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Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2007; 22(3): 180-2
180
Batista KT & Araújo EA
SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO BILATERAL SECUNDÁRIA A GOTA: RELATO DE CASO
Bilateral carpal tunnel syndrome secondary to gouty: case report
KÁTIA TÔRRES BATISTA1
, EDILBERTO ASSUMPÇÃO DE ARAÚJO1
1. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
RELATO DE CASORELATO DE CASORELATO DE CASORELATO DE CASORELATO DE CASO
RESUMO
Introdução: O tofo gotoso é uma rara, porém reconhecida,
causa de síndrome de compressão do túnel do carpo no sexo
masculino. Objetivo: Descrever a evolução e o tratamento de
um caso de disfunção das mãos devido à associação de gota,
tenossinovite dos flexores e síndrome do túnel do carpo bilate-
ral. Relato do caso: Paciente do sexo masculino, portador de
gota tofácea. Apresentava grave compressão do nervo medi-
ano no canal do carpo bilateral e associação de tenossinovite
estenosante do terceiro quirodáctilo à esquerda e do segundo
à direita. Realizou-se a retinaculotomia dos flexores, tenossino-
vectomia e a reconstrução tendínea com enxerto de tendão
em tempo único. O paciente evoluiu com a recuperação da
função das mãos, controle dos sintomas de gota e da compres-
são do nervo mediano. Conclusão: Os autores recomendam o
diagnóstico precoce desta associação e o tratamento clínico
como primeira escolha, indicando-se a cirurgia para as com-
plicações.
Descritores: Síndrome do túnel do carpo. Gota. Tenossinovite.
SUMMARY
Introduction: Despite being a rare condition, the
tophaceous gout is recognized as one possible cause of
carpal tunnel syndrome in male subjects. Objective: Report
the evolution and treatment of a bilateral carpal tunnel
syndrome, associated with tenosynovitis and gout. Case
report: Male patient with gout, a significant bilateral
compression of the median nerve in the carpal tunnel, and
tenosynovitis of the left middle and right index fingers. The
patient was submitted to a carpal release, tenosyno-
vectomy and primary reconstruction with tendon graft, and
evolved with recovery of hand function, relief of gout and
nerve symptoms. Conclusion: The authors recommend
early diagnosis of the described combinations and clinical
treatment as first choice. Surgery intervention is prescribed
for cases with complications.
Descriptors: Carpal tunnel syndrome. Gout. Tenosynovitis.
Correspondênciapara: Kátia Tôrres Batista
SQN 115 bloco I Apto 205 – Asa Norte – Brasília – DF – Brasil – CEP: 70772-090
E-mail:katiatb@terra.com.br
Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2007; 22(3): 180-2
181
Síndrome do túnel do carpo bilateral secundária a gota
INTRODUÇÃO
O tofo gotoso é uma causa reconhecida de síndrome de
compressão do túnel do carpo1-6
. Tem uma incidência de 0,6%,
principalmente no sexo masculino6
. A gota pode se manifestar
por meio de depósitos tofáceos no canal do carpo, tenossi-
novite dos tendões flexores, ocasionando a compressão do
nervo mediano e a síndrome do túnel do carpo3-6
.
Embora 50% dos casos de síndrome do túnel do carpo sejam
de natureza idiopática, existem os casos relacionados a infiltra-
ção, edema, inflamação ou hemorragia tissular e as variações
congênitas, incluindo tendões e músculos aberrantes, ou artéria
mediana persistente6
.
O tofo gotoso, raramente, causa a síndrome do túnel do carpo6
.
Todas as referências descritas na literatura são relatos de casos.
O objetivo deste artigo é descrever a evolução de um caso de
associação de síndrome do túnel do carpo, tenossinovite e gota.
RELATODOCASO
Paciente do sexo masculino, 49 anos. Procurou o serviço de
cirurgia plástica do Hospital Sarah Brasília, em 2004, com história
de gota associada à disfunção das mãos. Apresentava sinto-
mas e sinais sugestivos de síndrome de compressão do túnel do
carpo, tumorações nos punhos, ausência de extensão ativa e
passiva do III quirodáctilo (QRD) à esquerda e do II quirodáctilo
à direita (Figura 1).
Os exames laboratoriais revelaram a elevação do ácido úrico
(11,4mg/dL), velocidade de hemossedimentação, proteína C-
reativa, colesterol e glicemia, com níveis de ácido úrico na urina
de 24h normal. À eletromiografia, observava-se síndrome do túnel
do carpo de grau acentuado e, à ressonância magnética nuclear,
sinais de espessamento dos tendões, tenossinovite e compressão
do nervo mediano no canal do carpo bilateral (Figura 2).
Foi realizado o tratamento clínico com alopurinol 200 mg via
oral, colchicina 0,5 mg via oral, duas vezes ao dia, e o procedimen-
to cirúrgico, descompressão do nervo mediano no canal do carpo
e a tenossinovectomia bilateralmente. À esquerda, foi necessária
a reconstrução do tendão flexor do III QRD com enxerto de tendão
palmar longo, seguido de programa de mobilização passiva
precoce com o uso de órtese dinâmica7
(Figura 3).
O intervalo entre os procedimentos cirúrgicos foi de seis
meses e o tempo de seguimento de um ano. Na primeira
semana de pós-operatório, apresentou quadro de agudi-
zação da gota e drenagem de material tofáceo através da
incisão cirúrgica. Houve remissão dos sintomas de com-
pressão do nervo mediano e a recuperação de 75% da
flexão das articulações interfalangianas proximal e distal à
esquerda e, de 100%, à direita, conforme classificação de
Strickland e Glogovac8
.
DISCUSSÃO
Diversos autores1-6
descreveram essa rara associação de
gota, tenossinovite dos flexores e síndrome do túnel do carpo,
todavia, é a principal causa de compressão aguda do nervo
mediano em pacientes do sexo masculino6
. Em alguns casos,
diagnosticou-se previamente e outros desenvolveram gota
aguda após o procedimento cirúrgico.
O diagnóstico de gota foi sugerido pelo quadro clínico,
achado de hiperuricemia e de depósitos tofáceos no canal do
carpo e tendões flexores durante o ato cirúrgico. Segundo
Ferraso e Goldenberg9
, considera-se o nível sérico de normali-
dade do ácido úrico entre 6,5-7 mg% para os homens e para
as mulheres, em torno de 1 mg% a menos. Vale ressaltar que,
apesar da hiperuricemia ser um pré-requisito para gota, este
achado isolado não autoriza este diagnóstico9
.
Figura 1 – À esquerda: pré-operatório; Centro e à direita: pós-operatório de retinaculotomia dos flexores +
tenossinovectomia do flexor do II dedo à direita e III dedo à esquerda.
Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2007; 22(3): 180-2
182
Batista KT & Araújo EA
Trabalho realizado na Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação em Brasília, DF.
Artigo recebido: 22/03/2007
Artigo aprovado: 30/05/2007
Figura 2 – À esquerda apresenta corte axial de exame de ressonância magnética, evidenciando-se
aumento descontínuo do tendão flexor do III dedo à esquerda no punho e no canal do carpo.
À direita apresenta o achado transoperatório dos tendões flexores do III dedo e do nervo mediano.
Figura 3 – Órtese dinâmica para programa de mobilização
passiva precoce pós-operatória.
Quanto aos exames de imagem, Che et al.10
, em estudo
retrospectivo, observaram tofos no assoalho do canal do
carpo, ossos do carpo, articulação radiocárpica, tendões
extensores e bainha dos tendões, com sinais característicos
coincidindo com a imagem visualizada no caso descrito.
O tratamento da gota visa ao controle da crise aguda,
normalização das concentrações séricas do ácido úrico, pre-
venção da recorrência de novos surtos e dos fatores associados.
Emprega-se o alopurinol, inibidor da enzima xantino-oxidase, na
dose de 100 a 300 mg/dia para doença moderada, podendo
chegar a 600 mg/dia para pacientes com doença tofácea
grave. Na crise aguda, associa-se a colchicina (0,5 a 1 mg/dia)
e os antiinflamatórios não-hormonais por dois a 12 meses9
.
Assim como neste artigo e segundo os autores pesquisados1-4
,
o tratamento cirúrgico pode ser necessário para as complica-
ções. Indica-se a remoção de depósitos tofáceos para melhora
do deslizamento tendíneo, descompressão nervosa, ganho de
amplitude de movimentos e alívio da dor.
Observaram-se, neste caso, a recuperação da função das
mãos e o alívio dos sintomas relacionados à compressão do
nervo mediano.
Com a experiência demonstrada, constatou-se que o diag-
nóstico deve ser clínico e precoce, para prevenção das
complicações. Nas complicações, a abordagem cirúrgica,
principalmente na síndrome do túnel do carpo, pode fornecer
bons resultados.
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
1. Gonzalez MH, Cooper ME. Gouty tenosynovitis of the
wrist. Am J Orthop. 2001;30(7):562-5.
2. Schuind FA, Clermon D, Stallenberg B, Remmelink M,
Pastels JL. Gouty involvement of flexor tendons. Chir
Main. 2003;22(1):46-50.
3. Mockford BJ, Kincaid RJ, Mackay I. Carpal tunnel
syndrome secondary to intratendinous infiltration by
tophaceous gout. Scand J Plast Reconstr Surg Hand
Surg. 2003;37(3):186-7.
4. Tan G, Chew H, Lai CH. Carpal tunnel syndrome due to
gouty infiltration of the lumbrical muscles and flexor
tendons. Hand Surg. 2003;8(1):121-5.
5. Rich JT, Bush DC, Lincoski CJ, Harrington TM. Carpal
tunnel syndrome due to tophaceous gout. Orthopedics.
2004;27(8):862-3.
6. Phalen GS. The carpal-tunnel syndrome. Seventeen years’
experience in diagnosis and treatment of six hundred fifty-
four hands. J Bone Joint Surg Am. 1966;48(2):211-28.
7. Kleinert HE, Kutz JE, Cohen MD. Primary repair of zone II
flexor tendon lacerations. In: AAOS Symposium on
Tendon Surgery in the Hand. St Louis:CV Mosby;1975.
p.91–104.
8. Strickland JW, Glogovac SV. Digital function following
flexor tendon repair in zone II: a comparison of
immobilization and controlled passive motion techni-
ques. J Hand Surg [Am] 1980;5(6):537–43.
9. Ferraso AJL, Gonldenberg J. Doenças microcristalinas:
hiperiuricemia. In: Prado EC, Ramos J, Valle JR, eds.
Atualizações terapêuticas: manual prático de diagnóstico
e tratamento. 18ª ed. São Paulo:Artes Médicas;1998.
10. Chen CK, Chung CB, Yeh L, Pan HB, Yang C, Lai PH, et al.
Carpal tunnel syndrome caused by tophaceous gout:
CT and MR imaging features in 20 patients. AJR Am J
Roentgenol. 2000;175(3):655-9.

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  • 1. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2007; 22(3): 180-2 180 Batista KT & Araújo EA SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO BILATERAL SECUNDÁRIA A GOTA: RELATO DE CASO Bilateral carpal tunnel syndrome secondary to gouty: case report KÁTIA TÔRRES BATISTA1 , EDILBERTO ASSUMPÇÃO DE ARAÚJO1 1. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. RELATO DE CASORELATO DE CASORELATO DE CASORELATO DE CASORELATO DE CASO RESUMO Introdução: O tofo gotoso é uma rara, porém reconhecida, causa de síndrome de compressão do túnel do carpo no sexo masculino. Objetivo: Descrever a evolução e o tratamento de um caso de disfunção das mãos devido à associação de gota, tenossinovite dos flexores e síndrome do túnel do carpo bilate- ral. Relato do caso: Paciente do sexo masculino, portador de gota tofácea. Apresentava grave compressão do nervo medi- ano no canal do carpo bilateral e associação de tenossinovite estenosante do terceiro quirodáctilo à esquerda e do segundo à direita. Realizou-se a retinaculotomia dos flexores, tenossino- vectomia e a reconstrução tendínea com enxerto de tendão em tempo único. O paciente evoluiu com a recuperação da função das mãos, controle dos sintomas de gota e da compres- são do nervo mediano. Conclusão: Os autores recomendam o diagnóstico precoce desta associação e o tratamento clínico como primeira escolha, indicando-se a cirurgia para as com- plicações. Descritores: Síndrome do túnel do carpo. Gota. Tenossinovite. SUMMARY Introduction: Despite being a rare condition, the tophaceous gout is recognized as one possible cause of carpal tunnel syndrome in male subjects. Objective: Report the evolution and treatment of a bilateral carpal tunnel syndrome, associated with tenosynovitis and gout. Case report: Male patient with gout, a significant bilateral compression of the median nerve in the carpal tunnel, and tenosynovitis of the left middle and right index fingers. The patient was submitted to a carpal release, tenosyno- vectomy and primary reconstruction with tendon graft, and evolved with recovery of hand function, relief of gout and nerve symptoms. Conclusion: The authors recommend early diagnosis of the described combinations and clinical treatment as first choice. Surgery intervention is prescribed for cases with complications. Descriptors: Carpal tunnel syndrome. Gout. Tenosynovitis. Correspondênciapara: Kátia Tôrres Batista SQN 115 bloco I Apto 205 – Asa Norte – Brasília – DF – Brasil – CEP: 70772-090 E-mail:katiatb@terra.com.br
  • 2. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2007; 22(3): 180-2 181 Síndrome do túnel do carpo bilateral secundária a gota INTRODUÇÃO O tofo gotoso é uma causa reconhecida de síndrome de compressão do túnel do carpo1-6 . Tem uma incidência de 0,6%, principalmente no sexo masculino6 . A gota pode se manifestar por meio de depósitos tofáceos no canal do carpo, tenossi- novite dos tendões flexores, ocasionando a compressão do nervo mediano e a síndrome do túnel do carpo3-6 . Embora 50% dos casos de síndrome do túnel do carpo sejam de natureza idiopática, existem os casos relacionados a infiltra- ção, edema, inflamação ou hemorragia tissular e as variações congênitas, incluindo tendões e músculos aberrantes, ou artéria mediana persistente6 . O tofo gotoso, raramente, causa a síndrome do túnel do carpo6 . Todas as referências descritas na literatura são relatos de casos. O objetivo deste artigo é descrever a evolução de um caso de associação de síndrome do túnel do carpo, tenossinovite e gota. RELATODOCASO Paciente do sexo masculino, 49 anos. Procurou o serviço de cirurgia plástica do Hospital Sarah Brasília, em 2004, com história de gota associada à disfunção das mãos. Apresentava sinto- mas e sinais sugestivos de síndrome de compressão do túnel do carpo, tumorações nos punhos, ausência de extensão ativa e passiva do III quirodáctilo (QRD) à esquerda e do II quirodáctilo à direita (Figura 1). Os exames laboratoriais revelaram a elevação do ácido úrico (11,4mg/dL), velocidade de hemossedimentação, proteína C- reativa, colesterol e glicemia, com níveis de ácido úrico na urina de 24h normal. À eletromiografia, observava-se síndrome do túnel do carpo de grau acentuado e, à ressonância magnética nuclear, sinais de espessamento dos tendões, tenossinovite e compressão do nervo mediano no canal do carpo bilateral (Figura 2). Foi realizado o tratamento clínico com alopurinol 200 mg via oral, colchicina 0,5 mg via oral, duas vezes ao dia, e o procedimen- to cirúrgico, descompressão do nervo mediano no canal do carpo e a tenossinovectomia bilateralmente. À esquerda, foi necessária a reconstrução do tendão flexor do III QRD com enxerto de tendão palmar longo, seguido de programa de mobilização passiva precoce com o uso de órtese dinâmica7 (Figura 3). O intervalo entre os procedimentos cirúrgicos foi de seis meses e o tempo de seguimento de um ano. Na primeira semana de pós-operatório, apresentou quadro de agudi- zação da gota e drenagem de material tofáceo através da incisão cirúrgica. Houve remissão dos sintomas de com- pressão do nervo mediano e a recuperação de 75% da flexão das articulações interfalangianas proximal e distal à esquerda e, de 100%, à direita, conforme classificação de Strickland e Glogovac8 . DISCUSSÃO Diversos autores1-6 descreveram essa rara associação de gota, tenossinovite dos flexores e síndrome do túnel do carpo, todavia, é a principal causa de compressão aguda do nervo mediano em pacientes do sexo masculino6 . Em alguns casos, diagnosticou-se previamente e outros desenvolveram gota aguda após o procedimento cirúrgico. O diagnóstico de gota foi sugerido pelo quadro clínico, achado de hiperuricemia e de depósitos tofáceos no canal do carpo e tendões flexores durante o ato cirúrgico. Segundo Ferraso e Goldenberg9 , considera-se o nível sérico de normali- dade do ácido úrico entre 6,5-7 mg% para os homens e para as mulheres, em torno de 1 mg% a menos. Vale ressaltar que, apesar da hiperuricemia ser um pré-requisito para gota, este achado isolado não autoriza este diagnóstico9 . Figura 1 – À esquerda: pré-operatório; Centro e à direita: pós-operatório de retinaculotomia dos flexores + tenossinovectomia do flexor do II dedo à direita e III dedo à esquerda.
  • 3. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. 2007; 22(3): 180-2 182 Batista KT & Araújo EA Trabalho realizado na Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação em Brasília, DF. Artigo recebido: 22/03/2007 Artigo aprovado: 30/05/2007 Figura 2 – À esquerda apresenta corte axial de exame de ressonância magnética, evidenciando-se aumento descontínuo do tendão flexor do III dedo à esquerda no punho e no canal do carpo. À direita apresenta o achado transoperatório dos tendões flexores do III dedo e do nervo mediano. Figura 3 – Órtese dinâmica para programa de mobilização passiva precoce pós-operatória. Quanto aos exames de imagem, Che et al.10 , em estudo retrospectivo, observaram tofos no assoalho do canal do carpo, ossos do carpo, articulação radiocárpica, tendões extensores e bainha dos tendões, com sinais característicos coincidindo com a imagem visualizada no caso descrito. O tratamento da gota visa ao controle da crise aguda, normalização das concentrações séricas do ácido úrico, pre- venção da recorrência de novos surtos e dos fatores associados. Emprega-se o alopurinol, inibidor da enzima xantino-oxidase, na dose de 100 a 300 mg/dia para doença moderada, podendo chegar a 600 mg/dia para pacientes com doença tofácea grave. Na crise aguda, associa-se a colchicina (0,5 a 1 mg/dia) e os antiinflamatórios não-hormonais por dois a 12 meses9 . Assim como neste artigo e segundo os autores pesquisados1-4 , o tratamento cirúrgico pode ser necessário para as complica- ções. Indica-se a remoção de depósitos tofáceos para melhora do deslizamento tendíneo, descompressão nervosa, ganho de amplitude de movimentos e alívio da dor. Observaram-se, neste caso, a recuperação da função das mãos e o alívio dos sintomas relacionados à compressão do nervo mediano. Com a experiência demonstrada, constatou-se que o diag- nóstico deve ser clínico e precoce, para prevenção das complicações. Nas complicações, a abordagem cirúrgica, principalmente na síndrome do túnel do carpo, pode fornecer bons resultados. REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS 1. Gonzalez MH, Cooper ME. Gouty tenosynovitis of the wrist. Am J Orthop. 2001;30(7):562-5. 2. Schuind FA, Clermon D, Stallenberg B, Remmelink M, Pastels JL. Gouty involvement of flexor tendons. Chir Main. 2003;22(1):46-50. 3. Mockford BJ, Kincaid RJ, Mackay I. Carpal tunnel syndrome secondary to intratendinous infiltration by tophaceous gout. Scand J Plast Reconstr Surg Hand Surg. 2003;37(3):186-7. 4. Tan G, Chew H, Lai CH. Carpal tunnel syndrome due to gouty infiltration of the lumbrical muscles and flexor tendons. Hand Surg. 2003;8(1):121-5. 5. Rich JT, Bush DC, Lincoski CJ, Harrington TM. Carpal tunnel syndrome due to tophaceous gout. Orthopedics. 2004;27(8):862-3. 6. Phalen GS. The carpal-tunnel syndrome. Seventeen years’ experience in diagnosis and treatment of six hundred fifty- four hands. J Bone Joint Surg Am. 1966;48(2):211-28. 7. Kleinert HE, Kutz JE, Cohen MD. Primary repair of zone II flexor tendon lacerations. In: AAOS Symposium on Tendon Surgery in the Hand. St Louis:CV Mosby;1975. p.91–104. 8. Strickland JW, Glogovac SV. Digital function following flexor tendon repair in zone II: a comparison of immobilization and controlled passive motion techni- ques. J Hand Surg [Am] 1980;5(6):537–43. 9. Ferraso AJL, Gonldenberg J. Doenças microcristalinas: hiperiuricemia. In: Prado EC, Ramos J, Valle JR, eds. Atualizações terapêuticas: manual prático de diagnóstico e tratamento. 18ª ed. São Paulo:Artes Médicas;1998. 10. Chen CK, Chung CB, Yeh L, Pan HB, Yang C, Lai PH, et al. Carpal tunnel syndrome caused by tophaceous gout: CT and MR imaging features in 20 patients. AJR Am J Roentgenol. 2000;175(3):655-9.