2. Currículo Para Um Novo Curso de Geologi
Currículo Para um Novo Curso de Geologia
Até o meio do século passado não existiam cursos de Geologia no Brasil. A escola de Mi-
nas e Metalurgia de Ouro Preto, hoje Universidade Federal de Ouro Preto, formava engenheiros de
minas, e estes por necessidade, foram adaptados aos serviços da Geologia especialmente para servir
às necessidades da Petrobras que dava os seus primeiros passos no caminho da pesquisa de petróleo.
A estatal do petróleo crescia e necessitava de mais técnicos para o seu serviço, e o leque na busca
da formação de geólogos foi ampliada. Vieram técnicos de outras áreas para cursos de adaptação ao
currículo geológico. Muitos engenheiros de minas e civis foram mandados aos Estados Unidos para
cursos adaptativos, e posteriormente foram trazidos os professores daquele país para fazerem escola
aqui no Brasil. Os professores americanos fizeram um grande trabalho, formando um bom número
de geólogos. Desse ponto em diante, nos anos das décadas de 50/60, os brasileiros tomaram conta da
tarefa de trabalhar e ensinar o que aprenderam com eles. Assim, pode-se dizer que a escola brasileira
de Geologia é um segmento da escola americana. Não só a Geologia, mas toda a indústria de petróleo
brasileira era um segmento da escola americana. A perfuração dos poços, os testes de formação, as
perfilagens, os cursos especializados para que pudesse dar conta da indústria do petróleo no Brasil
foram e ainda são um espelho da escola americana.
O problema surgiria neste ponto.
Mesmo aos americanos faltavam definições, faltava coerência nos discursos e os congressos
de Geologia se sucediam sem render nada (como ainda hoje não rendem) na elucidação de problemas
geológicos. Não havia explicação coerente para nenhum problema: montanhas e bacias, terremotos e
tsunamis, vulcões e petróleo eram mistérios insondáveis. Para fazer mapas eram usadas pranchetas,
alidades, barômetros, bússolas, que naquele tempo era a melhor técnica e as melhores ferramentas
que existiam para desvendar os mistérios da ciência.
Com tais limitações foram criados os currículos dos diversos cursos de Geologia que exis-
tem no Brasil. Aos primeiros problemas do ensino foram acrescentados muitos outros, e ele ficou
distorcido até a balbúrdia total. Os professores ensinavam o que não tinham aprendido corretamen-
te, e os novos profissionais espalhavam os erros que se amontoaram até o ponto de reconhecer-se,
formalmente, o estado caótico do ensino e da profissionalização da carreira. Em 1982 uma enquete
feita sob os auspícios da Sociedade Brasileira de Geologia1, 2 mostrava que havia descontentamento
e decepções com o curso tomado sob qualquer ponto de vista. Cinqüenta anos depois do início dos
cursos de Geologia (Pernambuco, Ouro Preto, S.Paulo e R.G. do Sul iniciaram em 1957), o quadro é
cada dia pior. As disciplinas são um delírio e o resultado prático uma decepção.
Ver alguns dos currículos3,4,5,6 e 7 das principais Universidades do Brasil, quando se sente a
dificuldade tanto para o ensino, como para o aprendizado desta ciência.
Os cursos são da mesma ciência, mas são poucas as semelhanças entre eles. Provavelmente,
depois de diplomado, um geólogo pernambucano não entenderá o seu colega carioca, e o paulista não
poderá conversar com o baiano. Um geólogo é um profissional treinado para fazer mapas das rochas
que formam a litosfera, ou seja, reduzir ao papel, a natureza das rochas no campo. Procurar minas e
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3. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
minerais é uma conseqüência posterior ao mapeamento.
Dessa forma temos três conceitos que precisam ser firmados:
• Geologia é o estudo do planeta Terra, feito com o auxílio da estratigrafia.
• Geólogo: profissional que estuda o globo terrestre utilizando a estratigrafia como ciência
de execução de mapas geológicos.
• Garimpeiro: profissional que procura minas e minérios, aleatoriamente, sem a necessida-
de de mapas.
Neste documento apresentamos uma alternativa para ser ensinada, com ênfase nos problemas
de treinamento no campo, para formar geólogos que possam falar a mesma linguagem e solucionar
problemas de economia, história geológica, e especialmente sobre problemas de energia e pesquisa
de petróleo. Observar o abandono da matemática, do desenho, e outras matérias sem relação com a
Geologia.
A grande novidade está no fato de ter sido identificada, em 1986, a unidade básica dos ma-
peamentos geológicos, ou seja, o objeto natural que deve ser mapeado no campo para que se possa
entender a evolução do planeta. Há um método definido para o estudo da Terra: o método estratigrá-
fico. O método somente pode ser aprendido no campo, que é o laboratório natural do geólogo. Sendo
assim, sobre a base firme da análise estratigráfica, da determinação do mecanismo genético de cada
fenômeno e do seu encadeamento com os outros, anteriores e posteriores, têm os geólogos a chave
para desvendar os segredos da Terra e a exploração das suas riquezas.
Na base desta idéia há necessidade de repensar-se o currículo para o ensino da Geologia, de
maneira que a ciência tome uma forma essencialmente coerente e sem dificuldade para entender-se
a mesma.
O curso de Geologia, atualmente ensinado nas universidades, precisa ser mudado, e esta é a
nossa contribuição.
Seu roteiro geral tem a estrutura que segue abaixo, com a finalidade de mostrar que a Geo-
logia só pode ser entendida, completamente, se estudada como um todo, indivisível.
1 - HISTÓRIA DA CIÊNCIA GEOLÓGICA
1.1 - ANTIGÜIDADE: OS GRANDES PENSADORES
1.2 - FORMA – TAMANHO E MATÉRIA PRIMA DA TERRA
1.3 - POSIÇÃO DA TERRA NO SISTEMA SOLAR
1.4 - RENASCENÇA
1.5 – ASTRONOMIA
1.6 - O SISTEMA HELIOCÊNTRICO
1.7 - O TELESCÓPIO
1.8 - A PALEONTOLOGIA
1.9 - TAXIONOMIA CIENTÍFICA
1.10 - CITOLOGIA
1.11 - 0 MICROSCÓPIO
1.12 - A IMPRENSA
1.13 - SENSORES – AS IMAGENS E FOTOGRAFIAS
1.14 - AS LEIS DA SEDIMENTAÇÃO
1.15 - A FOTOSSÍNTESE
2 - O SISTEMA PLANETÁRIO
2.1 - GENERALIDADES
2.2 - MECÂNICA CELESTE
2.3 - RELAÇÃO SOL/TERRA
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4. Currículo Para Um Novo Curso de Geologi
3 - O SOL
3.1 - ESTRUTURA E MECÂNICA DO SOL
3.2 - FUNCIONAMENTO DO SOL
4 - A TERRA
4.1 - ESTRUTURA ESTÁTICA
4.2 - DIMENSÕES E PRINCIPAIS MEDIDAS
4.3 - ENERGIA
4.4 - ORIGEM E MECANISMO DA ENERGIA INTERIOR E EXTERIOR
4.5 - TECTÔNICA - FUNCIONAMENTO DA ESTRUTURA DO GLOBO
4.5.1 – DINÂMICA INTERIOR – CONVECÇÃO - FUNCIONAMENTO INTERNO
4.5.1.1 - CÉLULAS CONVECTIVAS: MECÂNICA DE FUNCIONAMENTO
4.5.1.2 - MOVIMENTOS VERTICAIS E HORIZONTAIS – VULCANISMO
4.5.1.3 - MONTANHAS;ABISMOS;BACIAS;ORIGEM;AMBIENTE
4.5.1.4 - ESTRUTURAÇÃO E COMPOSIÇÃO MINERAL DA CROSTA
4.5.2 – DINÂMICA EXTERIOR
4.5.2.1 - ATMOSFERA – MECANISMO E FUNCIONAMENTO
4.5.2.2 - CLIMAS – CAUSAS E EFEITOS
4.5.2.3 - MECANISMO E FUNCIONAMENTO DA HIDROSFERA
4.5.2.4 - MARÉS – ONDAS E CORRENTES – CAUSAS E EFEITOS
4.5.3 – MECANISMOS E FUNCIONAMENTO DA LITOSFERA
4.5.3.1 – EVIDÊNCIAS- CAUSAS E EFEITOS
4.5.4 – PRESSÃO ATMOSFÉRICA
4.5.5 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DA ATMOSFERA
5 - MOVIMENTOS DA TERRA
5.1 - NO SISTEMA PLANETÁRIO
5.2 - NA GALÁXIA
5.3 - NA LITOSFERA
5.4 - INTERNOS
6 - TEMPO
6.1 - TEMPO HUMANO: UNIDADES DE TEMPO - MEDIDAS
6.2 - TEMPO GEOLÓGICO: FORMAÇÕES, ERAS E PERÍODOS
7 - FUNDAMENTOS DA GEOLOGIA
7.1 - FORMAÇÃO GEOLÓGICA
7.2 - LEIS DA SEDIMENTAÇÃO
7.3 - LEI DA SUCESSÃO FAUNAL
7.4 - NÍVEL DE BASE
7.5 - AMBIENTES DE SEDIMENTAÇÃO
7.6 - UNIFORMISMO
7.7 - LITOLOGIA
7.8 - CORRELAÇÃO
7.9 - METAMORFISMO
7.10 -ESCALAS
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5. Petróleo e Ecologia: Uma Contestação à Ciência Ortodoxa
8 - PROCESSOS DE SEDIMENTAÇÃO
8.1 - A ATMOSFERA
8.2 - CICLO DA ÁGUA
8.3 - SOLOS
8.4 - SEDIMENTOS
8.5 - EROSÃO
8.6 - TRANSPORTE
8.7 - ESPALHAMENTO
8.8 - SEDIMENTAÇÃO
8.9 – DIAGÊNESE
9 - BACIAS DE SEDIMENTAÇÃO E PRODUTOS DA SEDIMENTAÇÃO
9.1 – SIGNIFICAÇÃO GEOLÓGICA
10 - A LITOSFERA – AS FORMAÇÕES GEOLÓGICAS
10.1 – TEMPO GEOLÓGICO
11 - TEXTURA
11.1 - TAMANHO
11.2 - ARREDONDAMENTO
11.3 - ESFERICIDADE
11.4 - COR
11.5 - POROSIDADE
11.6 – PERMEABILIDADE
12 - ESTRUTURAS
12.1 – INTERNAS
12.2 - EXTERNAS
12.3 – SIGNIFICAÇÃO GEOLÓGICA
13 - MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO GEOLÓGICA
13.1 – EM SUPERFÍCIE
13.1.1 – O MAPEAMENTO REGIONAL
13.1.2 – O MAPEAMENTO DETALHADO
13.2 – EM SUBSUPERFÍCIE
13.2.1 – PERFIS ELÉTRICOS INDUTIVOS E MAGNÉTICOS
13.2.2 - SÍSMICA
13.2.3 - GRAVIMETRIA
13.2.4 - PALEONTOLOGIA
13.2.5 – PERFURAÇÃO DA CROSTA – POÇOS
14 - CÓDIGO DE NOMENCLATURA ESTRATIGRÁFICA
14.1 - INTRODUÇÃO
14.2 – O NOVO CÓDIGO
14.2.1 - AS FORMAÇÕES, AS ERAS E OS PERÍODOS
15 - A ENERGIA
15.1 – ORIGEM E EFEITOS
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6. Currículo Para Um Novo Curso de Geologi
15.2 – O CICLO DA ENERGIA
15.3 – ORIGEM DA VIDA
15.3.1 – OS FATORES VITAIS E SUA VARIAÇÃO
15.3.2 – A SEDIMENTAÇÃO DA ATMOSFERA - MECANISMO
15.3.3 – ORIGEM E FIM DAS ESPÉCIES
15.4 – ORIGEM DO PETRÓLEO
16 - HISTÓRIA GEOLÓGICA
16.1 – EVOLUÇÃO DA TERRA AO LONGO DO TEMPO
16.2 – EVIDÊNCIAS
17 - ASTRONOMIA; ASTROFÍSICA E GEOLOGIA - CONTESTAÇÕES
17.1 – SOZINHOS OU ACOMPANHADOS?
17.2 – O TEMPO
17.3 – COMBUSTÍVEL DO SOL E DAS ESTRELAS
17.4 – GÊNESE SEGUNDO A ASTROFÍSICA
17.5 – O MODELO GEOLÓGICO
17.6 – O TEMPO E A HUMANIDADE
17.7 – A INTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA DOS FATOS
17.8 – CLASSIFICAÇÃO DAS FORÇAS DA NATUREZA
17.9 - ESTRUTURA DA TERRA
17.9.1 – O NÚCLEO
17.9.2 – O MANTO
17.9.3 – A LITOSFERA
17.9.4 – A ATMOSFERA
18 - RECURSOS DA CROSTA TERRESTRE
18.1 – RECURSOS ORGÂNICOS – PETRÓLEO, CARVÃO, TURFA E FLORESTAS
18.2 – RECURSOS INORGÂNICOS – MINÉRIOS E MINERAIS
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