutirá na família como um todo
determinando ajustes adaptativos ou não (CAEIRO, 1991).




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                                  ESTRUTURA DA FAMÍLIA

Segundo Wong (1999), as famílias podem se apresentar como:

1.      Família nuclear: A família nuclear ou conjugal consiste em um marido, uma esposa e filhos
        (naturais ou adotados) que vivem em um domicílio comum.

2.      Família de Pai/Mãe solteiro (a): Família de pais sozinhos, sem companheiro, consequente às
        atitudes liberais dos tempos modernos ou a separação e o divórcio.

3.      Família binuclear: O termo família binuclear é empregado para descrever a situação que permite
        que os pais continuem a função paterna embora encerre a unidade marital.

4.      Família reconstituída: As famílias reconstituídas ou famílias pregressas são aquelas em que um ou
        ambos os adultos possuem filhos de um casamento prévio que residem no domicílio.

5.      Família estendida: A família estendida combina as famílias nucleares em unidades maiores através
        da relação pai-filho. Ela consiste na família nuclear acrescida de parentes lineares ou colaterais.
        Mais amiúde, ela é composta de duas ou mais unidades residenciais de três ou mais gerações
        afiliadas através da extensão da relação pai-filho (pais, filhos, netos, avós).




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                     ETAPAS PARA SE TRABALHAR COM FAMÍLIAS

         Pode-se esquematicamente definir 5 fases para trabalhar com famílias. A utilização dessas etapas
dependerá de cada família e do contexto encontrado.


Associação

           É uma etapa essencial para a construção do processo terapêutico. Inicia-se no momento em que um
paciente traz ao profissional uma situação em que a família interfere direta ou indiretamente no processo,
podendo haver necessidade de reajustes na estrutura familiar por alterações determinadas por intercorrências
clínicas ou sociais.
           Levar um profissional a respeitar crenças e realidade de determinada família, observando e analisando
primeiro, de forma a não entrar em conflito ao tentar impor suas próprias convicções e soluções com base nos
seus conhecimentos, é uma tarefa bastante difícil.
           Para se estabelecer a comunicação efetiva é essencial a percepção das experiências pessoais de cada
indivíduo, adequando-se a complexidade a cada pessoa.
           Alguns pontos devem ser valorizados:
            Os momentos com o paciente e sua família são preciosos e delicados. A relação construída pode ser
               rompida se houver desrespeito da hierarquia e crenças familiares.
            Ao se propor um contato com a família, pode ser levantado obstáculos pelo profissional (quando não
               tem a clareza da necessidade em se convocar uma entrevista familiar) ou pelo paciente (que teme
               perder seu status perante os familiares).
            Há algumas armadilhas que podem expor o profissional: alguns membros que tentam triangular com
               o profissional, lateralização da comunicação, uso de linguagem inadequada para o grupo familiar,
               desrespeito a hierarquia do grupo e seus tempos de comunicação.
            A Família é chave para a promoção da saúde, estabelecer de parcerias com a mesma é primordial
               para melhoria na qualidade de vida da mesma e da comunidade.


Avaliação

           Após a construção da associação, é necessária a análise do funcionamento do grupo familiar de forma
mais objetiva possível e, para tanto nos munimos de determinadas ferramentas. Essa análise tenta explicitar as
linhas de poder e decisão no grupo, a forma de vivenciar o processo saúde/doença, utilizando recursos internos e
externos (comunitários).
           Avaliar o contexto em que um problema se instala aumenta o poder de intervenção e,
consequentemente, sua resolutividade. Em especial nas condições crônicas, o entendimento do paciente e da
família e a tradução dos conhecimentos sobre a evolução e terapêutica para uma linguagem acessível a eles pode
ser determinante no desfecho.
           As principais ferramentas utilizadas são:
           1. Genograma – instrumento gráfico que permite rapidamente visualizar padrões de repetição de
                patologias e comportamentos.
           2. Ciclo de Vida Familiar – identifica situações em que o surgimento de disfunções é mais frequente.
                Nas fases de transição, em que a família é forçada a renegociar os papéis, é onde as doenças se
                instalam mais facilmente.
           3. F.I.R.O. (Fundamental Interpersonal Relations Orientations) – através das dimensões Inclusão,
                Controle e Intimidade; é utilizado para analisar as relações entre os membros da família, seus
                papéis na harmonia do grupo e como um problema pode interferir na sua dinâmica.



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          4.      P.R.A.C.T.I.C.E. – segue o seguinte roteiro: problema apresentado, papéis, afeto, comunicação,
                  tempo no ciclo de vida, doença na família (passado e presente), enfrentando o estresse, ecologia
                  (suporte e contatos externos).


Educação em saúde

           Baseados na história e na experiência das pessoas, deve-se prover a família de informações acerca do
processo saúde/doença de forma a incentivar o desenvolvimento do autocuidado e hábitos saudáveis.
           Partimos do pressuposto que o adulto somente aprende novos conhecimentos quando estes tem
sentido em suas vidas, quando a família busca auxílio para lidar com determinado problema é o momento-chave
para se introduzir os conceitos de educação em saúde.
           Deve-se ter em mente que a informação deve ser dada em consonância com a capacidade de percepção
e necessidade do cliente, não se podendo deixar de lado as questões culturais. Deixar de considerar essas
questões, desrespeitando as linhas de poder dentro da comunidade torna o profissional incapaz de dar sentido às
informações que deseja transmitir.

Facilitação

            Para que se faça a facilitação de comunicação entre os membros de um grupo familiar, necessitamos
compreender suas relações de poder e sua maneira de se comunicar. Uma ferramenta bastante útil nesse ponto é
o F.I.R.O., ajudando a identificar aliados e empecilhos para que ocorra a comunicação, além de perpetuadores da
situação patogênica.


Referência

          O profissional de Saúde da Família deve referenciar o cliente ou a família a um nível maior de
complexidade de atenção, explicando os motivos e o resultado esperado com esse encaminhamento. Deve-se
tentar estabelecer uma forma de contato com o profissional que irá receber a referência, fornecendo subsídios
para a avaliação e a contra-referência. Isso irá aumentar a confiança da família e do cliente, garante as
informações para o consultor, estabelece um vínculo de corresponsabilidade e possibilita que o profissional da
atenção primária dê continuidade ao caso.




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                                                   GENOGRAMA
           O Genograma (“árvore da família”, fenograma, pedigree da família, familigrama) é um método de
coleta, armazenamento e processamento de dados sobre a família, podendo ser usado para explorar problemas
biomédicos, genéticos, comportamentais e sociais.
           Sua funcionalidade está na rápida visualização da complexidade da “estrutura” da família, de
informações mais estáveis, com pouca informação sobre sua dinâmica. Por abordar o indivíduo (mesmo
reportando gerações anteriores), é uma ferramenta distinta do PRATICE, uma vez que este aborda mais
profundamente as relações familiares.
           A elaboração do genograma é diagnóstica e potencialmente terapêutica, pois permite aos elementos da
família se confrontarem com a sua história familiar. Além disso, melhora a aceitação do cliente e a relação
profissional-cliente.
           Não deve ser utilizado rotineiramente, sendo mais efetivo quando aplicado seletivamente.
           Sua coleta pode ser feita com entrevista com o paciente ou, preferencialmente, com a presença de toda
a família. O registro é feito com a utilização de símbolos e o mínimo de palavras.




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Saultz JW. The contextual care. In: Saultz JW (editor). Textbook of Family Medicine. Mc Graw-Hill. 2000:135-59. Citado por REBELO (2007).



O Genograma deve conter:
    1. Idade ou ano de nascimento de todos os membros familiares.
    2. Qualquer morte, inclusive idade a ou data de morte e causa.
    3. Doenças significantes ou problemas biopsicossociais de membros familiares.
    4. Indicação de membros que moram na mesma casa.
    5. Datas de matrimônios e divórcios
    6. Listagem do primogênito à esquerda, com os demais irmãos consecutivamente por ordem
       cronológica à direita.
    7. Uma legenda descrevendo os símbolos utilizados
    8. Símbolos selecionados para o máximo de simplicidade e visibilidade




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                                                  CICLO DE VIDA FAMILIAR
                 “O Ciclo de Vida Familiar define etapas pelas quais uma família passa durante a sua
                 evolução, bem como as tarefas que devem ser cumpridas no decorrer de cada uma
                 delas”.
                                                                                      (CAEIRO, 1991)

           É necessária a compreensão do ciclo de vida familiar, assim como do desenvolvimento individual, de
forma que o profissional de saúde possa formular hipóteses sobre os problemas que os pacientes estão vivendo. A
Família não é uma estrutura estática, ao contrário, está sujeita a mudanças contínuas no decorrer do seu
desenvolvimento, não se podendo deixar de considerar a influência determinada pelo contexto social, político e
econômico. O profissional de saúde, tendo em conta estas mudanças poderá ajudar os familiares a prevê-las e a
prepararem-se para elas, podendo, ao mesmo tempo, enriquecer a sua compreensão do contexto em que
ocorrem as várias situações de doença (McWHINNEY, 1994:185).
           Segundo DUVALL, o ciclo de vida familiar compõe-se de oito fases centradas na existência dos filhos e na
sua educação, desde o nascimento até a maturidade. Apesar de não ser necessário que cada família passe pelo
ciclo completo e em sequência. Ultrapassar fases é, em graus variáveis, traumático e requer respostas adaptativas
de todos os membros a cada nova situação. Uma melhor ou pior adaptação a determinado conflito induzirá a
satisfação e o sucesso na resolução dos conflitos posteriores. Não entender os papéis correspondentes a cada fase
do ciclo, bem como as tarefas exigidas, pode gerar disfunção pessoal e familiar.

   Estágio do Ciclo de Vida                           Tarefas a serem cumpridas                        Tópicos de promoção de saúde
                                 Estabelecer a identidade do casal (estabelecer
Estágio I: Casamento e um relacionamento satisfatório);
lar independente: A união
das famílias
                                 Realinhar os relacionamentos com a família ampliada  Comunicação sobre as expectativas de cada
                                (autonomia em relação à família de origem, união de sistemas um dos cônjuges.
Marido, Mulher (iniciando a
vida a dois; casal sem filhos).
                                bastante complexos);                                          Planejamento familiar
                                 Tomar decisões em relação à paternidade;
                                    Novas amizades.
                                                                                            Envolver o pai na gestação.
Estágio II: Famílias com filhos  Integrar os lactentes à unidade familiar e encorajar seu  Orientações sobre acidentes e doenças na
pequenos                        desenvolvimento;                                           gestação e primeira infância.
Marido-pai,       Mulher-mãe,  Acomodar-se às novas funções parentais e dos avós;          Informações sobre o crescimento e
filho e/ou filha                 Manutenção de uma ligação conjugal.                      desenvolvimento da criança.
                                                                                            Encorajar um tempo para o casal.
Estágio III: Famílias com pré-      Socializar as crianças;                                     Estimular o diálogo na educação dos filhos.
escolares                           Pais e filhos ajustam-se à separação;                     Informações sobre o crescimento             e
Marido-pai,       Mulher-mãe,       Enfrentar custos financeiros crescentes;                 desenvolvimento da criança.
filho-irmão, filha-irmã
                                    Desgaste de energia e a falta de privacidade dos pais.      Encorajar um tempo para o casal.

                              As crianças desenvolvem relacionamento com os amigos;         Informações sobre o crescimento e
Estágio IV: Famílias com
escolares
                              Os pais ajustam-se às influências da escola e dos colegas de desenvolvimento da criança.
Marido-pai,      Mulher-mãe,
                             seus filhos;                                                    Monitorar o desempenho escolar.
filho e/ou filha              Enfrentar demandas crescentes de tempo e dinheiro;            Sugerir estratégias de manejo do tempo.
                              Manter uma relação de casal.                                  Aquisição de novos hábitos e amigos.
                                    Os adolescentes desenvolvem crescente autonomia;
                                 
                                Equilibrar liberdade com responsabilidade.               Estabelecer relação que reflita aumento de
Estágio V: Famílias com          
                                Os pais reorientam-se para as questões de carreira e da autonomia;
adolescentes                 metade da vida conjugal;                                    Informações sobre o desenvolvimento do
Marido-pai,      Mulher-mãe,  Os pais começam uma mudança no sentido de preocupar-se adolescente.
filho e/ou filha             com a geração com mais idade;                               Sexualidade e hábitos.
                              Estabelecer fundamentos para atividades dos pais após a  Estilo de vida.
                             saída dos filhos.




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Estágio VI: Famílias como
                                                                                  Trabalhar aceitação da multiplicidade de
centro de partida
                            Os pais e os adultos jovens estabelecem identidades entradas e saídas na família.
Marido-pai-avô,    Mulher-
                           independentes;                                         Acomodação ao fim de papel de pais e
mãe-avó                     Renegociar as relações conjugais;                   estabelecimento de relações adultas com os
                                                                                 filhos.
                                    Reinvestem na identidade do casal;
                                  Desenvolvimento de interesses diferentes;
Estágio VII: Famílias de meia                                                               Encorajar a fazer planos para
idade
                                  Realinhamento das relações para incluírem afiliados e aposentadoria, lazer e moradia.
                                netos;
Marido-pai-avô,        Mulher-                                                              Discutir sexualidade e processos ligados ao
mãe-avó,       filho-irmão-tio,  Planejar o futuro financeiro e aposentadoria;            envelhecimento.
filha-irmã-tia                   Lidar com as incapacidades e a morte da geração com mais  Explorar o papel de avós.
                                idade;
                                    Prover conforto, saúde e bem estar ao casal.
                                  Deslocamento da função de trabalho para aposentados e
                                 para semiconfinamento ou recolhimento total;         Tópicos de saúde na terceira idade.
Estágio VIII: Famílias em  Prover moradia e segurança financeira;                    Revisar a vida como recurso para a saúde
envelhecimento             Mantêm o funcionamento individual e do casal enquanto de mental.
Viúva, Viúvo, mulher-mãe- adaptam ao processo de envelhecimento;                      Terapias ocupacionais e lazer.
avó, marido-pai-avô        Preparação para a própria morte e aceitação da perda do  Lidar com as perdas (amigos, parentes,
                          parceiro e/ou filhos e de outros amigos;                   cônjuge e outros).
                           Integridade do ego.
Adaptado de: WHALEY & WONG. Enfermagem Pediátrica (1999); de: De DUVALL. Manual de Medicina Familiar (1994) e de: MOYSÈS, Samuel Jorge. PSF – Ferramentas
(2003).




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                                                             F.I.R.O.
                                (Fundamental Interpersonal Relations Orientations)



           O modelo FIRO foi projetado por Willian Schultz com objetivo de estudar grupos em um sistema social e
adaptado por W. J. Doherty e N. Colangelo para estudo e terapia com famílias. Especificamente com relação à
família, destina-se a compreender melhor o seu funcionamento.

            É muito utilizado para entender:
             Alterações no ciclo de vida familiar.
             Avaliação das disfunções conjugais ou familiares.
             Doenças graves.
             Pacientes terminais.

          As relações de família podem ser categorizadas nas dimensões de INCLUSÃO, CONTROLE E INTIMIDADE
e constituem uma sequência inerente ao desenvolvimento para o manejo de mudanças na família. As três
dimensões constituem uma sequência lógica de prioridades para o tratamento.

1.   INCLUSÃO (“dentro ou fora”) – Refere-se à interação dentro da família, organização e vinculação. Há a
     necessidade interpessoal de manter um relacionamento satisfatório.
     A. Estrutura: refere-se aos padrões repetitivos de interação que se tornam rotina. Relaciona-se a
         organização da família, incluindo papéis e laços entre as gerações.
     B. Conectividade: refere-se a laços de interação entre os membros, relacionando-se elementos de
         comprometimento, educação e sentimentos de pertencer.
     C. Modos de compartilhar: refere-se às associações interativas com o senso especial de identidade da
         família como grupo. Envolve noções como rituais familiares e valores familiares.

2.   CONTROLE (“topo ou base”) – Refere-se às interações que influenciam o poder dentro da própria família.
     Existe a necessidade de se estabelecer e manter o balanço de poder nos relacionamentos. Os maiores tipos de
     interações de controle são:
           Controle dominante (tentativa de influência unilateral)
           Controle reativo (tentativa de contrariar uma influência)
           Controle colaborativo (tentativa de dividir as influências).

3.   INTIMIDADE (“perto ou distante”) – refere-se às trocas interpessoais e sentimentos compartilhados,
     esperanças, expectativas, proximidade ou distanciamento. Há a necessidade de se estabelecer e manter
     relações de amor e afeto.

           Quando a família sofre mudanças, seus membros são forçados a renegociar os papéis com relação aos
itens anteriores (inclusão, controle e intimidade).
           Inclusão, Controle e Intimidade constituem uma sequência inerente ao desenvolvimento para o manejo
de mudanças na família, também constituindo uma sequência lógica de prioridade na intervenção na mesma.

Protocolo sugerido de Intervenção na Família com uso do FIRO (LIBRACH, Lawrence & TALBOT, Yves):
1. Itens relativos à Inclusão (“dentro ou fora”)
     Desde que você descobriu a doença:
    Como sente o seu papel ter mudado?
    O seu papel atual lhe causa alguma preocupação?

    Como você se sente sobre o modo que os outros membros da família lidam com seus papéis?



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2.   Itens relativos ao Controle (“topo ou base”)
     Desde que você descobriu a doença:
    Você se sente suficientemente envolvido no processo de decisão de sua família?
    Você sente que a sua família tem um bom modo de tomar decisões? E quanto aos conflitos?
    Você sente se você e a sua família estão no controle da situação?

3.   Intimidade (“perto ou distante”)
     Desde que você descobriu a doença:
    Você se sente confortável em compartilhar os seus sentimentos com os outros membros da família?
    Existem emoções que você está relutante em dividir com outros membros da família?
    Você está satisfeito na sua relação com o cônjuge? Pais? Irmãos? Outros membros da família?




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                                                        P.R.A.C.T.I.C.E.

           O modelo PRACTICE foi projetado como diretriz para a avaliação do funcionamento das famílias,
focando-se no problema. Fornece informações sobre a dinâmica familiar e posicionamento desta frente os
problemas enfrentados, ajudando o profissional de Saúde da Família a traçar intervenções para o manejo do caso
específico.



P. Presenting Problem (Problema apresentado ou razão da entrevista)
             Enfermidades, hospitalizações, problemas comportamentais e de relacionamento.

R. Roles and Structure (Papéis e estrutura)
             Função na organização hierárquica, barreiras (fronteiras), coesão e controle (do caos à rigidez).
             A posição de maior poder refere-se a quem toma as decisões mais importantes, a quem geralmente
            controla os rendimentos familiares, ou de quem vem a “última palavra”.
             Os papéis dos membros não causam conflitos desde que estejam claros e aceitos por todos, podendo
            ser definidos implícita ou explicitamente.
             Deve-se estar atento ao grau de autonomia individual.

A. Affect (Afeto)
             Refere-se a como a família se comporta frente ao problema apresentado.
             Expressão das emoções, tom emocional familiar (caloroso, entristecido, raivoso, bem humorado, etc.).
             Famílias saudáveis são capazes de expressar uma grande diversidade de emoções, tanto positivas
            quanto negativas.
             Deve-se estar atento para expressões de emoções que não são apropriadas à realidade vivenciada,
            pois podem sinalizar para dificuldades familiares.

C. Communication (Comunicação)
             Avaliar tanto a comunicação verbal quanto a não verbal ajuda a entender como a família se organiza.
             Devem-se incentivar formas de comunicação direta em detrimento de expressões “veladas”.

T. Time in the family life cycle (Tempo no ciclo de vida familiar)
             A dinâmica de cada estágio do desenvolvimento é experimentada de forma diferente por cada família
            e influencia na ocorrência de enfermidades e resposta às mesmas.

I. Illness in family past and present (Enfermidade2 na família no passado e no presente)
             Focalizar as enfermidades, podendo estas estar mascaradas em uma disfunção na unidade familiar.
             Experiências com doenças anteriores, principalmente se freqüentes ou graves, modificarão a resposta
            no presente.
             O significado da doença, a crença no sistema de saúde, hábitos de saúde e estilo de vida também
            podem ser determinados pela família.

C. Coping with Stress (Enfrentando o estresse)
             Adaptabilidade, estratégias e soluções familiares ao lidar com enfermidades, tanto no passado quanto

2
    Entenda-se enfermidade como a experiência de adoecer, como é vivenciar a doença, quais as perdas e ganhos determinadas por esta doença.

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        no presente.

E. Ecology (Ecologia)
         Interação da família com o meio.
         Refere-se a suporte e contatos externos (sociais, culturais, religiosos, econômicos, educacionais e de
        saúde), ou seja, os recursos que a família dispõe para enfrentar o problema.




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                                                    BIBLIOGRAFIA

1.   BADER, Eduard. Trabalhando com Famílias - Livro de Trabalho para Residentes. S.L.. S.D..

2.   BARRIER, D.; BYBEL, M.; CHRISTIE-SEELY, J.; WHITTAKER, Y.. PRATICE – A Family Assessment Tool for Family
     Medicine. In: Working with families in primary care.

3.   BRASIL, Carlos Henrique Guimarães. Ciclo de Vida Familiar, Genograma, FIRO e PRACTICE – Estudo de Família. ,
     Montes Claros: UNIMONTES, 2001.

4.   CAEIRO, Rui Trabucho. Registros Clínicos em Medicina Familiar. 1a Ed. Lisboa: Instituto de Clínica Geral da Zona
     Sul, 1991.

5.   CANTALE, Carlos R. Familigrama. Departamento de Medicina Familiar de la Universidad del Sur de California.

6.   FRANÇA, Junia Lessa. Manual para normatização de publicações técnico-científicas. 3ª ed. Belo Horizonte:
     UFMG, 1999.

7.   MCWHINNEY, Ian R.. Manual de Medicina Familiar. Lisboa: Editora Inforsalus, 1994.

8.   MIRANDA, Clara Feldman; MIRANDA, Márcio Lúcio de. Construindo a Relação de Ajuda. Belo Horizonte:
     Editora Crescer, 1983.

9.   MOYSÉS, Samuel Jorge. PSF – Ferramentas. Disponível em: <www.universidadesaudavel.com.br>.

10. MOYSÉS, Samuel Jorge. Trabalhando com famílias em Saúde da Família. Revista Médica do Paraná. V. 57, N.
    1/2, P. 40-46.

11. RAKEL, Robert. E.. In:Tratado de Medicina Familiar. 5ª ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro - RJ, 1997.

12. REBELO, Luís. Genograma Familiar: O Bisturi do Médico de Família. Revista Portuguesa de Clínica Geral. n.23,
    p. 309-317. 2007.

13. SILVA, Rogério Soares. Estudo de Caso – FIRO, PRACTICE, GENOGRAMA e Ciclo de Vida Familiar. Montes
    Claros: UNIMONTES, 2001.

14. WAGNER, H. L.; WAGNER, A. B. P.; TALBOT, Y.; OLIVEIRA, E. Trabalhando com Famílias em Saúde da Família.
    Disponível em: <http://paginas.terra.com.br/saude/PSF/trabalhando001.htm>

15. WONG, Donna L.. Enfermagem pediátrica, 5a ed. Guanabara Koogan Rio de Janeiro - RJ, 1999.

16. MELLO, Maria Ignez Vianello. Família e Transições no Ciclo de Vida. Disponível em: <http://www.instituto-h-
    ellis.com.br/unidade_freicaneca/textosDet.asp?id=31>.




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Ferramentas de acesso à família 2010 (carlos brasil)

  • 1. 2010 Ferramentas de acesso à Família Carlos Henrique Guimarães Brasil Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 2. Pá g in a |2 Entre o sono e sonho, Entre mim e o que em mim É o quem eu me suponho Corre um rio sem fim. Passou por outras margens, Diversas mais além, Naquelas várias viagens Que todo o rio tem. Chegou onde hoje habito A casa que hoje sou. Passa, se eu me medito; Se desperto, passou. E quem me sinto e morre No que me liga a mim Dorme onde o rio corre - Esse rio sem fim. Fernando Pessoa Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 3. Pá g in a |3 Esta apostila é uma compilação de literatura referente ao tema, devendo servir apenas como orientador para os Residentes, não tendo a pretensão de ser vislumbrado como um texto final. Existem inúmeras referências acerca do tema, algumas delas listadas nas referências bibliográficas desta. Carlos Henrique Guimarães Brasil Médico de Família Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 4. Pá g in a |4 CONTEÚDO FERRAMENTAS DE ACESSO À FAMÍLIA......................................................... 5 O QUE É UMA FAMÍLIA? .............................................................................. 6 ESTRUTURA DA FAMÍLIA ............................................................................. 7 ETAPAS PARA SE TRABALHAR COM FAMÍLIAS ............................................. 8 ASSOCIAÇÃO .................................................................................................................................................. 8 AVALIAÇÃO ................................................................................................................................................... 8 EDUCAÇÃO EM SAÚDE ..................................................................................................................................... 9 FACILITAÇÃO.................................................................................................................................................. 9 REFERÊNCIA................................................................................................................................................... 9 GENOGRAMA ............................................................................................ 10 CICLO DE VIDA FAMILIAR .......................................................................... 12 F.I.R.O. ...................................................................................................... 14 P.R.A.C.T.I.C.E. .......................................................................................... 16 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 18 Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 5. Pá g in a |5 FERRAMENTAS DE ACESSO À FAMÍLIA O acesso à família é um pré-requisito para atuar sobre a mesma. Uma intervenção na família sem conhecê-la é o mesmo que instituir um tratamento sem um diagnóstico. Acesso, diagnóstico e intervenção estão intimamente ligados. Intervir numa enfermidade ou manter a saúde no contexto da família significa entender sua estrutura, funções, desenvolvimento e relação do processo saúde-doença. A família deve ser vista como um sistema em que um problema, ao atingir um de seus membros, repercute nas relações como um todo. A resposta aos problemas apresentados pode ser adaptativa ou não, evidenciando-se por disfunções que interferem na resposta dos indivíduos às enfermidades. Assim, um “paciente” rotulado pela família como portador de sintomas pode ser a expressão de uma disfunção na mesma, portanto, seu processo de cura estará relacionado à intervenção no sistema familiar. “O sentido de ligação a outra pessoa é um requisito básico para o crescimento individual. O relacionamento deve ser tal que cada pessoa seja considerada um indivíduo com recursos para seu próprio desenvolvimento. O crescimento, às vezes, envolve uma luta interna entre necessidades de dependência e de autonomia; mas o indivíduo se sente livre para se encarar se tiver um relacionamento em que sua capacidade seja reconhecida e valorizada e em que ele seja aceito e amado. Então ele estará apto a desenvolver seu próprio potencial de vida, a tornar-se mais e mais singular, autodeterminado e espontâneo”. Clark Moustakas (MIRANDA e MIRANDA, 1983) Deve-se ter em mente algumas situações em que se torna necessária uma avaliação mais detalhada da família:  Sintomas inespecíficos (cefaléias, lombalgias, dores abdominais) em pessoas com grande freqüência de consultas sem doença orgânica;  Utilização excessiva dos serviços de saúde ou consultas freqüentes de diferentes membros da família (muito suspeito de disfunção familiar);  Dificuldade no controle de doenças crônicas quando requerem dietas ou intervenção/ajuda dos outros membros da família;  Problemas graves emocionais ou de comportamento;  Efeito mimético1;  Problemas conjugais (dependência excessivos) e sexuais (impotência e infertilidade);  Triangulação, sobretudo com a criança;  Doenças relacionadas ao estilo de vida e ao ambiente (doença hepática e alcoolismo, doença pulmonar e tabagismo, úlcera péptica e stress);  Doenças nas fases de transição do ciclo de vida (a espera do primeiro filho, filhos na adolescência, ninho vazio, etc.);  Morte na família, acidente grave, divórcio, etc.;  Sempre que o modelo biomédico tradicional mostrar-se inadequado ou insuficiente. 1 Efeito mimético refere-se à repetição de padrões de resposta frente a algum problema semelhante vivido anteriormente pela família. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 6. Pá g in a |6 O QUE É UMA FAMÍLIA? Dificilmente conseguirá definir-se Família de forma satisfatória e abrangente. Essa definição pode não abarcar determinados núcleos se levarmos em consideração a definição tradicional de “pai, mãe, filhos,...”. Apesar de grande parte das sociedades definirem Família baseada na composição marital, optamos por uma maior amplitude desse termo de forma a se ter um maior dinamismo e uma melhor contextualização: “Grupo de pessoas íntimas com passado e futuro comuns”. (RAMSON e VANDERVOOT, 1973). Entendemos Família como um sistema de relações interpessoais, dinâmica, estruturada segundo um conjunto de crenças, valores e normas construído sob uma influência cultural determinada pelo contexto em que vive. Constitui-se a unidade primordial de organização social. Como sistema, qualquer alteração que afete um dos membros repercutirá na família como um todo determinando ajustes adaptativos ou não (CAEIRO, 1991). Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 7. Pá g in a |7 ESTRUTURA DA FAMÍLIA Segundo Wong (1999), as famílias podem se apresentar como: 1. Família nuclear: A família nuclear ou conjugal consiste em um marido, uma esposa e filhos (naturais ou adotados) que vivem em um domicílio comum. 2. Família de Pai/Mãe solteiro (a): Família de pais sozinhos, sem companheiro, consequente às atitudes liberais dos tempos modernos ou a separação e o divórcio. 3. Família binuclear: O termo família binuclear é empregado para descrever a situação que permite que os pais continuem a função paterna embora encerre a unidade marital. 4. Família reconstituída: As famílias reconstituídas ou famílias pregressas são aquelas em que um ou ambos os adultos possuem filhos de um casamento prévio que residem no domicílio. 5. Família estendida: A família estendida combina as famílias nucleares em unidades maiores através da relação pai-filho. Ela consiste na família nuclear acrescida de parentes lineares ou colaterais. Mais amiúde, ela é composta de duas ou mais unidades residenciais de três ou mais gerações afiliadas através da extensão da relação pai-filho (pais, filhos, netos, avós). Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 8. Pá g in a |8 ETAPAS PARA SE TRABALHAR COM FAMÍLIAS Pode-se esquematicamente definir 5 fases para trabalhar com famílias. A utilização dessas etapas dependerá de cada família e do contexto encontrado. Associação É uma etapa essencial para a construção do processo terapêutico. Inicia-se no momento em que um paciente traz ao profissional uma situação em que a família interfere direta ou indiretamente no processo, podendo haver necessidade de reajustes na estrutura familiar por alterações determinadas por intercorrências clínicas ou sociais. Levar um profissional a respeitar crenças e realidade de determinada família, observando e analisando primeiro, de forma a não entrar em conflito ao tentar impor suas próprias convicções e soluções com base nos seus conhecimentos, é uma tarefa bastante difícil. Para se estabelecer a comunicação efetiva é essencial a percepção das experiências pessoais de cada indivíduo, adequando-se a complexidade a cada pessoa. Alguns pontos devem ser valorizados:  Os momentos com o paciente e sua família são preciosos e delicados. A relação construída pode ser rompida se houver desrespeito da hierarquia e crenças familiares.  Ao se propor um contato com a família, pode ser levantado obstáculos pelo profissional (quando não tem a clareza da necessidade em se convocar uma entrevista familiar) ou pelo paciente (que teme perder seu status perante os familiares).  Há algumas armadilhas que podem expor o profissional: alguns membros que tentam triangular com o profissional, lateralização da comunicação, uso de linguagem inadequada para o grupo familiar, desrespeito a hierarquia do grupo e seus tempos de comunicação.  A Família é chave para a promoção da saúde, estabelecer de parcerias com a mesma é primordial para melhoria na qualidade de vida da mesma e da comunidade. Avaliação Após a construção da associação, é necessária a análise do funcionamento do grupo familiar de forma mais objetiva possível e, para tanto nos munimos de determinadas ferramentas. Essa análise tenta explicitar as linhas de poder e decisão no grupo, a forma de vivenciar o processo saúde/doença, utilizando recursos internos e externos (comunitários). Avaliar o contexto em que um problema se instala aumenta o poder de intervenção e, consequentemente, sua resolutividade. Em especial nas condições crônicas, o entendimento do paciente e da família e a tradução dos conhecimentos sobre a evolução e terapêutica para uma linguagem acessível a eles pode ser determinante no desfecho. As principais ferramentas utilizadas são: 1. Genograma – instrumento gráfico que permite rapidamente visualizar padrões de repetição de patologias e comportamentos. 2. Ciclo de Vida Familiar – identifica situações em que o surgimento de disfunções é mais frequente. Nas fases de transição, em que a família é forçada a renegociar os papéis, é onde as doenças se instalam mais facilmente. 3. F.I.R.O. (Fundamental Interpersonal Relations Orientations) – através das dimensões Inclusão, Controle e Intimidade; é utilizado para analisar as relações entre os membros da família, seus papéis na harmonia do grupo e como um problema pode interferir na sua dinâmica. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 9. Pá g in a |9 4. P.R.A.C.T.I.C.E. – segue o seguinte roteiro: problema apresentado, papéis, afeto, comunicação, tempo no ciclo de vida, doença na família (passado e presente), enfrentando o estresse, ecologia (suporte e contatos externos). Educação em saúde Baseados na história e na experiência das pessoas, deve-se prover a família de informações acerca do processo saúde/doença de forma a incentivar o desenvolvimento do autocuidado e hábitos saudáveis. Partimos do pressuposto que o adulto somente aprende novos conhecimentos quando estes tem sentido em suas vidas, quando a família busca auxílio para lidar com determinado problema é o momento-chave para se introduzir os conceitos de educação em saúde. Deve-se ter em mente que a informação deve ser dada em consonância com a capacidade de percepção e necessidade do cliente, não se podendo deixar de lado as questões culturais. Deixar de considerar essas questões, desrespeitando as linhas de poder dentro da comunidade torna o profissional incapaz de dar sentido às informações que deseja transmitir. Facilitação Para que se faça a facilitação de comunicação entre os membros de um grupo familiar, necessitamos compreender suas relações de poder e sua maneira de se comunicar. Uma ferramenta bastante útil nesse ponto é o F.I.R.O., ajudando a identificar aliados e empecilhos para que ocorra a comunicação, além de perpetuadores da situação patogênica. Referência O profissional de Saúde da Família deve referenciar o cliente ou a família a um nível maior de complexidade de atenção, explicando os motivos e o resultado esperado com esse encaminhamento. Deve-se tentar estabelecer uma forma de contato com o profissional que irá receber a referência, fornecendo subsídios para a avaliação e a contra-referência. Isso irá aumentar a confiança da família e do cliente, garante as informações para o consultor, estabelece um vínculo de corresponsabilidade e possibilita que o profissional da atenção primária dê continuidade ao caso. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 10. P á g i n a | 10 GENOGRAMA O Genograma (“árvore da família”, fenograma, pedigree da família, familigrama) é um método de coleta, armazenamento e processamento de dados sobre a família, podendo ser usado para explorar problemas biomédicos, genéticos, comportamentais e sociais. Sua funcionalidade está na rápida visualização da complexidade da “estrutura” da família, de informações mais estáveis, com pouca informação sobre sua dinâmica. Por abordar o indivíduo (mesmo reportando gerações anteriores), é uma ferramenta distinta do PRATICE, uma vez que este aborda mais profundamente as relações familiares. A elaboração do genograma é diagnóstica e potencialmente terapêutica, pois permite aos elementos da família se confrontarem com a sua história familiar. Além disso, melhora a aceitação do cliente e a relação profissional-cliente. Não deve ser utilizado rotineiramente, sendo mais efetivo quando aplicado seletivamente. Sua coleta pode ser feita com entrevista com o paciente ou, preferencialmente, com a presença de toda a família. O registro é feito com a utilização de símbolos e o mínimo de palavras. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 11. P á g i n a | 11 Saultz JW. The contextual care. In: Saultz JW (editor). Textbook of Family Medicine. Mc Graw-Hill. 2000:135-59. Citado por REBELO (2007). O Genograma deve conter: 1. Idade ou ano de nascimento de todos os membros familiares. 2. Qualquer morte, inclusive idade a ou data de morte e causa. 3. Doenças significantes ou problemas biopsicossociais de membros familiares. 4. Indicação de membros que moram na mesma casa. 5. Datas de matrimônios e divórcios 6. Listagem do primogênito à esquerda, com os demais irmãos consecutivamente por ordem cronológica à direita. 7. Uma legenda descrevendo os símbolos utilizados 8. Símbolos selecionados para o máximo de simplicidade e visibilidade Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 12. P á g i n a | 12 CICLO DE VIDA FAMILIAR “O Ciclo de Vida Familiar define etapas pelas quais uma família passa durante a sua evolução, bem como as tarefas que devem ser cumpridas no decorrer de cada uma delas”. (CAEIRO, 1991) É necessária a compreensão do ciclo de vida familiar, assim como do desenvolvimento individual, de forma que o profissional de saúde possa formular hipóteses sobre os problemas que os pacientes estão vivendo. A Família não é uma estrutura estática, ao contrário, está sujeita a mudanças contínuas no decorrer do seu desenvolvimento, não se podendo deixar de considerar a influência determinada pelo contexto social, político e econômico. O profissional de saúde, tendo em conta estas mudanças poderá ajudar os familiares a prevê-las e a prepararem-se para elas, podendo, ao mesmo tempo, enriquecer a sua compreensão do contexto em que ocorrem as várias situações de doença (McWHINNEY, 1994:185). Segundo DUVALL, o ciclo de vida familiar compõe-se de oito fases centradas na existência dos filhos e na sua educação, desde o nascimento até a maturidade. Apesar de não ser necessário que cada família passe pelo ciclo completo e em sequência. Ultrapassar fases é, em graus variáveis, traumático e requer respostas adaptativas de todos os membros a cada nova situação. Uma melhor ou pior adaptação a determinado conflito induzirá a satisfação e o sucesso na resolução dos conflitos posteriores. Não entender os papéis correspondentes a cada fase do ciclo, bem como as tarefas exigidas, pode gerar disfunção pessoal e familiar. Estágio do Ciclo de Vida Tarefas a serem cumpridas Tópicos de promoção de saúde  Estabelecer a identidade do casal (estabelecer Estágio I: Casamento e um relacionamento satisfatório); lar independente: A união das famílias  Realinhar os relacionamentos com a família ampliada  Comunicação sobre as expectativas de cada (autonomia em relação à família de origem, união de sistemas um dos cônjuges. Marido, Mulher (iniciando a vida a dois; casal sem filhos). bastante complexos);  Planejamento familiar  Tomar decisões em relação à paternidade;  Novas amizades.  Envolver o pai na gestação. Estágio II: Famílias com filhos  Integrar os lactentes à unidade familiar e encorajar seu  Orientações sobre acidentes e doenças na pequenos desenvolvimento; gestação e primeira infância. Marido-pai, Mulher-mãe,  Acomodar-se às novas funções parentais e dos avós;  Informações sobre o crescimento e filho e/ou filha  Manutenção de uma ligação conjugal. desenvolvimento da criança.  Encorajar um tempo para o casal. Estágio III: Famílias com pré-  Socializar as crianças;  Estimular o diálogo na educação dos filhos. escolares  Pais e filhos ajustam-se à separação;  Informações sobre o crescimento e Marido-pai, Mulher-mãe,  Enfrentar custos financeiros crescentes; desenvolvimento da criança. filho-irmão, filha-irmã  Desgaste de energia e a falta de privacidade dos pais.  Encorajar um tempo para o casal.  As crianças desenvolvem relacionamento com os amigos;  Informações sobre o crescimento e Estágio IV: Famílias com escolares  Os pais ajustam-se às influências da escola e dos colegas de desenvolvimento da criança. Marido-pai, Mulher-mãe, seus filhos;  Monitorar o desempenho escolar. filho e/ou filha  Enfrentar demandas crescentes de tempo e dinheiro;  Sugerir estratégias de manejo do tempo.  Manter uma relação de casal.  Aquisição de novos hábitos e amigos.  Os adolescentes desenvolvem crescente autonomia;  Equilibrar liberdade com responsabilidade.  Estabelecer relação que reflita aumento de Estágio V: Famílias com  Os pais reorientam-se para as questões de carreira e da autonomia; adolescentes metade da vida conjugal;  Informações sobre o desenvolvimento do Marido-pai, Mulher-mãe,  Os pais começam uma mudança no sentido de preocupar-se adolescente. filho e/ou filha com a geração com mais idade;  Sexualidade e hábitos.  Estabelecer fundamentos para atividades dos pais após a  Estilo de vida. saída dos filhos. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 13. P á g i n a | 13 Estágio VI: Famílias como  Trabalhar aceitação da multiplicidade de centro de partida  Os pais e os adultos jovens estabelecem identidades entradas e saídas na família. Marido-pai-avô, Mulher- independentes;  Acomodação ao fim de papel de pais e mãe-avó  Renegociar as relações conjugais; estabelecimento de relações adultas com os filhos.  Reinvestem na identidade do casal;  Desenvolvimento de interesses diferentes; Estágio VII: Famílias de meia  Encorajar a fazer planos para idade  Realinhamento das relações para incluírem afiliados e aposentadoria, lazer e moradia. netos; Marido-pai-avô, Mulher-  Discutir sexualidade e processos ligados ao mãe-avó, filho-irmão-tio,  Planejar o futuro financeiro e aposentadoria; envelhecimento. filha-irmã-tia  Lidar com as incapacidades e a morte da geração com mais  Explorar o papel de avós. idade;  Prover conforto, saúde e bem estar ao casal.  Deslocamento da função de trabalho para aposentados e para semiconfinamento ou recolhimento total;  Tópicos de saúde na terceira idade. Estágio VIII: Famílias em  Prover moradia e segurança financeira;  Revisar a vida como recurso para a saúde envelhecimento  Mantêm o funcionamento individual e do casal enquanto de mental. Viúva, Viúvo, mulher-mãe- adaptam ao processo de envelhecimento;  Terapias ocupacionais e lazer. avó, marido-pai-avô  Preparação para a própria morte e aceitação da perda do  Lidar com as perdas (amigos, parentes, parceiro e/ou filhos e de outros amigos; cônjuge e outros).  Integridade do ego. Adaptado de: WHALEY & WONG. Enfermagem Pediátrica (1999); de: De DUVALL. Manual de Medicina Familiar (1994) e de: MOYSÈS, Samuel Jorge. PSF – Ferramentas (2003). Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 14. P á g i n a | 14 F.I.R.O. (Fundamental Interpersonal Relations Orientations) O modelo FIRO foi projetado por Willian Schultz com objetivo de estudar grupos em um sistema social e adaptado por W. J. Doherty e N. Colangelo para estudo e terapia com famílias. Especificamente com relação à família, destina-se a compreender melhor o seu funcionamento. É muito utilizado para entender:  Alterações no ciclo de vida familiar.  Avaliação das disfunções conjugais ou familiares.  Doenças graves.  Pacientes terminais. As relações de família podem ser categorizadas nas dimensões de INCLUSÃO, CONTROLE E INTIMIDADE e constituem uma sequência inerente ao desenvolvimento para o manejo de mudanças na família. As três dimensões constituem uma sequência lógica de prioridades para o tratamento. 1. INCLUSÃO (“dentro ou fora”) – Refere-se à interação dentro da família, organização e vinculação. Há a necessidade interpessoal de manter um relacionamento satisfatório. A. Estrutura: refere-se aos padrões repetitivos de interação que se tornam rotina. Relaciona-se a organização da família, incluindo papéis e laços entre as gerações. B. Conectividade: refere-se a laços de interação entre os membros, relacionando-se elementos de comprometimento, educação e sentimentos de pertencer. C. Modos de compartilhar: refere-se às associações interativas com o senso especial de identidade da família como grupo. Envolve noções como rituais familiares e valores familiares. 2. CONTROLE (“topo ou base”) – Refere-se às interações que influenciam o poder dentro da própria família. Existe a necessidade de se estabelecer e manter o balanço de poder nos relacionamentos. Os maiores tipos de interações de controle são:  Controle dominante (tentativa de influência unilateral)  Controle reativo (tentativa de contrariar uma influência)  Controle colaborativo (tentativa de dividir as influências). 3. INTIMIDADE (“perto ou distante”) – refere-se às trocas interpessoais e sentimentos compartilhados, esperanças, expectativas, proximidade ou distanciamento. Há a necessidade de se estabelecer e manter relações de amor e afeto. Quando a família sofre mudanças, seus membros são forçados a renegociar os papéis com relação aos itens anteriores (inclusão, controle e intimidade). Inclusão, Controle e Intimidade constituem uma sequência inerente ao desenvolvimento para o manejo de mudanças na família, também constituindo uma sequência lógica de prioridade na intervenção na mesma. Protocolo sugerido de Intervenção na Família com uso do FIRO (LIBRACH, Lawrence & TALBOT, Yves): 1. Itens relativos à Inclusão (“dentro ou fora”) Desde que você descobriu a doença:  Como sente o seu papel ter mudado?  O seu papel atual lhe causa alguma preocupação?  Como você se sente sobre o modo que os outros membros da família lidam com seus papéis? Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 15. P á g i n a | 15 2. Itens relativos ao Controle (“topo ou base”) Desde que você descobriu a doença:  Você se sente suficientemente envolvido no processo de decisão de sua família?  Você sente que a sua família tem um bom modo de tomar decisões? E quanto aos conflitos?  Você sente se você e a sua família estão no controle da situação? 3. Intimidade (“perto ou distante”) Desde que você descobriu a doença:  Você se sente confortável em compartilhar os seus sentimentos com os outros membros da família?  Existem emoções que você está relutante em dividir com outros membros da família?  Você está satisfeito na sua relação com o cônjuge? Pais? Irmãos? Outros membros da família? Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 16. P á g i n a | 16 P.R.A.C.T.I.C.E. O modelo PRACTICE foi projetado como diretriz para a avaliação do funcionamento das famílias, focando-se no problema. Fornece informações sobre a dinâmica familiar e posicionamento desta frente os problemas enfrentados, ajudando o profissional de Saúde da Família a traçar intervenções para o manejo do caso específico. P. Presenting Problem (Problema apresentado ou razão da entrevista)  Enfermidades, hospitalizações, problemas comportamentais e de relacionamento. R. Roles and Structure (Papéis e estrutura)  Função na organização hierárquica, barreiras (fronteiras), coesão e controle (do caos à rigidez).  A posição de maior poder refere-se a quem toma as decisões mais importantes, a quem geralmente controla os rendimentos familiares, ou de quem vem a “última palavra”.  Os papéis dos membros não causam conflitos desde que estejam claros e aceitos por todos, podendo ser definidos implícita ou explicitamente.  Deve-se estar atento ao grau de autonomia individual. A. Affect (Afeto)  Refere-se a como a família se comporta frente ao problema apresentado.  Expressão das emoções, tom emocional familiar (caloroso, entristecido, raivoso, bem humorado, etc.).  Famílias saudáveis são capazes de expressar uma grande diversidade de emoções, tanto positivas quanto negativas.  Deve-se estar atento para expressões de emoções que não são apropriadas à realidade vivenciada, pois podem sinalizar para dificuldades familiares. C. Communication (Comunicação)  Avaliar tanto a comunicação verbal quanto a não verbal ajuda a entender como a família se organiza.  Devem-se incentivar formas de comunicação direta em detrimento de expressões “veladas”. T. Time in the family life cycle (Tempo no ciclo de vida familiar)  A dinâmica de cada estágio do desenvolvimento é experimentada de forma diferente por cada família e influencia na ocorrência de enfermidades e resposta às mesmas. I. Illness in family past and present (Enfermidade2 na família no passado e no presente)  Focalizar as enfermidades, podendo estas estar mascaradas em uma disfunção na unidade familiar.  Experiências com doenças anteriores, principalmente se freqüentes ou graves, modificarão a resposta no presente.  O significado da doença, a crença no sistema de saúde, hábitos de saúde e estilo de vida também podem ser determinados pela família. C. Coping with Stress (Enfrentando o estresse)  Adaptabilidade, estratégias e soluções familiares ao lidar com enfermidades, tanto no passado quanto 2 Entenda-se enfermidade como a experiência de adoecer, como é vivenciar a doença, quais as perdas e ganhos determinadas por esta doença. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 17. P á g i n a | 17 no presente. E. Ecology (Ecologia)  Interação da família com o meio.  Refere-se a suporte e contatos externos (sociais, culturais, religiosos, econômicos, educacionais e de saúde), ou seja, os recursos que a família dispõe para enfrentar o problema. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas
  • 18. P á g i n a | 18 BIBLIOGRAFIA 1. BADER, Eduard. Trabalhando com Famílias - Livro de Trabalho para Residentes. S.L.. S.D.. 2. BARRIER, D.; BYBEL, M.; CHRISTIE-SEELY, J.; WHITTAKER, Y.. PRATICE – A Family Assessment Tool for Family Medicine. In: Working with families in primary care. 3. BRASIL, Carlos Henrique Guimarães. Ciclo de Vida Familiar, Genograma, FIRO e PRACTICE – Estudo de Família. , Montes Claros: UNIMONTES, 2001. 4. CAEIRO, Rui Trabucho. Registros Clínicos em Medicina Familiar. 1a Ed. Lisboa: Instituto de Clínica Geral da Zona Sul, 1991. 5. CANTALE, Carlos R. Familigrama. Departamento de Medicina Familiar de la Universidad del Sur de California. 6. FRANÇA, Junia Lessa. Manual para normatização de publicações técnico-científicas. 3ª ed. Belo Horizonte: UFMG, 1999. 7. MCWHINNEY, Ian R.. Manual de Medicina Familiar. Lisboa: Editora Inforsalus, 1994. 8. MIRANDA, Clara Feldman; MIRANDA, Márcio Lúcio de. Construindo a Relação de Ajuda. Belo Horizonte: Editora Crescer, 1983. 9. MOYSÉS, Samuel Jorge. PSF – Ferramentas. Disponível em: <www.universidadesaudavel.com.br>. 10. MOYSÉS, Samuel Jorge. Trabalhando com famílias em Saúde da Família. Revista Médica do Paraná. V. 57, N. 1/2, P. 40-46. 11. RAKEL, Robert. E.. In:Tratado de Medicina Familiar. 5ª ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro - RJ, 1997. 12. REBELO, Luís. Genograma Familiar: O Bisturi do Médico de Família. Revista Portuguesa de Clínica Geral. n.23, p. 309-317. 2007. 13. SILVA, Rogério Soares. Estudo de Caso – FIRO, PRACTICE, GENOGRAMA e Ciclo de Vida Familiar. Montes Claros: UNIMONTES, 2001. 14. WAGNER, H. L.; WAGNER, A. B. P.; TALBOT, Y.; OLIVEIRA, E. Trabalhando com Famílias em Saúde da Família. Disponível em: <http://paginas.terra.com.br/saude/PSF/trabalhando001.htm> 15. WONG, Donna L.. Enfermagem pediátrica, 5a ed. Guanabara Koogan Rio de Janeiro - RJ, 1999. 16. MELLO, Maria Ignez Vianello. Família e Transições no Ciclo de Vida. Disponível em: <http://www.instituto-h- ellis.com.br/unidade_freicaneca/textosDet.asp?id=31>. Residência em Medicina de Família e Comunidade e Especialização em Saúde de Família para Enfermeiros e Cirurgiões Dentistas