Este documento resume uma apresentação sobre comunidades no espaço virtual. Discutem-se conceitos de comunidade e como as tecnologias digitais contribuem para novas formas de comunidade. Também descreve um caso de estudo de uma comunidade de aprendizagem online baseada em wiki.
1. comunidades no
espaço virtual
José da Silva Ribeiro
jribeiro@univ-ab.pt
E
Adelina Silva
adelinasilva@netcabo.pt
CEMRI – Laboratório de PAINEL 27
Antropologia Visual Tecnologias Digitais: Novos Objectos Empíricos e
Práticas de Pesquisa Etnográfica
Universidade Aberta Coordenadores:
José da Silva Ribeiro, CEMRI – Laboratório de Antropologia Visual
Ricardo Campos, CEMRI – Laboratório de Antropologia Visual
2. Abordagem antropológica das
comunidades no espaço virtual
JOSÉ DA SILVA RIBEIRO
E
ADELINA SILVA
CEMRI – LABORATÓRIO DE ANTROPOLOGIA VISUAL
UNIVERSIDADE ABERTA
3. comunidades no espaço virtual
Embora central na abordagem antropológica, o conceito de comunidade para além de
polémico é também um conceito mutante. Interrogamo-nos se alguma vez existiram
comunidades homogéneas, localizadas no tempo e no espaço, integradas, orgânicas,
harmoniosas. As sociedades contemporâneas desagregam-se em múltiplas características
e formas de cooperação e desenvolvem outras. As tecnologias contribuíram ao longo dos
dois últimos séculos para essa desagregação e reagregação. A Internet é vista como uma
nova e eficiente ferramenta capaz de auxiliar os investigadores a conhecerem melhor os
seus “habitantes” quer em ambiente virtual quer em ambiente presencial, quer
contribuindo para o desenvolvimento de interacções virtuais qualquer que seja o seu
objectivo e natureza que reconfiguram estes novos conceitos - comunidades de práticas,
comunidades virtuais, comunidades virtuais de aprendizagem – quer propiciando novas
formas de convivência, de relação e de linguagem.
A presente investigação é resultado da etnografia no ciberespaço de um wiki de uma
comunidade de aprendizagem, enquadrada no conceito de comunidade de prática. O
estudo apoia-se no quadro teórico do conceito de Construção Social da Tecnologia e
formula seu objecto de estudo num todo sóciotécnico onde os componentes humanos,
tecnológicos e conteúdos se cruzam, inter-relacionam e completam. A negociação de
sentido e a moderação assumem-se como principais objectivos da comunidade, através da
participação aberta e da produção significativa de informação e conhecimento. O
equilíbrio e a sustentabilidade desta comunidade são conseguidos através de diversos
mecanismos sóciotécnicos, para os quais a identidade e a colaboração contribuem de uma
forma activa.
4. comunidades no espaço virtual
O conceito de comunidade
Ferdinand Tönnies - sociedade moderna da comunidade antiga
(partilhado por todos os seus membros)
Robert Redfield - comunidades pequenas, estudadas a partir
do contacto directo pessoal, homogeneidade e auto-suficiência
Jonatham Andelson - Comunidades intencionais (1996)
inspiração religiosa ou laica: hippies, kibbutz… primeiros
seguidores de Cristo, de Buda, etc. experiência monástica,
Thomas More e Francis Bacon / Fourier, Owen – utopias:
utopismo comunitário e socialistas utópicos;
Experiências comunitárias na Américas
Experiências Quilombolas – das irmandades á actualidade.
5. comunidades no espaço virtual
Características atribuídas
Conceito estático - aglomerado físico e territorial factores quantificáveis
– população residente, número de casas, limites ou fronteiras espaciais;
População móvel, mudanças de habitação e a circulação entre
habitações, e as indefinições e permeabilidades fronteiriças;
Factores emocionais, simbólicos, mentais e subjectivos de identificação
das pessoas com um determinado grupo (comunidade) de pertença.
A configuração territorial do conceito não inclui a ideia de elos ou laços
que percorrem os indivíduos de uma comunidade mas também não
contempla os elos que ligam a comunidade a uma unidade política mais
abrangente (comunidades de emigrantes)
Unidade de organização – poder e território (condições político-
jurídicas)
Historicidade: relações interindividuais que se desenrolam através do
tempo
6. comunidades no espaço virtual
Comunidades intencionais
Vigoram como experiências sociais ricas e inauditas, na
tentativa de tornarem reais sonhos e utopias. Assim, ao
espírito comunitário alia-se um forte sentimento de
comprometimento com a realização de um viver humano que
se coadune com forças criativas e sublimes da própria Vida. O
devir histórico do humano em parceria com a terra e com o
mistério /místico.
…
7. comunidades no espaço virtual
Martim Buber - desejo de comunidade algo orgânico no
ser humano
fundamento desta nova comunidade: a si mesma - doação e a entrega
criativa e madura que seus membros estabelecem entre si; e a Vida -
vivida na acção para além dos dogmas e das imposições societárias,
unificação da pessoa ao propósito da própria Vida.
Bauman, “estado de felicidade” e ideia de comunidade
como procura contínua, utópica
“Na pista que leva à felicidade, não existe linha de chegada. Os
pretensos meios se transformam em fins: o único consolo disponível
em relação ao carácter esquivo do sonhado e ambicionado “estado de
felicidade” é permanecer no curso; enquanto se está na corrida, sem
cair exausto nem receber um cartão vermelho, a esperança de uma
vitória futura se mantém viva”.
8. comunidades no espaço virtual
Renato Rosaldo: comunidades múltiplas e
sobrepostas - Os indivíduos pertencerão apenas a
uma comunidade?
As múltiplas pertenças - comunidades de nascimento,
etnicidade, socialização, educação, participação política,
residência, pesquisa e leitura;
a Internet contribui de forma decisiva para todas as formas de
contacto: interpessoal, intra e inter-organizacional facilitando
e favorecendo a proximidade das pessoas e para o
desenvolvimento das múltiplas pertenças…
9. comunidades no espaço virtual
Zygmunt Bauman a ilusão da comunidade?
Comunidade elusiva, comunidade esquiva (furtiva, vaga, imprecisa) a
comunidade das sociedades líquidas distinguem por promover os ideais de
consumo desmedido, o individualismo, a desvinculação de toda causa justa e
a fragilidade de todo vínculo humano;
“A fissura nos muros de protecção da comunidade torna-se trivial com o
aparecimento dos meios mecânicos de transporte; portadores de informação
alternativa (ou pessoas cuja estranheza mesma é informação diferente e
conflituante com o conhecimento internamente disponível) já podem em
princípio viajar tão rápido, ou mais, que as mensagens orais originárias do
círculo da mobilidade humana “natural”. A distância, outrora a mais
formidável das defesas da comunidade, perdeu muito de sua significação. O
golpe mortal na “naturalidade” do entendimento comunitário foi desferido,
porém, pelo advento da informática”
A aparente utopia da comunidade, mesmo que construída, constituiu uma
unidade frágil e vulnerável, líquida, fluida e entra em colapso quando a
“identidade” é inventada, “a identidade brota entre os túmulos das
comunidades, mas floresce graças à promessa da ressurreição dos mortos”
10. comunidades no espaço virtual
Mauss / MAUSS e o conceito de comunidade: de Marcel Mauss e de
MAUSS (movimento não utilitarista das ciências Sociais)
Marcel Mauss no Ensaio sobre a dádiva articula os três princípios
fundamentais da sociedade humana: o princípio da individuação, o princípio
da reciprocidade e o princípio da comunidade – a sociedade como facto
social total é a articulação destes 3 princípios.
Caillé (MAUSS) relaciona a Dádiva de Mauss com a tradição Bramânica
identificando e articulando quatro elementos ou momentos da acção
humana: arthào - interesse material — interesseiro — (económico, político),
relacionado com o trabalho e o mercado; kama - interesse prazer, emoção,
entrega…; moksa - a espontaneidade, liberdade…; dharma - a obrigação, o
dever moral, a partilha, a ligação ao passado, inserção nas normas,
12. Comunidades
Typaldos, C. (2000), RealCommunities.com
13. Comunidades colaborativas no
ciberespaço
gift economies (Kollock, Rheingold)
inteligência colectiva (Contreras, Levy)
cooking-pot markets (Ghosh)
estilo bazar (Raymond)
comunidades open-source intelligence (Stalder &
Hirsch)
common-based peer production (Benkler)
criação colectiva (Casacuberta)
micro-media ou nano-media (Rafaeli & LaRose) - wikis
14. Comunidades colaborativas no
ciberespaço
uma forma de cooperação e colaboração,
poderá ser voluntária,
perdura no tempo,
o objectivo é a produção de informação e de
conhecimento,
em comunidades que podem ser formais ou
informais no ciberespaço, mas que se gerem de
forma autónoma.
15. Comunidades de prática e produção
colaborativa
12 princípios
das
Comunidades:
•Objectivo
Envolvimento mútuo •Identidade
•Reputação
•Grupos
•Comunicação
Empreendimento •Ambiente
comum •Confiança
•Limites
•História
•Gestão
Repertório partilhado •Expressão
•Intercâmbio
16. π
π
Troca de
Valores
Troca
ππ π Troca de
de
Competênci
Ideias
π as
π
ππ π
ππ π π
ππ π π
π
π
π π π
Troca de
π
Troca de
Informação Artefactos
ππ
Pierre Levy, CRC, Université d’Ottawa
Troca de
Papeis
Sociais
17. Metodologia - a ciber-etnografia
concepção de uma comunidade de prática como
objecto de estudo;
a identidade no ciberespaço está num processo de
construção permanente;
os estudos sobre a CST, que tomam em
consideração o efeito da arquitectura técnica na
comunidade e a forma como a comunidade modela
essa mesma arquitectura técnica.
18. Metodologia - a ciber-etnografia
Porquê a proposta da CST?
conduz-nos a uma etnografia
privilegia a interacção e a identidade
19. A comunidade tecnicasecretariado –
participação e identidade
Promove a escrita colaborativa;
Apresenta um produto final (permanente construção);
Incentiva a aprendizagem reflexiva;
Utiliza diferentes formas /estratégias;
Incentiva a aprendizagem através da execução - saber-fazer;
Exige dinâmica de trabalho de equipa – saber-ser e saber-
estar;
Possibilita a construção de um documento público;
Potencializa a interacção;
Promove a negociação e a colaboração voluntária, exigindo
uma mudança do papel do professor (facilitador).
20. Comunidade tecnicasecretariado
http://tecnicasecretariado.wikispaces.com
• Novembro de
2007
• Técnicas de
Secretariado
(10º ano)
• Membros
registados -
inicialmente 15
25. Participação
Uma plataforma para a acção, facilitadora da
reflexão, da colaboração, da comunicação e,
consequentemente, de aprendizagem.
“As páginas do wiki que achei mais proveitosas
foram as do módulo 7 (Protocolo e Etiqueta),
porque tive mais participação”.(…)
Era motivador ”(…) sermos nós a escrever e a pôr
lá a informação, (..) e além disso, de podermos
corrigir o que os nossos colegas punham.” (aluno
C).
26. Participação
A participação é importante e todas as contribuições
são “valiosas”, com qualidades e conteúdos distintos,
pelos quais os membros sabem que serão avaliados e
que nem todos os utilizadores têm a mesma
“credibilidade” dentro da comunidade.
O wiki permite“(…) dedicarmos mais (ao estudo), de
querermos mostrar às outras pessoas o que somos
capazes de fazer e de aprendermos melhor” (aluno
E).
27. Participação
Há um repertório compartilhado de artefactos,
símbolos, sensibilidades, práticas e rotinas e de
objectivos e necessidades comuns que foram
formulados e negociados de forma a que todos
possam contribuir com os seus conhecimentos
“O wiki contribuiu para a minha aprendizagem
porque fui obrigada a ler o que os meus colegas
punham lá, e também tive de saber seleccionar a
informação. Acho que foi útil, e continuar espero
poder participar de igual modo” (aluno D).
28. Participação
Destina-se a estabelecer uma hierarquia de
importância na informação.
Permite valorizar a qualidade da informação e
filtrá-la.
Realiza-se de forma distribuída pelos utilizadores
registados e consiste na qualificação das
publicações.
29. Participação
Componente colectivo e individual
Para o domínio público, o espaço passa por ser um
produto de contribuição anónima, mas para os
próprios membros é um espaço moderado.
Os únicos que podem moderar são os membros
registados.
30. Participação
“O wiki contribui muito para a minha
aprendizagem (…); quando colaboro no wiki
aprendo mais coisas, aprendo a seleccionar as
informações mais importantes e aprendo a
colaborar e a organizar a informação com a
turma” (aluno E).
Agrada-me (…) “também o facto de podermos ser
mais do que um a utilizar a mesma página, por
exemplo, de podemos acrescentar algo essencial
ao que o nosso colega colocou” (aluno G).
31. Identidade
O registo estabelece categoria de membros
Para participar plenamente, o registo e a criação de
uma identidade são elementos inevitáveis.
33. Identidade
O registo não é obrigatório e pode-se contribuir de
forma completamente anónima, lançando tópicos
de discussão, por exemplo.
“Quando não nos encontramos em aulas podemos
tirar dúvidas no wiki. E assim podemos tirar as
nossas dúvidas como também as dúvidas de
visitantes” (Aluno L).
34. Identidade
… Para que a cooperação e colaboração seja
sustentável e exequível no ciberespaço;
… Torna-se num indicador de credibilidade dos
autores e facilitar a filtragem da informação;
… É o elemento organizador da comunidade, cujo
significado é construído pela própria comunidade
perante o objectivo de produzir informação
significativa.
35. Conclusão
No ciberespaço, cada ferramenta oferece, a quem o
habita, diferentes mecanismos para construir e
desenvolver sua identidade.
A ausência de um EU digital tem seus
inconvenientes, nomeadamente a ausência de uma
identidade (que não permite o ser-se reconhecido) e
de um EU permanente que tenha uma história
36. Conclusão
Ter uma presença numa comunidade e habitá-la
(participando) , obriga um indivíduo a encarar suas
responsabilidades, cumprir as normas e assumir os
seus actos.
A participação, assenta na identidade, pois aos
membros registados é concedido o privilégio de
serem moderadores e de publicarem os seus
conteúdos ficando desse modo mais expostos à
moderação.
38. comunidades no
espaço virtual
José da Silva Ribeiro
jribeiro@univ-ab.pt
E
Adelina Silva
adelinasilva@netcabo.pt
CEMRI – Laboratório de PAINEL 27
Antropologia Visual Tecnologias Digitais: Novos Objectos Empíricos e
Práticas de Pesquisa Etnográfica
Coordenadores:
Universidade Aberta José da Silva Ribeiro, CEMRI – Laboratório de Antropologia Visual
Ricardo Campos, CEMRI – Laboratório de Antropologia Visual