1) O documento discute três encontros sobre o Seminário 10 de Lacan dedicado à angústia, abordando a construção do objeto a, o inconsciente lacaniano em relação ao Real, e o não-todo na clínica.
2) Lacan analisa a angústia de forma distinta de Freud, propondo que a angústia não é sem objeto e introduzindo o conceito de objeto a.
3) A angústia, ao contrário de outros afetos, não engana pois quando presente afeta o sujeito de forma visceral
HOSPITAL SÃO JOÃO DE DEUS (parte 1): A ESCUTA PSICANALÍTICA NO HOSPITAL GERAL
Curso Lacan e a Psicanálise- Aula 12: Seminário 10 (A angústia): a construção do objeto a ou nem tudo é significante
1. Lacan e a Psicanálise:interlocuções com a contemporaneidade Tema: Seminário 10 (A angústia): a construção do objeto a ou nem tudo é significante Coordenação Alexandre Simões ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.
2. Teremos três encontros mais diretamente reservados para reflexões sobre o Seminário 10: Primeiro encontro (o de hoje): a construção do objeto a ou nem tudo é significante. Segundo encontro: o inconsciente lacaniano em suas relações com o Real. Terceiro encontro: o não-todo na clínica
3. Uma parte significativa do Seminário de Jacques Lacan dedicado à angústia (de 1962 a 1963) terá como plataforma o texto de Freud ‘Inibições, sintomas e angústia’ (de 1926)
4. Em larga proporção, no debate que Lacan estabelecerá com ‘Inibições, sintomas e angústia’, ele se mostrará bem homogêneo às direções propostas por Freud
5. Desde uma perspectiva clínica, é bastante válido não igualar os três níveis de manifestação do mal-estar propostos por Freud:
6. Enfim: Os Sintomas não recobrem inteiramente a relação do sujeito com o mal-estar
8. Freud vai nos apresentar, quanto ao sintoma, ao menos duas acepções distintas ao longo de sua obra: Em primeiro lugar: sintoma como formação de compromisso; Em segundo lugar: sintoma como satisfação substitutiva;
9. Já no que tange à inibição, Freud nos propõe que ela se insere na dimensão do movimento, no sentido mais amplo desse termo (enfim, além da dimensão locomotora).
10. A inibição, para Lacan, comporta uma captura. Todavia, de qual tipo? Uma “captura narcísica” (Seminário 10, p. 19)
11. Vale também considerar que há uma relação de alternância entre a angústia, de um lado, e as inibições e sintomas, de outro:
12. Mas, por outro lado, Lacan é bem provocativo quanto ao que resta por dizer a partir da elaboração de Freud: “No discurso de Inibição, sintoma e angústia, fala-se de tudo, graças a Deus, exceto da angústia. Será que isso quer dizer que não se pode falar dela?” (Seminário 10, p. 18)
13. A angústia, na elaboração freudiana: angústia-sinal “...Freud diz muito bem que a angústia é ‘angústia diante de algo’ ” (Seminário 10, p. 191)
14. Dois tempos de localização da angústia em Freud: Primeiro momento: angústia como efeito do recalque (como transformação da libido) Segundo momento: angústia como aquilo que é prévio ao recalque
15. Comentário de Lacan acerca destas duas teorizações da angústia em Freud: “Ela [a angústia como sinal] não resulta nem de um abandono de suas primeiras posições, que faziam da angústia o fruto do metabolismo energético, nem de uma nova conquista, pois, na época em que Freud fazia da angústia a transformação da libido, já encontramos a indicação de que ela podia funcionar como sinal.” (Seminário 10, p. 57)
16. Angústia e afeto: Lacan (bem distintamente do que muitos de seus críticos chegaram a alegar, ao se referirem à sua obra como padecendo de ‘excessivo intelectualismo’), não deixou de tecer considerações sobre o afeto. O Seminário 10 é um momento especial, pois ali Lacan vai se mostrar bastante atento (e crítico) aos afetos: os afetos, por sua ampla matriz imaginária, sempre podem nos enganar (daí, não convém ao psicanalista se deixar guiar pelos afetos). O único afeto que não engana, ao ver de Lacan, é a angústia.
17. A angústia como um afeto que não engana(fora da dúvida, fora da ambiguidade): quando o sujeito está afetado pela angústia, esta é uma constatação visceral “Na angústia, o sujeito é premido, afetado, implicado no mais íntimo de si mesmo” (Seminário 10, p. 191)
18. Usualmente, a angústia do analisando toca de uma forma que não é qualquer ao psicanalista. Vale sempre considerar sob que condições e até que ponto o psicanalista pode suportar a angústia do analisando. Igualmente, é válido manter bem próxima de nós uma recomendação de Lacan: a angústia do analisando deve ser dosada pelo analista.
21. Para chegar a uma localização que embaralha o esquema anterior: a angústia não é sem objeto
22. O “não é sem”: Indica-nos a condição obscura, imprecisa, tateante do objeto. O objeto para o qual a angústia aponta se mostra como algo muito distante de ser óbvio ou evidente
23. Prosseguiremos com o tema Seminário 10 (A angústia): o inconsciente lacaniano em suas relações com o Real. Até lá! Acesso a este conteúdo: www.alexandresimoes.com.br ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.