1. XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006
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Engenharia de Produção e Responsabilidade Social: uma parceria
viável e necessária.
Janaína Mikarla Dantas da Costa (GEPES/UFRN) janadantascosta@yahoo.com.br
Cândici Conceição Nascimento de Paiva (GEPES/UFRN) candici@gmail.com
Fagner Farias de Lima (GEPES/UFRN) fagnerfarias@hotmail.com
Françoise Dominique Valéry (GEPES/UFRN) francoisevalery@hotmail.com
Resumo
Atualmente os cursos universitários buscam atender não apenas o “mercado” mas a
sociedade como um todo. É crescente o número de ações visando atender às demandas
sociais, como uma forma de minimizar a exclusão e promover o bem-estar social. O
envolvimento das Engenharias, e mais especificamente da Engenharia de Produção, com
estudos e ações socialmente responsáveis, é extremamente relevante para o fortalecimento
dessa ciência no contexto social. Para que isso ocorra, faz-se necessário o entendimento por
parte dos profissionais, docentes e discentes, sobre significados e manifestações da
responsabilidade social. Na perspectiva de propiciar uma reflexão sobre a necessidade e a
viabilidade da parceria entre Engenharia de Produção e Responsabilidade Social, o presente
artigo, sem a pretensão de esgotar a discussão, mostra algumas abordagens sobre o conceito
de Responsabilidade Social, aponta algumas habilidades e competências exigidas do
profissional de engenharia de produção no contexto atual, e destaca alguns projetos e ações
“socialmente responsáveis” desenvolvidas no PEP (Programa de Engenharia de Produção)
da UFRN.
Palavras-chave: Responsabilidade social, Engenharia de produção, Perfil profissional.
1. Introdução
A sociedade atual vem sofrendo vários desequilíbrios, seja no âmbito econômico, social ou
ambiental. Algumas posturas organizacionais contribuem para o agravamento desses
desequilíbrios: a poluição do meio ambiente, os altos índices de desemprego causados, a
reestruturação produtiva que intensifica a exploração dos recursos naturais e da mão-de-obra,
especialmente nos países mais pobres. Essas ações empresariais são decorrentes da
globalização da economia, intensificada a partir da criação dos blocos de livre comércio.
Ao lado disso, é visível na impressa falada e escrita, a difusão de ações executadas por
algumas organizações, visando atender às demandas sociais, como uma forma de minimizar a
exclusão e promover o bem-estar social. Nesse cenário, surge no fim do século XX, o
conceito de “Responsabilidade Social Empresarial”.
Segundo o Business for Social Responsability (BSR), a principal entidade mundial na área de
responsabilidade social, a expressão responsabilidade social corporativa, refere-se, de forma
ampla, “a decisões de negócios tomadas com base em valores éticos que incorporam as
dimensões legais, o respeito pelas pessoas, comunidades e meio ambiente”(MACHADO
FILHO, 2006, p. 24).
Nesse contexto, entende-se que o ensino de engenharia não deve estar atendendo apenas as
necessidades do mercado, mas também da própria sociedade. Conseqüência disso, são as
mudanças que estão ocorrendo no perfil do profissional de Engenharia da Produção. Para
investigar essa nova postura dos cursos de engenharia, optou-se por discutir a
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Responsabilidade Social em Engenharia de Produção e algumas formas de manifestação de
ações socialmente responsáveis nesse curso, destacando-se alguns projetos e ações
socialmente responsáveis no PEP (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção)
da UFRN.
Em virtude de poucos estudos sobre o tema nas Engenharias, e mais especificamente na
Engenharia de Produção, este artigo pode proporcionar às comunidades acadêmica e
empresarial uma reflexão acerca da relevância e da viabilidade das “ações socialmente
responsáveis”.
2. Responsabilidade Social: múltiplas abordagens
Nos dias atuais, é notória a difusão das ações socialmente responsáveis exercidas por diversas
instituições. Desta forma, a participação de algumas organizações em promover o bem-estar
social tem sido uma preocupação permanente.
Essas ações são decorrentes dos vários problemas enfrentados pela sociedade, como: a
degradação do meio ambiente e as injustiças e desigualdades sociais. Conforme pontua
Hawkins e Costa (2002, p.2):
Cada vez mais as empresas se deparam com pressões sociais que cobram destas a conservação
do meio ambiente, os respeitos aos direitos trabalhistas e a colaboração com projetos sociais,
entre outros aspectos. O fortalecimento dos direitos do consumidor e a atuação das ONG´s
também exercem importante papel, contribuindo para que as organizações procurem assumir
uma postura socialmente responsável.
Diante da reformulação do papel do Estado como mero regulador das relações sociais, é
visível a relevância e a transformação do papel das empresas perante os vários desafios
mencionados acima. Com isso, algumas instituições vêm desempenhando papéis éticos e
responsáveis com respeito à sociedade e ao meio ambiente; assumindo além da sua função
econômica, qual seja, produção de riqueza para os seus proprietários e/ou acionistas, uma
missão social destinada à promoção social.
A responsabilidade social corporativa surge nos Estados Unidos e nos países da Europa
durante as décadas de 50 e 60 do século XX, “ (...) devido às mudanças que aconteceram no
macro ambiente dos negócios como a elevação dos níveis de renda e elevação de instrução
das pessoas, deteriorização do meio ambiente e surgimento do movimento dos consumidores”
FERREIRA & PASSADOR (2002, p. 2).
Ao revisar-se a literatura especializada, constata-se que a responsabilidade social ainda é um
conceito em construção, possuindo tanto conotação de ações clientelistas como de ações de
cunho emancipatório, relacionadas com o modelo de desenvolvimento sustentável
(VERGARA & BRANCO, 2001; ZOUAIN & SAUERBRONN, 2002; MACHADO &
LAGE, 2002).
De acordo com Machado & Lage (2002), os projetos clientelistas são aqueles que fornecem
apoio às comunidades carentes construindo uma relação de dependência, conseqüentemente
estabelecendo um ciclo vicioso que impede a emancipação da comunidade. Já os projetos
emancipatórios visam desenvolver as capacidades humanas e sociais de uma comunidade,
oferecendo meios das pessoas superarem as condições de pobreza.
Assim sendo, o desenvolvimento de projetos sociais emancipatórios pelas organizações
proporcionam um ambiente favorável para um crescimento econômico a longo prazo, em
bases sustentáveis, por meio de novos níveis socioeconômicos e da diminuição dos impactos
negativos sobre o meio ambiente dos processos produtivos. Nesse sentido, Ferreira &
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Passador (2002, p. 13) dizem que:
A empresa deverá ser pautada pelo envolvimento que saia do assistencialismo e que traga
realmente ao indivíduo a participação cívica, com justiça social, democracia e luta pelos
direitos civis e políticos, relativos à liberdade, direitos econômicos, sociais e culturais, e
direitos à solidariedade, à paz internacional, ao meio ambiente saudável, à comunicação, os
quais, respectivamente, são classificados como direitos de primeira, segunda e terceira
geração.
Todavia, há organizações que possuem uma visão extremamente instrumental em relação ao
desenvolvimento de ações socialmente responsáveis, exercendo ações assistencialistas que
visam apenas atrair para sua organização, profissionais talentosos e clientes fiéis (ALIGLERI
& BORINELLI, 2001).
As ações sociais que as organizações podem exercer são várias, tais como: investimentos no
bem-estar e na melhoria do ambiente de trabalho dos seus funcionários; criação,
implementação e gerenciamento de projetos e programas sociais; e diminuição dos impactos
ambientais envolvidos no processo produtivo.
Desta forma, as organizações juntamente com o Estado e a sociedade civil devem contribuir
para a melhoria da qualidade de vida da sociedade, bem como promover o desenvolvimento
social, a proteção e a preservação ambiental.
O envolvimento das Engenharias, e mais especificamente da Engenharia de Produção, com
estudos e ações socialmente responsáveis, é extremamente relevante para o fortalecimento
dessa ciência no contexto social. Para que isso ocorra faz-se necessário o entendimento por
parte dos profissionais, docentes e discentes, sobre significados e manifestações da
responsabilidade social.
O conceito de responsabilidade social corporativa propõe a idéia de que tanto as organizações
como os indivíduos devem ser responsabilizados pelas conseqüências decorrentes de atitudes
tomadas (ZOUAIN & SAUERBRONN, 2002). Nessa perspectiva, a responsabilidade social é
compreendida por Grajew apud Machado & Laje (2002) como um modelo de gestão que
envolve a ética em todas as atitudes, ou seja, a ética é o princípio que rege o exercício da
responsabilidade social corporativa e que permeia a organização como um todo. Também é
considerada por Grajew, na sua definição, a relação da empresa com os grupos que afetam ou
são afetados pela mesma, os chamados stakeholders, com os quais a organização deve manter
relações responsáveis e éticas, com o intuito de contribuir para o bem-estar social.
Por meio do quadro abaixo, é possível identificar os diversos níveis de responsabilidade
social:
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1ª Visão Obrigação
social
• Maximização do lucro;
• cumprimento das obrigações legais;
• atividades empresariais centradas em critérios econômicos.
2ª Visão Aprovação
social
• Satisfação das obrigações legais e as obrigações sociais que afetam
diretamente a empresa;
• concepção da empresa como um membro da sociedade;
• visão utilitarista da sociedade.
3ª Visão “Stakeholders
Theory”
• Cumprimento das obrigações legais e sociais previstas, relativas às
tendências/problemas que estão surgindo;
• abordagem sistêmica de interdependência entre os agentes sociais: rede
de relacionamento;
• antecipação das questões sociais para resolver no presente, evitando que
se transforme em futuros problemas para sociedade.
Fonte: Adaptado de Montana e Charnov apud Aligleri & Borinelli (2002)
Quadro 1 – Conceituações sobre a Responsabilidade Social Empresarial
Ao se analisar o quadro supra, percebe-se que a responsabilidade social corporativa evoluiu
da noção de cumprimento das suas obrigações legais (pagamento de impostos e taxas) para a
abordagem dos stakeholders, que enfatiza a relação da empresa com os seus fornecedores,
consumidores, clientes, governo, concorrentes e comunidade em geral, criando uma rede de
relacionamento responsável e ética.
Em proposição semelhante, Archie Carrol, em 1979, criou a subdivisão da responsabilidade
social nas dimensões econômica, legal, ética e filantrópica (CARROL apud MACHADO
FILHO, 2006).
Fonte: Carroll apud Machado Filho (2006)
Figura 1 –Pirâmide de Carroll
A responsabilidade econômica envolve as obrigações da empresa de serem produtivas e
rentáveis. A responsabilidade legal corresponde às expectativas da sociedade de que as
empresas cumpram suas obrigações de acordo com o arcabouço legal existente. A
responsabilidade ética refere-se às empresas que, dentro do contexto em que se inserem,
tenham um comportamento apropriado de acordo com as expectativas existentes entre os
agentes da sociedade. A responsabilidade discricionária (filantrópica) reflete o desejo comum
de que as empresas estejam ativamente envolvidas na melhoria do ambiente social. Essa
última dimensão vai, portanto, além das funções básicas tradicionalmente esperadas da
atividade empresarial, e pode ser considerada como uma extensão de dimensão ética.
(MACHADO FILHO, 2006).
Apesar dessa subdivisão representar um importante referencial para a operacionalização das
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variáveis mencionadas, Machado Filho (2006) alerta para as sutis diferenças entre as mesmas,
ou seja, seus limites em várias situações podem estar sobrepostos e se confundirem. Isso
porque, tais conceitos variam em função do ambiente institucional. Então, o que pode ser
considerado ético ou socialmente responsável pode variar significativamente em função do
ambiente organizacional onde as empresas se inserem, incluindo a natureza e a qualidade de
suas relações com um conjunto mais amplo dos seus stakeholders atuais e com as futuras
gerações. Machado Filho (2006) acrescenta que a responsabilidade social se caracteriza hoje
como um processo, e não apenas como mais um modismo corporativo. Esse processo envolve
fatores importantes, tais como: reputação, ética, governança, que devem ser considerados,
para viabilizar o engajamento das empresas no desenvolvimento de ações socialmente
responsáveis, com fins de minimizar a exclusão social.
3. Discutindo a parceria entre Engenharia de Produção e Responsabilidade Social
De acordo com as diretrizes formuladas pela Associação Brasileira de Engenharia de
Produção, o perfil desejado para a profissão é o de uma sólida formação científica e
profissional geral que capacite o engenheiro a identificar, formular e solucionar problemas
ligados às atividades de projeto, operação e gerenciamento do trabalho e de sistemas de
produção de bens e/ou serviços, considerando seus aspectos humanos, econômicos, sociais e
ambientais, com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade.
Silva apud Colenci (2000, p.12) identificou trinta e cinco definições e afirmou que a
engenharia é:
a arte profissional de organizar e dirigir o trabalho do homem aplicando conhecimento
científico e utilizando, com parcimônia, os materiais e as energias da natureza para produzir
economicamente bens e serviços de interesse e necessidade da sociedade dentro dos
parâmetros de segurança.
Nessa perspectiva, Colenci (2000) nos traz a definição clássica do engenheiro como alguém
que busca organizar as forças da natureza e recursos a serviço do homem. Contudo, segundo
ela, o engenheiro, “modernamente” é visto como o indivíduo que busca continuamente
ampliar seus conhecimentos, destrezas e aptidões técnicas, de comunicações e relações
humanas, no intuito de contribuir com o desenvolvimento global da sociedade, em harmonia
com o meio ambiente.
Dentre as competências e habilidades do engenheiro de produção, foram encontradas no site
da UFRGS, algumas que se relacionam intrinsecamente com a Responsabilidade Social, quais
sejam:
Competências:
− ser capaz de projetar, implementar e aperfeiçoar sistemas, produtos e processos, levando
em consideração os limites e as características das comunidades envolvidas;
− ser capaz de acompanhar os avanços tecnológicos, organizando-os e colocando-os a
serviço da demanda das empresas e da sociedade;
− ser capaz de compreender a inter-relação dos sistemas de produção com o meio ambiente,
tanto no que se refere à utilização de recursos escassos quanto à disposição final de
resíduos e rejeitos, atentando para a exigência de sustentabilidade.
Habilidades:
− compromisso com a ética profissional;
− compreensão dos problemas administrativos, sócio-econômicos e do meio ambiente;
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− responsabilidade social e ambiental;
− “pensar global, agir localmente”.
Tais competências e habilidades podem ser aplicadas atualmente, não somente em ambientes
fabris. As técnicas de engenharia de produção podem ser aplicadas em sistemas de transporte,
bancos, hospitais, escolas, etc.ou quaisquer organizações que possuam sistemas integrados de
pessoas, equipamentos e materiais. Observa-se assim, uma ampliação do campo de atuação do
profissional de Engenharia de Produção.
Considerando-se que, ciência, tecnologia e engenharia são construções sociais
imprescindíveis à compreensão do mundo e ao desenvolvimento, mas não fins em si mesmos,
o Engenheiro de Produção deve visualizar as organizacionais como um sistema, buscando
entender a interconexão entre as suas partes, ou seja, ele deve ser capaz de prever o impacto
que alterações em uma das partes irão produzir no sistema como um todo. Assim, suas ações
devem ser pautadas na responsabilidade social de cunho emancipatório e sustentável.
4. Ações socialmente responsáveis em Engenharia de Produção: cases de sucesso
Exemplos de ações socialmente responsáveis vêm sendo desenvolvidos no Programa de Pós
Graduação em Engenharia de Produção da UFRN em parceria com outras instituições, dos
quais podemos citar o GEPES, a INCOOP, o POTIDESIGN e o Projeto SAFES.
A INCOOP-RN (Incubadora de Cooperativas e Iniciativas Populares do Rio Grande do Norte)
é uma iniciativa voluntária de estudantes e professores universitários da UFRN através do
Programa de Extensão Universitária na UFRN de 2001 a 2005 e está inserida no Programa de
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) que é um projeto pioneiro criado
numa articulação do Comitê de Entidades Públicas no Combate à Fome e Pela Vida/COEP e a
Coordenação dos Programas de Pós Graduação em Engenharia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/COPPE/UFRJ em meados da década de 1990 com o objetivo de utilizar “os
recursos humanos e conhecimento da universidade na formação, qualificação e assessoria de
trabalhadores para a construção de atividades autogestionárias, visando sua inclusão no
mercado de trabalho”(SINGER, 2003, p.111).
A INCOOP-RN é formada por uma equipe transdisciplinar de estudantes, professores
universitários e profissionais de organizações do Terceiro Setor, unidos desde 2000, através
de um programa interinstitucional de intervenção na realidade baseada numa tecnologia
social, que é denominada processo de incubação (metodologia centrada nas pessoas, flexível e
pró-ativa). O objetivo central da INCOOP-RN é aperfeiçoar o processo de incubação popular,
no contexto nordestino.
O projeto POTIDESIGN, desenvolvido pela base de pesquisa Millennium Design/UFRN,
surgiu em 2003, com objetivos científicos de contribuir para o desenvolvimento regional de
um setor da economia local: o de móveis de metal. O grupo foi criado no sentido de dar apoio
ao desenvolvimento de produtos nas indústrias do Estado do Rio Grande do Norte,
especialmente às Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Desta forma, o grupo visa
desenvolver suas pesquisas baseadas em dois princípios fundamentais. Primeiro, procurando
desenvolver pesquisas voltadas às necessidades das empresas com aplicação direta à realidade
local. Segundo, concentrando seus esforços no estabelecimento de modelos, técnicas e
metodologias de apoio ao desenvolvimento de produtos sustentáveis. Ou seja, aqueles que,
além do aspecto econômico, consideram também, aspectos sociais e ambientais do produto. O
grupo Millenium Design faz parte da rede “Institutos Fábrica do Milênio” que incorpora
várias universidades brasileiras bem como instituições internacionais. Com o apoio financeiro
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e técnico deste projeto, foi criado um laboratório de gestão de desenvolvimento de produtos
onde diversos trabalhos de pesquisa estão sendo desenvolvidos. Além deste apoio, esse grupo
também recebeu prêmio na área de design.
O projeto SAFES (Sistema de Análise de Falhas em Equipamentos de Sub-superfície) busca a
melhoria da qualidade e produtividade, através da implementação do CEP (Controle
Estatístico do Processo) nas indústrias do RN, em particular nos setores têxtil, carcinicultura,
apicultura, construção civil, bebidas e petróleo, que são setores de grande relevância para o
desenvolvimento do estado.
O GEPES (Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão Social) é uma equipe de pesquisadores de
várias áreas disciplinares (administração, economia, contabilidade, sociologia, dentre outras)
formalmente estruturado no Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Produção da
UFRN com o intuito de investir intelectualmente no campo da gestão social, isto é, refletindo
sobre os processos de gestão que afetam organizações que não são apenas empresas, mas
cooperativas, associações, redes, etc. na geração de produtos e serviços.
A proposta do GEPES é de aprofundamento teórico conceitual e de síntese, em função do
interesse comum, de alimentar a discussão e reflexão acerca dos processos econômicos e
organizacionais pesquisados e cujo traço comum é a busca por desvendar novos processos
sociais (VALÉRY, 2005). Além disso, pretende também dar continuidade aos estudos
pioneiros pré-existentes discutindo e investigando a inserção das mulheres na chamada
economia solidária, refletindo sobre o contexto da reestruturação produtiva e a economia
solidária como alternativa para o desenvolvimento local (VALÉRY, 2004).
Podemos analisar que ações como estas proporcionam a disseminação do conhecimento,
através de diversos canais, tais como: a participação em congressos científicos no âmbito
nacional e internacional; a formação e capacitação de capital humano, o engajamento de
professores e alunos em pesquisas científicas, a reciclagem de profissionais e o pioneirismo
em diversos campos de estudo. Além disso, os resultados dessas ações podem contribuir para
o desenvolvimento sócio-econômico das comunidades envolvidas.
5. Conclusão
Após o confronto das opiniões dos autores pesquisados, constata-se que o conceito de
responsabilidade social ainda está em construção, e que na prática ele pode assumir um
caráter clientelista (relação de dependência) ou emancipatório (pautado no desenvolvimento
sustentável).
Ações e projetos como os mencionados, demonstram que a responsabilidade social traz à tona
a possibilidade de inserção de grupos sociais atualmente excluídos, através de atividades
produtivas “alternativas” auto-sustentáveis. Mostram ainda a preocupação em desenvolver
ações socialmente responsáveis, voltadas para o controle do processo produtivo, o que pode
gerar uma redução do impacto ambiental, inerentes à própria atividade produtiva,
considerando também as comunidades envolvidas. Tais iniciativas demonstram também a
crescente preocupação com o desenvolvimento técnico-científico da gestão social.
Entretanto, vale ressaltar que a responsabilidade social em engenharia de produção necessita
de avanços tanto no campo teórico como no experimental, tendo como potencial, além da
emancipação, a apropriação de tecnologias produtivas e organizacionais mais adequadas à
realidade local.
Pode-se afirmar então que a parceria entre engenharia de produção e responsabilidade social
tanto é viável como necessária para o desenvolvimento global da sociedade. E que as
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universidades devem estimular uma postura ética e socialmente responsável junto às
empresas, comunidades e à sociedade.
Referências
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