1. Gêneros Textuais e Intertextualidade
Estrutura profunda do texto
Imagine um texto em que se falasse dos problemas acarretados pela
urbanização intensa ocorrida em nosso século, que insistisse na deterioração da
qualidade de vida nas grandes cidades: poluição, trânsito caótico, precariedade dos
transportes coletivos, violência crescente, ausência de relações interpessoais mais
profundas... Imagine ainda que esse texto propusesse o abandono das cidades,
advogando que a salvação da humanidade estaria na volta ao contato com a natureza,
às delícias do ar puro, da vida em pequenas comunidades, onde não existem os
problemas que nos afligem, etc.
Todo texto se estrutura em níveis de abstração crescente. Para chegar à
estrutura profunda, o nível mais abstrato, você deve agrupar os significados
aparentados, os significados que têm algo em comum.
No texto que imaginamos, percebemos que podem ser reunidos num bloco os
problemas da vida urbana: poluição, trânsito caótico, precariedade dos transportes
coletivos, violência crescente, ausência de relações interpessoais mais profundas.
Noutro bloco, aglomeram-se elementos que indicam a negação dessa forma de vida:
abandono das cidades. Um terceiro bloco agrupa os termos que se referem à vida em
contato com a natureza – delícias do ar puro, da vida em pequenas comunidades.
O último bloco remete à natureza; o primeiro, por oposição à civilização. O
segundo nega a civilização e implica a natureza. Isso significa que há uma oposição,
natureza versus cultura, que regula e ordena os significados do texto.
O nível profundo de um texto constitui-se de uma oposição do tipo: liberdade
versus submissão, unicidade versus multiplicidade, etc. A análise de um texto não
consiste em encontrar a oposição reguladora dos seus significados, pois, se somente
isso for feito, reduziremos sua riqueza significativa a quase nada. No entanto, a
importância de detectar a estrutura fundamental de um texto reside no fato de que ela
permite dar uma unidade profunda aos elementos superficiais, que à primeira vista,
parecem dispersos e caóticos.
Cada um dos pólos opostos da estrutura profunda vem investido de uma apreciação
valorativa. No texto imaginado acima, a natureza recebe uma valorização positiva; a
civilização negativa. Depreende-se essa valorização de vocábulos como ―problemas‖ e
delícias. A valorização é dada pelo texto, e não cabe ao leitor alterá-la.
Um outro texto que fizesse elogios à vida nas atuais metrópoles estaria
considerando o termo civilização como o valor positivo e o termo natureza como
negativo.
No texto imaginado no princípio desta lição, trabalha-se com a oposição
civilização versus natureza. É preciso agora ver como se encadeiam esses termos ao
longo do texto. Temos nele o seguinte esquema: apresentam-se os elementos
relativos à civilização urbana, ou seja, afirma-se o termo civilização; propõe-se o
abandono das cidades, isto é, nega-se a civilização; mostram-se os elementos
concernentes à natureza, ou seja, afirma-se a natureza. Nos textos, a oposição
fundamental encadeia-se da seguinte maneira: afirma-se um dos termos da oposição;
em seguida, nega-se o termo que fora afirmado; depois, afirma-se o outro. Assim,
como a oposição de base regula os diferentes sentidos superficiais, esse esquema
básico em que se nega um termo da oposição e se afirma o outro explica o movimento
do texto, ou seja, como se encadeiam seus significados.
Monte castelo
Legião Urbana
2. Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua do anjos
Sem amor, eu nada seria…
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece…
O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer…
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria…
É um não querer
Mais que bem querer
É solitário andar
Por entre a gente
É um não contentar-se
De contente
É cuidar que se ganha
Em se perder…
É um estar-se preso
Por vontade
É servir a quem vence
O vencedor
É um ter com quem nos mata
A lealdade
Tão contrário a si
É o mesmo amor…
Estou acordado
E todos dormem, todos dormem
Todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade…
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua do anjos
Sem amor, eu nada seria…
3. Essa música fala da perfeição do amor… Deus é amor, na Bíblia Paulo
resume o que vê em partes e diz que verá face a face…
É a esperança deste amor divido grandioso Deus!
Vejamos o testo retirado da bíblia:
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor,
serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo
o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não
tiver amor, nada serei.
Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo
para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria não
se orgulha.
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não
guarda rancor.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas
cessarão, o conhecimento passará.
Pois em parte conhecemos e em parte profetizamos;
quando, porém, vier o que é perfeito, o que é imperfeito desaparecerá.
Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino e
raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as
coisas de menino.
Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas,
então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei
plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido.
1 Coríntios 13:1-12
4. O texto retoma o conceito:
Entender a humanidade é impossível conhecer, a variedade de línguas é
imensa, e se conhecesse o que adiantaria se não há amor entre todos os
vontade dele seria colocar amor nos corações, por meio da música ele envia
mensagem a todos afirmando que só com amor tudo vale a pena, que o amor
sabe que não precisa haver guerra, que quem o tem são pessoas de paz que
não faz mal a ninguém, que não tem inveja, e nem ambição, com a vaidade de
querer tudo pra si. Para que usar bomba se o amor é fogo, e sua ferida é bem
melhor porque arde, queima e provoca feridas que dói e não se sente. É uma
loucura que não faz mau,é um cuidado especial,luta sozinho,e consegue tudo
com tranquilidade sem machucar ninguém,melhor que uma bomba e mais
potente que ela, pois atinge a humanidade em cheio, usando de justiça,
lealdade e diálogo até mesmo a quem quer nos matar, mesmo que nos odeiem
é necessário provar que o amor é mais forte e que sem ele nada vale
apena.Que nós humanos devemos despertar do sono que nos prende a
injustiça a ambição e o egoísmo precisamos dedicarmos mais ao próximo e
deixarmos de pensar só em nós.Que ele já acordou pra vida e percebe se que
as lutas sem amor não leva a um bom fim que na vitória não há gosto porque
com destruição tudo se torna em vão, que somente o amor enxergar essa
verdade.
O poema de Luiz de Camões e a carta do Apóstolo Paulo aos coríntios, ambas
falam do AMOR, mas em ideias diferentes.
O amor e a mulher
Dos temas mais presentes na lírica camoniana o do amor é central e
ocorre de modo conspícuo também n' Os Lusíadas. Na sua conceção
incorporou elementos da doutrina clássica, do amor cortês e da religião cristã,
concorrendo todos para incentivar o amor espiritual e não o carnal. Para os
clássicos, especialmente na escola platónica, o amor espiritual é o mais
elevado, o único digno dos sábios, e esta espécie de afeto incorpóreo acabou
por ser conhecida como amor platónico. Na religião cristã da sua época o corpo
era visto como fonte de um dos pecados capitais, a luxúria, e por isso sempre
foi encarado com desconfiança quando não desprezo; conquanto fosse
aprovado o amor nas suas versões espirituais, o amor sexual era permitido
primariamente para a procriação, ficando o prazer em plano secundário. Da
poesia trovadoresca herdou a tradição do amor cortês, que é ele mesmo uma
derivação platónica que coloca a dama num patamar ideal, jamais atingível, e
5. exige do cavaleiro uma ética imaculada e uma total subserviência em relação à
amada. Nesse contexto, o amor camoniano, como expresso nas suas obras, é,
por regra, um amor idealizado que não chega a vias de facto e se expressa no
plano da abstração e da arte. Contudo, é um amor preso no dualismo, é um
amor que, se por um lado ilumina a mente, gera a poesia e enobrece o espírito,
se o aproxima do divino, do belo, do eterno, do puro e do maravilhoso, é
também um amor que tortura e escraviza pela impossibilidade de ignorar o
desejo de posse da amada e as urgências da carne. Queixou-se o poeta
inúmeras vezes, amargamente, da tirania desses amores impossíveis, chorou
as distâncias, as despedidas, a saudade, a falta de reciprocidade, e a
impalpabilidade dos nobres frutos que produz. Tome-se como exemplo um
soneto muito conhecido:
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor? — Rimas
Todos os paradoxos criados pela idealização amorosa são enfatizados pela
própria estrutura poética, cheia de antíteses, metáforas, silogismos, oposições
e inversões, que na análise de Cavalcante
"... configuram um jogo elegante e sonoro de linguagem enquanto o
poema desenvolve os paradoxos para expressar o sentido tanto
universal quanto contraditório do amor. Diante do sentimento, o homem
torna-se frágil, a linguagem é insuficiente, a palavra, ilógica e sem razão.
Ao expressar o "eu" universal, Camões joga com escrita/escritura,
fazendo desta última o mais puro "estranhamento" e novidade, ainda
que pudesse estar inspirado nos modelos clássicos".[
6. Biografia
KÖCHE, Vanilda Salton; BOFF, Odete Maria Benetti e PAVANI, Cinara
Ferreira. Resenha de obra ou artigo. In:_____. Prática Textual: atividades de
leitura e escrita. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
Luís Vaz de Camões
Escritor português do século XVI, suas poesias e peças de teatro, classicismo,
Os Lusíadas e outros livros, literatura portuguesa.
Renato Russo morreu em 11 de outubro de 1996 em consequência do vírus do
HIV.