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1
ERNANI FORNARI
(Dharmendra)
SANATHANA
DHARMA
(Textos sobre Yoga, Yogaterapia, Vedanta, Tantra e Ayurveda)
2012
2
OM sahanah vavatu
Sahagnau bhunaktu
Saha viryam karavah vahai
Tejaswinah vaditamastu ma
Vidhvi ca vahai
(Que Deus nos aceite juntos
Que trabalhemos juntos
Que progridamos juntos
Que realizemos a Verdade
Que nunca briguemos)
3
À Vyasa, Patanjali, Shankara, Buddha, Swami Tilak,
Bhagavan Ramakrishna Paramahansa,
Bhagavan Sri Ramana Maharshi,
Paramahansa Yogananda,
Joseph Le Page, Glória Arieira
e Paulo Murilo Rosas
4
ÍNDICE
- O processo da Criação segundo a visão do Hinduísmo
- A visão Hindú sobre a estruturação do psiquismo
- As Gunas (as qualidades da Natureza material)
- Os Bhutas e os Doshas
- Os Chakras
- Granthis, os três nós psíquicos do Tantra
- Yoga e Yogaterapia na prevenção e no tratamento dos
desequilíbrios dos Doshas.
- Karma e Kriya (as purificações no Yoga, no Tantra e no
Ayurveda)
- Langhana e Brimhana, o Yin/Yang do Ayurveda. Sua aplicação
no Yoga e na Yogaterapia
- Tratak, o Yoga dos olhos
- O Kanda. Calibrando o ponto de equilíbrio
- Os Deuses hindús e os Mantras
- Yogaterapia Integrativa, uma abordagem do Yoga para o
terceiro milênio
- Reflexões sobre o ensino do Yoga e da Yogaterapia
- Pelos caminhos da Yogaterapia
- Quem é o dono do Yoga ?
- Yoga, esportes e musculação
- Procurando entender a India (a respeito da novela da Globo)
- Renascimento - Prana e Pranayama como terapia
5
- Ortodoxos e Heterodoxos, compatibilizando os aparentes
opostos
TEXTOS COMPLEMENTARES
- As 4 Direções e os Animais de Poder no Xamanismo
- O perigoso circuito do comer
- Quem manda no teu desejo ?
- 15 dicas para viver uma vida mais consciente, plena e
equilibrada
BIBLIOGRAFIA
LINKS
SOBRE O AUTOR
AGRADECIMENTOS
OUTROS LIVROS DO AUTOR
6
INTRODUÇÃO
Minha inserção no universo oriental (especialmente no hindu) começou
em 1974 aos 18 anos quando comecei a praticar Hatha Yoga com um
amigo surfista, que foi também quem me apresentou a alimentação
Macrobiótica e ao vegetarianismo. Posteriormente fui praticar Yoga
(método Shri Yogendra) com o saudoso Vitor Binot (quem se lembra da
musica da Joyce, “Monsieur Binot”?).
Dois anos depois, aos 20 anos, fui morar no campo, e a partir dalí pude
viver toda a vanguarda do movimento alternativo e aquariano brasileiro.
Fiz parte da primeira geração dos “hippies de Mauá” (tive o primeiro
restaurante natural de Visconde de Mauá, o “Céu da Boca”), morei em
comunidades alternativas, morei em ashrams, fui aos primeiros ENCAs
(Encontro Nacional de Comunidades Alternativas), ví nascer os
movimentos naturalista, espiritualista e ecológico no Brasil, e fiz parte da
primeira leva de produtores orgânicos do Rio de Janeiro, pois trabalhei
por mais de 10 anos com apicultura e com agroecologia.
Paralelamente à isso, continuei desenvolvendo meus estudos e minhas
práticas de Yoga e Vedanta, e sobretudo, sempre escrevendo muito.
Assim, publiquei um dos primeiros livros de Agricultura Ecológica e um
dos primeiros dicionários de Ecologia - lançado na Eco 92 - editados no
Brasil.
Aos 27 anos conhecí Swami Tilak, um monge hindu que havia dado,
descalço e com dois panos enrolados no corpo, duas voltas ao redor do
mundo sem ter ou pedir nenhum tostão a ninguém. Não pertencia nem
havia criado nenhuma seita ou escola nem, como ele mesmo dizia,
fundado nenhum “ismo”. Apenas estava nos lugares onde o levavam e alí
ele distribuía seu Conhecimento e sua Sabedoria com total desapego, sem
fazer questão de ter discípulos, fama ou alguma instituição dando
suporte.
Este ser especial, que faleceu um ano depois, iniciou-me em 1983 com
o nome espiritual de Dharmendra, e desde então tem sido uma das
minhas grandes referências não só dentro do universo hinduísta, como
em relação ao meu próprio desenvolvimento pessoal/espiritual.
7
Em 1996, aos 40 anos, voltei para a cidade grande depois de 20 anos
na roça, e (re)iniciei minha vida profissional com Yoga, Yogaterapia e com
Ayurveda, e posteriormente com Xamanismo.
Fiz formações profissionais em Hatha Yoga, Dakshina Tantra Yoga,
Yogaterapia Integrativa, Massoterapia, Ayurveda, Renascimento, Reiki, fui
professor em curso de formação de instrutores de Yoga (ABPY) e ministrei
cursos de Massoterapia Ayurvédica.
Nesse meio tempo entrei de sócio, juntamente com meu amigo Ralph
Viana, de um dos mais tradicionais espaços de Yoga e terapias do Rio de
Janeiro – o Espaço Saúde (ex- Instituto Ganesha) - onde estou até hoje
trabalhando como instrutor de Yoga e como terapeuta.
Em 1998 iniciei minha inserção no universo xamânico e posteriormente
aprendi uma poderosa técnica terapêutica xamânica chamada
“Alinhamento Energético”, e com esta terapia venho trabalhando desde
2003 no Brasil e na Europa (onde o trabalho se chama Fogo Sagrado)
fazendo palestras, atendimentos individuais, workshops, eventos e
formando terapeutas.
O presente livro é uma coletânea – revisada e aumentada – dos artigos
e matérias que venho escrevendo desde 1996 para publicações da área
alternativa, terapêutica e espiritualista (tais como os jornais cariocas
Quiromance, Ganesha, Prana, Oxigênio, Essência Vital, YinYang, Folha
Esotérica, Bem Estar, Qualittá, Madhava, Estar Bem, etc.) bem como para
dezenas de sites do cyberspace espiritualista, naturalista e ecológico
brasileiro.
Como bom aquariano (e com meio de céu em Gêmeos), minha postura
no universo hindu nunca foi a de aderir ou de seguir exclusivamente uma
escola, Mestre ou linha específica, mas a de procurar ter uma visão bem
ampla e panorâmica - e profunda - desse antigo e complexo universo
cultural e espiritual oriental, e assim desenvolver minha visão de mundo e
construir meu caminho pessoal sempre dentro de uma ótica eclética,
universalista e ecumênica.
Os textos aqui apresentados, embora tenham como foco central o
universo filosófico e “tecnológico” Hindu, são apresentados e desdobrados
dentro de uma perspectiva aberta e isenta, sem estar vinculada a
nenhuma leitura ou interpretação específica ou particular, e oferecendo,
8
inclusive, analogias com outras fontes de Conhecimento como a Psicologia
ocidental, a Fisica Quântica e o Xamanismo.
Ofereço este livro para todos os clientes e alunos que passaram pela
minha vida profissional, como a minha humilde e honesta contribuição
pelos mais de 35 anos de estudo, pesquisa e prática e quase 20 anos de
intensa atividade profissional como instrutor de Yoga, yogaterapeuta e
massoterapeuta.
E também ofereço este livro como uma comemoração pelo fechamento
de um ciclo, já que o lançamento deste livro coincide com a minha
aposentadoria e com meu retorno ao sitio (onde morei por 20 anos entre
os 20 e os 40 anos) após mais de 15 anos de muitas vivências e
experiências na cidade grande.
NAMASTE !
9
O PROCESSO DA CRIAÇÃO SEGUNDO A VISÃO DO
HINDUÍSMO
O conceito filosófico que versa sobre o contraponto dialético
Absoluto / Relativo (ou Unidade / dualidade, Permanente /
impermanente, Manifesto / imanifesto, etc.) é muito presente em quase
todas as antigas culturas da Terra : os chineses chamam o Absoluto de
Tao e o grande movimento dual e mutante do Universo de Yin e Yang ;
muitos índios norte-americanos chamam o aspecto Absoluto de Deus de
Wakan-Tanka (o Grande Mistério) e o Espírito Criador de Manitou (o
Grande Espírito) ; os índios brasileiros Guaranys chamam o Absoluto de
Nhamandú e o aspecto criador de Deus de Tupã Nhanderú. Já os
africanos chamam o Absoluto incriado de Olorún e o Deus pessoal
Criador de Oxalá ; e os hindus chamam o Ser Absoluto de Brahman e o
Deus pessoal de Ishwara (ou Bhagavan).
No universo filosófico hindu a investigação sobre Deus, a Criação e o
homem (e sua alma) é dividida em 6 grandes escolas - Darshanas ou
“pontos de vista”- que vão procurar abordar as mesmas temáticas por
caminhos diferentes. Meu Mestre dizia que os Darshanas são como um
cubo, que é uma única peça com 6 lados.
Estes Darshanas são : Nyaya (trata da busca das grandes respostas da
existência através do desdobramento da Lógica. Esta escola influenciou
não só a estruturação teórica e metodológica das outras 5 escolas, como
influenciou também a estruturação da Lógica ocidental) ; Vaisheshika
(trata da compreensão da Criação através do estudo da natureza física do
Universo. É a Fisica Quântica dos Vedas. É a mãe hindu da Física
moderna) ; Samkhya (escola que versa sobre o complexo processo
psico/físico/energético de como a Consciência, o Absoluto – Purusha - se
manifesta e se desdobra como concreto, relativo, material - Prakriti) ;
Yoga (escola que versa sobre as técnicas e metodologias para se
alcançar a experiência da Unidade – o Samadhi, e que se desdobra em
várias linhas, cujas principais são : Jnãna Yoga, Yoga do Conhecimento e
da Sabedoria ; Bhakti, Yoga do Amor e da Devoção ; Karma, Yoga da
ação sem apego ; Raja, Yoga da Meditação e Hatha, Yoga dos corpos
físico e energético) ; Mimamsa (escola que versa sobre a elaborada
tecnologia dos rituais e cerimônias védicas) e Vedanta (que versa sobre
a Filosofia pura)
Como é intrínsecamente característico e tradicional da filosofia hindu
sofrer muitos comentários e leituras de seus textos feitos por muitos
10
Mestres ao longo dos séculos, a escola Samkhya recebeu importantes
releituras de seus ensinamentos. Vamos apresentar aqui três destas
perspectivas, que se por um lado diferem um pouco na forma de se
apresentar teórica e técnicamente, por outro mantém o mesmo espírito
que norteia a cultura védica..
1. Segundo H.Zimmer :
partir da manifestação de Prakriti com suas Gunas, surge o nível
causal - Buddhi / Mahat - a potencialidade suprapessoal das experiências.
De Buddhi manifesta-se Ahamkara, o ego, cuja função é apropriar-se
dos dados da consciência e errôneamente os atribuir ao Purusha.
De Ahamkara manifestam-se :
Manas (a mente, a faculdade de pensamento).
os 5 Jñana Indriyas (órgãos dos sentidos : ouvido / Shrotra , pele /
Twak , olhos / Chakshuh , língua / Rasana e nariz / Ghrana ).
os 5 Karma Indriyas (órgãos da ação : bôca / Vak , mãos / Pani , pés /
Pada , ânus / Payu , genitais / Upasthani).
os 5 Tanmatras (os elementos sutís, primários, compreendidos como as
contrapartes internas e sutís das 5 experiências sensoriais, a saber : som,
tato, cor e forma, sabor e odor - Shabda , Sparsha , Rupa , Rasa ,
Gandha).
os Parama-Anu (átomos sutis dos quais temos consciencia nas
experiências do corpo sutil)
os Sthula Bhuta ( os cinco elementos densos : éter, ar, fogo, água e
terra, que constituem o corpo denso e o mundo visível e tangível, dos
quais temos conhecimento pelas experiências sensoriais).
2. Segundo Dr. Vasant Lad :
Da interação Purusha / Prakriti, manifesta-se Mahat (Buddhi), que
manifesta Ahamkara (ego), e deste manifestam-se as três Gunas.
11
. De Sattwa, manifestam-se :
- As cinco faculdades dos sentidos (Jñana Indriya) : ouvidos, pele, olhos,
língua, nariz.
- Os cinco órgãos motores (Karma Indriya) : boca, mãos, pés, órgãos
reprodutores, órgãos excretores.
- A Mente (Manas).
. De Tamas manifestam-se :
- Som (Guna do éter - Akasha)
- Tato (Guna do ar - Vayu)
- Visão (Guna do fogo - Agni ou Tejas)
- Paladar (Guna da água - Apah ou Jala)
- Olfato (Guna da terra - Prithivi)
. Rajas não manifesta nenhum Tattwa em especial.
3. Segundo Shri Shankaracharya :
Segundo Shankara, o Absoluto - que ele chama de Brahman - quando
se manifesta na relatividade, na dualidade , chama-se Ishwara, o Deus
Criador , o Deus pessoal / impessoal também chamado de Bhagavan (O
Senhor). É o mesmo Jeovah dos judaico-cristãos e o Allah dos
mulçumanos.
Ishwara atua na Criação dual como Purusha (a Consciência, o Espírito
Eterno, o principio masculino, o Pai) e como Prakriti (a Natureza material
impermanente, o movimento e a substância do Universo, o principio
gerador feminino, a Mãe).
Esta Prakriti, ao manifestar-se para criar – no processo de
Panchikaram, a densificação - atua na Criação através do movimento das
Gunas (Sattwa, Rajas e Tamas).
As Gunas quando se interagem para manifestar a Criação, desdobram-
se nos Tanmatras, os 5 elementos sutis universai : Akasha/Èter,
Vayu/Ar, Tejas/Fogo, Apah/Água e Prithivi/Terra (ainda não são os 5
elementos materiais, e sim, a matriz energética destes).
Do aspecto Sattwico do Tanmatra Akasha (éter), manifesta-se o Jñana
Indriya (órgão de conhecimento, aferência sensitiva), Ouvido.
12
Do aspecto Sattwico do Tanmatra Vayu (ar), manifesta-se o Jñana
Indriya, Pele.
Do Sattwa de Apah (água), manifesta-se o Jñana Indriya, Língua
Do Sattwa de Tejas (fogo), manifesta-se o Jñana Indriya, Olhos
Do Sattwa de Prithivi (terra), manifesta-se o Jñana Indriya, Nariz.
A soma dos aspectos Sattwa de cada um dos 5 Tanmatras, vai
manifestar o Antahkarana (ou “órgão interno” que é como os hindus
chamam o que nós chamamos de “mente”) : Buddhi (a instância mais
elaborada do complexo psíquico humano, responsável pelo discernimento,
pelas escolhas, e também pela capacidade de observar sem julgar),
Manas (a mente que pensa, racional. O conteúdo de Manas chama-se
Chitta ou memória, que gera os Vrittis, ou movimentos da mente – os
pensamentos) e Ahamkara, o ego individual.
Do aspecto Rajasico do Tanmatra Akasha, manifesta-se o Karma
Indriya (órgão de ação, eferência motor), Bôca.
Do aspecto Rajasico do Tanmatra Vayu, manifesta-se o Karma
Indriya, Mãos.
Do Rajas de Tejas, manifesta-se o Karma Indriya, Pés.
Do Rajas de Apah, manifesta-se o Karma Indriya, Ânus.
Do Rajas de Prithivi, manifestam-se os genitais.
A soma dos aspectos Rajas dos Tanmatras vai manifestar os 5 Pranas.
Prana é a energia vital que sustenta o incessante movimento universal, e
subdivide-se em 5 sub-Pranas : Apana (movimento descendente,
centrífugo e catabólico, gerenciando no ser humano tudo o que tem que
ser eliminado, expelido, excretado. Está relacionado ao Chakra Muladhara
e ao elemento Terra) ; Vyana (movimento que gerencia a circulação, o
fluir, o distribuir. Está relacionado ao Chakra Swadhisthana e ao elemento
Água) ; Samana (a assimilação, a transmutação, o metabolismo. Está
relacionado ao Chakra Manipura e ao elemento Fogo) ; Prana
(movimento ascendente e centrípeto. Está relacionado ao Chakra Anahata
e ao elemento Ar) ; e Uddana (movimento ascendente e centrífugo. Está
relacionado aos Chakras Vishuddha – elemento Éter - e Ajña).
13
E a soma dos aspectos Tamas dos 5 Tanmatras vai manifestar os
Mahabhutas ou 5 elementos materiais : Éter ou Espaço (Akasha), Ar
(Vayu), Fogo (Agni ou Tejas) , Água (Jala ou Apas) e Terra (Prittivi).
Tanmatras também significam os 5 sentidos físicos (audição, paladar,
olfato, visão, tato), que são relacionados com os Jñana Indriyas.
Continuando, e trazendo para o Ayurveda este assunto que foi
desdobrado até agora por Shankara :
As combinações destes 5 Mahabhutas vão originar os Doshas (Vata –
Éter/Ar ; Pitta – Fogo/Água e Kapha – Água/Terra, veja o texto
adiante).
Continuando a expansão e a pluralização da Prakriti, cada Mahabhuta é
constituído dos 5 Mahabhutas (por exemplo, o Vayu/Ar é formado pelo Ar
do Ar, pelo Fogo do Ar, pela Água do Ar, pela Terra do Ar e pelo Éter do
Ar, e assim por diante).
A soma do Agni (Fogo) de cada um dos 5 Mahabhutas (chamados de
Bhutagnis) vai formar Jataragni, o Fogo corporal e digestivo.
O Jataragni na forma dos Dhatuagnis (Agni dos Dhatus, os tecidos
corporais) vai processar todo o ciclo da absorção e metabolismo dos
alimentos. O produto deste metabolismo em seu nível energético mais
sutil vai resultar na produção de Ojas, a energia que alimenta a mente e a
reprodução da espécie.
Os Dhatus são os tecidos com os quais o corpo é constituido. Os Dhatus
processam os alimentos que ingerimos, cada Dhatu se desdobrando no
Dhatu seguinte : primeiro temos Rasa (o plasma, elemento Água), que
cria Rakta (o sangue, elemento Fogo), que cria Mamsa (os músculos,
elemento Terra), que cria Medha (a gordura, elemento Terra), que cria
Ashti (os ossos, elemento Ar), que cria Majja (a medula, elemento
Espaço), que cria Shukkra e Artava (os tecidos reprodutivos, que
agregam e combinam todos os 5 elementos).
O produto desta alquimia de transmutação é a energia Ojas, que circula
por todo o sistema junto com a energia Prana. Prana é transportado pelas
Pranavaha Nadis, e Ojas pelas Manovaha Nadis, que funcionam como se
fossem um fio ou conduto duplo, paralelo.
Ojas está relacionada com a energia que Freud chamou de libido. A
libido se expressa no segundo Chakra como a capacidade de gerar vida,
no sexto Chakra como a capacidade de gerar idéias e no quinto Chakra
14
como a capacidade de expressar a vida e estas idéias na forma de
pensamentos, palavras e obras. Porisso determinadas vertentes do
Hinduismo recomendavam o celibato como uma forma de não gastar Ojas
com sexo e assim direciona-la para a mente.
Já na Mitologia diz-se que o Absoluto Brahman se manifesta na
dualidade, na relatividade, como a Trimurti, isto é, os três deuses que
criam (Brahma), mantém (Vishnu) e destroem (Shiva) o eterno e
impermanente Universo material, num imenso e interminável “Lavoisier”
cósmico.
Cada Deus expressa a Consciência, o principio masculino Yang, e cada
esposa (Shakti) de cada Deus (Saraswati, Lakshmi e Durga,
respectivamente) expressa o poder criador e gerador, feminino, Yin.
A criação do Universo acontece quando Brahma expira, precipitando a
Criação (o Big-Bang !) através do poder de Shakti/Prakriti e de suas
Gunas.
Quando Brahma inspira o Universo é reabsorvido, através da dança
cósmica de Shiva (Nataraja).
Após um intervalo (Pralaya), o Ciclo volta a se manifestar...
15
A VISÃO HINDÚ SOBRE A ESTRUTURAÇÃO DO
PSIQUISMO
“Quem sou eu ?” é, sem dúvida, a pergunta mais importante do
universo humano.
E é claro, “De onde vim e para onde vou ?”, “Quem é Deus ?”, e
tantas outras perguntas do mesmo teor que vem na seqüência.
E em toda a história da Humanidade, o homem mergulhou
intensamente na busca desta resposta.
Para tanto, criou inúmeras religiões, filosofias, teologias, mitologias,
ciências e psicologias, sempre na ânsia ancestral, atávica e visceral de
desvendar aquilo que os índios norte-americanos chamam de “O Grande
Mistério”.
A idéia central das culturas orientais e xamânicas – a Unidade – traz o
conceito de que tudo é Um, de que o Universo é um único organismo,
consciente e totalmente interligado e interagente, e que toda a percepção
e sensação de separatividade é uma ilusão (maya).
Os hindus chegam a dizer que a única doença de que nós realmente
sofremos – todas as outras (físicas e psíquicas) são um desdobramento
desta – é Avidya, a ignorância da nossa natureza real, a Unidade.
E é assim que nós nos sentimos : totalmente cindidos, fragmentados.
Tanto externamente – nos sentimos separados de cada semelhante, da
Natureza e do que acreditamos que seja Deus, quanto internamente –
corpo, cabeça e coração raramente estão em equilíbrio.
Na tarefa humana de caminhar para a Luz, em primeiro lugar é
importante perceber que quando trabalhamos conosco no auto-
conhecimento ou com outra pessoa (se formos terapeutas), estamos
fundamentalmente lidando com duas instâncias altamente relevantes da
personalidade - a auto-imagem e a persona – que são construções
psico-emocionais limitadoras mas paradoxalmente desenvolvidas por nós
- inconscientemente, na maior parte do tempo - para nos proteger.
A auto-imagem é “quem eu acredito que eu sou”. É o sistema de
crenças e padrões que nós construímos em função das nossas
experiências dolorosas e sofridas (e claro, das positivas e interessantes
também), e que nos dão uma imagem e uma perspectiva geralmente
distorcida de nós mesmos, e que na maior parte das vezes nós sentimos
como sendo algo limitador e desfavorável, ou ao contrário (mas pela
16
mesma razão), o ego infla e a pessoa se sente exageradamente o
máximo, para não entrar em contato com suas dores.
A persona é “quem eu quero que acreditem que eu sou”. São as nossas
máscaras e papéis sociais (o filho, o pai, o profissional, o cidadão, o
marido, etc.etc.) que funcionam em parceria com a auto-imagem, e que
procuram compensar esta, quando ela é desconfortável e parece ser
desfavorável.
E a auto-imagem e a persona são competente e eficientemente
fomentadas, mantidas e monitoradas pelo complexo ego/mente racional.
A auto-imagem e a persona são componentes importantíssimos na
construção da nossa visão de mundo, a chamada “realidade” (que em
ultima instância, é o que nós acreditamos que a vida é).
Outro movimento do psiquismo - e que foi percebido por S. Freud -
são as pulsões da busca do prazer e da evitação da dor. E todo o
complexo corpo/mente trabalha neste sentido: o de nos manter afastados
do contato com a dor.
Na infância quando passamos por experiências traumáticas, estas
impressões (o que nós sentimos com o que supomos que aconteceu) são
“escondidas” no inconsciente. Freud chamou a isto de recalque. A
intenção é que não tenhamos que estar sempre entrando em contato com
nossas dores (ou com o que o inconsciente acredita serem dores), pois
seria insuportável viver assim, lembrando o tempo todo de tudo o que de
ruim e sofrido nos aconteceu.
O problema é que estas dores continuam vivas no inconsciente,
forjando e nutrindo a teia de crenças e padrões que irá contribuir
decisivamente na formação do caráter e da personalidade, e também na
somatização de doenças físicas, psico-emocionais e/ou sociais.
Ou seja, paradoxalmente, o mesmo procedimento interno que
trabalha para nos proteger, nos limita e (aparentemente) nos sabota
como um eterno exercício de obstáculo X superação e crescimento.
Vamos deixar a Psicologia Hindu dar um subsídio filosófico :
Em primeiro lugar, se tanto as tradições orientais quanto as
xamânicas dizem que somos seres multidimensionais e holográficos, isto
quer dizer que existimos simultaneamente em infinitos níveis, certo ?
Na Filosofia Hindu, temos duas formas de codificar as multi-dimensões
do ser humano : uma trina - os Shariras, ou corpos - mais usada pelo
Yoga, e outra quíntupla - os Koshas, ou envoltórios - mais usada pela
17
Vedanta. São apenas divisões de caráter didático, já que estas dimensões
não são tridimensionais - são holográficas - e estão todas
simultâneamente se interpenetrando (assim como acontece com os
Chakras).
Os Shariras ou corpos, são 3 : o Sthula Sharira ou corpo denso (o
corpo físico), o Sukshma Sharira ou corpo sutil (o corpo de energia, o
corpo emocional e o corpo mental) e Karana Sharira ou corpo causal.
É no Sukshma Sharira onde operam a Homeopatia, a Acupuntura,
Reiki, Cura Prânica, Aromaterapia, Cristais, Cromoterapia, etc.
Karana Sharira se chama corpo causal, porque é nesse nível onde se
localiza a causa da ignorância primordial (Avidya). Mas é também neste
nível que acontecem as escolhas (é o centro do discernimento) e é onde
se localiza a mente Testemunha, a perspectiva interna neutra e
observadora buscada na Meditação. É a “Visão da Águia” dos xamãs e é
onde acontecem as canalizações e as conexões mediúnicas e sensitivas. E
este também é o nível que faz a “interface” do estado de consciência
separada com o estado da Unidade Absoluta ( Nirvana, Samadhi, Moksha,
Kaivalya, Satori).
Os Koshas são chamados de envoltórios (ou bainhas) porque são as
camadas que ilusóriamente prendem e condicionam o Espírito (Atma).
São 5 :
- Annamaya Kosha, ou corpo físico
- Pranamaya Kosha, o corpo de energia (que os ocultistas chamam de
Duplo-etérico e os espíritas de Perispírito). Neste nível circulam as
Pranavaha Nadis (condutos energéticos que transportam os Pranas)
- Manomaya Kosha, o corpo psico-emocional. Neste nível circulam as
Manovaha Nadis (condutos de energia que transportam Ojas, a energia
mental. Ojas é a quintessência energética extraída dos alimentos pelos
Dhatus – os 7 tecidos corporais)
- Vijñanamaya Kosha, o corpo psíquico
- Anandamaya Kosha, o corpo psico-espiritual.
Vijñanamaya Kosha é onde opera o discernimento, a capacidade de
se escolher e discriminar entre o que é real ou irreal.
Assim como o Karana Sharira, Anandamaya Kosha é o portal, a
interface para o estado da Unidade.
O Sthula Sharira (bem como sua correspondente Annamaya Kosha)
está relacionado a Guna Tamas ; o Sukshma Sharira (Prananamaya,
Mano Maya e Vijñanamaya Kosha) está relacionado a Guna Rajas; e
Karana Sharira (Anandamaya Kosha) a Guna Sattwa.
18
O complexo psíquico (que os hindus chamam de Antahkarana, ou
órgão interno) é formado por :
- Buddhi. É a parte mais elevada do complexo psíquico. Num
primeiro nível, Buddhi trabalha com o discernimento, as escolhas e
as opções. Desde as escolhas inconscientes - como, por exemplo,
as que faz o sistema nervoso autônomo - passando pelas opções e
escolhas conscientes do dia-a-dia, até a mais elevada das formas de
discernimento que é o questionamento sobre o que é real e o que é
irreal na existência ( que é o que os hindus chamam de Viveka).
Em um nível mais elevado de atuação, Buddhi é a Mente
Testemunha (a “Visão da Águia” dos xamãs), o nível da Meditação e
da neutralidade onde não há julgamento.
Abarca também o Inconsciente.
Buddhi é quem sedia e administra os Samskaras - os registros e
impressões psico-emocionais, que vão gerar os Vasanas (tendências
e padrões).
O Buddhi atua no nível de Karana Sharira (e Vijñanamaya kosha).
- Manas é a mente pensadora. Administra os estímulos que vem
através da aferência dos sentidos (Jñana Indriyas) e da atividade
da memória (Chitta , conteúdos do consciente e do inconsciente),
administra as escolhas e opções de Buddhi, e produz os Vrittis
(pensamentos, movimentos mentais, mente racional) e as respostas
psico-motoras (Vasanas) através dos Karma Indriyas (órgãos de
ação).
- Ahamkara, o ego. Trabalha em parceria com Manas na função de se
manter a identificação da Consciência Una com o estado ilusório de
separatividade (Maya). Os sentidos, o ego e a mente racional
mantém a Consciência ilusoriamente identificada com a
personalidade e com as Gunas (os movimentos impermanentes da
Natureza).
E como este Anthakarana trabalha ?
Quando os nossos sentidos apreendem algum objeto,
informação ou estímulo, dois mecanismos disparam
automaticamente : o corpo mental associa ao elemento percebido
um nome (Nama) e uma forma (Rupa) e o corpo emocional avalia
se aquele determinado elemento me atrai (Raga) ou se eu o rejeito
(Dwesha) – bem no estilo das pulsões “busca do prazer / evitação
da dor” freudianas.
19
Em outras palavras os sentidos captam, a mente e o emocional
enquadram e o ego identifica com eu/meu.
Assim enquadramos toda a Realidade Una em pequenas
unidades ilusoriamente separadas, mantemos a ignorância da
nossa natureza real, e ficamos vivendo aprisionados em uma
realidade construída por nós mesmos.
Se o estímulo ou informação que recebemos através dos
sentidos (Jñana Indriyas) é alguma coisa muito forte e
traumatizante, ou se por outro lado, são estímulos ou informações
que se repetem com periodicidade, isto vai imprimir Samskaras
(impressões, registros psico-emocionais) no inconsciente, que vão
por sua vez, produzir Vasanas (crenças, hábitos, tendências e
padrões) e, juntamente com Citta (a memória), produzir os Vrittis
(movimentos da mente, pensamentos, atividade racional).
Algumas imagens para exemplificar :
1. Imagine que o seu complexo psíquico é um lago : o
reservatório em si é a mente (Manas); o conteúdo – a água – é
Chitta, a memória consciente e inconsciente; o fundo do lago é o
Ser, a Unidade coberta pela “poeira” de Chitta que forma “bancos
de areia” (Samskaras) em função dos movimentos internos e da
superfície (Vrittis); por sua vez, os movimentos ondulatórios da
superfície são os Vrittis (pensamentos, atividade racional) e
Vasanas (tendências) cujos padrões são produzidos pelo perfil
topográfico do fundo (Samskaras).
Quanto mais nivelado e liso estiver o fundo, mais tranqüilas
serão as águas da superfície e vive-versa.
2. Uma carruagem : Buddhi é o condutor, Manas são as rédeas,
Ahamkara é a carruagem e os cavalos são os sentidos (Indriyas).
3. Estou em um campo e de repente vejo um touro enfurecido
correndo em minha direção : os Jñana Indriyas captam a imagem ,
Manas processa a informação (“vendo um touro correndo”),
Ahamkara identifica com o eu (“eu estou vendo um touro
correndo”) , Buddhi faz as escolhas (“eu estou vendo um touro
correndo e furioso, e vai me pegar. Tenho que correr”), e os Karma
Indriyas executam a ação de fugir.
Bem, é claro que todos os processos de auto-conhecimento e
crescimento, deve ser acompanhados da fundamental fórmula :
20
conscientizar aceitar entender a função transformar e
integrar.
Sem a consciência e a aceitação amorosa dos nossos padrões e
movimentos internos dolorosos e limitadores (ou da sombra, como
bem denominou C.G.Jung) não podemos nos transformar e
melhorar.
Mas a conscientização da sombra sem a sua aceitação com
compreensão, neutralidade e compaixão, também não leva ao
crescimento. Pode talvez levar à depressão.
Isto acontece também porque estamos terrivelmente infectados
por um veneno criado pelo homem que é a culpa.
A culpa foi fomentada por algumas religiões com a exclusiva
finalidade de manter a auto-estima pessoal baixa para assim poder-
se dominar e manipular mais facilmente as pessoas.
Para respaldar a culpa inculcou-se a idéia de que somos
pecadores congênitos, e que só teremos nossa salvação se nos
submetermos a um Deus que nos julgará e que vive em um paraíso
distante distribuindo castigos e recompensas. Isso tudo poluiu
terrivelmente o saudável processo da evolução psico-emocional /
espiritual humana, especialmente da cultura ocidental.
Junto com a aceitação de nossa sombra (que é apenas a ilusória
– e temporária - ausência da Luz), precisamos também aceitar e
resgatar nossa natureza divina e perfeita, e aceitar o fato de que
nossa sombra é apenas a ignorância de nossa natureza real – a
Unidade.
A sombra é o material de que dispomos para trabalhar nosso
crescimento, são os exercícios, obstáculos, provas e testes que
aceitamos trabalhar para evoluir. E também é todo o nosso
potencial não reconhecido e, portanto, sub utilizado.
É absolutamente necessário que substituamos a culpa pela
responsabilidade. Não somos passivas marionetes do Universo.
Somos seus co-criadores ativos.
Não existe necessáriamente nenhum Deus em guerra constante
contra o Mal.
O chamado “mal” são os obstáculos, testes, dificuldades,
exercícios, conflitos e confrontos que temos que lidar em nossa
caminhada de crescimento.
21
Ou seja, a função do mal não é vencer o Bem, é se transformar
em Bem. Assim como a função da sombra não é apagar a Luz, é se
transformar em Luz.
Na Mitologia Hindú esta visão fica bem clara, ao colocar os
demônios (asuras) como devotos de Deus (Shiva) que eram
geralmente Saddhus ou monjes que por alguma razão foram
amaldiçoados e tranformados em demônios para cumprirem alguma
função e normalmente recebem de Shiva grandes poderes
E aí eles tem que ser mortos e liberados por Deus (Vishnu) para
voltarem a sua condição original de Santos e Sábios.
A vida que vivemos, o que somos e o que nos acontece é fruto
100% das nossas escolhas e opções – conscientes ou inconscientes,
feitas nesta ou em outra(s) vida(s). E isto é a grande maravilha da
vida, pois nos confere o poder de nos responsabilizarmos
totalmente por nós mesmos e transformar totalmente nossa
existência em qualquer tempo.
O fato de que o Universo é um único Ser totalmente integrado
como uma grande teia holográfica, onde cada componente funciona
como um ímã atraindo e repelindo energia, coisas, pessoas e
situações – tudo devidamente gerenciado pela lei do Karma
(especialmente em sua manifestação como Sincronicidade e
Ressonância) – faz com que estejamos constantemente atraindo as
coisas, pessoas e situações necessárias para nosso aprendizado e
evolução. Esta é a forma que a Vida utiliza para nos ensinar.
Isto, além de demonstrar o funcionamento da fantástica
Inteligência Universal, anula completamente qualquer possibilidade
de culpas, castigos divinos, azar e vitimismos.
Então, a grande pergunta que devemos estar sempre nos
fazendo cada vez que algo ou alguém desagradável cruza nosso
caminho é : “O que eu tenho que aprender com isso ? Porque eu
atraí esta pessoa ou situação ?”
22
AS GUNAS
As qualidades da Natureza material
A Consciência É, desde sempre. Quando Ela manifesta movimento –
que é quando ocorre o chamado Big Bang – inicia-se a Criação, cuja
natureza intrínseca é ser simultâneamente toda consciente e toda
movimento - sempre impermanente e mutante.
A característica da Consciência é ser una e permanente (natureza
absoluta), ao contrário da Criação, que é dual e em constante modificação
(natureza relativa).
Percebendo isto, os orientais trataram de compreender e codificar este
movimento universal.
Assim, os chineses, por exemplo, falam do Tao e de Yin e Yang.
À Consciência os hindus deram os nomes de Purusha ou Brahman (o
princípio Uno, masculino, espiritual), e a este eterno movimento dual e
impermanente do Universo material, os nomes de Prakriti, Shakti ou
Maya (o poder gerador - o princípio feminino, material).
Prakriti manifesta-se nos três padrões do movimento universal. Estes
padrões chamam-se Gunas (ou qualidades da natureza material) e
expressam a dialética maior da Criação :
1. Sattwa, é o padrão de movimento que faz com que,
à partir do movimento inicial onde começa a expansão
do Universo, já exista uma força operando no sentido
da volta ao estado primordial – a Pura Consciência
Absoluta e incriada. Sattwa expressa o movimento
para cima e para dentro. Sattwa é a sutileza, o
elemento Éter (Espaço), a harmonia, o equilíbrio, a
luz, a paz, o amor. Sattwa é a tolerância, a
compaixão, a não julgamento, a intuição, o desapego,
a honestidade e a ética . Sattwa é a porta, o último
degrau que leva à experiência do nosso estado original
– a Unidade. Daí os hindus terem desenvolvido toda
uma cultura e toda uma filosofia que pretendem trazer
a vida do dia-a-dia para uma freqüência vibratória
mais Sattwica. Assim é no Yoga (nos trabalhos psico-
23
energético-corporais), no Ayurveda (na alimentação e
na medicina), no Vastu Shastra (o Feng-Shui hindu),
ou seja, tornar a vida cada vez mais sattwica, mais
dentro do Dharma (a virtude, a retidão).
Sattwa Guna pode ser representada pela cor amarela,
dentro das 3 côres básicas.
Está relacionada a Karana Sharira (corpo causal) e a
Anandamaya Kosha (corpo de bemaventurança) e aos
três Chakras superiores.
2. Rajas, que é a própria expressão do movimento, do
Karma, dos elementos Ar, Fogo e Água. Rajas é o
movimento da expansão do universo, o movimento
centrífugo. Rajas é a paixão, o impulso, a explosão, o
calor, a força da construção, da objetividade, da
determinação.
É a cor vermelha.
Rajas , quando desequilibrado, também é a raiva, a
ansiedade, a pressa, a violência, a inveja, o ciúme, o
ego inflado.
Está relacionada a Sukshma Sharira (o corpo sutil, psico-
emocional/energético) , a Pranamaya Kosha (corpo de energia),
Manomaya Kosha (corpo psico-emocional) e Vijñanamaya Kosha (corpo
psico-espiritual); aos Doshas Pitta (fogo/água) e Vata (ar/éter) e aos
Chakras Swadhisthana (água), Manipura (fogo) e Anahata (ar).
3. Tamas, representa a inércia, o movimento que
estagna, a tendência de paralizar. É o movimento
descendente. Representa também a densidade
material, a estrutura física, o pêso. É o movimento de
retração do universo.
Equilibrado, leva a um bom sono, calma, compaixão,
paciência, tolerância.
Desequilibrado,Tamas é a preguiça, a avareza, o
apego, a complacência, o ciúme. É o medo, a
angustia, a depressão, a tristeza, a baixa auto-estima.
A sombra. Fomenta a manutenção das coisas como
elas estão – na ignorância de nossa Natureza
24
verdadeira (ignorância chamada pelos hindus de
Avidya).
Tamas relaciona-se aos elementos Água e Terra e à
cor azul.
Está relacionada a Sthula Sharira (o corpo denso), Annamaya Kosha
(corpo físico), ao Dosha Kapha (água/terra) e aos Chakras
Swadhisthana (Água) e Muladhara (Terra).
Na Mitologia Hindu, Sattwa se expressa através de Vishnu, o poder que
mantém e administra e relação desequilíbrio / equilibrio no Universo.
Rajas se expressa no poder criador de Brahma (não confundir com
Brahman, o Absoluto). E Tamas se expressa através do poder destruidor
de Shiva, que destrói para que haja renovação.
A grande alquimia interna, o grande segredo da transmutação, é
utilizar o movimento e o impulso de Rajas equilibrado, para sedar Tamas
e estimular Sattwa. Normalmente o que se faz é justamente o contrário :
Rajas desequilibrado desequilibra Tamas (que por sua vez também
desequilibra Rajas) e seda Sattwa.
25
OS BHUTAS E OS DOSHAS
A reflexão sobre o processo da Criação do Universo, tem mobilizado a
Humanidade desde sempre. Todas as Mitologias de todas as culturas,
falam abundante e detalhadamente sobre este assunto, tão rico em
conhecimento simbólico e arquetípico.
Em qualquer que seja a Tradição que se pesquise, pode se perceber as
mais diversas leituras e versões deste processo – a Criação - onde o mais
sutil, o Tao, o Absoluto, vai se precipitando – do infinito ao finito, do
abstrato ao concreto, do absoluto ao relativo - até se manifestar como
matéria densa aparentemente aprisionada em uma dimensão
tridimensional de relatividade – espaço/tempo - cuja principal
característica é estar em contínuo movimento, sempre impermanente,
sempre mutante.
E esta matéria densa, estágio final do processo da Criação, é formada
em ultima análise, pelos 5 elementos (Mahabhutas) que são as matrizes
da matéria.
Nossa cultura ocidental reconhece 4 elementos : Ar (Vayu), Fogo
(Agni ou Tejas), Água (Apas ou Jala) e Terra (Prittivi). Os hindus falam de
5 elementos, incluindo Akasha – Éter ou Espaço. E os chineses também
falam de 5, incluindo Madeira e Metal.
O fato, é que além da importância que os elementos tem como fatores
constitutivos da matéria física, estes também tem um rico e complexo
simbolismo arquetípico, representando qualidades universais que atuam
em todos os níveis da nossa existência.
O Yoga, o Ayurveda e a Medicina Chinesa, e também as culturas
xamânicas, estruturaram seus sistemas tendo como alicerces o
conhecimento dos elementos .
. O Ar, por exemplo, no seu sentido mais equilibrado (Sattwa), fala da
leveza, do frescor, da rapidez, da respiração, das idéias e reflexos
rápidos, da capacidade de mudar rapidamente e de sacudir a poeira da
energia estagnada.
No seu sentido desequilibrado (Rajas/Tamas), o Ar fala da dispersão,
da secura, da ansiedade, dos medos, da inconstância, da “cabeça à mil”,
da frieza afetiva e da dificuldade de expressar as emoções e os
sentimentos. Falta de aterramento e de raiz.
26
. O Fogo, na sua polaridade equilibrada, fala da capacidade de
processar e digerir (desde alimentos até emoções), de transmutar a
sombra em Luz, de poder pessoal saudável e ego bem equilibrado, de
criatividade. Fala da capacidade de construir (desde coisas até a sua
própria história), de reciclar.
Na sua polaridade desequilibrada, o Fogo é a raiva destruidora, o ego
inflado e tirânico, a volubilidade, a indigestão.
No Xamanismo o Fogo é o Avô com quem se aprende as lições das
outras dimensões. Os índios dizem que quando estamos em torno do
Fogo os nossos corações estão no mesmo nível e todos neste momento
são Um.
Os hindús, que também fazem muitos rituais com Fogo, dizem que o
Fogo físico (que fica no centro) representa o Ser Eterno, Absoluto, e as
coisas que são oferecidas ao Fogo (ghee, cereais, ervas) simbolizam
nosso ego que é oferecido por nós para ser dissolvido no Fogo Universal.
. A Água, em seu lado equilibrado, fala do livre fluir das emoções, da
alegria, do “jogo de cintura” e da flexibilidade. Fala do feminino, da
juventude e da limpeza (em todos os sentidos).
Em seu lado desequilibrado, a Água pode expressar uma
emocionalidade desequilibrada, (tendendo não para a raiva como no
Fogo, mas para o “dramalhão”), o movimento de “ir na corrente”
deixando-se levar passivamente pela correnteza.
Mas se por outro lado as águas são represadas, ou vazam por algum
outro lugar, ou a represa pode, em alguma hora, estourar.
. Finalmente, a Terra, que em sua qualidade mais equilibrada expressa
estrutura, aterramento, enraizamento, objetividade, disciplina, coragem,
determinação, memória, saúde física, prudência, capacidade de lidar bem
com as questões materiais.
No desequilíbrio, o elemento Terra expressa imobilidade, dificuldade
de mudar. Tristeza , apego, avareza, egoísmo, medo, peso, depressão ,
baixa auto-estima e preguiça.
Muitas foram as formas que os povos antigos desenvolveram para
compreender, sistematizar e instrumentalizar este conhecimento de modo
a que ele fosse útil no processo de auto-conhecimento e crescimento.
27
No universo Hindu, os elementos (chamados de Mahabhutas) se
relacionam com as Gunas, com os Chakras, e também com os Doshas,
que é o que vamos tratar aqui.
A Medicina Tradicional Hindu, a Medicina Ayurvédica, trabalha a partir
do levantamento de uma tipologia básica que irá nortear todo o processo
terapêutico. Esta tipologia baseia-se nos 5 elementos e expressa como
estes elementos estão atuando e se movimentando na fisiologia
psico/física/energética humana.
E o Ayurveda estabeleceu 3 tipos característicos : Vata, expressão dos
elementos Espaço e Ar ; Pitta, Fogo e Água e Kapha, Terra e Água.
Todos nós nascemos com os 3 Doshas formando uma configuração que
é pessoal e intransferível (Prakriti). E em cada um de nós os elementos
atuam e influem de maneiras absolutamente singulares.
Pense bem, o que tem mais no Universo é espaço, não é mesmo ?
Além do espaço sideral em si, existe um enorme espaço no nível atômico
da matéria do qual a gente não se apercebe.
O astrofísico Carl Sagan dizia que se pudéssemos espremer todo o
planeta Terra de modo a que não houvesse mais nenhum espaço inter-
atômico, toda a matéria da Terra caberia em um dedal...
E, por outro lado, o elemento mais quantitativamente presente na
esfera do nosso planeta é o Ar.
Isto configura Vata como o Dosha principal, no sentido de ser aquele
que desequilibra os outros Doshas justamente pela sua rapidez e
volatilidade. Veja lá em cima no elemento Ar as suas qualidades. Vata
representa exatamente isso : como este Espaço e este Ar se movimentam
em você e que padrões de desequilíbrio eles produzem e mantém.
No nosso corpo Vata gerencia a mente, o sistema nervoso, a
respiração, os ossos e articulações, os braços e as mãos, a dor, os
movimentos peristáltico, cardíaco e pulmonar.
Desequilíbrios de Vata trazem stress, ansiedade, medo, fobias, má
memória, prisão de ventre, problemas reumáticos, insônia, anorexia
alimentar.
O Dosha Vata está relacionado a Guna Sattwa quando equiibrado e a
Guna Rajas (Fogo/Água )quando desequiibrado. E aos chakras Anahata
(Ar) e Vishuddha (Espaço).
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Depois temos o Fogo. O Fogo que cozinha, que consome, que aquece,
que ilumina, que queima e que transmuta.
Em nós este Fogo é Pitta. Pitta é o fogo digestivo que trabalha os
alimentos, é o fogo que mantém nossa temperatura a 36,5o
, é o fogo que
digere as emoções, é a sensualidade e a energia sexual, é a alegria e a
coragem, é o poder de construir, de ser inteligente, objetivo e vitorioso.
Em nosso corpo Pitta gerencia a digestão, o sistema cardio- vascular,
as pernas e os pés, os olhos e a visão, as trocas gasosas nos pulmões, a
assimilação dos alimentos, a atividade enzimática nas células.
Desequilíbrios de Pitta acarretam irritabilidade, impaciência, raiva e
violência, intolerância, teimosia, bulimia, distúrbios sexuais, neuroses
compulsivas, problemas gástricos, visuais, dermatológicos e cardio-
vasculares.
O Dosha Pitta está relacionado a Guna Rajas (Fogo/Ar) e ao Chakras
Swadhisthana (Água) e Manipura (Fogo)
Finalmente temos a Água e a Terra.
Lembre que 2/3 do planeta e 2/3 do nosso corpo são feitos de Água !
A Água e a Terra em movimento em nosso sistema psico-físico chama-
se Kapha.
Kapha fala do que há de mais material em nós, em todos os sentidos.
Gerencia a estrutura física e os líquidos corporais.
Em desequilíbrio leva a preguiça, ao desânimo, tristeza, depressão,
avareza, excesso de apego, excesso de sono, bulimia, obesidade
(retenção de gordura e liquido) e diabetes.
Equilibrado, facilita o bom sono, a calma, afeto, carinho, compaixão,
simpatia, relaxamento.
O Dosha Kapha está relacionado a Guna Tamas (Terra/Água) e aos
Chakras Muladhara (Terra) e Swadhisthana (Água).
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OS CHAKRAS
Os Chakras são literalmente usinas captadoras e redistribuidoras de
energia cósmica (Prana).
Existem muitos Chakras – cada articulação, por exemplo, tem um
Chakra – mas sete são os principais e os mais conhecidos.
Os Chakras operam em todos os nossos corpos, do físico ao mais sutil,
por isso o Tantra diz que os Chakras possuem 3 níveis :
. o nível das pétalas, que gerencia nossa vida física, material, corporal
. o nível do botão, que administra nossa vida interna, psico-emocional
eggjkrtggvnnd energética,
. o nível da raiz que tem a ver com nossa vida espiritual, com o nível da
Consciência Una
Daí a representação gráfica dos Chakras ser uma flor de lótus que se
enraíza na coluna (nossa face posterior, o inconsciente, subjetivo, a
Sushumna Nadi) e se abre em nossa face anterior (o nível consciente,
objetivo, Ida e Pingala).
Apesar de vermos os Chakras desenhados nos livros em duas
dimensões parecendo um sistema linear e analógico, os Chakras são
fundamentalmente estruturas holográficas.
Os Chakras também expressam estruturas simbólicas, arquetípicas e
sistêmicas que se aplicam tanto no nivel humano quanto no nível coletivo.
Estaremos então, pontuando além das tradicionais caracteristicas de
cada Chakra (e com as quais a maioria dos interessados no assunto, com
certeza, já estão bastante íntimos), também as suas características mais
gerais, mais coletivas : as fases da vida da Humanidade, a relação do
homem com Deus e a relação do homem com a manutenção e a
reprodução da sua espécie.
Os sete Chakras mais importantes são :
1. Muladhara, Chakra básico, raíz. Relaciona-se com as três tarefas mais
atávicas dos seres vivos: se alimentar, se reproduzir e se defender.
Gerencia o nosso aterramento, nosso enraizamento no planeta. No corpo
físico está localizado no períneo, e gerencia as pernas, pés e ânus.
30
Está relacionado com o elemento Terra, com as glândulas suprarrenais (a
adrenalina é o hormônio do Chakra básico, preparando o corpo para luta-
e-fuga), com o plexo nervoso coccígeo (os plexos nervosos e as glândulas
endócrinas são a interface entre o nível físico do corpo e o nível
energético dos Chakras) e com a região coccígea da coluna vertebral.
Bem equilibrado (com a predominância da Guna Sattwa), o Chakra
Muladhara propicia a objetividade, a coragem, a determinação,
organização, disposição para o trabalho e para superar obstáculos, saúde
física, relacionamento harmônico com as coisas mais materiais da vida
(dinheiro, propriedades, p.ex.).
Hiperenergizado (ou com predominância da Guna Rajas) pode gerar
avareza, violência, apego, pouca sutileza, atração por formas mais densas
de religião ou mesmo pelo agnosticismo ou ateísmo.
Hipoenergizado (com predominância da Guna Tamas) pode gerar baixa
auto-estima, excesso de medo, de tristeza, depressão, dificuldade de
trabalhar e obter prosperidade material, fuga da realidade com sexo,
drogas, religião, etc.
Nesta fase inicial da sua vida, o homem apenas se alimenta, excreta e
dorme, em total entrega e dependência, e ainda “pensa” que ele e a mãe
são uma unica pessoa.
Na relação do homem com Deus, é a fase da Humanidade – os homens
das cavernas – onde a emoção primordial e dominante é o medo. Medo
do conhecido e do Desconhecido. Medo dos imprevisíveis fenômenos
naturais. Quem lembra do inicio do filme “2001 uma odisséia no espaço”,
quando chega a noite e todos de amontoam numa caverna com medo da
noite ? Nesta fase o homem ainda se experimenta como ser totalmente
coletivo.
É a fase da Humanidade onde o movimento para procriar expressava
exatamente a clássica imagem do troglodita arrastando a mulher pelos
cabelos. Deu o “cio”, arrasta-se a primeira fêmea que aparece. É a pulsão
de reprodução em seu estado mais puro, animal.
No plano mais geral, o Chakra Muladhara tem relação com a Guna Tamas
(enraizamento, estrutura), com Annamaya Kosha e com Sthula Sharira (o
corpo físico), com o Dosha Kapha (Terra/Água), com o Prana Apana
(aspecto descendente da energia vital – Prana – que gerencia tudo o que
é expelido do corpo), com o Brahma Granthi e com a Shakti Kriya (o
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poder de agir que rompe este Granthi, veja a seguir o texto sobre os
Granthis).
Está relacionado também ao anel muscular pélvico (segundo Wilhelm
Reich).
Seu Mantra é LAM, sua cor é vermelho, sua nota é DÓ e o animal
relacionado com este Chakra é o Elefante.
Ganesha é um dos deuses do panteão Hindu que podem perfeitamente ser
relacionados ao Muladhara Chakra.
2. Swadhishthana, ou Chakra sexual, está relacionado ao elemento
água. Sendo assim, gerencia tudo o que circula, desde os diversos
líquidos corporais até as emoções. É o Chakra da sexualidade, do prazer e
dos relacionamentos em geral. A Libido é a poderosa energia de criação e
reprodução (chamada no Ayurveda de Ojas). Reprodução da espécie e
também criação daquilo que devemos deixar, através dos nossos talentos
e potenciais, para as outras gerações - a nossa obra),
No corpo físico está centralizado no púbis e relaciona-se com os órgãos
reprodutores (e com as glândulas sexuais), com o plexo nervoso sacral,
com toda a cintura pélvica e com a região sacro-lombar da coluna
vertebral.
Bem energizado (Sattwa) facilita uma emocionalidade e uma sexualidade
equilibradas. Facilidade para se relacionar bem e viver a vida com prazer.
Hiper energizado (Rajas) pode acarretar em personalidade agressiva,
taras sexuais, sadismo, problemas na região pélvico-lombar.
Hipo energizado (Tamas) pode gerar impotência e frigidez sexual,
masoquismo, preguiça, dificuldades com sentimentos e emoções.
Nesta fase da vida, o bebê que antes só comia e excretava e pensava que
ele e a instância alimentadora e protetora eram a mesma pessoa, percebe
que isso é bom, é prazeiroso. É a manifestação do princípio do prazer, a
libido.
Na relação com Deus, é a fase em que a humanidade percebe que por
trás dos fenômenos naturais que provocavam medo, deviam haver
diretores, provavelmente são seres colossais que dominam os elementos.
E aí começou-se a criar vias de contato com estas dimensões energéticas
e espirituais, desenvolvendo as complexas tecnologias dos rituais,
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cerimônias e sacrifícios, tão presentes até hoje nas culturas orientais e
xamânicas.
É também a fase da humanidade em que para procriar, o nosso
trogolodita já não arrasta a primeira mulher “no cio” que ele encontra.
Agora ele escolhe, seleciona de acordo com seu gosto.
O Chakra Swadhishthana tem relação geral com as Gunas Tamas
(Terra/Água) e Rajas (fogo), com Pranamaya Kosha (o corpo de energia),
com Prana Vyana (que gerencia a circulação dos líquidos orgânicos e da
energia pelo corpo) e com os Doshas Kapha (Terra / Água) e Pitta (Fogo /
Água).
Está relacionado também ao anel abdominal da psicologia Reichiana.
Seu Mantra é VAM, sua cor é laranja, sua nota é RÉ e o animal
relacionado à este Chakra é o crocodilo (e o jacaré)
3. Manipura , ou Chakra do plexo solar, elemento fogo. Relaciona-se
com o ego, o poder pessoal, o sentido de individualidade (como eu,
indivíduo, me experimento e consequentemente como me posiciono no
coletivo e nas relações). Gerencia tudo aquilo que deve ser digerido :
alimentos, pensamentos e emoções.
No corpo físico, relaciona-se com o pâncreas, com o plexo nervoso
Epigástrico, com o sistema digestivo em geral e com a interface entre as
regiões lombar e torácica da coluna vertebral.
Bem energizado (Sattwa) liberta do medo, facilita a compaixão e a
importância com os sentimentos alheios, liberta da necessidade de
controlar a si mesmo e aos outros. Apresenta boa autoestima, auto valor
e poder pessoal.
Hiperenergizado (Rajas) produz o tirano, o raivoso, temperamental
explosivo, o egoísta, o egocêntrico, o hipócrita. Também produz azia,
gastrite, problemas no fígado.
Hipoenergizado (Tamas) facilita a complacência, a baixa auto-estima, a
subserviência, a hipocrisia, anorexia, a tendência a mascarar suas
inseguranças e dificuldades, a atitude de superioridade que vem
compensar o sentimento de inferioridade.
Nesta fase da vida do homem, o bebê descobre que ele e a mãe são dois
seres separados. É o princípio da individualização.
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Na relação da Humanidade com Deus, é a fase em que o homem
percebe que por trás dos “diretores” tem um “Presidente”. É o surgimento
do Monoteísmo. É um Deus único - mas ainda pessoal - “o que devemos
temer”, o Deus que tem a “ira divina”. É o Jeovah das religiões cristãs-
judaica e o Allah dos mulçumanos, por exemplo.
Em relação a evoução da Humanidade, é a fase em que o homem além
de selecionar a(s) fêmea(s) com quem quer acasalar, desenvolve o
sentimento de exclusividade (“é só minha !”). É o princípio da família, dos
clãs, da contínua fragmentação e reorganização do bôlo gregário do início.
Este Chakra faz a interface entre os níveis animal e humano no
homem.
Está, no geral, relacionado a Guna Rajas (Fogo/Ar) , a Manomaya
Kosha (o corpo psico-emocional), ao Prana Samana (que gerencia os
processos de assimilação), e ao Dosha Pitta (Fogo / Água).
Relaciona-se também com o anel diafragmático de W.Reich.
Seu Mantra é RAM, sua cor é amarela, sua nota é MI e o animal
relacionado a este Chakra é o carneiro.
Rama é a divindade Hindu – o “padroeiro” do Dharma - que podemos
relacionar ao Manipura Chakra.
4. Anahata, o Chakra cardíaco, relaciona-se com o elemento ar.
No corpo físico, relaciona-se com a respiração, com os pulmões e o
coração, bem como com a glândula timo, com os plexos nervosos
cardíaco e pulmonar e com a região torácica da coluna vertebral e a
cintura escapular.
E também com sentimentos, afetos, amor, carinho, alegria, beleza,
devoção.
Localiza-se no centro do peito e é o Chakra dos braços e das mãos.
Bem energizado (Sattwa), facilita o desapego, o amor incondicional, a
devoção, o altruísmo, a compaixão.
Hiperenergizado (Rajas) pode produzir sentimentalismo exagerado,
personalidade egoísta, arrogante, prepotente. E também ansiedade,
pressão alta, taquicardia, bronquite.
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Hipoenergizado (Tamas) acarreta em sentimento de vítima, de culpa,
passividade, sensação de medo e inferioridade, angústia no peito, asma,
dificuldade de contactar seus sentimentos, dificuldade de se aceitar,
depressão.
Nesta fase da vida, a criança percebe que além do cuidado e proteção
fisica vindos daquele ser separado dela, há um sentimento, há afeto.
Na relação do homem com Deus, é a fase em que o Deus “a quem eu
devo temer” se tranforma no Deus “a quem eu devo amar”. O upgrade do
terceiro para o quarto Chakra, neste sentido, tem sido sempre fomentado
pelos Avatares ao longo da história do mundo, e Cristo é o grande
simbolo deste salto (e seu gesto de braços abertos é o grande simbolo
deste Amor incondicional).
Em relação aos relacionamentos : neste nivel, o que motiva o encontro
entre homem e mulher para procriar passa a ser o afeto, o sentimento,
não mais o desejo animal e a força. A escolha é feita pelo coração.
O Chakra Anahata está relacionado às Gunas Rajas (Fogo/Ar) e Sattwa
(Éter), a Manomaya Kosha (corpo-psico-emocional) e Vijñanamaya Kosha
(corpo psico-espiritual), ao Vishnu Granthi , a Shakti Iccha (o poder de
desejar que rompe o Vishnu Granthi), ao Prana Prana (aspecto
ascendente da energia, e que gerencia tudo o que é absorvido, bem como
as atividades cardíaca e respiratória), e aos Doshas Vata (Ar/Éter) e Pitta
(Fogo/Água).
Relaciona-se também com o anel torácico de W.Reich.
Seu Mantra é YAM, sua cor é verde (alguns usam a cor rosa), sua nota é
FÁ e o animal relacionado a este Chakra é o Antílope.
Krishna é o Deus que podemos relacionar ao Anahata Chakra. Também
podemos relacionar aqui Hanuman, o Deus macaco do Ramayana, filho do
vento (Vayu), “padroeiro” do Pranayama e símbolo do devoto perfeito.
5. Vishuddha, o Chakra laríngeo, elemento espaço (éter). Gerencia a
criatividade, a voz, as glândulas tireóide e paratireóide e o plexo nervoso
laríngeo.
É o Chakra dos professores, dos artistas, dos oradores, dos terapeutas.
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É o Chakra que faz a ligação entre o sentir (Anahata Chakra) e o pensar
(Ajña Chakra). Simboliza também a ponte entre as dimensões da Unidade
e da dualidade no homem.
É a interface que divide os níveis humano e divino do homem.
Bem energizado (Sattwa) permite uma boa comunicação entre consciente
e inconsciente, franqueza e sinceridade, expressão dos sentimentos e
emoções, e plena utilização dos potenciais e dos talentos criativos e
construtivos.
Hiperenergizado (Rajas) acarreta em falar demais (especialmente de si
mesmo), em expressar sua sinceridade ou seus sentimentos de forma
rude, hipertiroidismo, gula (ou bulimia).
Hipoenergizado (Tamas) produz dificuldade em exprimir suas emoções,
sentimentos e opiniões, engolir sapo, engolir choro, dificuldades com a
criatividade e com a expressão dos seus talentos e potenciais,
hipotiroidismo.
Nesta fase da Humanidade, o homem percebe que por trás de um Diretor
Pessoal, Criador, há um Espírito Eterno, incriado, imanifesto, impessoal. É
mais ou menos como os Espíritas, por exemplo, conceituam Deus.
O Chakra Vishuddha está relacionado as Gunas Sattwa (Éter) e Rajas
(Fogo/Ar), a Manomaya e Vijñanamaya Kosha (corpo psico espiritual), ao
Prana Udana (aspecto da energia vital que gerencia tudo o que ocorre no
âmbito da cabeça – sentidos, cérebro e mente), e ao Dosha Vata
(Ar/Éter).
Relaciona-se também ao anel oral de Reich.
Seu Mantra é HAM, sua cor é cor azul celeste, sua nota é SOL e o Animal
que está relacionado a este Chakra é o Elefante branco.
Podemos relacionar as deusas Saraswati (esposa de Brahma, deusa da
cultura e das artes) e Lakshmi (esposa de Vishnu, deusa da fortuna) ao
quinto Chakra.
6. Ajña, o Chakra do terceiro olho, está relacionado a glândula hipófise e
ao plexo nervoso Cavernoso.
36
No corpo físico, regula o funcionamento do cérebro - bem como da mente
- assim como os olhos, boca, nariz e os ouvidos (e também a visão,
paladar, olfato e audição).
Gerencia desde o pensamento racional cartesiano até os estados
transpessoais e meditativos.
Bem energizado (Sattwa) facilita a visão neutra, sem julgamentos (a
“Visão da Águia” dos xamãs), o discernimento correto,o uso concentrado
e eficiente do pensamento, a utilização equilibrada do sexto sentido e
também a facilidade em silenciar a mente na Meditação.
Hiperenergizado (Rajas) produz uma mente rápida demais, com excesso
de informação, e uma vida toda centrada nessa mente. Pode produzir
também, o mau uso das faculdades extra-sensoriais.
Hipoenergizado (Tamas) pode gerar dificuldades cognitivas e de memória,
e dificuldades de abstrair e de intuir.
Neste nivel da compreensão espiritual da Humanidade, o homem percebe
a perspectiva da Unidade. A compreensão e a realização de que tudo é
Um e a separatividade é uma ilusão (Maya). “Além” do Deus impessoal
(que se contrapõe dualísticamente ao Deus pessoal, Criador), existe o
Absoluto, o Tao, Brahman, a Consciência Eterna não-dual
(Satchidananda, como dizem as Upanishads).
O Chakra Ajña está relacionado com as Guna Sattwa (Éter) e Rajas
(Fogo), com Vigñana e Anandamaya Kosha (o corpo de bemaventurança)
, ao Dosha Vata (Ar/Éter), ao Shiva Granthi e a Jñana Shakti (o poder de
conhecer, que rompe este Granthi).
Sua cor é o azul marinho, sua nota é LÁ e seu Mantra é OM. O Animal
relacionado a este Chakra é a Águia.
Shiva o “padroeiro” do Yoga, do Tantra e da Vedanta, é o Deus do sexto
e do sétimo Chakras.
7. Sahasrara, ou Chakra da coroa, é o Chakra da Transcendência e da
Iluminação.
Relaciona-se à Guna Sattwa e a Anandamaya Kosha.
Alguns autores o relacionam com a glândula pineal e com as cores violeta
e branco.
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É o Chakra da Unidade onde o homem concretiza a realização da sua
Natureza Real.
Sua nota é SI.
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OS GRANTHIS – Os 3 nós psíquicos do Tantra
O Tantra é o mais antigo sistema de Conhecimento do universo
indiano e o que mais profundamente explorou e instrumentalizou a
utilização da energia vital no reequilibrio psico/emocional/energético - e
conseqüentemente no espiritual – do ser humano.
Dentro da complexa fisiologia energética e da psicologia do Tantra,
alguns conceitos talvez sejam mais familiares àqueles que estudam e/ou
praticam alguma forma de Yoga : as Gunas (as qualidades da natureza
material : Sattwa – o equilíbrio, Rajas – o movimento, e Tamas – a
inércia), os Chakras (os centros de energia), os Mahabhutas (os
elementos da natureza), a Kundalini (a energia primordial), os Shariras e
os Koshas (os corpos e os planos da existência) , as Nadis (os caminhos
da energia) , os Prana Vayus (as subdivisões funcionais da energia,
Prana) e os Doshas (padrões que expressam como os elementos da
natureza se movimentam em nossa fisiologia psico-física : Vata - espaço
e ar , Pitta - fogo e água e Kapha – água e terra).
O Tantra Yoga, atuando como uma verdadeira Psicologia Energética
do Yoga, utiliza o mesmo instrumental do Hatha Yoga (Asana,
Pranayama, Kriya, Bandha, Mudra, Relaxamentos e Meditação) para
fomentar o equilíbrio psico-emocional e energético - e
consequentemente o equilíbrio da personalidade - de modo a
proporcionar a experiência da Unidade.
E para tal, trabalha com a administração da complexa fisiologia
energética e das técnicas que citamos acima.
Um dos elementos interessantes desta fisiologia (e desta
filosofia) é o conceito dos Granthis, os nós
psico/emocionais/energéticos que estão posicionados ao longo da
Sushumna Nadi (o conduto central de energia que localiza-se como
contraparte sutil da coluna vertebral) .
A Sushumna Nadi simboliza a consciência da Unidade (energia
Kundalini) e os Granthis simbolizam os sistemas de crenças, padrões e
registros (samskaras e vasanas), com seus núcleos de boicotes,
limitações , sabotagens, apegos e falsas crenças e identificações, que
devem ser transmutados e re-significados ao longo de nossa jornada para
a consciência da Unidade.
Os Granthis são como que os obstáculos psico/emocionais/energéticos
por que cada um deve passar ao longo da sua trajetória rumo ao
39
autoconhecimento. Ao mesmo tempo expressam as defesas e bloqueios
que construímos.
● O primeiro Granthi é o Brahma Granthi, que está localizado na região
do Muladhara Chakra (elemento Terra). Brahma é o Senhor da Criação e
o Muladhara Chakra é o Chakra da criação material (sobrevivência e
reprodução), do pé no chão, da auto-preservação, da atuação no mundo
físico, da saúde física. Diz-se que o Brahma Granthi é o nó do samsara,
do mundo dos nomes e das formas.
O Muladhara Chakra está relacionado às glândulas supra-renais
(adrenalina!) e ao Prana Apana (elemento Terra), que rege a função da
eliminação e circula em fluxo descendente.
Este primeiro nó energético faz com que a interatividade do homem
com os aspectos mais práticos da vida (trabalho, dinheiro, saúde) não
fluam com eficiência. O homem identifica-se com a criação, com seu ego,
com seu corpo e com todo o grande jogo da Maya. Neste sentido, o
Brahma Granthi fomenta o apego ao mundo e aos seus aspectos mais
densos.
Brahma Granthi está relacionado com Kriya Shakti, o poder de agir, de
atuar. Este poder de agir enquanto identificado com a energia ilusória da
criação, amarra o homem ao plano denso da materialidade, ao nível mais
tamásico (Guna Tamas).
Este Granthi Também está relacionado ao anéis musculares pélvico e
abdominal, da psicologia Reichiana.
Romper o Brahma Granthi leva a agir-se como o ator, e não mais como
o personagem, no interminável drama evolutivo da vida.
E Hatha Yoga (o Yoga da saúde psicofísica) e Karma Yoga ( o Yoga do
desapego) são os caminhos indicados para este nível, e seu desbloqueio
libera o corpo dos registros e padrões impressos na musculatura e nas
articulações, e desidentifica o homem do seu egocentrismo.
Superar o Brahma Granthi significa usar positiva e equilibradamente a
determinação, a objetividade, a coragem, o cuidado com a saúde e a
beleza do corpo, a prosperidade material, a paternidade.
40
E o deus hindu Ganesha está relacionado a este Granthi, na medida
em que o deus com cabeça de elefante simboliza o nosso próprio poder
de abrir os nossos próprios caminhos , vencer nosso medos, superar
nossos obstáculos e crescer.
● O segundo Granthi é Vishnu Granthi, o nó que se localiza na região
do Anahata Chakra (elemento Ar) que é o Chakra da afetividade, dos
sentimentos, do amor, da compaixão.
Vishnu é o aspecto divino relacionado com o Amor (Rama, Krishna,
etc.), que transmuta a emoção em devoção (amor universal
incondicional).
O Anahata Chakra está relacionado a glândula timo e ao Prana
Prana (elemento Ar), que rege as funções pulmonar e cardíaca, e
circula em fluxo ascendente (ao contrário de Apana) gerenciando
tudo aquilo que é absorvido (em todos os sentidos).
Este segundo nó faz com que o homem selecione os objetos a
serem amados (meus filhos, meus amigos, meus pais, minha casa,
meu carro, etc.) e cria apego por estes objetos.
A religiosidade excessivamente emocionalizada também é uma
característica dos obstáculos criados por este nó.
Vishnu Granthi pode ser desbloqueado por Iccha Shakti, o poder de
desejar. Quando enredado por Maya (ilusão da separatividade), e sob o
impulso da Guna Rajas, o homem cria desejos e necessidades segundo
seus instintos e seus apegos. Quando o desejo se sutiliza o homem
desenvolve mumukshutwam, o desejo pela Liberação, pela Consciência da
Unidade.
Este Granthi também está relacionado aos anéis musculares
diafragmático e toráxico da psicologia Reichiana.
Romper o Vishnu Granthi leva a uma interação afetiva desimpedida
abrindo caminho ao Amor Total que leva o homem à amar indistintamente
toda a Criação, expressando plena e equilibradamente as suas emoções e
dissolvendo suas couraças afetivas e relacionais.
Possibilita ainda que não se reprima nenhuma emoção vivenciada, ao
contrário, que se perceba a emoção, que se sinta, se expresse e deixe
que passe.
41
Bhakti Yoga (o Yoga da devoção e do Amor Universal) é o processo, no
universo hindu, mais indicado para trabalhar este Granthi, e Prema (a
realização do Amor Universal) é o coroamento deste processo.
● Finalmente, o terceiro nó, Shiva Granthi (ou Rudra Granthi),
localiza-se na região do Ajña Cakra.
Ajña é o Chakra que tanto gerencia o exercício da especulação
intelectual e racional (desde o que se refere a vazia "masturbação
mental" até à reflexão sobre o Conhecimento), quanto à própria visão da
Unicidade e da realidade de que somos a plenitude e a felicidade que
buscamos.
O Ajña Chakra também está relacionado com a conexão com as outras
dimensões, com a sensitividade, a intuição, a mediunidade, e está
relacionado à glândula hipófise.
Shiva é o deus hindu dos ascetas, do Yoga e da meditação. Simboliza
nosso próprio poder de transformar nossa vida e transmutar toda a
sombra em Luz ; e também simboliza a conexão com nosso interior, com
nosso centro.
Shiva Granthi faz com que o homem se perca na intelectualidade vazia
e estéril, não instrumentalizando eficientemente seu complexo psíquico
para a auto-realização.
Perder-se no caminho em função da aquisição de Siddhis (poderes
psíquicos) quando isto desequilibra o ego e a mente, também é um
obstáculo relacionado ao Shiva Granthi.
Este Granthi é desbloqueado por Jñana Shakti, o poder de conhecer.
Tanto de conhecer no sentido de acumular informações, como conhecer
no sentido do próprio Conhecimento e Sabedoria.
O desejo pela liberação, pela consciência da Unidade, despertado no
rompimento do segundo Granthi, faz com que o homem use sua mente e
intelecto para questionar e refletir sobre esta Unidade.
Shiva Granthi também está relacionado aos anéis musculares oral
e ocular, da psicologia Reichiana.
Rompido Shiva Granthi obtem-se a visão da Realidade Absoluta.
Sattwa Guna é o impulso que permeia este nível.
42
Dentro do amplo instrumental do Tantra, a principal técnica
utilizada para auxiliar no rompimento dos Granthis, é Bhastrika (o
Fole), que além de ser um Pranayama (trabalho respiratório e
energético), é uma poderosa Kriya (técnica de purificação).
Jñana Yoga (o Yoga do Conhecimento e da Sabedoria) e Raja Yoga (o
Yoga da meditação) são, dentro da perspectiva hindu, os caminhos mais
indicados para trabalhar e superar este Granthi.
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YOGA E YOGATERAPIA NA PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DOS DESEQUILÍBRIOS DOS
DOSHAS.
"Yoga e Ayurveda caminham juntos. Yoga e Ayurveda são antigas
disciplinas de vida que tem sido praticadas há muitos séculos na India.
Eles são mencionados nos Vedas e nas Upanishads. Yoga é a ciência da
união com o Divino, com a Verdade, e o Ayurveda é a ciência da vida.
Yoga participa com o Conhecimento e o Ayurveda com a perfeita saúde.
Portanto, um yogi que não conhece Ayurveda é um meio-yogi e um
terapeuta ayurvédico que não conhece Yoga é um meio-terapeuta
ayurvédico. O objetivo do Yoga é a união com o Ser Supremo, mas esta
união só pode ser obtida quando você tem um corpo saudável, uma
mente saudável e uma consciência saudável. Assim , Yoga e Ayurveda
são os alicerces da vida. São as duas faces de uma mesma moeda. Eles
são Um. Asana, pranayama, relaxamento, mantra e meditação são
algumas das principais prescrições do Ayurveda."
Dr. Vasant Lad
"O Yoga é o aspecto prático das escrituras védicas, enquanto que o
Ayurveda é o da cura. Na prática, ambos se superpõem."
David Frowley
Segundo o Samkhya - a filosofia pré-védica que embasa o Yoga e o
Ayurveda e que classifica e estuda todo o processo da criação do Universo
- esta criação começa a partir da interação de um princípio espiritual,
transcedental chamado Purusha, com um princípio vital, material –
chamado Prakriti.
Fazendo uma analogia, Purusha seria como a eletricidade e Prakriti, a
lâmpada. A luz - neste caso a Criação - ocorre quando a Consciência e a
energia animam a matéria.
Da mesma forma como a luz gerada por uma lâmpada é fruto da
interação das três cores básicas - amarelo, azul e vermelho - a Prakriti
age na Criação manifestando suas três Gunas - as qualidades da natureza
44
material : Sattwa , o princípio do equilíbrio, da paz, da pureza ; Rajas ,
o princípio do movimento, da atividade, da paixão ; e Tamas, o princípio
da inércia, da escuridão e da ignorância.
As Gunas vão interagir complexa e infinitamente dos níveis mais sutís
aos mais densos da criação, do mais espiritual ao mais abissal. Segundo o
Tantra - e este conhecimento é importante no trabalho com Yoga e com
Ayurveda - a função de Rajas (equilibrado) é atuar de forma ativa sobre
Tamas para suprimir Sattwa, ou utilizar Sattwa para se equilibrar e
suprimir Tamas. A função de Sattwa é criar condições para a
transcendência, e a de Tamas é manter o estado de ignorância.
A partir da manifestação das Gunas surge o nível Causal – Mahat ou
Buddhi. No homem, Buddhi é o intelecto superior responsável pela
faculdade do discernimento, e é aonde centra-se Avidya, a ignorância do
nosso estado Uno, e que resulta em Maya, a identificação equivocada com
esta realidade dual, e consequentemente com o ego e com a mente.
Localiza-se - usando as duas terminologias hindus que definem os
diferentes corpos e dimensões do ser - no Karana Sharira (o corpo causal,
o inconsciente) ou ainda em Ananda e Vijñana Maya Kosha (os
"invólucros" da bem-aventurança e do intelecto).
De Buddhi manifesta-se Ahamkara, o ego. Do ego manifesta-se
Manas - a mente, o receptáculo de Chitta, a matéria mental e a memória
de onde advém os Vrittis, os movimentos da mente (os pensamentos).
Nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações vão criar os
Samskaras (impressões na mente) que vão determinar os sistemas de
crenças e padrões - Vasanas (tendências), isto é, nosso caráter e
personalidade. Isso tudo se processa no nivel do Sukshma Sharira - corpo
sutil (ou em Mano e Prana Maya Kosha, os invólucros da mente e do
Prana).
Em Pranamaya Kosha é que se processa o nível mais periférico dos
Chakras (as pétalas) e as Pranavaha Nadis (condutos de energia que
conduzem o Prana).
Em Manomayakosha , Ojas Shakti - a energia mental - é conduzida
pelas Manovaha Nadis (Nadis que conduzem Ojas).
Manomaya e Vijñanamaya Kosha estão relacionados ao nível mais
interno dos Chakras (botão), e Anandamaya Kosha ao nível mais
profundo - a raíz dos Chakras.
45
De Manas, manifestam-se os 5 Tanmatras (5 sentidos : visão,
audição, paladar, olfato, tato), os 5 Jñana Indriyas (órgãos de
conhecimento : olhos, ouvidos, pele, nariz, língua), os 5 Karma Indriyas
(órgãos de ação : pés, mãos, bôca, ânus, genitais) e os 5 Mahabhutas
(elementos : terra-Prihtivi, fogo-Agni ou Tejas, água-Jala ou Apas , ar-
Vayu, éter-Akasha). Isso tudo localiza-se no nível do Shtula Sharira, o
corpo denso (ou Annamaya Kosha, o invólucro do alimento, área de
atuação do Jataragni).
Buddhi, Ahamkara e Manas, compõem o Antahkarana, ou órgão
interno.
Finalmente, da interação dos 5 Mahabhutas surge o Tridosha (os três
Doshas) :
Vata, da interação do éter com o ar: Dosha frio e seco, e que
fundamentalmente controla o movimento.
Pitta, do fogo com a água: Dosha quente, que controla o metabolismo.
Kapha, terra e água: Dosha frio e úmido, que controla a estrutura.
E a infinita e complexa interação destes três princípios reflete o
aspecto mais material da criação dos níveis macro ao microcósmico em
todos os seres vivos. Os Doshas também são a ponte entre nossa mente
e nossa fisiologia.
Cada um dos Doshas está relacionado a uma essência sutil : Vata está
relacionado com o Prana - a energia vital, que se subdivide em 5 Pranas
(ou Vayus = ventos) ; Pitta com Tejas ou Agni, o fogo essencial (cujo
aspecto mais importante para o Ayurveda é Jataragni, o fogo digestivo) e
Kapha com Ojas (a energia mental e sexual) e com os liquidos corporais.
Poderíamos dizer, utilizando as palavras de Robert Svoboda, que
Prana, Tejas e Ojas "são as expressões quintessenciais dos 5 Mahabhutas
em sua aplicação à vida encarnada" e que os Doshas "são as formas mais
grosseiras de Prana, Tejas e Ojas", e "são as formas condensadas dos 5
Mahabhutas".
As três Gunas atuam interagindo-se ampla e profundamente nos e
com os três Doshas, mas de uma forma geral, Vata e Pitta relacionam-se
mais a Rajas e Kapha a Tamas (Sattwa é a Guna do equilíbrio).
Davi Frowley chama as Gunas de “Doshas mentais”.
46
Há mais de 5000 anos na India, desenvolveu-se a Medicina
Ayurvédica, profundamente embasada na filosofia Samkhya e no Tantra
(também de origem dravidiana pré-védica). Nesta ciência, a espinha
dorsal é o conhecimento dos Doshas e sua atuação no ser humano, tanto
física, quanto psicológica , emocional e energéticamente.
À partir dos conhecimento dos Doshas e da origem e consequências
de seus desequilíbrios, estabeleceu-se tipologias específicas, e à partir
daí toda uma metodologia de diagnósticos, dietética, massagens,
fitoterapia, farmacologia, cirurgia, etc.
Todas as pessoas apresentam uma interação complexa destes três
princípios. O mais comum é predominar um dos Doshas, havendo o
hábito de ser dizer, por exemplo, que tal pessoa é "Vata-Pitta" ou " Pitta-
Kapha", considerando-se o Dosha predominante e o que vem em segundo
lugar de importância.
São duas, as classificações consideradas para efeito do levantamento
da tipologia pessoal: a Prakriti, isto é, a sua configuração dos três
Doshas por ocasião de seu nascimento, e a Vikriti, a configuração que se
apresenta agora, neste momento. A sua referência de equilíbrio é a sua
própria Prakritti. As terapias ayurvédicas estarão sempre ajudando a
manter e/ou trazer sua Vikriti ao nível da sua Prakriti.
O Dosha Vata é sempre o que mais se desequilibra, geralmente
também desequilibrando os outros doshas.
Este perfil pessoal vai apontar entre outras coisas - e o que é, aliás, o
assunto central deste texto - os pontos fracos, as vulnerabilidades e
fragilidades inerentes aos Doshas predominantes, e quando em
desequilíbrio.
Predominância Vata ou aumento de Vata, por exemplo, criam
vulnerabilidades na área das articulações (artroses, artrites, etc.), dos
intestinos (prisão de ventre), tendência para o consumismo, apetite
instável, stress, doenças nervosas, fobias, dores em geral, medos,
insônia, e memória ruim. Como é um Dosha frio e sêco, poderá haver
tendência a se resfriar, e a ter pele e cabelos sêcos. Tem normalmente
estrutura corporal magra e ossuda.
Vata está relacionado aos 5 Pranas, pois cada Prana é um sob-Dosha
de Vata (cada Dosha tem 5 sub-Doshas), ainda assim, tem uma relação
mais intensa com os Pranas Prana (aspecto funcional do prana que
gerencia os processsos de absorção. Está relacionado ao Chakra Anahata
47
- elemento ar - e a glândula timo, gerenciando a respiração, atividade
cardíaca, cintura escapular , membros superiores, afetos e sentimentos) e
ao Prana Udana ( É o Prana do Chakra Vishuddha - elemento éter - e da
glândula tireóide. Gerencia voz, garganta, cervical, visão, olfato, audição,
todo o cérebro, criatividade, comunicação).
A predominância de Pitta ou seu aumento excessivo, poderá acarretar
em fragilidade na área estomacal - gastrites, por exemplo - se abusar,
pois Pitta come muito bem e em geral digere bem. Tem
tendência à irritabilidade, raiva, ódio e ciúme. É o "pavio curto", o que
aliás também é péssimo para o estômago, aumentando a secreção de
ácido clorídrico, tornando-o uma vitima potencial de úlcera.
Eventualmente pode ter desarranjos intestinais e problemas de pele.
Como é um Dosha quente, Pitta tem pouca tolerância ao calor.
Pitta está relacionado ao Prana Samana (Prana da assimilação.
Relaciona-se ao Chakra Manipura - elemento fogo e a glândula pâncreas,
gerenciando o calor corporal, a digestão, estômago, intestino delgado,
fígado, vesícula, emoção, auto-estima, poder pessoal)
Por fim, a predominância de Kapha apresenta normalmente forte
estrutura corporal com tendência a obesidade. De apetite voraz, tem
tendência a ter glicose e colesterol altos. Dorme muito. Pode vivenciar
obesidade, preguiça, pessimismo, inveja, estados depressivos, e também
avareza e mesquinhez.
Kapha tem tendência à criar muito muco, devendo ter cuidado para
evitar pneumonias, rinites, sinusites, bronquites.
E uma das principais características de Kapha é a umidade e a
oleosidade.
Kapha está relacionado aos Pranas Vyana (Prana da circulação. Está
relacionado ao Chakra Swadhisthana - elemento água - e às glândulas
reprodutoras, gerenciando a circulação dos líquidos pelo corpo, a cintura
pélvica, região lombar, sensualidade, sexualidade e reprodução) e Apana
(Prana da eliminação. Relacionado ao Chakra Muladhara - elemento terra
- e as glândulas supra-renais, e gerencia a base, as pernas e os pés,
intestino grosso, ânus, excreções de uma forma geral, instinto de defesa,
apego, medo).
Então, para ajudar na promoção da saúde e no tratamento das
doenças, o Ayurveda utiliza o Yoga como uma das suas mais importantes
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ferramentas terapêuticas. Aliás, todo o conhecimento - teórico e prático
- espiritual, filosófico e terapêutico hindu repousa sólidamente sobre os
pilares do Ayurveda, do Yoga, do Tantra e da Vedanta.
Seguindo a premissa ayurvédica de que todo o trabalho deve ser
absolutamente personalizado, a Yogaterapia ayurvédica (chamada pelo
Dr. Vasant Lad de AyurYoga) vai buscar atuar de encontro às
particularidades tipológicas de cada um , utilizando o instrumental do
Hatha e do Tantra Yoga - Asana (posturas), Pranayama (respirações),
Kriya (limpezas), Bandha (contrações), Mudra (gestos energéticos),
Mantra (vocalizações energéticas), Nidra (relaxamento) e meditação - que
podem ser associados a práticas ayurvédicas complementares, tais como
massagem, dietética e fitoterapia.
A prática yóguica mais diretamente relacionada com os Doshas é a
Pavana Muktasana (literalmente "liberação dos ventos" - articulares,
estomacais e intestinais).
Trata-se de uma técnica formada de 4 séries de exercícios físicos e
respiratórios :
- A primeira série chamada "anti-reumática" (ou Sukshma Vyayama :
exercícios sutís), trabalha mobilizações que movimentam todas as
articulações do corpo, desimpedindo o fluxo energético por atuar sobre
os Chakras auxiliares localizados em cada articulação do corpo. As
articulações acumulam toxinas oriundas principalmente da má
alimentação e da vida sedentária. Esta série está relacionada a Vata
Dosha.
- A segunda série chamada "anti-gastrítica" (ou Apanasana : as Asanas
do Apana, a energia que gerencia a excreção), trabalha envolvendo
principalmente a musculatura abdominal. Energiza e equilibra o
Jataragni. Esta série está relacionada a Pitta Dosha, embora Vata
também seja beneficiado em razão de sua tendência à prisão de
ventre.
- A terceira série, energizante (ou Shakti Bandha: contrações
energéticas), está relacionada a Kapha Dosha.
- E a quarta série chamada Trataka, são exercícios específicos para os
olhos, e que vão beneficiar especialmente Pitta, que é o Dosha dos
olhos, da visão.
As técnicas de Pavana Muktasana foram resgatadas e recodificadas
por Swami Satyananda Saraswati, e podem ser encontradas em seu livro
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: " Yogasana, Pranayama, Mudra, Kriya, Nidra" e no livro
"Psicologia do Tantra" do prof. Paulo Murilo Rosas.
Pavana Muktasana é excelente para manter e/ou restaurar o equilibrio
dos três Doshas.
A série de Surya Namaskaram (saudação ao Sol) também pode e
deve ser feita regularmente para equilibrar os Doshas. Deve-se apenas
observar que esta série, segundo o Tantra, atua energizando
especialmente a Nadi Pingala (polaridade solar, masculina, ativa, quente,
positiva, tonificante). Como Vata e Kapha estão mais relacionados a Nadi
Ida (polaridade lunar, fria, passiva, feminina, negativa, sedante) e Pitta a
Nadi Pingala, as pessoas de Vata e Kapha devem fazer a série de forma
bem dinâmica com as respectivas respirações (Vata deve estar muito
atento ao ritmo) e as pessoas Pitta devem fazer a série mais lentamente,
com a respiração livre, suave e profunda, com ênfase na expiração.
Vata está relacionado com o Chakras Anahata (elemento ar) e
Vishudha (éter) e necessita de "trabalho de base" para drenar o excesso
de energia dos Chakras superiores para os básicos .
Vata será beneficiado com a prática de Yoga Sukshma Vyayama (ver
"Psicologia do Tantra" , prof. Paulo Murilo Rosas), que aquece e promove
"grounding", trabalhando a energia dos Chakras superiores para os
básicos (Shristhi Krama, ou o Caminho da criação).
Posturas de grounding também são os Trikonasanas e Parshwa
Konasana - que também aumentam a capacidade respiratória
promovendo a abertura do gradil costal - e os Guerreiros
(Virabhadrasana) 1 e 2.
O trabalho de Pavana Muktasana é excepcionalmente benéfico para
Vata, especialmente as duas primeiras séries, mas as pessoas que
possuem este Dosha muito elevado não devem exagerar, pois esta
técnica trabalha movimentando a energia dos Chakras básicos para os
superiores (chamado no Tantra de Laya Krama, ou o Caminho da
dissolução). Uma solução seria alternar Pavana Muktasana com Yoga
Sukshma Vyayama.
Posturas de meditação - Dhyanasanas (Padmasana, Vajrasana,
Sukhasana, Siddhasana) vão dar segurança e estabilidade para Vata.
É o Dosha mais beneficiado pelas práticas de concentração e
meditação.
50
Surya Namaskaram também é excelente para equilibrar Vata,
promover grounding, aquecer e manter as articulações e os intestinos em
boas condições.
Trabalhos articulares para a coluna, como o Gato - que pode ser
desdobrado de várias formas - vão manter a saúde das articulações
vertebrais, raízes nervosas, ligamentos e músculos das costas.
Também são interessantes as posturas de extensão (Bhujangasana,
Dhanurasana, Chakrasana, Ustrasana) - para abrir os peitorais e o gradil
costal; de flexão da coluna (Paschimottanasana, Padahastasana,
Janushirshasana) para tonificar os intestinos e sedar o sistema nervoso ;
e de equilibrio (Vrikshasana, Natarajasana).
E é bastante útil a prática de Mula Bandha (contração do períneo)
durante as Asanas, para tonificar o aparelho excretor e para energizar os
dois primeiros Chakras básicos.
Pranayamas com ritmo e sem retenções prolongadas - como Anuloma
Viloma, respiração completa com Krama, respiração quadrada
(Samavritti) - são boas para equilibrar Vata.
Pitta Dosha será reequilibrado com Pranayamas sedantes : Chandra,
Chandra Bheda, Nadi Shodhana, Shitali, Sitkari. e lentas respirações
abdominais com ênfase na expiração.
Asanas de compressão do ventre são importantes para sedar Pitta e
acalmar o Jataragni, como Paschimottanasana e Matsyendrasana.
Inversamente, posturas de extensão (Chakrasana, Ustrasana,
Dhanurasana) vão tender a aumentar Pitta e o Jataragni.
O trabalho de Pavana Muktasana - especialmente a segunda série - vai
ajudar a equilibrar Pitta.
Pitta também é sedado com posturas de inversão (Viparita karani e
Sarvangasana). Posturas de equilíbrio também são
importantes para Pitta.
É o Dosha mais beneficiado pela prática de relaxamento e de Yoga
Nidra (meditação composta de relaxamento com visualizações).
O Dosha Pitta é o que está mais diretamente relacionado com
Jataragni, o fogo digestivo, por isso são muito úteis os trabalhos com as
Kriya (purificações) Agni Sara (limpeza pelo fogo) e Kapalabhati (o
51
sopro do crâneo) e com Uddhyana Bandha (se não houver gastrite),
feitas sem exagero. Vão equilibrar e manter a boa qualidade do Jataragni.
Bhastrika Pranayama (o fole) vai aumentar bastante Pitta e o
Jataragni.
Yoga Sukshma Vyayama também vai tender a aumentar Pitta.
De uma forma geral, os Pranayamas - especialmente os com
retenções mais longas - vão beneficiar especialmente o Dosha Kapha,
mantendo o aparelho respiratório em boas condições.
Respiração completa com ritmo (1:4:2:4) e com ênfase nas fases
média (intercostal) e alta (torácica).
Kriyas de limpeza como Kapalabhati e Agni Sara, e Pranayamas
tonificantes como Bhastrika (se não for hipertenso), Surya e Surya
Bheda, Ujjayi, feitos moderadamente, são interessantes para Kapha.
Este Dosha também será muito beneficiado com a prática de Asanas
de uma forma mais movimentada, como Surya Namaskaram ou Asanas
com Vinyasa (Asanas dinâmicas, como Ashtanga Vinyasa).
Kapha, o Dosha da base, da estrutura, está relacionado aos Chakras
básicos : Muladhara (elemento terra) e Swadhisthana (água).
A Pavana Muktasana vai atuar positivamente em Kapha, drenando o
excesso de energia da base para os Chakras superiores.
Já Yoga Sukshma Vyayama, que embora seja uma técnica quente e
movimentada - bom, portanto, para Kapha - funciona drenando a energia
para os Chakras básicos, e não deve ser feita com exagero,
preferencialmente alternando-se com Pavana Muktasana.
Segundo o critério de Langhana e Brimhana - os parâmetros
ayurvédicos de classificação e avaliação dos processos da sedação e da
tonificação (e que será assunto de um outro texto), dentre as Asanas e os
Pranayamas que tem efeitos sedantes e tonificantes, aqueles que tem
específicamente efeito equilibrador e harmonizador para todas as
tipologias são : Nadi shodhana (a respiração polarizada) e Shirshasana
(postura sobre a cabeça), esta ultima levando-se em conta suas contra
indicações (hipertensão, glaucoma,etc.).
52
ASANAS PARA OS DESEQUILÍBRIOS DOS DOSHAS :
(Segundo o Dr. Vasant Lad)
1. ASANAS PARA DESEQUILIBRIOS DE VATA :
- ASMA : Supta Vajrasana, Halasana, Pavana Muktasana (a asana) ,
Shavasana.
- DOR NAS COSTAS : Pavana Muktasana, Halasana, Ardha Chakrasana,
Supta Vajrasana.
- PRISÃO DE VENTRE : Supta Vajrasana, Yoga Mudra, Pavana
Muktasana, Sarvangasana, Shavasana. Fazer todas as asanas com a
barriga contraída.
- DEPRESSÃO : Yoga Mudra, Halasana, Padmasana, Nitambasana,
Shavasana.
- DOR CIÁTICA : Pavana Muktasana, Supta Vajrasana, Halasana, Yoga
Mudra, Ardha Chakrasana.
- DEBILIDADE SEXUAL : Supta Vajrasana, Halasana, Sarvangasana,
Kukutasana.
- VARIZES : Sirshasana, Supta Vajrasana, Shavasana.
- RUGAS : Yoga Mudra, Supta Vajrasana, Sirshasana, Halasana.
- ARTRITE REUMATÓIDE : Ardha Chakrasana, Dhanurasana, Halasana,
Sirshasana, Supta Vajrasana.
- DOR DE CABEÇA : Halasana, Yoga Mudra, Sirshasana.
- INSÔNIA : Shavasana, Bhujangasana, Supta Vajrasana.
- DISTÚRBIOS MENSTRUAIS : Halasana, Bhujangasana, Ardha
Chakrasana, Yoga Mudra.
2. ASANAS PARA DESEQUILÍBRIOS DE PITTA
- ÚLCERA PÉPTICA : Shitali Pranayama.
- HIPERTIREOIDISMO : Sarvangasana, Karna Pidasana.
- MÁ DISGESTÃO : Pavana Muktasana, Matsyasana, Shalabhasana.
- HIPERTENSÃO : Sarvangasana, Bhujangasana, Naukasana.
- RAIVA OU ÓDIO : Naukasana, Sarvangasana, Shavasana.
- ENXAQUECA : Shitali Pranayama, Sarvangasana, Matsyasana.
- COLITE : Matsyasana, Karna Pidasana, Navasana, Dhanurasana.
- DISTÚRBIO HEPÁTICO : Matsyasana, Sarvangasana, Karna Pidasana.
- HEMORRÓIDAS : Matsyasana, Sarvangasana, Dhanurasana.
53
- ESTOMATITE (Inflamação da língua) : Shitali Pranayama.
3. ASANAS PARA DESEQUILÍBRIOS DE KAPHA :
- BRONQUITE : Sirshasana, Halasana, Garbhasana, Supta Vajrasana,
Ardha Chakrasana, Matsyasana,
- EFIZEMA : Ardha Chakrasana, Sarvangasana.
- RINITE : Matsyasana, Navasana, Halasana, Dhanurasana, Bhastrika.
- SINUSITE : Simhasana, Paschimottanasana, Matsyasana.
- DIABETES : Navasana, Matsyasana, Ardha Chakrasana, Supta
Vajrasana, Garbhasana.
- DESORDENS GASTROINTESTINAIS CRÔNICAS : Matsyasana,
Shalabhasana, Bhujangasana.
- GARGANTA INFLAMADA : Simhasana, Sarvangasana, Shalabhasana,
Matsyasana.
- BRONQUITE ASMÁTICA : Ardha Chakrasana, Dhanurasana,
Sarvangasana, Navasana, Nitambasana, Matsyasana, Bhujangasana.
54
KARMA e KRIYA
As purificações no Yoga, no Tantra e no Ayurveda
A intenção deste pequeno texto comparativo, é apenas o de " lançar
lenha na fogueira " no sentido de estimular um desenvolvimento mais
amplo e profundo no estudo e na pesquisa sobre as purificações e
limpezas, tanto na área do Ayurveda, como nas áreas do Yoga e do
Tantra.
No Ayurveda e no Hatha Yoga, as purificações trabalham do físico para
o energético. No Tantra ocorre o inverso. Isso caracteriza perfeitamente o
aspecto fundamentalmente holístico das ciências e das práticas hindus,
onde o homem é considerado como sendo um ser uno em suas dimensões
física, emocional, psíquica e energética, e que é absolutamente
interagente com seu meio e com seus semelhantes.
Estas interações se processam sempre no sentido da " mão dupla" ,
isto é - como diz a música de Walter Franco - "de dentro prá fora, de fora
prá dentro". Ou seja, mexeu no externo afeta o interno, e vice-versa.
E se nós queremos trabalhar com a energia, devemos primeiro
promover a desobstrução de seus caminhos. E este é o objetivo das
Kriya.
I. No Ayurveda (Panchakarma)
A) Fonte : Gérard Edde
SEGUNDO CHARAKA :
1. Lavagem anal (clister)
2. Purgação
3. Vômito provocado
4. Lavagem anal com óleos
5. Tratamento nasal
55
SHARANGADHARA considerava a sangria como um dos Panchakarmas.
SEGUNDO SUSHRUTA :
1. Métodos preparatórios : dieta, lavagem a óleo, sudorificação
2. Métodos principais : vômitos, purgação, clister, tratamento nasal,
sangria
3. Métodos de revitalização: repouso, alimentação equilibrada
SEGUNDO O AUTOR DO LIVRO :
1. Lavagem a óleo (administração interna e externa de óleo)
2. Sudação - Swedan (sol, vapor, banho quente, sauna)
3. Clister (lavagem intestinal)
4. Tratamento nasal - Nasya
5. Vômito - Vaman
B) Fonte : Dr.Vasant Lad
1. Vômito terapêutico (Vaman)
2. Purgativos ou laxantes (Virechan)
3. Enema / clister medicamentoso (Basti)
4. Administração nasal de medicamentos (Nasya) - massagem com ghee
5. Redução sanguínea / purificação do sangue (sangria)
C) Fonte : Dr.Deepak Chopra
1. Ingestão de óleo (Sneehana)
2. Laxante (Virechana)
3. Massagem de óleo (Abhyanga)
4. Tratamentos sudoríferos (Swedana)
5. Clister medicinal (Basti)
6. Aplicações nasais (Nasya)
56
II. No Hatha Yoga (Shat Karmas)
HATHA YOGA PRADIPIKA (tradução de Caio Miranda) :
1. Dhauti : limpeza estomacal com gaze
2. Basti : limpeza do reto com água
3. Neti : limpeza do nariz com fio
4. Trataka : fixar os olhos sem pestanejar
5. Nauli : movimentação dos músculos reto-abdominais
6. Kapalabhati : respiração do fole
GERANDHA SAMHITA (trad. Caio Miranda) :
1. Dhauti Antardhauti (lavagem interna) Vatasara (purificação pelo
vento) ; Varisara (purificação pela água) ; Agnisara (purificação pelo
fogo) ;
Dantadhauti (limpeza dos dentes)
Dantamuladhauti (purificação dos dentes) ; Jihwa
Sadhana (purificação da lingua)
Hriddhauti (limpeza do coração) Dandadhauti
(purificação com vara de tanchagem) ; Vamana (vômito) ; Vasas
(limpeza com gaze)
Mulasadhana (limpeza do reto)
Karmadhauti (limpeza dos ouvidos)
Kapalarandradhauti (pressão do polegar na testa)
2. Basti Jalabasti (limpeza do reto com água)
Sthalabasti (paschimottanasana com ashwini mudra)
57
3. Neti Sutraneti (limpeza do nariz com fio)
Jalaneti (limpeza do nariz com água)
Dughdaneti (limpeza do nariz com leite)
Ghrtaneti (limpeza do nariz com ghee)
4. Nauli / Lauliki : movimentos do abdomen
5. Trataka : para os olhos
6. Kapalabhati Vamakrama
Vyutkrama e Sitkrama (limpeza das narinas com
água)
III. No Tantra (Kriya)
(Fonte : Paulo Murilo Rosas)
1. Padadhirasana : compressão das axilas com as mãos, para a
desobstrução das narinas.
2. Kapalabhati : sopro do craneo brilhante (respiração de fole com
ênfase na expiração) desobstrução das nadis Ida e Pingala e
energização do Manipura Chakra.
3. Agni Sara : purificação com o fogo (fole abdominal com pulmões
vazios) limpeza do Kanda e energização do Manipura Chakra
4. Bhastrika : respiração do fole desobstrução da Sushumna Nadi e
dos Granthis no nível da raiz dos chakras. Energização dos Chakras,
especialmente o Manipura.
5. Nadi Shodhana : respiração polarizada desobstrução e equilibrio
das Nadis Ida e Pingala , no nivel das pétalas dos Chakras.
OBS : No Tantra, as Kriya devem ser feitas sempre antes das Asanas.
Agni Sara, Kapalabhati e Bhastrika, bem como Udhiyana Bandha - que
não é exatamente uma Kriya mas pode ser encaixada aqui - devem ser
executadas seguidas de Kumbhaka com Mula Bandha, Jalandhara Bandha
e Jñana Mudra.
58
LANGHANA E BRIMHANA : O Yin/Yang do
Ayurveda.
Sua aplicação no Yoga e na Yogaterapia.
A intenção deste texto é apresentar os conceitos ayurvédicos ainda
pouco conhecidos de Langhana e Brimhana. Estes conceitos vem trazer
para o Yoga e para a Yogaterapia subsídios técnicos importantes na área
da tonificação e da sedação. Considera-se que o yogi Krishnamacharya
quem adaptou para as Asanas e Pranayamas os conceitos ayurvédicos de
Langhana e Brimhana.
Na tabela 1, temos a apresentação de Langhana e Brimhana.
Na tabela 2, vemos como os critérios de sedação e tonificação atuam
na área da respiração.
Na tabela 3, temos estes conceitos aplicados aos pranayamas,
e na Tabela 4, sua aplicação nas asanas.
Seguindo o mesmo critério que norteia as ciências orientais, onde a
intuição e a experimentação foram e são as principais ferramentas
utilizadas para a descoberta e para o desenvolvimento da grande
quantidade de técnicas disponíveis, e também considerando a escassa
literatura sobre Ayurveda existente em língua portuguesa, sugiro a todos
os alunos e colegas interessados em Yoga e Ayurveda que pratiquem e
experimentem a técnica de Langhana e Brimhana aplicada ao Yoga e
continuem aprofundando e desenvolvendo este útil conhecimento.
Fonte : Dr. Richard Miller, PhD e Joseph LePage - Integrative Yogatherapy (USA)
59
LANGHANA BRIMHANA
Guna Tamas Guna Rajas
Contração Expansão
Lunar / Chandra / Tha Solar / Surya / Ha
Feminino Masculino
Frio Quente
Yin Yang
Kapha e Vata Dosha Pitta Dosha
Narina esquerda (Ida) Narina direita (Pingala)
Passivo Ativo
Polaridade negativa Polaridade positiva
Apana vayu (eliminação) Prana vayu (absorção)
Expiração Inspiração
Flexão Extensão
Sist. Nervoso Parassimpático Sist. Nervoso Simpático
Atividade sensora aferente Atividade motora eferente
Catabolismo Anabolismo
Hemisfério direito do cérebro Hemisfério esquerdo
Sedação Tonificação
60
RESPIRAÇÃO
BRIMHANA LANGHANA
Inspiração 〉 Expiração Expiração 〉 Inspiração
Respiração sub-clavicular Respiração abdominal
Respiração rápida Respiração lenta
Narina direita Narina esquerda
Retenção pulmões cheios Ret. pulmões vazios
Respiração pela boca Respiração pelo nariz
Respiração completa ↓↓↓↓ Respiração completa ↑↑↑↑
61
PRANAYAMA
Brimhana
Bhastrika
Surya Pranayama
Surya Bheda
Viloma Krama
Viloma Pranayama
Ujjayi
Nadi Shodhana
Kapalabhati
Anuloma Pranayama
Anuloma Krama
Chandra Bheda
Chandra Pranayam
Shitali e Sitkari
Langhana
62
ASANAS
Brimhana
Shalabhasana (Gafanhoto)
Chakrasana (Roda)
Dhanurasana (Arco)
Purvottanasana (Plano inclinado)
Navasana (Barco)
Virabhadrasana (Guerreiro)
Utkatasana (Cadeira)
Setubhandasana (Ponte)
Bhujangasana (Cobra)
Ardha Shalabhasana (Meio Gafanhoto)
Vrikshasana (Árvore)
Shirshasana
Sarvangasana (Vela)
Viparita Karani (Foice)
Halasana (Arado)
Ardha Chandrasana (Meia Lua)
Trikonasana (Triângulo)
Paschimottanasana (Pinça)
Uttanasana (Pinça em pé)
Matsyendrasana (Torção)
Jathara Parivritti (Torção deitada)
Apanasana (Joelho no peito)
Garbhasana (Feto)
Shavasana (Cadáver)
Langhana
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Sanathana dharma

  • 1. 1 ERNANI FORNARI (Dharmendra) SANATHANA DHARMA (Textos sobre Yoga, Yogaterapia, Vedanta, Tantra e Ayurveda) 2012
  • 2. 2 OM sahanah vavatu Sahagnau bhunaktu Saha viryam karavah vahai Tejaswinah vaditamastu ma Vidhvi ca vahai (Que Deus nos aceite juntos Que trabalhemos juntos Que progridamos juntos Que realizemos a Verdade Que nunca briguemos)
  • 3. 3 À Vyasa, Patanjali, Shankara, Buddha, Swami Tilak, Bhagavan Ramakrishna Paramahansa, Bhagavan Sri Ramana Maharshi, Paramahansa Yogananda, Joseph Le Page, Glória Arieira e Paulo Murilo Rosas
  • 4. 4 ÍNDICE - O processo da Criação segundo a visão do Hinduísmo - A visão Hindú sobre a estruturação do psiquismo - As Gunas (as qualidades da Natureza material) - Os Bhutas e os Doshas - Os Chakras - Granthis, os três nós psíquicos do Tantra - Yoga e Yogaterapia na prevenção e no tratamento dos desequilíbrios dos Doshas. - Karma e Kriya (as purificações no Yoga, no Tantra e no Ayurveda) - Langhana e Brimhana, o Yin/Yang do Ayurveda. Sua aplicação no Yoga e na Yogaterapia - Tratak, o Yoga dos olhos - O Kanda. Calibrando o ponto de equilíbrio - Os Deuses hindús e os Mantras - Yogaterapia Integrativa, uma abordagem do Yoga para o terceiro milênio - Reflexões sobre o ensino do Yoga e da Yogaterapia - Pelos caminhos da Yogaterapia - Quem é o dono do Yoga ? - Yoga, esportes e musculação - Procurando entender a India (a respeito da novela da Globo) - Renascimento - Prana e Pranayama como terapia
  • 5. 5 - Ortodoxos e Heterodoxos, compatibilizando os aparentes opostos TEXTOS COMPLEMENTARES - As 4 Direções e os Animais de Poder no Xamanismo - O perigoso circuito do comer - Quem manda no teu desejo ? - 15 dicas para viver uma vida mais consciente, plena e equilibrada BIBLIOGRAFIA LINKS SOBRE O AUTOR AGRADECIMENTOS OUTROS LIVROS DO AUTOR
  • 6. 6 INTRODUÇÃO Minha inserção no universo oriental (especialmente no hindu) começou em 1974 aos 18 anos quando comecei a praticar Hatha Yoga com um amigo surfista, que foi também quem me apresentou a alimentação Macrobiótica e ao vegetarianismo. Posteriormente fui praticar Yoga (método Shri Yogendra) com o saudoso Vitor Binot (quem se lembra da musica da Joyce, “Monsieur Binot”?). Dois anos depois, aos 20 anos, fui morar no campo, e a partir dalí pude viver toda a vanguarda do movimento alternativo e aquariano brasileiro. Fiz parte da primeira geração dos “hippies de Mauá” (tive o primeiro restaurante natural de Visconde de Mauá, o “Céu da Boca”), morei em comunidades alternativas, morei em ashrams, fui aos primeiros ENCAs (Encontro Nacional de Comunidades Alternativas), ví nascer os movimentos naturalista, espiritualista e ecológico no Brasil, e fiz parte da primeira leva de produtores orgânicos do Rio de Janeiro, pois trabalhei por mais de 10 anos com apicultura e com agroecologia. Paralelamente à isso, continuei desenvolvendo meus estudos e minhas práticas de Yoga e Vedanta, e sobretudo, sempre escrevendo muito. Assim, publiquei um dos primeiros livros de Agricultura Ecológica e um dos primeiros dicionários de Ecologia - lançado na Eco 92 - editados no Brasil. Aos 27 anos conhecí Swami Tilak, um monge hindu que havia dado, descalço e com dois panos enrolados no corpo, duas voltas ao redor do mundo sem ter ou pedir nenhum tostão a ninguém. Não pertencia nem havia criado nenhuma seita ou escola nem, como ele mesmo dizia, fundado nenhum “ismo”. Apenas estava nos lugares onde o levavam e alí ele distribuía seu Conhecimento e sua Sabedoria com total desapego, sem fazer questão de ter discípulos, fama ou alguma instituição dando suporte. Este ser especial, que faleceu um ano depois, iniciou-me em 1983 com o nome espiritual de Dharmendra, e desde então tem sido uma das minhas grandes referências não só dentro do universo hinduísta, como em relação ao meu próprio desenvolvimento pessoal/espiritual.
  • 7. 7 Em 1996, aos 40 anos, voltei para a cidade grande depois de 20 anos na roça, e (re)iniciei minha vida profissional com Yoga, Yogaterapia e com Ayurveda, e posteriormente com Xamanismo. Fiz formações profissionais em Hatha Yoga, Dakshina Tantra Yoga, Yogaterapia Integrativa, Massoterapia, Ayurveda, Renascimento, Reiki, fui professor em curso de formação de instrutores de Yoga (ABPY) e ministrei cursos de Massoterapia Ayurvédica. Nesse meio tempo entrei de sócio, juntamente com meu amigo Ralph Viana, de um dos mais tradicionais espaços de Yoga e terapias do Rio de Janeiro – o Espaço Saúde (ex- Instituto Ganesha) - onde estou até hoje trabalhando como instrutor de Yoga e como terapeuta. Em 1998 iniciei minha inserção no universo xamânico e posteriormente aprendi uma poderosa técnica terapêutica xamânica chamada “Alinhamento Energético”, e com esta terapia venho trabalhando desde 2003 no Brasil e na Europa (onde o trabalho se chama Fogo Sagrado) fazendo palestras, atendimentos individuais, workshops, eventos e formando terapeutas. O presente livro é uma coletânea – revisada e aumentada – dos artigos e matérias que venho escrevendo desde 1996 para publicações da área alternativa, terapêutica e espiritualista (tais como os jornais cariocas Quiromance, Ganesha, Prana, Oxigênio, Essência Vital, YinYang, Folha Esotérica, Bem Estar, Qualittá, Madhava, Estar Bem, etc.) bem como para dezenas de sites do cyberspace espiritualista, naturalista e ecológico brasileiro. Como bom aquariano (e com meio de céu em Gêmeos), minha postura no universo hindu nunca foi a de aderir ou de seguir exclusivamente uma escola, Mestre ou linha específica, mas a de procurar ter uma visão bem ampla e panorâmica - e profunda - desse antigo e complexo universo cultural e espiritual oriental, e assim desenvolver minha visão de mundo e construir meu caminho pessoal sempre dentro de uma ótica eclética, universalista e ecumênica. Os textos aqui apresentados, embora tenham como foco central o universo filosófico e “tecnológico” Hindu, são apresentados e desdobrados dentro de uma perspectiva aberta e isenta, sem estar vinculada a nenhuma leitura ou interpretação específica ou particular, e oferecendo,
  • 8. 8 inclusive, analogias com outras fontes de Conhecimento como a Psicologia ocidental, a Fisica Quântica e o Xamanismo. Ofereço este livro para todos os clientes e alunos que passaram pela minha vida profissional, como a minha humilde e honesta contribuição pelos mais de 35 anos de estudo, pesquisa e prática e quase 20 anos de intensa atividade profissional como instrutor de Yoga, yogaterapeuta e massoterapeuta. E também ofereço este livro como uma comemoração pelo fechamento de um ciclo, já que o lançamento deste livro coincide com a minha aposentadoria e com meu retorno ao sitio (onde morei por 20 anos entre os 20 e os 40 anos) após mais de 15 anos de muitas vivências e experiências na cidade grande. NAMASTE !
  • 9. 9 O PROCESSO DA CRIAÇÃO SEGUNDO A VISÃO DO HINDUÍSMO O conceito filosófico que versa sobre o contraponto dialético Absoluto / Relativo (ou Unidade / dualidade, Permanente / impermanente, Manifesto / imanifesto, etc.) é muito presente em quase todas as antigas culturas da Terra : os chineses chamam o Absoluto de Tao e o grande movimento dual e mutante do Universo de Yin e Yang ; muitos índios norte-americanos chamam o aspecto Absoluto de Deus de Wakan-Tanka (o Grande Mistério) e o Espírito Criador de Manitou (o Grande Espírito) ; os índios brasileiros Guaranys chamam o Absoluto de Nhamandú e o aspecto criador de Deus de Tupã Nhanderú. Já os africanos chamam o Absoluto incriado de Olorún e o Deus pessoal Criador de Oxalá ; e os hindus chamam o Ser Absoluto de Brahman e o Deus pessoal de Ishwara (ou Bhagavan). No universo filosófico hindu a investigação sobre Deus, a Criação e o homem (e sua alma) é dividida em 6 grandes escolas - Darshanas ou “pontos de vista”- que vão procurar abordar as mesmas temáticas por caminhos diferentes. Meu Mestre dizia que os Darshanas são como um cubo, que é uma única peça com 6 lados. Estes Darshanas são : Nyaya (trata da busca das grandes respostas da existência através do desdobramento da Lógica. Esta escola influenciou não só a estruturação teórica e metodológica das outras 5 escolas, como influenciou também a estruturação da Lógica ocidental) ; Vaisheshika (trata da compreensão da Criação através do estudo da natureza física do Universo. É a Fisica Quântica dos Vedas. É a mãe hindu da Física moderna) ; Samkhya (escola que versa sobre o complexo processo psico/físico/energético de como a Consciência, o Absoluto – Purusha - se manifesta e se desdobra como concreto, relativo, material - Prakriti) ; Yoga (escola que versa sobre as técnicas e metodologias para se alcançar a experiência da Unidade – o Samadhi, e que se desdobra em várias linhas, cujas principais são : Jnãna Yoga, Yoga do Conhecimento e da Sabedoria ; Bhakti, Yoga do Amor e da Devoção ; Karma, Yoga da ação sem apego ; Raja, Yoga da Meditação e Hatha, Yoga dos corpos físico e energético) ; Mimamsa (escola que versa sobre a elaborada tecnologia dos rituais e cerimônias védicas) e Vedanta (que versa sobre a Filosofia pura) Como é intrínsecamente característico e tradicional da filosofia hindu sofrer muitos comentários e leituras de seus textos feitos por muitos
  • 10. 10 Mestres ao longo dos séculos, a escola Samkhya recebeu importantes releituras de seus ensinamentos. Vamos apresentar aqui três destas perspectivas, que se por um lado diferem um pouco na forma de se apresentar teórica e técnicamente, por outro mantém o mesmo espírito que norteia a cultura védica.. 1. Segundo H.Zimmer : partir da manifestação de Prakriti com suas Gunas, surge o nível causal - Buddhi / Mahat - a potencialidade suprapessoal das experiências. De Buddhi manifesta-se Ahamkara, o ego, cuja função é apropriar-se dos dados da consciência e errôneamente os atribuir ao Purusha. De Ahamkara manifestam-se : Manas (a mente, a faculdade de pensamento). os 5 Jñana Indriyas (órgãos dos sentidos : ouvido / Shrotra , pele / Twak , olhos / Chakshuh , língua / Rasana e nariz / Ghrana ). os 5 Karma Indriyas (órgãos da ação : bôca / Vak , mãos / Pani , pés / Pada , ânus / Payu , genitais / Upasthani). os 5 Tanmatras (os elementos sutís, primários, compreendidos como as contrapartes internas e sutís das 5 experiências sensoriais, a saber : som, tato, cor e forma, sabor e odor - Shabda , Sparsha , Rupa , Rasa , Gandha). os Parama-Anu (átomos sutis dos quais temos consciencia nas experiências do corpo sutil) os Sthula Bhuta ( os cinco elementos densos : éter, ar, fogo, água e terra, que constituem o corpo denso e o mundo visível e tangível, dos quais temos conhecimento pelas experiências sensoriais). 2. Segundo Dr. Vasant Lad : Da interação Purusha / Prakriti, manifesta-se Mahat (Buddhi), que manifesta Ahamkara (ego), e deste manifestam-se as três Gunas.
  • 11. 11 . De Sattwa, manifestam-se : - As cinco faculdades dos sentidos (Jñana Indriya) : ouvidos, pele, olhos, língua, nariz. - Os cinco órgãos motores (Karma Indriya) : boca, mãos, pés, órgãos reprodutores, órgãos excretores. - A Mente (Manas). . De Tamas manifestam-se : - Som (Guna do éter - Akasha) - Tato (Guna do ar - Vayu) - Visão (Guna do fogo - Agni ou Tejas) - Paladar (Guna da água - Apah ou Jala) - Olfato (Guna da terra - Prithivi) . Rajas não manifesta nenhum Tattwa em especial. 3. Segundo Shri Shankaracharya : Segundo Shankara, o Absoluto - que ele chama de Brahman - quando se manifesta na relatividade, na dualidade , chama-se Ishwara, o Deus Criador , o Deus pessoal / impessoal também chamado de Bhagavan (O Senhor). É o mesmo Jeovah dos judaico-cristãos e o Allah dos mulçumanos. Ishwara atua na Criação dual como Purusha (a Consciência, o Espírito Eterno, o principio masculino, o Pai) e como Prakriti (a Natureza material impermanente, o movimento e a substância do Universo, o principio gerador feminino, a Mãe). Esta Prakriti, ao manifestar-se para criar – no processo de Panchikaram, a densificação - atua na Criação através do movimento das Gunas (Sattwa, Rajas e Tamas). As Gunas quando se interagem para manifestar a Criação, desdobram- se nos Tanmatras, os 5 elementos sutis universai : Akasha/Èter, Vayu/Ar, Tejas/Fogo, Apah/Água e Prithivi/Terra (ainda não são os 5 elementos materiais, e sim, a matriz energética destes). Do aspecto Sattwico do Tanmatra Akasha (éter), manifesta-se o Jñana Indriya (órgão de conhecimento, aferência sensitiva), Ouvido.
  • 12. 12 Do aspecto Sattwico do Tanmatra Vayu (ar), manifesta-se o Jñana Indriya, Pele. Do Sattwa de Apah (água), manifesta-se o Jñana Indriya, Língua Do Sattwa de Tejas (fogo), manifesta-se o Jñana Indriya, Olhos Do Sattwa de Prithivi (terra), manifesta-se o Jñana Indriya, Nariz. A soma dos aspectos Sattwa de cada um dos 5 Tanmatras, vai manifestar o Antahkarana (ou “órgão interno” que é como os hindus chamam o que nós chamamos de “mente”) : Buddhi (a instância mais elaborada do complexo psíquico humano, responsável pelo discernimento, pelas escolhas, e também pela capacidade de observar sem julgar), Manas (a mente que pensa, racional. O conteúdo de Manas chama-se Chitta ou memória, que gera os Vrittis, ou movimentos da mente – os pensamentos) e Ahamkara, o ego individual. Do aspecto Rajasico do Tanmatra Akasha, manifesta-se o Karma Indriya (órgão de ação, eferência motor), Bôca. Do aspecto Rajasico do Tanmatra Vayu, manifesta-se o Karma Indriya, Mãos. Do Rajas de Tejas, manifesta-se o Karma Indriya, Pés. Do Rajas de Apah, manifesta-se o Karma Indriya, Ânus. Do Rajas de Prithivi, manifestam-se os genitais. A soma dos aspectos Rajas dos Tanmatras vai manifestar os 5 Pranas. Prana é a energia vital que sustenta o incessante movimento universal, e subdivide-se em 5 sub-Pranas : Apana (movimento descendente, centrífugo e catabólico, gerenciando no ser humano tudo o que tem que ser eliminado, expelido, excretado. Está relacionado ao Chakra Muladhara e ao elemento Terra) ; Vyana (movimento que gerencia a circulação, o fluir, o distribuir. Está relacionado ao Chakra Swadhisthana e ao elemento Água) ; Samana (a assimilação, a transmutação, o metabolismo. Está relacionado ao Chakra Manipura e ao elemento Fogo) ; Prana (movimento ascendente e centrípeto. Está relacionado ao Chakra Anahata e ao elemento Ar) ; e Uddana (movimento ascendente e centrífugo. Está relacionado aos Chakras Vishuddha – elemento Éter - e Ajña).
  • 13. 13 E a soma dos aspectos Tamas dos 5 Tanmatras vai manifestar os Mahabhutas ou 5 elementos materiais : Éter ou Espaço (Akasha), Ar (Vayu), Fogo (Agni ou Tejas) , Água (Jala ou Apas) e Terra (Prittivi). Tanmatras também significam os 5 sentidos físicos (audição, paladar, olfato, visão, tato), que são relacionados com os Jñana Indriyas. Continuando, e trazendo para o Ayurveda este assunto que foi desdobrado até agora por Shankara : As combinações destes 5 Mahabhutas vão originar os Doshas (Vata – Éter/Ar ; Pitta – Fogo/Água e Kapha – Água/Terra, veja o texto adiante). Continuando a expansão e a pluralização da Prakriti, cada Mahabhuta é constituído dos 5 Mahabhutas (por exemplo, o Vayu/Ar é formado pelo Ar do Ar, pelo Fogo do Ar, pela Água do Ar, pela Terra do Ar e pelo Éter do Ar, e assim por diante). A soma do Agni (Fogo) de cada um dos 5 Mahabhutas (chamados de Bhutagnis) vai formar Jataragni, o Fogo corporal e digestivo. O Jataragni na forma dos Dhatuagnis (Agni dos Dhatus, os tecidos corporais) vai processar todo o ciclo da absorção e metabolismo dos alimentos. O produto deste metabolismo em seu nível energético mais sutil vai resultar na produção de Ojas, a energia que alimenta a mente e a reprodução da espécie. Os Dhatus são os tecidos com os quais o corpo é constituido. Os Dhatus processam os alimentos que ingerimos, cada Dhatu se desdobrando no Dhatu seguinte : primeiro temos Rasa (o plasma, elemento Água), que cria Rakta (o sangue, elemento Fogo), que cria Mamsa (os músculos, elemento Terra), que cria Medha (a gordura, elemento Terra), que cria Ashti (os ossos, elemento Ar), que cria Majja (a medula, elemento Espaço), que cria Shukkra e Artava (os tecidos reprodutivos, que agregam e combinam todos os 5 elementos). O produto desta alquimia de transmutação é a energia Ojas, que circula por todo o sistema junto com a energia Prana. Prana é transportado pelas Pranavaha Nadis, e Ojas pelas Manovaha Nadis, que funcionam como se fossem um fio ou conduto duplo, paralelo. Ojas está relacionada com a energia que Freud chamou de libido. A libido se expressa no segundo Chakra como a capacidade de gerar vida, no sexto Chakra como a capacidade de gerar idéias e no quinto Chakra
  • 14. 14 como a capacidade de expressar a vida e estas idéias na forma de pensamentos, palavras e obras. Porisso determinadas vertentes do Hinduismo recomendavam o celibato como uma forma de não gastar Ojas com sexo e assim direciona-la para a mente. Já na Mitologia diz-se que o Absoluto Brahman se manifesta na dualidade, na relatividade, como a Trimurti, isto é, os três deuses que criam (Brahma), mantém (Vishnu) e destroem (Shiva) o eterno e impermanente Universo material, num imenso e interminável “Lavoisier” cósmico. Cada Deus expressa a Consciência, o principio masculino Yang, e cada esposa (Shakti) de cada Deus (Saraswati, Lakshmi e Durga, respectivamente) expressa o poder criador e gerador, feminino, Yin. A criação do Universo acontece quando Brahma expira, precipitando a Criação (o Big-Bang !) através do poder de Shakti/Prakriti e de suas Gunas. Quando Brahma inspira o Universo é reabsorvido, através da dança cósmica de Shiva (Nataraja). Após um intervalo (Pralaya), o Ciclo volta a se manifestar...
  • 15. 15 A VISÃO HINDÚ SOBRE A ESTRUTURAÇÃO DO PSIQUISMO “Quem sou eu ?” é, sem dúvida, a pergunta mais importante do universo humano. E é claro, “De onde vim e para onde vou ?”, “Quem é Deus ?”, e tantas outras perguntas do mesmo teor que vem na seqüência. E em toda a história da Humanidade, o homem mergulhou intensamente na busca desta resposta. Para tanto, criou inúmeras religiões, filosofias, teologias, mitologias, ciências e psicologias, sempre na ânsia ancestral, atávica e visceral de desvendar aquilo que os índios norte-americanos chamam de “O Grande Mistério”. A idéia central das culturas orientais e xamânicas – a Unidade – traz o conceito de que tudo é Um, de que o Universo é um único organismo, consciente e totalmente interligado e interagente, e que toda a percepção e sensação de separatividade é uma ilusão (maya). Os hindus chegam a dizer que a única doença de que nós realmente sofremos – todas as outras (físicas e psíquicas) são um desdobramento desta – é Avidya, a ignorância da nossa natureza real, a Unidade. E é assim que nós nos sentimos : totalmente cindidos, fragmentados. Tanto externamente – nos sentimos separados de cada semelhante, da Natureza e do que acreditamos que seja Deus, quanto internamente – corpo, cabeça e coração raramente estão em equilíbrio. Na tarefa humana de caminhar para a Luz, em primeiro lugar é importante perceber que quando trabalhamos conosco no auto- conhecimento ou com outra pessoa (se formos terapeutas), estamos fundamentalmente lidando com duas instâncias altamente relevantes da personalidade - a auto-imagem e a persona – que são construções psico-emocionais limitadoras mas paradoxalmente desenvolvidas por nós - inconscientemente, na maior parte do tempo - para nos proteger. A auto-imagem é “quem eu acredito que eu sou”. É o sistema de crenças e padrões que nós construímos em função das nossas experiências dolorosas e sofridas (e claro, das positivas e interessantes também), e que nos dão uma imagem e uma perspectiva geralmente distorcida de nós mesmos, e que na maior parte das vezes nós sentimos como sendo algo limitador e desfavorável, ou ao contrário (mas pela
  • 16. 16 mesma razão), o ego infla e a pessoa se sente exageradamente o máximo, para não entrar em contato com suas dores. A persona é “quem eu quero que acreditem que eu sou”. São as nossas máscaras e papéis sociais (o filho, o pai, o profissional, o cidadão, o marido, etc.etc.) que funcionam em parceria com a auto-imagem, e que procuram compensar esta, quando ela é desconfortável e parece ser desfavorável. E a auto-imagem e a persona são competente e eficientemente fomentadas, mantidas e monitoradas pelo complexo ego/mente racional. A auto-imagem e a persona são componentes importantíssimos na construção da nossa visão de mundo, a chamada “realidade” (que em ultima instância, é o que nós acreditamos que a vida é). Outro movimento do psiquismo - e que foi percebido por S. Freud - são as pulsões da busca do prazer e da evitação da dor. E todo o complexo corpo/mente trabalha neste sentido: o de nos manter afastados do contato com a dor. Na infância quando passamos por experiências traumáticas, estas impressões (o que nós sentimos com o que supomos que aconteceu) são “escondidas” no inconsciente. Freud chamou a isto de recalque. A intenção é que não tenhamos que estar sempre entrando em contato com nossas dores (ou com o que o inconsciente acredita serem dores), pois seria insuportável viver assim, lembrando o tempo todo de tudo o que de ruim e sofrido nos aconteceu. O problema é que estas dores continuam vivas no inconsciente, forjando e nutrindo a teia de crenças e padrões que irá contribuir decisivamente na formação do caráter e da personalidade, e também na somatização de doenças físicas, psico-emocionais e/ou sociais. Ou seja, paradoxalmente, o mesmo procedimento interno que trabalha para nos proteger, nos limita e (aparentemente) nos sabota como um eterno exercício de obstáculo X superação e crescimento. Vamos deixar a Psicologia Hindu dar um subsídio filosófico : Em primeiro lugar, se tanto as tradições orientais quanto as xamânicas dizem que somos seres multidimensionais e holográficos, isto quer dizer que existimos simultaneamente em infinitos níveis, certo ? Na Filosofia Hindu, temos duas formas de codificar as multi-dimensões do ser humano : uma trina - os Shariras, ou corpos - mais usada pelo Yoga, e outra quíntupla - os Koshas, ou envoltórios - mais usada pela
  • 17. 17 Vedanta. São apenas divisões de caráter didático, já que estas dimensões não são tridimensionais - são holográficas - e estão todas simultâneamente se interpenetrando (assim como acontece com os Chakras). Os Shariras ou corpos, são 3 : o Sthula Sharira ou corpo denso (o corpo físico), o Sukshma Sharira ou corpo sutil (o corpo de energia, o corpo emocional e o corpo mental) e Karana Sharira ou corpo causal. É no Sukshma Sharira onde operam a Homeopatia, a Acupuntura, Reiki, Cura Prânica, Aromaterapia, Cristais, Cromoterapia, etc. Karana Sharira se chama corpo causal, porque é nesse nível onde se localiza a causa da ignorância primordial (Avidya). Mas é também neste nível que acontecem as escolhas (é o centro do discernimento) e é onde se localiza a mente Testemunha, a perspectiva interna neutra e observadora buscada na Meditação. É a “Visão da Águia” dos xamãs e é onde acontecem as canalizações e as conexões mediúnicas e sensitivas. E este também é o nível que faz a “interface” do estado de consciência separada com o estado da Unidade Absoluta ( Nirvana, Samadhi, Moksha, Kaivalya, Satori). Os Koshas são chamados de envoltórios (ou bainhas) porque são as camadas que ilusóriamente prendem e condicionam o Espírito (Atma). São 5 : - Annamaya Kosha, ou corpo físico - Pranamaya Kosha, o corpo de energia (que os ocultistas chamam de Duplo-etérico e os espíritas de Perispírito). Neste nível circulam as Pranavaha Nadis (condutos energéticos que transportam os Pranas) - Manomaya Kosha, o corpo psico-emocional. Neste nível circulam as Manovaha Nadis (condutos de energia que transportam Ojas, a energia mental. Ojas é a quintessência energética extraída dos alimentos pelos Dhatus – os 7 tecidos corporais) - Vijñanamaya Kosha, o corpo psíquico - Anandamaya Kosha, o corpo psico-espiritual. Vijñanamaya Kosha é onde opera o discernimento, a capacidade de se escolher e discriminar entre o que é real ou irreal. Assim como o Karana Sharira, Anandamaya Kosha é o portal, a interface para o estado da Unidade. O Sthula Sharira (bem como sua correspondente Annamaya Kosha) está relacionado a Guna Tamas ; o Sukshma Sharira (Prananamaya, Mano Maya e Vijñanamaya Kosha) está relacionado a Guna Rajas; e Karana Sharira (Anandamaya Kosha) a Guna Sattwa.
  • 18. 18 O complexo psíquico (que os hindus chamam de Antahkarana, ou órgão interno) é formado por : - Buddhi. É a parte mais elevada do complexo psíquico. Num primeiro nível, Buddhi trabalha com o discernimento, as escolhas e as opções. Desde as escolhas inconscientes - como, por exemplo, as que faz o sistema nervoso autônomo - passando pelas opções e escolhas conscientes do dia-a-dia, até a mais elevada das formas de discernimento que é o questionamento sobre o que é real e o que é irreal na existência ( que é o que os hindus chamam de Viveka). Em um nível mais elevado de atuação, Buddhi é a Mente Testemunha (a “Visão da Águia” dos xamãs), o nível da Meditação e da neutralidade onde não há julgamento. Abarca também o Inconsciente. Buddhi é quem sedia e administra os Samskaras - os registros e impressões psico-emocionais, que vão gerar os Vasanas (tendências e padrões). O Buddhi atua no nível de Karana Sharira (e Vijñanamaya kosha). - Manas é a mente pensadora. Administra os estímulos que vem através da aferência dos sentidos (Jñana Indriyas) e da atividade da memória (Chitta , conteúdos do consciente e do inconsciente), administra as escolhas e opções de Buddhi, e produz os Vrittis (pensamentos, movimentos mentais, mente racional) e as respostas psico-motoras (Vasanas) através dos Karma Indriyas (órgãos de ação). - Ahamkara, o ego. Trabalha em parceria com Manas na função de se manter a identificação da Consciência Una com o estado ilusório de separatividade (Maya). Os sentidos, o ego e a mente racional mantém a Consciência ilusoriamente identificada com a personalidade e com as Gunas (os movimentos impermanentes da Natureza). E como este Anthakarana trabalha ? Quando os nossos sentidos apreendem algum objeto, informação ou estímulo, dois mecanismos disparam automaticamente : o corpo mental associa ao elemento percebido um nome (Nama) e uma forma (Rupa) e o corpo emocional avalia se aquele determinado elemento me atrai (Raga) ou se eu o rejeito (Dwesha) – bem no estilo das pulsões “busca do prazer / evitação da dor” freudianas.
  • 19. 19 Em outras palavras os sentidos captam, a mente e o emocional enquadram e o ego identifica com eu/meu. Assim enquadramos toda a Realidade Una em pequenas unidades ilusoriamente separadas, mantemos a ignorância da nossa natureza real, e ficamos vivendo aprisionados em uma realidade construída por nós mesmos. Se o estímulo ou informação que recebemos através dos sentidos (Jñana Indriyas) é alguma coisa muito forte e traumatizante, ou se por outro lado, são estímulos ou informações que se repetem com periodicidade, isto vai imprimir Samskaras (impressões, registros psico-emocionais) no inconsciente, que vão por sua vez, produzir Vasanas (crenças, hábitos, tendências e padrões) e, juntamente com Citta (a memória), produzir os Vrittis (movimentos da mente, pensamentos, atividade racional). Algumas imagens para exemplificar : 1. Imagine que o seu complexo psíquico é um lago : o reservatório em si é a mente (Manas); o conteúdo – a água – é Chitta, a memória consciente e inconsciente; o fundo do lago é o Ser, a Unidade coberta pela “poeira” de Chitta que forma “bancos de areia” (Samskaras) em função dos movimentos internos e da superfície (Vrittis); por sua vez, os movimentos ondulatórios da superfície são os Vrittis (pensamentos, atividade racional) e Vasanas (tendências) cujos padrões são produzidos pelo perfil topográfico do fundo (Samskaras). Quanto mais nivelado e liso estiver o fundo, mais tranqüilas serão as águas da superfície e vive-versa. 2. Uma carruagem : Buddhi é o condutor, Manas são as rédeas, Ahamkara é a carruagem e os cavalos são os sentidos (Indriyas). 3. Estou em um campo e de repente vejo um touro enfurecido correndo em minha direção : os Jñana Indriyas captam a imagem , Manas processa a informação (“vendo um touro correndo”), Ahamkara identifica com o eu (“eu estou vendo um touro correndo”) , Buddhi faz as escolhas (“eu estou vendo um touro correndo e furioso, e vai me pegar. Tenho que correr”), e os Karma Indriyas executam a ação de fugir. Bem, é claro que todos os processos de auto-conhecimento e crescimento, deve ser acompanhados da fundamental fórmula :
  • 20. 20 conscientizar aceitar entender a função transformar e integrar. Sem a consciência e a aceitação amorosa dos nossos padrões e movimentos internos dolorosos e limitadores (ou da sombra, como bem denominou C.G.Jung) não podemos nos transformar e melhorar. Mas a conscientização da sombra sem a sua aceitação com compreensão, neutralidade e compaixão, também não leva ao crescimento. Pode talvez levar à depressão. Isto acontece também porque estamos terrivelmente infectados por um veneno criado pelo homem que é a culpa. A culpa foi fomentada por algumas religiões com a exclusiva finalidade de manter a auto-estima pessoal baixa para assim poder- se dominar e manipular mais facilmente as pessoas. Para respaldar a culpa inculcou-se a idéia de que somos pecadores congênitos, e que só teremos nossa salvação se nos submetermos a um Deus que nos julgará e que vive em um paraíso distante distribuindo castigos e recompensas. Isso tudo poluiu terrivelmente o saudável processo da evolução psico-emocional / espiritual humana, especialmente da cultura ocidental. Junto com a aceitação de nossa sombra (que é apenas a ilusória – e temporária - ausência da Luz), precisamos também aceitar e resgatar nossa natureza divina e perfeita, e aceitar o fato de que nossa sombra é apenas a ignorância de nossa natureza real – a Unidade. A sombra é o material de que dispomos para trabalhar nosso crescimento, são os exercícios, obstáculos, provas e testes que aceitamos trabalhar para evoluir. E também é todo o nosso potencial não reconhecido e, portanto, sub utilizado. É absolutamente necessário que substituamos a culpa pela responsabilidade. Não somos passivas marionetes do Universo. Somos seus co-criadores ativos. Não existe necessáriamente nenhum Deus em guerra constante contra o Mal. O chamado “mal” são os obstáculos, testes, dificuldades, exercícios, conflitos e confrontos que temos que lidar em nossa caminhada de crescimento.
  • 21. 21 Ou seja, a função do mal não é vencer o Bem, é se transformar em Bem. Assim como a função da sombra não é apagar a Luz, é se transformar em Luz. Na Mitologia Hindú esta visão fica bem clara, ao colocar os demônios (asuras) como devotos de Deus (Shiva) que eram geralmente Saddhus ou monjes que por alguma razão foram amaldiçoados e tranformados em demônios para cumprirem alguma função e normalmente recebem de Shiva grandes poderes E aí eles tem que ser mortos e liberados por Deus (Vishnu) para voltarem a sua condição original de Santos e Sábios. A vida que vivemos, o que somos e o que nos acontece é fruto 100% das nossas escolhas e opções – conscientes ou inconscientes, feitas nesta ou em outra(s) vida(s). E isto é a grande maravilha da vida, pois nos confere o poder de nos responsabilizarmos totalmente por nós mesmos e transformar totalmente nossa existência em qualquer tempo. O fato de que o Universo é um único Ser totalmente integrado como uma grande teia holográfica, onde cada componente funciona como um ímã atraindo e repelindo energia, coisas, pessoas e situações – tudo devidamente gerenciado pela lei do Karma (especialmente em sua manifestação como Sincronicidade e Ressonância) – faz com que estejamos constantemente atraindo as coisas, pessoas e situações necessárias para nosso aprendizado e evolução. Esta é a forma que a Vida utiliza para nos ensinar. Isto, além de demonstrar o funcionamento da fantástica Inteligência Universal, anula completamente qualquer possibilidade de culpas, castigos divinos, azar e vitimismos. Então, a grande pergunta que devemos estar sempre nos fazendo cada vez que algo ou alguém desagradável cruza nosso caminho é : “O que eu tenho que aprender com isso ? Porque eu atraí esta pessoa ou situação ?”
  • 22. 22 AS GUNAS As qualidades da Natureza material A Consciência É, desde sempre. Quando Ela manifesta movimento – que é quando ocorre o chamado Big Bang – inicia-se a Criação, cuja natureza intrínseca é ser simultâneamente toda consciente e toda movimento - sempre impermanente e mutante. A característica da Consciência é ser una e permanente (natureza absoluta), ao contrário da Criação, que é dual e em constante modificação (natureza relativa). Percebendo isto, os orientais trataram de compreender e codificar este movimento universal. Assim, os chineses, por exemplo, falam do Tao e de Yin e Yang. À Consciência os hindus deram os nomes de Purusha ou Brahman (o princípio Uno, masculino, espiritual), e a este eterno movimento dual e impermanente do Universo material, os nomes de Prakriti, Shakti ou Maya (o poder gerador - o princípio feminino, material). Prakriti manifesta-se nos três padrões do movimento universal. Estes padrões chamam-se Gunas (ou qualidades da natureza material) e expressam a dialética maior da Criação : 1. Sattwa, é o padrão de movimento que faz com que, à partir do movimento inicial onde começa a expansão do Universo, já exista uma força operando no sentido da volta ao estado primordial – a Pura Consciência Absoluta e incriada. Sattwa expressa o movimento para cima e para dentro. Sattwa é a sutileza, o elemento Éter (Espaço), a harmonia, o equilíbrio, a luz, a paz, o amor. Sattwa é a tolerância, a compaixão, a não julgamento, a intuição, o desapego, a honestidade e a ética . Sattwa é a porta, o último degrau que leva à experiência do nosso estado original – a Unidade. Daí os hindus terem desenvolvido toda uma cultura e toda uma filosofia que pretendem trazer a vida do dia-a-dia para uma freqüência vibratória mais Sattwica. Assim é no Yoga (nos trabalhos psico-
  • 23. 23 energético-corporais), no Ayurveda (na alimentação e na medicina), no Vastu Shastra (o Feng-Shui hindu), ou seja, tornar a vida cada vez mais sattwica, mais dentro do Dharma (a virtude, a retidão). Sattwa Guna pode ser representada pela cor amarela, dentro das 3 côres básicas. Está relacionada a Karana Sharira (corpo causal) e a Anandamaya Kosha (corpo de bemaventurança) e aos três Chakras superiores. 2. Rajas, que é a própria expressão do movimento, do Karma, dos elementos Ar, Fogo e Água. Rajas é o movimento da expansão do universo, o movimento centrífugo. Rajas é a paixão, o impulso, a explosão, o calor, a força da construção, da objetividade, da determinação. É a cor vermelha. Rajas , quando desequilibrado, também é a raiva, a ansiedade, a pressa, a violência, a inveja, o ciúme, o ego inflado. Está relacionada a Sukshma Sharira (o corpo sutil, psico- emocional/energético) , a Pranamaya Kosha (corpo de energia), Manomaya Kosha (corpo psico-emocional) e Vijñanamaya Kosha (corpo psico-espiritual); aos Doshas Pitta (fogo/água) e Vata (ar/éter) e aos Chakras Swadhisthana (água), Manipura (fogo) e Anahata (ar). 3. Tamas, representa a inércia, o movimento que estagna, a tendência de paralizar. É o movimento descendente. Representa também a densidade material, a estrutura física, o pêso. É o movimento de retração do universo. Equilibrado, leva a um bom sono, calma, compaixão, paciência, tolerância. Desequilibrado,Tamas é a preguiça, a avareza, o apego, a complacência, o ciúme. É o medo, a angustia, a depressão, a tristeza, a baixa auto-estima. A sombra. Fomenta a manutenção das coisas como elas estão – na ignorância de nossa Natureza
  • 24. 24 verdadeira (ignorância chamada pelos hindus de Avidya). Tamas relaciona-se aos elementos Água e Terra e à cor azul. Está relacionada a Sthula Sharira (o corpo denso), Annamaya Kosha (corpo físico), ao Dosha Kapha (água/terra) e aos Chakras Swadhisthana (Água) e Muladhara (Terra). Na Mitologia Hindu, Sattwa se expressa através de Vishnu, o poder que mantém e administra e relação desequilíbrio / equilibrio no Universo. Rajas se expressa no poder criador de Brahma (não confundir com Brahman, o Absoluto). E Tamas se expressa através do poder destruidor de Shiva, que destrói para que haja renovação. A grande alquimia interna, o grande segredo da transmutação, é utilizar o movimento e o impulso de Rajas equilibrado, para sedar Tamas e estimular Sattwa. Normalmente o que se faz é justamente o contrário : Rajas desequilibrado desequilibra Tamas (que por sua vez também desequilibra Rajas) e seda Sattwa.
  • 25. 25 OS BHUTAS E OS DOSHAS A reflexão sobre o processo da Criação do Universo, tem mobilizado a Humanidade desde sempre. Todas as Mitologias de todas as culturas, falam abundante e detalhadamente sobre este assunto, tão rico em conhecimento simbólico e arquetípico. Em qualquer que seja a Tradição que se pesquise, pode se perceber as mais diversas leituras e versões deste processo – a Criação - onde o mais sutil, o Tao, o Absoluto, vai se precipitando – do infinito ao finito, do abstrato ao concreto, do absoluto ao relativo - até se manifestar como matéria densa aparentemente aprisionada em uma dimensão tridimensional de relatividade – espaço/tempo - cuja principal característica é estar em contínuo movimento, sempre impermanente, sempre mutante. E esta matéria densa, estágio final do processo da Criação, é formada em ultima análise, pelos 5 elementos (Mahabhutas) que são as matrizes da matéria. Nossa cultura ocidental reconhece 4 elementos : Ar (Vayu), Fogo (Agni ou Tejas), Água (Apas ou Jala) e Terra (Prittivi). Os hindus falam de 5 elementos, incluindo Akasha – Éter ou Espaço. E os chineses também falam de 5, incluindo Madeira e Metal. O fato, é que além da importância que os elementos tem como fatores constitutivos da matéria física, estes também tem um rico e complexo simbolismo arquetípico, representando qualidades universais que atuam em todos os níveis da nossa existência. O Yoga, o Ayurveda e a Medicina Chinesa, e também as culturas xamânicas, estruturaram seus sistemas tendo como alicerces o conhecimento dos elementos . . O Ar, por exemplo, no seu sentido mais equilibrado (Sattwa), fala da leveza, do frescor, da rapidez, da respiração, das idéias e reflexos rápidos, da capacidade de mudar rapidamente e de sacudir a poeira da energia estagnada. No seu sentido desequilibrado (Rajas/Tamas), o Ar fala da dispersão, da secura, da ansiedade, dos medos, da inconstância, da “cabeça à mil”, da frieza afetiva e da dificuldade de expressar as emoções e os sentimentos. Falta de aterramento e de raiz.
  • 26. 26 . O Fogo, na sua polaridade equilibrada, fala da capacidade de processar e digerir (desde alimentos até emoções), de transmutar a sombra em Luz, de poder pessoal saudável e ego bem equilibrado, de criatividade. Fala da capacidade de construir (desde coisas até a sua própria história), de reciclar. Na sua polaridade desequilibrada, o Fogo é a raiva destruidora, o ego inflado e tirânico, a volubilidade, a indigestão. No Xamanismo o Fogo é o Avô com quem se aprende as lições das outras dimensões. Os índios dizem que quando estamos em torno do Fogo os nossos corações estão no mesmo nível e todos neste momento são Um. Os hindús, que também fazem muitos rituais com Fogo, dizem que o Fogo físico (que fica no centro) representa o Ser Eterno, Absoluto, e as coisas que são oferecidas ao Fogo (ghee, cereais, ervas) simbolizam nosso ego que é oferecido por nós para ser dissolvido no Fogo Universal. . A Água, em seu lado equilibrado, fala do livre fluir das emoções, da alegria, do “jogo de cintura” e da flexibilidade. Fala do feminino, da juventude e da limpeza (em todos os sentidos). Em seu lado desequilibrado, a Água pode expressar uma emocionalidade desequilibrada, (tendendo não para a raiva como no Fogo, mas para o “dramalhão”), o movimento de “ir na corrente” deixando-se levar passivamente pela correnteza. Mas se por outro lado as águas são represadas, ou vazam por algum outro lugar, ou a represa pode, em alguma hora, estourar. . Finalmente, a Terra, que em sua qualidade mais equilibrada expressa estrutura, aterramento, enraizamento, objetividade, disciplina, coragem, determinação, memória, saúde física, prudência, capacidade de lidar bem com as questões materiais. No desequilíbrio, o elemento Terra expressa imobilidade, dificuldade de mudar. Tristeza , apego, avareza, egoísmo, medo, peso, depressão , baixa auto-estima e preguiça. Muitas foram as formas que os povos antigos desenvolveram para compreender, sistematizar e instrumentalizar este conhecimento de modo a que ele fosse útil no processo de auto-conhecimento e crescimento.
  • 27. 27 No universo Hindu, os elementos (chamados de Mahabhutas) se relacionam com as Gunas, com os Chakras, e também com os Doshas, que é o que vamos tratar aqui. A Medicina Tradicional Hindu, a Medicina Ayurvédica, trabalha a partir do levantamento de uma tipologia básica que irá nortear todo o processo terapêutico. Esta tipologia baseia-se nos 5 elementos e expressa como estes elementos estão atuando e se movimentando na fisiologia psico/física/energética humana. E o Ayurveda estabeleceu 3 tipos característicos : Vata, expressão dos elementos Espaço e Ar ; Pitta, Fogo e Água e Kapha, Terra e Água. Todos nós nascemos com os 3 Doshas formando uma configuração que é pessoal e intransferível (Prakriti). E em cada um de nós os elementos atuam e influem de maneiras absolutamente singulares. Pense bem, o que tem mais no Universo é espaço, não é mesmo ? Além do espaço sideral em si, existe um enorme espaço no nível atômico da matéria do qual a gente não se apercebe. O astrofísico Carl Sagan dizia que se pudéssemos espremer todo o planeta Terra de modo a que não houvesse mais nenhum espaço inter- atômico, toda a matéria da Terra caberia em um dedal... E, por outro lado, o elemento mais quantitativamente presente na esfera do nosso planeta é o Ar. Isto configura Vata como o Dosha principal, no sentido de ser aquele que desequilibra os outros Doshas justamente pela sua rapidez e volatilidade. Veja lá em cima no elemento Ar as suas qualidades. Vata representa exatamente isso : como este Espaço e este Ar se movimentam em você e que padrões de desequilíbrio eles produzem e mantém. No nosso corpo Vata gerencia a mente, o sistema nervoso, a respiração, os ossos e articulações, os braços e as mãos, a dor, os movimentos peristáltico, cardíaco e pulmonar. Desequilíbrios de Vata trazem stress, ansiedade, medo, fobias, má memória, prisão de ventre, problemas reumáticos, insônia, anorexia alimentar. O Dosha Vata está relacionado a Guna Sattwa quando equiibrado e a Guna Rajas (Fogo/Água )quando desequiibrado. E aos chakras Anahata (Ar) e Vishuddha (Espaço).
  • 28. 28 Depois temos o Fogo. O Fogo que cozinha, que consome, que aquece, que ilumina, que queima e que transmuta. Em nós este Fogo é Pitta. Pitta é o fogo digestivo que trabalha os alimentos, é o fogo que mantém nossa temperatura a 36,5o , é o fogo que digere as emoções, é a sensualidade e a energia sexual, é a alegria e a coragem, é o poder de construir, de ser inteligente, objetivo e vitorioso. Em nosso corpo Pitta gerencia a digestão, o sistema cardio- vascular, as pernas e os pés, os olhos e a visão, as trocas gasosas nos pulmões, a assimilação dos alimentos, a atividade enzimática nas células. Desequilíbrios de Pitta acarretam irritabilidade, impaciência, raiva e violência, intolerância, teimosia, bulimia, distúrbios sexuais, neuroses compulsivas, problemas gástricos, visuais, dermatológicos e cardio- vasculares. O Dosha Pitta está relacionado a Guna Rajas (Fogo/Ar) e ao Chakras Swadhisthana (Água) e Manipura (Fogo) Finalmente temos a Água e a Terra. Lembre que 2/3 do planeta e 2/3 do nosso corpo são feitos de Água ! A Água e a Terra em movimento em nosso sistema psico-físico chama- se Kapha. Kapha fala do que há de mais material em nós, em todos os sentidos. Gerencia a estrutura física e os líquidos corporais. Em desequilíbrio leva a preguiça, ao desânimo, tristeza, depressão, avareza, excesso de apego, excesso de sono, bulimia, obesidade (retenção de gordura e liquido) e diabetes. Equilibrado, facilita o bom sono, a calma, afeto, carinho, compaixão, simpatia, relaxamento. O Dosha Kapha está relacionado a Guna Tamas (Terra/Água) e aos Chakras Muladhara (Terra) e Swadhisthana (Água).
  • 29. 29 OS CHAKRAS Os Chakras são literalmente usinas captadoras e redistribuidoras de energia cósmica (Prana). Existem muitos Chakras – cada articulação, por exemplo, tem um Chakra – mas sete são os principais e os mais conhecidos. Os Chakras operam em todos os nossos corpos, do físico ao mais sutil, por isso o Tantra diz que os Chakras possuem 3 níveis : . o nível das pétalas, que gerencia nossa vida física, material, corporal . o nível do botão, que administra nossa vida interna, psico-emocional eggjkrtggvnnd energética, . o nível da raiz que tem a ver com nossa vida espiritual, com o nível da Consciência Una Daí a representação gráfica dos Chakras ser uma flor de lótus que se enraíza na coluna (nossa face posterior, o inconsciente, subjetivo, a Sushumna Nadi) e se abre em nossa face anterior (o nível consciente, objetivo, Ida e Pingala). Apesar de vermos os Chakras desenhados nos livros em duas dimensões parecendo um sistema linear e analógico, os Chakras são fundamentalmente estruturas holográficas. Os Chakras também expressam estruturas simbólicas, arquetípicas e sistêmicas que se aplicam tanto no nivel humano quanto no nível coletivo. Estaremos então, pontuando além das tradicionais caracteristicas de cada Chakra (e com as quais a maioria dos interessados no assunto, com certeza, já estão bastante íntimos), também as suas características mais gerais, mais coletivas : as fases da vida da Humanidade, a relação do homem com Deus e a relação do homem com a manutenção e a reprodução da sua espécie. Os sete Chakras mais importantes são : 1. Muladhara, Chakra básico, raíz. Relaciona-se com as três tarefas mais atávicas dos seres vivos: se alimentar, se reproduzir e se defender. Gerencia o nosso aterramento, nosso enraizamento no planeta. No corpo físico está localizado no períneo, e gerencia as pernas, pés e ânus.
  • 30. 30 Está relacionado com o elemento Terra, com as glândulas suprarrenais (a adrenalina é o hormônio do Chakra básico, preparando o corpo para luta- e-fuga), com o plexo nervoso coccígeo (os plexos nervosos e as glândulas endócrinas são a interface entre o nível físico do corpo e o nível energético dos Chakras) e com a região coccígea da coluna vertebral. Bem equilibrado (com a predominância da Guna Sattwa), o Chakra Muladhara propicia a objetividade, a coragem, a determinação, organização, disposição para o trabalho e para superar obstáculos, saúde física, relacionamento harmônico com as coisas mais materiais da vida (dinheiro, propriedades, p.ex.). Hiperenergizado (ou com predominância da Guna Rajas) pode gerar avareza, violência, apego, pouca sutileza, atração por formas mais densas de religião ou mesmo pelo agnosticismo ou ateísmo. Hipoenergizado (com predominância da Guna Tamas) pode gerar baixa auto-estima, excesso de medo, de tristeza, depressão, dificuldade de trabalhar e obter prosperidade material, fuga da realidade com sexo, drogas, religião, etc. Nesta fase inicial da sua vida, o homem apenas se alimenta, excreta e dorme, em total entrega e dependência, e ainda “pensa” que ele e a mãe são uma unica pessoa. Na relação do homem com Deus, é a fase da Humanidade – os homens das cavernas – onde a emoção primordial e dominante é o medo. Medo do conhecido e do Desconhecido. Medo dos imprevisíveis fenômenos naturais. Quem lembra do inicio do filme “2001 uma odisséia no espaço”, quando chega a noite e todos de amontoam numa caverna com medo da noite ? Nesta fase o homem ainda se experimenta como ser totalmente coletivo. É a fase da Humanidade onde o movimento para procriar expressava exatamente a clássica imagem do troglodita arrastando a mulher pelos cabelos. Deu o “cio”, arrasta-se a primeira fêmea que aparece. É a pulsão de reprodução em seu estado mais puro, animal. No plano mais geral, o Chakra Muladhara tem relação com a Guna Tamas (enraizamento, estrutura), com Annamaya Kosha e com Sthula Sharira (o corpo físico), com o Dosha Kapha (Terra/Água), com o Prana Apana (aspecto descendente da energia vital – Prana – que gerencia tudo o que é expelido do corpo), com o Brahma Granthi e com a Shakti Kriya (o
  • 31. 31 poder de agir que rompe este Granthi, veja a seguir o texto sobre os Granthis). Está relacionado também ao anel muscular pélvico (segundo Wilhelm Reich). Seu Mantra é LAM, sua cor é vermelho, sua nota é DÓ e o animal relacionado com este Chakra é o Elefante. Ganesha é um dos deuses do panteão Hindu que podem perfeitamente ser relacionados ao Muladhara Chakra. 2. Swadhishthana, ou Chakra sexual, está relacionado ao elemento água. Sendo assim, gerencia tudo o que circula, desde os diversos líquidos corporais até as emoções. É o Chakra da sexualidade, do prazer e dos relacionamentos em geral. A Libido é a poderosa energia de criação e reprodução (chamada no Ayurveda de Ojas). Reprodução da espécie e também criação daquilo que devemos deixar, através dos nossos talentos e potenciais, para as outras gerações - a nossa obra), No corpo físico está centralizado no púbis e relaciona-se com os órgãos reprodutores (e com as glândulas sexuais), com o plexo nervoso sacral, com toda a cintura pélvica e com a região sacro-lombar da coluna vertebral. Bem energizado (Sattwa) facilita uma emocionalidade e uma sexualidade equilibradas. Facilidade para se relacionar bem e viver a vida com prazer. Hiper energizado (Rajas) pode acarretar em personalidade agressiva, taras sexuais, sadismo, problemas na região pélvico-lombar. Hipo energizado (Tamas) pode gerar impotência e frigidez sexual, masoquismo, preguiça, dificuldades com sentimentos e emoções. Nesta fase da vida, o bebê que antes só comia e excretava e pensava que ele e a instância alimentadora e protetora eram a mesma pessoa, percebe que isso é bom, é prazeiroso. É a manifestação do princípio do prazer, a libido. Na relação com Deus, é a fase em que a humanidade percebe que por trás dos fenômenos naturais que provocavam medo, deviam haver diretores, provavelmente são seres colossais que dominam os elementos. E aí começou-se a criar vias de contato com estas dimensões energéticas e espirituais, desenvolvendo as complexas tecnologias dos rituais,
  • 32. 32 cerimônias e sacrifícios, tão presentes até hoje nas culturas orientais e xamânicas. É também a fase da humanidade em que para procriar, o nosso trogolodita já não arrasta a primeira mulher “no cio” que ele encontra. Agora ele escolhe, seleciona de acordo com seu gosto. O Chakra Swadhishthana tem relação geral com as Gunas Tamas (Terra/Água) e Rajas (fogo), com Pranamaya Kosha (o corpo de energia), com Prana Vyana (que gerencia a circulação dos líquidos orgânicos e da energia pelo corpo) e com os Doshas Kapha (Terra / Água) e Pitta (Fogo / Água). Está relacionado também ao anel abdominal da psicologia Reichiana. Seu Mantra é VAM, sua cor é laranja, sua nota é RÉ e o animal relacionado à este Chakra é o crocodilo (e o jacaré) 3. Manipura , ou Chakra do plexo solar, elemento fogo. Relaciona-se com o ego, o poder pessoal, o sentido de individualidade (como eu, indivíduo, me experimento e consequentemente como me posiciono no coletivo e nas relações). Gerencia tudo aquilo que deve ser digerido : alimentos, pensamentos e emoções. No corpo físico, relaciona-se com o pâncreas, com o plexo nervoso Epigástrico, com o sistema digestivo em geral e com a interface entre as regiões lombar e torácica da coluna vertebral. Bem energizado (Sattwa) liberta do medo, facilita a compaixão e a importância com os sentimentos alheios, liberta da necessidade de controlar a si mesmo e aos outros. Apresenta boa autoestima, auto valor e poder pessoal. Hiperenergizado (Rajas) produz o tirano, o raivoso, temperamental explosivo, o egoísta, o egocêntrico, o hipócrita. Também produz azia, gastrite, problemas no fígado. Hipoenergizado (Tamas) facilita a complacência, a baixa auto-estima, a subserviência, a hipocrisia, anorexia, a tendência a mascarar suas inseguranças e dificuldades, a atitude de superioridade que vem compensar o sentimento de inferioridade. Nesta fase da vida do homem, o bebê descobre que ele e a mãe são dois seres separados. É o princípio da individualização.
  • 33. 33 Na relação da Humanidade com Deus, é a fase em que o homem percebe que por trás dos “diretores” tem um “Presidente”. É o surgimento do Monoteísmo. É um Deus único - mas ainda pessoal - “o que devemos temer”, o Deus que tem a “ira divina”. É o Jeovah das religiões cristãs- judaica e o Allah dos mulçumanos, por exemplo. Em relação a evoução da Humanidade, é a fase em que o homem além de selecionar a(s) fêmea(s) com quem quer acasalar, desenvolve o sentimento de exclusividade (“é só minha !”). É o princípio da família, dos clãs, da contínua fragmentação e reorganização do bôlo gregário do início. Este Chakra faz a interface entre os níveis animal e humano no homem. Está, no geral, relacionado a Guna Rajas (Fogo/Ar) , a Manomaya Kosha (o corpo psico-emocional), ao Prana Samana (que gerencia os processos de assimilação), e ao Dosha Pitta (Fogo / Água). Relaciona-se também com o anel diafragmático de W.Reich. Seu Mantra é RAM, sua cor é amarela, sua nota é MI e o animal relacionado a este Chakra é o carneiro. Rama é a divindade Hindu – o “padroeiro” do Dharma - que podemos relacionar ao Manipura Chakra. 4. Anahata, o Chakra cardíaco, relaciona-se com o elemento ar. No corpo físico, relaciona-se com a respiração, com os pulmões e o coração, bem como com a glândula timo, com os plexos nervosos cardíaco e pulmonar e com a região torácica da coluna vertebral e a cintura escapular. E também com sentimentos, afetos, amor, carinho, alegria, beleza, devoção. Localiza-se no centro do peito e é o Chakra dos braços e das mãos. Bem energizado (Sattwa), facilita o desapego, o amor incondicional, a devoção, o altruísmo, a compaixão. Hiperenergizado (Rajas) pode produzir sentimentalismo exagerado, personalidade egoísta, arrogante, prepotente. E também ansiedade, pressão alta, taquicardia, bronquite.
  • 34. 34 Hipoenergizado (Tamas) acarreta em sentimento de vítima, de culpa, passividade, sensação de medo e inferioridade, angústia no peito, asma, dificuldade de contactar seus sentimentos, dificuldade de se aceitar, depressão. Nesta fase da vida, a criança percebe que além do cuidado e proteção fisica vindos daquele ser separado dela, há um sentimento, há afeto. Na relação do homem com Deus, é a fase em que o Deus “a quem eu devo temer” se tranforma no Deus “a quem eu devo amar”. O upgrade do terceiro para o quarto Chakra, neste sentido, tem sido sempre fomentado pelos Avatares ao longo da história do mundo, e Cristo é o grande simbolo deste salto (e seu gesto de braços abertos é o grande simbolo deste Amor incondicional). Em relação aos relacionamentos : neste nivel, o que motiva o encontro entre homem e mulher para procriar passa a ser o afeto, o sentimento, não mais o desejo animal e a força. A escolha é feita pelo coração. O Chakra Anahata está relacionado às Gunas Rajas (Fogo/Ar) e Sattwa (Éter), a Manomaya Kosha (corpo-psico-emocional) e Vijñanamaya Kosha (corpo psico-espiritual), ao Vishnu Granthi , a Shakti Iccha (o poder de desejar que rompe o Vishnu Granthi), ao Prana Prana (aspecto ascendente da energia, e que gerencia tudo o que é absorvido, bem como as atividades cardíaca e respiratória), e aos Doshas Vata (Ar/Éter) e Pitta (Fogo/Água). Relaciona-se também com o anel torácico de W.Reich. Seu Mantra é YAM, sua cor é verde (alguns usam a cor rosa), sua nota é FÁ e o animal relacionado a este Chakra é o Antílope. Krishna é o Deus que podemos relacionar ao Anahata Chakra. Também podemos relacionar aqui Hanuman, o Deus macaco do Ramayana, filho do vento (Vayu), “padroeiro” do Pranayama e símbolo do devoto perfeito. 5. Vishuddha, o Chakra laríngeo, elemento espaço (éter). Gerencia a criatividade, a voz, as glândulas tireóide e paratireóide e o plexo nervoso laríngeo. É o Chakra dos professores, dos artistas, dos oradores, dos terapeutas.
  • 35. 35 É o Chakra que faz a ligação entre o sentir (Anahata Chakra) e o pensar (Ajña Chakra). Simboliza também a ponte entre as dimensões da Unidade e da dualidade no homem. É a interface que divide os níveis humano e divino do homem. Bem energizado (Sattwa) permite uma boa comunicação entre consciente e inconsciente, franqueza e sinceridade, expressão dos sentimentos e emoções, e plena utilização dos potenciais e dos talentos criativos e construtivos. Hiperenergizado (Rajas) acarreta em falar demais (especialmente de si mesmo), em expressar sua sinceridade ou seus sentimentos de forma rude, hipertiroidismo, gula (ou bulimia). Hipoenergizado (Tamas) produz dificuldade em exprimir suas emoções, sentimentos e opiniões, engolir sapo, engolir choro, dificuldades com a criatividade e com a expressão dos seus talentos e potenciais, hipotiroidismo. Nesta fase da Humanidade, o homem percebe que por trás de um Diretor Pessoal, Criador, há um Espírito Eterno, incriado, imanifesto, impessoal. É mais ou menos como os Espíritas, por exemplo, conceituam Deus. O Chakra Vishuddha está relacionado as Gunas Sattwa (Éter) e Rajas (Fogo/Ar), a Manomaya e Vijñanamaya Kosha (corpo psico espiritual), ao Prana Udana (aspecto da energia vital que gerencia tudo o que ocorre no âmbito da cabeça – sentidos, cérebro e mente), e ao Dosha Vata (Ar/Éter). Relaciona-se também ao anel oral de Reich. Seu Mantra é HAM, sua cor é cor azul celeste, sua nota é SOL e o Animal que está relacionado a este Chakra é o Elefante branco. Podemos relacionar as deusas Saraswati (esposa de Brahma, deusa da cultura e das artes) e Lakshmi (esposa de Vishnu, deusa da fortuna) ao quinto Chakra. 6. Ajña, o Chakra do terceiro olho, está relacionado a glândula hipófise e ao plexo nervoso Cavernoso.
  • 36. 36 No corpo físico, regula o funcionamento do cérebro - bem como da mente - assim como os olhos, boca, nariz e os ouvidos (e também a visão, paladar, olfato e audição). Gerencia desde o pensamento racional cartesiano até os estados transpessoais e meditativos. Bem energizado (Sattwa) facilita a visão neutra, sem julgamentos (a “Visão da Águia” dos xamãs), o discernimento correto,o uso concentrado e eficiente do pensamento, a utilização equilibrada do sexto sentido e também a facilidade em silenciar a mente na Meditação. Hiperenergizado (Rajas) produz uma mente rápida demais, com excesso de informação, e uma vida toda centrada nessa mente. Pode produzir também, o mau uso das faculdades extra-sensoriais. Hipoenergizado (Tamas) pode gerar dificuldades cognitivas e de memória, e dificuldades de abstrair e de intuir. Neste nivel da compreensão espiritual da Humanidade, o homem percebe a perspectiva da Unidade. A compreensão e a realização de que tudo é Um e a separatividade é uma ilusão (Maya). “Além” do Deus impessoal (que se contrapõe dualísticamente ao Deus pessoal, Criador), existe o Absoluto, o Tao, Brahman, a Consciência Eterna não-dual (Satchidananda, como dizem as Upanishads). O Chakra Ajña está relacionado com as Guna Sattwa (Éter) e Rajas (Fogo), com Vigñana e Anandamaya Kosha (o corpo de bemaventurança) , ao Dosha Vata (Ar/Éter), ao Shiva Granthi e a Jñana Shakti (o poder de conhecer, que rompe este Granthi). Sua cor é o azul marinho, sua nota é LÁ e seu Mantra é OM. O Animal relacionado a este Chakra é a Águia. Shiva o “padroeiro” do Yoga, do Tantra e da Vedanta, é o Deus do sexto e do sétimo Chakras. 7. Sahasrara, ou Chakra da coroa, é o Chakra da Transcendência e da Iluminação. Relaciona-se à Guna Sattwa e a Anandamaya Kosha. Alguns autores o relacionam com a glândula pineal e com as cores violeta e branco.
  • 37. 37 É o Chakra da Unidade onde o homem concretiza a realização da sua Natureza Real. Sua nota é SI.
  • 38. 38 OS GRANTHIS – Os 3 nós psíquicos do Tantra O Tantra é o mais antigo sistema de Conhecimento do universo indiano e o que mais profundamente explorou e instrumentalizou a utilização da energia vital no reequilibrio psico/emocional/energético - e conseqüentemente no espiritual – do ser humano. Dentro da complexa fisiologia energética e da psicologia do Tantra, alguns conceitos talvez sejam mais familiares àqueles que estudam e/ou praticam alguma forma de Yoga : as Gunas (as qualidades da natureza material : Sattwa – o equilíbrio, Rajas – o movimento, e Tamas – a inércia), os Chakras (os centros de energia), os Mahabhutas (os elementos da natureza), a Kundalini (a energia primordial), os Shariras e os Koshas (os corpos e os planos da existência) , as Nadis (os caminhos da energia) , os Prana Vayus (as subdivisões funcionais da energia, Prana) e os Doshas (padrões que expressam como os elementos da natureza se movimentam em nossa fisiologia psico-física : Vata - espaço e ar , Pitta - fogo e água e Kapha – água e terra). O Tantra Yoga, atuando como uma verdadeira Psicologia Energética do Yoga, utiliza o mesmo instrumental do Hatha Yoga (Asana, Pranayama, Kriya, Bandha, Mudra, Relaxamentos e Meditação) para fomentar o equilíbrio psico-emocional e energético - e consequentemente o equilíbrio da personalidade - de modo a proporcionar a experiência da Unidade. E para tal, trabalha com a administração da complexa fisiologia energética e das técnicas que citamos acima. Um dos elementos interessantes desta fisiologia (e desta filosofia) é o conceito dos Granthis, os nós psico/emocionais/energéticos que estão posicionados ao longo da Sushumna Nadi (o conduto central de energia que localiza-se como contraparte sutil da coluna vertebral) . A Sushumna Nadi simboliza a consciência da Unidade (energia Kundalini) e os Granthis simbolizam os sistemas de crenças, padrões e registros (samskaras e vasanas), com seus núcleos de boicotes, limitações , sabotagens, apegos e falsas crenças e identificações, que devem ser transmutados e re-significados ao longo de nossa jornada para a consciência da Unidade. Os Granthis são como que os obstáculos psico/emocionais/energéticos por que cada um deve passar ao longo da sua trajetória rumo ao
  • 39. 39 autoconhecimento. Ao mesmo tempo expressam as defesas e bloqueios que construímos. ● O primeiro Granthi é o Brahma Granthi, que está localizado na região do Muladhara Chakra (elemento Terra). Brahma é o Senhor da Criação e o Muladhara Chakra é o Chakra da criação material (sobrevivência e reprodução), do pé no chão, da auto-preservação, da atuação no mundo físico, da saúde física. Diz-se que o Brahma Granthi é o nó do samsara, do mundo dos nomes e das formas. O Muladhara Chakra está relacionado às glândulas supra-renais (adrenalina!) e ao Prana Apana (elemento Terra), que rege a função da eliminação e circula em fluxo descendente. Este primeiro nó energético faz com que a interatividade do homem com os aspectos mais práticos da vida (trabalho, dinheiro, saúde) não fluam com eficiência. O homem identifica-se com a criação, com seu ego, com seu corpo e com todo o grande jogo da Maya. Neste sentido, o Brahma Granthi fomenta o apego ao mundo e aos seus aspectos mais densos. Brahma Granthi está relacionado com Kriya Shakti, o poder de agir, de atuar. Este poder de agir enquanto identificado com a energia ilusória da criação, amarra o homem ao plano denso da materialidade, ao nível mais tamásico (Guna Tamas). Este Granthi Também está relacionado ao anéis musculares pélvico e abdominal, da psicologia Reichiana. Romper o Brahma Granthi leva a agir-se como o ator, e não mais como o personagem, no interminável drama evolutivo da vida. E Hatha Yoga (o Yoga da saúde psicofísica) e Karma Yoga ( o Yoga do desapego) são os caminhos indicados para este nível, e seu desbloqueio libera o corpo dos registros e padrões impressos na musculatura e nas articulações, e desidentifica o homem do seu egocentrismo. Superar o Brahma Granthi significa usar positiva e equilibradamente a determinação, a objetividade, a coragem, o cuidado com a saúde e a beleza do corpo, a prosperidade material, a paternidade.
  • 40. 40 E o deus hindu Ganesha está relacionado a este Granthi, na medida em que o deus com cabeça de elefante simboliza o nosso próprio poder de abrir os nossos próprios caminhos , vencer nosso medos, superar nossos obstáculos e crescer. ● O segundo Granthi é Vishnu Granthi, o nó que se localiza na região do Anahata Chakra (elemento Ar) que é o Chakra da afetividade, dos sentimentos, do amor, da compaixão. Vishnu é o aspecto divino relacionado com o Amor (Rama, Krishna, etc.), que transmuta a emoção em devoção (amor universal incondicional). O Anahata Chakra está relacionado a glândula timo e ao Prana Prana (elemento Ar), que rege as funções pulmonar e cardíaca, e circula em fluxo ascendente (ao contrário de Apana) gerenciando tudo aquilo que é absorvido (em todos os sentidos). Este segundo nó faz com que o homem selecione os objetos a serem amados (meus filhos, meus amigos, meus pais, minha casa, meu carro, etc.) e cria apego por estes objetos. A religiosidade excessivamente emocionalizada também é uma característica dos obstáculos criados por este nó. Vishnu Granthi pode ser desbloqueado por Iccha Shakti, o poder de desejar. Quando enredado por Maya (ilusão da separatividade), e sob o impulso da Guna Rajas, o homem cria desejos e necessidades segundo seus instintos e seus apegos. Quando o desejo se sutiliza o homem desenvolve mumukshutwam, o desejo pela Liberação, pela Consciência da Unidade. Este Granthi também está relacionado aos anéis musculares diafragmático e toráxico da psicologia Reichiana. Romper o Vishnu Granthi leva a uma interação afetiva desimpedida abrindo caminho ao Amor Total que leva o homem à amar indistintamente toda a Criação, expressando plena e equilibradamente as suas emoções e dissolvendo suas couraças afetivas e relacionais. Possibilita ainda que não se reprima nenhuma emoção vivenciada, ao contrário, que se perceba a emoção, que se sinta, se expresse e deixe que passe.
  • 41. 41 Bhakti Yoga (o Yoga da devoção e do Amor Universal) é o processo, no universo hindu, mais indicado para trabalhar este Granthi, e Prema (a realização do Amor Universal) é o coroamento deste processo. ● Finalmente, o terceiro nó, Shiva Granthi (ou Rudra Granthi), localiza-se na região do Ajña Cakra. Ajña é o Chakra que tanto gerencia o exercício da especulação intelectual e racional (desde o que se refere a vazia "masturbação mental" até à reflexão sobre o Conhecimento), quanto à própria visão da Unicidade e da realidade de que somos a plenitude e a felicidade que buscamos. O Ajña Chakra também está relacionado com a conexão com as outras dimensões, com a sensitividade, a intuição, a mediunidade, e está relacionado à glândula hipófise. Shiva é o deus hindu dos ascetas, do Yoga e da meditação. Simboliza nosso próprio poder de transformar nossa vida e transmutar toda a sombra em Luz ; e também simboliza a conexão com nosso interior, com nosso centro. Shiva Granthi faz com que o homem se perca na intelectualidade vazia e estéril, não instrumentalizando eficientemente seu complexo psíquico para a auto-realização. Perder-se no caminho em função da aquisição de Siddhis (poderes psíquicos) quando isto desequilibra o ego e a mente, também é um obstáculo relacionado ao Shiva Granthi. Este Granthi é desbloqueado por Jñana Shakti, o poder de conhecer. Tanto de conhecer no sentido de acumular informações, como conhecer no sentido do próprio Conhecimento e Sabedoria. O desejo pela liberação, pela consciência da Unidade, despertado no rompimento do segundo Granthi, faz com que o homem use sua mente e intelecto para questionar e refletir sobre esta Unidade. Shiva Granthi também está relacionado aos anéis musculares oral e ocular, da psicologia Reichiana. Rompido Shiva Granthi obtem-se a visão da Realidade Absoluta. Sattwa Guna é o impulso que permeia este nível.
  • 42. 42 Dentro do amplo instrumental do Tantra, a principal técnica utilizada para auxiliar no rompimento dos Granthis, é Bhastrika (o Fole), que além de ser um Pranayama (trabalho respiratório e energético), é uma poderosa Kriya (técnica de purificação). Jñana Yoga (o Yoga do Conhecimento e da Sabedoria) e Raja Yoga (o Yoga da meditação) são, dentro da perspectiva hindu, os caminhos mais indicados para trabalhar e superar este Granthi.
  • 43. 43 YOGA E YOGATERAPIA NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DOS DESEQUILÍBRIOS DOS DOSHAS. "Yoga e Ayurveda caminham juntos. Yoga e Ayurveda são antigas disciplinas de vida que tem sido praticadas há muitos séculos na India. Eles são mencionados nos Vedas e nas Upanishads. Yoga é a ciência da união com o Divino, com a Verdade, e o Ayurveda é a ciência da vida. Yoga participa com o Conhecimento e o Ayurveda com a perfeita saúde. Portanto, um yogi que não conhece Ayurveda é um meio-yogi e um terapeuta ayurvédico que não conhece Yoga é um meio-terapeuta ayurvédico. O objetivo do Yoga é a união com o Ser Supremo, mas esta união só pode ser obtida quando você tem um corpo saudável, uma mente saudável e uma consciência saudável. Assim , Yoga e Ayurveda são os alicerces da vida. São as duas faces de uma mesma moeda. Eles são Um. Asana, pranayama, relaxamento, mantra e meditação são algumas das principais prescrições do Ayurveda." Dr. Vasant Lad "O Yoga é o aspecto prático das escrituras védicas, enquanto que o Ayurveda é o da cura. Na prática, ambos se superpõem." David Frowley Segundo o Samkhya - a filosofia pré-védica que embasa o Yoga e o Ayurveda e que classifica e estuda todo o processo da criação do Universo - esta criação começa a partir da interação de um princípio espiritual, transcedental chamado Purusha, com um princípio vital, material – chamado Prakriti. Fazendo uma analogia, Purusha seria como a eletricidade e Prakriti, a lâmpada. A luz - neste caso a Criação - ocorre quando a Consciência e a energia animam a matéria. Da mesma forma como a luz gerada por uma lâmpada é fruto da interação das três cores básicas - amarelo, azul e vermelho - a Prakriti age na Criação manifestando suas três Gunas - as qualidades da natureza
  • 44. 44 material : Sattwa , o princípio do equilíbrio, da paz, da pureza ; Rajas , o princípio do movimento, da atividade, da paixão ; e Tamas, o princípio da inércia, da escuridão e da ignorância. As Gunas vão interagir complexa e infinitamente dos níveis mais sutís aos mais densos da criação, do mais espiritual ao mais abissal. Segundo o Tantra - e este conhecimento é importante no trabalho com Yoga e com Ayurveda - a função de Rajas (equilibrado) é atuar de forma ativa sobre Tamas para suprimir Sattwa, ou utilizar Sattwa para se equilibrar e suprimir Tamas. A função de Sattwa é criar condições para a transcendência, e a de Tamas é manter o estado de ignorância. A partir da manifestação das Gunas surge o nível Causal – Mahat ou Buddhi. No homem, Buddhi é o intelecto superior responsável pela faculdade do discernimento, e é aonde centra-se Avidya, a ignorância do nosso estado Uno, e que resulta em Maya, a identificação equivocada com esta realidade dual, e consequentemente com o ego e com a mente. Localiza-se - usando as duas terminologias hindus que definem os diferentes corpos e dimensões do ser - no Karana Sharira (o corpo causal, o inconsciente) ou ainda em Ananda e Vijñana Maya Kosha (os "invólucros" da bem-aventurança e do intelecto). De Buddhi manifesta-se Ahamkara, o ego. Do ego manifesta-se Manas - a mente, o receptáculo de Chitta, a matéria mental e a memória de onde advém os Vrittis, os movimentos da mente (os pensamentos). Nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações vão criar os Samskaras (impressões na mente) que vão determinar os sistemas de crenças e padrões - Vasanas (tendências), isto é, nosso caráter e personalidade. Isso tudo se processa no nivel do Sukshma Sharira - corpo sutil (ou em Mano e Prana Maya Kosha, os invólucros da mente e do Prana). Em Pranamaya Kosha é que se processa o nível mais periférico dos Chakras (as pétalas) e as Pranavaha Nadis (condutos de energia que conduzem o Prana). Em Manomayakosha , Ojas Shakti - a energia mental - é conduzida pelas Manovaha Nadis (Nadis que conduzem Ojas). Manomaya e Vijñanamaya Kosha estão relacionados ao nível mais interno dos Chakras (botão), e Anandamaya Kosha ao nível mais profundo - a raíz dos Chakras.
  • 45. 45 De Manas, manifestam-se os 5 Tanmatras (5 sentidos : visão, audição, paladar, olfato, tato), os 5 Jñana Indriyas (órgãos de conhecimento : olhos, ouvidos, pele, nariz, língua), os 5 Karma Indriyas (órgãos de ação : pés, mãos, bôca, ânus, genitais) e os 5 Mahabhutas (elementos : terra-Prihtivi, fogo-Agni ou Tejas, água-Jala ou Apas , ar- Vayu, éter-Akasha). Isso tudo localiza-se no nível do Shtula Sharira, o corpo denso (ou Annamaya Kosha, o invólucro do alimento, área de atuação do Jataragni). Buddhi, Ahamkara e Manas, compõem o Antahkarana, ou órgão interno. Finalmente, da interação dos 5 Mahabhutas surge o Tridosha (os três Doshas) : Vata, da interação do éter com o ar: Dosha frio e seco, e que fundamentalmente controla o movimento. Pitta, do fogo com a água: Dosha quente, que controla o metabolismo. Kapha, terra e água: Dosha frio e úmido, que controla a estrutura. E a infinita e complexa interação destes três princípios reflete o aspecto mais material da criação dos níveis macro ao microcósmico em todos os seres vivos. Os Doshas também são a ponte entre nossa mente e nossa fisiologia. Cada um dos Doshas está relacionado a uma essência sutil : Vata está relacionado com o Prana - a energia vital, que se subdivide em 5 Pranas (ou Vayus = ventos) ; Pitta com Tejas ou Agni, o fogo essencial (cujo aspecto mais importante para o Ayurveda é Jataragni, o fogo digestivo) e Kapha com Ojas (a energia mental e sexual) e com os liquidos corporais. Poderíamos dizer, utilizando as palavras de Robert Svoboda, que Prana, Tejas e Ojas "são as expressões quintessenciais dos 5 Mahabhutas em sua aplicação à vida encarnada" e que os Doshas "são as formas mais grosseiras de Prana, Tejas e Ojas", e "são as formas condensadas dos 5 Mahabhutas". As três Gunas atuam interagindo-se ampla e profundamente nos e com os três Doshas, mas de uma forma geral, Vata e Pitta relacionam-se mais a Rajas e Kapha a Tamas (Sattwa é a Guna do equilíbrio). Davi Frowley chama as Gunas de “Doshas mentais”.
  • 46. 46 Há mais de 5000 anos na India, desenvolveu-se a Medicina Ayurvédica, profundamente embasada na filosofia Samkhya e no Tantra (também de origem dravidiana pré-védica). Nesta ciência, a espinha dorsal é o conhecimento dos Doshas e sua atuação no ser humano, tanto física, quanto psicológica , emocional e energéticamente. À partir dos conhecimento dos Doshas e da origem e consequências de seus desequilíbrios, estabeleceu-se tipologias específicas, e à partir daí toda uma metodologia de diagnósticos, dietética, massagens, fitoterapia, farmacologia, cirurgia, etc. Todas as pessoas apresentam uma interação complexa destes três princípios. O mais comum é predominar um dos Doshas, havendo o hábito de ser dizer, por exemplo, que tal pessoa é "Vata-Pitta" ou " Pitta- Kapha", considerando-se o Dosha predominante e o que vem em segundo lugar de importância. São duas, as classificações consideradas para efeito do levantamento da tipologia pessoal: a Prakriti, isto é, a sua configuração dos três Doshas por ocasião de seu nascimento, e a Vikriti, a configuração que se apresenta agora, neste momento. A sua referência de equilíbrio é a sua própria Prakritti. As terapias ayurvédicas estarão sempre ajudando a manter e/ou trazer sua Vikriti ao nível da sua Prakriti. O Dosha Vata é sempre o que mais se desequilibra, geralmente também desequilibrando os outros doshas. Este perfil pessoal vai apontar entre outras coisas - e o que é, aliás, o assunto central deste texto - os pontos fracos, as vulnerabilidades e fragilidades inerentes aos Doshas predominantes, e quando em desequilíbrio. Predominância Vata ou aumento de Vata, por exemplo, criam vulnerabilidades na área das articulações (artroses, artrites, etc.), dos intestinos (prisão de ventre), tendência para o consumismo, apetite instável, stress, doenças nervosas, fobias, dores em geral, medos, insônia, e memória ruim. Como é um Dosha frio e sêco, poderá haver tendência a se resfriar, e a ter pele e cabelos sêcos. Tem normalmente estrutura corporal magra e ossuda. Vata está relacionado aos 5 Pranas, pois cada Prana é um sob-Dosha de Vata (cada Dosha tem 5 sub-Doshas), ainda assim, tem uma relação mais intensa com os Pranas Prana (aspecto funcional do prana que gerencia os processsos de absorção. Está relacionado ao Chakra Anahata
  • 47. 47 - elemento ar - e a glândula timo, gerenciando a respiração, atividade cardíaca, cintura escapular , membros superiores, afetos e sentimentos) e ao Prana Udana ( É o Prana do Chakra Vishuddha - elemento éter - e da glândula tireóide. Gerencia voz, garganta, cervical, visão, olfato, audição, todo o cérebro, criatividade, comunicação). A predominância de Pitta ou seu aumento excessivo, poderá acarretar em fragilidade na área estomacal - gastrites, por exemplo - se abusar, pois Pitta come muito bem e em geral digere bem. Tem tendência à irritabilidade, raiva, ódio e ciúme. É o "pavio curto", o que aliás também é péssimo para o estômago, aumentando a secreção de ácido clorídrico, tornando-o uma vitima potencial de úlcera. Eventualmente pode ter desarranjos intestinais e problemas de pele. Como é um Dosha quente, Pitta tem pouca tolerância ao calor. Pitta está relacionado ao Prana Samana (Prana da assimilação. Relaciona-se ao Chakra Manipura - elemento fogo e a glândula pâncreas, gerenciando o calor corporal, a digestão, estômago, intestino delgado, fígado, vesícula, emoção, auto-estima, poder pessoal) Por fim, a predominância de Kapha apresenta normalmente forte estrutura corporal com tendência a obesidade. De apetite voraz, tem tendência a ter glicose e colesterol altos. Dorme muito. Pode vivenciar obesidade, preguiça, pessimismo, inveja, estados depressivos, e também avareza e mesquinhez. Kapha tem tendência à criar muito muco, devendo ter cuidado para evitar pneumonias, rinites, sinusites, bronquites. E uma das principais características de Kapha é a umidade e a oleosidade. Kapha está relacionado aos Pranas Vyana (Prana da circulação. Está relacionado ao Chakra Swadhisthana - elemento água - e às glândulas reprodutoras, gerenciando a circulação dos líquidos pelo corpo, a cintura pélvica, região lombar, sensualidade, sexualidade e reprodução) e Apana (Prana da eliminação. Relacionado ao Chakra Muladhara - elemento terra - e as glândulas supra-renais, e gerencia a base, as pernas e os pés, intestino grosso, ânus, excreções de uma forma geral, instinto de defesa, apego, medo). Então, para ajudar na promoção da saúde e no tratamento das doenças, o Ayurveda utiliza o Yoga como uma das suas mais importantes
  • 48. 48 ferramentas terapêuticas. Aliás, todo o conhecimento - teórico e prático - espiritual, filosófico e terapêutico hindu repousa sólidamente sobre os pilares do Ayurveda, do Yoga, do Tantra e da Vedanta. Seguindo a premissa ayurvédica de que todo o trabalho deve ser absolutamente personalizado, a Yogaterapia ayurvédica (chamada pelo Dr. Vasant Lad de AyurYoga) vai buscar atuar de encontro às particularidades tipológicas de cada um , utilizando o instrumental do Hatha e do Tantra Yoga - Asana (posturas), Pranayama (respirações), Kriya (limpezas), Bandha (contrações), Mudra (gestos energéticos), Mantra (vocalizações energéticas), Nidra (relaxamento) e meditação - que podem ser associados a práticas ayurvédicas complementares, tais como massagem, dietética e fitoterapia. A prática yóguica mais diretamente relacionada com os Doshas é a Pavana Muktasana (literalmente "liberação dos ventos" - articulares, estomacais e intestinais). Trata-se de uma técnica formada de 4 séries de exercícios físicos e respiratórios : - A primeira série chamada "anti-reumática" (ou Sukshma Vyayama : exercícios sutís), trabalha mobilizações que movimentam todas as articulações do corpo, desimpedindo o fluxo energético por atuar sobre os Chakras auxiliares localizados em cada articulação do corpo. As articulações acumulam toxinas oriundas principalmente da má alimentação e da vida sedentária. Esta série está relacionada a Vata Dosha. - A segunda série chamada "anti-gastrítica" (ou Apanasana : as Asanas do Apana, a energia que gerencia a excreção), trabalha envolvendo principalmente a musculatura abdominal. Energiza e equilibra o Jataragni. Esta série está relacionada a Pitta Dosha, embora Vata também seja beneficiado em razão de sua tendência à prisão de ventre. - A terceira série, energizante (ou Shakti Bandha: contrações energéticas), está relacionada a Kapha Dosha. - E a quarta série chamada Trataka, são exercícios específicos para os olhos, e que vão beneficiar especialmente Pitta, que é o Dosha dos olhos, da visão. As técnicas de Pavana Muktasana foram resgatadas e recodificadas por Swami Satyananda Saraswati, e podem ser encontradas em seu livro
  • 49. 49 : " Yogasana, Pranayama, Mudra, Kriya, Nidra" e no livro "Psicologia do Tantra" do prof. Paulo Murilo Rosas. Pavana Muktasana é excelente para manter e/ou restaurar o equilibrio dos três Doshas. A série de Surya Namaskaram (saudação ao Sol) também pode e deve ser feita regularmente para equilibrar os Doshas. Deve-se apenas observar que esta série, segundo o Tantra, atua energizando especialmente a Nadi Pingala (polaridade solar, masculina, ativa, quente, positiva, tonificante). Como Vata e Kapha estão mais relacionados a Nadi Ida (polaridade lunar, fria, passiva, feminina, negativa, sedante) e Pitta a Nadi Pingala, as pessoas de Vata e Kapha devem fazer a série de forma bem dinâmica com as respectivas respirações (Vata deve estar muito atento ao ritmo) e as pessoas Pitta devem fazer a série mais lentamente, com a respiração livre, suave e profunda, com ênfase na expiração. Vata está relacionado com o Chakras Anahata (elemento ar) e Vishudha (éter) e necessita de "trabalho de base" para drenar o excesso de energia dos Chakras superiores para os básicos . Vata será beneficiado com a prática de Yoga Sukshma Vyayama (ver "Psicologia do Tantra" , prof. Paulo Murilo Rosas), que aquece e promove "grounding", trabalhando a energia dos Chakras superiores para os básicos (Shristhi Krama, ou o Caminho da criação). Posturas de grounding também são os Trikonasanas e Parshwa Konasana - que também aumentam a capacidade respiratória promovendo a abertura do gradil costal - e os Guerreiros (Virabhadrasana) 1 e 2. O trabalho de Pavana Muktasana é excepcionalmente benéfico para Vata, especialmente as duas primeiras séries, mas as pessoas que possuem este Dosha muito elevado não devem exagerar, pois esta técnica trabalha movimentando a energia dos Chakras básicos para os superiores (chamado no Tantra de Laya Krama, ou o Caminho da dissolução). Uma solução seria alternar Pavana Muktasana com Yoga Sukshma Vyayama. Posturas de meditação - Dhyanasanas (Padmasana, Vajrasana, Sukhasana, Siddhasana) vão dar segurança e estabilidade para Vata. É o Dosha mais beneficiado pelas práticas de concentração e meditação.
  • 50. 50 Surya Namaskaram também é excelente para equilibrar Vata, promover grounding, aquecer e manter as articulações e os intestinos em boas condições. Trabalhos articulares para a coluna, como o Gato - que pode ser desdobrado de várias formas - vão manter a saúde das articulações vertebrais, raízes nervosas, ligamentos e músculos das costas. Também são interessantes as posturas de extensão (Bhujangasana, Dhanurasana, Chakrasana, Ustrasana) - para abrir os peitorais e o gradil costal; de flexão da coluna (Paschimottanasana, Padahastasana, Janushirshasana) para tonificar os intestinos e sedar o sistema nervoso ; e de equilibrio (Vrikshasana, Natarajasana). E é bastante útil a prática de Mula Bandha (contração do períneo) durante as Asanas, para tonificar o aparelho excretor e para energizar os dois primeiros Chakras básicos. Pranayamas com ritmo e sem retenções prolongadas - como Anuloma Viloma, respiração completa com Krama, respiração quadrada (Samavritti) - são boas para equilibrar Vata. Pitta Dosha será reequilibrado com Pranayamas sedantes : Chandra, Chandra Bheda, Nadi Shodhana, Shitali, Sitkari. e lentas respirações abdominais com ênfase na expiração. Asanas de compressão do ventre são importantes para sedar Pitta e acalmar o Jataragni, como Paschimottanasana e Matsyendrasana. Inversamente, posturas de extensão (Chakrasana, Ustrasana, Dhanurasana) vão tender a aumentar Pitta e o Jataragni. O trabalho de Pavana Muktasana - especialmente a segunda série - vai ajudar a equilibrar Pitta. Pitta também é sedado com posturas de inversão (Viparita karani e Sarvangasana). Posturas de equilíbrio também são importantes para Pitta. É o Dosha mais beneficiado pela prática de relaxamento e de Yoga Nidra (meditação composta de relaxamento com visualizações). O Dosha Pitta é o que está mais diretamente relacionado com Jataragni, o fogo digestivo, por isso são muito úteis os trabalhos com as Kriya (purificações) Agni Sara (limpeza pelo fogo) e Kapalabhati (o
  • 51. 51 sopro do crâneo) e com Uddhyana Bandha (se não houver gastrite), feitas sem exagero. Vão equilibrar e manter a boa qualidade do Jataragni. Bhastrika Pranayama (o fole) vai aumentar bastante Pitta e o Jataragni. Yoga Sukshma Vyayama também vai tender a aumentar Pitta. De uma forma geral, os Pranayamas - especialmente os com retenções mais longas - vão beneficiar especialmente o Dosha Kapha, mantendo o aparelho respiratório em boas condições. Respiração completa com ritmo (1:4:2:4) e com ênfase nas fases média (intercostal) e alta (torácica). Kriyas de limpeza como Kapalabhati e Agni Sara, e Pranayamas tonificantes como Bhastrika (se não for hipertenso), Surya e Surya Bheda, Ujjayi, feitos moderadamente, são interessantes para Kapha. Este Dosha também será muito beneficiado com a prática de Asanas de uma forma mais movimentada, como Surya Namaskaram ou Asanas com Vinyasa (Asanas dinâmicas, como Ashtanga Vinyasa). Kapha, o Dosha da base, da estrutura, está relacionado aos Chakras básicos : Muladhara (elemento terra) e Swadhisthana (água). A Pavana Muktasana vai atuar positivamente em Kapha, drenando o excesso de energia da base para os Chakras superiores. Já Yoga Sukshma Vyayama, que embora seja uma técnica quente e movimentada - bom, portanto, para Kapha - funciona drenando a energia para os Chakras básicos, e não deve ser feita com exagero, preferencialmente alternando-se com Pavana Muktasana. Segundo o critério de Langhana e Brimhana - os parâmetros ayurvédicos de classificação e avaliação dos processos da sedação e da tonificação (e que será assunto de um outro texto), dentre as Asanas e os Pranayamas que tem efeitos sedantes e tonificantes, aqueles que tem específicamente efeito equilibrador e harmonizador para todas as tipologias são : Nadi shodhana (a respiração polarizada) e Shirshasana (postura sobre a cabeça), esta ultima levando-se em conta suas contra indicações (hipertensão, glaucoma,etc.).
  • 52. 52 ASANAS PARA OS DESEQUILÍBRIOS DOS DOSHAS : (Segundo o Dr. Vasant Lad) 1. ASANAS PARA DESEQUILIBRIOS DE VATA : - ASMA : Supta Vajrasana, Halasana, Pavana Muktasana (a asana) , Shavasana. - DOR NAS COSTAS : Pavana Muktasana, Halasana, Ardha Chakrasana, Supta Vajrasana. - PRISÃO DE VENTRE : Supta Vajrasana, Yoga Mudra, Pavana Muktasana, Sarvangasana, Shavasana. Fazer todas as asanas com a barriga contraída. - DEPRESSÃO : Yoga Mudra, Halasana, Padmasana, Nitambasana, Shavasana. - DOR CIÁTICA : Pavana Muktasana, Supta Vajrasana, Halasana, Yoga Mudra, Ardha Chakrasana. - DEBILIDADE SEXUAL : Supta Vajrasana, Halasana, Sarvangasana, Kukutasana. - VARIZES : Sirshasana, Supta Vajrasana, Shavasana. - RUGAS : Yoga Mudra, Supta Vajrasana, Sirshasana, Halasana. - ARTRITE REUMATÓIDE : Ardha Chakrasana, Dhanurasana, Halasana, Sirshasana, Supta Vajrasana. - DOR DE CABEÇA : Halasana, Yoga Mudra, Sirshasana. - INSÔNIA : Shavasana, Bhujangasana, Supta Vajrasana. - DISTÚRBIOS MENSTRUAIS : Halasana, Bhujangasana, Ardha Chakrasana, Yoga Mudra. 2. ASANAS PARA DESEQUILÍBRIOS DE PITTA - ÚLCERA PÉPTICA : Shitali Pranayama. - HIPERTIREOIDISMO : Sarvangasana, Karna Pidasana. - MÁ DISGESTÃO : Pavana Muktasana, Matsyasana, Shalabhasana. - HIPERTENSÃO : Sarvangasana, Bhujangasana, Naukasana. - RAIVA OU ÓDIO : Naukasana, Sarvangasana, Shavasana. - ENXAQUECA : Shitali Pranayama, Sarvangasana, Matsyasana. - COLITE : Matsyasana, Karna Pidasana, Navasana, Dhanurasana. - DISTÚRBIO HEPÁTICO : Matsyasana, Sarvangasana, Karna Pidasana. - HEMORRÓIDAS : Matsyasana, Sarvangasana, Dhanurasana.
  • 53. 53 - ESTOMATITE (Inflamação da língua) : Shitali Pranayama. 3. ASANAS PARA DESEQUILÍBRIOS DE KAPHA : - BRONQUITE : Sirshasana, Halasana, Garbhasana, Supta Vajrasana, Ardha Chakrasana, Matsyasana, - EFIZEMA : Ardha Chakrasana, Sarvangasana. - RINITE : Matsyasana, Navasana, Halasana, Dhanurasana, Bhastrika. - SINUSITE : Simhasana, Paschimottanasana, Matsyasana. - DIABETES : Navasana, Matsyasana, Ardha Chakrasana, Supta Vajrasana, Garbhasana. - DESORDENS GASTROINTESTINAIS CRÔNICAS : Matsyasana, Shalabhasana, Bhujangasana. - GARGANTA INFLAMADA : Simhasana, Sarvangasana, Shalabhasana, Matsyasana. - BRONQUITE ASMÁTICA : Ardha Chakrasana, Dhanurasana, Sarvangasana, Navasana, Nitambasana, Matsyasana, Bhujangasana.
  • 54. 54 KARMA e KRIYA As purificações no Yoga, no Tantra e no Ayurveda A intenção deste pequeno texto comparativo, é apenas o de " lançar lenha na fogueira " no sentido de estimular um desenvolvimento mais amplo e profundo no estudo e na pesquisa sobre as purificações e limpezas, tanto na área do Ayurveda, como nas áreas do Yoga e do Tantra. No Ayurveda e no Hatha Yoga, as purificações trabalham do físico para o energético. No Tantra ocorre o inverso. Isso caracteriza perfeitamente o aspecto fundamentalmente holístico das ciências e das práticas hindus, onde o homem é considerado como sendo um ser uno em suas dimensões física, emocional, psíquica e energética, e que é absolutamente interagente com seu meio e com seus semelhantes. Estas interações se processam sempre no sentido da " mão dupla" , isto é - como diz a música de Walter Franco - "de dentro prá fora, de fora prá dentro". Ou seja, mexeu no externo afeta o interno, e vice-versa. E se nós queremos trabalhar com a energia, devemos primeiro promover a desobstrução de seus caminhos. E este é o objetivo das Kriya. I. No Ayurveda (Panchakarma) A) Fonte : Gérard Edde SEGUNDO CHARAKA : 1. Lavagem anal (clister) 2. Purgação 3. Vômito provocado 4. Lavagem anal com óleos 5. Tratamento nasal
  • 55. 55 SHARANGADHARA considerava a sangria como um dos Panchakarmas. SEGUNDO SUSHRUTA : 1. Métodos preparatórios : dieta, lavagem a óleo, sudorificação 2. Métodos principais : vômitos, purgação, clister, tratamento nasal, sangria 3. Métodos de revitalização: repouso, alimentação equilibrada SEGUNDO O AUTOR DO LIVRO : 1. Lavagem a óleo (administração interna e externa de óleo) 2. Sudação - Swedan (sol, vapor, banho quente, sauna) 3. Clister (lavagem intestinal) 4. Tratamento nasal - Nasya 5. Vômito - Vaman B) Fonte : Dr.Vasant Lad 1. Vômito terapêutico (Vaman) 2. Purgativos ou laxantes (Virechan) 3. Enema / clister medicamentoso (Basti) 4. Administração nasal de medicamentos (Nasya) - massagem com ghee 5. Redução sanguínea / purificação do sangue (sangria) C) Fonte : Dr.Deepak Chopra 1. Ingestão de óleo (Sneehana) 2. Laxante (Virechana) 3. Massagem de óleo (Abhyanga) 4. Tratamentos sudoríferos (Swedana) 5. Clister medicinal (Basti) 6. Aplicações nasais (Nasya)
  • 56. 56 II. No Hatha Yoga (Shat Karmas) HATHA YOGA PRADIPIKA (tradução de Caio Miranda) : 1. Dhauti : limpeza estomacal com gaze 2. Basti : limpeza do reto com água 3. Neti : limpeza do nariz com fio 4. Trataka : fixar os olhos sem pestanejar 5. Nauli : movimentação dos músculos reto-abdominais 6. Kapalabhati : respiração do fole GERANDHA SAMHITA (trad. Caio Miranda) : 1. Dhauti Antardhauti (lavagem interna) Vatasara (purificação pelo vento) ; Varisara (purificação pela água) ; Agnisara (purificação pelo fogo) ; Dantadhauti (limpeza dos dentes) Dantamuladhauti (purificação dos dentes) ; Jihwa Sadhana (purificação da lingua) Hriddhauti (limpeza do coração) Dandadhauti (purificação com vara de tanchagem) ; Vamana (vômito) ; Vasas (limpeza com gaze) Mulasadhana (limpeza do reto) Karmadhauti (limpeza dos ouvidos) Kapalarandradhauti (pressão do polegar na testa) 2. Basti Jalabasti (limpeza do reto com água) Sthalabasti (paschimottanasana com ashwini mudra)
  • 57. 57 3. Neti Sutraneti (limpeza do nariz com fio) Jalaneti (limpeza do nariz com água) Dughdaneti (limpeza do nariz com leite) Ghrtaneti (limpeza do nariz com ghee) 4. Nauli / Lauliki : movimentos do abdomen 5. Trataka : para os olhos 6. Kapalabhati Vamakrama Vyutkrama e Sitkrama (limpeza das narinas com água) III. No Tantra (Kriya) (Fonte : Paulo Murilo Rosas) 1. Padadhirasana : compressão das axilas com as mãos, para a desobstrução das narinas. 2. Kapalabhati : sopro do craneo brilhante (respiração de fole com ênfase na expiração) desobstrução das nadis Ida e Pingala e energização do Manipura Chakra. 3. Agni Sara : purificação com o fogo (fole abdominal com pulmões vazios) limpeza do Kanda e energização do Manipura Chakra 4. Bhastrika : respiração do fole desobstrução da Sushumna Nadi e dos Granthis no nível da raiz dos chakras. Energização dos Chakras, especialmente o Manipura. 5. Nadi Shodhana : respiração polarizada desobstrução e equilibrio das Nadis Ida e Pingala , no nivel das pétalas dos Chakras. OBS : No Tantra, as Kriya devem ser feitas sempre antes das Asanas. Agni Sara, Kapalabhati e Bhastrika, bem como Udhiyana Bandha - que não é exatamente uma Kriya mas pode ser encaixada aqui - devem ser executadas seguidas de Kumbhaka com Mula Bandha, Jalandhara Bandha e Jñana Mudra.
  • 58. 58 LANGHANA E BRIMHANA : O Yin/Yang do Ayurveda. Sua aplicação no Yoga e na Yogaterapia. A intenção deste texto é apresentar os conceitos ayurvédicos ainda pouco conhecidos de Langhana e Brimhana. Estes conceitos vem trazer para o Yoga e para a Yogaterapia subsídios técnicos importantes na área da tonificação e da sedação. Considera-se que o yogi Krishnamacharya quem adaptou para as Asanas e Pranayamas os conceitos ayurvédicos de Langhana e Brimhana. Na tabela 1, temos a apresentação de Langhana e Brimhana. Na tabela 2, vemos como os critérios de sedação e tonificação atuam na área da respiração. Na tabela 3, temos estes conceitos aplicados aos pranayamas, e na Tabela 4, sua aplicação nas asanas. Seguindo o mesmo critério que norteia as ciências orientais, onde a intuição e a experimentação foram e são as principais ferramentas utilizadas para a descoberta e para o desenvolvimento da grande quantidade de técnicas disponíveis, e também considerando a escassa literatura sobre Ayurveda existente em língua portuguesa, sugiro a todos os alunos e colegas interessados em Yoga e Ayurveda que pratiquem e experimentem a técnica de Langhana e Brimhana aplicada ao Yoga e continuem aprofundando e desenvolvendo este útil conhecimento. Fonte : Dr. Richard Miller, PhD e Joseph LePage - Integrative Yogatherapy (USA)
  • 59. 59 LANGHANA BRIMHANA Guna Tamas Guna Rajas Contração Expansão Lunar / Chandra / Tha Solar / Surya / Ha Feminino Masculino Frio Quente Yin Yang Kapha e Vata Dosha Pitta Dosha Narina esquerda (Ida) Narina direita (Pingala) Passivo Ativo Polaridade negativa Polaridade positiva Apana vayu (eliminação) Prana vayu (absorção) Expiração Inspiração Flexão Extensão Sist. Nervoso Parassimpático Sist. Nervoso Simpático Atividade sensora aferente Atividade motora eferente Catabolismo Anabolismo Hemisfério direito do cérebro Hemisfério esquerdo Sedação Tonificação
  • 60. 60 RESPIRAÇÃO BRIMHANA LANGHANA Inspiração 〉 Expiração Expiração 〉 Inspiração Respiração sub-clavicular Respiração abdominal Respiração rápida Respiração lenta Narina direita Narina esquerda Retenção pulmões cheios Ret. pulmões vazios Respiração pela boca Respiração pelo nariz Respiração completa ↓↓↓↓ Respiração completa ↑↑↑↑
  • 61. 61 PRANAYAMA Brimhana Bhastrika Surya Pranayama Surya Bheda Viloma Krama Viloma Pranayama Ujjayi Nadi Shodhana Kapalabhati Anuloma Pranayama Anuloma Krama Chandra Bheda Chandra Pranayam Shitali e Sitkari Langhana
  • 62. 62 ASANAS Brimhana Shalabhasana (Gafanhoto) Chakrasana (Roda) Dhanurasana (Arco) Purvottanasana (Plano inclinado) Navasana (Barco) Virabhadrasana (Guerreiro) Utkatasana (Cadeira) Setubhandasana (Ponte) Bhujangasana (Cobra) Ardha Shalabhasana (Meio Gafanhoto) Vrikshasana (Árvore) Shirshasana Sarvangasana (Vela) Viparita Karani (Foice) Halasana (Arado) Ardha Chandrasana (Meia Lua) Trikonasana (Triângulo) Paschimottanasana (Pinça) Uttanasana (Pinça em pé) Matsyendrasana (Torção) Jathara Parivritti (Torção deitada) Apanasana (Joelho no peito) Garbhasana (Feto) Shavasana (Cadáver) Langhana