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SOCIOLOGIA HOJE - CAPÍTULO 3
OUTRAS FORMAS DE PENSAR A DIFERENÇA
Neste capítulo vamos discutir:
1 - A perspectiva inglesa;
2 - O olhar dos franceses;
3 - Sociedades simples e sociedades complexas;
4 - O conceito de etnicidade;
5 - O conceito de identidade.
Neste capítulo buscaremos entender um pouco desse processo. Vamos
enumerar alguns conceitos fundamentais e situá-los no contexto
histórico e social de sua produção. Veremos que esses conceitos
respondem a diferentes situações históricas, a objetos de pesquisa que
foram se transformando e a novas preocupações, geradas por mudanças
sociais no mundo. Começaremos pela Antropologia inglesa e suas
respostas críticas ao evolucionismo social. A seguir veremos como os
franceses lidaram com as mesmas questões. Finalmente, vamos tratar de
algumas das grandes mudanças ocorridas no mundo no fim do século
XX.
1 - A PERSPECTIVA INGLESA
Enquanto nos Estados Unidos o antropólogo Franz Boas investia no conceito de
cultura para combater o evolucionismo social, os antropólogos ingleses estavam
mais interessados nas noções de estrutura social e de função. Influenciados
pelas ideias de Émile Durkheim, os ingleses se basearam no trabalho desse
sociólogo francês para pensar as sociedades "primitivas".
Ao mesmo tempo, Bronislau Malinowski e Radcliffe-Brown. Cada um deles, a
sua maneira, rompiam com a herança evolucionista. Em lugar de recorrer à
cultura, como Franz Boas, os ingleses tomaram outro caminho: a recusa da
História como fator explicativo. Não que desconsiderassem o valor dela, apenas
não achavam que as teorias históricas pudessem explicar tudo. Para ambos,
qualquer generalização histórica esbarrava na falta de evidências concretas e,
muitas vezes, podia até ser considerada uma invenção. Segundo eles, para
entender uma sociedade bastava olhar para o presente e explicar seu
funcionamento nesse momento. Por que e como a sociedade teria chegado
àquela forma era menos importante. Para eles, bastava uma fotografia da
sociedade: qualquer outra explicação seria apenas uma descrição dessa
"fotografia".
Assim, a estrutura de uma sociedade seria a relação entre as diversas partes
que a compunham. Tudo isto poderia ser observado pelo antropólogo e
descrito de forma sistemática. Dessa descrição resultaria a ideia da estrutura
social daquela sociedade.
Havia ainda outro pressuposto nesse conceito: o de que as diversas partes de
uma sociedade se organizavam para manter a estrutura sempre funcionando,
garantindo um equilíbrio constante. Poderia haver momentos de tensão, mas a
tendência seria sempre voltar ao equilíbrio. Para a sociedade existir, cada uma
das partes desempenhava sua função na manutenção do equilíbrio.
Para compreender essa ideia, podemos comparar a estrutura de uma
sociedade com a do corpo humano, composto de inúmeras partes (os órgãos).
Todas as partes precisam contribuir para a sobrevivência, tanto no caso da
sociedade como no caso do corpo humano: se um órgão falha, o organismo
todo pode morrer. Essa ideia de função remetia a uma percepção de utilidade:
qualquer costume, prática, hábito ou ritual, por mais estranho que parecesse,
sempre tinha uma função na sociedade. Essa função estava atrelada à própria
sobrevivência daquela população e se referia às necessidades básicas:
alimentar-se e sobreviver às dificuldades impostas pelo ambiente. Malinowski
era radical, acreditando que tudo o que uma sociedade produzia respondia a
uma única necessidade básica: saciar a fome.
Bronislaw Malinowski (1884-1942) nasceu na Polônia, estudou Ciências Exatas lá
e na Alemanha. Mudou-se para a Inglaterra, onde se naturalizou. A leitura de O
Ramo de Ouro, obra clássica de James Frazer, o atraiu para a Antropologia. Ficou
conhecido por estabelecer o método etnográfico, ou seja, a pesquisa de campo
de longa duração, com conhecimento fluente do idioma local e “observação
participante”. O trabalho de campo tornou-se um dos principais métodos de
pesquisa antropológica. Para ele, o antropólogo deveria “mergulhar” na cultura
local, participando das atividades cotidianas enquanto observava o que acontecia.
Grande crítico dos evolucionistas e precursor da perspectiva funcionalista em
Antropologia, foi um dos intelectuais mais influentes do século XX.
Cerimônia em que os homens das ilhas Andamã (estudadas por Radcliffe-Brown), no oceano Índico, pedem
desculpas às mulheres pelas guerras, em foto tirada em 1906, sem autoria reconhecida.
Evans-Pritchard produziu um trabalho clássico sobre a população nuer,
habitante de uma área que hoje corresponde ao Sudão do Sul. Os nuer
tinham uma estrutura social muito complexa, baseada em processos de
fissão e fusão (em outras palavras, processos de separação e união). Os
nuer se dividiam em clãs, que mantinham relações com outros clãs a
partir de genealogia ancestrais. Era essa genealogia que ditava as regras
de relação: uma guerra entre dois clãs podia acontecer, mas quando um
desses clãs era ameaçado por um clã distante, os dois clãs próximos se
juntavam para guerrear coletivamente. Os processos de fissão e fusão
dos nuer pareciam ser uma estrutura móvel, pois às vezes esse povo se
organizava de um jeito, às vezes de outro. Para explicar essas mudanças,
Evans-Pritchard descreveu algo que chamou de princípio estrutural
(justamente a fissão e a fusão).
Embora o processo descrito acima seja característico dos nuer, podemos
observar que ele se repete em várias sociedades, até mesmo na nossa. O
futebol é um bom exemplo. Torcemos para times rivais dentro do Brasil,
mas quando a seleção brasileira enfrenta a seleção de outro país,
deixamos de lado as rivalidades locais e torcemos pela seleção nacional.
2 – O OLHAR DOS FRANCESES
A antropologia francesa distanciou-se tanto da noção de cultura como
da noção de estrutura social dos ingleses. Os principais representantes
da vertente francesa foram Marcel Mauss (1872-1950) e Claude Lévi-
Strauss (1908-2009). Mauss tinha uma preocupação semelhante a dos
evolucionistas do século XIX: buscar explicações gerais para os
fenômenos humanos em perspectiva comparativa. Essa também foi
uma das preocupações centrais de Lévi-Strauss: produzir uma
antropologia cujas teorias pudessem explicar aspectos gerais da
humanidade.
Apesar da aversão de muitos estudiosos pelas generalizações, Mauss
e Lévi-Strauss buscavam justamente explicações mais gerais e
necessariamente comparativas, sem no entanto pressupor a
necessidade de nenhuma escala evolutiva. Construíram modelos de
explicação que não incluíam a noção de progresso, liberando assim a
Antropologia para pensar sobre a vida em sociedade em termos mais
amplos e ambiciosos.
Marcel Mauss, sobrinho de Émile Durkheim, desenvolveu seu trabalho
numa esfera de intelectuais reunidos em torno da revista L'Année
Sociologique. Em seu texto clássico Ensaio sobre a dádiva (1923), Mauss
diz que qualquer sociedade se baseia na aliança: para existir, uma
sociedade precisa se constituir em grupos que estabeleçam alianças.
Para Mauss, a necessidade de retribuir uma dádiva (algo que recebemos
de alguém) leva a um sistema de trocas: trocas matrimoniais (casamentos
entre grupos diferentes), trocas econômicas (comércio) e trocas
simbólicas (circulação de mitos, histórias, objetos sagrados, práticas
variadas, etc.). Ou seja, para esse autor, a origem da sociedade estaria na
troca como forma de estabelecer relações. Essa reflexão deve muito às
descrições de Franz Boas sobre as cerimônias do povo Kwakiutl, habitante
da ilha de Vancouver, Canadá. Uma dessas cerimônias, o potlach, era uma
festa religiosa de homenagem, em geral envolvendo um banquete
seguido pela renúncia a todos os bens acumulados pelo homenageado,
que deveriam ser entregues a parentes, convidados e amigos, ou até
queimados. Ele ainda propôs também teorias sobre a origem de
categorias como "pessoa", "magia", "sacrifício", entre outras.
Claude Lévi-Strauss, por sua vez, foi o mais ambicioso teórico da Antropologia
do século XX, considerado o mais importante antropólogo de todos os
tempos. Influenciado por Mauss, de quem foi aluno, e por teóricos da
linguística, Lévi-Strauss avançou na teoria da dádiva de Mauss e propôs
inicialmente uma teoria da troca na constituição dos diversos tipos de
parentesco.
Para definir essa teoria da troca como fundadora da vida em sociedade,
Strauss imagina um estado de natureza anterior à vida em sociedade, em que
as pessoas não faziam trocas. Segundo ele, o que leva as pessoas a fazer
trocas é a proibição do incesto. Se uma parte das pessoas de um grupo não
pode casar entre si, torna-se necessário estabelecer algum tipo de troca entre
sociedades, para que as pessoas possam casar sem violar as leis de proibição
do incesto.
Lévi-Strauss vai mais além e constata que as formas como as sociedades
"simples" trocavam casamentos eram restritas a poucos modelos que se
repetiam. Ou seja, o número de sistemas de parentesco não era tão grande, e
sociedades muito distantes geograficamente umas das outras desenvolviam
sistemas de parentesco bastante semelhantes. Como não era possível
estabelecer nenhuma conexão histórica entre essas sociedades, a única
conclusão possível é que esses sistemas haviam sido criados autonomamente.
Se sistemas de parentesco semelhantes eram produzidos ao redor do
mundo, isso significaria que eles esconderiam uma estrutura comum a
toda humanidade? Para Lévi-Strauss, a resposta é sim. É justamente
essa estrutura que ele passa a buscar. Nada parecido com a ideia de
estrutura social dos ingleses, mas com uma estrutura que não está
evidente, que não é visível a olho nu. A estrutura proposta por Lévi-
Strauss é deduzida de várias comparações entre sociedades. Para ele,
existe algo de comum no pensamento humano, que faz com que várias
sociedades produzam coisas parecidas.
Essa estrutura seria universal, e Lévi-Strauss passou a vida tentando
desvendá-la a partir de estudos sobre parentesco e mitologia indígena
nas Américas. A estrutura lévi-straussiana pensa em termos binários,
constituindo oposições, como as que existem entre os termos alto e
baixo, fora e dentro, cheio e vazio, etc. Para ele, essas oposições seriam
o motor de qualquer pensamento humano. Essa estrutura universal que
organiza o pensamento humano indica também um processo de lentas
transformações entre as oposições.
Cena de um potlach registrado por Edward S. Curtis (1868-1952), fotógrafo norte-
americano que retratou tipos e costumes de populações nativas da América do Norte.
Esta foto de 1914 mostra uma festa de casamento Kwakiutl. A noiva aparece no centro,
ladeada por dançarinos, seu pai está na extrema esquerda e o pai do noivo à direita,
atrás do homem que segura o tambor.
Nesse sistema, conhecido como havaiano, não há diferença entre irmãos e primos. É
comum em sociedades da Polinésia e em algumas sociedades nativas da América do Sul.
Note que na simbologia adotada o triângulo indica homem e o círculo indica mulher. Os
sinais de = significam casamentos. A linha que desce do = significa ‘filhos’. No diagrama
acima, vemos um casamento principal no centro e acima. Esse casal tem irmãos e irmãs
que também se casaram (na linha superior) e tiveram filhos (na linha inferior). As letras
na parte inferior são equivalentes a nomes como “primo” ou “irmão”. Veja que todos os
homens e mulheres da segunda linha (os filhos) recebem o mesmo nome, ou categoria
de parentesco. Assim, tanto aquilo que reconheceríamos como irmão (a) e como primo
(a) receberiam o mesmo nome. Isso quer dizer que esse sistema de parentesco não
distingue primos de irmãos, como fazemos em nossa sociedade.
O método de produção da xilogravura Metamorphosis III, do artista holandês M. C.
Escher (1898-1972), em que sombra e luz (opostos) formam figuras que lentamente se
transformam, numa sucessão de metamorfoses, pode ser comparado à estrutura de
Lévi-Strauss e seus processos de transformação.
Claude Lévi-Strauss (1908-2009) foi um grande antropólogo, etnólogo e
professor francês. Formado em direito e filosofia na França e produtor de uma
vasta obra, foi o criador da antropologia estrutural e um dos maiores pensadores
do século XX.
Conviveu e estudou com os índios do Brasil Central, entre 1935-1939, e a
publicação de sua tese As estruturas elementares do parentesco, em 1949.
Dedicou uma tetralogia, as Mitológicas, ao estudo dos mitos, publicou também
Tristes Trópicos, em 1955, que o tornou popular por um vasto círculo de leitores.
3 - SOCIEDADES SIMPLES E SOCIEDADES COMPLEXAS
Uma das principais características da Antropologia no século XX foi a
crescente variação de objetos de interesse. Se a orientação inicial foi
o estudo de sociedades pequenas e isoladas (muitas delas vivendo
em ilhas), aos poucos outras fontes de estudo foram encontradas,
como as sociedades ditas "complexas".
A oposição entre "simples" e "complexas" foi uma das formas
empregadas para distinguir as sociedades. Esses termos, porém, são
problemáticos, pois todos os antropólogos correriam a afirmar que
nenhuma sociedade é realmente simples e todas elas, a seu modo,
são complexas. Sociedades complexas seriam aquelas que combinam
uma grande escala de tamanho, a presença do Estado, fortes
diferenças culturais internas e ainda uma diferenciação social
destacada. Embora o termo “sociedade complexa” seja enganador,
por inferir que existem sociedades não complexas, a expressão
ganhou espaço e marcou a história da Antropologia.
SOCIEDADES COMPLEXAS - Sociedades como a chinesa, as pré-colombiana, as da
Europa medieval, todas podem ser consideradas complexas, assim como as sociedades
das quais os antropólogos faziam parte. A passagem da primeira para a segunda metade
do século XX marcou um avanço da Antropologia no estudo das sociedades europeias,
americanas e de grandes nações do mundo. A princípio isso foi feito com base em
conceitos elaborados para estudar sociedades pequenas. Mas aos poucos os estudiosos
perceberam que outras categorias eram necessárias para pensar as sociedades ditas
complexas.
Ilustração colorida de autoria desconhecida, representando como teria sido a praça central de
Tenochtitlán, capital do Império Asteca. Dado o seu tamanho e sua diversidade interna, a
sociedade asteca pode ser considerada “complexa”.
SOCIEDADES SIMPLES E GRUPOS MARGINAIS
Os métodos e conceitos dedicados às sociedades "simples" levaram os antropólogos a
buscar nas sociedades de grande escala fenômenos semelhantes aos observados nas
sociedades pequenas. Essa tendência é ainda muito forte na Antropologia: estudar grupos
marginais e discriminados no interior das sociedades complexas. Ou seja, procurar os
grupos em que a diferença cultural era mais evidente. Também foram estudadas
populações rurais e indígenas que iam sendo incorporadas à força às sociedades nacionais,
e cujos indivíduos se viram obrigados a adotar novas estratégias de sobrevivência. Mas o
olhar dos estudiosos sempre imaginava que aquelas populações tão diferentes iriam
lentamente se adaptar e se assemelhar aos dominadores ou às maiorias, no caso dos
imigrantes. Os antropólogos norte-americanos tentaram enquadrar essas realidades
fugidias no conceito de cultura, cunhando termos como ACULTURAÇÃO, processo
resultante do contato mais ou menos direto e contínuo entre dois ou mais grupos sociais
em que cada um desses grupos assimila, adota ou rejeita elementos da cultura do outro.
Pode ser recíproco ou unilateral e eventualmente implicar subordinação política. Como
conceito antropológico, teve grande aceitação na primeira metade do século XX; mais
tarde, foi duramente criticado.
A princípio, para entender essa diversidade, os antropólogos só contavam com os
instrumentos usados no estudo das sociedades pequenas. Assim, começaram a praticar
Antropologia em sociedades complexas entre os grupos mais excluídos. Mas mesmo
nesses contextos, aquelas ferramentas pensadas a partir de uma noção de estabilidade
não se mostraram muito eficazes. Então, novas ideias foram desenvolvidas. A partir da
década de 1960, as noções de ETNICIDADE e IDENTIDADE passaram a ganhar importância.
O termo ETNICIDADE já rondava a história da Antropologia desde o começo do
século XX, mas só a partir da década de 1960 a expressão aparece como forma
cada vez mais comum de pensar a diferença. Em um mundo em intensa
transformação, com o avanço do sistema capitalista produzindo mudanças
radicais, era cada vez mais difícil pensar as sociedades em termos de estabilidade.
Todos esses processos sociais desestabilizaram as percepções da Antropologia e
desafiaram as noções de equilíbrio, tão importantes até então. Também ocorriam
transformações no interior das sociedades europeias e norte-americanas:
conflitos internos, discriminações, racismo crescente, fluxos migratórios.
Na Inglaterra, uma nova geração de antropólogos comandada por Max Gluckman
(1911-1975), aluno de Radcliffe-Brown e de Evans-Pritchard, começava a analisar
as relações entre as sociedades “simples” e os impérios coloniais. Conhecida
como escola de Manchester, essa geração se dedicou a estudar a mudança social
e as transformações relacionadas aos processos de descolonização e
independência na África e na Ásia. Entre os estudiosos desse grupo, o conceito de
etnicidade tornou-se central. Outro antropólogo que contribuiu para o
desenvolvimento da noção de etnicidade foi o norueguês Fredrik Barth (1928-)
formado em Cambridge, cujo trabalho influenciou alguns membros da escola de
Manchester.
4 - O CONCEITO DE ETNICIDADE
“Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele.” Este é um
trecho do famoso discurso do líder norte-americano Martin Luther King (1929-1968) proferido no Memorial
de Lincoln, em Washington DC, capital dos Estados Unidos, no dia 28 de agosto de 1963, diante de milhares
de pessoas reunidas pelo fim do preconceito e da discriminação racial.
O conceito de etnicidade descreve um grupo que se auto define e é definido por outros
como diferente, que supõe algum tipo de identificação coletiva, como o compartilhamento
de uma história comum. O grupo étnico não é definido por seu conteúdo cultural, mas sim
em contraposição a outros grupos. Um grupo étnico só se define em relação a outro, e o
conceito de etnicidade é sempre relacional. Não há etnicidade num grupo isolado, pois o
que constitui a etnicidade é justamente o contraste com outros grupos. A etnicidade é um
poderoso instrumento de mobilização política, utilizado para legitimar lutas por diferentes
tipos de direitos.
As lutas das minorias discriminadas nas sociedades centrais do capitalismo foram
acompanhadas do uso dos termos etnicidade e identidade étnica. Imigrantes eram étnicos,
indígenas no seio de sociedades complexas e minorias raciais também. Esse conjunto de
populações demonstrava que a diferença continuava a existir nas sociedades complexas:
não ocorreu o processo de “aculturação” que alguns antropólogos haviam previsto. E ainda:
a essas “diferenças” estava atrelada uma carga significativa de injustiça social.
A ideia de minoria pode ser enganadora, pois nem sempre significa um número menor de
pessoas: um grupo étnico pode ser mais numeroso em termos populacionais, mas muito
fraco em termos de poder e de participação na distribuição da riqueza. Na África do Sul,
antes do fim do apartheid, uma minoria branca dominava completamente os recursos do
país, enquanto a imensa maioria negra era excluída. Ou seja, o termo minoria também
pode ser usado como referência aos grupos que concentram poder. Mas, nesses casos, a
propriedade da etnicidade é que aqueles que dominam constroem um sistema no qual se
inserem como a normalidade. Ou seja, os brancos são vistos como os “normais”, e todos os
excluídos são “étnicos”.
Esta charge do cartunista chileno Guillo, publicada em 1992, mostra o dilema entre
minorias e maiorias e a relação de poder: uma minoria com muito poder pode se
considerar a “normalidade” e tratar todos os demais como estranhos a essa
normalidade.
O exemplo dos conflitos étnicos demonstra a importância de entender como se dão os
processos de construção de diferença, pois não se trata apenas de pensar e falar sobre
diferença, mas de perceber as práticas geradas por essas construções. O conceito de etnicidade
se contrapõe ao conceito de aculturação (ou assimilação), que foi um dos desenvolvimentos do
conceito de cultura. Como o conceito de cultura levava a imaginar uma única cultura nacional,
as reivindicações de minorias não se encaixavam nos quadros de explicação. Foi preciso
encontrar um conceito mais flexível, que desse conta de explicar a diferença dentro das
sociedades nacionais de forma mais sensível. Esse conceito é “etnicidade”.
Esta charge de Angeli
publicada em 2006
descreve a realidade de
uma situação que
poderíamos chamar de
étnico-racial: a exclusão
histórica de uma parte da
população pela crença na
existência das raças, e do
racismo atrelado a essa
crença.
5. O CONCEITO DE IDENTIDADE
Um conceito muito importante para pensar a diferença é o de IDENTIDADE. Esse termo
tem aparecido na história da Antropologia desde o começo do século XX, com os estudos
dos alunos de Boas. Nessa época, porém, a ideia de identidade era sempre um acessório:
identidade social, identidade étnica, identidade racial. Conotava uma reflexão sobre a
autoimagem de um grupo, em geral, impregnada da mesma noção de equilíbrio que vimos
operar nas definições de estrutura.
A partir da década de 1970, o termo identidade ganhou outra conotação, relacionada à
intensa fragmentação social produzida pelo avanço do capitalismo e suas consequências.
Como exemplo dessa fragmentação, podemos citar:
• as migrações internacionais;
• a emergência de diversos movimentos políticos ligados a etnicidades raciais e étnicas;
• a presença de religiões transnacionais;
• os movimentos políticos baseados em orientação sexual.
Essa realidade fragmentada exigia um novo conceito para pensar a diferença além dos
conceitos de cultura e etnicidade. Se etnicidade se referia a algum tipo de ancestralidade
comum (imigrantes, populações negras, indígenas, etc.), muitas outras diferenças não
tinham mais essa conotação: entre um ultra religioso negro e um ativista por direitos
homo afetivos negro, a diferença pode ser tão grande quanto aquela entre um grupo
indígena e uma sociedade nacional. Como pensar essa diferença não atrelada
necessariamente a uma ancestralidade comum? A alternativa para pensar essa nova
realidade complexa e fragmentada foi o conceito de IDENTIDADE.
Ao contrário de outras ideias usadas para pensar a diferença, identidade não pressupõe uma
ancestralidade comum; a prática social (a experiência de vida) é suficiente para produzir
identidades entre grupos de pessoas. Podemos pensar num grupo de religiosos budistas que
desenvolve uma identidade a partir da prática do budismo, num grupo de homossexuais em
busca de direitos familiares e na luta contra o preconceito, em grupos de punks que vivem
segundo um modelo diferente. A todos esses exemplos e a muitos outros pode ser atribuído
o conceito de identidade: identidades religiosas, identidades sexuais, identidade punk. A
identidade é sempre vista como transitória, nunca pronta e acabada. É um processo em
construção, modelado pela ação das pessoas que partilham coisas comuns.
Num mundo fracionado pelo excesso de informação, a diferença social tem sido analisada
sob a perspectiva do conceito de identidade, mas isso também levou a um tipo de análise
que foca apenas o sujeito e suas escolhas, como se a identidade fosse uma espécie de
mercadoria que cada pessoa pode assumir livremente. O fato de que muitos grupos se
definem pelo consumo de determinadas mercadorias levou a uma associação entre o
conceito de identidade e o mercado de consumo.
Se na esfera do senso comum cada vez mais a identidade assume a feição de personalidade
individual moldada por estilos de consumo, nas Ciências Sociais a importância da “vida em
comum” continua a ser muito relevante. Para autores como Stuart Hall (1933-), a identidade
contém tanto aquilo que escolhemos como aquilo que não escolhemos. Assim, a exclusão
racial, a discriminação sexual, a intolerância religiosa, por exemplo, são fatores sociais que as
pessoas não controlam, mas que podem moldar suas identidades. As identidades
comportam tanto nossas heranças culturais como novas formas de pensar o mundo,
apresentadas pelas novas tecnologias de comunicação.
O primeiro casamento gay no universo dos quadrinhos Marvel: o super-herói Estrela Polar
(Jean-Paul Beaubier) se uniu ao namorado Kyle Jinadu (à esquerda) na edição número 51 (junho
de 2012). As diferenças presentes no mundo contemporâneo vão além das étnicas e culturais,
produzindo outros tipos de identificação.
“MÁ NOTÍCIA. ELE PERDEU A IDENTIDADE.” Na
charge acima, há uma relação entre a identidade
e a personalidade de um indivíduo. Sem
identidade, ele perde o poder de ser alguém. O
conceito de identidade tem facilmente se
confundido com o de personalidade individual.
“COMPRE SUA IDENTIDADE.” Esta
charge faz pensar na relação entre
identidade e consumo: é possível
comprar uma identidade?
FIM
Bibliografia: Sociologia Hoje
Henrique Amorim
Celso Rocha de Barros
Igor José de Renó Machado

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  • 1. SOCIOLOGIA HOJE - CAPÍTULO 3 OUTRAS FORMAS DE PENSAR A DIFERENÇA
  • 2. Neste capítulo vamos discutir: 1 - A perspectiva inglesa; 2 - O olhar dos franceses; 3 - Sociedades simples e sociedades complexas; 4 - O conceito de etnicidade; 5 - O conceito de identidade. Neste capítulo buscaremos entender um pouco desse processo. Vamos enumerar alguns conceitos fundamentais e situá-los no contexto histórico e social de sua produção. Veremos que esses conceitos respondem a diferentes situações históricas, a objetos de pesquisa que foram se transformando e a novas preocupações, geradas por mudanças sociais no mundo. Começaremos pela Antropologia inglesa e suas respostas críticas ao evolucionismo social. A seguir veremos como os franceses lidaram com as mesmas questões. Finalmente, vamos tratar de algumas das grandes mudanças ocorridas no mundo no fim do século XX.
  • 3. 1 - A PERSPECTIVA INGLESA Enquanto nos Estados Unidos o antropólogo Franz Boas investia no conceito de cultura para combater o evolucionismo social, os antropólogos ingleses estavam mais interessados nas noções de estrutura social e de função. Influenciados pelas ideias de Émile Durkheim, os ingleses se basearam no trabalho desse sociólogo francês para pensar as sociedades "primitivas". Ao mesmo tempo, Bronislau Malinowski e Radcliffe-Brown. Cada um deles, a sua maneira, rompiam com a herança evolucionista. Em lugar de recorrer à cultura, como Franz Boas, os ingleses tomaram outro caminho: a recusa da História como fator explicativo. Não que desconsiderassem o valor dela, apenas não achavam que as teorias históricas pudessem explicar tudo. Para ambos, qualquer generalização histórica esbarrava na falta de evidências concretas e, muitas vezes, podia até ser considerada uma invenção. Segundo eles, para entender uma sociedade bastava olhar para o presente e explicar seu funcionamento nesse momento. Por que e como a sociedade teria chegado àquela forma era menos importante. Para eles, bastava uma fotografia da sociedade: qualquer outra explicação seria apenas uma descrição dessa "fotografia".
  • 4. Assim, a estrutura de uma sociedade seria a relação entre as diversas partes que a compunham. Tudo isto poderia ser observado pelo antropólogo e descrito de forma sistemática. Dessa descrição resultaria a ideia da estrutura social daquela sociedade. Havia ainda outro pressuposto nesse conceito: o de que as diversas partes de uma sociedade se organizavam para manter a estrutura sempre funcionando, garantindo um equilíbrio constante. Poderia haver momentos de tensão, mas a tendência seria sempre voltar ao equilíbrio. Para a sociedade existir, cada uma das partes desempenhava sua função na manutenção do equilíbrio. Para compreender essa ideia, podemos comparar a estrutura de uma sociedade com a do corpo humano, composto de inúmeras partes (os órgãos). Todas as partes precisam contribuir para a sobrevivência, tanto no caso da sociedade como no caso do corpo humano: se um órgão falha, o organismo todo pode morrer. Essa ideia de função remetia a uma percepção de utilidade: qualquer costume, prática, hábito ou ritual, por mais estranho que parecesse, sempre tinha uma função na sociedade. Essa função estava atrelada à própria sobrevivência daquela população e se referia às necessidades básicas: alimentar-se e sobreviver às dificuldades impostas pelo ambiente. Malinowski era radical, acreditando que tudo o que uma sociedade produzia respondia a uma única necessidade básica: saciar a fome.
  • 5. Bronislaw Malinowski (1884-1942) nasceu na Polônia, estudou Ciências Exatas lá e na Alemanha. Mudou-se para a Inglaterra, onde se naturalizou. A leitura de O Ramo de Ouro, obra clássica de James Frazer, o atraiu para a Antropologia. Ficou conhecido por estabelecer o método etnográfico, ou seja, a pesquisa de campo de longa duração, com conhecimento fluente do idioma local e “observação participante”. O trabalho de campo tornou-se um dos principais métodos de pesquisa antropológica. Para ele, o antropólogo deveria “mergulhar” na cultura local, participando das atividades cotidianas enquanto observava o que acontecia. Grande crítico dos evolucionistas e precursor da perspectiva funcionalista em Antropologia, foi um dos intelectuais mais influentes do século XX. Cerimônia em que os homens das ilhas Andamã (estudadas por Radcliffe-Brown), no oceano Índico, pedem desculpas às mulheres pelas guerras, em foto tirada em 1906, sem autoria reconhecida.
  • 6. Evans-Pritchard produziu um trabalho clássico sobre a população nuer, habitante de uma área que hoje corresponde ao Sudão do Sul. Os nuer tinham uma estrutura social muito complexa, baseada em processos de fissão e fusão (em outras palavras, processos de separação e união). Os nuer se dividiam em clãs, que mantinham relações com outros clãs a partir de genealogia ancestrais. Era essa genealogia que ditava as regras de relação: uma guerra entre dois clãs podia acontecer, mas quando um desses clãs era ameaçado por um clã distante, os dois clãs próximos se juntavam para guerrear coletivamente. Os processos de fissão e fusão dos nuer pareciam ser uma estrutura móvel, pois às vezes esse povo se organizava de um jeito, às vezes de outro. Para explicar essas mudanças, Evans-Pritchard descreveu algo que chamou de princípio estrutural (justamente a fissão e a fusão). Embora o processo descrito acima seja característico dos nuer, podemos observar que ele se repete em várias sociedades, até mesmo na nossa. O futebol é um bom exemplo. Torcemos para times rivais dentro do Brasil, mas quando a seleção brasileira enfrenta a seleção de outro país, deixamos de lado as rivalidades locais e torcemos pela seleção nacional.
  • 7. 2 – O OLHAR DOS FRANCESES A antropologia francesa distanciou-se tanto da noção de cultura como da noção de estrutura social dos ingleses. Os principais representantes da vertente francesa foram Marcel Mauss (1872-1950) e Claude Lévi- Strauss (1908-2009). Mauss tinha uma preocupação semelhante a dos evolucionistas do século XIX: buscar explicações gerais para os fenômenos humanos em perspectiva comparativa. Essa também foi uma das preocupações centrais de Lévi-Strauss: produzir uma antropologia cujas teorias pudessem explicar aspectos gerais da humanidade. Apesar da aversão de muitos estudiosos pelas generalizações, Mauss e Lévi-Strauss buscavam justamente explicações mais gerais e necessariamente comparativas, sem no entanto pressupor a necessidade de nenhuma escala evolutiva. Construíram modelos de explicação que não incluíam a noção de progresso, liberando assim a Antropologia para pensar sobre a vida em sociedade em termos mais amplos e ambiciosos.
  • 8. Marcel Mauss, sobrinho de Émile Durkheim, desenvolveu seu trabalho numa esfera de intelectuais reunidos em torno da revista L'Année Sociologique. Em seu texto clássico Ensaio sobre a dádiva (1923), Mauss diz que qualquer sociedade se baseia na aliança: para existir, uma sociedade precisa se constituir em grupos que estabeleçam alianças. Para Mauss, a necessidade de retribuir uma dádiva (algo que recebemos de alguém) leva a um sistema de trocas: trocas matrimoniais (casamentos entre grupos diferentes), trocas econômicas (comércio) e trocas simbólicas (circulação de mitos, histórias, objetos sagrados, práticas variadas, etc.). Ou seja, para esse autor, a origem da sociedade estaria na troca como forma de estabelecer relações. Essa reflexão deve muito às descrições de Franz Boas sobre as cerimônias do povo Kwakiutl, habitante da ilha de Vancouver, Canadá. Uma dessas cerimônias, o potlach, era uma festa religiosa de homenagem, em geral envolvendo um banquete seguido pela renúncia a todos os bens acumulados pelo homenageado, que deveriam ser entregues a parentes, convidados e amigos, ou até queimados. Ele ainda propôs também teorias sobre a origem de categorias como "pessoa", "magia", "sacrifício", entre outras.
  • 9. Claude Lévi-Strauss, por sua vez, foi o mais ambicioso teórico da Antropologia do século XX, considerado o mais importante antropólogo de todos os tempos. Influenciado por Mauss, de quem foi aluno, e por teóricos da linguística, Lévi-Strauss avançou na teoria da dádiva de Mauss e propôs inicialmente uma teoria da troca na constituição dos diversos tipos de parentesco. Para definir essa teoria da troca como fundadora da vida em sociedade, Strauss imagina um estado de natureza anterior à vida em sociedade, em que as pessoas não faziam trocas. Segundo ele, o que leva as pessoas a fazer trocas é a proibição do incesto. Se uma parte das pessoas de um grupo não pode casar entre si, torna-se necessário estabelecer algum tipo de troca entre sociedades, para que as pessoas possam casar sem violar as leis de proibição do incesto. Lévi-Strauss vai mais além e constata que as formas como as sociedades "simples" trocavam casamentos eram restritas a poucos modelos que se repetiam. Ou seja, o número de sistemas de parentesco não era tão grande, e sociedades muito distantes geograficamente umas das outras desenvolviam sistemas de parentesco bastante semelhantes. Como não era possível estabelecer nenhuma conexão histórica entre essas sociedades, a única conclusão possível é que esses sistemas haviam sido criados autonomamente.
  • 10. Se sistemas de parentesco semelhantes eram produzidos ao redor do mundo, isso significaria que eles esconderiam uma estrutura comum a toda humanidade? Para Lévi-Strauss, a resposta é sim. É justamente essa estrutura que ele passa a buscar. Nada parecido com a ideia de estrutura social dos ingleses, mas com uma estrutura que não está evidente, que não é visível a olho nu. A estrutura proposta por Lévi- Strauss é deduzida de várias comparações entre sociedades. Para ele, existe algo de comum no pensamento humano, que faz com que várias sociedades produzam coisas parecidas. Essa estrutura seria universal, e Lévi-Strauss passou a vida tentando desvendá-la a partir de estudos sobre parentesco e mitologia indígena nas Américas. A estrutura lévi-straussiana pensa em termos binários, constituindo oposições, como as que existem entre os termos alto e baixo, fora e dentro, cheio e vazio, etc. Para ele, essas oposições seriam o motor de qualquer pensamento humano. Essa estrutura universal que organiza o pensamento humano indica também um processo de lentas transformações entre as oposições.
  • 11. Cena de um potlach registrado por Edward S. Curtis (1868-1952), fotógrafo norte- americano que retratou tipos e costumes de populações nativas da América do Norte. Esta foto de 1914 mostra uma festa de casamento Kwakiutl. A noiva aparece no centro, ladeada por dançarinos, seu pai está na extrema esquerda e o pai do noivo à direita, atrás do homem que segura o tambor.
  • 12. Nesse sistema, conhecido como havaiano, não há diferença entre irmãos e primos. É comum em sociedades da Polinésia e em algumas sociedades nativas da América do Sul. Note que na simbologia adotada o triângulo indica homem e o círculo indica mulher. Os sinais de = significam casamentos. A linha que desce do = significa ‘filhos’. No diagrama acima, vemos um casamento principal no centro e acima. Esse casal tem irmãos e irmãs que também se casaram (na linha superior) e tiveram filhos (na linha inferior). As letras na parte inferior são equivalentes a nomes como “primo” ou “irmão”. Veja que todos os homens e mulheres da segunda linha (os filhos) recebem o mesmo nome, ou categoria de parentesco. Assim, tanto aquilo que reconheceríamos como irmão (a) e como primo (a) receberiam o mesmo nome. Isso quer dizer que esse sistema de parentesco não distingue primos de irmãos, como fazemos em nossa sociedade.
  • 13. O método de produção da xilogravura Metamorphosis III, do artista holandês M. C. Escher (1898-1972), em que sombra e luz (opostos) formam figuras que lentamente se transformam, numa sucessão de metamorfoses, pode ser comparado à estrutura de Lévi-Strauss e seus processos de transformação. Claude Lévi-Strauss (1908-2009) foi um grande antropólogo, etnólogo e professor francês. Formado em direito e filosofia na França e produtor de uma vasta obra, foi o criador da antropologia estrutural e um dos maiores pensadores do século XX. Conviveu e estudou com os índios do Brasil Central, entre 1935-1939, e a publicação de sua tese As estruturas elementares do parentesco, em 1949. Dedicou uma tetralogia, as Mitológicas, ao estudo dos mitos, publicou também Tristes Trópicos, em 1955, que o tornou popular por um vasto círculo de leitores.
  • 14. 3 - SOCIEDADES SIMPLES E SOCIEDADES COMPLEXAS Uma das principais características da Antropologia no século XX foi a crescente variação de objetos de interesse. Se a orientação inicial foi o estudo de sociedades pequenas e isoladas (muitas delas vivendo em ilhas), aos poucos outras fontes de estudo foram encontradas, como as sociedades ditas "complexas". A oposição entre "simples" e "complexas" foi uma das formas empregadas para distinguir as sociedades. Esses termos, porém, são problemáticos, pois todos os antropólogos correriam a afirmar que nenhuma sociedade é realmente simples e todas elas, a seu modo, são complexas. Sociedades complexas seriam aquelas que combinam uma grande escala de tamanho, a presença do Estado, fortes diferenças culturais internas e ainda uma diferenciação social destacada. Embora o termo “sociedade complexa” seja enganador, por inferir que existem sociedades não complexas, a expressão ganhou espaço e marcou a história da Antropologia.
  • 15. SOCIEDADES COMPLEXAS - Sociedades como a chinesa, as pré-colombiana, as da Europa medieval, todas podem ser consideradas complexas, assim como as sociedades das quais os antropólogos faziam parte. A passagem da primeira para a segunda metade do século XX marcou um avanço da Antropologia no estudo das sociedades europeias, americanas e de grandes nações do mundo. A princípio isso foi feito com base em conceitos elaborados para estudar sociedades pequenas. Mas aos poucos os estudiosos perceberam que outras categorias eram necessárias para pensar as sociedades ditas complexas. Ilustração colorida de autoria desconhecida, representando como teria sido a praça central de Tenochtitlán, capital do Império Asteca. Dado o seu tamanho e sua diversidade interna, a sociedade asteca pode ser considerada “complexa”.
  • 16. SOCIEDADES SIMPLES E GRUPOS MARGINAIS Os métodos e conceitos dedicados às sociedades "simples" levaram os antropólogos a buscar nas sociedades de grande escala fenômenos semelhantes aos observados nas sociedades pequenas. Essa tendência é ainda muito forte na Antropologia: estudar grupos marginais e discriminados no interior das sociedades complexas. Ou seja, procurar os grupos em que a diferença cultural era mais evidente. Também foram estudadas populações rurais e indígenas que iam sendo incorporadas à força às sociedades nacionais, e cujos indivíduos se viram obrigados a adotar novas estratégias de sobrevivência. Mas o olhar dos estudiosos sempre imaginava que aquelas populações tão diferentes iriam lentamente se adaptar e se assemelhar aos dominadores ou às maiorias, no caso dos imigrantes. Os antropólogos norte-americanos tentaram enquadrar essas realidades fugidias no conceito de cultura, cunhando termos como ACULTURAÇÃO, processo resultante do contato mais ou menos direto e contínuo entre dois ou mais grupos sociais em que cada um desses grupos assimila, adota ou rejeita elementos da cultura do outro. Pode ser recíproco ou unilateral e eventualmente implicar subordinação política. Como conceito antropológico, teve grande aceitação na primeira metade do século XX; mais tarde, foi duramente criticado. A princípio, para entender essa diversidade, os antropólogos só contavam com os instrumentos usados no estudo das sociedades pequenas. Assim, começaram a praticar Antropologia em sociedades complexas entre os grupos mais excluídos. Mas mesmo nesses contextos, aquelas ferramentas pensadas a partir de uma noção de estabilidade não se mostraram muito eficazes. Então, novas ideias foram desenvolvidas. A partir da década de 1960, as noções de ETNICIDADE e IDENTIDADE passaram a ganhar importância.
  • 17. O termo ETNICIDADE já rondava a história da Antropologia desde o começo do século XX, mas só a partir da década de 1960 a expressão aparece como forma cada vez mais comum de pensar a diferença. Em um mundo em intensa transformação, com o avanço do sistema capitalista produzindo mudanças radicais, era cada vez mais difícil pensar as sociedades em termos de estabilidade. Todos esses processos sociais desestabilizaram as percepções da Antropologia e desafiaram as noções de equilíbrio, tão importantes até então. Também ocorriam transformações no interior das sociedades europeias e norte-americanas: conflitos internos, discriminações, racismo crescente, fluxos migratórios. Na Inglaterra, uma nova geração de antropólogos comandada por Max Gluckman (1911-1975), aluno de Radcliffe-Brown e de Evans-Pritchard, começava a analisar as relações entre as sociedades “simples” e os impérios coloniais. Conhecida como escola de Manchester, essa geração se dedicou a estudar a mudança social e as transformações relacionadas aos processos de descolonização e independência na África e na Ásia. Entre os estudiosos desse grupo, o conceito de etnicidade tornou-se central. Outro antropólogo que contribuiu para o desenvolvimento da noção de etnicidade foi o norueguês Fredrik Barth (1928-) formado em Cambridge, cujo trabalho influenciou alguns membros da escola de Manchester. 4 - O CONCEITO DE ETNICIDADE
  • 18. “Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele.” Este é um trecho do famoso discurso do líder norte-americano Martin Luther King (1929-1968) proferido no Memorial de Lincoln, em Washington DC, capital dos Estados Unidos, no dia 28 de agosto de 1963, diante de milhares de pessoas reunidas pelo fim do preconceito e da discriminação racial.
  • 19. O conceito de etnicidade descreve um grupo que se auto define e é definido por outros como diferente, que supõe algum tipo de identificação coletiva, como o compartilhamento de uma história comum. O grupo étnico não é definido por seu conteúdo cultural, mas sim em contraposição a outros grupos. Um grupo étnico só se define em relação a outro, e o conceito de etnicidade é sempre relacional. Não há etnicidade num grupo isolado, pois o que constitui a etnicidade é justamente o contraste com outros grupos. A etnicidade é um poderoso instrumento de mobilização política, utilizado para legitimar lutas por diferentes tipos de direitos. As lutas das minorias discriminadas nas sociedades centrais do capitalismo foram acompanhadas do uso dos termos etnicidade e identidade étnica. Imigrantes eram étnicos, indígenas no seio de sociedades complexas e minorias raciais também. Esse conjunto de populações demonstrava que a diferença continuava a existir nas sociedades complexas: não ocorreu o processo de “aculturação” que alguns antropólogos haviam previsto. E ainda: a essas “diferenças” estava atrelada uma carga significativa de injustiça social. A ideia de minoria pode ser enganadora, pois nem sempre significa um número menor de pessoas: um grupo étnico pode ser mais numeroso em termos populacionais, mas muito fraco em termos de poder e de participação na distribuição da riqueza. Na África do Sul, antes do fim do apartheid, uma minoria branca dominava completamente os recursos do país, enquanto a imensa maioria negra era excluída. Ou seja, o termo minoria também pode ser usado como referência aos grupos que concentram poder. Mas, nesses casos, a propriedade da etnicidade é que aqueles que dominam constroem um sistema no qual se inserem como a normalidade. Ou seja, os brancos são vistos como os “normais”, e todos os excluídos são “étnicos”.
  • 20. Esta charge do cartunista chileno Guillo, publicada em 1992, mostra o dilema entre minorias e maiorias e a relação de poder: uma minoria com muito poder pode se considerar a “normalidade” e tratar todos os demais como estranhos a essa normalidade.
  • 21. O exemplo dos conflitos étnicos demonstra a importância de entender como se dão os processos de construção de diferença, pois não se trata apenas de pensar e falar sobre diferença, mas de perceber as práticas geradas por essas construções. O conceito de etnicidade se contrapõe ao conceito de aculturação (ou assimilação), que foi um dos desenvolvimentos do conceito de cultura. Como o conceito de cultura levava a imaginar uma única cultura nacional, as reivindicações de minorias não se encaixavam nos quadros de explicação. Foi preciso encontrar um conceito mais flexível, que desse conta de explicar a diferença dentro das sociedades nacionais de forma mais sensível. Esse conceito é “etnicidade”. Esta charge de Angeli publicada em 2006 descreve a realidade de uma situação que poderíamos chamar de étnico-racial: a exclusão histórica de uma parte da população pela crença na existência das raças, e do racismo atrelado a essa crença.
  • 22. 5. O CONCEITO DE IDENTIDADE Um conceito muito importante para pensar a diferença é o de IDENTIDADE. Esse termo tem aparecido na história da Antropologia desde o começo do século XX, com os estudos dos alunos de Boas. Nessa época, porém, a ideia de identidade era sempre um acessório: identidade social, identidade étnica, identidade racial. Conotava uma reflexão sobre a autoimagem de um grupo, em geral, impregnada da mesma noção de equilíbrio que vimos operar nas definições de estrutura. A partir da década de 1970, o termo identidade ganhou outra conotação, relacionada à intensa fragmentação social produzida pelo avanço do capitalismo e suas consequências. Como exemplo dessa fragmentação, podemos citar: • as migrações internacionais; • a emergência de diversos movimentos políticos ligados a etnicidades raciais e étnicas; • a presença de religiões transnacionais; • os movimentos políticos baseados em orientação sexual. Essa realidade fragmentada exigia um novo conceito para pensar a diferença além dos conceitos de cultura e etnicidade. Se etnicidade se referia a algum tipo de ancestralidade comum (imigrantes, populações negras, indígenas, etc.), muitas outras diferenças não tinham mais essa conotação: entre um ultra religioso negro e um ativista por direitos homo afetivos negro, a diferença pode ser tão grande quanto aquela entre um grupo indígena e uma sociedade nacional. Como pensar essa diferença não atrelada necessariamente a uma ancestralidade comum? A alternativa para pensar essa nova realidade complexa e fragmentada foi o conceito de IDENTIDADE.
  • 23. Ao contrário de outras ideias usadas para pensar a diferença, identidade não pressupõe uma ancestralidade comum; a prática social (a experiência de vida) é suficiente para produzir identidades entre grupos de pessoas. Podemos pensar num grupo de religiosos budistas que desenvolve uma identidade a partir da prática do budismo, num grupo de homossexuais em busca de direitos familiares e na luta contra o preconceito, em grupos de punks que vivem segundo um modelo diferente. A todos esses exemplos e a muitos outros pode ser atribuído o conceito de identidade: identidades religiosas, identidades sexuais, identidade punk. A identidade é sempre vista como transitória, nunca pronta e acabada. É um processo em construção, modelado pela ação das pessoas que partilham coisas comuns. Num mundo fracionado pelo excesso de informação, a diferença social tem sido analisada sob a perspectiva do conceito de identidade, mas isso também levou a um tipo de análise que foca apenas o sujeito e suas escolhas, como se a identidade fosse uma espécie de mercadoria que cada pessoa pode assumir livremente. O fato de que muitos grupos se definem pelo consumo de determinadas mercadorias levou a uma associação entre o conceito de identidade e o mercado de consumo. Se na esfera do senso comum cada vez mais a identidade assume a feição de personalidade individual moldada por estilos de consumo, nas Ciências Sociais a importância da “vida em comum” continua a ser muito relevante. Para autores como Stuart Hall (1933-), a identidade contém tanto aquilo que escolhemos como aquilo que não escolhemos. Assim, a exclusão racial, a discriminação sexual, a intolerância religiosa, por exemplo, são fatores sociais que as pessoas não controlam, mas que podem moldar suas identidades. As identidades comportam tanto nossas heranças culturais como novas formas de pensar o mundo, apresentadas pelas novas tecnologias de comunicação.
  • 24. O primeiro casamento gay no universo dos quadrinhos Marvel: o super-herói Estrela Polar (Jean-Paul Beaubier) se uniu ao namorado Kyle Jinadu (à esquerda) na edição número 51 (junho de 2012). As diferenças presentes no mundo contemporâneo vão além das étnicas e culturais, produzindo outros tipos de identificação.
  • 25. “MÁ NOTÍCIA. ELE PERDEU A IDENTIDADE.” Na charge acima, há uma relação entre a identidade e a personalidade de um indivíduo. Sem identidade, ele perde o poder de ser alguém. O conceito de identidade tem facilmente se confundido com o de personalidade individual. “COMPRE SUA IDENTIDADE.” Esta charge faz pensar na relação entre identidade e consumo: é possível comprar uma identidade?
  • 26. FIM Bibliografia: Sociologia Hoje Henrique Amorim Celso Rocha de Barros Igor José de Renó Machado