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45Horizonte Geográfico
Círios
Texto e fotos de Henrique Picarelli
Cinco participantes da
grande procissão paraense
do Círio de Nazaré, revelam
seus sacrifícios feitos
em nome da fé
de
Belém
O
dia ainda não nasceu às margens
da Baía de Guajará e uma multi-
dão já se concentra ao lado da
Catedral Metropolitana de Belém. Muito
antes dos primeiros raios de sol ilumi-
narem a capital paraense, pessoas com
diferentes histórias se encontram na
devoção à Nossa Senhora de Nazaré e
ajudam a escrever juntas um novo ca-
pítulo desta jornada de fé que, em 2012,
completou 220 anos: o Círio.
Logo a manhã ganha as cores do dia
e revela uma multidão que já rompe a
casa dos milhares. São dois milhões de
pessoas que transformam as ruas de Be-
lém, por onde a imagem vai passar até
chegar à Basílica de Nazaré, cumprindo
um percurso de 3,6 quilômetros, num
caudaloso rio de gente.À distância, a vi-
são parece homogênea: o tom moreno
das peles dos fiéis cria rostos familiares e
alimenta um falso parentesco entre eles.
No entanto,à medida que se aproximam,
e os relatos começam a ser contados,
essa certeza visual se quebra e um novo
Círio se forma. Desta vez heterogêneo,
pessoal e intransferível, como se dentro
44 Horizonte Geográfico
Há mais de 300 anos
uma imagem da Virgem
Maria foi encontrada
às margens do igarapé
Murucutu. No lugar foi
erguida a igreja de Nossa
Senhora de Nazaré,
ponto final da procissão
de cinco quilômetros
Desde 1931
uma grande
e forte corda foi
incorporada à
procissão. Para
muitos romeiros,
todo sacrifício
para tocá-la vale
a pena
Aos 28 anos, devoto de Nossa Senhora de
Nazaré desde as lembranças mais antigas
da infância, este filho de Belém acredita ter
herdado do pai a paixão pelo Círio.“Quando
criança, antes de completar dez anos de
idade, meu pai me levava para participar da
Romaria das Crianças e eu adorava. Cresci
aprendendo o valor da fé e hoje eu embarco
na corda para agradecer tudo aquilo que a
vida tem me dado, nunca para pedir”, re-
lembra Deivyd que neste ano, pela primeira
vez, não conseguiu completar o percurso
por conta de um corte profundo no pé es-
querdo. “Machuquei o meu pé no começo
da Avenida Nazaré mas não queria desistir.
de cada pessoa houvesse um Círio próprio,
motivado pela graça alcançada, renovado
pelo novo pedido ou, simplesmente, na
vontade de perpetuar uma tradição que,
certamente,já atravessou diversas gerações
de famílias paraenses.
Nesta multidão sem face, um grupo
se destaca. Desde as primeiras horas da
madrugada, muito antes da procissão sair,
cerca de sete mil pessoas, entre homens e
mulheres, jovens e adultos, se espremem e
se espalham num espaço de 400 metros de
comprimento. A disputa é para pegar um
pedaço da corda e ter a responsabilidade de
puxar a berlinda, onde a imagem de Nos-
sa Senhora de Nazaré é carregada. Para os
promesseiros da corda, como esses fiéis são
conhecidos, essa tarefa traz muito mais do
que a honra de carregar o símbolo máximo
dessa devoção. Para muitos, o sacrifício de
caminhar descalço sob calor e umidade
amazônicos representa a oportunidade de
agradecer as bênçãos obtidas ao longo do
ano e renovar uma fé difícil de ser com-
preendida para quem se depara com essa
manifestação religiosa pela primeira vez.
Deivyd, promesseiro da corda
É a gratidão que leva Deivyd José dos
Santos pelo sétimo ano consecutivo à corda.
Aguentei por quase 5 horas,mas chegou um
momento em que a dor foi maior do que a
minha fé”, lamenta o devoto pouco antes
de se surpreender com suas fotos, tiradas
durante a procissão.
“Meu Deus! Esse sou eu?” Estas foram
as primeiras palavras de Deivyd ao se en-
contrar nas fotos entre centenas de fiéis
durante parte do trajeto, pouco antes de
se machucar e ser obrigado a sair. “Esta é
a primeira vez que me vejo no Círio e não
consigo me lembrar de que sentia naquela
hora!”, espanta-se o pedreiro. “Olhando
para mim, neste momento tão meu, só
consigo pensar nos motivos que eu tenho
47Horizonte Geográfico46 Horizonte Geográfico
para agradecer e para estar lá. E no ano
que vem, eu vou voltar”.
Daniel, o evangélico na corda
Não é só a fé e a religião que movem
pessoas para a maior procissão católica do
Brasil. Em 2006, o evangélico Daniel Moura
– à época com 20 anos, se sentiu instigado
pelos amigos a conhecer de perto o Círio
de Nazaré. Católico de nascimento, Daniel
conheceu a igreja evangélica aos 12 anos
de idade, pro meio de amigos da escola.
Aos 15, foi batizado na Igreja Adventista
do Sétimo Dia, mesmo caminho percorrido
pela mãe e pelo irmão mais novo alguns
anos depois. E foi dentro dos ensinamentos
Pudam
erumenimi,
omnis
volupidelite
plandis alictum
resed et fugita
verferum es
quam laut
andis alit, sed
48 Horizonte Geográfico
católica fervorosa e apaixonada pelo Círio,
Daniel admira a relação da família dela com
as festividades religiosas desta época do ano.
“Com o tempo,eu aprendi a conviver com a
religiosidade da família dela, com a crença
deles.E acho muito bonita a relação de todos
aqui e a forma como o Círio os reaproxima”.
Para Fernanda,a mulher de Daniel,o pe-
ríodo do Círio é a época de relembrar a avó
Carmita, falecida há 5 anos e que passou
aos 12 filhos e aos 18 netos o principal valor
desta festa para os Meireles. “O Círio sem-
pre representou o momento de encontro de
nossa família”, recorda a neta.“É o começo
de um novo ano, de renovar os pedidos, de
agradecer. Para a família paraense, agora é
a hora de viver o Natal”.
Kátia, uma viajante da fé
Kátia de Nazaré Meireles, 47 anos, é a
única das filhas de dona Carmita que não
vive mais no Pará. Desde quando se casou,
há 10 anos, ela mora na cidade de Suzano,
na grande São Paulo, mas se programa para
estar em Belém durante o mês de outubro.
“É impossível me manter afastada daqui e
da minha família nesta época do ano.A mi-
nha paixão por tudo isso renasce e eu revivo
a minha história, a história da minha famí-
lia”, afirma a única das 6 irmãs que carrega
Nazaré no nome por conta do aniversário no
Daniel, evangélico, casado com Fernanda, católica, resume
seu interesse: “como paraense, o Círio faz sentido pra mim”
A multidão se acotovela nas ruas de Belém. A cada ano, centenas de fieis são hospitalizados por causa do calor
evangélicos que ele aprendeu que as ima-
gens não devem ser adoradas, veneradas
ou reverenciadas, o que transforma a festa
em torno da imagem de Nossa Senhora de
Nazaré sem sentido para ele.
A conversão religiosa, no entanto, não
foi suficiente para aquietar a curiosidade
do jovem belenense. Dois dias antes da
principal procissão do Círio, durante uma
conversa com amigos, Daniel decidiu que
iria participar e da forma mais presente
possível: ao lado dos promesseiros da corda,
ajudando a levar a imagem da Padroeira da
Amazônia. “Como evangélico, o Círio não
fazia sentido para mim. Mas como para-
ense, faz”, resume, explicando sua decisão.
A noite que antecedeu a experiência foi
curta. Pouco mais de 2 da manhã e Daniel
já estava deitado sobre a corda, para marcar
o lugar. Às 6h30, a corda é levantada e a
promissão se inicia. “Nos primeiros 20 mi-
nutos, pensei em não ficar, achava que não
aguentaria aquele calor. Eu me perguntava
o que estava fazendo lá”, recorda o evan-
gélico com um sorriso no rosto. “O peito
espreme, você não anda.Você é levado!”.
Na primeira tentativa de sair da corda,
Daniel encontrou o próprio significado para
o Círio, muito além da questão religiosa,
muito diferente das versões que ouvira dos
amigos. “Quando falei que queria sair, um
dos promesseiros tentava me convencer a
ficar. Falava da minha fé, dos motivos que
me faziam estar ali e do compromisso com
aquilo que tinha prometido”, recorda. “Ele
não sabia nada sobre mim, sobre a minha
religião, mas não queria que eu abando-
nasse o meu compromisso com aquilo
que havia prometido, como se estivesse
cuidando de mim”.
A passagem de Daniel pela corda durou
pouco mais de 3 horas,por culpa das unhas
dos pés que sucumbiram ao contato com o
asfalto.O aprendizado vivido naqueles mo-
mentos, no entanto, tem acompanhado o
técnico em informática até os dias de hoje.
Casado há 6 anos com Fernanda Meireles,
“Meu Deus!
Esse sou eu?”,
surpreendeu-se
Deivyd ao ver a
imagem flagrada
durante sua
difícil passagem
pela corda
A romaria fluvial do
Círio percorre 10
milhas na baía de
Marajó, recebendo
homenagens da
população ribeirinha
mês de outubro.“A cada ano, independente
de minha mãe ter falecido e não estar mais
entre a gente, nós nos tornamos mais uni-
dos.Ela,mesmo não estando aqui,fortalece
o amor que temos um pelo outro”, conta
Kátia enquanto tenta disfarçar a saudade da
mãe que começa a transbordar pelos olhos.
“Neste momento, a gente sente a minha
mãe mais próxima, como se eu pudesse
ver os movimentos dela por aqui. O Círio
é muito a nossa mãe”, completa Lucinda
Meireles, a mais velha das irmãs e que hoje
se responsabiliza pelos preparativos da fes-
ta em família e prepara o altar da casa que
conta, além da imagem de Nossa Senhora,
uma foto da mãe.
Para outros devotos de Nossa Senhora
de Nazaré, o Círio carrega significados dife-
rentes, além do encontro da família – como
é para os Meireles, ou do sacrifício de fé –
como encara Deivyd.
Tia Dora, a hospedeira
Na Casa de Plácido, local criado para
receber os milhares de romeiros que che-
gam a Belém durante este período do ano,
encontramos um Círio que se concretiza
na doação e que se personifica na figura de
Dolores Cerejo. Ou apenas Tia Dora, como
prefere ser chamada.
A disposição de menina ajuda a escon-
der os 81 anos de idade. Ela não pára! Cada
grupo de romeiros que chega parece abas-
tecer de energia as pernas e os braços desta
voluntária que, desde quando a Pastoral da
Acolhida foi criada há 11 anos, abandona a
própria casa no período do Círio para aten-
der os devotos de Nossa Senhora de Nazaré.
“Neste momento do Círio, poder ajudar al-
guém é a maior satisfação possível que eu
posso ter. Eu me dôo a este trabalho.Venho
para cá e não tenho vontade de voltar para
casa”, diverte-se ao falar da própria dedica-
ção sem se descuidar do atendimento aos
peregrinos, da distribuição da água, do pre-
paro da sopa e das colegas com quem divide
o trabalho na Casa.“Além da fé das pessoas
que chegam,cumprindo as suas promessas,
o que mais me emociona é a dedicação das
voluntárias daqui. Todo mundo vem para
53Horizonte Geográfico
Dolores
Cerejo, a Tia
Dora, na Casa
de Plácido,
que acolhe
romeiros:
“contágio
de energia
positiva”
A origem do Círio de Nazaré
De herança portuguesa, a devoção à Nossa
Senhora de Nazaré no país data de 1700, quando
o caboclo Plácido José dos Santos encontrou
uma pequena imagem da Virgem Maria às
margens do igarapé Murutucu, que passava atrás
de onde está hoje a Basílica de Nazaré.
De acordo com os relatos da época, Plácido teria
levado a imagem até a casa, de onde ela sumiu
até ser reencontrada no mesmo igarapé. Depois,
a imagem foi levada ao Palácio do Governo, onde
passou a noite escoltada por guardas. Reza a
lenda que para a surpresa de todos, na manhã
seguinte a imagem estava de volta ao igarapé.
Neste local, Plácido construiu uma capela
para hospedar a imagem, embora apenas
em 1792 o Vaticano autorizasse a realização
da primeira procissão, que aconteceria
em 8 de setembro do ano seguinte.
Em 1855, com as fortes chuvas que caíram
Kátia Meireles (ao centro), junto com suas irmãs: a visita anual à Belém coincide sempre com o Círio
durante o Círio, a berlinda que levava a imagem
atolou e a corda foi utilizada pela primeira vez.
Em 1901, a procissão começa a ser realizada
no segundo domingo de outubro e, a partir
de 1931, a corda passaria a ser incorporada
definitivamente à berlinda.
As procissões são longas: em 2004, por exemplo,
o Círio durou mais de 9 horas, tornando-se a
procissão mais longa da história da festividade.
ajudar, para trabalhar. Parece que há um
contágio dessa energia positiva que aca-
ba se manifestando no rosto de cada uma
de nós”, explica Tia Dora enquanto aponta
para as outras voluntárias do outro lado do
balcão. E entre um atendimento e outro,
ela revela o segredo de tamanha dedicação.
“Nada faz mais diferença do que agir com
amor e se doar com o amor que a gente tem
aqui. O meu Círio mora dentro desta Casa
e eu peço a Deus que essa energia toda me
faça estar aqui no próximo ano”.
José Ribamar, um peregrino
No mês de outubro de 2012, cerca de
400 voluntários, entre eles médicos, enfer-
54 Horizonte Geográfico
A cada ano,
José Ribamar
percorre
a pé os 70
quilômetros
que separam
sua cidade de
Belém para se
juntar ao Círio
meiros e massagistas, se revezaram duran-
te o período do Círio para atender cerca
de 15 mil romeiros. Dentre os peregrinos
atendidos pela Casa de Plácido estava José
Ribamar Araújo, de chapéu de palha para
proteger a cabeça do sol e devoção à Nossa
Senhora de Nazaré estampada na camiseta
e nas palavras.
Piauiense de nascimento, Ribamar
mora em Castanhal, cidade distante 70
quilômetros da capital paraense, desde o
final da década de 80. Há 4 anos percorre
essa distância a pé nos dias anteriores à
procissão do Círio. Os 72 anos de idade não
ficam evidentes, mesmo depois de quase
24 horas de caminhada. E o cansaço não
é capaz de abafar a paixão com que fala
do motivo que o faz percorrer esse traje-
to. “Eu estou aqui porque fiz um pedido à
Nossa Senhora e estou sendo atendido. A
minha próstata estava 50% maior do que
o normal e no último ultrassom que fiz,
há dez dias, ela estava 37% menor”, co-
memora. “Eu prometi que se ficasse bom,
curado mesmo, eu caminhava até quando
não aguentasse mais”.
Quando questionado sobre a impor-
tância da fé para a própria cura, seu José
Ribamar se emociona. “Rapaz, eu acredito
que a fé é tudo nessa vida. Quando comecei
essa jornada, eu só pensava na do ano que
vem e isso me mantém vivo, com vontade
de viver, independente dos problemas que
a vida tenha me dado”.
Para Deivyd, Daniel, a família Meireles,
tia Dora, seu José Ribamar e tantos outros
paraenses que voltam à terra natal nesta
época do ano, o Círio é uma espécie de re-
encontro com a própria fé, com as próprias
crenças, com as próprias raízes.Ao se afas-
tar dos números grandiosos que compõem
a maior festa religiosa do Brasil, percebe-se
que há um Círio que acontece dentro de
cada pessoa, de cada promessa, de cada
agradecimento, independentemente do
significado religioso da maior festa de
credo católico do país.

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Círios - Henrique Picarelli

  • 1. 45Horizonte Geográfico Círios Texto e fotos de Henrique Picarelli Cinco participantes da grande procissão paraense do Círio de Nazaré, revelam seus sacrifícios feitos em nome da fé de Belém O dia ainda não nasceu às margens da Baía de Guajará e uma multi- dão já se concentra ao lado da Catedral Metropolitana de Belém. Muito antes dos primeiros raios de sol ilumi- narem a capital paraense, pessoas com diferentes histórias se encontram na devoção à Nossa Senhora de Nazaré e ajudam a escrever juntas um novo ca- pítulo desta jornada de fé que, em 2012, completou 220 anos: o Círio. Logo a manhã ganha as cores do dia e revela uma multidão que já rompe a casa dos milhares. São dois milhões de pessoas que transformam as ruas de Be- lém, por onde a imagem vai passar até chegar à Basílica de Nazaré, cumprindo um percurso de 3,6 quilômetros, num caudaloso rio de gente.À distância, a vi- são parece homogênea: o tom moreno das peles dos fiéis cria rostos familiares e alimenta um falso parentesco entre eles. No entanto,à medida que se aproximam, e os relatos começam a ser contados, essa certeza visual se quebra e um novo Círio se forma. Desta vez heterogêneo, pessoal e intransferível, como se dentro 44 Horizonte Geográfico Há mais de 300 anos uma imagem da Virgem Maria foi encontrada às margens do igarapé Murucutu. No lugar foi erguida a igreja de Nossa Senhora de Nazaré, ponto final da procissão de cinco quilômetros
  • 2. Desde 1931 uma grande e forte corda foi incorporada à procissão. Para muitos romeiros, todo sacrifício para tocá-la vale a pena Aos 28 anos, devoto de Nossa Senhora de Nazaré desde as lembranças mais antigas da infância, este filho de Belém acredita ter herdado do pai a paixão pelo Círio.“Quando criança, antes de completar dez anos de idade, meu pai me levava para participar da Romaria das Crianças e eu adorava. Cresci aprendendo o valor da fé e hoje eu embarco na corda para agradecer tudo aquilo que a vida tem me dado, nunca para pedir”, re- lembra Deivyd que neste ano, pela primeira vez, não conseguiu completar o percurso por conta de um corte profundo no pé es- querdo. “Machuquei o meu pé no começo da Avenida Nazaré mas não queria desistir. de cada pessoa houvesse um Círio próprio, motivado pela graça alcançada, renovado pelo novo pedido ou, simplesmente, na vontade de perpetuar uma tradição que, certamente,já atravessou diversas gerações de famílias paraenses. Nesta multidão sem face, um grupo se destaca. Desde as primeiras horas da madrugada, muito antes da procissão sair, cerca de sete mil pessoas, entre homens e mulheres, jovens e adultos, se espremem e se espalham num espaço de 400 metros de comprimento. A disputa é para pegar um pedaço da corda e ter a responsabilidade de puxar a berlinda, onde a imagem de Nos- sa Senhora de Nazaré é carregada. Para os promesseiros da corda, como esses fiéis são conhecidos, essa tarefa traz muito mais do que a honra de carregar o símbolo máximo dessa devoção. Para muitos, o sacrifício de caminhar descalço sob calor e umidade amazônicos representa a oportunidade de agradecer as bênçãos obtidas ao longo do ano e renovar uma fé difícil de ser com- preendida para quem se depara com essa manifestação religiosa pela primeira vez. Deivyd, promesseiro da corda É a gratidão que leva Deivyd José dos Santos pelo sétimo ano consecutivo à corda. Aguentei por quase 5 horas,mas chegou um momento em que a dor foi maior do que a minha fé”, lamenta o devoto pouco antes de se surpreender com suas fotos, tiradas durante a procissão. “Meu Deus! Esse sou eu?” Estas foram as primeiras palavras de Deivyd ao se en- contrar nas fotos entre centenas de fiéis durante parte do trajeto, pouco antes de se machucar e ser obrigado a sair. “Esta é a primeira vez que me vejo no Círio e não consigo me lembrar de que sentia naquela hora!”, espanta-se o pedreiro. “Olhando para mim, neste momento tão meu, só consigo pensar nos motivos que eu tenho 47Horizonte Geográfico46 Horizonte Geográfico
  • 3. para agradecer e para estar lá. E no ano que vem, eu vou voltar”. Daniel, o evangélico na corda Não é só a fé e a religião que movem pessoas para a maior procissão católica do Brasil. Em 2006, o evangélico Daniel Moura – à época com 20 anos, se sentiu instigado pelos amigos a conhecer de perto o Círio de Nazaré. Católico de nascimento, Daniel conheceu a igreja evangélica aos 12 anos de idade, pro meio de amigos da escola. Aos 15, foi batizado na Igreja Adventista do Sétimo Dia, mesmo caminho percorrido pela mãe e pelo irmão mais novo alguns anos depois. E foi dentro dos ensinamentos Pudam erumenimi, omnis volupidelite plandis alictum resed et fugita verferum es quam laut andis alit, sed 48 Horizonte Geográfico católica fervorosa e apaixonada pelo Círio, Daniel admira a relação da família dela com as festividades religiosas desta época do ano. “Com o tempo,eu aprendi a conviver com a religiosidade da família dela, com a crença deles.E acho muito bonita a relação de todos aqui e a forma como o Círio os reaproxima”. Para Fernanda,a mulher de Daniel,o pe- ríodo do Círio é a época de relembrar a avó Carmita, falecida há 5 anos e que passou aos 12 filhos e aos 18 netos o principal valor desta festa para os Meireles. “O Círio sem- pre representou o momento de encontro de nossa família”, recorda a neta.“É o começo de um novo ano, de renovar os pedidos, de agradecer. Para a família paraense, agora é a hora de viver o Natal”. Kátia, uma viajante da fé Kátia de Nazaré Meireles, 47 anos, é a única das filhas de dona Carmita que não vive mais no Pará. Desde quando se casou, há 10 anos, ela mora na cidade de Suzano, na grande São Paulo, mas se programa para estar em Belém durante o mês de outubro. “É impossível me manter afastada daqui e da minha família nesta época do ano.A mi- nha paixão por tudo isso renasce e eu revivo a minha história, a história da minha famí- lia”, afirma a única das 6 irmãs que carrega Nazaré no nome por conta do aniversário no Daniel, evangélico, casado com Fernanda, católica, resume seu interesse: “como paraense, o Círio faz sentido pra mim” A multidão se acotovela nas ruas de Belém. A cada ano, centenas de fieis são hospitalizados por causa do calor evangélicos que ele aprendeu que as ima- gens não devem ser adoradas, veneradas ou reverenciadas, o que transforma a festa em torno da imagem de Nossa Senhora de Nazaré sem sentido para ele. A conversão religiosa, no entanto, não foi suficiente para aquietar a curiosidade do jovem belenense. Dois dias antes da principal procissão do Círio, durante uma conversa com amigos, Daniel decidiu que iria participar e da forma mais presente possível: ao lado dos promesseiros da corda, ajudando a levar a imagem da Padroeira da Amazônia. “Como evangélico, o Círio não fazia sentido para mim. Mas como para- ense, faz”, resume, explicando sua decisão. A noite que antecedeu a experiência foi curta. Pouco mais de 2 da manhã e Daniel já estava deitado sobre a corda, para marcar o lugar. Às 6h30, a corda é levantada e a promissão se inicia. “Nos primeiros 20 mi- nutos, pensei em não ficar, achava que não aguentaria aquele calor. Eu me perguntava o que estava fazendo lá”, recorda o evan- gélico com um sorriso no rosto. “O peito espreme, você não anda.Você é levado!”. Na primeira tentativa de sair da corda, Daniel encontrou o próprio significado para o Círio, muito além da questão religiosa, muito diferente das versões que ouvira dos amigos. “Quando falei que queria sair, um dos promesseiros tentava me convencer a ficar. Falava da minha fé, dos motivos que me faziam estar ali e do compromisso com aquilo que tinha prometido”, recorda. “Ele não sabia nada sobre mim, sobre a minha religião, mas não queria que eu abando- nasse o meu compromisso com aquilo que havia prometido, como se estivesse cuidando de mim”. A passagem de Daniel pela corda durou pouco mais de 3 horas,por culpa das unhas dos pés que sucumbiram ao contato com o asfalto.O aprendizado vivido naqueles mo- mentos, no entanto, tem acompanhado o técnico em informática até os dias de hoje. Casado há 6 anos com Fernanda Meireles, “Meu Deus! Esse sou eu?”, surpreendeu-se Deivyd ao ver a imagem flagrada durante sua difícil passagem pela corda
  • 4. A romaria fluvial do Círio percorre 10 milhas na baía de Marajó, recebendo homenagens da população ribeirinha
  • 5. mês de outubro.“A cada ano, independente de minha mãe ter falecido e não estar mais entre a gente, nós nos tornamos mais uni- dos.Ela,mesmo não estando aqui,fortalece o amor que temos um pelo outro”, conta Kátia enquanto tenta disfarçar a saudade da mãe que começa a transbordar pelos olhos. “Neste momento, a gente sente a minha mãe mais próxima, como se eu pudesse ver os movimentos dela por aqui. O Círio é muito a nossa mãe”, completa Lucinda Meireles, a mais velha das irmãs e que hoje se responsabiliza pelos preparativos da fes- ta em família e prepara o altar da casa que conta, além da imagem de Nossa Senhora, uma foto da mãe. Para outros devotos de Nossa Senhora de Nazaré, o Círio carrega significados dife- rentes, além do encontro da família – como é para os Meireles, ou do sacrifício de fé – como encara Deivyd. Tia Dora, a hospedeira Na Casa de Plácido, local criado para receber os milhares de romeiros que che- gam a Belém durante este período do ano, encontramos um Círio que se concretiza na doação e que se personifica na figura de Dolores Cerejo. Ou apenas Tia Dora, como prefere ser chamada. A disposição de menina ajuda a escon- der os 81 anos de idade. Ela não pára! Cada grupo de romeiros que chega parece abas- tecer de energia as pernas e os braços desta voluntária que, desde quando a Pastoral da Acolhida foi criada há 11 anos, abandona a própria casa no período do Círio para aten- der os devotos de Nossa Senhora de Nazaré. “Neste momento do Círio, poder ajudar al- guém é a maior satisfação possível que eu posso ter. Eu me dôo a este trabalho.Venho para cá e não tenho vontade de voltar para casa”, diverte-se ao falar da própria dedica- ção sem se descuidar do atendimento aos peregrinos, da distribuição da água, do pre- paro da sopa e das colegas com quem divide o trabalho na Casa.“Além da fé das pessoas que chegam,cumprindo as suas promessas, o que mais me emociona é a dedicação das voluntárias daqui. Todo mundo vem para 53Horizonte Geográfico Dolores Cerejo, a Tia Dora, na Casa de Plácido, que acolhe romeiros: “contágio de energia positiva” A origem do Círio de Nazaré De herança portuguesa, a devoção à Nossa Senhora de Nazaré no país data de 1700, quando o caboclo Plácido José dos Santos encontrou uma pequena imagem da Virgem Maria às margens do igarapé Murutucu, que passava atrás de onde está hoje a Basílica de Nazaré. De acordo com os relatos da época, Plácido teria levado a imagem até a casa, de onde ela sumiu até ser reencontrada no mesmo igarapé. Depois, a imagem foi levada ao Palácio do Governo, onde passou a noite escoltada por guardas. Reza a lenda que para a surpresa de todos, na manhã seguinte a imagem estava de volta ao igarapé. Neste local, Plácido construiu uma capela para hospedar a imagem, embora apenas em 1792 o Vaticano autorizasse a realização da primeira procissão, que aconteceria em 8 de setembro do ano seguinte. Em 1855, com as fortes chuvas que caíram Kátia Meireles (ao centro), junto com suas irmãs: a visita anual à Belém coincide sempre com o Círio durante o Círio, a berlinda que levava a imagem atolou e a corda foi utilizada pela primeira vez. Em 1901, a procissão começa a ser realizada no segundo domingo de outubro e, a partir de 1931, a corda passaria a ser incorporada definitivamente à berlinda. As procissões são longas: em 2004, por exemplo, o Círio durou mais de 9 horas, tornando-se a procissão mais longa da história da festividade.
  • 6. ajudar, para trabalhar. Parece que há um contágio dessa energia positiva que aca- ba se manifestando no rosto de cada uma de nós”, explica Tia Dora enquanto aponta para as outras voluntárias do outro lado do balcão. E entre um atendimento e outro, ela revela o segredo de tamanha dedicação. “Nada faz mais diferença do que agir com amor e se doar com o amor que a gente tem aqui. O meu Círio mora dentro desta Casa e eu peço a Deus que essa energia toda me faça estar aqui no próximo ano”. José Ribamar, um peregrino No mês de outubro de 2012, cerca de 400 voluntários, entre eles médicos, enfer- 54 Horizonte Geográfico A cada ano, José Ribamar percorre a pé os 70 quilômetros que separam sua cidade de Belém para se juntar ao Círio meiros e massagistas, se revezaram duran- te o período do Círio para atender cerca de 15 mil romeiros. Dentre os peregrinos atendidos pela Casa de Plácido estava José Ribamar Araújo, de chapéu de palha para proteger a cabeça do sol e devoção à Nossa Senhora de Nazaré estampada na camiseta e nas palavras. Piauiense de nascimento, Ribamar mora em Castanhal, cidade distante 70 quilômetros da capital paraense, desde o final da década de 80. Há 4 anos percorre essa distância a pé nos dias anteriores à procissão do Círio. Os 72 anos de idade não ficam evidentes, mesmo depois de quase 24 horas de caminhada. E o cansaço não é capaz de abafar a paixão com que fala do motivo que o faz percorrer esse traje- to. “Eu estou aqui porque fiz um pedido à Nossa Senhora e estou sendo atendido. A minha próstata estava 50% maior do que o normal e no último ultrassom que fiz, há dez dias, ela estava 37% menor”, co- memora. “Eu prometi que se ficasse bom, curado mesmo, eu caminhava até quando não aguentasse mais”. Quando questionado sobre a impor- tância da fé para a própria cura, seu José Ribamar se emociona. “Rapaz, eu acredito que a fé é tudo nessa vida. Quando comecei essa jornada, eu só pensava na do ano que vem e isso me mantém vivo, com vontade de viver, independente dos problemas que a vida tenha me dado”. Para Deivyd, Daniel, a família Meireles, tia Dora, seu José Ribamar e tantos outros paraenses que voltam à terra natal nesta época do ano, o Círio é uma espécie de re- encontro com a própria fé, com as próprias crenças, com as próprias raízes.Ao se afas- tar dos números grandiosos que compõem a maior festa religiosa do Brasil, percebe-se que há um Círio que acontece dentro de cada pessoa, de cada promessa, de cada agradecimento, independentemente do significado religioso da maior festa de credo católico do país.