1. Hoje, Paris é livre, pertence-se e a província está na escravatura. Quando a França
federada puder compreender Paris, a Europa será salva. Hoje, lanço um apelo aos
artistas, apelo à vossa inteligência, ao vosso sentimento, ao vosso reconhecimento,
Paris alimentou-os como uma mãe e deu-lhes o vosso génio. Neste momento, os
artistas devem com todas as suas forças (é uma dívida de honra), participar na
reconstrução do seu estado moral e do restabelecimento das artes, que constituem a
sua riqueza. Por conseguinte, é da maior urgência abrir novamente os museus e de
pensar seriamente na próxima exposição. Desde já, cada um deve pôr as mãos à obra
e os artistas das nações amigas responderão ao nosso apelo. Já temos a nossa desforra,
o génio vai levantar voo, porque os verdadeiros prussianos não eram os que
inicialmente nos atacavam. Estes, fazendo-nos morrer à fome fisicamente, serviram os
nossos interesses para reconquistarmos a nossa vida moral e elevarmos todos os
indivíduos à dignidade humana.
Ah! Paris, Paris a grande cidade, acaba de sacudir o pó de todo o feudalismo. Os mais
cruéis prussianos, os exploradores do povo, estavam em Versalhes.
A sua revolução é ainda mais equitativa por vir do povo. Os seus apóstolos são
operários, o seu Cristo foi Proudhon. Há mil e oitocentos anos, os homens de coração
morriam suspirando, mas o povo heróico de Paris vencerá os mistificadores e os
atormentadores de Versalhes, o homem governar-se-á a si próprio, a federação será
compreendida e Paris ganhará a mais bela glória jamais registada na história. Hoje,
repito, que cada um seja desinteressadamente pobre. É o nosso dever para com os
nossos irmãos soldados, estes heróis que morrem por nós. O bom direito está com eles.
Os criminosos reservaram a sua coragem para a santa causa.
Sim, cada qual entregando-se ao seu génio sem entraves, Paris duplicará a sua
importância e a cidade internacional europeia poderá oferecer às artes, à indústria, ao
comércio, a todo o tipo de transacções, aos visitantes de qualquer país, uma ordem
imperecível. Um desafio dos seus concidadãos que não poderá ser interrompido pelas
ambições monstruosas de pretendentes monstruosos.
A nossa era vai começar, curiosa coincidência! Domingo é o próximo dia da Páscoa.
Será esse dia que verá a nossa ressurreição! Adeus ao mundo velho e sua diplomacia!
GUSTAVE Courbet
Texto editado pelo Journal Officiel de la Commune de 5 de abril de 1871
Fonte:http://www.theyliewedie.org/ressources/biblio/fr/Increvables_anarchistes_-
_Courbet_Proudhon_et_la_commune_de_Paris.html
Tradução Ana da Palma