Este documento descreve como certos indivíduos poderosos em Portugal operam como uma "máfia" política, influenciando políticos e jornalistas. Estes "padrinhos" dominam o "tráfico de poder" e usam seus contatos na imprensa e política para destruir reputações e vingar-se de aqueles que os desafiam. Eles operam acima da lei e ninguém ousa desafiá-los devido ao medo de represálias.
Limpeza e desinfeção de superfícies em ambiente escolar
Don Corleone
1. terça-feira, fevereiro 21, 2017
Don Corleone
Pedindo um favor a Don Corleone
Não são políticos mas são conselheiros de Estado, nunca fizeram grande coisa pelo país
mas coleccionam comendas, não são formados em gestão mas gerem dezenas de
empresas, não têm capital mas estão entre os capitalistas, não são jornalistas mas
administram jornais. Constroem e destroem carreiras políticas, tratam todos os
governantes por tu, quando o governo é dos seus dão ordens aos ministros como se
fossem um primeiro-ministro sombra, para eles o primeiro-ministro é o António e o líder
da oposição é o Pedro.
Em Portugal não existe a Mafia no sentido siciliano, somos um país de brandos costumes.
Mas existem poderes do tipo mafioso a um nível mais elevado, na Sicília a Máfia domina
o tráfico de droga, um negócio de notas de vinte euros. Por cá, os nossos “padrinhos”
dominam um tráfico mais rentável, o tráfico de poder, é um tráfico legal, há sempre lugar
à emissão da factura, na maior parte dos casos duas facturas, uma com o valor fiduciário
da transacção, sob a forma de factura de serviços de advocacia, e outro com o preço da
subserviência.
Por cá não se mata a tiro recorrendo a um “soldado” no lugar detrás da Vespa, a morte
física é para a ralé. Aqui mata-se com classe, mata-se com a caneta, elimina-se moral e
politicamente. Vai-se ao nosso “Corleone” e pede-se ajuda para uma vingança,
uma vendetta, alguém não cumpriu com uma promessa, destruiu grandes expectativas
financeiras. O padrinho sabe o que fazer, sabe como destruir o ministro “pondo-o a
2. dançar” à medida que divulga e-mails e SMS, que dá ordens a jornalistas ou telefona a
gente com poder de tramar terceiros.
Recorre-se aos jornais que administra para fazer a notícias, usa-se o programa onde
comenta para lançar a suspeição, recorre-se às relações palacianas para envolver o poder.
Ao pé do “Don Corleone” o economista sem grande experiência política é como uma
virgem ao lado duma rameira velha. A vingança é consumada, o nome foi enlameado, as
comissões parlamentares estão requeridas, os amigos dos partidos foram solícitos,
aproveitaram a carcaça como se fossem hienas esperando que o leão se sinta cheio. "Don
Corleone" confirma o seu poder, eterniza o terror, nenhum político ou jornalista ousará
denunciá-lo, por mais evidente que tenha sido a manobra suja.
Não importam os métodos, o baixo nível que é usar mensagens privadas, o amigo foi
vingado, ainda que mais ninguém se sinta à vontade para falar com ele ao telefone. Don
Corleone não ficou bem na fotografia, mas passou incólume, o Presidente manteve-o
conselheiro, os jornalistas não repararam na sacanice, os políticos fazem de conta que
não repararam. Toda a gente tem medo do “Don Corleone”, os seus programas são
perigosos para a reputação, os orçamentos publicitários das empresas e interesses em que
está envolvido dão de comer a metade dos jornalistas, nunca se sabe o que nos pode
acontecer ou se um dia não teremos de recorrer aos seus favores.
“Don Corleone” continuará a sua brilhante e lucrativa carreira. Quer emprego para o
filho doutor? Quer renegociar uma dívida com o banco? Quer um artigo simpático no
Público e escapar a uma notícia incómoda da SIC? Quer uma norma à medida da sua
empresa no código do IRC ou do IMI? Quer tramar um ministro das Finanças? Quer
mandar um recado ao Presidente? Quer que o fisco feche os olhos às suas transferências
para a off-shore? Já sabe, tem por aí alguns “Dons Corleone” ao seu dispor é uma qestão
de bater à porta certa.