1. Da fala para escrita Atividades de retextualização Luiz Antônio Marcuschi
2. CAPÍTULO I: Oralidade e Letramento Defende-se a posição de que não se pode tratar as relações entre oralidade e letramento / entre fala e escrita de maneira dicotômica ou estanque. Essas relações devem ser vistas dentro de um quadro mais amplo no contexto: Práticas comunicativas Gêneros textuais Proposta:
3. Oralidade e Letramento. Impossível investigar essas questões sem uma referência ao papel dessas práticas na civilização contemporânea.
4. Não é possível observar as diferenças e semelhanças sem considerar a distribuição de seus usos na vida cotidiana. Fala e Escrita Fica difícil o tratamento das relações entre fala/ escrita centradas exclusivamente no código.
5. Mais que uma simples mudança de perspectiva esses fatores representam um novo objeto de análise e uma concepção nova de língua e de texto vistos como Conjunto de Práticas Sociais.
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7. Metodologia científica aplicável ao estudo do texto literário a partir de princípios universais que governam o uso da linguagem, isto é, a partir de todos os elementos que o constituem e que estão relacionados entre si Não será primeiramente o uso das regras da língua nem sua morfologia que merecerão atenção, mas o uso da língua, o que fazemos com esta capacidade. Ponto central da investigação no momento: Trata-se de uma análise de usos e práticas sociais.
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11. Mudança mais notável não diz respeito às formas textuais em si, mas a nossa relação com a escrita Bate-papos: é uma nova forma de nos relacionarmos com a escrita, mas não uma nova forma de escrita .
13. Até os analfabetos estão sob a influência do que se convencionou chamar de Práticas de Letramento. Cuidado: escolarização do letramento. Letramentos sociais: surgem e desenvolvem-se à margem da escola. Não é equivalente à aquisição da escrita. Escrita é usada em contextos sociais básicos e em cada contexto os objetivos do uso dela são variados e diversos. Relações entre escrita e contexto: surgimento de gêneros textuais e formas comunicativas, terminologias e expressões típicas.
14. Distinção entre apropriação/ distribuição da Escrita - Leitura (padrões) e Uso/papéis da Escrita – Leitura ( Processos de letramento). Letramento: É um conjunto de práticas. Distribui-se em graus de domínio que vão de um patamar mínimo a um máximo. Processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários. Alfabetização: Escolarização: Pode se dar na escola ou à sua margem; É sempre um aprendizado mediante ensino; Compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever. Prática Formal e institucional de ensino; Visa a formação integral do indivíduo. Tem projetos educacionais amplos Alfabetização é apenas uma das atribuições da escola
15. Para que fins? Em que contextos e condições são usadas a oralidade e a escrita, isto é, quais são os usos da oralidade e da escrita em nossa sociedade? Quais são as demandas? Em que condições? Para que fins? Como se comportam os manuais escolares? Que habilidades são ensinadas e com que tipo de visão? Parece que a escrita tem uma perspectiva na escola e outra fora dela
16. Eric Havelock Comenta a tardia entrada da escrita na humanidade e sua repentina supervalorização Milhões de anos
17. 3.000 a.c Há 5.000 anos No ocidente: 600 a.c ( pouco mais de 2.500 anos hoje) Imprensa surgiu em 1450 (pouco mais de 500 anos)
18. Alfabetização enquanto fenômeno cultural de massa pode ser quase ignorada nos primeiros 2000 anos de sua história ocidental. Análise de Graff sobre as relação entre a alfabetização e os processos de industrialização: Revolução Industrial da Inglaterra: mostrou índices regressivos de alfabetização. Planos da UNESCO : Progresso vinculado à alfabetização Pobreza, progresso vinculados ao analfabetismo Hoje, a escrita tem outro papel, muito diferente daquela época
19. A escrita hoje não tem o mesmo objetivo e efeito que em outros tempos e culturas. Não é linear. No passado: sugere um modelo simplista, linear, tipo “teoria da modernização”. Alfabetização tem alguns aspectos contraditórios: Sob controle do Estado- orienta o ensino para seus objetivos
20. Graff (1995:37) “ A partir do advento da imprensa tipográfica móvel, houve uma queda na difusão da cultura oral, mas continua igualmente possível situar o poder persistente de modos orais de comunicação.” Redescobrimos que somos seres eminentemente orais, mesmo em culturas tidas como amplamente alfabetizadas (Suécia) Necessita-se refletir melhor sobre o lugar da oralidade hoje.
21. Oralidade versus Letramento ou Fala versus Escrita? Distinguir entre duas dimensões de relações no tratamento da língua falada e língua escrita: Oralidade e Letramento Fala e escrita Trata de uma distinção entre práticas sociais. Seria uma distinção entre modalidades de uso da língua.
22. A Oralidade Prática Social interativa para fins comunicativos; Se apresenta sob várias formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; Vai desde uma realização mais informal à mais formal nos mais variados contextos de uso; Sociedade pode ser totalmente oral ou de oralidade secundária. O Letramento Envolve as mais diversas formas escritas; Pode vir desde uma apropriação mínima de escrita (analfabeto, mas letrado) até uma apropriação mais profunda (escrever romances, tratados...); Letrado é quem participa de forma significativa de eventos de letramento e não somente quem faz uso formal da escrita.
23. Fala Escrita Forma de produção textual discursiva para fins comunicativos; Na modalidade para fins comunicativos não necessitando de uma tecnologia; Caracteriza-se pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativos, envolvendo recursos expressivos: gestualidade, mímicas, movimentos do corpo. Modo de produção textual discursiva para fins comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituição gráfica; Pode manifestar-se por ordem alfabética, ideogramas ou unidades icnográficas; Essa distinção contempla aspectos formais, estruturais e semiológicos, modos de representação da língua em sua condição de código. São aspectos sonoros e gráficos abrangendo todos os tipos de escrita).
24. Ampliar esta primeira visão para englobar na fala todas as manifestações textuais-discursivas da modalidade oral e na escrita, todas as manifestações textuais-discursivas da modalidade escrita Fala e escrita, neste sentido passam a ser utilizados para designar formas e atividades comunicativas não se restringindo ao plano do código. Trata-se muito mais de processos e eventos do que de produtos.
25. “ Várias tendências de tratamento desta questão para identificar problemas e sugerir uma linha de tratamento que pode ser mais frutífera, menos comprometida com o preconceito e a desvalorização da oralidade de uma maneira.” A Perspectiva das dicotomias: É a primeira das tendências, de maior tradição entre os lingüistas Dedica-se à análise das relações entre as duas modalidades da língua (fala/escrita) e percebe as diferenças na perspectiva da dicotomia; Esta perspectiva tem matrizes diferenciadas Dicotomias mais polarizadas e visão restrita; Percebem as relações entre fala/escrita dentro de um contínuo, seja tipológico ou da realidade cognitiva e social.
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29. Etnocentrismo Supervalorização da escrita Diz respeito à forma de ver as culturas a partir da própria cultura. Leva a uma posição de supremacia das culturas com escrita. Separa as culturas civilizadas das primitivas. Forma globalizante Não existem “sociedades letradas”, mas “grupos letrados”, elites que detêm o poder social.
30. Perspectiva variacionista Intermediária entre as duas anteriores, mas isenta da maioria dos problemas de ambas. Trata do papel da escrita e da fala sob o ponto de vista dos processos educacionais. Faz propostas específicas a respeito do tratamento da variação na relação entre padrão e não-padrão lingüístico nos contextos de ensino formal.
31. Estudos que se dedicam a detectar as variações de usos da língua sob sua forma dialetal e socioletal. Não se faz distinções dicotômicas ou caracterizações estanques: verifica-se a preocupação com regularidade e variações. A Língua é observada com rigor metodológico mais adequado que em ambos casos anteriores. Não se faz uma distinção entre fala e escrita e sim uma observação de variedades lingüísticas distintas. Interessante nessa perspectiva é que a variação se daria tanto na fala quanto na escrita, o que evitaria o equivoco de identificar a língua escrita como padronização da língua
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33. A perspectiva sóciointeracionista Assim, fala e escrita apresentam: dialogicidade; usos estratégicos; funções interacionais; envolvimento; negociação; situacionalidade; coerência; dinamicidade. Embora não forme um conjunto teórico sistemático, esta perspectiva trata das relações entre fala e escrita de modo dialógico .
34. Visão variacionista + Análise da Conversação Etnográfica + Lingüística de Texto = maior adequação empírica e teórica A vantagem desta perspectiva é perceber a língua como fenômeno interativo e dinâmico . A desvantagem é que ela detém baixo potencial explicativo e descritivo dos fenômenos sintáticos e fonológicos da língua. O autor sugere este caminho à medida que trata das correlações entre formas lingüísticas, contextualidade (dimensão funcional), interação (dimensão interpessoal) e cognição no tratamento das semelhanças e diferenças entre fala e escrita.
35. Isto possibilita “... tratar os fenômenos de compreensão na interação face a face e na interação entre leitor e texto escrito, de maneira a detectar especificidades na própria atividade de construção dos sentidos” (cfe. Marcuschi, 2001). Trata-se, então, de uma perspectiva orientada numa linha discursiva e interpretativa .
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39. os textos orais têm uma realização multissistêmica (palavras, gestos, mímica, etc.). as dicotomias estritas entre fala e escrita são fruto da utilização do paradigma teórico da análise imanente ao código; nossa consciência espontânea em relação à fala dá conta de sua variedade e não nos vem à mente em primeira mão a fala padrão;
40. Quanto à escrita... foi tomada por muitos como estruturalmente elaborada, complexa, formal e abstrata em oposição à fala, tida como concreta, contextual e estruturalmente simples; ao contemplarmos a escrita temos a impressão de algo naturalmente claro e definido. A escrita parece um fenômeno se não homogêneo, bastante estável e com pouca variação; os textos escritos não se circunscrevem ao alfabeto, pois envolvem fotos, ideogramas, grafismos de todo tipo; como é pautada pelo padrão, não é estigmatizadora e não serve como fator de identidade grupal;
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43. A concepção de língua como sistema heterogêneo (múltiplas formas de manifestação); Há uma estrutura virtual, mas a língua se realiza essencialmente como heterogeneidade e variação. Para Marcuschi (2001), a língua pressupõe um fenômeno...
44. ... e que se manifesta em situações de uso concretas como texto e discurso indeterminado sob o ponto de vista semântico e sintático (submetido às condições de produção); histórico e social (fruto destas práticas); variável (dinâmico e suscetível a mudanças);