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52º Aniversário da Fuga da "Cadeia do Forte de Peniche" – 3 de Janeiro de 1960


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No dia 3 de Janeiro de 1960 teve lugar uma das fugas mais espetaculares, e historicamente relevantes,
das prisões políticas do regime fascista de Oliveira Salazar.

Nesse dia, nove dirigentes e militantes do Partido Comunista Português - Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes,
Francisco Miguel, Guilherme de Carvalho, Pedro Soares, Carlos Costa, Jaime Serra, Rogério de Carvalho e
José Carlos -, cumprindo penas por crimes delito de opinião, levaram a cabo uma ousada fuga da Cadeia do
Forte de Peniche, cujo êxito abalou as fundações do próprio regime, afirmando este acontecimento como um
marco maior na história da resistência antifascista ao Estado Novo em Portugal.
Volvidos 52 anos sobre esta efeméride, o Município de Peniche evoca, neste dia 3 de Janeiro de 2012, a
memória deste significante facto histórico, verdadeiro grito de Liberdade, precursor da revolução de Abril de
1974.


A FUGA DE PENICHE

Dentro da Fortaleza de Peniche, o Governo mandou construir um pavilhão de tipo penitenciário,
especialmente seguro e resguardado, submetido a uma vigilância enorme. De tal maneira inspirava
confiança que Álvaro Cunhal, até ali encarcerado na Penitenciaria, tanto para o isolarem dos outros presos
como para evitarem qualquer possibilidade de fuga, foi posto nesse edifício.

Nesse pavilhão o regime é mais severo, os detidos coagidos a uma verdadeira vida de isolamento, cada um
encerrado na sua cela, sem se poderem falar senão durante o recreio. Até as portas das celas são blindadas
e fechadas por uns complicadíssimos ferrolhos automáticos. Aí foram colocados, além de Álvaro Cunhal,
entre outros, alguns dos presos mais responsáveis e com mais longas penas a cumprir.

Poderia parecer incrível que nas condições em que se encontravam aqueles homens, encerrados no interior
de uma fortaleza amuralhada, cercados pela apertada rede de sentinelas da G. N. R. no interior e no
exterior, espiados constantemente pelos ferozes guardas prisionais, pensassem em fugir. Mas pensaram.
Eram homens decididos, dispostos a arriscar a vida para a dedicarem à luta pela libertação do povo
português.

Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Guilherme de Carvalho, Pedro Soares, Carlos Costa,
Jaime Serra, Rogério de Carvalho e José Carlos, dirigentes e membros destacados do PCP, contavam já um
total de 77 anos de prisão cumprida. Os governantes fascistas pretendiam mantê-los indefinidamente presos
para alem das condenações impostas pelo tribunal fascista, por meio de prorrogações sucessivas das
medidas de segurança, como vinha fazendo com Álvaro Cunhal e Francisco Miguel, que há muito haviam
terminado as penas a que tinham sido condenados.

A firme decisão de reconquistarem a liberdade para reocuparem o seu lugar na luta; o estudo lúcido de
todos os obstácu1os que se lhes antepunham; a coragem que se impunha para arrostar com os inúmeros
riscos que os separavam da liberdade; e principalmente, a unida coesão que fez daqueles homens as
conscientes peças de uma engrenagem bem montada, eram os factores internos com que contavam para
êxito da evasão.

O auxílio da direcção do PC, com a preparação dos aspectos exteriores - transportes, afastamento rápido e
em segurança do local, estudo do itinerário, alojamentos, etc., etc., foi factor imprescindível para a fuga. O
seu êxito deve-se ainda a uma cuidadosa e disciplinada organização e coordenação do interior com o
exterior.

O antifascismo do povo português, o seu apoio e admiração pelos que lutam contra a ditadura
desempenharam um papel igualmente importante nesta fuga colectiva. A sentinela do terraço do 3º piso,
donde os presos fugiram, José Jorge Alves, foi o auxiliar preponderante dos evadidos, proporcionou-lhes a
fuga e fugiu com eles. Este G. N. R. exprime bem os sentimentos do povo português ao dizer, na carta que
após a fuga escreveu aos seus camaradas da G.N.R.: «Afastai-vos dos inimigos do povo. É preciso que
todos que saíram do povo, pertencem portanto ao povo. Não luteis contra o povo e não pegueis em armas
contra os vossos que vos deram o ser. Há-de chegar o tempo em que vejam as coisas como eu vi». «Era
tempo de ajudar aqueles que podem salvar o País. Ajudei a libertar alguns filhos do povo que estavam
presos. (...) Sinto com isto que dentro das minhas possibilidades e justiça não fiz mais que um dever e uma
obrigação de bom português.».

No dia 3 de Janeiro de 1960 tudo estava a postos. A fuga foi uma série de actos coordenados, em que cada
um tinha o seu lugar e o seu papel. O guarda prisional, um dos carcereiros mais ferozes e odiosos, foi
dominado e adormecido com um narcótico, com especiais cuidados para a sua vida não correr o menor
risco. Os preparativos prévios (lençóis rasgados e atados, etc.) estavam feitos e, seguindo o roteiro previsto,
puseram-se em fuga. Em fila indiana e a espaços regulares, confundindo-se com a sombra das ameias,
quase rastejavam para não serem vistos pelas sentinelas. Em silêncio, saltaram um pano de muralha com a
altura de mais de um andar, desceram, por uma corda de lençóis, do cimo da Fortaleza ao fosso e deste
treparam para o muro exterior, alcançando a rua.

Alguns transeuntes observavam, paralisados de espanto, a estranha cena. Mas nem uma boca se abriu para
avisar os guardas. Em Peniche, o povo sabe que a Fortaleza é uma cadeia política e que os encarcerados
perderam a liberdade por lutar contra a Ditadura. Em Portugal o povo tem respeito, admiração e amor
pelos presos políticos.

Por isso, quando a notícia da fuga se espalhou, foi enorme o regozijo popular, em muitos sítios houve
verdadeiras festas, em que nem faltou o lançamento de foguetes.

Por seu lado o Governo reagiu com a mobilização espectacular do aparelho repressivo em todo o País,
numa tentativa desesperada de recapturar os evadidos.

Desde o assalto a casas de democratas ou de simples suspeitos, revolvendo e procurando em toda a parte,
até às barragens nas estradas com a identificação de todos os ocupantes dos meios de locomoção, tudo foi
tentado com esse objectivo.

Pouco depois da fuga, o capitão Neves Graça foi demitido do cargo de director da P.I. D. E. e substituído
pelo tenente-coronel Homero de Matos, que intensificou ainda mais as medidas repressivas, de Norte a Sul
do País.

Encontrar os fugitivos, principalmente Álvaro Cunhal, a quem o fascismo tem ódio de morte, e dificultar o
desenvolvimento da luta das massas trabalhadoras e de todas as forças anti-salazaristas, são os objectivos
deste recrudescimento da repressão.

O governo salazarista avalia bem a importância política da fuga, o prestígio e a confiança popular de que
goza um dirigente como Álvaro Cunhal. A recuperação para a luta destes heróicos portugueses veio
permitir o reforço da luta das classes trabalhadoras e do povo em gera e o fortalecimento da unidade de
acção contra o regime salazarista, pela paz, pela democracia e pelo pão.


(In Coelho, José Dias, A Resistência em Portugal, 2ª edição, Editorial Inova/Porto, Colecção Situações, nº
4, p.6-8.)

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  • 1. 52º Aniversário da Fuga da "Cadeia do Forte de Peniche" – 3 de Janeiro de 1960 • No dia 3 de Janeiro de 1960 teve lugar uma das fugas mais espetaculares, e historicamente relevantes, das prisões políticas do regime fascista de Oliveira Salazar. Nesse dia, nove dirigentes e militantes do Partido Comunista Português - Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Guilherme de Carvalho, Pedro Soares, Carlos Costa, Jaime Serra, Rogério de Carvalho e José Carlos -, cumprindo penas por crimes delito de opinião, levaram a cabo uma ousada fuga da Cadeia do Forte de Peniche, cujo êxito abalou as fundações do próprio regime, afirmando este acontecimento como um marco maior na história da resistência antifascista ao Estado Novo em Portugal. Volvidos 52 anos sobre esta efeméride, o Município de Peniche evoca, neste dia 3 de Janeiro de 2012, a memória deste significante facto histórico, verdadeiro grito de Liberdade, precursor da revolução de Abril de 1974. A FUGA DE PENICHE Dentro da Fortaleza de Peniche, o Governo mandou construir um pavilhão de tipo penitenciário, especialmente seguro e resguardado, submetido a uma vigilância enorme. De tal maneira inspirava confiança que Álvaro Cunhal, até ali encarcerado na Penitenciaria, tanto para o isolarem dos outros presos como para evitarem qualquer possibilidade de fuga, foi posto nesse edifício. Nesse pavilhão o regime é mais severo, os detidos coagidos a uma verdadeira vida de isolamento, cada um encerrado na sua cela, sem se poderem falar senão durante o recreio. Até as portas das celas são blindadas e fechadas por uns complicadíssimos ferrolhos automáticos. Aí foram colocados, além de Álvaro Cunhal, entre outros, alguns dos presos mais responsáveis e com mais longas penas a cumprir. Poderia parecer incrível que nas condições em que se encontravam aqueles homens, encerrados no interior de uma fortaleza amuralhada, cercados pela apertada rede de sentinelas da G. N. R. no interior e no exterior, espiados constantemente pelos ferozes guardas prisionais, pensassem em fugir. Mas pensaram. Eram homens decididos, dispostos a arriscar a vida para a dedicarem à luta pela libertação do povo português. Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Guilherme de Carvalho, Pedro Soares, Carlos Costa, Jaime Serra, Rogério de Carvalho e José Carlos, dirigentes e membros destacados do PCP, contavam já um total de 77 anos de prisão cumprida. Os governantes fascistas pretendiam mantê-los indefinidamente presos para alem das condenações impostas pelo tribunal fascista, por meio de prorrogações sucessivas das medidas de segurança, como vinha fazendo com Álvaro Cunhal e Francisco Miguel, que há muito haviam terminado as penas a que tinham sido condenados. A firme decisão de reconquistarem a liberdade para reocuparem o seu lugar na luta; o estudo lúcido de todos os obstácu1os que se lhes antepunham; a coragem que se impunha para arrostar com os inúmeros riscos que os separavam da liberdade; e principalmente, a unida coesão que fez daqueles homens as conscientes peças de uma engrenagem bem montada, eram os factores internos com que contavam para êxito da evasão. O auxílio da direcção do PC, com a preparação dos aspectos exteriores - transportes, afastamento rápido e em segurança do local, estudo do itinerário, alojamentos, etc., etc., foi factor imprescindível para a fuga. O seu êxito deve-se ainda a uma cuidadosa e disciplinada organização e coordenação do interior com o exterior. O antifascismo do povo português, o seu apoio e admiração pelos que lutam contra a ditadura desempenharam um papel igualmente importante nesta fuga colectiva. A sentinela do terraço do 3º piso,
  • 2. donde os presos fugiram, José Jorge Alves, foi o auxiliar preponderante dos evadidos, proporcionou-lhes a fuga e fugiu com eles. Este G. N. R. exprime bem os sentimentos do povo português ao dizer, na carta que após a fuga escreveu aos seus camaradas da G.N.R.: «Afastai-vos dos inimigos do povo. É preciso que todos que saíram do povo, pertencem portanto ao povo. Não luteis contra o povo e não pegueis em armas contra os vossos que vos deram o ser. Há-de chegar o tempo em que vejam as coisas como eu vi». «Era tempo de ajudar aqueles que podem salvar o País. Ajudei a libertar alguns filhos do povo que estavam presos. (...) Sinto com isto que dentro das minhas possibilidades e justiça não fiz mais que um dever e uma obrigação de bom português.». No dia 3 de Janeiro de 1960 tudo estava a postos. A fuga foi uma série de actos coordenados, em que cada um tinha o seu lugar e o seu papel. O guarda prisional, um dos carcereiros mais ferozes e odiosos, foi dominado e adormecido com um narcótico, com especiais cuidados para a sua vida não correr o menor risco. Os preparativos prévios (lençóis rasgados e atados, etc.) estavam feitos e, seguindo o roteiro previsto, puseram-se em fuga. Em fila indiana e a espaços regulares, confundindo-se com a sombra das ameias, quase rastejavam para não serem vistos pelas sentinelas. Em silêncio, saltaram um pano de muralha com a altura de mais de um andar, desceram, por uma corda de lençóis, do cimo da Fortaleza ao fosso e deste treparam para o muro exterior, alcançando a rua. Alguns transeuntes observavam, paralisados de espanto, a estranha cena. Mas nem uma boca se abriu para avisar os guardas. Em Peniche, o povo sabe que a Fortaleza é uma cadeia política e que os encarcerados perderam a liberdade por lutar contra a Ditadura. Em Portugal o povo tem respeito, admiração e amor pelos presos políticos. Por isso, quando a notícia da fuga se espalhou, foi enorme o regozijo popular, em muitos sítios houve verdadeiras festas, em que nem faltou o lançamento de foguetes. Por seu lado o Governo reagiu com a mobilização espectacular do aparelho repressivo em todo o País, numa tentativa desesperada de recapturar os evadidos. Desde o assalto a casas de democratas ou de simples suspeitos, revolvendo e procurando em toda a parte, até às barragens nas estradas com a identificação de todos os ocupantes dos meios de locomoção, tudo foi tentado com esse objectivo. Pouco depois da fuga, o capitão Neves Graça foi demitido do cargo de director da P.I. D. E. e substituído pelo tenente-coronel Homero de Matos, que intensificou ainda mais as medidas repressivas, de Norte a Sul do País. Encontrar os fugitivos, principalmente Álvaro Cunhal, a quem o fascismo tem ódio de morte, e dificultar o desenvolvimento da luta das massas trabalhadoras e de todas as forças anti-salazaristas, são os objectivos deste recrudescimento da repressão. O governo salazarista avalia bem a importância política da fuga, o prestígio e a confiança popular de que goza um dirigente como Álvaro Cunhal. A recuperação para a luta destes heróicos portugueses veio permitir o reforço da luta das classes trabalhadoras e do povo em gera e o fortalecimento da unidade de acção contra o regime salazarista, pela paz, pela democracia e pelo pão. (In Coelho, José Dias, A Resistência em Portugal, 2ª edição, Editorial Inova/Porto, Colecção Situações, nº 4, p.6-8.)