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O passado ilumina o presente

         A palavra "história" vem do grego antigo hiAtorien, que quer dizer "informar-se" ou "procurar sa-
ber". Até pelo seu nome o significado da disciplina está ligado à ideia de informação, de pesquisa e
investigação. A definição da História como ciência autónoma, porém, é um assunto polémico, que
divide os historiadores. Existem várias definições. Algumas concordam em aspectos gerais e discordam
em aspectos particulares. Outras, contudo, são completamente díspares. Uma definição mínima,
aceitável por todos os especialistas, e que por isso talvez nem possa ser considerada uma verdadeira
definição, é a seguinte: História é uma ciência social que estuda a transformação da sociedade no
decorrer do tempo. Essa "transformação social" pode ser entendida como qualquer tipo de alteração na
organização da sociedade, ocorrida sob a forma de mudanças políticas, económicas e ideológicas. O
termo ideologia é complexo e tem muitos significados. Aqui, empregamo-lo para significar todos os tipos
de manifestações culturais e religiosas.


         Embora seja um ramo específico e especializado do saber, a História dialoga e incorpora as
contribuições de outras ciências, que investigam a sociedade de outros ângulos, como a Economia, a
Sociologia, a Antropologia e a Política. A Economia, por exemplo, investiga as relações de trabalho
dentro das diversas sociedades, a forma de produção e circulação de mercadorias, a produção e
reprodução das riquezas. As suas análises ajudam o historiador a entender melhor as lutas e os confli-
tos sociais. A Antropologia analisa a variedade e a influência das diferentes crenças, os valores sociais
e a identidade das culturas. Também analisa as formas de vida quotidiana, como as relações familiares,
de parentesco, os processos educativos, alimentares, a maneira de pensar e agir das diversas culturas.
Essas ciências são, por assim dizer, irmãs da História. O historiador recorre às suas pesquisas, assim
como os outros cientistas sociais também se valem dos estudos históricos.


         O que distingue a História das outras ciências sociais é seu objecto específico de estudo: o
passado da humanidade. Por passado, entretanto, não se deve entender uma coisa morta e enterrada,
mas algo "vivo", conservado nas entranhas do presente. O passado, que pode ser o facto ocorrido
ontem, é a matéria-prima da História. Estudar o passado humano, portanto, é também uma forma de
interrogar o presente. Trata-se de outra ferramenta para entender o que está a acontecer no mundo
actual. O passado, por conseguinte, fornece pistas e indícios para a compreensão do presente.


                                     Fontes de pesquisa histórica

         A finalidade da História é reconstituir o passado. Mas como isso pode ser feito cientificamente?
Para realizar o seu trabalho, os historiadores dependem das fontes de pesquisa. Existem dois tipos
principais de fontes: as escritas e as não-escritas. As fontes escritas são conhecidas como documentos
e podem ser de vários tipos: arquivos, jornais, manuscritos, cartas, testamentos, memórias e narrativas,
entre outros. Muitos documentos estão escritos em línguas mortas e precisam ser decifrados, como os
rolos de papiro escritos em hieróglifos egípcios, as tabuletas de argila em traços cuneiformes sumérios
ou os pergaminhos em ideogramas chineses.
         Os documentos escritos são uma fonte necessária, mas não suficiente para reconstruir o
passado. O trabalho de reconstituição precisa, muitas vezes, ser complementado por fontes não-
escritas. É o caso das pesquisas arqueológicas ou dos depoimentos e relatos orais. A ausência, ou a
insuficiência, de registos documentais pode ser preenchida pela recolha de lendas ou histórias, pelo
depoimento de um explorador ou uma entrevista com pessoas que guardam na memória a lembrança
dos antepassados.
         A descoberta de utensílios de barro e objectos de cerâmica, armas ou ferramentas de cobre,
bronze ou ferro podem trazer informações essenciais para a compreensão das formas de vida de um
povo. Daí a importância da descoberta de ruínas e monumentos. As escavações podem revelar, por
exemplo, um templo ou palácio soterrado no deserto, uma cidade, uma aldeia ou uma civilização
encoberta pela floresta.
         Muitos historiadores actuais utilizam tecnologias modernas nas suas pesquisas, como o rádio,
o cinema, a televisão e o computador. Como não é difícil perceber, as fontes escritas e não-escritas não
se excluem, mas completam-se, sendo ambas indispensáveis ao historiador.




                                                                                                        1
Historiadores antigos e contemporâneos

         Quem são os verdadeiros agentes da transformação da sociedade ao longo do tempo? A
História é feita por grandes homens como Alexandre, César ou Napoleão? Ou são as colectividades, as
classes sociais, os homens e mulheres do povo que fazem a História? Ou ainda a História é feita por
ambos? Neste último caso, como determinar o peso de cada uma das partes - o indivíduo e a cole-
ctividade - no processo histórico?
         Os historiadores antigos atribuíam maior peso à acção dos actores individuais,
supervalorizando o papel dos grandes homens. Segundo essa visão, seria a acção de indivíduos do-
tados de qualidades excepcionais que teria determinado o curso dos acontecimentos históricos. Essa
abordagem tradicional atribuía pequeno peso aos agrupamentos humanos nos eventos históricos. Os
agrupamentos humanos costumavam ser tratados por eles como actores secundários, como figurantes
ou até como mero cenário da acção das lideranças.
         Os historiadores contemporâneos atribuem maior peso aos actores colectivos. A historiografia
moderna procura entender o papel desempenhado pelas colectividades humanas: os grupos, as
camadas, as classes, os segmentos sociais e a cooperação ou contraposição entre eles. É a História
total.




                                                                                                   2

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  • 1. O passado ilumina o presente A palavra "história" vem do grego antigo hiAtorien, que quer dizer "informar-se" ou "procurar sa- ber". Até pelo seu nome o significado da disciplina está ligado à ideia de informação, de pesquisa e investigação. A definição da História como ciência autónoma, porém, é um assunto polémico, que divide os historiadores. Existem várias definições. Algumas concordam em aspectos gerais e discordam em aspectos particulares. Outras, contudo, são completamente díspares. Uma definição mínima, aceitável por todos os especialistas, e que por isso talvez nem possa ser considerada uma verdadeira definição, é a seguinte: História é uma ciência social que estuda a transformação da sociedade no decorrer do tempo. Essa "transformação social" pode ser entendida como qualquer tipo de alteração na organização da sociedade, ocorrida sob a forma de mudanças políticas, económicas e ideológicas. O termo ideologia é complexo e tem muitos significados. Aqui, empregamo-lo para significar todos os tipos de manifestações culturais e religiosas. Embora seja um ramo específico e especializado do saber, a História dialoga e incorpora as contribuições de outras ciências, que investigam a sociedade de outros ângulos, como a Economia, a Sociologia, a Antropologia e a Política. A Economia, por exemplo, investiga as relações de trabalho dentro das diversas sociedades, a forma de produção e circulação de mercadorias, a produção e reprodução das riquezas. As suas análises ajudam o historiador a entender melhor as lutas e os confli- tos sociais. A Antropologia analisa a variedade e a influência das diferentes crenças, os valores sociais e a identidade das culturas. Também analisa as formas de vida quotidiana, como as relações familiares, de parentesco, os processos educativos, alimentares, a maneira de pensar e agir das diversas culturas. Essas ciências são, por assim dizer, irmãs da História. O historiador recorre às suas pesquisas, assim como os outros cientistas sociais também se valem dos estudos históricos. O que distingue a História das outras ciências sociais é seu objecto específico de estudo: o passado da humanidade. Por passado, entretanto, não se deve entender uma coisa morta e enterrada, mas algo "vivo", conservado nas entranhas do presente. O passado, que pode ser o facto ocorrido ontem, é a matéria-prima da História. Estudar o passado humano, portanto, é também uma forma de interrogar o presente. Trata-se de outra ferramenta para entender o que está a acontecer no mundo actual. O passado, por conseguinte, fornece pistas e indícios para a compreensão do presente. Fontes de pesquisa histórica A finalidade da História é reconstituir o passado. Mas como isso pode ser feito cientificamente? Para realizar o seu trabalho, os historiadores dependem das fontes de pesquisa. Existem dois tipos principais de fontes: as escritas e as não-escritas. As fontes escritas são conhecidas como documentos e podem ser de vários tipos: arquivos, jornais, manuscritos, cartas, testamentos, memórias e narrativas, entre outros. Muitos documentos estão escritos em línguas mortas e precisam ser decifrados, como os rolos de papiro escritos em hieróglifos egípcios, as tabuletas de argila em traços cuneiformes sumérios ou os pergaminhos em ideogramas chineses. Os documentos escritos são uma fonte necessária, mas não suficiente para reconstruir o passado. O trabalho de reconstituição precisa, muitas vezes, ser complementado por fontes não- escritas. É o caso das pesquisas arqueológicas ou dos depoimentos e relatos orais. A ausência, ou a insuficiência, de registos documentais pode ser preenchida pela recolha de lendas ou histórias, pelo depoimento de um explorador ou uma entrevista com pessoas que guardam na memória a lembrança dos antepassados. A descoberta de utensílios de barro e objectos de cerâmica, armas ou ferramentas de cobre, bronze ou ferro podem trazer informações essenciais para a compreensão das formas de vida de um povo. Daí a importância da descoberta de ruínas e monumentos. As escavações podem revelar, por exemplo, um templo ou palácio soterrado no deserto, uma cidade, uma aldeia ou uma civilização encoberta pela floresta. Muitos historiadores actuais utilizam tecnologias modernas nas suas pesquisas, como o rádio, o cinema, a televisão e o computador. Como não é difícil perceber, as fontes escritas e não-escritas não se excluem, mas completam-se, sendo ambas indispensáveis ao historiador. 1
  • 2. Historiadores antigos e contemporâneos Quem são os verdadeiros agentes da transformação da sociedade ao longo do tempo? A História é feita por grandes homens como Alexandre, César ou Napoleão? Ou são as colectividades, as classes sociais, os homens e mulheres do povo que fazem a História? Ou ainda a História é feita por ambos? Neste último caso, como determinar o peso de cada uma das partes - o indivíduo e a cole- ctividade - no processo histórico? Os historiadores antigos atribuíam maior peso à acção dos actores individuais, supervalorizando o papel dos grandes homens. Segundo essa visão, seria a acção de indivíduos do- tados de qualidades excepcionais que teria determinado o curso dos acontecimentos históricos. Essa abordagem tradicional atribuía pequeno peso aos agrupamentos humanos nos eventos históricos. Os agrupamentos humanos costumavam ser tratados por eles como actores secundários, como figurantes ou até como mero cenário da acção das lideranças. Os historiadores contemporâneos atribuem maior peso aos actores colectivos. A historiografia moderna procura entender o papel desempenhado pelas colectividades humanas: os grupos, as camadas, as classes, os segmentos sociais e a cooperação ou contraposição entre eles. É a História total. 2