Este documento fornece um resumo de 3 frases ou menos sobre o documento:
1) O documento é uma edição da revista "Jane Austen Portugal" focada no livro "Mansfield Park" de Jane Austen.
2) A revista contém vários artigos de diferentes autores sobre o enredo, personagens e adaptações do livro "Mansfield Park".
3) Além disso, a revista traz sugestões de livros, músicas, filmes e blogs relacionados ao universo de Jane Austen para os leitores.
2. Sumário
1. Sugestões Austenianas 3
2. Quando Conheci Jane Austen 4
3. Um Olhar sobre O Parque de Mansfield 6
4. Mansfield Park – Uma Visão Pessoal 8
5. Em Busca d‘O Parque de Mansfield 9
6. Mansfield Park 11
7. Mansfield Park – Uma Opinião 13
8. O Que Me Marcou em ―O Parque de Mansfield‖ 14
9. Mansfield Park 1999 15
10. Mansfield Park 2007 16
11. Mansfield Park Comparado 17
12. As Versões de Mansfield Park 19
13. Fanny Price 20
14. Uma Quase Redenção 22
15. Edmund Bertram 23
16. Tom Bertram, O Filho Herdeiro 24
17. Explorando Tom Bertram 25
18. Henry Crawford 28
19. Lady Bertram e Mrs. Norris – As Irmãs 31
20. Maria Bertram 33
21. Julia Bertram 34
22. Mr. Rushworth 36
23. Do Parque de Mansfield para Sensibilidade e Bom Senso 37
24. Jane Austen e Eu 38
25. Os Lugares de Jane Austen 40
26. Sabias Que… 42
2
3. Sugestões Austenianas
Por Liliana Isabel
Sugestão Livro:
O Perfume de Patrick Süskind. Li este livro há uns bons anos e é dos meus favoritos
de sempre. Este livro fala do mundo dos cheiros e dos sentidos como talvez nenhum
outro livro que eu tenha lido. Trata-se de um jovem que nasceu sem cheiro mas que
em contrapartida tem um olfacto quase sobrenaturalmente apurado. Jean-Baptiste é
um rapaz fora do normal que é ostracizado por todos os que o rodeiam, desde que
nasceu. Ao ler este livro sentimos mesmo os cheiros que rodeiam o herói da história.
As descrições são tão vívidas que nos sentimos mesmo dentro do livro. Adorei o
livro e não perdi a adaptação ao cinema que também adorei.
Sugestão Música:
Robbie Williams. Sou fã do cantor Robbie Williams desde os 11/12 anos, desde os
tempos da formação original dos Take That. Adoro-o e acho que ele é um dos
melhores entertainers do mundo do espectáculo. Uma das coisas que eu mais adoro
no Robbie, e que muita gente desconhece é que ele é um excelente compositor e
cantor (quando não se distrai com as suas obrigações de entertainer) os seus B-Sides
são do melhor que existe e muitas vezes superam até as músicas que toda a gente
conhece e canta. Ele é muito mais que Angels e Feel. Agora juntou-se aos antigos
colegas dos Take That e não sei até quando isso durará mas eu vou sempre
acompanhá-lo. O que ele quer que faça é sempre feito com amor e muito talento.
Sugestão Filme:
O filme que escolho como sugestão é o Moulin Rouge porque tem todos os elementos que
eu adoro num fime: romance e musical. Adoro a história, o enredo, as músicas, o ambiente
boémio, os actores, principalmente a Nicole Kidman que é a minha actriz favorita e que
tenho muita pena que (ainda) não tenha feito uma adaptação dos livros de Jane Austen.
Eu penso que já terei visto o Moulin Rouge mais de 15 vezes. Sei as músicas todas,
comprei os CD's e vibro sempre nas mesmas cenas. Se amam musicais e amor (sendo fã
de Jane Austen penso que é mesmo indicado) não vão ficar desiludidas(os) com o filme!
Considero-o um dos meus filmes favoritos de sempre e penso que o será por muitos e
muitos anos.
Sugestão Blogues:
O Cantinho da Lili é um blog que eu criei há 2 anos
para postar de tudo um pouco, relacionado com os
meus gostos, ideias e opiniões.
Gilmore Girls Portugal é um blog também meu, criado
há 4 anos, sobre a série que marcou a minha vida e da
qual ainda hoje tenho muitas saudades. Neste
momento o blog revive momentos e acompanha as
carreiras dos principais actores da série
.
3
4. Por Adriana Zardini,
Presidente do JASBRA
E
u tive contato com a me cativou muito porque fala da
obra de Austen, pela espera, do amor que não se apaga com
primeira vez, quando o tempo. Eu mesma vivenciei uma
cursava a Faculdade experiência similar quando fui morar
de Letras na nos Estados Unidos e fiquei longe do
Universidade meu namorado, hoje marido, por
Federal de Minas quase seis meses. Obviamente não
Gerais. O livro escolhido foi ‗Emma‘ e fomos separados pela família, como foi
após a leitura fizemos um debate o caso de Anne Elliot, mas de alguma
fazendo comparações entre o livro e o forma eu me identifiquei com o casal.
filme de 1996. Naquela época, eu Talvez até porque eu li Persuasão
apenas tive conhecimento das outras enquanto morava fora do país.
obras de Austen de maneira
superficial. Foi em 2011, enquanto eu
morava em Nova York, que tive a
oportunidade de conhecer as outras Das mocinhas de Austen eu gosto
obras de Austen. Desde então fiquei muito Lizzy Bennet, Marianne
fascinada pela escrita de Austen e o Dashwood e Anne Elliot. É claro que
universo que elas nos apresenta em admiro as outras protagonistas, mas as
suas obras. Com o passar do tempo, três mencionadas anteriormente são
fui lendo as obras, assistindo aos as minhas favoritas. Não posso
filmes e séries de TV e me envolvendo esquecer-me de Mary Crawford, que
cada vez no universo da escritora. apesar de uma antagonista, eu
considero uma moça muito
interessante e ousada. Quanto aos
mocinhos, diferentemente da maioria
Meu livro favorito é Persuasão. Acho das Janeites, meu herói favorito é o
que a história dos dois protagonistas Capitão Wentworth e não o Mr.
4
5. Darcy. Na conterrâneas (Cláudia, Pollyana e Ana
minha lista Maria) e nos tornamos mais próximas.
de
mocinhos
favoritos
estão Mr. Em 2008, ao perceber que as pessoas,
Knightley, inscritas da comunidade do Orkut,
Henry faziam as mesmas perguntas
Tilney e referentes aos livros e adaptações,
Coronel resolvi criar o blog que hoje é o blog
Brandon. da Jane Austen Sociedade do Brasil.
Confesso Ao longo destes anos, conheci muitas
que ao pessoas interessadas na obra de
assistir Austen, sua biografia e filmes
uma baseados em suas obras. Em 2009,
juntamente com as amigas de Minas
adaptação ou reler um Gerais (estado onde vivo) decidimos
livro, me apaixono novamente pelos criar a JASBRA. Nesse mesmo ano,
personagens ou sou conquistada por realizamos nosso I Encontro Nacional
outros personagens que não havia (na cidade de Ouro Preto) e contamos
dado atenção antes. Gosto muito de com a presença de pessoas de outros
reler os livros de Austen porque estados também. No ano passado,
sempre me trazem novos insights a realizamos nosso II Encontro
respeito de sua época, costumes e Nacional no Rio de Janeiro e
atitudes da Inglaterra do século XIX. contamos com a presença de quase 60
pessoas. Para este ano planejamos o
III Encontro Nacional em outubro e
será em Recife, no nordeste do país.
Em 2005, com a expansão das redes
sociais no Brasil, como o Orkut, pude
conhecer diversas fãs de Austen e em
uma comunidade dedicada à série Maiores informações sobre a
Orgulho e Preconceito (1995) JASBRA: www.jasbra.com.br
conquistas diversas amizades, que
Atualizações sobre o universo Austen
perduram até hoje. Foi nessa mesma
e a sociedade:
comunidade que conheci minhas
www.janeaustenbrasil.com.br
5
6. «A perseverança, a seriedade e a defesa dos
valores do bem e da verdade, mais tarde ou
mais cedo, gerarão felicidade»
Um Olhar sobre O Parque de Mansfield
Por Fátima Velez de Castro
leitura. No entanto, tive a
sorte de conseguir uma
tarde livre e nem pensei
duas vezes, foi uma
maratona de leitura desde
as duas da tarde até às oito
da noite! O livro foi
avidamente ―devorado‖,
como podem perceber.
E
Em segundo lugar,
alguns olhares sobre o
romance.
Em primeiro lugar
u
pretendo dar-vos a Uma das coisas que mais
não
conhecer a aquisição e apreciei foi a crítica
conheci
leitura do Parque de realizada à noção de
-a esta
Mansfield… uma aventura! ―caridade‖: uma acção
obra,
Para arranjar o livro realizada para bem parecer
até vocês falarem dela. Esta
demorei bastante tempo, em sociedade, mais do que
é uma, senão o trabalho
visto que está esgotado e para o fim a quem se
menos conhecido da Jane
não há previsão de destinam as acções. A
Austen, não percebo muito
reedição. Teve de ser pela família Bertram neste
bem porquê. Comparando
internet, num site de contexto é um paradoxo de
com a ―Persuasão‖, este
leilões, esperando bondade e cinismo, que se
romance está muito mais
pacientemente pelo fim do vai intercalando ao longo
completo e explora de
negócio. Mas quando do enredo, embora no final
forma intensa cada
finalmente chegou, foi uma se descubra e se cultive tal
personagem. Enfim,
alegria! O enredo é virtude, à custa de uma
poderíamos aqui discutir a
aliciante, o que fez com aprendizagem sofrida.
importância, valor,
que o tivesse lido em pouco
complexidade e qualidade
mais de uma semana, E Fanny Price, que
deste livro face à restante
intercalando trabalho heroína tão apagada! No
obra, que na minha opinião
(muito!), vida familiar e início perguntava-me
não se fica nada atrás,
pequenos (muito como e que Jane poderia
porém o objectivo é outro.
pequenos) tempos de ter criado uma
6
7. protagonista tão atípica. arca com as consequências ter bons sentimentos; as
Quantas vezes não nos dá da sua conduta consciente; filhas Bertram, uma
vontade de ―sacudir‖ a sua Mr. Rushworth, uma espécie de Lydia e Kitty de
aparente inércia? Muitas de pobre alma dividida entre ―Orgulho e Preconceito‖,
certo. No entanto o final uma mãe possessiva e uma mas com desfechos
desta personagem ensina- mulher que não o ama, trágicos; Mary Crawford, o
nos que a perseverança, a quiçá uma vítima como egoísmo em pessoa, capaz
seriedade e a defesa dos Henry, por falta de alguém de sacrificar a sua
valores do bem e da que o compreenda e guie; felicidade em prol do
verdade, mais tarde ou Sir Thomas, o temido dinheiro; Susan Price, um
mais cedo, gerarão patriarca que têm retrato da bondade e
felicidade. inteligência para aprender constância da irmã, mas
com os seus erros; Tom, o com mais vivacidade
filho que (talvez) se tenha (aparente).
de facto reabilitado.
Das personagens
masculinas: Edmund é um
ingénuo, que apenas vê em Muito fica por dizer numa
Mary o que lhe apraz, ou As personagens femininas: abordagem tão breve,
seja, a beleza; e Henry é o Mrs.Norris, a execrável tia, todavia o que fica deste
mais inconstante dos a dominadora que livro são muito bons
homens, um verdadeiro descarrega nos mais momentos de leitura e de
perigo, do qual não se tem próximos as próprias reflexão a partir de um
a certeza se é vítima pela frustrações; Lady Bertram, retrato tão mordaz e
ausência de uma boa guia a futilidade em pessoa, com inteligente da sociedade
(seria Fanny a sua carácter demasiado inglesa contemporânea de
salvação?), ou se apenas maleável, mas que parece Austen.
7
8. «Parecia-me extremamente diferente de
todos os outros livros. Foi uma leitura
apaixonante.»
Mansfield Park – Uma Visão Pessoal
Por Cátia Pereira
N
ão é o livro livro mais adulto de Jane. encontra um ritmo mais
mais famoso Fiquei muito impressionada dinâmico, quando chega a
de Jane com o percurso não só de altura em que os personagens
Austen. Fanny Price, mas também de organizam uma peça de
Aliás, poucas todos os outros personagens. teatro. Posteriormente,
pessoas Apesar do final ser previsível quando Fanny volta para a
poderão dizer que este foi o e de ser um ―final feliz‖ casa de seus pais, o livro
primeiro livro que tenham (embora para mim, o final retoma o ritmo lento para
lido dela. Aqui, em Portugal, feliz seria outro…) a forma depois voltar novamente a
ainda é mais difícil que isto como Jane Austen trabalhou ganhar ritmo. Há esta dança
aconteça já que achar alguma é bem diferente de todos os entre lentidão e fluidez. E
edição dele para ler é quase outros livros. Eu vejo este ritmo gera em que lê
como descobrir um tesouro. Mansfield Park não como um uma ansiedade de saber o que
[Li-o em formato ebook mas livro de protagonistas virá a seguir.
vou comprar uma edição do marcantes. É um livro de
Brasil, não vou ficar à espera vários temas e estes mesmos Li com muito prazer este
que as Edições Europa- temas tornam-se os livro. Lembro-me que
América se lembrem de protagonistas da história: discordei totalmente com o
voltar a editá-lo]. pobreza, orgulho, posição fim que, sendo previsível, não
social, escravatura, elitismo, era aquele que eu queria; mas
Eu pensava que quando o casamento, adultério, solidão, achei fascinante cada
lesse iria detestá-lo. Ouvia ciúme, virtude, bondade… e personagem, cada fala, cada
dizer que o livro era chato, assim por diante. silêncio, cada passo, cada
enfadonho e sem sal. cenário descrito.
Lembro-me que ao ler as A parte inicial é lenta,
primeiras páginas não me descritiva, onde as A meu ver, uma grande obra.
soava a uma escrita de Jane personalidades são
Austen. Parecia-me desenhadas com
extremamente diferente de perspicácia e
todos os outros livros. Foi detalhe.
uma leitura apaixonante. Somente, com
Amei cada linha desta algumas páginas
história. Do meu ponto de avançadas a
vista, este é - sem dúvida - o história
8
9. «Em certas alturas do romance, temos
vontade de sacudir Fanny »
Em Busca d‘O Parque de Mansfield
Por Clara Ferreira
juntando Fanny e Edmund, "em Mansfield Park é o
É
certo e quase (se não o for mesmo) movimento de outras
sabido que como uma lição de moral. personagens à volta de Fanny
O Parque e a quase imobilidade desta
de que temos de identificar
Mansfield enquanto meios de organizar
está longe " Em Mansfield Park explora e dinamizar a acção e o
de ser o a narrativa da formação e da enredo" ¹, Jane Austen coloca
supra- educação de uma jovem no Fanny Price quase no mesmo
sumo dos romances de Jane seio da família que recebe e plano que o leitor,
Austen, e parece-me adopta" ¹, um pouco como transformando-os em meros
igualmente correcto afirmar o Charlotte Bronte irá fazer espectadores. Fanny Price
mesmo em relação à sua com Jane Eyre, embora esta serve quase como um fiktro
heroína - Fanny Price. siga um caminho mais que influencia o leitor nas
obscuro. Mas que chamei suas opiniões sobre a acção
"Edmund e Fanny (...) Jane Eyre à questão, importa que vai decorrendo. Fanny
precisamente pela sua referir que as parecenças com Price moraliza fortemente a
subordinação aos códigos, Mansfield Park são maiores. nossa forma de ver as coisas,
condutas e expectativas Tal como Fanny Price, Jane na sua maneira subtil e
dominantes" ¹ não encontram Eyre acaba por se subordinar inocente, obriga-nos a
grandes aplausos dos leitores. aos valores e condutas distinguir o Bem do Mal, ou
Mais uma vez, penso que não expectáveis, todavia, tem um talvez seja melhor dizer, o
será errado dizer que, em carácter mais decidido e correcto do incorrecto.
certas alturas do romance, embora se subordine, creio
temos vontade de sacudir que nunca se subjuga. E
Fanny e implorar-lhe uma podemos afirmar isto porque
qualquer reacção, mínima deambulamos nos seus "Ao princípio é Mansfield
que seja. No fundo, torcemos pensamentos, tal como com Park; no fim é Mansfield
para que se rebele e creio que Fanny, e aí conhecemos uma Park. (...) A casa é o seu
é por essa razão que muitas protagonista com uma mente próprio centro" ¹, este um
de nós se sente inconformada viva, perspicaz, resoluta e aspecto fulcral. Mansfield
por ela nunca aceitar Henry activa; diferente de alguma Park é mais do que o local
Crawford - essa aceitação passividade que inunda a onde decorre a acção,
representaria a mudança que nossa querida Fanny Price. funciona como um palco em
gostávamos que ela que os actores entram e saem
espelhasse. Mas Jane Austen de cena, consoante os seus
escreve a sua história diálogos - o que é relevante se
totalmente ao contrário, compararmos com a ideia
9
10. maluca de encenar Lover's valores e a mesma moral. também representamos
Vows. Em Mansfield Park, as Tomemos este exemplo: "o papéis sociais e também nos
personagens surgem e final feliz possível neste subordinamos a códigos
desaparecem, mas a casa é romance é o da união sociais. Fanny Price não nos
imutável e só quando saem matrimonial da heroína leva ao êxtase porque não
dela é que as personagens se romanesca cujos códigos rompe com os valores da sua
perdem, transitória ou foram moldados à imagem e sociedade.
irremediavelmente. Nem semelhança de quem os
mesmo quando Fanny formou com o herói que os Perante a história (e espero
regressa a Portsmouth, formou - o que não deixa de não estar a ir longe de mais),
Mansfield desaparece do traduzir o fechamento" ¹. o facto de Fanny não se
romance. Está sempre rebelar é, no fundo, uma
presente nas longas cartas atitude mais corajosa do que
que lhe chegam repletas de se o fizesse. É a força dos
amarguras, e Fanny retorna a Mansfield Park é um valores que vence o
casa - Mansfield Park - como romance complicado. Fanny esvaziamento de consciência
que para "salvar a honra" da Price não estabelece empatia daqueles que a rodeiam.
mansão depois das imediata talvez porque
calamidades praticadas pela gostássemos de ver nela uma
descendência Bertram. Com irreverência, uma ruptura; e
ela, Mansfield Park essa aproximação real com ¹ "Jane Austen", Álvaro Pina
permanece imutável, Fanny Price assusta-nos
defendendo os mesmos precisamente porque
10
11. « Em Mansfield Park, Jane deixa um pouco
de lado a ironia »
Mansfield Park
Por Adriana Sales Zardini
M
ansfield Park é um trabalho livro, onde Fanny nem sequer aparece ou tem
da fase mais madura da idéia do que está acontecendo, bem como
escritora inglesa Jane Austen, análises a respeito dos motivos e das emoções de
escrito quando ela tinha outras personagens além de Fanny.
entre trinta e seis e trinta e Primeiramente, Austen mostra uma Fanny
nove anos. Existem muitas menos heróica que as outras até então criadas,
semelhanças e diferenças entre este livro e os porque nos descreve uma pseudo heroína
outros escritos por Jane. jovem, fraca e indefesa, matendo-a sempre
jovem e dependente. Apesar de heroína, Fanny
Aparentemente, trata-se de uma maneira de depende da atitude de Mary Crawford e se esta
escrever um romance diferente. A própria aceitará ou não o status de ser esposa de um
autora em uma carta para sua irmã Cassandra, pastor – Edmund Bertram. Diferentemente das
escreveu em 1813, que o tema do livro pretendia outras heroínas, que apresentam certa rebeldia,
ser ‗algo diferente‘, sobre ordenação, o qual Fanny é uma figura, porém marcante, que
aparentava ser pouco promissor. Porém, Jane possui um julgamento confiável para uma
provavelmente sentiu-se no pessoa tão jovem. Fanny não sofre as desilusões
dever de escrever algo de
relacionado à conduta e à moral,
uma vez que havia escrito muito
sobre ironia.
Em Mansfield Park, Jane deixa
um pouco de lado a ironia
(característica de suas obras) e
aborda assuntos de cunho
filosófico como a virtude e a
depravação moral. Ao tratar
de assuntos mais sérios, o
traço peculiar de Jane, a
ironia, permanece ao
descrever os personagens
Mrs. Norris, Sir Thomas
Bertram e os irmãos
Crawford. Neste livro, a
heroína difere-se de outras
construídas por Austen.
Nesse livro, Fanny não é
uma lente pela qual a ação é
vista, como Elizabeth,
Emma e Elinor. Existem
passagens importantes no
11
12. Elizabeth, Emma ou Catherine Morland, e não material para mais de um romance. Para W. A.
pode ser guiada por seus erros do passado como Craik (estudioso das obras de Austen),
Anne Elliot. Como Elinor, a opinião de Fanny é Mansfield Park foi baseado em temperamentos,
confiável. Seu julgamento é importante para emoções e valores morais, lembrando-nos de
todo o livro, é um guia confiável pelo qual a Persuasão devido ao cenário e ao tom sério,
história muda de foco e os eventos se alternam. diferentemente de Orgulho e Preconceito que
Os dois personagens principais, Edmund – um apresentou um desenrolar sem grandes
dos heróis mais ofuscado do cânone austeniano, surpresas. Mas só pode ser fortemente
e Fanny – educada, serena e aparentemente boa comparado à Emma, devido à organização de
demais, são apresentados francamente, sem seus personagens, vários estilos de discurso,
nenhuma contradição. palavras e ações significantes, além de seus
diversos sub-enredos. Após a publicação de
As paisagens e os cenários, nesta obra, parecem Mansfield Park, Jane Austen inicia algo nunca
ser mais importantes que em outras, com havia feito: coletar e escrever as opiniões de seus
exceção de Persuasão. É claro que não podemos leitores, tal material são documentos fascinantes,
nos esquecer que nos outros livros, os que nos contam um pouco mais sobre Jane e
personagens também tiveram experiências seu público, denotando o quanto os leitores
marcantes ao ar livre. Mas no caso de Mansfield eram importantes para ela. Todos esses fatos
Park, o cenário não é apenas um pano de fundo sobre os livros e a vida da escritora nos fazem
para o desenrolar das cenas, é parte integrante vislumbrar o quanto Jane Austen era talentosa
da ação. Austen, em Mansfield Park nos ao abordar temas simples e universais do
presenteia com uma obra que na verdade possui cotidiano, tornando-os a base de sua obra.
12
13. « Senti essas expectativas "algo goradas” »
Mansfield Park – Uma Opinião
Por Marina Nunes
Q
uando comprei este livro "reservada", tudo aguenta, tudo aceita... a
estava animada... As sua revolta é sempre limitada a um
expectativas pelo que momento em que ela racionalmente
tinha lido eram muitas... controla depois. Edmund tem uma
Mas quando terminei a conduta muito semelhante... Sempre
sua leitura senti essas benevolente... sempre calmo... quase
sempre racional. O que mais me agrada
expectativas "algo nesta obra é a "teia de personagens"
goradas". Não interessantes e cheias
tirando a de
maravilha que é
qualquer
romance de "imperfeições
Jane Austen e vícios".
não fiquei Sempre com
fascinada momentos em
pela obra, que as suas
como tinha imperfeições e
ficado por defeitos se
obras destacam e se
anteriores. mostram
Fanny é claramente.
uma Preferências,
heroína criticas, momentos
muito de "louvor às suas
qualidades e posses
sociais", sempre
presentes e a trazer
dinâmica à história.
Mas tenho de o dizer:
mais uma grande obra
de Jane Austen...
13
14. «Fanny foi um ensaio para o esboço de
Anne Elliot »
O Que Me Marcou em ―O Parque de Mansfield‖
Por Paula Freire
M
ansfield Park" desiludiram, outras ainda que
é o romance me irritaram e outras que me
de Jane fizeram pensar. Entre estas
Austen que está Edmundo. Quando
menos terminei o leitura do livro
consenso reúne. São várias as fiquei com a ideia de que
razões. Algumas recaem Edmundo seria a
sobre a sua personagem personificação do pai de Jane
principal, Fanny Price; Austen, pelo menos,
outras prendem-se com a parcialmente.
postura de Jane Austen face à
escravatura e sobre a sua Quanto ao final, esperava
intenção ou não de a mostrar que, sendo esta uma narrativa
através deste trabalho. diferente, também o final
poderia ser uma surpresa
Quanto a mim, devo dizer escondida com o rabo de fora.
que foi o romance que mais Quero com isto dizer que
tempo levei a ler. Não teve que Fanny foi um ensaio para esperava que Henry fosse ao
que ver com o romance em o esboço de Anne Elliot, encontro de Fanny
si, mas antes com o facto de heroína de "Persuasão". apresentando-se como um
querer fazer uma leitura mais homem capaz de se dedicar a
cuidada que me permitisse Mas este romance também ela de coração; que a sua
entender ou encontrar as reúne consensos num ponto vaidade se esvanecesse por
razões para a controvérsia em concreto: é a narrativa força dos seus sentimentos
existente em torno deste mais complexa da obra de por ela e que Edmundo
romance. Não foi difícil. Em Jane Austen tanto pelos assumisse uma importância
boa verdade, Fanny Price personagens que fazem parte diferente na vida de Fanny.
não é a heroína mais da trama como pelos
marcante da obra de Jane acontecimentos que a Finalmente, o que marcou
Austen nem tem traços de constituem. A questão do mais foi o sofrimento de
uma Elizabeth Bennet ou de adultério não tinha sido Fanny quando foi entregue
uma Emma. Contudo, a sua objeto de nenhum trabalho aos tios em Mansfield Park e
personalidade é enigmática de Jane Austen. E o facto de depois quando regressou a
devido ao facto de ser muito haver uma heroína tão casa dos pais e o facto de ela
consciente da sua condição diferente das anteriores só ter sido tratada mais como
em Mansfield Park e de ser enriquece a sua obra. uma criada de serviço a
inteligente e perspicaz. E, tempo inteiro do que como
para mim, é aqui que reside a Confesso que gostei de ler "O um membro da família.
força desta personagem. Parque de Mansfield". Houve Talvez isto tenha reforçado a
Gostei, é claro, de Fanny personagens que me minha simpatia por Fanny
Price. Arriscar-me-ia a dizer cativaram, outras que me Price e pelo romance.
14
15. « A opção do argumento deste filme é
evidentemente centrado em dois focos:
escravatura e feminismo»
Mansfield Park 1999
Por Cátia Pereira
novel and Ms. Austen's filme. Sabemos que no livro a
personal writings, referência a este tema é
Patricia Rozema's bastante discreta, mas no
film aims to filme torna-se num dos
illuminate the social mecanismos do enredo; de tal
issues at the heart of
M
forma que, são debatidos os
Austen's narrative efforts,
ansfield particularly those concerning argumentos de defesa e de
Park (1999) the narrow options that women acusação relativamente a este
é uma have faced throughout human sistema. Mas não se fica por
versão history. In addition to the este aspecto linear. A dada
cinematogr expected themes of class and altura, o próprio papel da
áfica - feminine repression, it addresses mulher na sociedade e o seu
Miramax - do livro de Jane the role of slavery in wealth destino de ter de contrair
acquisition, which provides a casamento é identificado
Austen. O argumento e a
more substantial context for the como um tipo de escravatura.
direcção pertencem a Patricia social mores on display, as well
Rozema. Tem um bom leque Isto gera no filme uma
as a parallel to the more
de actores: Frances distinção porque cria na
metaphorical "enslavement" of
O'Connor, Jonny Lee Miller, women in a society where história um escape crítico que
Embeth Davidtz, Alessandro lineage and marriage were the flui como reflexão da
Nivola, Harold Pinter, unquestioned arbiters of every condição social e não
Lindsay Duncan, Sheila girl's fate.") somente uma acção centrada
Gish, James Purefoy, Hugh numa história de amor.
Bonneville, Justine Waddell, Vemos o percurso de várias
Victoria Hamilton; entre personagens femininas tais Sobre esta versão, eu gostaria
outros. como Fanny Price, Mary de destacar a cena final do
Crawford e as irmãs Bertram filme. Pessoalmente eu
Apesar de seguir - em traços serem desenhadas com uma aprecio a opção de ser um
gerais - o enredo de Jane desenvoltura um pouco narrador a fechar o filme, a
Austen, a opção do distantes do que seriam no relatar o destino de cada
argumento deste filme é livro e da realidade da época personagem, numa série de
evidentemente centrado em mas, a meu ver, com o cenas que lembram o posar
dois focos: escravatura e sentido de elevar o papel da para uma foto. Chega a ser
feminismo. mulher para além do que algo meio teatral o que, de
seria esperado. Também o certa forma, lembra o tom
"An agreeable and reasonably tema da escravatura é que existe no próprio livro.
charming fusion of the titular destacado ao longo do
15
16. « A dada altura pareceu-me era apenas
alguém que tentava imitar Austen e não
uma adaptação de um dos seus livros.»
Mansfield Park 2007
Por Vera Santos
C
omo ainda não ou ao ver estas adaptações e recomende, os outros mal tive
li este livro, todas as que vi gostei. tempo de entender quem
fiquei para este eram, a única que me
mês com a Infelizmente, na vida há despertou um interesse
obrigação de sempre uma excepção e para genuíno foi a Mary Crawford.
fazer uma mim, essa será esta adaptação
review a esta adaptação. da qual não gostei nada. A Eu já vi várias adaptações de
dada altura pareceu-me era livros, umas gostei mais que
Creio que mencionei que o apenas alguém que tentava outras, mas nunca fiquei tão
meu primeiro contacto com imitar Austen e não uma desiludida como desta vez,
Austen foi através da adaptação de um dos seus caramba é a querida Jane,
adaptação de Orgulho e livros. Faltavam ali os esperamos mais, muito mais,
Preconceito feita em 1995 personagens que fascinam, tanto a nível da adaptação
pela BBC, que adorei. De que são enigmáticos, que nos como dos actores envolvidos.
resto, posso-vos dizer que fazem salivar por mais.
todas as outras obras que já li Lerei o livro e depois farei a
também vi primeiro alguma A Fanny Price pareceu-me minha review, não acredito
adaptação. No fundo, para uma irmã mais nova da Anne que a Jane tenha errado
mim funciona como uma Elliott, mas sem qualquer tanto com este livro...
espécie de incentivo e nunca brilho pessoal ou nada que a
fiquei desiludida ao ler o livro
16
17. «Price (…) torna-se uma mulher
complicada de apresentar ao grande
público, que só reconhece mulheres fortes,
autoritárias, ou seja, o género de mulher
que governaria o mundo »
Mansfield Park Comparado
Por Catarina R. P.
M
ansfield actriz poderia parecer algo respeito à infância da
Park narra vazia. Fanny Price é uma protagonista, visto que na
a história heroína pouco espirituosa, introdução do filme nos é
de Fanny com falta de orgulho, apresentada a profunda
Price, uma fracamente possessiva e por miséria em que Price havia
jovem vezes submissa à sociedade, nascido. É evidente que para
mergulhada numa profunda no entanto permanece fiel aos quem leu o livro o filme é
miséria a nível económico e seus princípios. De entre sempre uma decepção (à
social. Todavia surge a todas as Mulheres de Austen, excepção de ―África Minha‖
oportunidade de mudar de Price é a que menos se em que o filme está
vida e eis que a família opta encaixa no perfil de ―heroína francamente melhor), no
por encaminhá-la para um lutadora‖, e por consequência entanto acho que Rozema
futuro mais promissor a nível torna-se uma mulher consegue chegar à grande
social e por consequência complicada de apresentar ao maioria dos espectadores com
com mais capital. É aqui que grande público, que só um argumento sólido,
a sua vida muda para sempre reconhece mulheres fortes, conciso, bem estruturado,
e a história começa… autoritárias, ou seja, o género sem excessos no diálogo, com
de mulher que governaria o um tom irónico e por vezes
Comecemos então por mundo. até cómico. Por consequência
comentar a adaptação mais ou não do óptimo argumento
antiga realizada por Patricia Relativamente ao argumento Patricia Rozema consegue
Rozema no ano de 1999. desta adaptação encontra-se uma realização notoriamente
Nesta versão do livro de Jane bem explorado no que diz inteligente e com uma visão
Austen a protagonista (Fanny intimista.
Price) é
interpretada pela Como já referi
notável actriz anteriormente a actriz
Frances principal tem uma
O‘Connor, que interpretação que na
encara o seu papel minha opinião é
de uma forma que notória. Esta prestação
considero torna-se ainda mais
verdadeiramente admirável quando
admirável. A artista acompanhada pelo
conseguiu captar a extraordinário Jonny
magia de uma Lee Miller e o galã
personagem que Alessandro Nivola.
nas mãos de outra
17
18. O que me desilude mais
em todo o filme é a
fotografia e montagem
mas, como já tive
oportunidade de discutir
com alguns colegas, esta
minha opinião não é
consensual. Ao contrário
de outras opiniões avalio
a banda-sonora como um
componente
absolutamente delicioso,
pela simplicidade da
música, que combina
perfeitamente com a
personagem, Fanny
Price.
Moveremos agora a nossa
atenção para a adaptação
de Mansfield Park
realizada no ano 2007
por Iain B. MacDonald.
Guardo sempre as piores
notícias para o fim por isso expressiva, sem qualquer suas origens, o que acaba por
aqui vai o meu comentário melancolia genuína. ser algo muito penalizante.
mais crítico e talvez até cruel.
O argumento assenta pouco Todos os outros componentes
A actriz que protagoniza em bases sólidas, que no caso cinematográficos como: a
Fanny Price é Billie Piper de Austen são sem dúvida as fotografia, a banda-sonora,
(The Calcium Kid), a artista ironias e o raciocino montagem ou até mesmo o
consegue sem dúvida emocional, procurando uma guarda-roupa estão
nenhuma, manter uma estilo mais de ―comédia cor- razoavelmente bons todavia
química com o actor Blake de-rosa‖ o que não valoriza este trabalho acaba por ser
Ritson, que é um profissional em nada a película. No inglório pois tem do outro
que considero admirável. entanto acho que apesar disso lado do ecrã um mau
Contudo acho que esta conseguimos retirar algumas argumento e realização.
química é pouco platónica o interpretações notáveis e
que torna a relação entre alguns (raros) diálogos Fazendo uma simples
Price e Bertram pouco inteligentes. E como um mau analogia, acaba por ser um
genuína e proveniente de argumento raramente tem pouco como o mais recente
uma paixão em vez de uma uma boa realização, acho que filme de Zack Snyder; Sucker
profunda e respeitosa é óbvia a minha opinião Punch. Todos os
amizade. Relativamente à sua relativamente a este ponto. É condimentos para o sucesso
interpretação isolada é de salientar que existe uma estão lá mas no entanto falta a
desprovida de sentimento e é profunda falha na história de conexão entre eles, é como
um pouco teatral, quando infância da protagonista comer uma salada sem sal,
digo teatral refiro-me a uma Fanny Price, não relatando as azeite e vinagre… Não é a
emoção falsa e pouco mesma coisa!
18
19. «E em ambas versões, há uma fuga da
essência do livro»
As Versões de Mansfield
Por Cátia Pereira
E
u já assisti às os filmes que, entretanto, já faz de Edmund) e Hayley
duas versões de revi várias vezes. Atwell (que faz de Mary
Mansfield Park: Crawford). Penso que Blake
a versão de 1999 Ritson fez um Edmund mais
da Miramax e a convincente do que Johnny
versão de 2007 A minha versão preferida é a Lee Miller (em 1999); e o
da ITV. Lembro-me que de 1999, principalmente por mesmo acontece com Hayley
fiquei absolutamente causa do elenco. Adoro o Atwell, que desempenha uma
decepcionada com ambas as facto de Mary Crawford
versões. Lembro-me que vi bem mais
os filmes no dia
imediatamente após ter
terminado de ler o livro.
Foi um tipo de
experiência mais ou
menos assim: um livro
fantástico e dois filmes
que não lhe chegam aos
pés. Não me incomoda
que um filme somente se
inspire num livro e não se
prenda aos detalhes da acção.
Aliás, há filmes que são
melhores do que o livro nos interessante
quais se inspiram: o ter o do que Embeth
―Paciente Inglês‖ é exemplo James Purefoy a fazer de Davidtz (em 1999). No caso
disto. O que me incomoda é Tom Bertram – mas isso é do personagem de Sir
que, em ambas versões, há um gosto pessoal – e também Thomas Bertram, penso que
uma fuga da essência do livro. aprecio as duas actrizes que nenhum dos dois actores
Então, para apreciar estes fizeram as irmãs Bertram. esteve à altura, para grande
dois filmes eu tive de fazer Mas há alguns aspectos em decepção minha, já que é um
um exercício de abstracção e que a versão de 2007 é personagem que eu aprecio
esquecer um pouco o livro. superior à versão de 1999. No muito.
Esquisito, não é? Só assim, eu que diz respeito a duas
consegui usufruir de ambos actuações: Blake Ritson (que
19
20. «Fanny Price, quase invisível»
Fanny Price
Por Cátia Pereira
A
primeira uma realidade de
imagem riqueza. Ela sai do
que temos sombrio, sujo,
de Fanny poeirento e
é esta: barulhento seio
uma familiar; para entrar
pequena, assustada e no luminoso, limpo,
frágil criança. Ela chega airoso e silencioso
a uma casa sumptuosa e mundo de
se vê no meio de Mansfield Park.
familiares que não Pelo menos, é assim
conhece. Tudo é que imagino
demasiado grande e Mansfield Park:
assustador. Parece que tudo
não há nenhum lugar no harmoniosamente
mundo onde possa se cuidado e
refugiar. Através destas preparado.
linhas, vemos o começo
da história de Fanny. Ela Esta mudança de
é enviada pela mãe, Mrs. vida é, sem dúvida,
Price, para a casa dos tios em Fanny Price é filha de Mr. e marcante na vida de Fanny.
Mansfield Park; sobretudo, Mrs. Price. Nasceu num lar Alguns demonstraram
devido a falta de condições de pobre e numeroso. Herdou o caridade, outros com algum
sustentar todos os seus filhos. nome da mãe, que também desprezo e somente o primo
Mansfield Park representava chamava-se Fanny. A sua Edmund a recebeu de
bem-estar, dinheiro, posição mãe não fez um casamento coração aberto. É ele quem
social e modos refinados. proveitoso: o marido não lhe dá carinho, amizade e
Acredito que estes eram tinha posses e revelou-se instrução. Durante a sua vida
conceitos um tanto ao quanto possuidor de muitos vícios; o na casa dos tios, mantém
ausentes para Fanny. Para que, como se verificou, contacto por escrito com o
ela, naquele momento as vaticinou-lhe uma vida de irmão William.
saudades de casa e da família canseira e dificuldades.
ultrapassavam todos os
benefícios que poderia vir Com 10 anos, Fanny Price
a usufruir. vai morar com seus tios em - a heroína invisível -
Mansfield Park. Isto
aconteceu em resultado de Fanny Price não tem nada
um pedido de ajuda feito pela que a transforme numa
Afinal, quem é Fanny Price? sua mãe. De repente, Fanny heroína. Não é possuidora de
vê-se transportada de uma uma beleza marcante, não é
realidade de pobreza para rica, não é espirituosa, não é
20
21. divertida, não é ousada, não é que possui. Ela mostra, com alcança o final feliz com o
elegante, não é sociável, não as suas atitudes que a Príncipe que escolhe. Ela
tem um nome sonante, não superioridade revela-se conquista o final que queria.
tem talento para as artes, não através de um carácter firme Mas, a meu ver, esta é uma
tem sequer um humor e de virtudes vincadas. recompensa com sabor a
apurado. Entendam, Fanny não se vê prémio de consolação. Ganha
assim. Aliás, pelo contrário, o Príncipe. Contudo,
Fanny Price, quase invisível. ela tem uma baixa auto- questiono-me: Não teria sido
estima. Aceita o facto de ser melhor optar pelo Lobo Mau?
O seu nome só é lembrado tratada com pouco
para o cumprimento de consideração como normal e
tarefas. Neste sentido, Fanny merecida. Mas ela estava
Price é insubstituível. destinada a justiça e a - em silêncio -
Ninguém é tão prestável, tão recompensa pela sua maneira
útil, tão eficiente, tão correcta de ser. O seu coração pertencia ao
altruísta, tão desejada quanto seu primo Edmund e
ela. Fanny Price, a ninguém podia adivinhar que
cumpridora de tarefas. Fanny este sentimento a
Price, a parente pobre, A nossa Fanny, heroína atormentava. O sofrimento
franzina e frágil. Fanny Price, invisível, é também uma dela, a meu ver, não residia
sempre disponível para espécie de heroína distorcida. em não ser correspondida,
cumprir qualquer missão que Definitivamente, não nasceu mas em ver aquele a quem
lhe seja incumbida. Fanny para ser uma estrela. Ela é amava a dedicar amor a outra
Price, a ouvinte atenta que uma versão empobrecida de pessoa. Fanny sofria por ver
nunca é ouvida. Cinderela. Ela é uma Gata Edmund amar Mary. Fanny
Borralheira Austeniana. Ela sofria porque Mary
Fanny Price, cuja voz passa por inúmeras representava tudo aquilo que
prende-se às paredes de provações, chega ao fundo ela não era e nunca iria ser.
Mansfield Park e não soam. do poço e Mas, sobretudo, Fanny sofria
porque desde que o primo
conheceu Mary
Crawford, ele
- ―gata borralheira‖ deixou de ser
austeniana - quem sempre
foi e passou a ter
Fanny Price cresce a ser atitudes que
tratada como a anteriormente ele
prima/sobrinha pobre próprio
que está sempre recriminava.
disponível para atender Fanny, de alma e
as ordens e caprichos de coração
de todos. Quase que constantes, feria-se
uma empregada de a cada capitulação
luxo. Mas Fanny de Edmund. Via-o
revela-se ao longo da cada vez mais longe
história. Prova que a de si e mais perto de
grandeza de uma Mary.
pessoa não reside na
riqueza ou no título
21
22. « Eu acreditei em Henry. Tenho pena que
nem Fanny nem Jane Austen tenham
acreditado»
Uma Quase Redenção
Por Cátia Pereira
coragem de inconstante e cônscio das
assumir o seu suas falhas, Henry procurou
sentimento por ser merecedor e mostrou que
Mary Crawford poderia ser. Fanny foi
nem antes nem impiedosa. A dada altura,
depois do pareceu-me que ela quase
escândalo. E, que acreditava, quase que se
por ter de se deixava levar, quase que
conformar de correspondia… Um pouco
que não mais e talvez Henry
poderia tê-la alcançasse o coração de
lá se lembrou Fanny. A persistência
das qualidades da abandonou-o pelo caminho.
P
prima e lá constatou de que
ara quem leu ou até vinha a calhar pedi-la em E sobre o desenlace, todos
viu algum filme casamento. Tenho de sabemos.
sobre Mansfield confessar-vos de que não
Park conhece o gosto deste final. Assumo que, nesta obra de
final. Fanny não Jane Austen, o meu coração
cede a Henry, Eu acreditei em Henry. foi capturado pelo ―canalha‖.
este por sua vez enfraquece e Tenho pena que nem Fanny Prefiro Henry - um pecador
cai na tentação chamada nem Jane Austen tenham assumido, que se mostra
Maria. A ―desgraça‖ abate-se acreditado. Penso que ele disponível para a redenção -
sobre a família Bertram à reconheceu e identificou do que Edmund - um
sombra do escândalo da todas as qualidades de Fanny: virtuoso superficial, que
infidelidade. Mas, no fim, ele olhava-a e via uma diante da provação cai com
como em todas as histórias de mulher, uma grande mulher; demasiada facilidade e cujos
Jane Austen, tudo se resolve, enquanto o primo só sabia actos contradizem as
tudo se acalma e tudo se ver a prima que tinha palavras. Talvez ambos
compõe. paciência para lhe ouvir. tenham sido reféns dos seus
Henry lutou, persistiu, pediu- próprios sentimentos e
Fanny acaba por casar com a em casamento, declarou-se, constataram que é o viver a
Edmund. Mas, permitam-me procurava realmente ouvi-la, vida que comprova a validade
expressar a minha opinião, entendê-la e, sobretudo, por das nossas convicções.
que proposta tão sem sal, tão causa dela, procurou mudar
sem propósito e tão com de atitudes. Ele procurou a Fanny ganha a pessoa com
sabor a prémio de consolação. redenção. Ele falhou, é quem sempre sonhou. A meu
A mim, sempre me pareceu verdade. A dada altura, ele ver, sai perdedora.
que Edmund não teve desistiu. Mas para um espírito
22
23. «Talvez seja dos heróis românticos mais
"humanos" (porque é muito imperfeito)
mas é um herói "apagado"»
Edmund Bertram
Por Marina Nunes
E
dmund Bertram é o AMIGO profunda fraqueza em relação a Mary Crawford:
de Fanny... Os heróis desta "Edmund não gostou da forma como Mary
história são primos e acima de Crawford se referia ao seu tio. Aquela maneira
tudo amigos do inicio ao fim desrespeitosa não se coadunava com o seu
da obra. Edmund fez sempre carácter.". Esta é apenas uma das passagens em
com que Fanny se sentisse que Mary mostra o que é na realidade mas ele
bem. Sempre viu na prima sempre se deixou levar... pela beleza dela... No
uma pessoa digna do seu carinho e amizade e seguimento da passagem
uma conselheira sensata a quem recorria anterior Jane Austen
frequentemente. Como Jane escreve: "Ficou portanto
Austen descreve na calado, até que novos
obra, quando sorrisos o fizeram
chegou ao seio esquecer o caso."
daquela família Edmund não é o Herói
que não era a sua, que aprecio... Talvez
com Edmund "... seja dos heróis
sentia que tinha românticos mais
um amigo e a "humanos" (porque
bondade do primo é muito imperfeito)
Edmund fazia com mas é um herói
que ela se mostrasse "apagado". Mesmo
mais alegre." Mas quando defende
apesar de ele ser o seu Fanny ele não é
fiel amigo e sempre a "violento", não
ter defendido, no sentido de
Edmund teve o seu violência física, mas sim no
período de fraqueza... sentido de a defender com "unhas e
principalmente quando dentes", lutando. O que ele dizia era sua opinião
se deixou "enfeitiçar" pela beleza de e a ninguém ele a impunha. Ele sempre esteve
Mary Crawford. do lado de Fanny, sempre criticou mas nunca
enfrentou ninguém. No final ele rende-se a
Apesar de Mary não ser uma Mulher como ele Fanny mas mesmo essa rendição é "natural".
merecia, ele "deixou-se levar" pela sua beleza e Não tem uma declaração de amor forte e
quis acreditar que ela era a Mulher da sua vida. decidida... apenas a certeza de que Fanny é A
Considero que Edmund teve momentos de Mulher para ele...
23
24. « Imagino-o sempre como o "filho
pródigo"»
Tom Bertram, O Filho Herdeiro
Por Clara Ferreira
T
om Bertram é a insistência em fazer uma extravagância, regressa depois
o herdeiro, o peça de teatro em casa, uma a casa, arrependido,
filho mais história repleta de adultério e abandonado por todos os que
velho da maus costumes, falamos de julgou seus amigos, de volta
família Lover's Vows. Tom Bertram aos braços do pai que o
Bertram. Creio rebela-se contra o pai recebe e recolhe como se ele
que é através dele que o não aquando da ida de ambos sempre lá estivesse estado. A
abordado tema da para Antigua, regressa e volta relação de Sir Thomas e Tom
escravatura, ganha feição. Ele doente e abandonado pelos Bertram fazem-me sempre
sofre dos mesmo defeitos que companheiros, é Yates que o lembrar este exemplo, daí
as irmãs, mimado, teimoso, trás de volta a casa. Como já que eu tenha Sir Thomas em
orgulhoso... no entanto, ele aqui escrevi, é este facto que tão alta conta, também
também é um rebelde. o vai transformar. Pela sua porque Sir Thomas me faz
doença, Tom aprende a lição lembrar muitas vezes o meu
Leva uma vida boémia, de e ganha sensatez! pai e Tom Bertram, o meu
luxo e de gastos exorbitantes, irmão.
enquanto avançamos na obra Imagino-o sempre como o
estamos quase sempre, frente "filho pródigo" que esbanja
a frente com a sua constante todo o dinheiro do pai, vive
ausência uma vida de luxo e
enquanto
explora os
prazeres da
vida.
Esta sua
conduta é
condenável.
Assim como
24
25. «Gosto de acreditar que Tom teve o seu
final feliz »
ExplorandoTom Bertram
Por Clara Ferreira
Na Relação com o Pai
T
om Bertram irresponsabilidade e entendidos e nos mostram
está longe de desprendimento. um Tom arrependido e um
possuir o Sir Thomas amável. Como
bom no romance esta parte da
senso do história é dada a conhecer
irmão ao leitor através de cartas
mais novo. Enquanto escritas a Fanny, estamos,
filho mais velho como ela, a imaginar toda a
beneficiou sempre amargura da situação e
dessas prerrogativas e nunca a vivê-la
utilizou-as para proveito verdadeiramente, nas
próprio, na maior das adaptações isso não
irresponsabilidades. acontece pois, tal como
Tom Bertram é, acima de A relação com o pai está Fanny, somos transportados
tudo, um irresponsável. longe de ser a ideal. para a acção.
Enquanto leitores, sentimos
Nas adaptações surge um divergências entre ambos e
pouco como o "filho rebelde", uma certa desilusão por parte
porém, não diria que essa de Sir Thomas que, apesar de Já aqui escrevi e volto a
característica seja a mais tudo, nunca desiste do filho, repetir, na relação Tom/Sir
enfatizada na obra. Na versão embora não o mostre Thomas, vem-me sempre à
de 1999 há fortes discussões claramente. Mais uma vez, mente a história do filho
com Sir Thomas Bertram dou os parabéns às pródigo e por isso, nada mais
que aumentam essa ideia. Já adaptações como a de 1999 posso fazer do que perdoar a
no romance, vem mais ao de ou mesmo a de 2007 que Tom todas as "estroinices".
cima, não a sua rebeldia, mas aproveitam a doença de Tom
a sua inconsciência, egoísmo, para sanar todos os mal
25
26. Na Relação com Fanny por ambas as adaptações (...) O casamento era o seu
porque, ao mesmo tempo que fim, desde que pudesse casar
"de Tom não tinha Fanny de mostram a dedicação de bem. Vira uma vez o Sr.
que se queixar, a não ser Fanny, mostram também a Bertram na cidade, e não
quando se dava a brincadeiras gratidão de Tom para com a podia pôr-lhe objecções"
que um rapaz de dezassete prima - e isso enternece-me
anos julga admissíveis com "enormemente".
uma rapariga de dez. Estava
agora a entrar na vida, cheio Não podemos afirmar que Lembramo-nos claramente,
de espírito, com todas as Tom seja um grande amigo se não for pelo livro, pelo
prerrogativas de um filho de Fanny. No entanto, como menos pelas adaptações que,
mais velho, que pensa que só já aqui quando os Crawford nos são
nasceu para gozar e gastar disse, apresentados, está
dinheiro. A sua amabilidade acho "destinado" a que Henry
para a primita ressentia-se simpática fique com Julia Bertram e
disso: dava-lhe bonitas a solução Mary com Tom Bertram.
prendas, mas ria-se dela." dada Porém, a história confunde
pelas todos os pressupostos e
Tom Bertram aparece poucas chegamos a um final que
vezes todas conhecemos ou iremos
conhecer!
"Ela [Mary Crawford]
confessava que os dois irmãos
Bertrams eram rapazes muito
simpáticos (...) Tinham boas
maneiras, sobretudo o mais
velho. Ele estivera já muitas
adaptações em relação vezes em Londres, e era mais
na à prévia indiferença de Tom vivo e galanteador que
obra e ainda menos em para com Fanny. Acredito Edmund. (...) Realmente,
diálogos com Fanny o que que ele se redimiu e soube Tom Bertram agradava-lhe
não facilita a tarefa. Tom tem dar o devido valor à prima. muito. Era um daqueles
mais sete anos que a prima. rapazes de que toda a gente
Percebemos que não lhe dá gosta. Tinha maneiras finas,
grande importância, mas sempre boa disposição, e era
também não o podemos Na Relação com Mary muito conversador; tornava-
julgar severamente. se mais simpático do que os
outros com qualidades mais
Ao contrário da obra, as recomendáveis; e a herança
adaptações de 1999 "Ainda a
(especialmente) e a de 2007 rapariga
colocam Fanny no centro da não tinha
acção aquando da doença de chegado e
Tom. Isto não sucede no já pensava
romance, onde Fanny num bom
acompanha a doença do casamento
primo por cartas enviadas para ela:
para Portsmouth. Sou Tom
favorável a essa alteração feita Bertram.
26
27. do Parque de Mansfield e o interesse seis semanas antes, e Todavia, sobe um degrau na
título de barão não agora apenas lhe serviam para minha consideração porque,
prejudicavam nada." , por comparação, marcar a ao contrário do irmão (tão
sua preferência por Edmund íntegro e sensato) não se
(...) A sua ausência tão deixa influenciar por uma
prolongada de Mansfield, cara bonita - o único, ou pelo
Nas adaptações da obra não é sem outro objectivo que não menos o mais importante
dado grande enfoque à fosse o de divertir-se e fazer o atractivo em Mary, que leva
relação entre Tom Bertram e que queria, mostrou-lhe que Edmund a apaixonar-se, por
Mary Crawford, passam ele não lhe ligava muito que ele procure,
rapidamente para a dupla importância" incongruentemente, justificar
Mary/Edmund. Mas isso não a sua paixão por ela com
se passa no livro. outros predicados e que
Inicialmente, Mary está Fanny sabe tão
convicta de que irá gostar Não sei se Tom Bertram inteligentemente dilacerar
mais de Tom Bertram, por alguma vez teve consciência embora nunca aponte um
ser este o indicado pela irmã - da intenção de Mary dedo ao primo.
Mrs. Grant - e por ser ele o Crawford nas poucas cenas
herdeiro. Os seus planos iniciais do livro em que essa
saem frustrados, Tom porta está aberta. Acredito
Bertram, embora agradável, que não. Ele parece Para concluir, gosto de
não mostra interesse nela, demasiado desprendido, até acreditar que Tom teve o seu
vive egoisticamente para seu da Paixão. É certo que Tom final feliz. Se algum dia
próprio prazer e não passa não se escrevesse um livro
disso, de uma companhia baseado na obra de
simpática e Jane Austen, seria
agradável certamente sobre Tom
de quem, Bertram, é um
ao fim de personagem pelo qual
contas, tenho uma forte
não se empatia. Embora no
deve início tudo indique
esperar uma versão mais
nada. elaborada de John
Willoughby, no
final, regenera-se e
acorda para a
"e no fim de realidade.
Agosto Chamem-me
chegou ele romântica, mas
próprio [Tom acredito que
Bertram], para Tom, naquelas
se divertir, ser páginas em branco que Jane
gentil e galante apaixona por Mary Austen não escreveu,
quando a (tão disposta a isso) por encontrou o amor da sua
ocasião o proporcionava ou necessitar tanto de viver para vida.
Maria Crawford o exigia. seu bel-prazer e porque, tal
Falou das corridas de cavalos como Narciso, vive
em Weymouth, das reuniões apaixonado por si mesmo.
e dos amigos, coisas que ela
teria ouvido com algum
27
28. «Sabemos que ele não era bonito mas que
tinha boa aparência. Mostrou-se ser um
conquistador e um “bon vivant”. »
Henry Crawford
Por Cátia Pereira
E
sta é a Crawford que vemos uma para dispor. Se quiser que
caracterização descrição da sua Henry se case, tem que
física curiosa personalidade: procurar uma francesa. Tudo
sobre um o que a habilidade inglesa
suposto galã poderia fazer já foi tentado.
num livro. Henry Crawford Eu mesma tenho três amigas,
é-nos indicado como alguém ―– Minha cara irmã – disse cada qual mais louca por ele;
que, à primeira vista, é Mary – se você conseguir e os trabalhos por que elas,
absolutamente persuadi-lo a tal coisa, será suas mães (por sinal muito
desinteressante e sem graça. para mim um grande prazer sabidas), minha querida
Chama a atenção que seja encontrar uma aliada de mana e eu mesma temos
dito que ―seus dentes eram tanto passado para fazê-lo
tão agradáveis‖ o que, reflectir sobre o assunto,
desperta o e induzi-lo ao
pensamento de casamento, você nem
que Henry seria imagina! É o maior
sorridente e um namorador que se pode
bom conversador. imaginar. Se as
Eu diria que o senhoritas não querem
ponto forte em sofrer uma decepção é
Henry Crawford melhor que o
seria o charme. Um evitem.‖
homem que se revela
no relacionamento e
na própria linguagem
corporal. Alguém que Um conquistador,
envolve com palavras e um namorador, um
gestos. galanteador – eis
como Henry
Crawford é-nos
apresentado. E
- o sedutor - também é assim
que ele
Henry Crawford não era, demonstra ser
portanto, bonito. Tinha ao longo da
boa aparência e sabia usar história.
das palavras. É através da Encontro na raiz desta sua
voz de sua irmã Mary valor e só sinto característica de conquistador
que você não tenha pelo um factor que se torna
menos meia dúzia de filhas evidente: a inconstância.
28
29. Henry é dono do seu destino Conquistar a irmãs Bertram de galanterias que a levaram
e pensa ser dono de suas foi extremamente fácil. ter uma postura duvidosa.
vontades. A verdade é outra: Bastaram três encontros
a sua vontade é facilmente sociais.
modelada. Inconstante.
Extremamente inconstante. ―Sim, e por isso mesmo mais
Ele vai com a sua irmã Mary a aprecio. Uma mulher
Crawford até Mansfield Park ―Nunca Miss Crawford vira comprometida é sempre mais
apenas com o intuito de a admiração igual à das Misses agradável do que outra que
acompanhar e acaba por Bertram por Henry.‖ não o seja. Está contente
mudar de ideias ao saber das consigo mesma. Não tem
irmãs Bertram. Elas não mais preocupações, sente que
representam somente o pode exercer todos os seus
desafio da conquista – poderes de sedução sem
porque não causar suspeitas. Uma
chegam a ser senhora
realmente comprometida
um desafio está fora de
já que perigo;
caem nenhum se
tão lhe pode
fazer.‖
Henry
assemelha-
facilmente se a um
na sua rede – canalha.
, representam Alguém que
sobretudo um não se preocupa
divertimento. A com os sentimentos
conquista é um dos outros e com os
divertimento e o estragos que poderia estar a
divertimento o impede de O que poderia até ter gerado fazer na vida de duas jovens.
sentir-se entediado. O prazer um certo desinteresse em Quantos mais estragos poderá
e o divertimento serial o Henry de tão fácil que foi a ter feito antes de chegar a
antídoto contra o tédio. Disto dupla conquista. O Mansfield Park? Quantas
tudo deriva a sua inclinação divertimento residiu no facto jovens terá atingido com a
para a inconstância. de ter gerado entre as irmãs sua fala mansa e jogos de
Maria e Júlia uma disputa e sedução?
uma dualidade. Quem seria a
primeira a conseguir
―Infelizmente Henry conquistar as atenções de
Crawford tinha verdadeiro Henry. Quem Henry - cegueira -
horror por qualquer ideia de escolheria? Henry deliciava-
residência permanente ou se e divertia-se com esta
prescrição de sociedade‖ disputa. Ao mesmo tempo,
era aliciante enredar Maria – Sabemos que ele não era
uma jovem noiva e bonito mas que tinha boa
comprometida – numa série aparência. Mostrou-se ser um
conquistador e um ―bon
29
30. vivant‖. Um namorador. Afinal quem Fanny Price
Alguém que se divertia a julgava que era para
exercer a arte da sedução e ―Eu mesmo ainda não sei menosprezar Henry
manipular os sentimentos. bem o que vou fazer de Miss Crawford?
Todas estas características Fanny. Não a compreendo.
chegam aos nossos olhos Não poderia dizer o que ela Fanny Price é o nome que
através de palavras, acções e pretendia ontem à noite. Que lhe trespassa os lábios como
descrições. temperamento tem ela? Será uma entrada directa para
solene? Será esquisita? Será uma outra dimensão. Para
afectada? Por que teria se um andar acima, um passo
retraído e olhado para mim no desconhecido. Henry
Henry, pobre Henry… ele com um ar tão sério? Mal Crawford passou a ver tão
ainda não sabia. Ele ainda pude arrancar-lhe algumas distintamente e tão
não sabia que o seu caminho palavras. Nunca estive tanto claramente que chegava a ser
havia de chegar a um ponto tempo em companhia de ofuscado. Nasceu-lhe um
de paragem, a um momento uma jovem, procurando sentimento para o qual não
de tomada de consciência. entretê-la, que fosse tão mal estava preparado e nem
Ele não sabia que a sua vida sucedido! Nunca encontrei sequer sabia encontrar-lhe
despreocupada e vazia havia alguém que me olhasse com definição. Se o ponto de
de lhe pesar bem mais do tanta severidade! Preciso tirar partida foi a concretização de
poderia imaginar. Nada o o melhor partido disto. O um capricho e o sanar de um
impressionava e nada o olhar dela me diz: ―Não hei- orgulho ferido, agora Fanny
prendia. de gostar de si e estou tomou-lhe totalmente os
decidida a não gostar‖; e eu pensamentos e o coração.
Ele era cego e não sabia. digo que ela gostará.‖
―Era um quadro que Henry
- ele era cego mas passou Henry não podia acreditar Crawford não poderia deixar
a ver – que Fanny não lhe caísse nas de apreciar. Os atractivos de
graças quando as suas duas Fanny aumentavam —
primas – Maria e Julia – aumentavam duplamente;
perderam-se de amor por ele. pois a sensibilidade que
Ela sempre esteve ali ao Ele não podia conceber que embelezava a sua pele e
alcance de sua vista mas isso fosse possível e afirmou iluminava o seu rosto já era
nunca lhe havia dado a para si próprio que havia de em si um atractivo. Ele já não
devida atenção. Fanny, a conquistar Fanny. Havia de tinha dúvidas sobre as
discreta Fanny. A parente empenhar toda a sua arte de capacidades do coração dela.
pobre. A jovem tímida e lisonja e de sedução para Ela tinha sentimento,
silenciosa. A única mulher cumprir a missão de juntar genuíno sentimento. Seria
que se atreveu a não lhe Fanny Price à sua lista de alguma coisa ser amado por
conceder a atenção que ele conquistas. uma criatura, despertar os
julgava ser merecedor. A primeiros ardores daquela
única que demonstrou não jovem e pura consciência!
encontrar o menor interesse Estava mais interessado por
na sua pessoa. ela do que havia previsto.‖
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31. « Mrs Norris, é um vulcão que transborda
problemas»
Lady Bertram e Mrs. Norris – As Irmãs
Por Paula Freire
É
um facto Jane Austen escreve que
provado não "Lady Bertram, a irmã
haver no do meio, Maria Ward,
mundo tantos de Huntingdon, em
homens ricos solteira, tinha apenas
como sete mil libras de
mulheres rendimento. A
bonitas que os sorte, porém,
mereçam." favoreceu-a, pois os
seus encantos
Jane Austen in "O Parque de seduziram Sir
Mansfield" Tomás Bertram, do
Parque de
Mansfield, no
condado de
Lady Bertram, Mrs Norris e Northampton. E
Mrs Price são três irmãs que Maria Ward foi assim
opondo-se umas às outras elevada à categoria de
são, em elevado grau, esposa de um barão,
também muito semelhantes passando a gozar de um
entre si. Mrs Norris e Mrs conforto e a consideração que aquando
Price, a mais velha e a mais concedem os bons da ausência de Sir Tomás
nova, respectivamente, rendimentos de uma casa Bertram.
conjugam, no início da rica." Descreve-a ainda como
narrativa, na frontalidade que sendo "senhora de génio Por outro lado, existe a
caracteriza as suas pacífico, temperamento dependência crónica e aguda
personalidades explosivas. Já conciliador e indolente". de Lady Bertram em relação
Lady Bertram, a do meio, se à sobrinha Fanny Price. Não
parece mais com Mrs Price Ao longo da narrativa passa sem os seus préstimos
na indolência, desorganização deparamo-nos com uma um instante que seja, usando-
e negligência no que aos personagem que em vez de a quase como escrava de
assuntos domésticos diz assumir um papel de serviço a tempo inteiro.
respeito. Esta é, contudo, destaque em sua casa, o Depois de Fanny será Susan
uma percepção que temos já Parque de Mansfield, se a servi-la confirmando o seu
quase no final da narrativa apaga a favor da irmã, Mrs egoísmo e a sua insegurança.
uma vez que inicialmente Norris, que tudo controla.
Mrs Price é caracterizada Tal aspecto é evidenciado No despoletar das crises que
com atrás foi dito. assolam o Parque de
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