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Sinergia em políticas e serviços públicos: desenvolvimento social
com intersetorialidade
SINOPSE O artigo, baseado em palestra proferida
no seminário “A Reforma Administrativa”, tra-
ta da introdução da perspectiva intersetorial nas
políticas públicas, refletindo-se na produção e
oferta dos serviços, com o objetivo de impulsio-
nar o desenvolvimento social e reverter a exclu-
são. Desenvolve os seguintes pontos: mudança
de paradigma, a perspectiva da complexidade;
projeto político transformador; prática de pla-
nejamento das políticas públicas como processo
participativo; e mobilização e atuação em redes
de compromisso social.
Rose Marie Inojosa é
técnica em planejamento e
gestão da Fundap. Mestre
em Ciências da Comunica-
ção e doutoranda em Saúde
Pública, pela Universidade
de São Paulo (USP).
Asinergia entre as políticas públicas e
entre os serviços públicos é possível? A or-
ganização de algumas idéias em torno de
três questões permite-nos examinar a ques-
tão da intersetorialidade nas políticas e nos
serviços públicos.
− O tema: Por que esse tema tem apare-
cido tanto em artigos e discussões?
− O interesse: Qual é a oportunidade des-
se tema para os serviços públicos?
− As implicações: Quais são as implica-
ções da atuação intersetorial para a or-
ganização dos serviços públicos.
O tema está vinculado à discussão da
transdisciplinaridade, bem mais madura e
antiga. A nosso ver, a intersetorialidade,
ou transetorialidade, é uma expressão, no
campo das políticas públicas e das organi-
zações, da transdisciplinaridade tal como
tem sido discutida no campo do conheci-
mento científico. Por isso, convém exa-
minar um pouco mais atentamente a
transdisciplinaridade, cujas raízes se fin-
cam na teoria da complexidade.
A transdisciplinaridade é a geração de
conhecimentos ecologizados, para usar
uma expressão feliz de Edgar Morin.1
Esse
autor afirma que as disciplinas nasceram sob
o paradigma da disjunção e da redução. E
foram dar em clausuras setoriais — ou seja,
as disciplinas fecharam-se em si mesmas.
1) Sociólogo francês, cuja
produção, nos últimos anos, tem-
se centradado na questão da
complexidade. Morin tem
proferido conferências anuais em
São Paulo, na PUC e na Associação
Palas Atena.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Cadernos FUNDAP
n. 22, 2001, p. 102-110
Rose Marie Inojosa
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 103
Construíram os seus saberes de um modo
bastante isolado e com a pretensão de es-
gotar as questões. E acabaram criando lin-
guagens e corporações próprias.
A teoria da complexidade, por sua vez,
trabalha com a compreensão da diversida-
de. Para tanto, é preciso superar a fragmen-
tação do conhecimento, já que as clausuras
setoriais não dão conta de enxergar a diver-
sidade. Sobre isso, Morin costuma dar como
exemplo a ecologia, que seria uma trans-
disciplina: ela usa várias disciplinas, porém é
mais do que a mera composição de saberes
disciplinares, pois cria um novo conhecimen-
to apoiado em diversas disciplinas.
No âmbito acadêmico, há um movi-
mento no campo da produção de conheci-
mento para abrir essas clausuras setoriais e
até rompê-las. Em um de seus livros, Morin
(1999), analisando a Universidade na Fran-
ça, discute a questão da transdisciplinari-
dade, o modo como a universidade poderá
romper as clausuras setoriais e criar conhe-
cimentos articulados. Isso porque as disci-
plinas são incapazes, isoladamente, de cap-
tar o que está tecido em conjunto. Essa
expressão em destaque é o significado da
palavra “complexidade”. A vida está tecida
em conjunto; não é possível separá-la. E é
por isso que as disciplinas não têm dado
conta da complexidade, dessa diversidade
articulada.
A transdisciplinaridade é informada por
esse novo paradigma de complexidade. E,
no campo das organizações e das institui-
ções, temos, então, a intersetorialidade –
ou transetorialidade, já que o prefixo
“trans” expressa melhor a idéia.
A crítica ao prefixo “inter” é que ele
poderia significar apenas a proximidade de
saberes isolados, sem daí gerar novas arti-
culações. Isso ocorreu com a idéia de equi-
pe multiprofissional, que pretendia a arti-
culação de vários saberes profissionais para
a solução de um mesmo problema, mas
que, na prática, se limitou, na maioria das
vezes, a reunir diferentes profissionais num
mesmo lugar ou com um mesmo objeto,
sem que o diálogo prosperasse. Isso por-
que se tratava de uma aproximação de
corporações fechadas, e seus representan-
tes acabavam preservando suas respectivas
clausuras setoriais.
Na literatura, é possível encontrar os
termos intersetorialidade e transetorialidade
com o mesmo sentido: a articulação de sa-
beres e experiências para a solução sinérgica
de problemas complexos.
O QUE ACONTECE NO
MUNDO DAS
ORGANIZAÇÕES?
Sabemos que a vida em sociedade é a
expressão do axioma de que a vida está
tecida em conjunto. As necessidades e ex-
pectativas das pessoas e dos grupos sociais
referentes à qualidade de vida são integra-
das. Não adianta prover escola para uma
criança se ela não estiver bem alimentada e
saudável. Sem um conjunto de necessida-
des atendidas, ela não conseguirá realizar
seu aprendizado e desenvolver-se. A vio-
lência não se resolve com a repressão à
criminalidade, mas, principalmente, com
educação, distribuição de renda e outras
ações sociais. O atendimento médico de
boa qualidade no parto pode até diminuir
a mortalidade materna, mas não consegue
evitar outros riscos, como o baixo peso do
bebê ao nascer, após uma gestação em con-
dições inadequadas. Sabemos, portanto,
que coisas separadas ou itens isolados não
dão conta de promover qualidade de vida,
de fomentar o desenvolvimento, de supe-
rar a exclusão social.
E, no entanto, o aparato governamen-
tal reflete perfeitamente as clausuras das
disciplinas. Tal aparato governamental é
todo fatiado por conhecimentos, por sabe-
res, por corporações. Ninguém encara as
pessoas e as famílias como as totalidades
que são.
Há, também, uma outra herança, que é
a hierarquia verticalizada, piramidal, em
que os processos percorrem vários escalões,
mas as decisões são tomadas apenas no
topo, não na base, próximo à população.
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap104
Além desses dois fatores, o aparato go-
vernamental também é objeto de lotea-
mento político-partidário e de grupos de
interesse. Todas as estruturas, em todos os
níveis de governo e a cada governo, a cada
nova gestão, são novamente loteadas para
os partidos e para os grupos de apoio. Desse
modo, cada uma dessas fatias – que já é
campo de uma dada corporação e de um
grupo de interesses que extrapola a
corporação setorial – passa por um novo
loteamento político-partidário. Todos os
setores, como Educação, Obras, Saúde etc.,
são campos de interesse de fornecedores,
de produtores, de corporações e de grupos
político-partidários.
Esses fatores, que decorrem de escolhas
político-ideológicas, fizeram com que a
estrutura governamental, que deveria ser
cooperativa, no sentido de melhorar a qua-
lidade de vida das pessoas, seja de fato com-
petitiva. A lógica de competição reflete a
própria competição entre grupos de inte-
resse e facções. Isso fica bem evidente, por
exemplo, na hora de dividir o orçamento,
quando a briga é por mais verba para a Saú-
de, ou para a Educação, mais para Obras,
com transferência de verba de um setor para
outro etc. Essa é uma lógica que não tem
nada a ver com a necessidade das pessoas
ou dos grupos populacionais, que têm, sim,
perfis diferentes, mas referidos ao lugar, à
região onde vivem, a suas características
socioeconômicas e culturais. E que preci-
sam, integradamente, de condições de de-
senvolvimento social, de condições ambien-
tais e de infra-estrutura.
São as características socioeconômicas
e culturais que singularizam os grupos que
o governo deveria estar atendendo, no sen-
tido de garantir o provimento dos direitos
que estão na Constituição, como é de sua
responsabilidade.
Mas, na realidade, o aparato governa-
mental, essa pirâmide fatiada, nem sempre
olha para os grupos populacionais, para os
conjuntos de pessoas, atento para as
vulnerabilidades e oportunidades que os
identificam. O aparato governamental pro-
vém itens isolados “para todos”, valendo-
se de uma leitura míope do conceito de
universalização, pois não pode dar a mes-
ma coisa para diferentes grupos sem se per-
guntar: “Que diferença isso fará?”.
O aparato governamental preocupa-se
com cada uma de suas fatias e seus produ-
tos, isoladamente. Dificilmente consegui-
mos perceber, nos vários níveis de gover-
no, a prática da avaliação de resultados. Faz-
se a avaliação dos produtos oferecidos:
quantas consultas foram realizadas, quantas
cestas básicas estão sendo distribuídas, quais
as obras terminadas. Mas, de fato, que di-
ferença isso fez para o grupo que vive em
tal região, com tal perfil, para segmento
tal ou qual, que tem determinadas caracte-
rísticas? Isso é uma coisa que não se sabe
nem se pergunta.
Atualmente, a sociedade volta-se para a
questão da juventude, que é um segmento
da população sempre muito esquecido nas
políticas públicas. Temos tido, tradicional-
mente, políticas para crianças, além de po-
líticas mais genéricas, mas nunca houve
preocupação maior com uma política para
a juventude. E menos ainda para as varia-
das juventudes – a que mora no interior,
nas áreas fronteiriças, ou a que vive na re-
gião metropolitana; para a juventude rica,
com oportunidades; para a juventude po-
bre, vulnerável a muitos outros riscos além
daqueles naturais da idade. E essas ques-
tões continuam "presas" de setores. A Saú-
de se ocupa da questão da Aids, da preven-
ção de doenças sexualmente transmissíveis
(DST). A Educação cuida do ensino fun-
damental, do ensino médio. A Assistência
fica dando bolsa, cesta básica, e coisas des-
se tipo. E esses itens acabam atingindo as
pessoas e as famílias de uma forma meio
desconjuntada. Não é necessariamente a
mesma família que recebe essas coisas de
maneira integrada e/ou continuada. Por-
tanto, essa atuação não permite superar a
exclusão social nem promove efetivamente
o desenvolvimento social.
Então, a oportunidade do tema deve-
se a uma queixa generalizada em relação
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 105
aos resultados das políticas e ações gover-
namentais. E particularmente sobre essa
manifesta dificuldade dos governos em di-
minuir as desigualdades sociais e reverter
os quadros de exclusão social.
É evidente que existem outras razões
para essa dificuldade, começando com as
razões de caráter ideológico, que limitam,
dentre outras coisas, as alternativas de mu-
dança, saltando aos olhos a flagrante incom-
patibilidade entre a lógica de organização
do governo, essa lógica segmentada e de-
sarticulada, e as necessidades e expectati-
vas complexas das pessoas e dos grupos
sociais.
Retomando o conceito, estamos defi-
nindo intersetorialidade ou transetoriali-
dade como a articulação de saberes e expe-
riências com vistas ao planejamento, para a
realização e a avaliação de políticas, pro-
gramas e projetos, com o objetivo de al-
cançar resultados sinérgicos em situações
complexas. Trata-se, portanto, de buscar
alcançar resultados integrados visando a um
efeito sinérgico. Transpondo a idéia de
transdisciplinaridade para o campo das or-
ganizações, o que se quer, muito mais do
que juntar setores, é criar uma nova dinâ-
mica para o aparato governamental, com
base territorial e populacional.
Convém ressaltar a idéia de sinergia.
Essa questão de os programas atuarem iso-
ladamente, provendo itens essenciais sem
a preocupação de integrá-los — ainda que
se tenham programas, agendas e grupos de
trabalho —, reflete-se muito claramente no
orçamento, por exemplo. Basta olhar o or-
çamento do Estado para ver que progra-
mas prioritários, assim definidos pelo pró-
prio governo, não têm acolhida no orça-
mento. O orçamento torna-se aquela peça
de ficção que revela muito bem as clausuras
setoriais, a separação dos setores, a compe-
tição entre os grupos de interesse que ocu-
pam os vários setores. A avaliação dos pla-
nos e projetos governamentais mal acom-
panha os resultados efetivos, ou seja, o que
aconteceu com as famílias e com as pesso-
as. Acompanha apenas itens de produção,
processos e itens de estrutura, o que foi
produzido e o que foi entregue: “Entrega-
mos tantas casas, tantas cestas, tantas salas
de aula”. Mas que diferença isso fez?
Uma perspectiva de trabalho interseto-
rial implica mais do que justapor ou com-
por projetos que continuem sendo formu-
lados e realizados setorialmente. Interse-
torialidade, ou transetorialidade, não é isso.
Às vezes, as pessoas usam a expressão
intersetorialidade para se referir a conjun-
tos de projetos que eventualmente estabe-
lecem algum diálogo na hora da formula-
ção ou da avaliação. Mas aqui estamos fa-
lando de uma perspectiva muito maior do
que essa e que tem um conjunto de impli-
cações para a ação do Estado, seja ela dire-
ta ou indireta.
Duas coisas são fundamentais sobre a
formulação, a realização e a avaliação de
políticas, programas e projetos intersetoriais
ou transetoriais:
− a focalização, com base regional, em
segmentos da população; e
− a preocupação com resultados e
impactos.
Mas é preciso examinar o que se pode
chamar de cisão entre produto e resultado.
Quando se tem, por exemplo, um progra-
ma de assentamento de famílias, o produto
é o número de famílias assentadas e os tí-
tulos que as famílias receberam. O resulta-
do seria conhecido ao acompanhar o que
aconteceu com essas famílias, a partir do
assentamento. Elas estão conseguindo pro-
duzir? Permanecem naquela casa, naquele
terreno ou naquela terra? O assentamento
teve algum impacto no desenvolvimento
local e da região? Normalmente, esse re-
sultado não é acompanhado. E, justamen-
te por não ser acompanhado, muitas vezes
são repetidos erros históricos.
Em todos os níveis de governo, o pro-
blema é o mesmo. Por exemplo: o governo
consegue entregar determinado número de
unidades habitacionais, mas não se sabe
quanto tempo as pessoas ficaram nas mora-
dias. Isso levanta uma questão: essas mes-
mas pessoas continuarão pedindo uma mo-
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap106
radia, somando-se a novos sem-teto? Enfim,
o governo pode estar provendo alguns itens,
mas não sabe exatamente quais os resulta-
dos dessas provisões.
E nós, como cidadãos, temos de come-
çar a cobrar isso dos planos e programas de
governo, da prefeitura, do Estado e da
União. Que diferença se pretende conseguir
com tais planos e programas? Como vamos
monitorar e acompanhar os resultados, ou
seja, a diferença ou a mudança provocadas
ou não na vida das pessoas? Evidentemente,
a sociedade acaba acompanhando os resul-
tados pelos reflexos na qualidade de vida,
mas nem sempre é fácil vincular esses refle-
xos aos programas e planos.
A transetorialidade seria conseguir mon-
tar um quebra-cabeças que se refere àque-
le foco, em relação às políticas governamen-
tais. O foco teria base regional e atingiria
segmentos da população, seja por faixa
etária, por gênero ou por ocupação, consi-
derando as características de cada grupo
para saber o que prover e como garantir o
acesso e o aproveitamento dos bens e ser-
viços públicos.
Para tanto, devem ser discutidos qua-
tro aspectos básicos para se trabalhar a par-
tir de uma perspectiva de transetorialidade:
− mudança de paradigma;
− projeto político transformador;
− planejamento e avaliação participativos
e com base regional;
− atuação em rede de compromisso social.
MUDANÇA DE PARADIGMA
O primeiro aspecto seria o acolhimen-
to de um novo paradigma, assim como
ocorre no campo das disciplinas (o que tem
sido uma discussão importante na univer-
sidade). Como poderemos superar aquele
paradigma da disjunção, da separação, da
clausura e da redução, e transitar para o
paradigma de compreensão da diversidade
e, mais que isso, da produção de nova pers-
pectiva a partir dessa diversidade? A res-
posta é: adotar uma nova postura, ante os
problemas que a organização pública deve
enfrentar na sociedade. Então, a primeira
coisa a ser feita é essa mudança de paradig-
ma, que significa uma reforma do pensa-
mento: é preciso pensar de outro jeito, para
criar, de fato, um paradigma com foco na
complexidade, na compreensão da diversi-
dade e, com certeza, na questão da comu-
nicação.
Os estudiosos que vêm discutindo a
transdisciplinaridade fazem uma aborda-
gem muito interessante, ressaltando que
não se trata de desprezar ou de ignorar as
disciplinas, mas de promover uma comu-
nicação verdadeira entre elas. Podemos
transportar isso também para o campo das
organizações. É claro que continuarão exis-
tindo saberes e provimento de itens, conti-
nuará havendo obras, escola, serviço de saú-
de, porque, por enquanto, é assim que sa-
bemos operar. Começamos a mudança pen-
sando em como planejar isso de modo di-
ferente, como entregar isso à população,
pensando nas singularidades dos grupos
populacionais, pois não se trata de homoge-
neizar toda a produção.
PROJETO POLÍTICO
TRANSFORMADOR
O segundo aspecto diz respeito ao pro-
jeto político para as políticas públicas.
Aquele desenho piramidal e fatiado das
corporações, dos grupos de interesse e do
loteamento político atende confortavel-
mente às políticas chamadas assistencia-
listas. O aparato governamental está afeito
a isso. Cabem lá, muito bem, todas as polí-
ticas assistencialistas. Contudo, tais políti-
cas não se encaixam no modo de pensar
intersetorial, pois ele contradiz a natureza
do assistencialismo, que tem caráter de
compensação e de provimento de itens. Por
exemplo: quando está faltando algo, bus-
ca-se sanar esse problema específico. Mas,
cuidar da transformação da sociedade e
promover o desenvolvimento social é uma
abordagem diferente, que significa a repar-
tição mais equânime das riquezas.
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 107
Esse é o conceito de desenvolvimento
social que estamos usando aqui, ou seja, a
repartição mais equânime das riquezas exis-
tentes na sociedade em determinado momen-
to histórico, com a redução das desigualda-
des (que todas essas políticas assistencialistas
jamais pretenderam resolver) e, portanto,
com a reversão da exclusão social.
PLANEJAMENTO E
AVALIAÇÃO PARTICIPATIVOS E
COM BASE REGIONAL
O terceiro aspecto atinge a organização
interna do governo, pois diz respeito ao pla-
nejamento. A proposta de intersetorialidade
tem conseqüências tanto no planejamento
como no orçamento (que deveria ser um
produto do planejamento, mas não é).
Atualmente, é o orçamento que determina
o planejamento, a partir de embates entre
grupos de interesse que definem a distribui-
ção no orçamento, assim como definem, de-
pois, a liberação dos recursos.
A perspectiva intersetorial implica o pla-
nejamento com base regional. Implica uma
lógica de planejamento não como a pro-
dução de um plano, como hoje existe – em
determinado momento do ano, um grupo
de pessoas examina o velho orçamento e
faz o que chama de planejamento, que não
passa de um “requentamento” do orçamen-
to do ano anterior. Mas a perspectiva
intersetorial precisa de um processo de pla-
nejamento diferente, em que o plano faz
parte de um processo permanente, que co-
meça com a análise de situação, passa por
escolhas estratégicas e faz acordos.
E é preciso que o planejamento seja
participativo? Sim, pois não dá mais para
atuar de modo isolado. O planejamento
participativo tem de agregar outros atores,
que vão ter outros enfoques dos segmentos
da população, das regiões. Dentro desse pro-
cesso, o plano é um grande acordo feito a
partir da avaliação de resultados, com o pres-
suposto de ser refeito dinamicamente. O
planejamento regional e participativo deve,
portanto, determinar uma mudança impor-
tante na lógica do orçamento do Estado.
ATUAÇÃO EM REDE DE
COMPROMISSO SOCIAL
Finalmente, o quarto aspecto refere-se
a uma nova organização para superar aquela
pirâmide hierarquizada e fatiada da estru-
tura governamental. Há muitos modelos
disponíveis. A reforma administrativa iso-
lada pode não significar absolutamente
nada. Pode ser aquela política “de toalha”,
de enxugamento. Pode ser simplesmente
uma leitura do modelo liberal, uma forma
de reduzir o Estado, ou o contrário. Mas
ela, por si só, não promove mudança. A
nosso ver, a reforma administrativa se inte-
gra àquelas outras partes do quebra-cabe-
ça. E está aí como uma parte necessária
para viabilizar esse novo olhar transetorial.
Se for acolhido um novo paradigma,
uma outra perspectiva de política pública,
com o banimento do assistencialismo e a
adoção do planejamento como processo
participativo, ficará de fato intolerável o
modelo piramidal e setorializado do apa-
rato do Estado, que já se mostra insusten-
tável, dada a sua incapacidade de promo-
ver mudanças substantivas. Então, torna-
se indispensável que tal modelo seja
reexaminado. Isso poderia significar ape-
nas uma reforma administrativa, mas pode
e deve ser mais que isso.
Nesse sentido, a atuação em rede de
compromisso social pode ser uma parte
dessa solução, pois significa que o Estado
vai permeabilizando-se e abrindo-se à so-
ciedade, trabalhando não em setores, não
em clausuras, mas com outros parceiros que
também estavam fazendo o provimento de
necessidades e expectativas da sociedade
também com uma lógica disciplinar isola-
da, setorial.
A rede de compromisso social – expres-
são usada para distinguir a natureza da rede
– permite que esses atores independentes,
ligados ao aparato governamental e à soci-
edade, sejam atraídos e se mobilizem para,
juntos, trabalharem determinado problema
da sociedade.
É preciso trabalhar com a idéia de re-
des, agregando novos atores. Não se trata
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap108
2 Proposta articulada pelo Prof.
Dr. Luciano A. Prates Junqueira,
no processo de assessoria da
Fundap à Direção Regional de
Saúde XX da Secretaria de Estado
da Saúde de São Paulo.
de um grupo de trabalho preocupado ape-
nas em fazer uma proposta ou avaliação.
Trata-se de uma verdadeira rede de com-
promisso, na qual instituições, organizações
e pessoas se articulam em torno de uma
questão da sociedade, programam e reali-
zam ações integradas e articuladas, avali-
am juntos os resultados e reorientam a ação.
O governo é parte dessa rede, que será
capaz de fazer propostas de planejamento
com base regional e assumir a co-respon-
sabilidade. Atualmente, isso não acontece,
e as pessoas ou os grupos se dispersam,
mesmo que, às vezes, tenham propostas
muito parecidas. Mas o plano é entregue
ao governo e o aparato governamental,
sozinho, é incapaz de realizá-lo. Enquanto
isso, as mesmas instituições que ajudaram
a produzir as propostas continuam agindo
muitas vezes de forma coerente com suas
próprias propostas, mas de maneira isola-
da e desarticulada.
A Cartografia de uma Rede, que o Pro-
jeto Quixote da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp) publicou, mostra
como os meninos de rua trafegam por vá-
rias organizações, cujos esforços não lo-
gram mudar os condicionantes que resul-
tam na exclusão dessas crianças.
Resumindo: além da base regional e da
rede, o planejamento e a ação articulados
requerem liderança. Mas as lideranças tam-
bém continuam muito setorializadas, tan-
to dentro dessa estrutura da ação governa-
mental quanto nas organizações não-go-
vernamentais. E é imprescindível que elas
tenham uma visão mais ampla.
EXEMPLO DE PROGRAMA EM
SÃO JOÃO DA BOA VISTA
A Rede Adolescente – InterAções pela
Vida é uma rede de compromisso social,
mobilizada em torno de uma questão so-
cial. Seu trabalho é regional e focaliza o
segmento jovem da população. Nasceu na
região de São João da Boa Vista, a partir
de uma discussão com diversos atores, não
apenas governamentais, da região.
A princípio, a regional de Saúde da área
convidou 25 prefeitos para discutir uma pro-
posta de planejamento inter-setorial.2
Os
prefeitos articularam suas áreas de Educa-
ção, Saúde e Assistência Social. A partir desse
ponto, atores do governo do Estado e dos
governos municipais se reuniram para dis-
cutir problemas que ocorriam nos vários
municípios e que eram comuns à região.
Na seqüência, escolheram um ponto
que, naquele momento, estava mobilizan-
do mais as pessoas: o problema do aumen-
to da drogadição entre a população ado-
lescente. E a partir da discussão desse pro-
blema, com sua peculiaridade regional, os
atores governamentais perceberam que pre-
cisavam de outros atores para começar a
formular uma proposta e poder intervir.
Decidiu-se fazer, então, um amplo chama-
do às sociedades de cada município, e co-
meçou a ser tecida a Rede Adolescente.
Na realidade, essa rede ocorre em dois
níveis. Cada município tece sua própria rede
com os atores governamentais e não-go-
vernamentais daquele município. E as re-
des municipais se articulam em uma rede
regional.
Mas não se trata de uma rede formal,
uma vez que cada instituição continua au-
tônoma e independente, preservando seus
propósitos e sua própria ação. Mas, dadas
as necessidades de resolver um problema
comum e se energizar, fazendo com que a
ação das várias organizações se potenciali-
zem para a obtenção de resultados comuns,
a partir de uma visão compartilhada de fu-
turo, tais organizações se articularam em
redes municipais. Assim, passaram a existir
ações de âmbito municipal, nas quais os
vários atores dividem as responsabilidades.
As redes municipais se articulam em
uma rede regional, que se ocupa não só do
processo de comunicação entre as diversas
redes, mas também de questões que
extrapolam o âmbito do município.
Há outros exemplos. A área de desen-
volvimento e assistência social em São Paulo
busca estruturar um trabalho com as redes
regionais. Com essa mesma lógica, aten-
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 109
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UNIFESP
1998 Cartografia de uma rede. São Paulo : Unifesp. Projeto Quixote.
dem-se pessoas que estão numa determi-
nada região do Estado e que têm um perfil
específico. Mas, obviamente, as condições
da região interferem em outras condições,
que acabam determinando-se mutuamen-
te. Portanto, exigem soluções e ações que
têm de se ajustar a cada região. Assim, a
proposta em rede dá conta de uma ação
muito mais focalizada.
Também há muitos municípios que já tra-
balham com a lógica do orçamento parti-
cipativo, para o qual os problemas são iden-
tificados com base local, regional, com a par-
ticipação de atores. Isso faz parte de um
projeto político, de uma mudança de enfoque
político, já que não se trata de uma mera
mudança de sistemática de trabalho. É evi-
dente que, dependendo da situação específi-
ca de cada local, não passará de mera mu-
dança de sistemática; porém, em outros lo-
cais, talvez possa ajudar projetos políticos que
hoje se vêem reféns da velha sistemática.
Finalmente, convém observar que qual-
quer mudança pode ser uma mera mudan-
ça de sistemática ou pode ser uma mudan-
ça política real. Nesse sentido, ela depen-
derá da existência, em cada município, em
cada Estado e na União, de um projeto
político de participação, que seja transpa-
rente e novo, caso contrário ela irá se esgo-
tar como sistemática nova. Trata-se, por-
tanto, do desenvolvimento de um olhar e
de um fazer transetoriais, em que dialo-
guem as várias dimensões da mudança,
orientados, sempre, pelas necessidades in-
tegradas da população e por uma perspec-
tiva política de desenvolvimento social e de
superação da exclusão.
cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap110
Documentos arquivísticos
FUNDAP – Fundação do Desenvolvimento Administrativo
1997 Processo de mudança organizacional da Prefeitura Municipal de Fortaleza (CE),
Relatório Final. São Paulo. jul.
1998 Relatório Final à Direção Regional de Saúde de São João da Boa Vista DIR XX,
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Desenvolvimento social através da intersetorialidade nas políticas públicas

  • 1. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap102 Sinergia em políticas e serviços públicos: desenvolvimento social com intersetorialidade SINOPSE O artigo, baseado em palestra proferida no seminário “A Reforma Administrativa”, tra- ta da introdução da perspectiva intersetorial nas políticas públicas, refletindo-se na produção e oferta dos serviços, com o objetivo de impulsio- nar o desenvolvimento social e reverter a exclu- são. Desenvolve os seguintes pontos: mudança de paradigma, a perspectiva da complexidade; projeto político transformador; prática de pla- nejamento das políticas públicas como processo participativo; e mobilização e atuação em redes de compromisso social. Rose Marie Inojosa é técnica em planejamento e gestão da Fundap. Mestre em Ciências da Comunica- ção e doutoranda em Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo (USP). Asinergia entre as políticas públicas e entre os serviços públicos é possível? A or- ganização de algumas idéias em torno de três questões permite-nos examinar a ques- tão da intersetorialidade nas políticas e nos serviços públicos. − O tema: Por que esse tema tem apare- cido tanto em artigos e discussões? − O interesse: Qual é a oportunidade des- se tema para os serviços públicos? − As implicações: Quais são as implica- ções da atuação intersetorial para a or- ganização dos serviços públicos. O tema está vinculado à discussão da transdisciplinaridade, bem mais madura e antiga. A nosso ver, a intersetorialidade, ou transetorialidade, é uma expressão, no campo das políticas públicas e das organi- zações, da transdisciplinaridade tal como tem sido discutida no campo do conheci- mento científico. Por isso, convém exa- minar um pouco mais atentamente a transdisciplinaridade, cujas raízes se fin- cam na teoria da complexidade. A transdisciplinaridade é a geração de conhecimentos ecologizados, para usar uma expressão feliz de Edgar Morin.1 Esse autor afirma que as disciplinas nasceram sob o paradigma da disjunção e da redução. E foram dar em clausuras setoriais — ou seja, as disciplinas fecharam-se em si mesmas. 1) Sociólogo francês, cuja produção, nos últimos anos, tem- se centradado na questão da complexidade. Morin tem proferido conferências anuais em São Paulo, na PUC e na Associação Palas Atena. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Cadernos FUNDAP n. 22, 2001, p. 102-110 Rose Marie Inojosa
  • 2. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 103 Construíram os seus saberes de um modo bastante isolado e com a pretensão de es- gotar as questões. E acabaram criando lin- guagens e corporações próprias. A teoria da complexidade, por sua vez, trabalha com a compreensão da diversida- de. Para tanto, é preciso superar a fragmen- tação do conhecimento, já que as clausuras setoriais não dão conta de enxergar a diver- sidade. Sobre isso, Morin costuma dar como exemplo a ecologia, que seria uma trans- disciplina: ela usa várias disciplinas, porém é mais do que a mera composição de saberes disciplinares, pois cria um novo conhecimen- to apoiado em diversas disciplinas. No âmbito acadêmico, há um movi- mento no campo da produção de conheci- mento para abrir essas clausuras setoriais e até rompê-las. Em um de seus livros, Morin (1999), analisando a Universidade na Fran- ça, discute a questão da transdisciplinari- dade, o modo como a universidade poderá romper as clausuras setoriais e criar conhe- cimentos articulados. Isso porque as disci- plinas são incapazes, isoladamente, de cap- tar o que está tecido em conjunto. Essa expressão em destaque é o significado da palavra “complexidade”. A vida está tecida em conjunto; não é possível separá-la. E é por isso que as disciplinas não têm dado conta da complexidade, dessa diversidade articulada. A transdisciplinaridade é informada por esse novo paradigma de complexidade. E, no campo das organizações e das institui- ções, temos, então, a intersetorialidade – ou transetorialidade, já que o prefixo “trans” expressa melhor a idéia. A crítica ao prefixo “inter” é que ele poderia significar apenas a proximidade de saberes isolados, sem daí gerar novas arti- culações. Isso ocorreu com a idéia de equi- pe multiprofissional, que pretendia a arti- culação de vários saberes profissionais para a solução de um mesmo problema, mas que, na prática, se limitou, na maioria das vezes, a reunir diferentes profissionais num mesmo lugar ou com um mesmo objeto, sem que o diálogo prosperasse. Isso por- que se tratava de uma aproximação de corporações fechadas, e seus representan- tes acabavam preservando suas respectivas clausuras setoriais. Na literatura, é possível encontrar os termos intersetorialidade e transetorialidade com o mesmo sentido: a articulação de sa- beres e experiências para a solução sinérgica de problemas complexos. O QUE ACONTECE NO MUNDO DAS ORGANIZAÇÕES? Sabemos que a vida em sociedade é a expressão do axioma de que a vida está tecida em conjunto. As necessidades e ex- pectativas das pessoas e dos grupos sociais referentes à qualidade de vida são integra- das. Não adianta prover escola para uma criança se ela não estiver bem alimentada e saudável. Sem um conjunto de necessida- des atendidas, ela não conseguirá realizar seu aprendizado e desenvolver-se. A vio- lência não se resolve com a repressão à criminalidade, mas, principalmente, com educação, distribuição de renda e outras ações sociais. O atendimento médico de boa qualidade no parto pode até diminuir a mortalidade materna, mas não consegue evitar outros riscos, como o baixo peso do bebê ao nascer, após uma gestação em con- dições inadequadas. Sabemos, portanto, que coisas separadas ou itens isolados não dão conta de promover qualidade de vida, de fomentar o desenvolvimento, de supe- rar a exclusão social. E, no entanto, o aparato governamen- tal reflete perfeitamente as clausuras das disciplinas. Tal aparato governamental é todo fatiado por conhecimentos, por sabe- res, por corporações. Ninguém encara as pessoas e as famílias como as totalidades que são. Há, também, uma outra herança, que é a hierarquia verticalizada, piramidal, em que os processos percorrem vários escalões, mas as decisões são tomadas apenas no topo, não na base, próximo à população.
  • 3. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap104 Além desses dois fatores, o aparato go- vernamental também é objeto de lotea- mento político-partidário e de grupos de interesse. Todas as estruturas, em todos os níveis de governo e a cada governo, a cada nova gestão, são novamente loteadas para os partidos e para os grupos de apoio. Desse modo, cada uma dessas fatias – que já é campo de uma dada corporação e de um grupo de interesses que extrapola a corporação setorial – passa por um novo loteamento político-partidário. Todos os setores, como Educação, Obras, Saúde etc., são campos de interesse de fornecedores, de produtores, de corporações e de grupos político-partidários. Esses fatores, que decorrem de escolhas político-ideológicas, fizeram com que a estrutura governamental, que deveria ser cooperativa, no sentido de melhorar a qua- lidade de vida das pessoas, seja de fato com- petitiva. A lógica de competição reflete a própria competição entre grupos de inte- resse e facções. Isso fica bem evidente, por exemplo, na hora de dividir o orçamento, quando a briga é por mais verba para a Saú- de, ou para a Educação, mais para Obras, com transferência de verba de um setor para outro etc. Essa é uma lógica que não tem nada a ver com a necessidade das pessoas ou dos grupos populacionais, que têm, sim, perfis diferentes, mas referidos ao lugar, à região onde vivem, a suas características socioeconômicas e culturais. E que preci- sam, integradamente, de condições de de- senvolvimento social, de condições ambien- tais e de infra-estrutura. São as características socioeconômicas e culturais que singularizam os grupos que o governo deveria estar atendendo, no sen- tido de garantir o provimento dos direitos que estão na Constituição, como é de sua responsabilidade. Mas, na realidade, o aparato governa- mental, essa pirâmide fatiada, nem sempre olha para os grupos populacionais, para os conjuntos de pessoas, atento para as vulnerabilidades e oportunidades que os identificam. O aparato governamental pro- vém itens isolados “para todos”, valendo- se de uma leitura míope do conceito de universalização, pois não pode dar a mes- ma coisa para diferentes grupos sem se per- guntar: “Que diferença isso fará?”. O aparato governamental preocupa-se com cada uma de suas fatias e seus produ- tos, isoladamente. Dificilmente consegui- mos perceber, nos vários níveis de gover- no, a prática da avaliação de resultados. Faz- se a avaliação dos produtos oferecidos: quantas consultas foram realizadas, quantas cestas básicas estão sendo distribuídas, quais as obras terminadas. Mas, de fato, que di- ferença isso fez para o grupo que vive em tal região, com tal perfil, para segmento tal ou qual, que tem determinadas caracte- rísticas? Isso é uma coisa que não se sabe nem se pergunta. Atualmente, a sociedade volta-se para a questão da juventude, que é um segmento da população sempre muito esquecido nas políticas públicas. Temos tido, tradicional- mente, políticas para crianças, além de po- líticas mais genéricas, mas nunca houve preocupação maior com uma política para a juventude. E menos ainda para as varia- das juventudes – a que mora no interior, nas áreas fronteiriças, ou a que vive na re- gião metropolitana; para a juventude rica, com oportunidades; para a juventude po- bre, vulnerável a muitos outros riscos além daqueles naturais da idade. E essas ques- tões continuam "presas" de setores. A Saú- de se ocupa da questão da Aids, da preven- ção de doenças sexualmente transmissíveis (DST). A Educação cuida do ensino fun- damental, do ensino médio. A Assistência fica dando bolsa, cesta básica, e coisas des- se tipo. E esses itens acabam atingindo as pessoas e as famílias de uma forma meio desconjuntada. Não é necessariamente a mesma família que recebe essas coisas de maneira integrada e/ou continuada. Por- tanto, essa atuação não permite superar a exclusão social nem promove efetivamente o desenvolvimento social. Então, a oportunidade do tema deve- se a uma queixa generalizada em relação
  • 4. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 105 aos resultados das políticas e ações gover- namentais. E particularmente sobre essa manifesta dificuldade dos governos em di- minuir as desigualdades sociais e reverter os quadros de exclusão social. É evidente que existem outras razões para essa dificuldade, começando com as razões de caráter ideológico, que limitam, dentre outras coisas, as alternativas de mu- dança, saltando aos olhos a flagrante incom- patibilidade entre a lógica de organização do governo, essa lógica segmentada e de- sarticulada, e as necessidades e expectati- vas complexas das pessoas e dos grupos sociais. Retomando o conceito, estamos defi- nindo intersetorialidade ou transetoriali- dade como a articulação de saberes e expe- riências com vistas ao planejamento, para a realização e a avaliação de políticas, pro- gramas e projetos, com o objetivo de al- cançar resultados sinérgicos em situações complexas. Trata-se, portanto, de buscar alcançar resultados integrados visando a um efeito sinérgico. Transpondo a idéia de transdisciplinaridade para o campo das or- ganizações, o que se quer, muito mais do que juntar setores, é criar uma nova dinâ- mica para o aparato governamental, com base territorial e populacional. Convém ressaltar a idéia de sinergia. Essa questão de os programas atuarem iso- ladamente, provendo itens essenciais sem a preocupação de integrá-los — ainda que se tenham programas, agendas e grupos de trabalho —, reflete-se muito claramente no orçamento, por exemplo. Basta olhar o or- çamento do Estado para ver que progra- mas prioritários, assim definidos pelo pró- prio governo, não têm acolhida no orça- mento. O orçamento torna-se aquela peça de ficção que revela muito bem as clausuras setoriais, a separação dos setores, a compe- tição entre os grupos de interesse que ocu- pam os vários setores. A avaliação dos pla- nos e projetos governamentais mal acom- panha os resultados efetivos, ou seja, o que aconteceu com as famílias e com as pesso- as. Acompanha apenas itens de produção, processos e itens de estrutura, o que foi produzido e o que foi entregue: “Entrega- mos tantas casas, tantas cestas, tantas salas de aula”. Mas que diferença isso fez? Uma perspectiva de trabalho interseto- rial implica mais do que justapor ou com- por projetos que continuem sendo formu- lados e realizados setorialmente. Interse- torialidade, ou transetorialidade, não é isso. Às vezes, as pessoas usam a expressão intersetorialidade para se referir a conjun- tos de projetos que eventualmente estabe- lecem algum diálogo na hora da formula- ção ou da avaliação. Mas aqui estamos fa- lando de uma perspectiva muito maior do que essa e que tem um conjunto de impli- cações para a ação do Estado, seja ela dire- ta ou indireta. Duas coisas são fundamentais sobre a formulação, a realização e a avaliação de políticas, programas e projetos intersetoriais ou transetoriais: − a focalização, com base regional, em segmentos da população; e − a preocupação com resultados e impactos. Mas é preciso examinar o que se pode chamar de cisão entre produto e resultado. Quando se tem, por exemplo, um progra- ma de assentamento de famílias, o produto é o número de famílias assentadas e os tí- tulos que as famílias receberam. O resulta- do seria conhecido ao acompanhar o que aconteceu com essas famílias, a partir do assentamento. Elas estão conseguindo pro- duzir? Permanecem naquela casa, naquele terreno ou naquela terra? O assentamento teve algum impacto no desenvolvimento local e da região? Normalmente, esse re- sultado não é acompanhado. E, justamen- te por não ser acompanhado, muitas vezes são repetidos erros históricos. Em todos os níveis de governo, o pro- blema é o mesmo. Por exemplo: o governo consegue entregar determinado número de unidades habitacionais, mas não se sabe quanto tempo as pessoas ficaram nas mora- dias. Isso levanta uma questão: essas mes- mas pessoas continuarão pedindo uma mo-
  • 5. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap106 radia, somando-se a novos sem-teto? Enfim, o governo pode estar provendo alguns itens, mas não sabe exatamente quais os resulta- dos dessas provisões. E nós, como cidadãos, temos de come- çar a cobrar isso dos planos e programas de governo, da prefeitura, do Estado e da União. Que diferença se pretende conseguir com tais planos e programas? Como vamos monitorar e acompanhar os resultados, ou seja, a diferença ou a mudança provocadas ou não na vida das pessoas? Evidentemente, a sociedade acaba acompanhando os resul- tados pelos reflexos na qualidade de vida, mas nem sempre é fácil vincular esses refle- xos aos programas e planos. A transetorialidade seria conseguir mon- tar um quebra-cabeças que se refere àque- le foco, em relação às políticas governamen- tais. O foco teria base regional e atingiria segmentos da população, seja por faixa etária, por gênero ou por ocupação, consi- derando as características de cada grupo para saber o que prover e como garantir o acesso e o aproveitamento dos bens e ser- viços públicos. Para tanto, devem ser discutidos qua- tro aspectos básicos para se trabalhar a par- tir de uma perspectiva de transetorialidade: − mudança de paradigma; − projeto político transformador; − planejamento e avaliação participativos e com base regional; − atuação em rede de compromisso social. MUDANÇA DE PARADIGMA O primeiro aspecto seria o acolhimen- to de um novo paradigma, assim como ocorre no campo das disciplinas (o que tem sido uma discussão importante na univer- sidade). Como poderemos superar aquele paradigma da disjunção, da separação, da clausura e da redução, e transitar para o paradigma de compreensão da diversidade e, mais que isso, da produção de nova pers- pectiva a partir dessa diversidade? A res- posta é: adotar uma nova postura, ante os problemas que a organização pública deve enfrentar na sociedade. Então, a primeira coisa a ser feita é essa mudança de paradig- ma, que significa uma reforma do pensa- mento: é preciso pensar de outro jeito, para criar, de fato, um paradigma com foco na complexidade, na compreensão da diversi- dade e, com certeza, na questão da comu- nicação. Os estudiosos que vêm discutindo a transdisciplinaridade fazem uma aborda- gem muito interessante, ressaltando que não se trata de desprezar ou de ignorar as disciplinas, mas de promover uma comu- nicação verdadeira entre elas. Podemos transportar isso também para o campo das organizações. É claro que continuarão exis- tindo saberes e provimento de itens, conti- nuará havendo obras, escola, serviço de saú- de, porque, por enquanto, é assim que sa- bemos operar. Começamos a mudança pen- sando em como planejar isso de modo di- ferente, como entregar isso à população, pensando nas singularidades dos grupos populacionais, pois não se trata de homoge- neizar toda a produção. PROJETO POLÍTICO TRANSFORMADOR O segundo aspecto diz respeito ao pro- jeto político para as políticas públicas. Aquele desenho piramidal e fatiado das corporações, dos grupos de interesse e do loteamento político atende confortavel- mente às políticas chamadas assistencia- listas. O aparato governamental está afeito a isso. Cabem lá, muito bem, todas as polí- ticas assistencialistas. Contudo, tais políti- cas não se encaixam no modo de pensar intersetorial, pois ele contradiz a natureza do assistencialismo, que tem caráter de compensação e de provimento de itens. Por exemplo: quando está faltando algo, bus- ca-se sanar esse problema específico. Mas, cuidar da transformação da sociedade e promover o desenvolvimento social é uma abordagem diferente, que significa a repar- tição mais equânime das riquezas.
  • 6. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 107 Esse é o conceito de desenvolvimento social que estamos usando aqui, ou seja, a repartição mais equânime das riquezas exis- tentes na sociedade em determinado momen- to histórico, com a redução das desigualda- des (que todas essas políticas assistencialistas jamais pretenderam resolver) e, portanto, com a reversão da exclusão social. PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO PARTICIPATIVOS E COM BASE REGIONAL O terceiro aspecto atinge a organização interna do governo, pois diz respeito ao pla- nejamento. A proposta de intersetorialidade tem conseqüências tanto no planejamento como no orçamento (que deveria ser um produto do planejamento, mas não é). Atualmente, é o orçamento que determina o planejamento, a partir de embates entre grupos de interesse que definem a distribui- ção no orçamento, assim como definem, de- pois, a liberação dos recursos. A perspectiva intersetorial implica o pla- nejamento com base regional. Implica uma lógica de planejamento não como a pro- dução de um plano, como hoje existe – em determinado momento do ano, um grupo de pessoas examina o velho orçamento e faz o que chama de planejamento, que não passa de um “requentamento” do orçamen- to do ano anterior. Mas a perspectiva intersetorial precisa de um processo de pla- nejamento diferente, em que o plano faz parte de um processo permanente, que co- meça com a análise de situação, passa por escolhas estratégicas e faz acordos. E é preciso que o planejamento seja participativo? Sim, pois não dá mais para atuar de modo isolado. O planejamento participativo tem de agregar outros atores, que vão ter outros enfoques dos segmentos da população, das regiões. Dentro desse pro- cesso, o plano é um grande acordo feito a partir da avaliação de resultados, com o pres- suposto de ser refeito dinamicamente. O planejamento regional e participativo deve, portanto, determinar uma mudança impor- tante na lógica do orçamento do Estado. ATUAÇÃO EM REDE DE COMPROMISSO SOCIAL Finalmente, o quarto aspecto refere-se a uma nova organização para superar aquela pirâmide hierarquizada e fatiada da estru- tura governamental. Há muitos modelos disponíveis. A reforma administrativa iso- lada pode não significar absolutamente nada. Pode ser aquela política “de toalha”, de enxugamento. Pode ser simplesmente uma leitura do modelo liberal, uma forma de reduzir o Estado, ou o contrário. Mas ela, por si só, não promove mudança. A nosso ver, a reforma administrativa se inte- gra àquelas outras partes do quebra-cabe- ça. E está aí como uma parte necessária para viabilizar esse novo olhar transetorial. Se for acolhido um novo paradigma, uma outra perspectiva de política pública, com o banimento do assistencialismo e a adoção do planejamento como processo participativo, ficará de fato intolerável o modelo piramidal e setorializado do apa- rato do Estado, que já se mostra insusten- tável, dada a sua incapacidade de promo- ver mudanças substantivas. Então, torna- se indispensável que tal modelo seja reexaminado. Isso poderia significar ape- nas uma reforma administrativa, mas pode e deve ser mais que isso. Nesse sentido, a atuação em rede de compromisso social pode ser uma parte dessa solução, pois significa que o Estado vai permeabilizando-se e abrindo-se à so- ciedade, trabalhando não em setores, não em clausuras, mas com outros parceiros que também estavam fazendo o provimento de necessidades e expectativas da sociedade também com uma lógica disciplinar isola- da, setorial. A rede de compromisso social – expres- são usada para distinguir a natureza da rede – permite que esses atores independentes, ligados ao aparato governamental e à soci- edade, sejam atraídos e se mobilizem para, juntos, trabalharem determinado problema da sociedade. É preciso trabalhar com a idéia de re- des, agregando novos atores. Não se trata
  • 7. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap108 2 Proposta articulada pelo Prof. Dr. Luciano A. Prates Junqueira, no processo de assessoria da Fundap à Direção Regional de Saúde XX da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. de um grupo de trabalho preocupado ape- nas em fazer uma proposta ou avaliação. Trata-se de uma verdadeira rede de com- promisso, na qual instituições, organizações e pessoas se articulam em torno de uma questão da sociedade, programam e reali- zam ações integradas e articuladas, avali- am juntos os resultados e reorientam a ação. O governo é parte dessa rede, que será capaz de fazer propostas de planejamento com base regional e assumir a co-respon- sabilidade. Atualmente, isso não acontece, e as pessoas ou os grupos se dispersam, mesmo que, às vezes, tenham propostas muito parecidas. Mas o plano é entregue ao governo e o aparato governamental, sozinho, é incapaz de realizá-lo. Enquanto isso, as mesmas instituições que ajudaram a produzir as propostas continuam agindo muitas vezes de forma coerente com suas próprias propostas, mas de maneira isola- da e desarticulada. A Cartografia de uma Rede, que o Pro- jeto Quixote da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) publicou, mostra como os meninos de rua trafegam por vá- rias organizações, cujos esforços não lo- gram mudar os condicionantes que resul- tam na exclusão dessas crianças. Resumindo: além da base regional e da rede, o planejamento e a ação articulados requerem liderança. Mas as lideranças tam- bém continuam muito setorializadas, tan- to dentro dessa estrutura da ação governa- mental quanto nas organizações não-go- vernamentais. E é imprescindível que elas tenham uma visão mais ampla. EXEMPLO DE PROGRAMA EM SÃO JOÃO DA BOA VISTA A Rede Adolescente – InterAções pela Vida é uma rede de compromisso social, mobilizada em torno de uma questão so- cial. Seu trabalho é regional e focaliza o segmento jovem da população. Nasceu na região de São João da Boa Vista, a partir de uma discussão com diversos atores, não apenas governamentais, da região. A princípio, a regional de Saúde da área convidou 25 prefeitos para discutir uma pro- posta de planejamento inter-setorial.2 Os prefeitos articularam suas áreas de Educa- ção, Saúde e Assistência Social. A partir desse ponto, atores do governo do Estado e dos governos municipais se reuniram para dis- cutir problemas que ocorriam nos vários municípios e que eram comuns à região. Na seqüência, escolheram um ponto que, naquele momento, estava mobilizan- do mais as pessoas: o problema do aumen- to da drogadição entre a população ado- lescente. E a partir da discussão desse pro- blema, com sua peculiaridade regional, os atores governamentais perceberam que pre- cisavam de outros atores para começar a formular uma proposta e poder intervir. Decidiu-se fazer, então, um amplo chama- do às sociedades de cada município, e co- meçou a ser tecida a Rede Adolescente. Na realidade, essa rede ocorre em dois níveis. Cada município tece sua própria rede com os atores governamentais e não-go- vernamentais daquele município. E as re- des municipais se articulam em uma rede regional. Mas não se trata de uma rede formal, uma vez que cada instituição continua au- tônoma e independente, preservando seus propósitos e sua própria ação. Mas, dadas as necessidades de resolver um problema comum e se energizar, fazendo com que a ação das várias organizações se potenciali- zem para a obtenção de resultados comuns, a partir de uma visão compartilhada de fu- turo, tais organizações se articularam em redes municipais. Assim, passaram a existir ações de âmbito municipal, nas quais os vários atores dividem as responsabilidades. As redes municipais se articulam em uma rede regional, que se ocupa não só do processo de comunicação entre as diversas redes, mas também de questões que extrapolam o âmbito do município. Há outros exemplos. A área de desen- volvimento e assistência social em São Paulo busca estruturar um trabalho com as redes regionais. Com essa mesma lógica, aten-
  • 8. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap 109 Referências bibliográficas INOJOSA, R. M. 1998 Intersetorialidade e a configuração de um novo paradigma organizacional. Revis- ta de Administração Pública — RAP, Rio de Janeiro, v.32, n.2, p.35-48, mar./abr. 1999 Redes de compromisso social. Revista de Administração Pública — RAP, Rio de Janeiro, v.33, n.5, p.115-141, set./out. JUNQUEIRA, L. A. P. 1998 Descentralización, intersectorialidad y red en la gestión de la ciudad. Reforma y Democracia, Caracas: CLAD, n.12, oct., p. 89-108 JUNQUEIRA, L. A. P.; INOJOSA, R. M.; KOMATSU, S. 1998 Descentralização e intersetorialidade na gestão pública municipal no Brasil: a expe- riência de Fortaleza. In: EL TRÁNSITO de la cultura burocrática al modelo de la gerencia pública. Caracas : Unesco/Clad. p. 63-124. MARTINS, C. E.; PALMA E SILVA, L.; STANISCI, S. (Org.) 2000 Intersetorialidade: um desafio para a política de assistência social. In: DISCUTIN- DO a Assistência Social no Brasil. Brasília : Secretaria de Assistência Social/MPAS; São Paulo: Fundap MORIN, Edgar 1999 Complexidade e transdisciplinaridade — a reforma da universidade e do ensino fundamental. Trad. Edgar de Assis Carvalho. Natal : EDUFRN. UNIFESP 1998 Cartografia de uma rede. São Paulo : Unifesp. Projeto Quixote. dem-se pessoas que estão numa determi- nada região do Estado e que têm um perfil específico. Mas, obviamente, as condições da região interferem em outras condições, que acabam determinando-se mutuamen- te. Portanto, exigem soluções e ações que têm de se ajustar a cada região. Assim, a proposta em rede dá conta de uma ação muito mais focalizada. Também há muitos municípios que já tra- balham com a lógica do orçamento parti- cipativo, para o qual os problemas são iden- tificados com base local, regional, com a par- ticipação de atores. Isso faz parte de um projeto político, de uma mudança de enfoque político, já que não se trata de uma mera mudança de sistemática de trabalho. É evi- dente que, dependendo da situação específi- ca de cada local, não passará de mera mu- dança de sistemática; porém, em outros lo- cais, talvez possa ajudar projetos políticos que hoje se vêem reféns da velha sistemática. Finalmente, convém observar que qual- quer mudança pode ser uma mera mudan- ça de sistemática ou pode ser uma mudan- ça política real. Nesse sentido, ela depen- derá da existência, em cada município, em cada Estado e na União, de um projeto político de participação, que seja transpa- rente e novo, caso contrário ela irá se esgo- tar como sistemática nova. Trata-se, por- tanto, do desenvolvimento de um olhar e de um fazer transetoriais, em que dialo- guem as várias dimensões da mudança, orientados, sempre, pelas necessidades in- tegradas da população e por uma perspec- tiva política de desenvolvimento social e de superação da exclusão.
  • 9. cadercadercadercadercadernosnosnosnosnos fundap110 Documentos arquivísticos FUNDAP – Fundação do Desenvolvimento Administrativo 1997 Processo de mudança organizacional da Prefeitura Municipal de Fortaleza (CE), Relatório Final. São Paulo. jul. 1998 Relatório Final à Direção Regional de Saúde de São João da Boa Vista DIR XX, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. São Paulo. jul.