SlideShare a Scribd company logo
1 of 12
Dor
recorrente
abdominal
A dor abdominal é um problema
comum em escolares. É definida
na presença de pelo menos três
episódios de dor, suficientemente
fortes para interferir nas atividades
habituais da criança por um perío-
do mínimo de três meses 1
.
DorAbDominAl
recorrente
Consenso sobre Dores PouCo ValorizaDas em Crianças
2
Dor Abdominal Recorrente
Sílvia Maria de Macedo Barbosa
Médica Assistente, Pediatra, Chefe da Unidade de Dor e Cuidados Paliativos do Instituto
da Criança da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Claudio A. Len
Professor Adjunto, Doutor, Disciplina de Alergia, Imunologia e Reumatologia do Departamento
de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina.
Autores
Claudio A. LenClaudio A. Len
Coordenador
2. Cefaleia/ Enxaqueca
Eliete Chiconelli Faria | Marcelo Masruha Rodrigues
Dor Abdominal Recorrente
Sílvia Maria de Macedo Barbosa
•
Autores
1
7. Dor em Erupção Dental
Adriana Mazzoni | Renata Dejtiar Waksman
6. Fibromialgia Juvenil
Melissa M. Fraga
8. Dores Relacionadas à Prática de Esportes
Ana Lucia de Sá Pinto
5. Desordens Temporomandibulares (DTM)
Liete Figueiredo Zwir | Maria Teresa R. A. Terreri
4. Dor Musculoesquelética Idiopática (Dor do Crescimento)
Clovis Artur A. Silva
3. Cólica do Lactente
Ana Teresa Stochero Leslie | Ruth Guinsburg
Dor AbDominAl recorrente
3
A dor abdominal é um problema comum em escolares. É definida
na presença de, pelo menos, três episódios de dor suficiente-
mente fortes para interferir nas atividades habituais da criança
por um período mínimo de três meses1
. Aproximadamente 10%
dos escolares apresentam episódios de dores abdominais recor-
rentes (DAR)1
.
A origem da dor abdominal é complexa e não há um único modelo
de casualidade. De um modo geral, as doenças orgânicas são
identificadas em 10% das crianças com DAR1
.
Várias causas orgânicas estão relacionadas à dor abdominal,
sendo que, em muitos casos, a fisiopatologia é relacionada a
processos infecciosos (por exemplo, infecção do trato urinário),
inflamatórios (doença de Crohn) ou distensão/obstrução de
vísceras ocas. Doenças parasitárias e constipação também
devem ser consideradas (Tabela 1).
1 Etiologia
consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs
4
Tabela 1: Causas de Dor Abdominal Recorrente
Muitas doenças podem causar DAR. Na prática clínica, a maio-
ria das crianças e adolescentes não tem evidência da doença e
apresenta dor abdominal funcional. A classificação de
Roma II (1999) sugere um sistema de classificação funcional das
Gastrointestinais
constipação crônica
doença inflam. intestinal
infecção parasitária
intolerância diet. (lactose)
refluxo gastroesofágico
infecção H. pylori
doença celíaca
úlcera péptica
gastrite
hepatite
cálculo biliar
apendicite crônica
pancreatite crônica
dispepsia funcional
síndr. do intest. irritável
síndrome da dor
abdominal funcional
migrânea abdominal
aerofagia
Urinárias
infecção do trato
urinário
cálculo renal
Miscelânea
epilepsia
abdominal
abuso físico,
emocional
e sexual
Ginecológicas
cisto de ovário
endometriose
doença inflamatória
pélvica
Dor AbDominAl recorrente
5
Tabela 2: Critérios Diagnósticos para Desordens Intestinais
Funcionais
desordens gastrointestinais que se associam com as dores
abdominais recorrentes3
. São incluídos os diagnósticos de dis-
pepsia funcional, síndrome do intestino irritável, dor abdominal
funcional e migrânea abdominal. Na presença de sintomas de
dor abdominal que preencham os critérios de Roma, pode-se
estabelecer o diagnóstico definitivo sem necessidade de inves-
tigação laboratorial adicional4
.
A escala de Roma foi revista e modificada em 2006, sendo
desenvolvidos os critérios Roma para dores abdominais fun-
cionais pediátricas 5
(Tabela 2).
Critérios diagnósticos para dispepsia funcional
Devem ser incluídas as seguintes características:
1. Dor recorrente ou desconforto no abdome superior (acima do umbigo).
2. Dor não aliviada pela defecação ou dor associada com uma mudança na frequência
de evacuações ou forma das fezes.
3. Ausência de evidência de um processo inflamatório, anatômico, metabólico ou
neoplásico que explique a dor.
Critérios diagnósticos para a síndrome do intestino irritável*
Devem ser incluídas as seguintes características:
1. Desconforto abdominal (uma sensação desconfortável não descrita como a dor) ou
dor associada com dois ou mais dos seguintes casos em pelo menos 25% do tempo:
a) Melhora com a defecação;
b) Início associado com uma mudança na frequência das fezes, e
c) Início associado com alteração na aparência das fezes
2. Ausência de evidência de um processo inflamatório, anatômico, metabólico ou
neoplásico.
* Critérios presentes uma vez por semana por, no mínimo, dois meses antes do diagnóstico.
consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs
6
Critérios diagnósticos para a enxaqueca abdominal †
Devem ser incluídas as seguintes características:
1. Episódios paroxísticos de dor aguda intensa periumbilical com duração de uma hora
ou mais.
2. Dor intercalada por períodos de saúde com duração usual de semanas a meses.
3. Dor que interfere nas atividades normais.
4. Dor associada a 2 ou mais dos seguintes sintomas: anorexia, náuseas, vômitos, dor
de cabeça, fotofobia ou palidez.
5. Ausência de evidência de um processo inflamatório, anatômico, metabólico ou
neoplásico.
Critérios diagnósticos para dor abdominal funcional na infância
Devem ser incluídas as seguintes características:
1. Dor episódica ou dor abdominal contínua.
2. Ausência de critérios para outros distúrbios gastrintestinais funcionais.
3. Ausência de evidências de processo inflamatório, anatômico, metabólico ou
neoplásico.
Critérios diagnósticos para síndrome de dor abdominal funcional
na infância
Deve ser incluída a dor abdominal funcional na infância em pelo menos
25% do tempo e um ou mais dos seguintes:
1. Perda de funcionamento diário.
2. Sintomas somáticos adicionais como dor de cabeça, dores nos membros ou
dificuldade em dormir.
Critérios diagnósticos para aerofagia
Devem ser incluídos pelo menos dois dos seguintes:
1. Ato de engolir ar.
2. Distensão abdominal devido ao ar intraluminal.
2. Arrotos repetitivos e/ou aumento de flatos.
† Critérios presentes duas ou mais vezes nos últimos 12 meses.
Dor AbDominAl recorrente
7
A anamnese adequada associada ao exame físico são manda-
tários para uma avaliação adequada em pacientes com história de
dor abdominal recorrente. Devem ser colhidos dados sobre a dor,
frequência, localização, qualidade e associação com outros sin-
tomas, como sudorese, náuseas e tonturas. É importante que se
pesquise a existência de fatores desencadeantes, como doença
viral recente, ingestão de certos tipos de alimentos e relação com
estresse, ansiedade e uso concomitante ou anterior de medica-
ção. Sintomas sistêmicos devem ser observados, tais como per-
da de peso, atraso no crescimento, atraso no desenvolvimento
puberal, febre, erupção cutânea e dor articular. A história familiar
de doença inflamatória intestinal ou de úlcera péptica deve ser
questionada.
O exame físico deve ser completo: curva de crescimento, ganho
ponderal, estado geral do paciente, pele, artrites e sinais de
inflamação perirretal. O exame físico abdominal deve incluir a
inspeção do abdome, ausculta dos ruídos intestinais, palpação
do fígado, baço, massas e áreas de sensibilidade.
O exame físico de pacientes com distúrbios funcionais geralmente
é inespecífico, embora possa haver uma discreta área de maior
sensibilidade à palpação. Sinais de irritação peritonial não são
consistentes com diagnóstico de dor abdominal funcional.
Para o diagnóstico de DAR não são necessários os exames
subsidiários sofisticados. É essencial uma análise completa da
2 abordagEm da Criança Com dor
consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs
8
queixa e dos outros componentes da história, um exame físico
meticuloso e um raciocínio criterioso de investigação. Crianças
que apresentam sinais de alerta na história e no exame físico ne-
cessitam de maiores investigações com exames.
Tabela 3: Sinais de Alerta na História e no Exame Físico
para Dor Abdominal Recorrente
Os exames, como a urina tipo 1, o exame de fezes e alguns
de sangue são recomendados para se excluir causas orgânicas
de pacientes com DAR.
Avaliações com exames de imagem (ultrassom, radiografia
simples, tomografia computadorizada) e investigações invasivas,
como a endoscopia, são raramente necessárias (Tabela 4).
Sinais de alerta
na história
Dor localizada longe do umbigo
Dor capaz de acordar a criança à noite
Dor que altera os hábitos intestinais;
disúria; alterações cutâneas e artrite
Sangue oculto
Vômitos repetidos,
especialmente biliosos
Sintomas constitucionais concorrentes,
como febre, perda do apetite e letargia
Sinais de alerta
no exame físico
Perda de peso ou retardo
de crescimento
Hepatomegalia e esplenomegalia
Dor abdominal localizada
particularmente longe do umbigo
Edema articular, dor ou calor
Palidez, alterações cutâneas, hérnias
da parede abdominal
Dor AbDominAl recorrente
9
Tabela 4: Exames Auxiliares no Diagnóstico da Dor
Abdominal Recorrente
A recomendação para o tratamento das crianças com DAR
inclui suporte e educação para a família, garantindo-se que não
há uma doença séria presente. Com esta abordagem, 30 a 60%
das crianças apresentam resolução da sua dor1
. O tratamento
farmacológico com antagonistas do receptor H2
pode ser
utilizado para o manuseio dos sintomas de crianças com
dispepsia. O uso de pizotifeno, um antagonista seratoninérgico,
tem se mostrado efetivo nos casos de migrânea abdominal6
.
O uso de analgésicos, como o paracetamol e a dipirona, pode
ser necessário para os momentos de crise álgica.
Investigação Básica
Hemograma completo
Velocidade de hemossedimentação
Proteína C reativa
Urina tipo 1
Urocultura
Protoparasitológico de fezes
Investigação Secundária
Radiografia de abdome
Testes hepáticos
Função renal
Ultrassom abdominal
Pesquisa para intolerância à lactose
Teste para H. pylori
Enema opaco
Manometria esofágica e pHmetria
Endoscopia
Uretrocistografia miccional
consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs
10
Alguns passos são úteis para o adequado manuseio das dores
recorrentes abdominais:
1. Explicação para a família, de forma cuidadosa, sobre os
conceitos e as razões por trás das investigações. Após a
exclusão das causas orgânicas, reassegure ao paciente e
à família que não há uma doença séria presente.
2. Identificação dos sinais de alerta.
3. Postura de evitar “rótulos psicológicos”, a não ser que as
evidências mostrem a presença de psicopatologia.
4. Permissão (e encorajamento) para a realização das ativi-
dades normais.
5. Atenção para a retirada das atividades. Caso ocorra
a interrupção das atividades normais por iniciativa da
própria criança, deve-se considerar o encaminhamento
psicológico.
6. Estabelecimento de um acompanhamento regular com
retornos periódicos para controle dos sintomas.
7. Disponibilidade para examinar a criança caso ocorram
mudanças no padrão da dor ou no caso de pais muito
ansiosos.
8. Cuidado com a resposta ao placebo. Evite o diagnóstico
imediato baseado em resposta terapêutica.
9. Abertura para pedidos de segunda opinião.
Dor AbDominAl recorrente
11
Referências Bibliográficas:
1.Devanarayana NM, Rajindrajith S, Silva HJ. Recurrent Abdominal Pain in Children. Indian Pediatrics.
2009: 46; 389-99. 2. Hyams JS, Burke G, Davis PM et al. Abdominal pain and irritable bowel syndrome
in adolescents: A community-based study. J Pediatr. 1996; 129: 220-26. 3. Hyman PE, Rasquin-Weber
A, Fleisher DR et al. Childhood functional gastrointestinal disorders. In Drossman DA (ed): The Functional
Gastrointestinal Disorders. 2. ed. Lawrence, KS, Allen Press, 2000, p. 533-575. 4. Rasquin-Weber A,
Hyman PE, Cucchiara S, Fleisher DR, Hyams JS, Milla PJ et al. Childhood functional gastrointestinal
disorders. Gut. 1999; 45: S60-8. 5. Devanarayana NM, de Silva GDH, de Silva HJ. Aetiology of recurrent
abdominal pain in a cohort of Sri Lankan children. J Paediatr Child Health. 2008; 44: 195-200. 6.
Huertas-Ceballos A, Macarthur C, Logan S. Pharmacological interventions for recurrent abdominal pain
(RAP) in childhood. Cochrane Database Syst Rev 2004. 7. Apley J, Hale B. Children with recurrent
abdominal pain: how do they grow up? BMJ. 1973; 3: 7-9. 8. Christensen MF, Mortensen O. Long-term
prognosis in children with recurrent abdominal pain. Arch Dis Child. 1975; 50: 110-14. 9. Jarrett M,
Heitkemper M, Czyzewski DI, Shulman R. Recurrent abdominal pain in children: forerunner for adult
irritable bowel syndrome? JSPN 2003; 8: 81-9.
O prognóstico a longo prazo relatado em dois estudos realiza-
dos por Aply e Hale 7
e Christensen and Mortensen 8
relata que,
aproximadamente, 50% das crianças com DAR funcional experi-
mentarão dor na fase adulta. O desenvolvimento da síndrome do
intestino irritável pode ocorrer em 25-29% dos casos 9
.
Impresso em
Agosto de 2011
Cód. 21360
Material destinado exclusivamente
a profissionais de saúde.
Reprodução e distribuição proibidas.
Realização:
Apoio institucional:

More Related Content

What's hot

What's hot (20)

Ventilação Mecânica Básica
Ventilação Mecânica Básica Ventilação Mecânica Básica
Ventilação Mecânica Básica
 
Aula sobre DPOC
Aula sobre DPOCAula sobre DPOC
Aula sobre DPOC
 
Exame físico do Tórax
Exame físico do TóraxExame físico do Tórax
Exame físico do Tórax
 
Abdome ll
Abdome llAbdome ll
Abdome ll
 
Insuficiência Cardíaca Congestiva - ICC
Insuficiência Cardíaca Congestiva - ICCInsuficiência Cardíaca Congestiva - ICC
Insuficiência Cardíaca Congestiva - ICC
 
Exame Físico do Aparelho Respiratório (Davyson Sampaio Braga)
Exame Físico do Aparelho Respiratório (Davyson Sampaio Braga)Exame Físico do Aparelho Respiratório (Davyson Sampaio Braga)
Exame Físico do Aparelho Respiratório (Davyson Sampaio Braga)
 
Hepatite B Caso Clinico
Hepatite B Caso ClinicoHepatite B Caso Clinico
Hepatite B Caso Clinico
 
PES 3.3 Rinossinusite
PES 3.3 RinossinusitePES 3.3 Rinossinusite
PES 3.3 Rinossinusite
 
E Nf. 02
E Nf. 02E Nf. 02
E Nf. 02
 
Interpretação de curvas e loops em ventilação mecânica
Interpretação de curvas e loops em ventilação mecânicaInterpretação de curvas e loops em ventilação mecânica
Interpretação de curvas e loops em ventilação mecânica
 
Síndromes pulmonares
Síndromes pulmonaresSíndromes pulmonares
Síndromes pulmonares
 
Caso clínico avc
Caso clínico   avc Caso clínico   avc
Caso clínico avc
 
Síndromes ictéricas
Síndromes ictéricasSíndromes ictéricas
Síndromes ictéricas
 
Manejo paciente diarreia
Manejo paciente diarreiaManejo paciente diarreia
Manejo paciente diarreia
 
Exame Físico Neurologico
Exame Físico NeurologicoExame Físico Neurologico
Exame Físico Neurologico
 
Ventilação mecânica
Ventilação mecânicaVentilação mecânica
Ventilação mecânica
 
Aula intubacao traqueal
Aula intubacao traquealAula intubacao traqueal
Aula intubacao traqueal
 
Doenças e distúrbios dos sistema respiratório
Doenças e distúrbios dos sistema respiratórioDoenças e distúrbios dos sistema respiratório
Doenças e distúrbios dos sistema respiratório
 
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica - DPOC
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica - DPOCDoença Pulmonar Obstrutiva Crônica - DPOC
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica - DPOC
 
Apendicite
ApendiciteApendicite
Apendicite
 

Viewers also liked

Doença de Osgood Schlatter
Doença de Osgood SchlatterDoença de Osgood Schlatter
Doença de Osgood Schlatterblogped1
 
Practica 3
Practica 3Practica 3
Practica 3surfin
 
Acidentes de trabalho e vacinação
Acidentes de trabalho e vacinaçãoAcidentes de trabalho e vacinação
Acidentes de trabalho e vacinaçãoLucas Stolfo Maculan
 
Calendário vacinal 2013 - SBP
Calendário vacinal 2013 - SBPCalendário vacinal 2013 - SBP
Calendário vacinal 2013 - SBPblogped1
 
Diagnóstico diferencial de bócio na infância
Diagnóstico diferencial de bócio na infânciaDiagnóstico diferencial de bócio na infância
Diagnóstico diferencial de bócio na infânciablogped1
 

Viewers also liked (7)

Doença de Osgood Schlatter
Doença de Osgood SchlatterDoença de Osgood Schlatter
Doença de Osgood Schlatter
 
Clase - Education
Clase - EducationClase - Education
Clase - Education
 
Self Intro...
Self Intro...Self Intro...
Self Intro...
 
Practica 3
Practica 3Practica 3
Practica 3
 
Acidentes de trabalho e vacinação
Acidentes de trabalho e vacinaçãoAcidentes de trabalho e vacinação
Acidentes de trabalho e vacinação
 
Calendário vacinal 2013 - SBP
Calendário vacinal 2013 - SBPCalendário vacinal 2013 - SBP
Calendário vacinal 2013 - SBP
 
Diagnóstico diferencial de bócio na infância
Diagnóstico diferencial de bócio na infânciaDiagnóstico diferencial de bócio na infância
Diagnóstico diferencial de bócio na infância
 

Similar to Dor abdominal recorrente

DOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptx
DOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptxDOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptx
DOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptxCassioOliver
 
Dor Abdominal Recorrente (DAR)
Dor Abdominal Recorrente (DAR) Dor Abdominal Recorrente (DAR)
Dor Abdominal Recorrente (DAR) blogped1
 
Dor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencial
Dor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencialDor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencial
Dor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencialLaped Ufrn
 
Úlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagem
Úlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagemÚlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagem
Úlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagemSamuel Olivera
 
APRESENTAÇÃO CEINHA.pdf
APRESENTAÇÃO CEINHA.pdfAPRESENTAÇÃO CEINHA.pdf
APRESENTAÇÃO CEINHA.pdfJosele Matos
 
Trabalho semiologia do abdome.
Trabalho semiologia do abdome.Trabalho semiologia do abdome.
Trabalho semiologia do abdome.Mariana Andrade
 
Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...
Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...
Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...Marcela Lago
 
Sindrome do abdome agudo
Sindrome do abdome agudoSindrome do abdome agudo
Sindrome do abdome agudopauloalambert
 
Aula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestre
Aula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestreAula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestre
Aula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestrefatimaunesa
 
Doença Inflamatória Intestinal em gatos
Doença Inflamatória Intestinal em gatosDoença Inflamatória Intestinal em gatos
Doença Inflamatória Intestinal em gatosCarolina Trochmann
 
Síndromes Abdominais
Síndromes AbdominaisSíndromes Abdominais
Síndromes Abdominaisdapab
 
DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...
DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...
DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...Fernanda Pércope
 
AULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptx
AULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptxAULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptx
AULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptxJordaniGugel
 

Similar to Dor abdominal recorrente (20)

DOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptx
DOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptxDOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptx
DOENÇA ABDOMINAIS AGUDA EM CRIANÇAS11-2.pptx
 
Dor Abdominal Recorrente (DAR)
Dor Abdominal Recorrente (DAR) Dor Abdominal Recorrente (DAR)
Dor Abdominal Recorrente (DAR)
 
Dor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencial
Dor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencialDor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencial
Dor abdominal na infância: abordagem e diagnóstico diferencial
 
Sii mgf
Sii mgfSii mgf
Sii mgf
 
Úlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagem
Úlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagemÚlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagem
Úlceras pepticas e apendicite e o processo de enfermagem
 
APRESENTAÇÃO CEINHA.pdf
APRESENTAÇÃO CEINHA.pdfAPRESENTAÇÃO CEINHA.pdf
APRESENTAÇÃO CEINHA.pdf
 
Trabalho semiologia do abdome.
Trabalho semiologia do abdome.Trabalho semiologia do abdome.
Trabalho semiologia do abdome.
 
Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...
Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...
Clínica médica - Constipação intestinal, diarréia, diverticulose e doença de ...
 
Abdome Agudo
Abdome AgudoAbdome Agudo
Abdome Agudo
 
Sindrome do abdome agudo
Sindrome do abdome agudoSindrome do abdome agudo
Sindrome do abdome agudo
 
Aula dor pélvica (1)
Aula dor pélvica (1)Aula dor pélvica (1)
Aula dor pélvica (1)
 
Caso Clínico
Caso ClínicoCaso Clínico
Caso Clínico
 
Aula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestre
Aula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestreAula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestre
Aula teórica dor abdominal 2010 2ºsemestre
 
Doença Inflamatória Intestinal em gatos
Doença Inflamatória Intestinal em gatosDoença Inflamatória Intestinal em gatos
Doença Inflamatória Intestinal em gatos
 
Síndromes Abdominais
Síndromes AbdominaisSíndromes Abdominais
Síndromes Abdominais
 
08 abdome.pptx
08 abdome.pptx08 abdome.pptx
08 abdome.pptx
 
Nutrição
NutriçãoNutrição
Nutrição
 
DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...
DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...
DESORDENS FUNCIONAIS (DOR ABDOMINAL): QUANDO SUSPEITAR E COMO CONVENCER QUE A...
 
Nauseas e vomitos
Nauseas e vomitosNauseas e vomitos
Nauseas e vomitos
 
AULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptx
AULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptxAULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptx
AULA DISTURBIOS DIGESTORIOS.pptx
 

More from blogped1

Estadiamento Puberal : Critérios de Tanner
Estadiamento Puberal : Critérios de TannerEstadiamento Puberal : Critérios de Tanner
Estadiamento Puberal : Critérios de Tannerblogped1
 
Roteiro de Consulta de Puericultura
Roteiro de Consulta de PuericulturaRoteiro de Consulta de Puericultura
Roteiro de Consulta de Puericulturablogped1
 
Febre amarela: Nota Informativa
Febre amarela: Nota InformativaFebre amarela: Nota Informativa
Febre amarela: Nota Informativablogped1
 
Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...
Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...
Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...blogped1
 
Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016
Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016
Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016blogped1
 
ABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de Vida
ABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de VidaABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de Vida
ABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de Vidablogped1
 
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN blogped1
 
Psoríase na infância
Psoríase na infânciaPsoríase na infância
Psoríase na infânciablogped1
 
Revised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilities
Revised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilitiesRevised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilities
Revised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilitiesblogped1
 
Sinusite Bacteriana Aguda
Sinusite Bacteriana AgudaSinusite Bacteriana Aguda
Sinusite Bacteriana Agudablogped1
 
Otite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites Media
Otite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites MediaOtite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites Media
Otite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites Mediablogped1
 
Paralisia Facial
Paralisia FacialParalisia Facial
Paralisia Facialblogped1
 
Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016
Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016
Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016blogped1
 
Giant congenital juvenile xanthogranuloma
Giant congenital juvenile xanthogranulomaGiant congenital juvenile xanthogranuloma
Giant congenital juvenile xanthogranulomablogped1
 
Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.
Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.
Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.blogped1
 
Hipoglicemia Neonatal
Hipoglicemia  Neonatal Hipoglicemia  Neonatal
Hipoglicemia Neonatal blogped1
 
Síndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura Conceitual
Síndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura ConceitualSíndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura Conceitual
Síndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura Conceitualblogped1
 
Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...
Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...
Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...blogped1
 
Icterícia neonatal
 Icterícia neonatal  Icterícia neonatal
Icterícia neonatal blogped1
 
Picnodisostose
PicnodisostosePicnodisostose
Picnodisostoseblogped1
 

More from blogped1 (20)

Estadiamento Puberal : Critérios de Tanner
Estadiamento Puberal : Critérios de TannerEstadiamento Puberal : Critérios de Tanner
Estadiamento Puberal : Critérios de Tanner
 
Roteiro de Consulta de Puericultura
Roteiro de Consulta de PuericulturaRoteiro de Consulta de Puericultura
Roteiro de Consulta de Puericultura
 
Febre amarela: Nota Informativa
Febre amarela: Nota InformativaFebre amarela: Nota Informativa
Febre amarela: Nota Informativa
 
Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...
Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...
Dermatoses neonatais de importância clínica: notificação no prontuário do rec...
 
Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016
Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016
Internato em Pediatria I da UFRN - Relatório 2016
 
ABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de Vida
ABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de VidaABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de Vida
ABCDE do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) no Primeiro Ano de Vida
 
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
PÚRPURA DE HENOCH- SCHONLEIN
 
Psoríase na infância
Psoríase na infânciaPsoríase na infância
Psoríase na infância
 
Revised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilities
Revised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilitiesRevised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilities
Revised WHO classification and treatment of childhoold pneumonia at facilities
 
Sinusite Bacteriana Aguda
Sinusite Bacteriana AgudaSinusite Bacteriana Aguda
Sinusite Bacteriana Aguda
 
Otite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites Media
Otite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites MediaOtite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites Media
Otite Média Aguda (OMA) / Acutes Otites Media
 
Paralisia Facial
Paralisia FacialParalisia Facial
Paralisia Facial
 
Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016
Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016
Nota informativa 149 - Mudanças no Calendário Nacional de Vacinação - 2016
 
Giant congenital juvenile xanthogranuloma
Giant congenital juvenile xanthogranulomaGiant congenital juvenile xanthogranuloma
Giant congenital juvenile xanthogranuloma
 
Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.
Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.
Tonsillitis in children: unnecessary laboratpry studies and antibiotic use.
 
Hipoglicemia Neonatal
Hipoglicemia  Neonatal Hipoglicemia  Neonatal
Hipoglicemia Neonatal
 
Síndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura Conceitual
Síndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura ConceitualSíndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura Conceitual
Síndromes Neurocutâneas : Revisão e Leitura Conceitual
 
Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...
Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...
Malformações extra-cardíacas em pacientes com cardiopatias congênitas atendid...
 
Icterícia neonatal
 Icterícia neonatal  Icterícia neonatal
Icterícia neonatal
 
Picnodisostose
PicnodisostosePicnodisostose
Picnodisostose
 

Dor abdominal recorrente

  • 1. Dor recorrente abdominal A dor abdominal é um problema comum em escolares. É definida na presença de pelo menos três episódios de dor, suficientemente fortes para interferir nas atividades habituais da criança por um perío- do mínimo de três meses 1 . DorAbDominAl recorrente
  • 2. Consenso sobre Dores PouCo ValorizaDas em Crianças 2 Dor Abdominal Recorrente Sílvia Maria de Macedo Barbosa Médica Assistente, Pediatra, Chefe da Unidade de Dor e Cuidados Paliativos do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Claudio A. Len Professor Adjunto, Doutor, Disciplina de Alergia, Imunologia e Reumatologia do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina. Autores Claudio A. LenClaudio A. Len Coordenador 2. Cefaleia/ Enxaqueca Eliete Chiconelli Faria | Marcelo Masruha Rodrigues Dor Abdominal Recorrente Sílvia Maria de Macedo Barbosa • Autores 1 7. Dor em Erupção Dental Adriana Mazzoni | Renata Dejtiar Waksman 6. Fibromialgia Juvenil Melissa M. Fraga 8. Dores Relacionadas à Prática de Esportes Ana Lucia de Sá Pinto 5. Desordens Temporomandibulares (DTM) Liete Figueiredo Zwir | Maria Teresa R. A. Terreri 4. Dor Musculoesquelética Idiopática (Dor do Crescimento) Clovis Artur A. Silva 3. Cólica do Lactente Ana Teresa Stochero Leslie | Ruth Guinsburg
  • 3. Dor AbDominAl recorrente 3 A dor abdominal é um problema comum em escolares. É definida na presença de, pelo menos, três episódios de dor suficiente- mente fortes para interferir nas atividades habituais da criança por um período mínimo de três meses1 . Aproximadamente 10% dos escolares apresentam episódios de dores abdominais recor- rentes (DAR)1 . A origem da dor abdominal é complexa e não há um único modelo de casualidade. De um modo geral, as doenças orgânicas são identificadas em 10% das crianças com DAR1 . Várias causas orgânicas estão relacionadas à dor abdominal, sendo que, em muitos casos, a fisiopatologia é relacionada a processos infecciosos (por exemplo, infecção do trato urinário), inflamatórios (doença de Crohn) ou distensão/obstrução de vísceras ocas. Doenças parasitárias e constipação também devem ser consideradas (Tabela 1). 1 Etiologia
  • 4. consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs 4 Tabela 1: Causas de Dor Abdominal Recorrente Muitas doenças podem causar DAR. Na prática clínica, a maio- ria das crianças e adolescentes não tem evidência da doença e apresenta dor abdominal funcional. A classificação de Roma II (1999) sugere um sistema de classificação funcional das Gastrointestinais constipação crônica doença inflam. intestinal infecção parasitária intolerância diet. (lactose) refluxo gastroesofágico infecção H. pylori doença celíaca úlcera péptica gastrite hepatite cálculo biliar apendicite crônica pancreatite crônica dispepsia funcional síndr. do intest. irritável síndrome da dor abdominal funcional migrânea abdominal aerofagia Urinárias infecção do trato urinário cálculo renal Miscelânea epilepsia abdominal abuso físico, emocional e sexual Ginecológicas cisto de ovário endometriose doença inflamatória pélvica
  • 5. Dor AbDominAl recorrente 5 Tabela 2: Critérios Diagnósticos para Desordens Intestinais Funcionais desordens gastrointestinais que se associam com as dores abdominais recorrentes3 . São incluídos os diagnósticos de dis- pepsia funcional, síndrome do intestino irritável, dor abdominal funcional e migrânea abdominal. Na presença de sintomas de dor abdominal que preencham os critérios de Roma, pode-se estabelecer o diagnóstico definitivo sem necessidade de inves- tigação laboratorial adicional4 . A escala de Roma foi revista e modificada em 2006, sendo desenvolvidos os critérios Roma para dores abdominais fun- cionais pediátricas 5 (Tabela 2). Critérios diagnósticos para dispepsia funcional Devem ser incluídas as seguintes características: 1. Dor recorrente ou desconforto no abdome superior (acima do umbigo). 2. Dor não aliviada pela defecação ou dor associada com uma mudança na frequência de evacuações ou forma das fezes. 3. Ausência de evidência de um processo inflamatório, anatômico, metabólico ou neoplásico que explique a dor. Critérios diagnósticos para a síndrome do intestino irritável* Devem ser incluídas as seguintes características: 1. Desconforto abdominal (uma sensação desconfortável não descrita como a dor) ou dor associada com dois ou mais dos seguintes casos em pelo menos 25% do tempo: a) Melhora com a defecação; b) Início associado com uma mudança na frequência das fezes, e c) Início associado com alteração na aparência das fezes 2. Ausência de evidência de um processo inflamatório, anatômico, metabólico ou neoplásico. * Critérios presentes uma vez por semana por, no mínimo, dois meses antes do diagnóstico.
  • 6. consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs 6 Critérios diagnósticos para a enxaqueca abdominal † Devem ser incluídas as seguintes características: 1. Episódios paroxísticos de dor aguda intensa periumbilical com duração de uma hora ou mais. 2. Dor intercalada por períodos de saúde com duração usual de semanas a meses. 3. Dor que interfere nas atividades normais. 4. Dor associada a 2 ou mais dos seguintes sintomas: anorexia, náuseas, vômitos, dor de cabeça, fotofobia ou palidez. 5. Ausência de evidência de um processo inflamatório, anatômico, metabólico ou neoplásico. Critérios diagnósticos para dor abdominal funcional na infância Devem ser incluídas as seguintes características: 1. Dor episódica ou dor abdominal contínua. 2. Ausência de critérios para outros distúrbios gastrintestinais funcionais. 3. Ausência de evidências de processo inflamatório, anatômico, metabólico ou neoplásico. Critérios diagnósticos para síndrome de dor abdominal funcional na infância Deve ser incluída a dor abdominal funcional na infância em pelo menos 25% do tempo e um ou mais dos seguintes: 1. Perda de funcionamento diário. 2. Sintomas somáticos adicionais como dor de cabeça, dores nos membros ou dificuldade em dormir. Critérios diagnósticos para aerofagia Devem ser incluídos pelo menos dois dos seguintes: 1. Ato de engolir ar. 2. Distensão abdominal devido ao ar intraluminal. 2. Arrotos repetitivos e/ou aumento de flatos. † Critérios presentes duas ou mais vezes nos últimos 12 meses.
  • 7. Dor AbDominAl recorrente 7 A anamnese adequada associada ao exame físico são manda- tários para uma avaliação adequada em pacientes com história de dor abdominal recorrente. Devem ser colhidos dados sobre a dor, frequência, localização, qualidade e associação com outros sin- tomas, como sudorese, náuseas e tonturas. É importante que se pesquise a existência de fatores desencadeantes, como doença viral recente, ingestão de certos tipos de alimentos e relação com estresse, ansiedade e uso concomitante ou anterior de medica- ção. Sintomas sistêmicos devem ser observados, tais como per- da de peso, atraso no crescimento, atraso no desenvolvimento puberal, febre, erupção cutânea e dor articular. A história familiar de doença inflamatória intestinal ou de úlcera péptica deve ser questionada. O exame físico deve ser completo: curva de crescimento, ganho ponderal, estado geral do paciente, pele, artrites e sinais de inflamação perirretal. O exame físico abdominal deve incluir a inspeção do abdome, ausculta dos ruídos intestinais, palpação do fígado, baço, massas e áreas de sensibilidade. O exame físico de pacientes com distúrbios funcionais geralmente é inespecífico, embora possa haver uma discreta área de maior sensibilidade à palpação. Sinais de irritação peritonial não são consistentes com diagnóstico de dor abdominal funcional. Para o diagnóstico de DAR não são necessários os exames subsidiários sofisticados. É essencial uma análise completa da 2 abordagEm da Criança Com dor
  • 8. consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs 8 queixa e dos outros componentes da história, um exame físico meticuloso e um raciocínio criterioso de investigação. Crianças que apresentam sinais de alerta na história e no exame físico ne- cessitam de maiores investigações com exames. Tabela 3: Sinais de Alerta na História e no Exame Físico para Dor Abdominal Recorrente Os exames, como a urina tipo 1, o exame de fezes e alguns de sangue são recomendados para se excluir causas orgânicas de pacientes com DAR. Avaliações com exames de imagem (ultrassom, radiografia simples, tomografia computadorizada) e investigações invasivas, como a endoscopia, são raramente necessárias (Tabela 4). Sinais de alerta na história Dor localizada longe do umbigo Dor capaz de acordar a criança à noite Dor que altera os hábitos intestinais; disúria; alterações cutâneas e artrite Sangue oculto Vômitos repetidos, especialmente biliosos Sintomas constitucionais concorrentes, como febre, perda do apetite e letargia Sinais de alerta no exame físico Perda de peso ou retardo de crescimento Hepatomegalia e esplenomegalia Dor abdominal localizada particularmente longe do umbigo Edema articular, dor ou calor Palidez, alterações cutâneas, hérnias da parede abdominal
  • 9. Dor AbDominAl recorrente 9 Tabela 4: Exames Auxiliares no Diagnóstico da Dor Abdominal Recorrente A recomendação para o tratamento das crianças com DAR inclui suporte e educação para a família, garantindo-se que não há uma doença séria presente. Com esta abordagem, 30 a 60% das crianças apresentam resolução da sua dor1 . O tratamento farmacológico com antagonistas do receptor H2 pode ser utilizado para o manuseio dos sintomas de crianças com dispepsia. O uso de pizotifeno, um antagonista seratoninérgico, tem se mostrado efetivo nos casos de migrânea abdominal6 . O uso de analgésicos, como o paracetamol e a dipirona, pode ser necessário para os momentos de crise álgica. Investigação Básica Hemograma completo Velocidade de hemossedimentação Proteína C reativa Urina tipo 1 Urocultura Protoparasitológico de fezes Investigação Secundária Radiografia de abdome Testes hepáticos Função renal Ultrassom abdominal Pesquisa para intolerância à lactose Teste para H. pylori Enema opaco Manometria esofágica e pHmetria Endoscopia Uretrocistografia miccional
  • 10. consenso sobre Dores Pouco VAlorizADAs em criAnçAs 10 Alguns passos são úteis para o adequado manuseio das dores recorrentes abdominais: 1. Explicação para a família, de forma cuidadosa, sobre os conceitos e as razões por trás das investigações. Após a exclusão das causas orgânicas, reassegure ao paciente e à família que não há uma doença séria presente. 2. Identificação dos sinais de alerta. 3. Postura de evitar “rótulos psicológicos”, a não ser que as evidências mostrem a presença de psicopatologia. 4. Permissão (e encorajamento) para a realização das ativi- dades normais. 5. Atenção para a retirada das atividades. Caso ocorra a interrupção das atividades normais por iniciativa da própria criança, deve-se considerar o encaminhamento psicológico. 6. Estabelecimento de um acompanhamento regular com retornos periódicos para controle dos sintomas. 7. Disponibilidade para examinar a criança caso ocorram mudanças no padrão da dor ou no caso de pais muito ansiosos. 8. Cuidado com a resposta ao placebo. Evite o diagnóstico imediato baseado em resposta terapêutica. 9. Abertura para pedidos de segunda opinião.
  • 11. Dor AbDominAl recorrente 11 Referências Bibliográficas: 1.Devanarayana NM, Rajindrajith S, Silva HJ. Recurrent Abdominal Pain in Children. Indian Pediatrics. 2009: 46; 389-99. 2. Hyams JS, Burke G, Davis PM et al. Abdominal pain and irritable bowel syndrome in adolescents: A community-based study. J Pediatr. 1996; 129: 220-26. 3. Hyman PE, Rasquin-Weber A, Fleisher DR et al. Childhood functional gastrointestinal disorders. In Drossman DA (ed): The Functional Gastrointestinal Disorders. 2. ed. Lawrence, KS, Allen Press, 2000, p. 533-575. 4. Rasquin-Weber A, Hyman PE, Cucchiara S, Fleisher DR, Hyams JS, Milla PJ et al. Childhood functional gastrointestinal disorders. Gut. 1999; 45: S60-8. 5. Devanarayana NM, de Silva GDH, de Silva HJ. Aetiology of recurrent abdominal pain in a cohort of Sri Lankan children. J Paediatr Child Health. 2008; 44: 195-200. 6. Huertas-Ceballos A, Macarthur C, Logan S. Pharmacological interventions for recurrent abdominal pain (RAP) in childhood. Cochrane Database Syst Rev 2004. 7. Apley J, Hale B. Children with recurrent abdominal pain: how do they grow up? BMJ. 1973; 3: 7-9. 8. Christensen MF, Mortensen O. Long-term prognosis in children with recurrent abdominal pain. Arch Dis Child. 1975; 50: 110-14. 9. Jarrett M, Heitkemper M, Czyzewski DI, Shulman R. Recurrent abdominal pain in children: forerunner for adult irritable bowel syndrome? JSPN 2003; 8: 81-9. O prognóstico a longo prazo relatado em dois estudos realiza- dos por Aply e Hale 7 e Christensen and Mortensen 8 relata que, aproximadamente, 50% das crianças com DAR funcional experi- mentarão dor na fase adulta. O desenvolvimento da síndrome do intestino irritável pode ocorrer em 25-29% dos casos 9 .
  • 12. Impresso em Agosto de 2011 Cód. 21360 Material destinado exclusivamente a profissionais de saúde. Reprodução e distribuição proibidas. Realização: Apoio institucional: