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Memorial do Convento de
José Saramago
Análise do Capítulo III
Ana Margarida Castro 12ºG
Interpretação dos
conteúdos
 Página 27
 Inicia o capítulo com o contraste entre ricos e pobres:
caracteriza a gula dos ricos e as suas consequências e, por
outro lado, mostra que a carência alimentar dos pobres
pode levá-los à morte.
“No geral do ano há quem morra por muito ter comido
durante a vida toda, razão por que se repetem os incidentes
apoplécticos, (...) e se o acidentado provisoriamente escapou,
fica leso de um lado, de boca à banda, sem voz. ”
“Mas não falta, por isso mesmo falecendo mais facilmente,
quem morra por ter comido pouco durante toda a vida”
Crítica a estes contrastes: “Mas nesta cidade, mais que
todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de
escasso para outro, não havendo portanto mediano termo”
 Tinha terminado o Entrudo iam entrar no período de
Quaresma
“Correu o Entrudo essas ruas, quem pôde empanturrou-se de
galinha e de carneiro, de sonhos e de filhós (...) bebeu-se
vinho até ao arroto e ao vómito, partiram-se panelas,
tocaram-se gaitas”
Página 28
 Referência à imundície que havia em Lisboa nesta época,
mostrando, mais uma vez, que ao rei apenas importava
a sua ostentação e o poder, não o seu povo.
“a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de
cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não
chove. (...) este corpo parco e porco da pocilga que é
Lisboa”
 “Vai sair a procissão de penitência. Castigámos a carne
pelo jejum, maceramo-la agora pelo açoite.” Surge uma
severa crítica aos penitentes “Agora é tempo de pagar os
cometidos excessos, mortificar a alma para que o corpo
finja arrepender-se, ele rebelde, ele insurrecto.”
 Descrição da hierarquia religiosa presente na
procissão
“Os penitentes, homens todos, vão à cabeça da procissão,
logo atrás dos frades (...) seguinte a eles aparece o bispo
debaixo do pálio rico, e depois as imagens nos andores, o
regimento interminável de padres, confrarias e
irmandades.”
 Alusão à atitude repreensiva e repreensível do povo
que assiste à procissão
“Passa a procissão entre filas de povo, e quando passa
rojam-se pelo chão homens e mulheres, arranham a cara
uns, arrepelam-se outros, dão-se bofetões todos.”
 “Nas janelas só há mulheres, é esse o costume.”
Saramago faz referência aos costumes da sociedade da
época: só iam na procissão homens, as mulheres ficavam à
janela vendo o seu amado passar em pleno sofrimento
devido à penitência.
Página 29
 Grande crítica, usando a ironia, à alegria do povo em
ver o sofrimento dos penitentes
“e estes que assim se flagelam é que são o melhor
da festa porque exibem verdadeiro sangue que lhes
corre da lombeira”
 “Presas no alto gorro ou na própria disciplina, levam
fitinhas de cores, cada um a sua, e se a mulher eleita
que à janela anseia de angústia, de piedade pelo
amador sofredor, se não também de gozo, (...) não
souber reconhecer o amante na confusão (...)
adivinhará ao menos pela fitinha (...) é aquele o seu
homem e servidor, que lhe está dedicando a
vergastada.”
Estão presentes neste excerto duas importantes críticas:
por um lado, às mulheres que anseiam gozo por ver os
seus amados serem castigados; e , por outro, aos
homens que se lisonjeiam por saber que as amantes os
reconhecem na confusão e por acharem esta aflição
“uma prova de amor”.
 Comparação entre o castigo dos penitentes e o
sofrimento passado por Jesus Cristo
“que o sangue corra como correu o do Divino
Salvador”
 “Está o penitente diante da janela da amada, em
baixo na rua, e ela olha-o dominante, talvez
acompanhada de mãe ou prima, ou aia, ou
tolerante avó, ou tia azedíssima, mas todas
sabendo muito bem o que se passa, por
experiência fresca ou recordação remota”
Mais uma vez Saramago remete para os costumes:
as mulheres que estavam à janela estavam sempre
acompanhadas e esta contemplação dos amados
no dia de procissão era um ritual antigo.
 Página 30
 “o homem passou adiante, vai pensando,
aliviadamente, que daqui para a frente não
precisará vergastar-se com tanta força, outros o
façam para gáudio de outras”
O narrador leva-nos a perceber que o penitente
encara esta procissão mais como uma obrigação
pela amada do que uma mortificação da alma.
 “agora que se aproximam Paixão e Morte.”
A paixão, representada pelos jogos entre amantes e
penitentes na procissão, recebe nesta expressão uma
equiparação à morte por trazer tanto sofrimento.
 Referência à vida recôndita das mulheres, que não
podiam sair de casa e quando o faziam era apenas
para ir à igreja durante baptizados, funerais e na
Quaresma. Aproveitando esta última para ter
encontros amorosos fora do casamento.
“talvez que o costume de deixar que as mulheres
corram as igrejas sozinhas na Quaresma, contra o
uso do resto do ano”
“é a mulher livre uma vez no ano, e se não vai
sozinha por não o consentir a decência pública,
quem a acompanha leva iguais desejos e igual
necessidade de satisfazê-los, por isso a mulher,
entre duas igrejas, foi a encontrar-se com um
homem, qual seja”
 Página 31
 Descrição dos encontros fortuitos das mulheres,
provando a sua infidelidade que escondem na fé
“vem morta de canseira, moídinha dos pés,
arrastadinha dos joelhos (...) Sete igrejas visitei” ,
e da atitude dos “maridos ingénuos, ou que
fingem sê-lo”.
 Em contraponto com as mulheres nobres,
aparece a rainha que “de tais desafogamentos” se
vê privada.
“D. Maria Ana, como razões acrescentadas ao
recato, tem a mais a maníaca devoção com que
foi educada na Áustria, e a cumplicidade que deu
ao artifício franciscano”
 Página 32
 Descrição do comportamento devoto da rainha
“D. Maria Ana deitou-se muito cedo, rezou antes
de ir para a cama, em murmurado coro com as
damas que a servem, e depois, já coberta pelo seu
cobertor de penas torna a rezar, reza
infinitamente.”
 Ironia, exaltando a crença e a fé do povo português,
através do Santo Sudário:
“onde está um Santo Sudário que as freiras desdobrarão
diante dela antes de o exporem aos fiéis, e nele serão
claramente vistas as marcas do corpo de Cristo, este é o
único e verdadeiro Santo Sudário que existe na
cristandade, minhas senhoras e meus senhores, como
todos os outros são igualmente verdadeiros e únicos, ou
não seriam à mesma hora mostrados em tão diferentes
lugares do mundo, mas, porque, está em Portugal, é o
mais vero de todos e único mesmo.”
 Alusão aos sonhos da rainha com D. Francisco
“e subitamente um homem a cavalo, que vem da caça
(...) rompe o homem em direcção ao coche [da rainha],
de espingarda na mão, (...) dá-lhe na cara a luz das
tochas, é o infante D. Francisco, de que lugares do sono
veio ele e porque virá tantas vezes”.
 Página 33
 “É a Quaresma sonho de uns e vigília de outros”
Sonho para as mulheres que tiveram alguma
liberdade e vigília para os homens que tiveram de,
pelo menos, tentar controlar essa liberdade.
 “Passou a Páscoa, que acordou toda a gente, mas
reconduziu as mulheres à sombra dos quartos e ao
carrego das saias.”
Passada a Páscoa tudo voltou ao “normal”.
 Termina o capítulo com “talvez se nos calássemos
todos”, usando o imperfeito do conjuntivo para
mostrar a vontade e a improbabilidade de tal
acontecer, já que as preces poderão não subir ao
céu e como não as podemos ajudar, calemo-nos.
Aspectos gramaticais
cruciais
 Os tempos verbais predominantes alternam entre o Presente
do Indicativo e Pretérito Perfeito, sendo o último usado para
mostrar avanço na acção, neste caso, na procissão.
 Provérbios adaptados ao contexto “Porém, a Quaresma,
como o sol, quando nasce é para todos”
 Aliteração; ex.: “corpo parco e porco”
 Conjunções disjuntivas; ex.: “vermelha ou cor do céu”
 Ironia; ex.: “Lisboa cheira mal, cheira a podridão, o incenso
dá um sentido à fetidez, o mal é dos corpos, que a alma,
essa, é perfumada.”; “Em casa há mais uns tantos
maridos cucos”
Conclusão
 Deste capítulo podemos concluir que as ideias
principais são:
 A descrição dos contrastes entre ricos e pobres;
 A entrada na Quaresma;
 A explicação de tudo o que se passa durante a
procissão de penitência, aproveitando Saramago para
criticar os costumes e rituais da época;
 A infidelidade das mulheres e o desinteresse dos
maridos;
 Os sonhos de D. Maria Ana com D. Francisco e a sua
devoção.

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  • 1. Memorial do Convento de José Saramago Análise do Capítulo III Ana Margarida Castro 12ºG
  • 2. Interpretação dos conteúdos  Página 27  Inicia o capítulo com o contraste entre ricos e pobres: caracteriza a gula dos ricos e as suas consequências e, por outro lado, mostra que a carência alimentar dos pobres pode levá-los à morte. “No geral do ano há quem morra por muito ter comido durante a vida toda, razão por que se repetem os incidentes apoplécticos, (...) e se o acidentado provisoriamente escapou, fica leso de um lado, de boca à banda, sem voz. ” “Mas não falta, por isso mesmo falecendo mais facilmente, quem morra por ter comido pouco durante toda a vida” Crítica a estes contrastes: “Mas nesta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para outro, não havendo portanto mediano termo”
  • 3.  Tinha terminado o Entrudo iam entrar no período de Quaresma “Correu o Entrudo essas ruas, quem pôde empanturrou-se de galinha e de carneiro, de sonhos e de filhós (...) bebeu-se vinho até ao arroto e ao vómito, partiram-se panelas, tocaram-se gaitas” Página 28  Referência à imundície que havia em Lisboa nesta época, mostrando, mais uma vez, que ao rei apenas importava a sua ostentação e o poder, não o seu povo. “a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não chove. (...) este corpo parco e porco da pocilga que é Lisboa”  “Vai sair a procissão de penitência. Castigámos a carne pelo jejum, maceramo-la agora pelo açoite.” Surge uma severa crítica aos penitentes “Agora é tempo de pagar os cometidos excessos, mortificar a alma para que o corpo finja arrepender-se, ele rebelde, ele insurrecto.”
  • 4.  Descrição da hierarquia religiosa presente na procissão “Os penitentes, homens todos, vão à cabeça da procissão, logo atrás dos frades (...) seguinte a eles aparece o bispo debaixo do pálio rico, e depois as imagens nos andores, o regimento interminável de padres, confrarias e irmandades.”  Alusão à atitude repreensiva e repreensível do povo que assiste à procissão “Passa a procissão entre filas de povo, e quando passa rojam-se pelo chão homens e mulheres, arranham a cara uns, arrepelam-se outros, dão-se bofetões todos.”  “Nas janelas só há mulheres, é esse o costume.” Saramago faz referência aos costumes da sociedade da época: só iam na procissão homens, as mulheres ficavam à janela vendo o seu amado passar em pleno sofrimento devido à penitência.
  • 5. Página 29  Grande crítica, usando a ironia, à alegria do povo em ver o sofrimento dos penitentes “e estes que assim se flagelam é que são o melhor da festa porque exibem verdadeiro sangue que lhes corre da lombeira”  “Presas no alto gorro ou na própria disciplina, levam fitinhas de cores, cada um a sua, e se a mulher eleita que à janela anseia de angústia, de piedade pelo amador sofredor, se não também de gozo, (...) não souber reconhecer o amante na confusão (...) adivinhará ao menos pela fitinha (...) é aquele o seu homem e servidor, que lhe está dedicando a vergastada.” Estão presentes neste excerto duas importantes críticas: por um lado, às mulheres que anseiam gozo por ver os seus amados serem castigados; e , por outro, aos homens que se lisonjeiam por saber que as amantes os reconhecem na confusão e por acharem esta aflição “uma prova de amor”.
  • 6.  Comparação entre o castigo dos penitentes e o sofrimento passado por Jesus Cristo “que o sangue corra como correu o do Divino Salvador”  “Está o penitente diante da janela da amada, em baixo na rua, e ela olha-o dominante, talvez acompanhada de mãe ou prima, ou aia, ou tolerante avó, ou tia azedíssima, mas todas sabendo muito bem o que se passa, por experiência fresca ou recordação remota” Mais uma vez Saramago remete para os costumes: as mulheres que estavam à janela estavam sempre acompanhadas e esta contemplação dos amados no dia de procissão era um ritual antigo.
  • 7.  Página 30  “o homem passou adiante, vai pensando, aliviadamente, que daqui para a frente não precisará vergastar-se com tanta força, outros o façam para gáudio de outras” O narrador leva-nos a perceber que o penitente encara esta procissão mais como uma obrigação pela amada do que uma mortificação da alma.  “agora que se aproximam Paixão e Morte.” A paixão, representada pelos jogos entre amantes e penitentes na procissão, recebe nesta expressão uma equiparação à morte por trazer tanto sofrimento.  Referência à vida recôndita das mulheres, que não podiam sair de casa e quando o faziam era apenas para ir à igreja durante baptizados, funerais e na Quaresma. Aproveitando esta última para ter encontros amorosos fora do casamento.
  • 8. “talvez que o costume de deixar que as mulheres corram as igrejas sozinhas na Quaresma, contra o uso do resto do ano” “é a mulher livre uma vez no ano, e se não vai sozinha por não o consentir a decência pública, quem a acompanha leva iguais desejos e igual necessidade de satisfazê-los, por isso a mulher, entre duas igrejas, foi a encontrar-se com um homem, qual seja”  Página 31  Descrição dos encontros fortuitos das mulheres, provando a sua infidelidade que escondem na fé “vem morta de canseira, moídinha dos pés, arrastadinha dos joelhos (...) Sete igrejas visitei” , e da atitude dos “maridos ingénuos, ou que fingem sê-lo”.
  • 9.  Em contraponto com as mulheres nobres, aparece a rainha que “de tais desafogamentos” se vê privada. “D. Maria Ana, como razões acrescentadas ao recato, tem a mais a maníaca devoção com que foi educada na Áustria, e a cumplicidade que deu ao artifício franciscano”  Página 32  Descrição do comportamento devoto da rainha “D. Maria Ana deitou-se muito cedo, rezou antes de ir para a cama, em murmurado coro com as damas que a servem, e depois, já coberta pelo seu cobertor de penas torna a rezar, reza infinitamente.”
  • 10.  Ironia, exaltando a crença e a fé do povo português, através do Santo Sudário: “onde está um Santo Sudário que as freiras desdobrarão diante dela antes de o exporem aos fiéis, e nele serão claramente vistas as marcas do corpo de Cristo, este é o único e verdadeiro Santo Sudário que existe na cristandade, minhas senhoras e meus senhores, como todos os outros são igualmente verdadeiros e únicos, ou não seriam à mesma hora mostrados em tão diferentes lugares do mundo, mas, porque, está em Portugal, é o mais vero de todos e único mesmo.”  Alusão aos sonhos da rainha com D. Francisco “e subitamente um homem a cavalo, que vem da caça (...) rompe o homem em direcção ao coche [da rainha], de espingarda na mão, (...) dá-lhe na cara a luz das tochas, é o infante D. Francisco, de que lugares do sono veio ele e porque virá tantas vezes”.
  • 11.  Página 33  “É a Quaresma sonho de uns e vigília de outros” Sonho para as mulheres que tiveram alguma liberdade e vigília para os homens que tiveram de, pelo menos, tentar controlar essa liberdade.  “Passou a Páscoa, que acordou toda a gente, mas reconduziu as mulheres à sombra dos quartos e ao carrego das saias.” Passada a Páscoa tudo voltou ao “normal”.  Termina o capítulo com “talvez se nos calássemos todos”, usando o imperfeito do conjuntivo para mostrar a vontade e a improbabilidade de tal acontecer, já que as preces poderão não subir ao céu e como não as podemos ajudar, calemo-nos.
  • 12. Aspectos gramaticais cruciais  Os tempos verbais predominantes alternam entre o Presente do Indicativo e Pretérito Perfeito, sendo o último usado para mostrar avanço na acção, neste caso, na procissão.  Provérbios adaptados ao contexto “Porém, a Quaresma, como o sol, quando nasce é para todos”  Aliteração; ex.: “corpo parco e porco”  Conjunções disjuntivas; ex.: “vermelha ou cor do céu”  Ironia; ex.: “Lisboa cheira mal, cheira a podridão, o incenso dá um sentido à fetidez, o mal é dos corpos, que a alma, essa, é perfumada.”; “Em casa há mais uns tantos maridos cucos”
  • 13. Conclusão  Deste capítulo podemos concluir que as ideias principais são:  A descrição dos contrastes entre ricos e pobres;  A entrada na Quaresma;  A explicação de tudo o que se passa durante a procissão de penitência, aproveitando Saramago para criticar os costumes e rituais da época;  A infidelidade das mulheres e o desinteresse dos maridos;  Os sonhos de D. Maria Ana com D. Francisco e a sua devoção.