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“ETE LAURO GOMES”

 AMAURI FREGONEZI JÚNIOR
EDUARDO SANITÁ DOS SANTOS
FAUSTO PEREIRA DE OLIVEIRA
 ORLANDO DA SILVA JUNIOR




       Artes Marciais




   São Bernardo do Campo

           2005
                             1
2
AMAURI FREGONEZI JÚNIOR
EDUARDO SANITÁ DOS SANTOS
FAUSTO PEREIRA DE OLIVEIRA
 ORLANDO DA SILVA JUNIOR




    ARTES MARCIAIS




                 Profª Elisabete da Cunha Kulilius
                 Língua Portuguesa e Literatura
                 Ensino Médio
                 1º Ano F - Matutino




  São Bernardo do Campo

          2005
                                                     3
SUMÁRIO


1. Aikido                                                          5
       1.1. Introdução                                             5
       1.2. Os lemas do Aikido                                     8
       1.3. Técnicas                                               10
       1.4. Glossário                                              16

2. Karatê                                                          22
      2.1. Introdução                                              22
      2.2. O Fundador e a História                                 25
      2.3. A competição do Karate-Do Tradicional                   25
      2.4. Terminologia                                            32
      2.5. Organização do Karate-Do Tradicional                    33
      2.6. Karate-Do Shotokan – Técnicas Básicas                   37

3. Judô                                                            43
       3.1. A Origem: Da China ao Jiu Jitsu                        43
       3.2. A chegada do Judô ao Brasil                            43
       3.3. À volta ao Brasil                                      44
       3.4. A criação do Judô: Prof. Jigoro Kano funda o Kodokan   44

4. Jiu Jitsu                                                       46
        4.1. Introdução                                            46
        4.2. Área de Competição                                    46
        4.3. Área de Lutas                                         47
        4.4. A História do Jiu-Jitsu                               47
                4.4.1. ...na Índia                                 47
                4.4.2. ...na China                                 47
                4.4.3. ...no Japão                                 47
        4.5. O Início no Brasil...                                 48
                4.5.1. ...no Rio de Janeiro                        48
                4.5.2. ...em São Paulo                             49

5. Kung Fu                                                         50
      5.1. Definição                                               50
      5.2. Por que praticar Kung Fu?                               53
      5.3. Estilos                                                 54
      5.4. História do Kung Fu                                     57


6. Conclusões                                                      60

7. Bibliografia                                                    61

                                                                        4
1. AIKIDO
AI – Harmonia
KI - Espírito
DO – Caminho

     O Aikido aparece oficialmente em 1931, pela mão de Ueshiba, também
conhecido por

                                "O Sensei".

Conta a história, que Morihei Ueshiba e um Oficial Naval, discutiam sobre as Artes
Marciais, e o Oficial o desafiou para um combate. O Oficial munido com uma espada de
madeira investiu contra O Sensei, e este que se encontrava desarmado, foi
sucessivamente evitando os ataques, até que por fim cansado e desanimado, o Oficial
desistiu.

Morihei contou mais tarde que, conseguiu prever todos os movimentos do atacante
antes deste os executar, diz então, que foi aqui que se sentiu iluminado e se dedicou ao
estudo deste fenômeno que deu origem ao Aikido, O Caminho da Harmonia e do
Espírito.

O objetivo do Aikido é atingir um estado em que o adversário é derrotado por si próprio,
o praticante de Aikido não utiliza socos nem pontapés para o dominar.O praticante de
Aikido entra em harmonia com o adversário em vez de o confrontar, e através de
movimentos circulares, opostos aos lineares do opositor, rodeia-o acabando
inevitavelmente por o levar ao desespero, desanimo e exaustão.

A finalidade precípua de continuar difundindo os ideais do Gr: Mestre Morihei Ueshiba
na sua mais pura originalidade.
Foram seus ideais:
    (a) Fazer o homem sair do Ter e entrar no Ser; ·
    (b) Fazer da luta a arte de não lutar;
    (c) Formar um grande dojô, figurativamente, onde todos de mãos dadas em circulo
        formassem uma unidade de equilíbrio, paz e bem estar, para fazer o mundo
        melhor. O Aikido em sua essência é a realização desses ideais, conforme se vê
        a seguir.
    (d) Fazer o homem sair do Ter e entrar no Ser, nada mais é que a unificação
        mente/corpo e, por conseguinte com o Universo. O ter é a técnica o ser, a
        essência. A técnica é a forma e a forma é passageira, desaparece com o tempo,
        com a idade. A essência é o KI, a força do Universo que dá vida tudo e a todas
        as coisas. O Ser não desaparece, vai além do físico, se perpetua com o espírito,
        é eterno.


                                                                                       5
(e) Fazer da luta a arte de não lutar: A luta é um conflito racional físico alimentado
       pelo Ego dos contendores, onde o vencedor é o que apresenta a melhor técnica,
       ou maior força que, também, se determina como melhor forma. A forma está na
       linhagem do Ter. Por isso, é passageira, efêmera, se extingue com o tempo, com
       a doença. Transformar a luta em arte de não lutar é unir as duas forças em uma
       só. A força que cedeu para se unir à outra pode comandar a trajetória circular
       das duas juntas. Assim, evitada ficou a luta porque não houve conflito e sim,
       união. Daí, a afirmação do Gr:. Mestre: “no Aikido a luta acaba antes de
       começar.”
   (f) Formar um grande dojô, figurativamente, onde todos de mãos dadas, em circulo,
       formassem uma unidade de equilíbrio, paz e bem estar. Tinha em mente o Gr.:
       Mestre, através de seus discípulos, difundir o Aikido, levando essa essência de
       união, bem estar e equilíbrio para todos que desejassem participar dessa grande
       corrente de união para melhorar o mundo. É de salientar-se que o nome AIKIDO,
       quando pronunciado em uma reunião de Gurus no Peru, foi por eles identificado
       como o nome da arte de equilíbrio do terceiro milênio. Essa simples
       consideração dos Gurus que não tinham a menor idéia a respeito do Aikido
       demonstra a grande missão do Gr:. Mestre Morihei Ueshiba e nossa magna
       responsabilidade, como seus discípulos, na continuação dessa obra de equilíbrio
       e qualidade de vida para a humanidade.


1.1. O Criador do Aikido

Mestre UESHIBA

      Morihei Ueshiba nasceu em Tanabe, Prefeitura de Nakayama, em Julho de 1880.
Desde muito jovem o Mestre sentiu grande amor pelo Budo. O seu pai ensinou-lhe uma
arte secreta com base no Tai-Jitsu e no Kendo - o "Aioiryu". Aos dez anos de idade o
Ueshiba teve como seu primeiro professor Tozawa, e mais tarde o Mestre Tasakarsu
Nakai que foi seu professor de Iaido e Kendo. Em 1904 há uma paragem nas suas
pesquisas na prática das artes do Budo Japonês, surge a vida militar, e , na Manchúria
participa na guerra Russo-Japonesa. Em Julho de 1908 teve o seu primeiro diploma no
Dojo de Yagyu. Depois da guerra, Mestre Ueshiba, já então na plenitude da força física
e mental, torna-se chefe da sua aldeia de Tanabe, admirado e respeitado pelos
homens, dirige toda a região. Em 1910, parte para Hokaido, no norte do Japão, e
desenvolve a terra à volta de Shirataki, na província de Kitani. Então com trinta anos de
idade, o Mestre concentra-se no seu trabalho junto da natureza. Sendo um excelente
cavaleiro, percorre toda a região apesar do tempo frio e pouco convidativo.
Paralelamente ocupa-se de uma associação que servirá à realização de uma linha
férrea de Sekihoku. Os seus esforços sinceros conquistaram os habitantes de Shirataki,
os quais, confiantes vinham de toda a região pedir-lhe conselhos. Em 1911 encontrou o
Mestre Sokaku-Takeda, que lhe ensinou as técnicas da escola Daito-Ryu. O contato
com o Mestre Takeda foi decisivo, pois pela primeira vez sentiu em si a germinação do
seu método pessoal de Aiki. Em Dezembro de 1919 recebe um telegrama em Hokaido
avisando-o do grave estado de saúde de seu pai Yokoku. O mais depressa que pode
deixou Shirataki onde se encontrava já há alguns anos e para mostrar toda a sua
                                                                                        6
gratidão e respeito, deixa todos os seus bens e propriedades ao Mestre Sokaku-
Takeda. Morihei chegou tarde demais a Tanabe devido à sua decisão de viajar na
direção de Ayabe ( local da religião Omoto) , prefeitura de Kyoto, para visitar um Mestre
detentor de um grande poder espiritual - o reverendo Wasisaguro Deguchi com o
objetivo principal de procurar as melhoras de seu pai por meio de orações. Este
encontro foi uma revelação para o Mestre Ueshiba. De regresso a Tanabe, e com
grande desespero, soube da morte de seu pai; então tudo se transformou nele,
prometeu libertar a sua alma e devolvê-la, para atingir o segredo verdadeiro do Budo.
Em Aybe, região selvagem e montanhosa, decide retirar-se na natureza e morar numa
cabana, meditando nas florestas e montanhas que são para ele um magnífico Dojo. Em
1925, ano da sua iluminação, a sua meditação atinge um estado ultimo, em que
finalmente descobre a nova dimensão do Budo. O próprio Mestre conta esse dia: "
Quando meditava, tive de repente a consciência de que a terra e o céu estavam em
vibração. Rodeou-me uma espécie de aura, deixei de sentir o meu corpo. O meu corpo
e o meu espírito iluminaram-se. Compreendi a linguagem dos pássaros e apercebi-me
claramente do espírito do criador deste Universo. De repente compreendi que a fonte
do Budo era Deus. Lágrimas de alegria inundaram a minha cara e senti que toda a terra
era a minha casa e que o sol, a lua e as estrelas se tornavam as minhas próprias
coisas. Fiquei liberto de todo o desejo, não somente do desejo de glória e do prestigio,
mas também do desejo de ser forte. Compreendi que o espírito do Budo era a paz, o
seu treino era entregar a todas as coisas o amor de Deus". Mais tarde o Mestre
Ueshiba explicou: " A via do Budo consiste em tornar nosso o coração do Universo e
realizar a nossa profunda missão de amor e proteção por todos os seres. As técnicas
não são mais do que uma maneira de atingir esse fim "O Mestre Ueshiba acabava de
atingir a fonte do seu Aikido. O Aikido tinha nascido como resultado de uma procura
intensa. Ainda ficou dois anos afastados do mundo, no entanto a sua reputação era tal
que muitas pessoas, mesmo Mestres de Budo, vinham vê-lo para beneficiar dos seus
ensinamentos. Em 1927 vai a Tóquio. O príncipe Shimazu convida-o para o seu
castelo, onde ensina à corte imperial. Pouco a pouco a atenção do grande público volta-
se para este novo Budo e aumentam os pedidos para serem seus discípulos. Em 1928,
muda-se para um Dojo que depressa se torna pequeno. Após seis meses, em 1929,
devido ao elevado número de alunos, organiza a construção de um Dojo principal. É
então que Jigoro Kano, fundador do Judo, o visita, e ao vê-lo em ação diz: "É o meu
Budo ideal" e mandou professores de Judo receber esse ensinamento. De 1931 a 1935
foi à idade de ouro do Aikido. Os discípulos trabalhavam apaixonadamente, com uma
verdadeira sede de aprender. Levantavam-se às cinco horas para varrer o Dojo, para
que tudo estivesse pronto para a chegada do Mestre, às seis e meia. Entre os jovens
discípulos, alguns vieram mais tarde a serem Mestres de renome: Riugiro, Shiguemi,
Yunekama, Tsuyoshi Shiota, Kenji Tomiki, Tesshin Hoshi, Gozo Shioda, etc. A guerra
rebentou em 1914 e em Tóquio o Mestre, com o filho ao seu cuidado e responsável
pelo seu ensinamento, volta para junto da natureza, na cidade de Iwama, prefeitura de
Ibaraki, compra um terreno e erige um templo Aiki. Dedicou-se então junto com seus
discípulos à agricultura e ao Budo. Os discípulos viviam com ele, trabalhavam os
campos e procuravam juntos a via do Aikido. Esta vida prolongou-se mesmo após a
guerra ter terminado.



                                                                                       7
1.2. Os Lemas do Aikido

1 - MANTER A DISCIPLINA.
2 - NÃO SE ENERVAR.
3 - NÃO SE ENTRISTECER.
4 - NÃO POSSUIR SENTIMENTO HOSTIL.
5 - SER COMPREENSIVO.
6 - SER TRANQUILO.
7 - SER PACÍFICO.
8 - MANTER A ÉTICA.
9 - FAZER AMIZADE COM TODOS.
10 - RESPEITAR A DEUS E AS PESSOAS.
11 - SER HUMILDE.
12 - SER JUSTO E HONESTO.
13 - CONSCIENTIZAR-SE QUE O AIKIDÔ REPRESENTA O CAMINHO DE DEUS.
14 - CONSCIENTIZAR-SE DE QUE A PRÁTICA DO AIKIDÔ TEM POR PRINCÍPIO O
AUTO CONHECIMENTO.
ALGUMAS REGRAS DE ETIQUETA E COMPORTAMENTO NO DOJO:

1) É responsabilidade de todos manter as regras tradicionais de conduta no Dojo. Este
espírito vem do Fundador e deve ser respeitado, honrado e mantido.

2) É de responsabilidade de todos criar uma atmosfera positiva de harmonia e respeito.

3) O Dojo não deve ser utilizado para outro fim a que se destina, salvo expressa ordem
de Sensei.

4) A limpeza é uma oração de agradecimento, é dever de todos executar a limpeza
física e do coração de todos.

5) É decisão do Sensei quando ele deve ensinar alguma técnica. Não se pode comprar
técnicas. A mensalidade é uma pequena parcela para ajudar a pagar as despesas para
o local de treinamento e é uma forma muito pequena de demonstrar a gratidão do aluno
ao mestre pôr seus ensinamentos.

6) Respeitar, Respeitar, Respeitar, é um pensamento contínuo no Dojo.

7) É um dever moral de todos usar as técnicas para fins pacíficos visando sempre
construir.

8) Não deve haver conflitos do Ego no tatami. Aikidô não é um ringue de competição de
vaidade.



                                                                                     8
9) A insolência jamais será tolerada, devemos ter consciência de nossas limitações.

10) Cada pessoa tem condições, e razões diferentes para treinar. Devemos respeitar
suas expectativas.

11) Jamais se deve contra argumentar com o professor.

12) Jamais deixe de fazer a reverência ao Kamizá ao entrar e sair do Dojo.

13) Respeite seu uniforme de treinamento, deve estar sempre em boas condições e de
aparência.

14) O Dojo não é uma praia, sente-se sempre em seiza ou com as pernas cruzadas no
estilo japonês, no caso de ter problemas no joelho.

15) Quando o Sensei demonstra uma técnica, fique sempre em Seiza, após, faça uma
reverência, e comece imediatamente a praticar.

16) Quando o final de uma técnica é assinalada, cumprimente o parceiro e vá
imediatamente para seu lugar de início da aula.

17) Se for absolutamente necessário perguntar algo ao Sensei, vá até ele, não o chame
para si.

18) Respeite os alunos mais experimentados, jamais discuta se as técnicas estão
erradas ou não.

19) Se você não é Yudansha, não corrija ninguém.

20) Não converse em cima do Tatami. Aikidô é experiência.

21) É responsabilidade de todos manter o Dojo limpo, de preferência deve ser varrido
diariamente.

22) Não se devem usar jóias, mascar coisas no tatami. Além do corpo somente se usa
o uniforme.

"Aikidô" não é religião, mas a educação e o refinamento do espírito. Você não será
convidado a aderir a nenhuma doutrina religiosa, mas somente a manter o espírito
aberto. Quando se inclina em uma reverência, isto não é um procedimento religioso,
mas sim um sinal de respeito ao mesmo espírito de Inteligência Criativa Universal que
está com todos nós.




                                                                                      9
1.3. Técnicas

       Os movimentos esféricos, livres e espontâneos, são característicos das técnicas
que formam a base do Aikido. No que concerne a movimentos de corpo envolvendo
giros e esquivas (Tai - Sabaki), os movimentos esféricos formam a essência da prática.
Esta ênfase no dinamismo conduziu a diversas evoluções interessantes. Por exemplo,
apesar do fato de que o Aikido lida com técnicas contundentes, tais como pancadas
(atemi) e chaves de pulso, herdadas das antigas artes de combate, a ênfase na rotação
esférica dá a impressão visual de uma dança coreografada, fluindo suavemente,
refinada e delicada. Além disso, muitas técnicas criam um grande arco, tal qual ao se
projetar um oponente ou quando ele é conduzido ao solo. No entanto, o Aikido pode ser
aplicado também em espaço limitado. Isto deve-se aos movimentos esféricos do Aikido,
em contraste com os movimentos lineares de outras formas de arte marcial, onde os
golpes diretos, para a frente ou para trás, dão a aparência de uma maior violência e
requerem uma área muito maior para sua execução.
Na verdade, as técnicas, que eram originalmente duras e brutais, foram amaciadas e
refinadas pela ênfase nos movimentos esféricos, e as técnicas que requeriam grande
espaço foram contidas dentro de uma pequena esfera. Esta é provavelmente uma das
razões porquê o Aikido é visto como uma arte altamente sofisticada.

        Deve ser salientado, porém, que os movimentos esféricos no Aikido não foram
criados com o sentido de se refinar a arte ou com o objetivo de se criar uma defesa
passiva. O objetivo explícito era positivo: subjugar e controlar a força do oponente. O
Aikido nasceu da luta para responder perguntas como estas: “O que faria eu quando
confrontado por alguém mais forte?; Como posso subjugar um oponente sem o uso de
armas de qualquer espécie?; Qual a forma mais racional de se dominar um oponente,
mantendo-se a integridade do Budo, sem o apelo à violência temerária ou ardis
psicológicos?; Como podemos conceber uma defesa contra alguém superior em
tamanho, força e experiência?” Em resposta a tais questões, Mestre Ueshiba
desenvolveu, como base do Aikido, o princípio da rotação esférica, como um desafio
moderno às artes marciais tradicionais. O Fundador se aperfeiçoou em diversas formas
de Jujutsu, como as escolas Kito e Daito, e treinou a espada tradicional da escola
Shinkage. Não satisfeito com o que aprendeu, ele submeteu-se a um treino e a uma
disciplina rigorosa e, tendo a filosofia do “nen” como base, advogou uma manifestação
do ser, livre e espontânea, através do movimento esférico.

       O princípio de que o macio controla o duro, o flexível conquista o rígido,
encontrado no Jujutsu clássico, foi adotado pelo Mestre Ueshiba na sua formulação do
Aikido, mas com uma diferença fundamental. No Jujutsu antigo se ensinava: “quando
empurrado, puxe para trás; quando puxado, empurre para frente”. Nos movimentos
esféricos do Aikido, isto fica assim: “quando empurrado, gire e contorne; quando
puxado, entre e circule”. Isto quer dizer que devemos nos locomover em movimentos
circulares em resposta ao oponente e enquanto nos movemos esfericamente,
mantemos nosso centro de gravidade, criando um eixo estável de movimento. Ao

                                                                                    10
mesmo tempo, o centro do oponente é desequilibrado e quando ele perde o seu centro
ele perde também todo o seu poder, sendo então dominado rápida e decisivamente.

       Assim como no caso de um corpo esférico, o centro é estável e o movimento é
gerado deste ponto imóvel. Este movimento esférico pode controlar qualquer força
contrária através de técnicas geradas deste centro, gracioso, mas ao mesmo tempo
carregado de poder infinito. Nós podemos citar as leis da Física, como as forças
centrífuga e centrípeta, para explicar os movimentos do Aikido, mas a sua beleza
essencial vem da unia o do ki-mente-corpo.

      Porque é uma experiência de uma pessoa una, integrada, uma análise objetiva
realmente não acrescenta nada a nossa compreensão, somente a maestria.



Jo

       No aikido além de técnicas de mãos vazias, treinamos também com armas
brancas.
       São eles o Jo (bastão curto), o Bokken (espada de madeira) e o Tanto (faca de
  madeira). Essa prática favorece o aprendizado de algumas noções básicas
  da movimentação e postura corporal que são úteis na prática dos exercícios de
  tai-jutsu (corpo-a-corpo).

       O Jo é um bastão curto (a medida deve corresponder aproximadamente à altura
da linha do ombro do praticante), que permite uma movimentação variada tanto para o
ataque quanto para a defesa. Além do aikido existem outras artes marciais que se
utilizam do Jo, tal como o JO-DO.

      As técnicas de Jo podem ser praticadas por meio de KATAS (formas) individuais
ou em par. Essas sequências auxiliam o praticante a memorizar e absorver as técnicas
de ataque e defesa, assim como desenvolver o "timing" dos movimentos.




                             Fig.1 – Técnica individual de Jo




                                                                                 11
Ashi Sabaki (trabalho dos pés)

      A execução correta das técnicas do Aikido envolve uma aplicação dinâmica e
conjunta dos movimentos dos membros superiores e inferiores de nosso corpo.
Logicamente a aplicação exige muito mais que simplesmente este controle físico, mas
podemos dizer ao iniciante que o domínio dos movimentos dos pés é um fator essencial
para    a    execução       eficiente   das    técnicas   básicas     do     Aikido.

Quando executamos um Kata sem o cuidado de nos locomover de forma correta, muito
provavelmente a eficiência será prejudicada em algum ponto. É muito diferente quando
conhecemos os movimentos corretos de pé para uma determinada forma técnica, como
por exemplo um Ikyo Omote. Conhecendo os movimentos de pé básicos referentes à
esta técnica em particular, sua execução será realizada com muita mais eficiência e
facilidade. Tivemos a chance de receber aqui no Brasil nos últimos anos, vários
professores que também colocam muita ênfase neste trabalho dos pés, mas um em
especial deixou bem claro a importância deste tipo de trabalho de base no Aikido, foi o
Sensei Yamada. Em um de seus primeiros seminários ministrados aqui, demonstrou
este trabalho isolado dos pés. Os diagramas que seguem neste artigo são baseados
em           muito          no           que        ele           nos        transmitiu.
No Aikido existem 6 movimentos básicos de pé: Okuri Ashi(Deslize iniciando-se com o
pé da frente), Tsuri Ashi(Deslize iniciando-se com o pé de trás), Ayumi Ashi(Andar com
os pés apontados para fora), Tenkan Ashi(Giro com um pivô), Kaiten(Giro com dois
pivôs) e Irimi Ashi(Passo). Estes aplicados em conjunto dão origem à diferentes
técnicas      tais     como        Dai     Iti    Kyo,     Shiho      Nague,      etc...
Compõem o Ashi Sabaki, os movimentos:

Okuri Ashi

       Técnica muito utilizada nos movimentos de entrada Omote. Sua execução
correta faz com que o praticante consiga um avanço igual ou às vezes até mesmo
maior que uma medida de seu Kamae (Refere-se a medida tomada da distância entre
os pés, na postura de Kamae).




                                                                                     12
Fig. 2 – Kamae do Okuri Ashi




Tsuri Ashi

       É semelhante ao movimento anterior, mas a execução inicia-se pelo pé de trás.
A distância alcançada por este movimento é maior que o anterior, e pode chegar a 3
medidas do Kamae. É um movimento pouco usado, e tem sua aplicação mais
característica no Dai Yon Kyo Omote.




                              Fig. 3 – Kamae do Tsuri Ashi



                                                                                 13
Ayumi Ashi

      Forma de andar que usualmente utilizamos durante a prática do Aikido
caracteriza-se pela posição dos dedos dos pés(para fora). As técnicas de Kokyu Ho e
Sokumen Irimi Nague freqüentemente utilizam-se deste passo.




                              Fig. 4 – Ayumi Ashi no Aikido




Tenkan Ashi

      O Tenkan Ashi é um dos movimentos mais utilizados na aplicação das técnicas
do Aikido. Seu movimento circular de 180°(forma padrão) é utilizado na aplicação de
quase todas as técnicas Ura.




                                                                                14
Fig. 5 – Tenkan Ashi no Aikido




Kaiten Ashi como o passo anterior, também é um movimento circular de 180°. Este
movimento é freqüentemente utilizado na finalização de muitas técnicas, sendo que
quase sempre ele é terminado com um dos joelhos no chão.




                             Fig. 6 – Kaiten Ashi no Aikido




                                                                              15
Irimi é um simples passo para frente, sendo que ao avançarmos simplesmente nos
posicionamos em um novo Kamae. É um movimento muito usado nas técnicas onde é
necessária           uma           entrada         rápida         de           corpo.
Estes seis passos são a base da movimentação de pernas das técnicas do Aikido. Ao
executarmos estes passos de forma conjunta, diferentes técnicas são criadas. No
próximo artigo darei mais detalhes sobre as conjugações possíveis entre estes passos
básicos e a estrutura fundamental de algumas técnicas do Aikido.




                                     Fig. 7 - Irimi



1.4. Glossário

A

AGE (ague) – Movimento ascendente.
AGO – Queixo.
AI – União, comunhão.
AI HANMI – Posição de guarda utilizada no aikido, com os dois praticantes com o
mesmo lado à frente ( direita com direita ou, esquerda com esquerda).
AIKI – União do Ki.
AIKIDO – Caminho da união da energia vital.

                                                                                  16
AIKIDOKA – Praticante de aikido.
AIUCHI (aiuti) – Atingir seu oponente no mesmo instante que ele nos atinge.
ASHI – Pé.
ASHI KUBI – Tornozelo.
ATAMA – Cabeça.
ATEMI – Golpe em região do corpo.
ATEMI WASA – Técnicas de Atemi.
AWASE – Treino onde os oponentes fazem os movimentos juntos, em harmonia.

B

BANZAI – Saudação cujo significado é "viva".
BO – Bastão.
BOKKEN – Espada de madeira, com formato de uma katana (espada japonesa)
também utilizada na prática do aikido.
BOKUTO – O mesmo que BOKKEN.
BUDO – Arte Marcial.
BUNKA – Cultura.
BUSHI – Guerreiro, samurai.
BUSHIDO – Caminho dos samurais.

C

CHI – O mesmo que KI em chinês.
CHÜDAN (tyudan) – Altura intermediária, a altura do peito.

D

DAN – Grau obtido na faixa preta.
DESHI – Discípulo.
DÖ (doo) – Caminho, vereda espiritual.
DÖGI (doogui) – Uniforme para a prática de uma arte marcial.
DOJO – Lugar onde se pratica uma disciplina marcial, onde se trilha o caminho.
DÖMO ARIGATO GOZAIMASU (doomo ...) – "Muito obrigado" em japonês.
DÖSHU (dooshu) – A pessoa que mostra, que lidera o caminho; no caso do aikido
atualmente representado pelo Sensei Moriteru Ueshiba, neto do fundador do aikido.
DÖZO (doozo) – "Por favor" em japonês.

E

EMPI – Cotovelo.
ERI – Gola, colarinho.

F

FUKUSHIDOIN – Professor assistente.
FUMU – Pisar.
                                                                              17
FUNAKOGI UNDO (funacogui ...) – Exercício de remo para fortalecer quadris e postura.
FUTARI GAKE – Defesa contra dois adversários.

G

GEDAN (guedan) - Altura inferior.
GO - Cinco.
GODAN – Quinto grau.
GYAKU (guiaku) – Reverso, oposto.
GYAKU HANMI - Posição de guarda utilizada no aikido, com os dois praticantes com os
lados opostos à frente ( direita com esquerda ou, esquerda com direita).

H

HAKAMA – Vestimenta similar a uma calça utilizada pelos praticantes do aikido.
HANMI – Posição de meio corpo.
HARA – Abdômen.
HATI - Oito.
HIDARI – Esquerda.
HITI - Sete.

I

IKKYO – Primeiros ensinamentos, no aikido se refere à primeira técnica básica.
IRIMI – Movimento de entrada de corpo feito pelo defensor se deslocando à frente do
atacante ou atrás do mesmo.
ITI - Um.

J

JO – Bastão curto, utilizado nos treinos de aikido.
JODAN – Altura superior.
JODO – A arte do bastão.
JOTORI – Técnica de defesa contra ataque de bastão.
JU - Dez.
JUDAN – Décimo grau, graduação máxima nas artes marciais.

K

KAMAE – Posição de guarda e prontidão.
KAMI – divindade, muitas vezes traduzido como "deus".
KATA – Forma, séries de movimentos pre-definidos que podem ser executados
individualmente ou em par para treinamento de técnicas.
KATA – Ombro.
KATADORI – Pegada efetuada no ombro (equivalente a KATATORI).
KEIKO – Treino.
KEN – Espada.
                                                                                  18
KENDO – Arte da espada.
KI –Energia interior.
KOKYU – Respiração.
KOSHI – Cintura.
KOSHINAGE (koshinague)– Projeção executado sobre a cintura.
KUBI – Pescoço.
KUBISHIME – Enforcar.
KYU - Nove.
KYU – Classe, grau; nas artes marciais se referem ao sistema de graduação abaixo do
SHODAN (primeiro Dan).
KYUDAN – Nono grau.

M

MAAI – Espaço, distância; espaço apropriado entre dois praticantes para a aplicação
das técnicas.
MENUCHI (men-uti) – Ataque visando a cabeça.
MIGI (migui) – Direita.
MISOGI (missogui) – Purificação, absolvição.
MOCHI (moti) – Segurar, agarrar.
MUNADORI – Pegada efetuada na altura do peito (equivalente a MUNATORI).

N

NAGE (nague) – projeção
NAGINATA (naguinata) – Arma longa similar a um bastão com uma espada na ponta.
NANADAN – Sétimo grau.
NI - Dois.
NIDAN – Segundo grau.
NIKYO – Segunda etapa de aprendizado; no aikido se refere à segunda técnica básica.

O

OMOTE – Frente.
OMOTO – Religião criado no século XIX, o qual pertencia Morihei Ueshiba, fundador do
Aikido.
O-SENSEI – Grande Mestre; termo de respeito utilizado no aikido se referindo a seu
fundador Morihei Ueshiba.

R

REI – Reverência; executado antes e depois de sessões de treinamentos de artes
marciais.
ROKU - Seis.
ROKUDAN – Sexto grau.
RYU – Estilo, escola; sufixo que indica escola ou estilo de artes ou disciplinas
tradicionais japonesas.
                                                                                 19
S

SAMURAI – Guerreiro; no Japão se utiliza também o termo BUSHI.
SAN - Três.
SANDAN – Terceiro grau.
SANKYO – Terceira etapa de aprendizado; no aikido se refere à terceira técnica básica.
SATORI – Iluminação espiritual; termo bastante utilizado no zen-budismo.
SEIKA-TANDEN – Ponto central do abdômen, um pouco abaixo do umbigo;
considerado o centro espiritual e físico do ser humano bastante enfocado no Aikido.
SEIZA – Posição sentada segundo as tradições japoneses.
SENSEI – Professor, instrutor.
SHICHIDAN (hitidan) – Sétimo grau.
SHIAI – Disputa, competição.
SHIHAN – Instrutor mestre; corresponde no Aikido a mestres com sexto grau (6o Dan)
ou acima.
SHIKKO – Caminhar ajoelhado; forma de caminhar sobre os joelhos a partir da posição
de seiza
SHODAN – Primeiro grau.
SODE – manga.
SODETORI – Pegada na manga.

T

TACHI (tati) - Vertical, em pé.
TACHIDORI (tatidori)– Técnicas de desarmamento contra oponente portando uma
espada.
TACHIWAZA (tatiwaza)– Técnicas em pé.
TANTO – Espada curta, similar a uma faca ou adaga.
TATAMI – Esteira fabricada com bambus; utilizada em artes marciais que envolvem
técnicas de queda.
TE – Mão.
TEGATANA – "Espada" da mão utilizada em técnicas de ataque, para acertar o
oponente.
TEKUBI – Pulso.
TENKAN – Giro; utilizada para se referir a um movimento de giro executado como base
de muitas técnicas do Aikido.

U

UCHI (uti) – Batida, golpe.
UCHIDESHI (utideshi)– Discípulo ou estudante que vive temporariamente com um
mestre para adquirir conhecimento e em troca o auxilia por meio de prestação de
serviços.
UKE – Aquele que recebe; no Aikido é aquele que faz o papel do atacante e que recebe
o golpe de defesa.
UKEMI – Queda ou técnica de queda.
                                                                                   20
W

WAZA – Técnica.

Y

YARI – Lança.
YOKO – Lado.
YOKOMEN – Lateral da cabeça.
YOKOMENUCHI (yokomen - uti)– Golpe na parte lateral da cabeça.
YON - Quatro.
YONDAN – Quarto grau.
YONKYO - Quarta etapa de aprendizado; no aikido se refere à quarta técnica básica.

Z

ZANSHIN – Foco ou concentração após a execução de uma técnica em que a conexão
com o atacante ainda permanece.
ZAZEN – Posição de meditação (sentado).




                                                                                     21
2. KARATE-DO TRADICIONAL




                               Fig. 8 – Karate-Do em japonês




Acima, caligrafia de Tsubouchi Hisako Sensei



2.1. Introdução

      O Karate-Do Tradicional é uma arte marcial originada a partir das técnicas de
defesa pessoal sem armas de Okinawa, e tem como base a filosofia do Budo japonês.

       Os objetivos do Karate-Do Tradicional são definidos pela filosofia do Budo, que
se traduz na busca constante pelo aperfeiçoamento pessoal, sempre contribuindo para
a harmonização do meio onde se está inserido. Através de muita dedicação ao
trabalho, treinamento rigoroso e vida disciplinada, o praticante de Karate-Do Tradicional
caminha em direção dessas metas, formando seu caráter, aprimorando sua
personalidade.

       Nesse sentido, pode-se afirmar que o Karate-Do Tradicional contribui para a
formação integral do ser humano, não podendo, portanto, ser confundido com uma
prática puramente esportiva. "Tradição é um conjunto de valores sociais que passam de
geração à geração, de pai para filho, de mestre para discípulo, e que está relacionado
diretamente com o crescimento, maturidade, com o indivíduo universal." [Johannes]

       Cada pessoa pode ter objetivos diferentes ao optar pela prática do Karate-Do
Tradicional, objetivos estes que devem ser respeitados. Cada um deverá ter a
oportunidade de atingir suas metas, seja-as tornar-se forte e saudável, obter
autoconfiança e equilíbrio interior ou mesmo dominar técnicas de defesa pessoal.
Autocontrole, integridade e humildade resultarão do correto aproveitamento dos
impulsos agressivos existentes em todos nós.

       A famosa expressão do mestre Gichin Funakoshi - "Karate Ni Sente Nashi" -
define claramente o propósito antiviolência do Karate-Do Tradicional: "No Karate não
existe atitude ofensiva".



                                                                                      22
"Se o adversário é inferior a ti,
                                então por que brigar?

                            Se o adversário é superior a ti,
                                então por que brigar?

                             Se o adversário é igual a ti,
                                   compreenderá,
                              o que tu compreendes...
                               Então não haverá luta.

                                Honra não é orgulho,
                        é consciência real do que se possui “.

      O Karate-Do Tradicional também pode ser visto como uma ótima ferramenta de
manutenção da saúde, uma vez que suas técnicas contribuem para a formação de
hábitos saudáveis como os cuidados com a postura, a respiração com o diafragma e a
meditação Zen. Entende-se como saúde não só o estado de "ausência de doenças",
mas também o bem-estar físico, mental e espiritual do ser humano.

       Como defesa pessoal, o Karate-Do Tradicional mostra eficiência e eficácia em
suas técnicas, possibilitando ao lutador defender-se de qualquer tipo inimigo. No
entanto, mais que um simples conjunto de técnicas, o Karate-Do Tradicional ensina ao
seu praticante algo muito além do confronto físico, que é a intuição e o discernimento
perante uma situação de perigo, permitindo ao lutador captar a intenção do adversário,
avaliar a situação e tomar uma atitude correta e consciente.

      O verdadeiro valor do Karate não está em sobrepujar os outros pela força física.
Nesta arte marcial não existe agressão, mas sim nobreza de espírito, domínio da
agressividade, modéstia e perseverança. E, quando for necessário, fazer a coragem de
enfrentar milhões de adversários vibrar no seu interior. É o espírito dos samurais.




                                                                                   23
2.2. O Fundador e a História




                               Fig. 9 – Mestre Gishin Funakoshi



      A história do Mestre Gishin Funakoshi se confunde com a própria história do
Karatê, por isso a ele é creditado o título de "pai do Karatê moderno", devido aos seus
esforços em divulgar essa arte para o mundo e torná-la acessível a todos.

        Gishin Funakoshi nasceu em 1869 em Shuri, distrito de Yamakawa-Cho,
Okinawa, no mesmoano da Restauração Meiji.Era filho único, e logo após o seu
nascimento fora levado para a casa dos seus avós maternos, com quem foi educado e
aprendeu poesias clássicaschinesas. Algum tempo depois ele começou a freqüentar a
escola primária, onde conheceu outro garoto de quem ficou muito amigo.Esse garoto
era filho de Yasutsune Azato, um dois maiores especialistas de Okinawa na arte do
Karatê, e membro de uma família das mais respeitadas. Logo Funakoshi começava a
tomar suas primeiras lições de Karatê.Na época a prática de artes marciais era proibida
em Okinawa, e os treinos eram realizados à noite, no quintal da casa do Mestre
Azato.Lá ele aprendia a socar, chutar, e mover-se conforme os métodos praticados
naqueles dias.

      O treinamento era muito rigoroso.Mestre Azato tinha uma filosofia de treinamento
que se chamava "Hito Kata San Nen", ou seja, "um Kata em três anos". Funakoshi
estudava cada Kata a fundo, e então, apenas quando era autorizado pelo seu mestre,
seguia para o próximo. Enquanto praticava no quintal de Azato com outros jovens, outro

                                                                                    24
gigante do Karatê, Mestre Itosu, amigo de Azato, aparecia e observava-os fazendo os
Katas, tecendo comentários sobre suas técnicas.Era uma rotina dura que terminava
sempre de madrugada sob a disciplina rígida do mestre Azato, do qual o melhor melhor
elogio se limitava a uma única palavra: "Bom!". Após os treinos, já quase ao
amanhecer, Azato falava sobre a essência do Karatê.

       Após vários anos, a prática do Karatê deu grande contribuição para a saúde de
Funakoshi, que fora uma criança muito frágil e doentia.Ele gostava muito do Karatê,
mas como não pensava que pudesse fazer dele uma profissão, inscreveu-se e foi
aceito como professor de uma escola primária, em 1888, aos 21 anos, aproveitando
toda sua cultura adquirida desde a infância quando seus avós lhe ensinavam os
Clássicos Chineses.

       Esta deveria ser sua carreira a partir de então. Prestou exame na Escola de
Medicina de Tóquio, no qual foi aprovado, mas devido a uma nova lei que proibia aos
homens o porte do CHON MAGE (símbolo de virilidade e da maturidade) não pôde
realizar seus estudos.E por esse motivo voltou-se para a pratica e estudo aprofundado
do Karatê, no qual se tornaria posteriormente seu representante máximo.

        Ele tinha uma personalidade marcante e alguns aspectos como natural
benevolência, distinção de maneiras e ímpar gentileza e respeito a todos, além de uma
energia forte, muita coragem, determinação e força mental altamente capacitada, o
tornaram uma figura que, para muitos era sinônimo de alguém "mais que humano", um
"tatsujin" (indivíduo fora do comum) ainda mais se contrastando suas virtudes com seu
porte físico pequeno (1,67m. para 67 Kg.), sendo admirado por seus contemporâneos.
No começo deste século, em 1902, durante a visita de Shintaro Ogawa, que era então
inspetor escolar da prefeitura de Kagoshima, à escola de Funakoshi em Okinawa, foi
feito uma demonstração de Karatê. Funakoshi impressionou bastante devido ao seu
status de educador.Ogawa ficou tão entusiasmado que escreveu um relatório ao
Ministério da Educação elogiando as virtudes da arte. Foi então que o treinamento de
Karatê passou a ser oficialmente autorizado nas escolas.

        Até então o Karatê só era praticado atrás de portas fechadas, mas isso não
significava que fosse um segredo.As casas em Okinawa eram muito próximas umas
das outras, e tudo que era feito numa casa era conhecido pelas outras casas
adjacentes.Enquanto muitos autores pregam o Karatê como sendo um segredo naquela
época, ele não era tão secreto assim.

       O Karatê era "oficialmente" secreto (do mesmo modo que os Estados Unidos
nunca penetraram no Camboja durante a guerra do Vietnã).Contra os pedidos de
muitos dos mestres mais antigos de Karatê, que eram a favor de manter tudo em
segredo, Funakoshi trouxe o Karatê, com a ajuda de Itosu, até o sistema de escolas
públicas. Logo, as crianças na escola estavam aprendendo os Katas como parte das
aulas de Educação Física.

      A redescoberta da herança étnica em Okinawa era moda, então as aulas de
Karatê em Okinawa eram vistas como uma coisa legal.Alguns anos depois, o Almirante
                                                                                  25
Rokuro Yashiro (na época Capitão) assistiu a uma demonstração de Kata.Essa
demonstração foi feita por Funakoshi junto com uma equipe composta por seus
melhores alunos.Enquanto ele narrava, os outros executavam Katas, quebravam telhas,
e geralmente chegavam ao limite de seus pequenos corpos.

       Funakoshi sempre enfatizava o desenvolvimento do caráter e autodisciplina nas
suas narrações durante essas demonstrações.Quando ele participava, gostava de
executar o Kata Kanku Dai, o maior do Karatê, e talvez o mais representativo.Yashiro
ficou tão impressionado que ordenou a seus homens que iniciassem o aprendizado na
arte. Em 1912, a Primeira Esquadra Imperial da Marinha ancorou na Baía de Chujo, sob
o comando do Almirante Dewa, que selecionou doze homens da sua tripulação para
estudarem Karatê durante uma semana.Foi graças a esses dois oficiais da Marinha que
o Karatê começou a ser comentado em Tokyo.Os japoneses que viam essas
demonstrações levavam as histórias sobre o Karatê consigo quando voltavam ao
Japão.

      Pela primeira vez na sua história, o Japão acharia algo na sua pequena
possessão de Okinawa além de praias bonitas e o ar puro.

       Em 1921, o então Príncipe Herdeiro Hirohito, em viagem para Europa, fez escala
em Okinawa e assistiu uma demonstração de Karatê, liderada por Funakoshi, e ficou
muito impressionado.Por causa disso, no final desse mesmo ano, Funakoshi foi
convidado para fazer uma demonstração de Karatê em Tokyo, numa Exibição Atlética
Nacional.Ele aceitou imediatamente, acreditando ser esta uma ótima oportunidade para
divulgar a arte. Sua demonstração de Kata foi um sucesso.Ele pretendia retornar logo
para Okinawa, mas, depois da exibição, Funakoshi foi cercado por pedidos para ficar no
Japão ensinando Karatê. Uma das pessoas que pediu para que ele ficasse foi Jigoro
Kano, o fundador do Judô e presidente do Instituto Kodokan.

       Funakoshi resolveu ficar mais alguns dias para fazer demonstrações técnicas no
próprio Kodokan. Algum tempo depois, quando se preparava novamente para retornar a
Okinawa, foi visitado pelo pintor Hoan Kosugi, que já tinha assistido a uma
demonstração de Karatê em Okinawa, e pediu que ele lhe ensinasse a arte. Mais uma
vez sua volta foi adiada.Funakoshi percebeu então que se ele quisesse ver o Karatê
propagado por todo o Japão ele mesmo teria que fazê-lo.Por isso resolveu ficar em
Tokyo até que sua missão fosse cumprida.Kosugi foi uma das pessoas que
convenceram Funakoshi a ensinar Karatê no Japão.

       Ele também o convenceu a registrar todo o seu conhecimento em um livro e
prometeu presenteá-lo com uma pintura para a capa. Essa pintura (desenho ao lado), o
Tora No Maki ("Tora" em japonês quer dizer tigre, e "Maki" em japonês quer dizer rolo
ou enrolado), foi usada para ilustrar a capa do livro "Karate-Do Kyohan" para simbolizar
força e coragem. A irregularidade do círculo indica que provavelmente ele foi pintado
com uma única pincelada. O caractere ao lado da cauda do tigre (em cima à direita) é
parte da assinatura do artista. No Japão, Funakoshi foi ajudado por Jigoro Kano, o
homem que reuniu tantos estilos diferentes de Jiu Jutsu para criar o Judô. Kano tornou-
se amigo íntimo de Funakoshi, e sem sua ajuda nunca teria havido Karatê no Japão.
                                                                                     26
Kano o introduziu as pessoas certas, levou-o às festas certas, caminhou com ele
através dos círculos sociais da elite japonesa. Mais tarde naquele ano, as classes mais
altas dos japoneses se convenceram do valor do treinamento do Karatê. Funakoshi
fundou um Dojo de Karatê num dormitório para estudantes de Okinawa, em Meisei
Juku. Ele trabalhou como jardineiro, zelador e faxineiro para poder se alimentar
enquanto ensinava Karatê à noite. Em 1922, fora escolhido para representar a arte de
Okinawa em uma apresentação em Tóquio para demonstrar a arte do Karatê.

        Como já tinha mais de cinqüenta anos, não correspondia, ao mito do “budoka
terrível” que o Japão procurava fazer sobreviver, na época, e mesmo assim a sua
apresentação foi muito bem sucedida. Muitos aspectos da personalidade de Funakoshi
passaram a ser conhecidos através de histórias daqueles que conviviam com ele, como
por exemplo, Genshin Hironishi, seu discípulo que dizia que seu mestre se opunha às
gerações vindas após a Segunda Guerra Mundial, pois continuava a seguir hábitos de
sua época, anterior a Primeira Guerra Mundial. Dizia ele que Funakoshi se recusava a
freqüentar uma cozinha ou a pronunciar certas palavras japonesas modernas,
existentes em sua época dizendo que sem elas passava muito bem.

       Uma outra peculiaridade interessante em seu comportamento, é que a primeira
coisa que ele fazia era sua toalete matinal que durava cerca de uma hora, durante a
qual escovava seus cabelos com infinita paciência, quando então se voltava em direção
ao Palácio Imperial e o saudava com respeito inclinando-se, e após fazia a mesma
saudação a Okinawa. Depois desses rituais tomava o chá da manhã, e se reiterava de
seus afazeres do dia. Em 1922, a pedido do pintor Hoan Kosugi, ele publicou seu
primeiro livro: "Ryukyu Kenpo Karatê", um tratado nos propósitos e prática do Karatê.
Na introdução daquele livro ele já dizia que “... a pena e a espada são inseparáveis
como as duas rodas de uma carroça". O grande terremoto de Kanto, em 1º de setembro
de 1923 destruiu as placas de seu livro, e levou alguns de seus alunos com ele.

       Ninguém morreu com o tremor, os incêndios provocaram as mortes. O terremoto
ocorreu durante a hora do almoço, no momento em que cada fogão a gás no Japão
estava ligado. Os incêndios que ocorreram a seguir foram monstruosos, e maioria das
vidas perdidas se deveu ao fogo. Este livro teve grande popularidade e foi revisado e
reeditado quatro anos após o seu lançamento, com o título alterado para: "Rentan
Goshin Karatê Jutsu". Em 1925, Funakoshi começou a pegar alunos dos vários colégios
e universidades na área Metropolitana de Tokyo, e nos anos seguintes, esses alunos
começaram a fundar seus próprios clubes e a ensinar Karatê a estudantes destas
escolas. Como resultado, o Karatê começou a se espalhar por Tokyo. No início da
década de 30 haviam clubes de Karatê em cada universidade de prestígio de Tokyo.

       Mas por que estava Funakoshi conseguindo tantos jovens interessados em
Karatê desta vez? O Japão estava fazendo uma Guerra de Colonização na Bacia do
Pacífico. Eles invadiram e conquistaram a Coréia, Manchúria, China, Vietnã, Polinésia,
e outras áreas. Jovens a ponto de irem para a guerra vinham a Funakoshi para
aprender a lutar, assim eles poderiam sobreviver ao recrutamento nas Forças Armadas
Japonesas. O seu número de alunos aumentou bastante. Por volta de 1933, Funakoshi
desenvolveu exercícios básicos para prática das técnicas em duplas. Tanto o ataque de
                                                                                    27
cinco passos "Gohon Kumite" como o de um "Ippon Kumite" foram usados. Em 1934,
um método de praticar esses ataques e defesas com colegas de um modo levemente
mais irrestrito, semilivre "Ju Ippon Kumite", foi adicionado ao treinamento. Finalmente,
em 1935, um estudo de métodos de luta livre (Ju Kumite) com oponentes finalmente
tinha começado. Até então, todo Karatê treinado em Okinawa era composto
basicamente de Katas. Isso era tudo. Agora, os alunos poderiam experimentar as
técnicas dos Katas uns com os outros sem causar danos sérios. Nesta época, em 1935,
foi publicado seu próximo livro: "Karatê-dô Kyohan". Este livro trata basicamente dos
Katas. Funakoshi era Taoísta, e ele ensinava Clássicos Chineses, como o Tao Te
Ching de Lao Tzu, enquanto estava vivendo em Okinawa. Funakoshi era
profundamente religioso.

       Ele tinha muito medo de que o Karatê se tornasse um instrumento de destruição,
e provavelmente queria eliminar do treinamento algumas aplicações mortais dos Katas.
Então, ele parou de fazer essas aplicações. Ele também começou a desenvolver estilos
de luta que fossem menos perigosos. Funakoshi teve sucesso ao remover do Karatê,
técnicas de quebras de juntas, de ossos, dedos nos olhos, chaves de cotovelo,
esmagamento de testículos, criando um novo mundo de desafios e luta em equipe onde
somente umas poucas técnicas seriam legais. Ele fez isso baseado nos seus propósitos
e com total conhecimento dos resultados.

       Em 1936, Funakoshi mudou os caracteres Kanji utilizados para escrever a
palavra Karatê.O caractere "Kara" significava "China", e o caractere "Te" significava
"Mão".Para popularizar mais a arte no Japão, ele mudou o caractere "Kara" por outro,
que significa "Vazio".De "Mãos Chinesas" o Karatê passou a significar "Mãos Vazias", e
como os dois caracteres são lidos exatamente do mesmo jeito, então a pronúncia da
palavra continuou a mesma.Além disso, Funakoshi defendia que o termo "Mãos Vazias"
seria o mais apropriado, pois representa não só o fato do Karatê ser um método de
defesa sem armas, mas também representa o espírito do Karatê, que é esvaziar o
corpo de todos os desejos e vaidades terrenos. Com essa mudança, Funakoshi iniciou
um trabalho de revisão e simplificação, que também passou pelos nomes dos Katas,
pois ele também acreditava que os japoneses não dariam muita atenção por qualquer
coisa que tivesse a ver com o dialeto caipira (do interior) de Okinawa.

       Por isso ele resolveu mudar não só nome da arte, mas também os nomes dos
Katas.Ele estava certo, e seu número cresceu mais ainda.Funakoshi tinha 71 anos em
1939, e foi quando ele deu o primeiro passo dentro de um Dojo de Karatê em 29 de
Janeiro. O prédio foi feito de doações particulares, e uma placa foi pendurada sobre a
entrada e dizia: "Shotokan". "Sho" significa pinheiro. "To" significa ondas ou o som que
as árvores fazem quando o vento bate nelas. "Kan" significa edificação ou salão.
"Shoto" (ondas de pinheiro) era o pseudônimo que Funakoshi usava para assinar suas
caligrafias quando jovem, pois quando ele ia escrevê-las se recolhia em um lugar mais
afastado, onde pudesse buscar inspiração, ouvindo apenas o barulho do pinheiros
ondulando ao vento.

      Esse nome dado ao Shotokan Karatê Dojo foi uma homenagem de seus
alunos.Daí surgiu o nome de uma escola (estilo) que até hoje é cultivada em várias
                                                                                     28
partes do mundo. SHOTO (pseudônimo de Funakoshi) e KAN (escola, classe). A
"Escola de Funakoshi". A necessidade de um treinamento nas artes militares estava em
crescimento. ovens estavam se amontoando no Dojo, vindos de todas as partes do
Japão.O Karatê foi de carona nessa onda de militarismo e estava desfrutando de uma
aceitação acelerada como resultado.Finalmente o Japão cometeu um grande erro.O
bombardeio das forças navais americanas em Pearl Harbor a 7 de Dezembro de 1941
foi algo além da conta.Numa tentativa de prevenir que as embarcações americanas
bloqueassem a importação japonesa de matéria-prima, os japoneses tentaram remover
a frota americana e varrer a influência Ocidental do próprio Oceano Pacífico.

        O plano era bombardear os navios de guerra e os porta-aviões que estavam no
território do Hawai.Isto deixaria a força da América no Pacífico tão fraca que a nação
iria pedir a paz para prevenir a invasão do Hawai e do Alasca.Infelizmente, o pequeno
Japão não tinha os recursos, força humana, ou a capacidade industrial dos Estados
Unidos.Com uma mão nas costas, os americanos destruíram completamente os
japoneses na Ásia e no Pacífico.Uma das vítimas dos ataques aéreos foi o Shotokan
Karatê Dojo que havia sido construído em 1939.

       Com a América exercendo pressão em Okinawa, a esposa de Funakoshi
finalmente iria deixar a ilha e juntar-se a ele em Kyushu no Sul do Japão.Eles ficaram lá
até 1947. Os americanos destruíram tudo que estava em seu caminho. As ilhas foram
bombardeadas do ar, todas as cidades queimadas até o fim, as colinas crivadas de
balas pelos cruzadores de guerra de longe da costa, e então as tropas varreram através
da ilha, cercando todo mundo que estivesse vivo. A era dourada do Karatê em Okinawa
tinha acabado. Todas as artes militares haviam sido banidas rapidamente pelas forças
ocupantes americanas. Primeiro uma, depois outra bomba atômica explodiram sobre as
cidades de Hiroshima e Nagasaki. Três dias depois, bombardeiros americanos
sobrevoaram Tokyo em tal quantidade que chegaram a cobrir o Sol. Tokyo foi
bombardeada com dispositivos incendiários.

       Descobrindo que o governo do Japão estava a ponto de cometer um suicídio
virtual sobre a imagem do Imperador, cartas secretas foram passadas para os
japoneses garantindo sua segurança se eles assinassem sua "rendição incondicional".
O Japão estava acabado, a Guerra do Pacífico também, mas o pesadelo de Funakoshi
ainda havia de acabar. Nesta época, Gigo (também conhecido como Yoshitaka,
dependendo como se pronunciava os caracteres do seu nome), filho de Funakoshi, um
promissor jovem mestre de Karatê no seu próprio direito, aquele que Funakoshi estava
contando para substituí-lo como instrutor do Shotokan, pegou tuberculose em 1945 e
posteriormente veio a falecer, porque teimosamente recusava-se a comer a ração
americana dada ao povo japonês faminto. Funakoshi e sua esposa tentaram viver em
Kyushu, uma área predominantemente rural, sob a ocupação americana no Japão.

        Mas, em 1947, ela morre, deixando Funakoshi retornar a Tokyo para reencontrar
seus alunos de Karatê que ainda viviam. Depois que a guerra havia acabado, as artes
militares haviam sido completamente banidas. Entretanto, alguns dos alunos de
Funakoshi tiveram sucesso em convencer as autoridades que o Karatê era um esporte
inofensivo. As autoridades americanas concederam então, a retomada da prática do
                                                                                      29
Karatê, porque não tinham idéia realmente do que era o Karatê. Também, alguns
homens estavam interessados em aprender as artes militares secretas do Japão, então
as proibições foram eliminadas completamente em 1948. Em Maio de 1949, os alunos
de Funakoshi movem-se para organizar todos os clubes de Karatê universitários e
privados numa simples organização, e eles a chamaram de Nihon Karatê Kyokai
(Associação Japonesa de Karatê). Eles nomearam Funakoshi seu instrutor chefe. Em
1955, um dos alunos de Funakoshi consegue arranjar um Dojo para a NKK.

        Em 1957, ano de sua morte, Funakoshi tinha 89 anos de idade. Ele foi um
professor de escola primária e um estudante de Karatê. Ele mudou-se para o Japão (e
não é um pequeno ato de coragem) e trouxe o Karatê consigo em 1922, dando ao
Japão algo de Okinawa com seu próprio jeito pacifista.No processo, ele perdeu um
filho, sua esposa, o prédio que seus alunos fizeram para ele, seu lar, e qualquer
esperança de uma vida pacífica. Ele suportou uma Guerra Mundial que resultou em
calamidade nacional, e ele treinou seus jovens amigos e conheceu suas famílias
apenas para vê-los irem lutar e serem mortos pelas forças invencíveis dos Estados
Unidos. Ele viu o Japão queimar, ele viu os antigos templos e santuários serem
totalmente aniquilados, ele viu bombardeiros enegrecerem o sol, e ele viu como um
pilar de fumaça negra subia de cada cidade no Japão e envenenava o ar que ele
respirava. Ele viu o Japão cair da glória para uma nação miserável, dependendo de
suprimentos de comida e roupas dos seus conquistadores.

       O cheiro da fumaça e o cheiro dos mortos; Os berros daqueles que foram
deixados para morrer lentamente; O choro das mães que perderam seus filhos e
esposas que nunca mais iriam ver seus maridos; O medo, o ruído ensurdecedor dos
bombardeiros B-29's voando sobre sua cabeça como os de trovões por todo o país
quando as bombas explodiam em áreas residenciais, os flashes de luz na escuridão; A
espera no rádio para poder ouvir a voz do Imperador pela primeira vez, somente para
anunciar a rendição; A humilhação de implorar comida aos soldados... Os intermináveis
funerais e famílias arruinadas e lares destruídos. Tente e imagine o que ele suportou! !A
lição mais importante que ele nos ensinou está expressa em uma de suas histórias
narradas por um de seus discípulos.

       Uma vez quando passava pelo Dojo principal de Jigoro Kano, "o fundador do
Judô", ao caminhar pela rua, ele parou e fez uma pequena prece em frente ao
Kodokan.Também se estivesse dirigindo um carro, ele tiraria seu chapéu se passasse
em frente ao Kodokan. Seus alunos não entenderam porque ele estaria rezando pelo
sucesso do Judô.Então ele explicou:“Eu não estou rezando pelo Judô”.Eu estou
oferecendo uma prece em respeito ao espírito de Jigoro Kano.Sem ele, eu não estaria
aqui hoje ““. Gishin Funakoshi, o "Pai do Karatê Moderno", morreu em 26 de Abril de
1957. Em seu túmulo pintado de preto, em forma de cruz, apesar de tudo que ele
suportou, estão as palavras:


                             ”KARATÊ NI SENTE NASHI”

                        (No Karatê não existe atitude ofensiva)
                                                                                      30
2.3. A competição no Karate-Do Tradicional:

       A busca de vitórias em competições não é o principal objetivo do Karate-Do
Tradicional. As competições são um meio que permitem ao praticante de Karate-Do
Tradicional fazer uma autoavaliação técnica e emocional. Vencer ou perder numa
competição não é o mais importante, o relevante é o crescimento como lutador e como
pessoa que ela proporciona.

       O que se exige dos lutadores numa competição de Karate-Do Tradicional é a
eficiência na execução dos movimentos, ou seja, a dinâmica corporal utilizada para se
aplicar os golpes, e não tão somente a velocidade ou o contato. Não basta acertar o
alvo, é preciso fazê-lo da forma correta, baseado nos fundamentos técnicos do Karate-
Do Tradicional. Isso exige um grande domínio físico e mental, e também estimula a
busca pelo aperfeiçoamento pessoal e pelo refinamento da técnica. "Perder-se na
beleza dos movimentos ou apenas buscar pontos numa luta não levam à perfeição!"
[Nakayama]

       Numa competição de Karate-Do Tradicional não há divisão de pesos. O lutador
cujo físico é pequeno poderá vencer o grande, se estiver bem preparado. Ele deverá
estar disposto a enfrentar qualquer adversário, seja qual for o seu tamanho.

As modalidades de competição são:

      Kata individual - Apresentação individual de kata: Durante as fases eliminatórias,
       dois competidores executam o mesmo kata (que é escolhido pelo árbitro central)
       lado a lado, e o vencedor é aclamado pelos árbitros através de bandeiras. Na
       fase final, os competidores apresentam-se um de cada vez, executando o kata
       de sua escolha, e a decisão é tomada pela média das notas de todos os árbitros,
       descontando-se desta a maior e a menor nota.

      Kata em equipe - Apresentação de kata e respectiva aplicação (bunkai) em
       equipes de três pessoas: Após a apresentação do kata, a equipe deverá
       apresentar uma aplicação para as técnicas do kata escolhido. A decisão é
       sempre tomada por nota.

      Kumite individual - Combate individual.

      Kumite em equipe - Combate em equipes de cinco pessoas: A cada luta são
       somados os pontos de cada lutador aos pontos de sua equipe. Será vencedora a
       equipe que obtiver o maior número do pontos ao final da última luta.

      Enbu - Teatro marcial: Apresentação de aplicações de técnicas de Karate em
       duplas. A decisão é tomada por nota dos árbitros.

      Fuku Go - Disputa individual que engloba kata e kumite, alternando a cada
       rodada: A ITKF instituiu o Kitei como kata oficial das competições de Fuku Go,
       para permitir as disputa direta (lado a lado) de competidores de estilos diferentes.

                                                                                        31
2.4.Terminologia

                            ICHI             um
                            NI               dois
                            SAN              três
                            SHI (YON)        quatro
                            GO               cinco
                            ROKU             seis
                            SHICHI (NANA)    sete
                            HACHI            oito
                            KU (KYU)         nove
                            JU               dez
                            HYAKU            cem
                            SEN              mil
                            MAN              dez mil


2.5. Organização do Karate-Do Tradicional

       A nível mundial, o Karate-Do Tradicional é representado pela International
Traditional Karate Federation (ITKF), sediada em Los Angeles (EUA), sob o comando
do mestre Hidetaka Nishiyama, aluno direto do mestre Gichin Funakoshi e um dos
fundadores da Japan Karate Association (JKA).

A ITKF, por sua vez, poussui três subdivisões: a Comissão Técnica, a Comissão
Científica e a Comissão de Arbitragem.

      A Comissão Técnica, sob a direção do mestre Hiroshi Shirai (Milão/Itália), é
responsável pela qualidade no ensino do Karate. Organiza cursos, seminários e
campeonatos, com o objetivo de promover um intercâmbio entre os praticantes de
Karate.

       A Comissão Científica é formada por professores de Educação Física, médicos
desportistas, fisioterapêutas, etc., e é responsável por desenvolver estudos e pesquisas
sobre Karate, baseados em métodos científicos (biomecânica, cinesiologia, etc.), com o
propósito de melhorar técnicas, eliminar movimentos desnecessários e criar métodos de
treinamento sistemáticos.

      A Comissão de Arbitragem tem como objetivo zelar pela aplicação da técnica,
sem perder a disciplina e o respeito à integridade física dos lutadores. Promove cursos
de arbitragem constantemente, visando formar árbitros de qualidade e melhorar o nível
das competições.

      A Confederação Brasileira de Karate-Do Tradicional (CBKT) é o órgão máximo
representante do Karate-Do Tradicional no Brasil e é filiada à ITKF. Possui 27
federações filiadas, tendo como presidente o mestre Oswaldo Mendonça Jr. Em
                                                                                     32
novembro de 1996 a CBKT conseguiu um feito inédito para o Karate brasileiro, que foi a
realização do VIII Campeonato Mundial de Karate-Do Tradicional no Ginásio do
Ibirapuera em São Paulo. Foi a primeira vez que o Brasil sediou um Campeonato
Mundial de Karate.

      O Brasil hoje é uma das grandes forças mundiais do Karate-Do Tradicional. Isso
se deve ao privilégio de termos no país a presença de grandes mestres como Yasutaka
Tanaka, Yasuyuki Sasaki, Yoshizo Machida, Hiroyasu Inoki, Tatsuke Watanabe, Kazuo
Nagamine, Oswaldo Mendonça Jr e Gilberto Gaertner, entre outros, que têm contribuído
enormemente para o desenvolvimento do Karate brasileiro.

      No Estado de Santa Catarina, o Karate-Do Tradicional é representado pela
Federação Catarinense de Karate-Do Tradicional (FCKT), fundada em 26 de maio de
1992 e atualmente sediada em Florianópolis.

Principais posições e ataques do Karate-Do:




                              Fig. 10 – Golpes do Karate-Do




                                                                                   33
Os ataques de braço e perna, as defesas e bases do KARATE, podem ser aprendidos
rapidamente. Porém, para o aperfeiçoamento dessas técnicas, é necessário treiná-las
arduamente por longo tempo, chegando, algumas delas, ser impossível atingir um nível
ótimo de performance. Para tanto, o treinamento constante no sentido de auto
superação e o conhecimento biomecânico e fisiológico do corpo humano, são
fundamentais.
A investigação cientifica serviu para comprovar e aumentar a eficiência e eficácia dos
golpes ensinados ao longo dos anos pelos antigos mestres.
Ao considerar a técnica como sendo o procedimento mais racional e econômico para
alcançar o objetivo e levar a efeito as técnicas do Karate, faz-se necessário observar
alguns aspectos que consideramos fundamentais, que são: Forma, Kime, Quadril e
Respiração, que para efeitos didáticos, apresentamos separadamente.

1. FORMA
Conforme Nakayama (1987), a aplicação dos golpes com postura adequada é
fundamental pois, no momento do impacto, se produz um forte contra-impacto (Ação e
Reação, terceira lei de Newton), que para suportá-lo é importante a firmeza das
articulações.
Para a obtenção do máximo de potência, é necessário ter equilíbrio e estabilidade, o
que é alcançado com uma forma ou postura correta. Consideramos forma correta o
posicionamento equilibrado do corpo desde a base de sustentação ate o ponto de
contato com o adversário.
Quanto à base, é importante ter-se em conta que ao abaixar muito o centro de
gravidade (base excessivamente longa), alcança-se maior equilíbrio, mas re-duz-se a
imobilidade. Portanto1 é importante a utilização de uma base firme, porém elástica, que
possibilite deslocamentos rápidos sem comprometimento do equilíbrio e da
estabilidade.

2. POTÊNCIA ou "KIME"
Para dominar o adversário, o karateca utiliza-se da energia produzida por sua
musculatura. Segundo Nakayama (1987, p.16), a força eficaz no Karate é a força veloz
(potência) "... aquela que se acumula com a velocidade"(...) "a força que a velocidade
consegue concentrar no momento do impacto".
Uma coordenação ótima entre a musculatura agonista (a que realiza o movimento) e a
antagonista é importante para que haja velocidade na execução da técnica. Além disso,
o aproveitamento máximo da trajetória e a concentração da força (contração de todo o
corpo) no momento do impacto, são fundamentais para levar a efeito as técnicas do
Karate.
Um ponto a destacar é que o excesso de contração durante a execução do golpe,
diminui a sua velocida-de, diminuindo a potência final. Para reagir mais rapidamente, o
karateca deve estar com a musculatura relaxada e em alerta.
A contração máxima de todo corpo deve ser apenas na finalização do golpe, durante
uma fração de segundo. Ela é a responsável pelo aumento da estabi-lidade das
articulações para resistir ao impacto e contra-impacto.

3. USO DA CINTURA PÉLVICA OU "QUADRIL"
Elo de ligação dos membros inferiores ao restante do corpo, o quadril tem participação
                                                                                     34
significativa nas técnicas de ataque e de defesa.
A cintura pélvica produz, em movimento de rotação, grande força centrífuga. Unindo a
essa, a velocidade de membros superior ou inferior, multiplica-se a potência do golpe.
"...no Karate-do. Os ataques tanto de braço como de perna, se realizam com o quadril e
igualmente as defesas" (Nakayama,1987, p.18).
O encaixe do quadril ou retroversão da pelve, é responsável pela manutenção do tronco
ereto, em posição de equilíbrio, evitando gasto desnecessário de energia.

4. RESPIRAÇÃO
Nos referimos aqui ao processo de entrada e saída do ar dos pulmões para troca de
gases, atendo-nos à importância das fases de inspiração e expiração, na aplicação dos
golpes de KARATE.
A execução do golpe é precedida pela inspiração normal. No instante do impacto
realiza-se uma expiração forçada buscando a energização do tanden. A expiração
forçada ocorre pela forte contração dos músculos do abdômen e tórax (interceptais
internos) e coincide com o momento em que todo corpo deve estar cooperando para
potencializar ao máximo o kime, aumentando a estabilidade das articulações e
equilíbrio corporal na aplicação do golpe.




                                                                                   35
2.6. KARATE SHOTOKAN – TÉCNICAS BÁSICAS




                    Fig. 11 – Posições do Karate Shotokan



                                                            36
Através das técnicas básicas ou fundamentos, inicia-se o estudo do Karate. São
movimentos de fácil aprendizado que devemos aperfeiçoar ao longo de vários anos de
treinamento vigoroso e constante, a fim de alcançar maior eficiência.
A forma correta de execução das técnicas proporciona melhor estabilidade articular
para suportar o contra-impacto decorrente da aplicação das mesmas (tsuki e keri
principalmente), aumentando o equilíbrio e possibilitando a rápida troca de posição do
centro de gravidade. O que facilita a passagem de um movimento para outro em grande
velocidade.
Uma boa base favorece o trabalho harmonioso de todo o corpo para a ampliação da
potência dos golpes. Um ataque ou defesa forte é conseguido somente pela execução
de bases corretas. Eles dependem de equilíbrio, liberdade para o giro do quadril,
velocidade e força, que são necessários à realização do movimento. Eles dependem
também da cooperação dos músculos agonistas e antagonistas (coordenação da
contração/descontração muscular) para alcançar uma forma firme e estável.
Cada base tem um objetivo e deve ser treinada corretamente. A descaracterização da
base para torná-la mais confortável, reduz ou elimina a eficiência das técnicas de
ataque ou defesa e desacelera ou estagna o progresso do praticante.
Bases mais utilizadas:

SHIZEN-TAI - Posição natural. Pernas estendidas, corpo ereto e relaxado, uti-lizando-
se o mínimo de gasto de energia para mantê-lo nesta posição. Pode-se passar
facilmente a posição de ataque ou defesa. Engloba diversas formas diferenciadas pela
disposição dos pés.
Renoji-dachi- pés em L, calcanhares alinhados com distancia de aproximadamente um
pé entre eles.
Heiko-dachi - pés paralelos, alinhados, mantendo a distancia da largura do quadril para
as mulheres, ou do ombro para os homens.
Heisoku-dachi - pés unidos, calcanhares e pontas dos pés tocam-se ligeiramente.
Musubi-dachi - pés abduzidos, os calcanhares se tocam.

ZENKUTSU-DACHI - Posição avançada. Muito eficiente para trabalhar a força para
frente nos ataques. É também utilizada nas defesas.

- Os pés afastam-se no plano sagital em aproximadamente 80cm e lateralmente na
largura do quadril, com toda a planta no chão. A ponta do pé da frente dirige-se para
frente ou ligeiramente para o interi-or, enquanto o pé de trás dirige-se para frente o
máximo possível.
- O joelho da perna da frente deve estar flexionado e o da perna de trás estendido.
Ambos encontram-se contraídos para fora. Traçando uma linha perpendicular do joelho
ao chão, esta deve situar-se ao lado da base do hálux (dedão).
- 60% do peso do corpo são sustentados pela perna da frente, os 40% restantes, pela
perna de trás.
- 0 tronco permanece perpendicular ao chão e for-tenente assentado sobre o quadril em
retroversão (quadril encaixado).

KOKUTSU-DACHI - Posição recuada. É uma postura muito forte, sendo bastante eficaz
                                                                                     37
para defender ou esquivar para trás ou obliquamente e trocar rapidamente para
zenkutsu-dachi no contra-ataque.
- Os pés encontraram-se alinhados e afastados no plano sagital em aproximadamente
80cm. 0 pé de trás, apontado para o lado, suporta sobre toda planta 70% do peso do
corpo, enquanto o pé da frente, apontado para frente, suporta os 30% restantes.
Ambos, formam aproximadamente um ângulo de 90 graus entre si.
- O joelho da perna de trás dobra-se para o lado e contrai-se fortemente para fora. Uma
linha perpendicular ao chão, deve passar pelo meio do joelho e cair ao lado da base do
hálux. O joelho da perna da frente acha-se ligeiramente flexionado e apontado para
adiante.
- O quadril encaixado assenta o tronco perpendicular ao chão.

KIBA-DACHI - Posição de cavaleiro. É uma postura muito forte para a aplicação de
golpes para os lados. Seu nome é devido à semelhança com a posição de cavalgar.
- Os pés se afastam no plano frontal em aproximadamente 80 cm, mantendo-se
alinhados e paralelos. Aderem fortemente ao chão com toda planta.
- Os joelhos dobrados para frente com contração para fora, de forma que a linha
perpendicular caia ao lado da base do hálux.
- O peso do corpo divide-se igualmente entre as duas pernas.
- A retroversão do quadril é importante na manutenção do equilíbrio. O tronco deve
manter-se perpendicular ao chão.




                                                                                     38
TSUKI - Ataque direto - soco:




                                Fig. 12 – Demonstração do Tsuki




                                                                  39
Fig. 13 – Golpes contínuos



São golpes muito aplicados, de grande eficiência, que podem derrubar o oponente com
um só impacto.
Realiza-se estendendo o cotovelo, flexionando o ombro e girando o antebraço 180
graus para o interior, aplicando a força com as segunda e terceira articulações
metacarpofalângicas (seiken). Partindo da altura do quadril, a mão percorre trajetória
retilínea até atingir o objetivo. O antebraço, cotovelo e braço passam rente ao corpo.
A extensão da perna de trás, empurrando o solo com o pé transforma o impulso em
força horizontal que é transmitida ao quadril, se conecta aos ombros e chega ao braço.
O poder gerado pela rotação do quadril, utilizando a coluna vertebral como eixo de giro,
une a ele os ombros em seu impulso centrífugo, aumentando a força e a velocidade do
ataque, a qual, por sua vez, se multiplica pela extensão súbita do braço de ataque e
simultânea recolhida do braço oposto.
Assim, impulso e giro do quadril, extensão do braço de ataque e recolhimento do braço
oposto, cooperam para que se alcance a força resultante da velocidade.
Ao executar um tsuki o corpo deve estar relaxado, contraindo somente a musculatura
necessária à obtenção de uma força veloz. Apenas no momento do impacto, todo corpo
coopera para concentrar a força ao máximo.

GYAKU-ZUKI - Soco inverso. Braço contrário ao pé da frente.
OI-ZUKI - Soco andando. Braço correspondente ao pé que deslocou à frente.
MOROTE-ZUKI - Socos simultâneos. Braços paralelos horizontais ou verticalmente.
DAN-ZUKI - Socos consecutivos com o mesmo punho.
KERI - Ataque de perna - pontapés
O pontapé é um dos fundamentos do Karate. Quando se aprende sua execução
corretamente, consegue-se obter uma potência muito superior ao tsuki.
Ao realizar um ataque sustenta-se o peso do corpo sobre um pé de apoio, que deve

                                                                                      40
assentar-se firmemente no solo com toda a planta, mantendo tornozelo e joelho
ligeiramente flexionados e contraídos, a fim de suportar o choque originado pelo
impacto. O joelho da perna de ataque é elevado flexionado, diminuindo o braço de
alavanca, para alcançar, quando da sua extensão, maior velocidade.
É importante ter em mente que não é unicamente o pé que golpeia, mas que se deve
projetar o quadril, tomando todo o corpo o sentido do ataque. Também deve ter-se em
conta que após a finalização do pontapé, o pé deve ser recolhido rapidamente para que
não seja agarrado, e para voltar a uma posição de maior equilíbrio, a fim de executar a
técnica seguinte.
A força do ataque depende da longitude do arco da execução, da velocidade com que
se percorre este arco (flexão ou extensão da coxofemoral + extensão do joelho) e da
contração muscular no momento do impacto.
MAE-GERI - Pontapé frontal.
O joelho da perna de ataque passa rente ao joelho da perna de apoio e o pé de ataque
rente e acima deste. O quadril desloca-se horizontalmente duran-te todo o movimento,
atingindo-se o objetivo com a base inferior dos dedos.
YOKO-GERI - Pontapé lateral.
Eleva-se o joelho da perna de ataque passando com o pé rente a perna de apoio,
apontado para frente ou para a lateral do corpo. A ponta do pé virada para frente e o
bordo externo para baixo e paralelo ao chão, descreve urna trajetória em arco. Atinge-
se o objetivo com o bordo externo do pé.
MAWASHI-GERI - Pontapé circular.
Eleva-se o joelho lateralmente, bem flexionado, colocando a perna paralela ao chão,
com o pé apontando para o lado e a planta virada para trás. A coxa descreve um círculo
amplo. O quadril deve acompanhá-la nessa trajetória, até a finalização do movimento
com a extensão do joelho. 0 ponto para impacto pode ser à base dos dedos ou o dorso
do pé.
UKE WAZA - Técnicas de defesa
A defesa é um dos fundamentos mais importantes. Uma falha na sua execução pode
ser fatal.
Deve-se identificar corretamente a direção do ataque para realizar uma defesa
adequada a ele. O recolhimento do braço contrário, o giro do quadril e a rotação do
antebraço aumentam a potência da defesa, desviando-o mais facilmente.
Para aumentar a resistência da defesa, deve-se concentrar a força no músculo grande
dorsal, colocando o cotovelo próximo ao corpo e na altura da orelha (age-uke) e
aproximando o cotovelo até um punho (10cm) de distância do corpo (chudan-uchi-uke,
soto uke, shuto-uke).
Se a defesa ultrapassa os limites do corpo, não se pode concentrar a força no grande
dorsal, nem realizar um rápido contra-ataque. As técnicas de defesa devem ser
finalizadas em uma posição adequada, aumentando sua eficiência e facilitando a
execução da técnica seguinte.
AGE UKE - Defesa alta.
O antebraço desloca-se de baixo para cima descrevendo um arco na frente do corpo. A
mão pára a 10cm da testa com a palma girada para frente, e o antebraço em posição
oblíqua. No momento do impacto com o golpe do adversário, deve-se apertar
fortemente a mão, contraindo os músculos do antebraço em cooperação com todo o
corpo.
                                                                                    41
SOTO-UKE - Defesa média para dentro.
Eleva-se a mão até a altura da orelha, colocando o braço paralelo ao chão e
ligeiramente para trás. Deste ponto inicia-se uma rotação descendente até atingir o
cotovelo, antebraço e punho, verticalizados no plano sagital, a linha mediana do corpo.
Antebraço e braço formam um ângulo reto. Finaliza-se com a palma da mão girada para
o peito, na altura do ombro.
UCHI-UKE - Defesa média para fora.
O antebraço que defende traça um arco desde a axila do braço oposto. Desloca-se o
punho para o exterior, baixando o cotovelo até que este se aproxime das costelas. O
antebraço gira, colocando a palma da mão virada para o peito, na altura do ombro.
GEDAN-BARAI - Defesa baixa.
Eleva-se o braço para colocar o punho junto à orelha do lado oposto, com a palma da
mão virada para ela. Deste ponto baixa-se e estende-se o cotovelo até que o punho
esteja aproximadamente 15cm acima do joelho. É uma defesa eficiente contra os
ataques ao abdome, golpeando o golpe do adversário. Finaliza-se com o cotovelo
totalmente estendido e a palma da mão virada para trás.




                                                                                    42
3. JUDÔ
3.1 A origem: da China ao Jiu-jitsu

      O início do desenvolvimento histórico do combate corporal se perde na noite dos
tempos. A luta, inclusive por necessidade e sobrevivência, nasceu com o homem e, a
esse respeito, os documentos remontam os tempos mitológicos.

Um manuscrito muito antigo, o Takanogawi, relata que os deuses Kashima e Kadori
mantinham poderes sobre os seus súditos graças às suas habilidades de ataque e
defesa. A Crônica Antiga do Japão (Nihon Shoki), escrita por ordem imperial no ano de
720 de nossa era, menciona a existência de certos golpes de habilidade e destreza,
não apenas utilizados nos combates corporais mas também, como complemento da
força física, espiritual e mental, relatando uma história mitológica na qual um dos
competidores, agarrando o adversário pela mão, o joga ao solo, como se lançasse uma
folha. Segundo alguns historiadores japoneses, o mais antigo relato de um combate
corporal ocorreu em 230 aC, na presença do imperador Suinin. Taimano Kehaya, um
lutador insolente foi rapidamente nocauteado por um terrível cultor do combate sem
armas, Nomino Sukune.

Naquele tempo não havia regras e combate padronizadas. As lutas poderiam
desenvolver-se até a morte de um dos competidores.

As técnicas de ataque e defesa utilizadas guardam muita semelhança com os golpes do
sumô e do antigo ju-jitsu.


3.2. A chegada do Judô no Brasil - Conde Koma

       Em 1904, Koma ao lado de Sanshiro Satake, saiu do Japão. Seguiram então
para os Estados Unidos, México, Cuba, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia,
Equador, Peru (onde conheceram Laku, mestre em ju-jitsu que dava aulas para a
polícia peruana), Chile, onde mantiveram contato com outro lutador, (Okura), Argentina
(foram apresentados a Shimitsu) e Uruguai. Ao lado da troupe que a eles se juntou nos
países sul-americanos, Koma exibiu-se pela primeira vez no Brasil em Porto Alegre.
Seguiram depois para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, São Luís, Belém
(em outubro de 1915) e finalmente Manaus, no dia 18 de dezembro do mesmo ano. A
passagem pelas cidades brasileiras foi marcada apenas por rápidas apresentações. Por
sua elegância e semblante sempre triste, Mitsuyo Maeda ganhou o apelido de Conde
Koma durante o período que ficou no México.A primeira apresentação do grupo japonês
em Manaus, intermediado pelo empresário Otávio Pires Júnior, em 20 de dezembro de
1915, aconteceu no teatro Politeama. Foram apresentadas técnicas de torções, defesas
de agarrões, chaves de articulação, demonstração com armas japonesas e desafio ao
público. Com o sucesso dos espetáculos, os desafios contra os membros da equipe
multiplicaram.


                                                                                   43
Entre os desafiantes, boxeadores como Adolfo Corbiniano, de Barbados, e lutadores de
luta livre romana como o árabe Nagib Asef e Severino Sales. Na época Manaus vivia o
"boom" da borracha e com isso as lutas eram recheadas de apostas milionárias, feitas
pelos barões dos seringais. De 4 a 8 de janeiro de 1916, foi realizado o primeiro
Campeonato de Ju-jitsu amazonense.
O campeão geral foi Satake. Conde Koma não lutou desta vez, ficando apenas com a
organização do evento. No dia seguinte (09/01/1916), o Conde, ao lado de Okura e
Shimitsu, embarcou para Liverpool, na Inglaterra, onde permaneceram até 1917.
Enquanto a dupla permaneceu no Reino Unido, Satake e Laku seguiram lecionando ju-
jitsu japonês aos amazonenses no Atlético Rio Negro. E os mestres orientais
continuaram vencendo combates a que eram desafiados. Até que em novembro de
1916, o lutador italiano Alfredi Leconti, empresariado por Gastão Gracie, então sócio no
American Circus com os Irmãos Queirollo, chegou a Manaus para mais um desafio.
Satake que estava adoentado cedeu seu lugar para Laku, sendo este derrotado por
Leconti. Sataki, em recuperação, seria o próximo adversário do italiano, mas devido a
brigas geradas por ocasião do combate entre Laku e o desafiante, o delegado Bráulio
Pinto resolve proibir outras lutas na capital amazonense.

3.3. À volta ao Brasil

Em 1917, de volta ao Brasil, mais especificamente em Belém, e tendo ao lado sua
companheira, a inglesa May Iris Maeda, Conde Koma ingressa no American Circus
onde conhece finalmente Gatão Gracie. Em novembro de 1919, o Conde retorna a
Manaus, agora na condição de desafiante de seu amigo Satake. Foi então que
aconteceu a única derrota de Koma em toda sua carreira. Na biografia anterior diziam
que ele nunca havia sido derrotado.
Então ele volta para Belém e em 1920, já com a crise da borracha, é desfeito o
American Circus. Com isso, Mitsuo Maeda embarca novamente para a Inglaterra. Em
1922, regressa como agente de imigração, trabalhando pela Companhia Industrial
Amazonense e começa a ensinar judô aos belenenses na Vila Bolonha. No mesmo
ano, seu ex-companheiro Satake embarca para a Europa e nunca mais se tem notícias
do grande mestre.Conde Koma continuou em Belém, falecendo em julho de 1941.
Carlos e Hélio Gracie, filhos de Gastão seguiram atuando no ju-jitsu, modalidade que
aprenderam com Koma no circo do pai.
Isso, depois que a arte marcial já estava definitivamente implantada em Manaus pelos
membros da troupe de Koma, principalmente Sanshiro "Barriga Preta" Satake.



3.4. A criação do Judô: Prof. Jigoro Kano funda o Kodokan

Jigoro Kano, que era pequeno e fraco por natureza, começou a praticar o ju-jitsu aos 18
anos pelo propósito de não ser dominado por sua fraqueza física. Ele aprendeu atemi-
waza (técnicas de percussão), e katame-waza (técnicas de domínio) do estilo ju-jitsu
Tenjin-shin-yo Ryu e nague-waza (técnicas de arremesso) do estilo de ju-jitsu Kito Ryu.
Baseado nestas técnicas ele aprofundou seus conhecimentos tomando como base a
força e a racionalidade. Além disso, criou novas técnicas para o treinamento de
                                                                                     44
esportes competitivos mas também pelo cultivo do caráter.Adicionando novos aspectos
ao seu conhecimento do tradicional ju-jitsu o professor Kano fundou o Instituto
Kodokan,com a educação física, a competição e o treinamento moral como seus
objetivos.Com o estabelecimento do dojô Kodokan, em 1882, e com 9 alunos, Jigoro
Kano começou seus ensinamentos do judô. O texto do estudioso japonês Yoshizo
Matsumoto mostra os conceitos iniciais deste esporte e os seus objetivos.

O prof. Kano estabeleceu o Instituto Kodokan em 1882, época em que o dojô (local de
treino) tinha apenas 12 tatamis e o número de alunos era nove. O ju-jitsu foi substituído
pelo judô pela razão de que enquanto "jitsu" significa técnica o "do" significa caminho,
este último podendo ter dois significados: o de um caminho em que você anda e passa
e o de uma maneira de viver.

Como meio de ensino, no Kodokan, Jigoro Kano adotou o randori, kata e métodos
catequéticos, adicionando educação física ao treinamento intelectual e à cultura moral.
A harmonia desses três aspectos de educação constituem a educação ideal pela qual o
judô será ensinado.

Ao redor do ano 20 da era Meiji (1887), o judô tinha dominado o ju-jitsu, que foi varrido
de vários países. O princípio do "JU", do judô, passou a significar o mesmo que na frase
"gentileza é mais importante que obstinação".

     Assim a teoria do "JU", que é gentileza, suavidade, pretende utilizar a força do
oponente sem agir contra ela, podendo ser aplicada não somente na competição mas
também aos aspectos humanos.

       O prof. Kano disse em 1910 que a teoria da cultivação da energia tratava de
adotar um método para melhorar a habilidade mental e física pelo armazenamento de
ambas quanto for possível. Ele disse que o seu bom uso é cultivar e usar a energia
humana para o bem e que a teoria pode ser adquirí-la através do treinamento de judô,
podendo ainda ser ampliada para todos os aspectos da vida. Antes de se expandir, o
conceito de judô do professor veio a formar dois grandes guias: o melhor uso da
energia individual e o bem estar mútuo. Com estes princípios o judô expandiu-se no
próprio Japão e no exterior. Com esta base, o prof. Kano deixou como ensinamento que
através do treinamento a pessoa deve se disciplinar, cultivar o seu corpo e espírito
através das técnicas de ataque e defesa, fazendo engrandecer a essência do caminho.
O melhor uso da energia e o bem estar mútuo são uma versão resumida dos
ensinamentos de Jigoro Kano, que definiu como objetivo último do judô construir a
perfeição de uma pessoa e beneficiar o mundo.




4. JIU JITSU

                                                                                       45
4.1. Introdução

       O jiu-jitsu é a arte marcial mais antiga, perfeita, completa e eficiente de Defesa
Pessoal. Sua origem apesar de contraditória é atribuída à China, depois Índia, Japão e
Brasil; onde se desenvolveu, aprimorou e tornou-se o centro mundial desta preciosa
arte.

       O jiu-jitsu desportivo é a parte competitiva, onde os atletas exibirão suas
habilidades técnicas, físicas e psicológicas com o objetivo de alcançar a vitória sobre
seus adversários.

       Os golpes válidos são aqueles que procuram neutralizar, imobilizar, estrangular,
pressionar, torcer articulações, como também lançar seu adversário ao solo através de
quedas enquanto os golpes não válidos, considerados desleais, como: morder, puxar
cabelo, enfiar os dedos nos olhos, atingir os órgãos genitais, torcer dedos ou qualquer
outro processo tendente a traumatizar com o uso das mãos, cotovelos, cabeça, joelhos
e pés.

       As competições são o marco do esporte, é o momento mais importante para os
atletas, técnicos-professores e para todos aqueles que estão envolvidos direta ou
indiretamente, não cabendo pôr tanto, a vitória a qualquer custo, ao contrário o fair play
deve ser o principal norteador. O comportamento ético é o que dará ao esporte
credibilidade e segurança, fatores indispensáveis ao nosso esporte, pois, pôr isso só, já
conquistamos o espaço na sociedade, em seus aspectos de eficiência e de eficácia,
tornando-o o esporte espetáculo.

      Assim sendo, para se almejar a participar do maior espetáculo do mundo, que é
as Olimpíadas, devemos estar imbuídos deste objetivo, tornando o jiu-jitsu desportivo a
nossa meta.

      O regulamento é a carta magna do esporte, nesta consta os direitos e deveres,
de todos aqueles envolvidos, como atletas, técnicos-professores, dirigentes, e até
mesmo o público assistente. Pois teremos a responsabilidade de cumprir e fazer
cumprir este regulamento, pois, só assim, poderemos conquistar os nossos objetivos.



4.2. Área de Competição


       É toda a área que componha o palco da competição, que poderá ser composta
de 2 ou mais áreas de lutas, com todo pessoal de apoio: direção dos trabalhos,
arbitragem, cronometristas, fiscais, segurança e um departamento disciplinar
convocado pela diretoria que atuará no julgamento no decorrer do evento, com poderes
de punir qualquer conduta anti-esportista ou ética de técnicos-professores, atletas,

                                                                                       46
árbitros e de qualquer assistente que se mantenha no recinto da competição que esteja
atrapalhando o bom andamento do evento em questão.


4.3. Área de Lutas

      Cada área (ringue) será composta de no mínimo 32 tatames, perfazendo um total
no mínimo de 51,84 m2, assim dividida: Área interna, (Área de Combate),composta de
no mínimo 18 tatames de cor verde; Área de Segurança, composta de no mínimo 14
tatames de cor amarelo, vermelho ou qualquer cor diferente do verde.


4.4. A História de Jiu-Jitsu...

       A origem do Jiu-Jitsu se perde na noite dos tempos, acredita-se que no primeiro
ataque ou defesa de um ser humano - estaria caracterizado - “A luta em si”.
Evidentemente o instinto de ataque e defesa está latente no homem. A coordenação
desta agressividade, sua estilização e o respeito às “Leis da Natureza”, resultam na
criação das Artes Marciais que é uma ciência e estudo fundamentado na eficiência
destes. Dentre as Artes Marciais, o Jiu-Jitsu é uma das mais sutis, considerando que
nesta, o estudo da anatomia humana e seus pontos frágeis, o uso de alavancas, o
princípio da física e flexibilidade harmonizados com a mente, resultam numa das mais
requintadas artes. O Jiu-Jitsu tem como princípio básico utilizar o mínimo de força. Para
um bom resultado, aproveita-se a força e fraqueza adversária.

4.4.1. ...na Índia

       Segundo os antigos e o conhecimento verbal, esta arte (Jiu-Jitsu), teria se
iniciado na antiga Índia. Em especial pelos monges. Segundo os princípios religiosos os
monges não podiam usar de agressividade e sim desvencilhar de um súbito ataque ou
mesmo imobilizar o assaltante em suas peregrinações pelo mundo afora.

4.4.2. ...na China

        A China pôr sua vez caracterizou o Jiu-Jitsu como prática bélica, pois esta
civilização desenvolveu um grande número de estilos de artes marciais. O Jiu-Jitsu era
praticado com um kimono curto de mãos livres, além da luta corporal, tinha grande
importância no desarmamento. Sua prática chega no auge na época dos “Reinos
Combatentes” e na unificação da China por “ Chin Shih Huang Ti".

4.4.3. ...no Japão

       O Jiu-Jitsu chega ao Japão no séc.II depois de Cristo, advindo da China. Muitas
foram as correntes que transmitiram esta arte ao país do " Sol Nascente", inclusive,
existem inúmeras lendas nipônicas relacionadas à criação e artes marciais. A história
registrada em 1.600, afirma que um monge chinês "Chen Gen Pin" teria ensinado três
Samurais, a cada qual ensinara uma especialização a saber: Atemi, torções e
                                                                                      47
projeções. E estes difundidos a todo o japão, ou mesmo se fundindo com outras
escolas de jiu-jitsu. No Japão Feudal se utilizam inúmeros nomes relacionados com o
Jiu-Jitsu, alguns se divergiam em fundamentos técnicos outros eram extremamente
semelhantes; Aikijitsu, Tai Jitsu, Yawara, Kempô, e mesmo o termo Jiu-Jitsu se dividia
entre estilos como: Kito ryu, Shito Ryu, Tejin e outros. É nesta época, onde a forte
divisão da calsse social japonesa enaltecia a nobreza dos Samurais que o Jiu-Jitsu se
desenvolve a fundo. Os pequenos nipônicos aperfeiçoam a arte de lutar, onde poderiam
decidir a vida ou a morte de um guerreiro em disputa. Era então o Jiu-Jitsu, uma prática
obrigatória aos jovens que futuramente seriam "Samurais" ao lado da esgrima,
literatura, pintura, cavalaria e outros.

4.5. O Início no Brasil...

        Carlos Gracie, que fora treinado por Mitsuo Maeda passa pôr Minas Gerais e em
Belo Horizonte ministra algumas aulas num hotel da região. Em seguida vem para São
Paulo e no bairro das Perdizes monta uma academia. Sem o sucesso desejado se
instala no Rio de Janeiro e na Capital começa a ensinar, e também a seus irmãos:
George, Gastão, Hélio e Oswaldo. Hélio Gracie passa a ser o grande nome e difusor do
Jiu-Jitsu. Já instalado no Rio, forma inúmeros discipulos. George Gracie foi um
desbravador, viajou por todo o Brasil, no entanto, estimulou muito o Jiu-Jitsu em São
Paulo, tendo como alunos: Otávio de Almeida, Nahum Rabay, Candoca, Osvaldo
Carnivalle , Romeu Bertho e muitos outros. Alguns continuam na ativa. No Rio de
Janeiro mais especificadamente na zona oeste, o mestre “Fada” foi notoriamente um
dos baluartes do Jiu-Jitsu, tendo grande número de formados. Enquanto isso, na
mesma época de Mitsuo Maeda, outros japoneses continuaram difundindo o Jiu-Jitsu.
“Geo Omori” por exemplo, aceitava desafios no picadeiro do circo “queirolhos” e foi ele
também quem fundou a primeira Academia do Brasil, em São Paulo no Frontão do Braz
na Rua: Rangel Pestana , no ano de 1925 ( Segundo o historiador Inezil Penna). Os
irmãos Ono vieram ao Brasil na década de 30 advindos de um renomado mestre de Jiu-
Jitsu do Japão. Aqui no Brasil formaram muitos alunos mas acabaram por adotar a
prática do Judô. Takeo Yuano muito conceituado por sua exímia técnica, viajou por todo
o Brasil e ensinou Jiu-Jitsu em cidades como São Paulo e principalmente em minas
Gerais, onde lecionou e até estimulou a criação da Federação local.

4.5.1. ...no Rio de Janeiro

       Conhecida como a “Meca” do Jiu-Jitsu, por ter concentrado praticamente toda a
Família Gracie.Os grandes nomes da família Gracie depois de Hélio foram: Carlson e
Rolls Gracie. Atualmente Rickson Gracie é reconhecido como o melhor lutador do
mundo! A primeira organização do Brasil, foi a fundação da Federação Carioca,
formada por Hélio e continuada por Robson Gracie.Atualmente existe a Confederação
Brasileira e Mundial, comandadas por Carlos Gracie Júnior.

Existem inúmeros professores que não pertecem a família Gracie e executam
extraordinário trabalho como, Equipe Nova União, Alliance, Dojô, Bustamante na Zona
Oeste e Norte apresentam inúmeras acadêmias e muitos outras em todo o Estado.

                                                                                     48
Artes Marciais - Monografia
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  • 1. “ETE LAURO GOMES” AMAURI FREGONEZI JÚNIOR EDUARDO SANITÁ DOS SANTOS FAUSTO PEREIRA DE OLIVEIRA ORLANDO DA SILVA JUNIOR Artes Marciais São Bernardo do Campo 2005 1
  • 2. 2
  • 3. AMAURI FREGONEZI JÚNIOR EDUARDO SANITÁ DOS SANTOS FAUSTO PEREIRA DE OLIVEIRA ORLANDO DA SILVA JUNIOR ARTES MARCIAIS Profª Elisabete da Cunha Kulilius Língua Portuguesa e Literatura Ensino Médio 1º Ano F - Matutino São Bernardo do Campo 2005 3
  • 4. SUMÁRIO 1. Aikido 5 1.1. Introdução 5 1.2. Os lemas do Aikido 8 1.3. Técnicas 10 1.4. Glossário 16 2. Karatê 22 2.1. Introdução 22 2.2. O Fundador e a História 25 2.3. A competição do Karate-Do Tradicional 25 2.4. Terminologia 32 2.5. Organização do Karate-Do Tradicional 33 2.6. Karate-Do Shotokan – Técnicas Básicas 37 3. Judô 43 3.1. A Origem: Da China ao Jiu Jitsu 43 3.2. A chegada do Judô ao Brasil 43 3.3. À volta ao Brasil 44 3.4. A criação do Judô: Prof. Jigoro Kano funda o Kodokan 44 4. Jiu Jitsu 46 4.1. Introdução 46 4.2. Área de Competição 46 4.3. Área de Lutas 47 4.4. A História do Jiu-Jitsu 47 4.4.1. ...na Índia 47 4.4.2. ...na China 47 4.4.3. ...no Japão 47 4.5. O Início no Brasil... 48 4.5.1. ...no Rio de Janeiro 48 4.5.2. ...em São Paulo 49 5. Kung Fu 50 5.1. Definição 50 5.2. Por que praticar Kung Fu? 53 5.3. Estilos 54 5.4. História do Kung Fu 57 6. Conclusões 60 7. Bibliografia 61 4
  • 5. 1. AIKIDO AI – Harmonia KI - Espírito DO – Caminho O Aikido aparece oficialmente em 1931, pela mão de Ueshiba, também conhecido por "O Sensei". Conta a história, que Morihei Ueshiba e um Oficial Naval, discutiam sobre as Artes Marciais, e o Oficial o desafiou para um combate. O Oficial munido com uma espada de madeira investiu contra O Sensei, e este que se encontrava desarmado, foi sucessivamente evitando os ataques, até que por fim cansado e desanimado, o Oficial desistiu. Morihei contou mais tarde que, conseguiu prever todos os movimentos do atacante antes deste os executar, diz então, que foi aqui que se sentiu iluminado e se dedicou ao estudo deste fenômeno que deu origem ao Aikido, O Caminho da Harmonia e do Espírito. O objetivo do Aikido é atingir um estado em que o adversário é derrotado por si próprio, o praticante de Aikido não utiliza socos nem pontapés para o dominar.O praticante de Aikido entra em harmonia com o adversário em vez de o confrontar, e através de movimentos circulares, opostos aos lineares do opositor, rodeia-o acabando inevitavelmente por o levar ao desespero, desanimo e exaustão. A finalidade precípua de continuar difundindo os ideais do Gr: Mestre Morihei Ueshiba na sua mais pura originalidade. Foram seus ideais: (a) Fazer o homem sair do Ter e entrar no Ser; · (b) Fazer da luta a arte de não lutar; (c) Formar um grande dojô, figurativamente, onde todos de mãos dadas em circulo formassem uma unidade de equilíbrio, paz e bem estar, para fazer o mundo melhor. O Aikido em sua essência é a realização desses ideais, conforme se vê a seguir. (d) Fazer o homem sair do Ter e entrar no Ser, nada mais é que a unificação mente/corpo e, por conseguinte com o Universo. O ter é a técnica o ser, a essência. A técnica é a forma e a forma é passageira, desaparece com o tempo, com a idade. A essência é o KI, a força do Universo que dá vida tudo e a todas as coisas. O Ser não desaparece, vai além do físico, se perpetua com o espírito, é eterno. 5
  • 6. (e) Fazer da luta a arte de não lutar: A luta é um conflito racional físico alimentado pelo Ego dos contendores, onde o vencedor é o que apresenta a melhor técnica, ou maior força que, também, se determina como melhor forma. A forma está na linhagem do Ter. Por isso, é passageira, efêmera, se extingue com o tempo, com a doença. Transformar a luta em arte de não lutar é unir as duas forças em uma só. A força que cedeu para se unir à outra pode comandar a trajetória circular das duas juntas. Assim, evitada ficou a luta porque não houve conflito e sim, união. Daí, a afirmação do Gr:. Mestre: “no Aikido a luta acaba antes de começar.” (f) Formar um grande dojô, figurativamente, onde todos de mãos dadas, em circulo, formassem uma unidade de equilíbrio, paz e bem estar. Tinha em mente o Gr.: Mestre, através de seus discípulos, difundir o Aikido, levando essa essência de união, bem estar e equilíbrio para todos que desejassem participar dessa grande corrente de união para melhorar o mundo. É de salientar-se que o nome AIKIDO, quando pronunciado em uma reunião de Gurus no Peru, foi por eles identificado como o nome da arte de equilíbrio do terceiro milênio. Essa simples consideração dos Gurus que não tinham a menor idéia a respeito do Aikido demonstra a grande missão do Gr:. Mestre Morihei Ueshiba e nossa magna responsabilidade, como seus discípulos, na continuação dessa obra de equilíbrio e qualidade de vida para a humanidade. 1.1. O Criador do Aikido Mestre UESHIBA Morihei Ueshiba nasceu em Tanabe, Prefeitura de Nakayama, em Julho de 1880. Desde muito jovem o Mestre sentiu grande amor pelo Budo. O seu pai ensinou-lhe uma arte secreta com base no Tai-Jitsu e no Kendo - o "Aioiryu". Aos dez anos de idade o Ueshiba teve como seu primeiro professor Tozawa, e mais tarde o Mestre Tasakarsu Nakai que foi seu professor de Iaido e Kendo. Em 1904 há uma paragem nas suas pesquisas na prática das artes do Budo Japonês, surge a vida militar, e , na Manchúria participa na guerra Russo-Japonesa. Em Julho de 1908 teve o seu primeiro diploma no Dojo de Yagyu. Depois da guerra, Mestre Ueshiba, já então na plenitude da força física e mental, torna-se chefe da sua aldeia de Tanabe, admirado e respeitado pelos homens, dirige toda a região. Em 1910, parte para Hokaido, no norte do Japão, e desenvolve a terra à volta de Shirataki, na província de Kitani. Então com trinta anos de idade, o Mestre concentra-se no seu trabalho junto da natureza. Sendo um excelente cavaleiro, percorre toda a região apesar do tempo frio e pouco convidativo. Paralelamente ocupa-se de uma associação que servirá à realização de uma linha férrea de Sekihoku. Os seus esforços sinceros conquistaram os habitantes de Shirataki, os quais, confiantes vinham de toda a região pedir-lhe conselhos. Em 1911 encontrou o Mestre Sokaku-Takeda, que lhe ensinou as técnicas da escola Daito-Ryu. O contato com o Mestre Takeda foi decisivo, pois pela primeira vez sentiu em si a germinação do seu método pessoal de Aiki. Em Dezembro de 1919 recebe um telegrama em Hokaido avisando-o do grave estado de saúde de seu pai Yokoku. O mais depressa que pode deixou Shirataki onde se encontrava já há alguns anos e para mostrar toda a sua 6
  • 7. gratidão e respeito, deixa todos os seus bens e propriedades ao Mestre Sokaku- Takeda. Morihei chegou tarde demais a Tanabe devido à sua decisão de viajar na direção de Ayabe ( local da religião Omoto) , prefeitura de Kyoto, para visitar um Mestre detentor de um grande poder espiritual - o reverendo Wasisaguro Deguchi com o objetivo principal de procurar as melhoras de seu pai por meio de orações. Este encontro foi uma revelação para o Mestre Ueshiba. De regresso a Tanabe, e com grande desespero, soube da morte de seu pai; então tudo se transformou nele, prometeu libertar a sua alma e devolvê-la, para atingir o segredo verdadeiro do Budo. Em Aybe, região selvagem e montanhosa, decide retirar-se na natureza e morar numa cabana, meditando nas florestas e montanhas que são para ele um magnífico Dojo. Em 1925, ano da sua iluminação, a sua meditação atinge um estado ultimo, em que finalmente descobre a nova dimensão do Budo. O próprio Mestre conta esse dia: " Quando meditava, tive de repente a consciência de que a terra e o céu estavam em vibração. Rodeou-me uma espécie de aura, deixei de sentir o meu corpo. O meu corpo e o meu espírito iluminaram-se. Compreendi a linguagem dos pássaros e apercebi-me claramente do espírito do criador deste Universo. De repente compreendi que a fonte do Budo era Deus. Lágrimas de alegria inundaram a minha cara e senti que toda a terra era a minha casa e que o sol, a lua e as estrelas se tornavam as minhas próprias coisas. Fiquei liberto de todo o desejo, não somente do desejo de glória e do prestigio, mas também do desejo de ser forte. Compreendi que o espírito do Budo era a paz, o seu treino era entregar a todas as coisas o amor de Deus". Mais tarde o Mestre Ueshiba explicou: " A via do Budo consiste em tornar nosso o coração do Universo e realizar a nossa profunda missão de amor e proteção por todos os seres. As técnicas não são mais do que uma maneira de atingir esse fim "O Mestre Ueshiba acabava de atingir a fonte do seu Aikido. O Aikido tinha nascido como resultado de uma procura intensa. Ainda ficou dois anos afastados do mundo, no entanto a sua reputação era tal que muitas pessoas, mesmo Mestres de Budo, vinham vê-lo para beneficiar dos seus ensinamentos. Em 1927 vai a Tóquio. O príncipe Shimazu convida-o para o seu castelo, onde ensina à corte imperial. Pouco a pouco a atenção do grande público volta- se para este novo Budo e aumentam os pedidos para serem seus discípulos. Em 1928, muda-se para um Dojo que depressa se torna pequeno. Após seis meses, em 1929, devido ao elevado número de alunos, organiza a construção de um Dojo principal. É então que Jigoro Kano, fundador do Judo, o visita, e ao vê-lo em ação diz: "É o meu Budo ideal" e mandou professores de Judo receber esse ensinamento. De 1931 a 1935 foi à idade de ouro do Aikido. Os discípulos trabalhavam apaixonadamente, com uma verdadeira sede de aprender. Levantavam-se às cinco horas para varrer o Dojo, para que tudo estivesse pronto para a chegada do Mestre, às seis e meia. Entre os jovens discípulos, alguns vieram mais tarde a serem Mestres de renome: Riugiro, Shiguemi, Yunekama, Tsuyoshi Shiota, Kenji Tomiki, Tesshin Hoshi, Gozo Shioda, etc. A guerra rebentou em 1914 e em Tóquio o Mestre, com o filho ao seu cuidado e responsável pelo seu ensinamento, volta para junto da natureza, na cidade de Iwama, prefeitura de Ibaraki, compra um terreno e erige um templo Aiki. Dedicou-se então junto com seus discípulos à agricultura e ao Budo. Os discípulos viviam com ele, trabalhavam os campos e procuravam juntos a via do Aikido. Esta vida prolongou-se mesmo após a guerra ter terminado. 7
  • 8. 1.2. Os Lemas do Aikido 1 - MANTER A DISCIPLINA. 2 - NÃO SE ENERVAR. 3 - NÃO SE ENTRISTECER. 4 - NÃO POSSUIR SENTIMENTO HOSTIL. 5 - SER COMPREENSIVO. 6 - SER TRANQUILO. 7 - SER PACÍFICO. 8 - MANTER A ÉTICA. 9 - FAZER AMIZADE COM TODOS. 10 - RESPEITAR A DEUS E AS PESSOAS. 11 - SER HUMILDE. 12 - SER JUSTO E HONESTO. 13 - CONSCIENTIZAR-SE QUE O AIKIDÔ REPRESENTA O CAMINHO DE DEUS. 14 - CONSCIENTIZAR-SE DE QUE A PRÁTICA DO AIKIDÔ TEM POR PRINCÍPIO O AUTO CONHECIMENTO. ALGUMAS REGRAS DE ETIQUETA E COMPORTAMENTO NO DOJO: 1) É responsabilidade de todos manter as regras tradicionais de conduta no Dojo. Este espírito vem do Fundador e deve ser respeitado, honrado e mantido. 2) É de responsabilidade de todos criar uma atmosfera positiva de harmonia e respeito. 3) O Dojo não deve ser utilizado para outro fim a que se destina, salvo expressa ordem de Sensei. 4) A limpeza é uma oração de agradecimento, é dever de todos executar a limpeza física e do coração de todos. 5) É decisão do Sensei quando ele deve ensinar alguma técnica. Não se pode comprar técnicas. A mensalidade é uma pequena parcela para ajudar a pagar as despesas para o local de treinamento e é uma forma muito pequena de demonstrar a gratidão do aluno ao mestre pôr seus ensinamentos. 6) Respeitar, Respeitar, Respeitar, é um pensamento contínuo no Dojo. 7) É um dever moral de todos usar as técnicas para fins pacíficos visando sempre construir. 8) Não deve haver conflitos do Ego no tatami. Aikidô não é um ringue de competição de vaidade. 8
  • 9. 9) A insolência jamais será tolerada, devemos ter consciência de nossas limitações. 10) Cada pessoa tem condições, e razões diferentes para treinar. Devemos respeitar suas expectativas. 11) Jamais se deve contra argumentar com o professor. 12) Jamais deixe de fazer a reverência ao Kamizá ao entrar e sair do Dojo. 13) Respeite seu uniforme de treinamento, deve estar sempre em boas condições e de aparência. 14) O Dojo não é uma praia, sente-se sempre em seiza ou com as pernas cruzadas no estilo japonês, no caso de ter problemas no joelho. 15) Quando o Sensei demonstra uma técnica, fique sempre em Seiza, após, faça uma reverência, e comece imediatamente a praticar. 16) Quando o final de uma técnica é assinalada, cumprimente o parceiro e vá imediatamente para seu lugar de início da aula. 17) Se for absolutamente necessário perguntar algo ao Sensei, vá até ele, não o chame para si. 18) Respeite os alunos mais experimentados, jamais discuta se as técnicas estão erradas ou não. 19) Se você não é Yudansha, não corrija ninguém. 20) Não converse em cima do Tatami. Aikidô é experiência. 21) É responsabilidade de todos manter o Dojo limpo, de preferência deve ser varrido diariamente. 22) Não se devem usar jóias, mascar coisas no tatami. Além do corpo somente se usa o uniforme. "Aikidô" não é religião, mas a educação e o refinamento do espírito. Você não será convidado a aderir a nenhuma doutrina religiosa, mas somente a manter o espírito aberto. Quando se inclina em uma reverência, isto não é um procedimento religioso, mas sim um sinal de respeito ao mesmo espírito de Inteligência Criativa Universal que está com todos nós. 9
  • 10. 1.3. Técnicas Os movimentos esféricos, livres e espontâneos, são característicos das técnicas que formam a base do Aikido. No que concerne a movimentos de corpo envolvendo giros e esquivas (Tai - Sabaki), os movimentos esféricos formam a essência da prática. Esta ênfase no dinamismo conduziu a diversas evoluções interessantes. Por exemplo, apesar do fato de que o Aikido lida com técnicas contundentes, tais como pancadas (atemi) e chaves de pulso, herdadas das antigas artes de combate, a ênfase na rotação esférica dá a impressão visual de uma dança coreografada, fluindo suavemente, refinada e delicada. Além disso, muitas técnicas criam um grande arco, tal qual ao se projetar um oponente ou quando ele é conduzido ao solo. No entanto, o Aikido pode ser aplicado também em espaço limitado. Isto deve-se aos movimentos esféricos do Aikido, em contraste com os movimentos lineares de outras formas de arte marcial, onde os golpes diretos, para a frente ou para trás, dão a aparência de uma maior violência e requerem uma área muito maior para sua execução. Na verdade, as técnicas, que eram originalmente duras e brutais, foram amaciadas e refinadas pela ênfase nos movimentos esféricos, e as técnicas que requeriam grande espaço foram contidas dentro de uma pequena esfera. Esta é provavelmente uma das razões porquê o Aikido é visto como uma arte altamente sofisticada. Deve ser salientado, porém, que os movimentos esféricos no Aikido não foram criados com o sentido de se refinar a arte ou com o objetivo de se criar uma defesa passiva. O objetivo explícito era positivo: subjugar e controlar a força do oponente. O Aikido nasceu da luta para responder perguntas como estas: “O que faria eu quando confrontado por alguém mais forte?; Como posso subjugar um oponente sem o uso de armas de qualquer espécie?; Qual a forma mais racional de se dominar um oponente, mantendo-se a integridade do Budo, sem o apelo à violência temerária ou ardis psicológicos?; Como podemos conceber uma defesa contra alguém superior em tamanho, força e experiência?” Em resposta a tais questões, Mestre Ueshiba desenvolveu, como base do Aikido, o princípio da rotação esférica, como um desafio moderno às artes marciais tradicionais. O Fundador se aperfeiçoou em diversas formas de Jujutsu, como as escolas Kito e Daito, e treinou a espada tradicional da escola Shinkage. Não satisfeito com o que aprendeu, ele submeteu-se a um treino e a uma disciplina rigorosa e, tendo a filosofia do “nen” como base, advogou uma manifestação do ser, livre e espontânea, através do movimento esférico. O princípio de que o macio controla o duro, o flexível conquista o rígido, encontrado no Jujutsu clássico, foi adotado pelo Mestre Ueshiba na sua formulação do Aikido, mas com uma diferença fundamental. No Jujutsu antigo se ensinava: “quando empurrado, puxe para trás; quando puxado, empurre para frente”. Nos movimentos esféricos do Aikido, isto fica assim: “quando empurrado, gire e contorne; quando puxado, entre e circule”. Isto quer dizer que devemos nos locomover em movimentos circulares em resposta ao oponente e enquanto nos movemos esfericamente, mantemos nosso centro de gravidade, criando um eixo estável de movimento. Ao 10
  • 11. mesmo tempo, o centro do oponente é desequilibrado e quando ele perde o seu centro ele perde também todo o seu poder, sendo então dominado rápida e decisivamente. Assim como no caso de um corpo esférico, o centro é estável e o movimento é gerado deste ponto imóvel. Este movimento esférico pode controlar qualquer força contrária através de técnicas geradas deste centro, gracioso, mas ao mesmo tempo carregado de poder infinito. Nós podemos citar as leis da Física, como as forças centrífuga e centrípeta, para explicar os movimentos do Aikido, mas a sua beleza essencial vem da unia o do ki-mente-corpo. Porque é uma experiência de uma pessoa una, integrada, uma análise objetiva realmente não acrescenta nada a nossa compreensão, somente a maestria. Jo No aikido além de técnicas de mãos vazias, treinamos também com armas brancas. São eles o Jo (bastão curto), o Bokken (espada de madeira) e o Tanto (faca de madeira). Essa prática favorece o aprendizado de algumas noções básicas da movimentação e postura corporal que são úteis na prática dos exercícios de tai-jutsu (corpo-a-corpo). O Jo é um bastão curto (a medida deve corresponder aproximadamente à altura da linha do ombro do praticante), que permite uma movimentação variada tanto para o ataque quanto para a defesa. Além do aikido existem outras artes marciais que se utilizam do Jo, tal como o JO-DO. As técnicas de Jo podem ser praticadas por meio de KATAS (formas) individuais ou em par. Essas sequências auxiliam o praticante a memorizar e absorver as técnicas de ataque e defesa, assim como desenvolver o "timing" dos movimentos. Fig.1 – Técnica individual de Jo 11
  • 12. Ashi Sabaki (trabalho dos pés) A execução correta das técnicas do Aikido envolve uma aplicação dinâmica e conjunta dos movimentos dos membros superiores e inferiores de nosso corpo. Logicamente a aplicação exige muito mais que simplesmente este controle físico, mas podemos dizer ao iniciante que o domínio dos movimentos dos pés é um fator essencial para a execução eficiente das técnicas básicas do Aikido. Quando executamos um Kata sem o cuidado de nos locomover de forma correta, muito provavelmente a eficiência será prejudicada em algum ponto. É muito diferente quando conhecemos os movimentos corretos de pé para uma determinada forma técnica, como por exemplo um Ikyo Omote. Conhecendo os movimentos de pé básicos referentes à esta técnica em particular, sua execução será realizada com muita mais eficiência e facilidade. Tivemos a chance de receber aqui no Brasil nos últimos anos, vários professores que também colocam muita ênfase neste trabalho dos pés, mas um em especial deixou bem claro a importância deste tipo de trabalho de base no Aikido, foi o Sensei Yamada. Em um de seus primeiros seminários ministrados aqui, demonstrou este trabalho isolado dos pés. Os diagramas que seguem neste artigo são baseados em muito no que ele nos transmitiu. No Aikido existem 6 movimentos básicos de pé: Okuri Ashi(Deslize iniciando-se com o pé da frente), Tsuri Ashi(Deslize iniciando-se com o pé de trás), Ayumi Ashi(Andar com os pés apontados para fora), Tenkan Ashi(Giro com um pivô), Kaiten(Giro com dois pivôs) e Irimi Ashi(Passo). Estes aplicados em conjunto dão origem à diferentes técnicas tais como Dai Iti Kyo, Shiho Nague, etc... Compõem o Ashi Sabaki, os movimentos: Okuri Ashi Técnica muito utilizada nos movimentos de entrada Omote. Sua execução correta faz com que o praticante consiga um avanço igual ou às vezes até mesmo maior que uma medida de seu Kamae (Refere-se a medida tomada da distância entre os pés, na postura de Kamae). 12
  • 13. Fig. 2 – Kamae do Okuri Ashi Tsuri Ashi É semelhante ao movimento anterior, mas a execução inicia-se pelo pé de trás. A distância alcançada por este movimento é maior que o anterior, e pode chegar a 3 medidas do Kamae. É um movimento pouco usado, e tem sua aplicação mais característica no Dai Yon Kyo Omote. Fig. 3 – Kamae do Tsuri Ashi 13
  • 14. Ayumi Ashi Forma de andar que usualmente utilizamos durante a prática do Aikido caracteriza-se pela posição dos dedos dos pés(para fora). As técnicas de Kokyu Ho e Sokumen Irimi Nague freqüentemente utilizam-se deste passo. Fig. 4 – Ayumi Ashi no Aikido Tenkan Ashi O Tenkan Ashi é um dos movimentos mais utilizados na aplicação das técnicas do Aikido. Seu movimento circular de 180°(forma padrão) é utilizado na aplicação de quase todas as técnicas Ura. 14
  • 15. Fig. 5 – Tenkan Ashi no Aikido Kaiten Ashi como o passo anterior, também é um movimento circular de 180°. Este movimento é freqüentemente utilizado na finalização de muitas técnicas, sendo que quase sempre ele é terminado com um dos joelhos no chão. Fig. 6 – Kaiten Ashi no Aikido 15
  • 16. Irimi é um simples passo para frente, sendo que ao avançarmos simplesmente nos posicionamos em um novo Kamae. É um movimento muito usado nas técnicas onde é necessária uma entrada rápida de corpo. Estes seis passos são a base da movimentação de pernas das técnicas do Aikido. Ao executarmos estes passos de forma conjunta, diferentes técnicas são criadas. No próximo artigo darei mais detalhes sobre as conjugações possíveis entre estes passos básicos e a estrutura fundamental de algumas técnicas do Aikido. Fig. 7 - Irimi 1.4. Glossário A AGE (ague) – Movimento ascendente. AGO – Queixo. AI – União, comunhão. AI HANMI – Posição de guarda utilizada no aikido, com os dois praticantes com o mesmo lado à frente ( direita com direita ou, esquerda com esquerda). AIKI – União do Ki. AIKIDO – Caminho da união da energia vital. 16
  • 17. AIKIDOKA – Praticante de aikido. AIUCHI (aiuti) – Atingir seu oponente no mesmo instante que ele nos atinge. ASHI – Pé. ASHI KUBI – Tornozelo. ATAMA – Cabeça. ATEMI – Golpe em região do corpo. ATEMI WASA – Técnicas de Atemi. AWASE – Treino onde os oponentes fazem os movimentos juntos, em harmonia. B BANZAI – Saudação cujo significado é "viva". BO – Bastão. BOKKEN – Espada de madeira, com formato de uma katana (espada japonesa) também utilizada na prática do aikido. BOKUTO – O mesmo que BOKKEN. BUDO – Arte Marcial. BUNKA – Cultura. BUSHI – Guerreiro, samurai. BUSHIDO – Caminho dos samurais. C CHI – O mesmo que KI em chinês. CHÜDAN (tyudan) – Altura intermediária, a altura do peito. D DAN – Grau obtido na faixa preta. DESHI – Discípulo. DÖ (doo) – Caminho, vereda espiritual. DÖGI (doogui) – Uniforme para a prática de uma arte marcial. DOJO – Lugar onde se pratica uma disciplina marcial, onde se trilha o caminho. DÖMO ARIGATO GOZAIMASU (doomo ...) – "Muito obrigado" em japonês. DÖSHU (dooshu) – A pessoa que mostra, que lidera o caminho; no caso do aikido atualmente representado pelo Sensei Moriteru Ueshiba, neto do fundador do aikido. DÖZO (doozo) – "Por favor" em japonês. E EMPI – Cotovelo. ERI – Gola, colarinho. F FUKUSHIDOIN – Professor assistente. FUMU – Pisar. 17
  • 18. FUNAKOGI UNDO (funacogui ...) – Exercício de remo para fortalecer quadris e postura. FUTARI GAKE – Defesa contra dois adversários. G GEDAN (guedan) - Altura inferior. GO - Cinco. GODAN – Quinto grau. GYAKU (guiaku) – Reverso, oposto. GYAKU HANMI - Posição de guarda utilizada no aikido, com os dois praticantes com os lados opostos à frente ( direita com esquerda ou, esquerda com direita). H HAKAMA – Vestimenta similar a uma calça utilizada pelos praticantes do aikido. HANMI – Posição de meio corpo. HARA – Abdômen. HATI - Oito. HIDARI – Esquerda. HITI - Sete. I IKKYO – Primeiros ensinamentos, no aikido se refere à primeira técnica básica. IRIMI – Movimento de entrada de corpo feito pelo defensor se deslocando à frente do atacante ou atrás do mesmo. ITI - Um. J JO – Bastão curto, utilizado nos treinos de aikido. JODAN – Altura superior. JODO – A arte do bastão. JOTORI – Técnica de defesa contra ataque de bastão. JU - Dez. JUDAN – Décimo grau, graduação máxima nas artes marciais. K KAMAE – Posição de guarda e prontidão. KAMI – divindade, muitas vezes traduzido como "deus". KATA – Forma, séries de movimentos pre-definidos que podem ser executados individualmente ou em par para treinamento de técnicas. KATA – Ombro. KATADORI – Pegada efetuada no ombro (equivalente a KATATORI). KEIKO – Treino. KEN – Espada. 18
  • 19. KENDO – Arte da espada. KI –Energia interior. KOKYU – Respiração. KOSHI – Cintura. KOSHINAGE (koshinague)– Projeção executado sobre a cintura. KUBI – Pescoço. KUBISHIME – Enforcar. KYU - Nove. KYU – Classe, grau; nas artes marciais se referem ao sistema de graduação abaixo do SHODAN (primeiro Dan). KYUDAN – Nono grau. M MAAI – Espaço, distância; espaço apropriado entre dois praticantes para a aplicação das técnicas. MENUCHI (men-uti) – Ataque visando a cabeça. MIGI (migui) – Direita. MISOGI (missogui) – Purificação, absolvição. MOCHI (moti) – Segurar, agarrar. MUNADORI – Pegada efetuada na altura do peito (equivalente a MUNATORI). N NAGE (nague) – projeção NAGINATA (naguinata) – Arma longa similar a um bastão com uma espada na ponta. NANADAN – Sétimo grau. NI - Dois. NIDAN – Segundo grau. NIKYO – Segunda etapa de aprendizado; no aikido se refere à segunda técnica básica. O OMOTE – Frente. OMOTO – Religião criado no século XIX, o qual pertencia Morihei Ueshiba, fundador do Aikido. O-SENSEI – Grande Mestre; termo de respeito utilizado no aikido se referindo a seu fundador Morihei Ueshiba. R REI – Reverência; executado antes e depois de sessões de treinamentos de artes marciais. ROKU - Seis. ROKUDAN – Sexto grau. RYU – Estilo, escola; sufixo que indica escola ou estilo de artes ou disciplinas tradicionais japonesas. 19
  • 20. S SAMURAI – Guerreiro; no Japão se utiliza também o termo BUSHI. SAN - Três. SANDAN – Terceiro grau. SANKYO – Terceira etapa de aprendizado; no aikido se refere à terceira técnica básica. SATORI – Iluminação espiritual; termo bastante utilizado no zen-budismo. SEIKA-TANDEN – Ponto central do abdômen, um pouco abaixo do umbigo; considerado o centro espiritual e físico do ser humano bastante enfocado no Aikido. SEIZA – Posição sentada segundo as tradições japoneses. SENSEI – Professor, instrutor. SHICHIDAN (hitidan) – Sétimo grau. SHIAI – Disputa, competição. SHIHAN – Instrutor mestre; corresponde no Aikido a mestres com sexto grau (6o Dan) ou acima. SHIKKO – Caminhar ajoelhado; forma de caminhar sobre os joelhos a partir da posição de seiza SHODAN – Primeiro grau. SODE – manga. SODETORI – Pegada na manga. T TACHI (tati) - Vertical, em pé. TACHIDORI (tatidori)– Técnicas de desarmamento contra oponente portando uma espada. TACHIWAZA (tatiwaza)– Técnicas em pé. TANTO – Espada curta, similar a uma faca ou adaga. TATAMI – Esteira fabricada com bambus; utilizada em artes marciais que envolvem técnicas de queda. TE – Mão. TEGATANA – "Espada" da mão utilizada em técnicas de ataque, para acertar o oponente. TEKUBI – Pulso. TENKAN – Giro; utilizada para se referir a um movimento de giro executado como base de muitas técnicas do Aikido. U UCHI (uti) – Batida, golpe. UCHIDESHI (utideshi)– Discípulo ou estudante que vive temporariamente com um mestre para adquirir conhecimento e em troca o auxilia por meio de prestação de serviços. UKE – Aquele que recebe; no Aikido é aquele que faz o papel do atacante e que recebe o golpe de defesa. UKEMI – Queda ou técnica de queda. 20
  • 21. W WAZA – Técnica. Y YARI – Lança. YOKO – Lado. YOKOMEN – Lateral da cabeça. YOKOMENUCHI (yokomen - uti)– Golpe na parte lateral da cabeça. YON - Quatro. YONDAN – Quarto grau. YONKYO - Quarta etapa de aprendizado; no aikido se refere à quarta técnica básica. Z ZANSHIN – Foco ou concentração após a execução de uma técnica em que a conexão com o atacante ainda permanece. ZAZEN – Posição de meditação (sentado). 21
  • 22. 2. KARATE-DO TRADICIONAL Fig. 8 – Karate-Do em japonês Acima, caligrafia de Tsubouchi Hisako Sensei 2.1. Introdução O Karate-Do Tradicional é uma arte marcial originada a partir das técnicas de defesa pessoal sem armas de Okinawa, e tem como base a filosofia do Budo japonês. Os objetivos do Karate-Do Tradicional são definidos pela filosofia do Budo, que se traduz na busca constante pelo aperfeiçoamento pessoal, sempre contribuindo para a harmonização do meio onde se está inserido. Através de muita dedicação ao trabalho, treinamento rigoroso e vida disciplinada, o praticante de Karate-Do Tradicional caminha em direção dessas metas, formando seu caráter, aprimorando sua personalidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que o Karate-Do Tradicional contribui para a formação integral do ser humano, não podendo, portanto, ser confundido com uma prática puramente esportiva. "Tradição é um conjunto de valores sociais que passam de geração à geração, de pai para filho, de mestre para discípulo, e que está relacionado diretamente com o crescimento, maturidade, com o indivíduo universal." [Johannes] Cada pessoa pode ter objetivos diferentes ao optar pela prática do Karate-Do Tradicional, objetivos estes que devem ser respeitados. Cada um deverá ter a oportunidade de atingir suas metas, seja-as tornar-se forte e saudável, obter autoconfiança e equilíbrio interior ou mesmo dominar técnicas de defesa pessoal. Autocontrole, integridade e humildade resultarão do correto aproveitamento dos impulsos agressivos existentes em todos nós. A famosa expressão do mestre Gichin Funakoshi - "Karate Ni Sente Nashi" - define claramente o propósito antiviolência do Karate-Do Tradicional: "No Karate não existe atitude ofensiva". 22
  • 23. "Se o adversário é inferior a ti, então por que brigar? Se o adversário é superior a ti, então por que brigar? Se o adversário é igual a ti, compreenderá, o que tu compreendes... Então não haverá luta. Honra não é orgulho, é consciência real do que se possui “. O Karate-Do Tradicional também pode ser visto como uma ótima ferramenta de manutenção da saúde, uma vez que suas técnicas contribuem para a formação de hábitos saudáveis como os cuidados com a postura, a respiração com o diafragma e a meditação Zen. Entende-se como saúde não só o estado de "ausência de doenças", mas também o bem-estar físico, mental e espiritual do ser humano. Como defesa pessoal, o Karate-Do Tradicional mostra eficiência e eficácia em suas técnicas, possibilitando ao lutador defender-se de qualquer tipo inimigo. No entanto, mais que um simples conjunto de técnicas, o Karate-Do Tradicional ensina ao seu praticante algo muito além do confronto físico, que é a intuição e o discernimento perante uma situação de perigo, permitindo ao lutador captar a intenção do adversário, avaliar a situação e tomar uma atitude correta e consciente. O verdadeiro valor do Karate não está em sobrepujar os outros pela força física. Nesta arte marcial não existe agressão, mas sim nobreza de espírito, domínio da agressividade, modéstia e perseverança. E, quando for necessário, fazer a coragem de enfrentar milhões de adversários vibrar no seu interior. É o espírito dos samurais. 23
  • 24. 2.2. O Fundador e a História Fig. 9 – Mestre Gishin Funakoshi A história do Mestre Gishin Funakoshi se confunde com a própria história do Karatê, por isso a ele é creditado o título de "pai do Karatê moderno", devido aos seus esforços em divulgar essa arte para o mundo e torná-la acessível a todos. Gishin Funakoshi nasceu em 1869 em Shuri, distrito de Yamakawa-Cho, Okinawa, no mesmoano da Restauração Meiji.Era filho único, e logo após o seu nascimento fora levado para a casa dos seus avós maternos, com quem foi educado e aprendeu poesias clássicaschinesas. Algum tempo depois ele começou a freqüentar a escola primária, onde conheceu outro garoto de quem ficou muito amigo.Esse garoto era filho de Yasutsune Azato, um dois maiores especialistas de Okinawa na arte do Karatê, e membro de uma família das mais respeitadas. Logo Funakoshi começava a tomar suas primeiras lições de Karatê.Na época a prática de artes marciais era proibida em Okinawa, e os treinos eram realizados à noite, no quintal da casa do Mestre Azato.Lá ele aprendia a socar, chutar, e mover-se conforme os métodos praticados naqueles dias. O treinamento era muito rigoroso.Mestre Azato tinha uma filosofia de treinamento que se chamava "Hito Kata San Nen", ou seja, "um Kata em três anos". Funakoshi estudava cada Kata a fundo, e então, apenas quando era autorizado pelo seu mestre, seguia para o próximo. Enquanto praticava no quintal de Azato com outros jovens, outro 24
  • 25. gigante do Karatê, Mestre Itosu, amigo de Azato, aparecia e observava-os fazendo os Katas, tecendo comentários sobre suas técnicas.Era uma rotina dura que terminava sempre de madrugada sob a disciplina rígida do mestre Azato, do qual o melhor melhor elogio se limitava a uma única palavra: "Bom!". Após os treinos, já quase ao amanhecer, Azato falava sobre a essência do Karatê. Após vários anos, a prática do Karatê deu grande contribuição para a saúde de Funakoshi, que fora uma criança muito frágil e doentia.Ele gostava muito do Karatê, mas como não pensava que pudesse fazer dele uma profissão, inscreveu-se e foi aceito como professor de uma escola primária, em 1888, aos 21 anos, aproveitando toda sua cultura adquirida desde a infância quando seus avós lhe ensinavam os Clássicos Chineses. Esta deveria ser sua carreira a partir de então. Prestou exame na Escola de Medicina de Tóquio, no qual foi aprovado, mas devido a uma nova lei que proibia aos homens o porte do CHON MAGE (símbolo de virilidade e da maturidade) não pôde realizar seus estudos.E por esse motivo voltou-se para a pratica e estudo aprofundado do Karatê, no qual se tornaria posteriormente seu representante máximo. Ele tinha uma personalidade marcante e alguns aspectos como natural benevolência, distinção de maneiras e ímpar gentileza e respeito a todos, além de uma energia forte, muita coragem, determinação e força mental altamente capacitada, o tornaram uma figura que, para muitos era sinônimo de alguém "mais que humano", um "tatsujin" (indivíduo fora do comum) ainda mais se contrastando suas virtudes com seu porte físico pequeno (1,67m. para 67 Kg.), sendo admirado por seus contemporâneos. No começo deste século, em 1902, durante a visita de Shintaro Ogawa, que era então inspetor escolar da prefeitura de Kagoshima, à escola de Funakoshi em Okinawa, foi feito uma demonstração de Karatê. Funakoshi impressionou bastante devido ao seu status de educador.Ogawa ficou tão entusiasmado que escreveu um relatório ao Ministério da Educação elogiando as virtudes da arte. Foi então que o treinamento de Karatê passou a ser oficialmente autorizado nas escolas. Até então o Karatê só era praticado atrás de portas fechadas, mas isso não significava que fosse um segredo.As casas em Okinawa eram muito próximas umas das outras, e tudo que era feito numa casa era conhecido pelas outras casas adjacentes.Enquanto muitos autores pregam o Karatê como sendo um segredo naquela época, ele não era tão secreto assim. O Karatê era "oficialmente" secreto (do mesmo modo que os Estados Unidos nunca penetraram no Camboja durante a guerra do Vietnã).Contra os pedidos de muitos dos mestres mais antigos de Karatê, que eram a favor de manter tudo em segredo, Funakoshi trouxe o Karatê, com a ajuda de Itosu, até o sistema de escolas públicas. Logo, as crianças na escola estavam aprendendo os Katas como parte das aulas de Educação Física. A redescoberta da herança étnica em Okinawa era moda, então as aulas de Karatê em Okinawa eram vistas como uma coisa legal.Alguns anos depois, o Almirante 25
  • 26. Rokuro Yashiro (na época Capitão) assistiu a uma demonstração de Kata.Essa demonstração foi feita por Funakoshi junto com uma equipe composta por seus melhores alunos.Enquanto ele narrava, os outros executavam Katas, quebravam telhas, e geralmente chegavam ao limite de seus pequenos corpos. Funakoshi sempre enfatizava o desenvolvimento do caráter e autodisciplina nas suas narrações durante essas demonstrações.Quando ele participava, gostava de executar o Kata Kanku Dai, o maior do Karatê, e talvez o mais representativo.Yashiro ficou tão impressionado que ordenou a seus homens que iniciassem o aprendizado na arte. Em 1912, a Primeira Esquadra Imperial da Marinha ancorou na Baía de Chujo, sob o comando do Almirante Dewa, que selecionou doze homens da sua tripulação para estudarem Karatê durante uma semana.Foi graças a esses dois oficiais da Marinha que o Karatê começou a ser comentado em Tokyo.Os japoneses que viam essas demonstrações levavam as histórias sobre o Karatê consigo quando voltavam ao Japão. Pela primeira vez na sua história, o Japão acharia algo na sua pequena possessão de Okinawa além de praias bonitas e o ar puro. Em 1921, o então Príncipe Herdeiro Hirohito, em viagem para Europa, fez escala em Okinawa e assistiu uma demonstração de Karatê, liderada por Funakoshi, e ficou muito impressionado.Por causa disso, no final desse mesmo ano, Funakoshi foi convidado para fazer uma demonstração de Karatê em Tokyo, numa Exibição Atlética Nacional.Ele aceitou imediatamente, acreditando ser esta uma ótima oportunidade para divulgar a arte. Sua demonstração de Kata foi um sucesso.Ele pretendia retornar logo para Okinawa, mas, depois da exibição, Funakoshi foi cercado por pedidos para ficar no Japão ensinando Karatê. Uma das pessoas que pediu para que ele ficasse foi Jigoro Kano, o fundador do Judô e presidente do Instituto Kodokan. Funakoshi resolveu ficar mais alguns dias para fazer demonstrações técnicas no próprio Kodokan. Algum tempo depois, quando se preparava novamente para retornar a Okinawa, foi visitado pelo pintor Hoan Kosugi, que já tinha assistido a uma demonstração de Karatê em Okinawa, e pediu que ele lhe ensinasse a arte. Mais uma vez sua volta foi adiada.Funakoshi percebeu então que se ele quisesse ver o Karatê propagado por todo o Japão ele mesmo teria que fazê-lo.Por isso resolveu ficar em Tokyo até que sua missão fosse cumprida.Kosugi foi uma das pessoas que convenceram Funakoshi a ensinar Karatê no Japão. Ele também o convenceu a registrar todo o seu conhecimento em um livro e prometeu presenteá-lo com uma pintura para a capa. Essa pintura (desenho ao lado), o Tora No Maki ("Tora" em japonês quer dizer tigre, e "Maki" em japonês quer dizer rolo ou enrolado), foi usada para ilustrar a capa do livro "Karate-Do Kyohan" para simbolizar força e coragem. A irregularidade do círculo indica que provavelmente ele foi pintado com uma única pincelada. O caractere ao lado da cauda do tigre (em cima à direita) é parte da assinatura do artista. No Japão, Funakoshi foi ajudado por Jigoro Kano, o homem que reuniu tantos estilos diferentes de Jiu Jutsu para criar o Judô. Kano tornou- se amigo íntimo de Funakoshi, e sem sua ajuda nunca teria havido Karatê no Japão. 26
  • 27. Kano o introduziu as pessoas certas, levou-o às festas certas, caminhou com ele através dos círculos sociais da elite japonesa. Mais tarde naquele ano, as classes mais altas dos japoneses se convenceram do valor do treinamento do Karatê. Funakoshi fundou um Dojo de Karatê num dormitório para estudantes de Okinawa, em Meisei Juku. Ele trabalhou como jardineiro, zelador e faxineiro para poder se alimentar enquanto ensinava Karatê à noite. Em 1922, fora escolhido para representar a arte de Okinawa em uma apresentação em Tóquio para demonstrar a arte do Karatê. Como já tinha mais de cinqüenta anos, não correspondia, ao mito do “budoka terrível” que o Japão procurava fazer sobreviver, na época, e mesmo assim a sua apresentação foi muito bem sucedida. Muitos aspectos da personalidade de Funakoshi passaram a ser conhecidos através de histórias daqueles que conviviam com ele, como por exemplo, Genshin Hironishi, seu discípulo que dizia que seu mestre se opunha às gerações vindas após a Segunda Guerra Mundial, pois continuava a seguir hábitos de sua época, anterior a Primeira Guerra Mundial. Dizia ele que Funakoshi se recusava a freqüentar uma cozinha ou a pronunciar certas palavras japonesas modernas, existentes em sua época dizendo que sem elas passava muito bem. Uma outra peculiaridade interessante em seu comportamento, é que a primeira coisa que ele fazia era sua toalete matinal que durava cerca de uma hora, durante a qual escovava seus cabelos com infinita paciência, quando então se voltava em direção ao Palácio Imperial e o saudava com respeito inclinando-se, e após fazia a mesma saudação a Okinawa. Depois desses rituais tomava o chá da manhã, e se reiterava de seus afazeres do dia. Em 1922, a pedido do pintor Hoan Kosugi, ele publicou seu primeiro livro: "Ryukyu Kenpo Karatê", um tratado nos propósitos e prática do Karatê. Na introdução daquele livro ele já dizia que “... a pena e a espada são inseparáveis como as duas rodas de uma carroça". O grande terremoto de Kanto, em 1º de setembro de 1923 destruiu as placas de seu livro, e levou alguns de seus alunos com ele. Ninguém morreu com o tremor, os incêndios provocaram as mortes. O terremoto ocorreu durante a hora do almoço, no momento em que cada fogão a gás no Japão estava ligado. Os incêndios que ocorreram a seguir foram monstruosos, e maioria das vidas perdidas se deveu ao fogo. Este livro teve grande popularidade e foi revisado e reeditado quatro anos após o seu lançamento, com o título alterado para: "Rentan Goshin Karatê Jutsu". Em 1925, Funakoshi começou a pegar alunos dos vários colégios e universidades na área Metropolitana de Tokyo, e nos anos seguintes, esses alunos começaram a fundar seus próprios clubes e a ensinar Karatê a estudantes destas escolas. Como resultado, o Karatê começou a se espalhar por Tokyo. No início da década de 30 haviam clubes de Karatê em cada universidade de prestígio de Tokyo. Mas por que estava Funakoshi conseguindo tantos jovens interessados em Karatê desta vez? O Japão estava fazendo uma Guerra de Colonização na Bacia do Pacífico. Eles invadiram e conquistaram a Coréia, Manchúria, China, Vietnã, Polinésia, e outras áreas. Jovens a ponto de irem para a guerra vinham a Funakoshi para aprender a lutar, assim eles poderiam sobreviver ao recrutamento nas Forças Armadas Japonesas. O seu número de alunos aumentou bastante. Por volta de 1933, Funakoshi desenvolveu exercícios básicos para prática das técnicas em duplas. Tanto o ataque de 27
  • 28. cinco passos "Gohon Kumite" como o de um "Ippon Kumite" foram usados. Em 1934, um método de praticar esses ataques e defesas com colegas de um modo levemente mais irrestrito, semilivre "Ju Ippon Kumite", foi adicionado ao treinamento. Finalmente, em 1935, um estudo de métodos de luta livre (Ju Kumite) com oponentes finalmente tinha começado. Até então, todo Karatê treinado em Okinawa era composto basicamente de Katas. Isso era tudo. Agora, os alunos poderiam experimentar as técnicas dos Katas uns com os outros sem causar danos sérios. Nesta época, em 1935, foi publicado seu próximo livro: "Karatê-dô Kyohan". Este livro trata basicamente dos Katas. Funakoshi era Taoísta, e ele ensinava Clássicos Chineses, como o Tao Te Ching de Lao Tzu, enquanto estava vivendo em Okinawa. Funakoshi era profundamente religioso. Ele tinha muito medo de que o Karatê se tornasse um instrumento de destruição, e provavelmente queria eliminar do treinamento algumas aplicações mortais dos Katas. Então, ele parou de fazer essas aplicações. Ele também começou a desenvolver estilos de luta que fossem menos perigosos. Funakoshi teve sucesso ao remover do Karatê, técnicas de quebras de juntas, de ossos, dedos nos olhos, chaves de cotovelo, esmagamento de testículos, criando um novo mundo de desafios e luta em equipe onde somente umas poucas técnicas seriam legais. Ele fez isso baseado nos seus propósitos e com total conhecimento dos resultados. Em 1936, Funakoshi mudou os caracteres Kanji utilizados para escrever a palavra Karatê.O caractere "Kara" significava "China", e o caractere "Te" significava "Mão".Para popularizar mais a arte no Japão, ele mudou o caractere "Kara" por outro, que significa "Vazio".De "Mãos Chinesas" o Karatê passou a significar "Mãos Vazias", e como os dois caracteres são lidos exatamente do mesmo jeito, então a pronúncia da palavra continuou a mesma.Além disso, Funakoshi defendia que o termo "Mãos Vazias" seria o mais apropriado, pois representa não só o fato do Karatê ser um método de defesa sem armas, mas também representa o espírito do Karatê, que é esvaziar o corpo de todos os desejos e vaidades terrenos. Com essa mudança, Funakoshi iniciou um trabalho de revisão e simplificação, que também passou pelos nomes dos Katas, pois ele também acreditava que os japoneses não dariam muita atenção por qualquer coisa que tivesse a ver com o dialeto caipira (do interior) de Okinawa. Por isso ele resolveu mudar não só nome da arte, mas também os nomes dos Katas.Ele estava certo, e seu número cresceu mais ainda.Funakoshi tinha 71 anos em 1939, e foi quando ele deu o primeiro passo dentro de um Dojo de Karatê em 29 de Janeiro. O prédio foi feito de doações particulares, e uma placa foi pendurada sobre a entrada e dizia: "Shotokan". "Sho" significa pinheiro. "To" significa ondas ou o som que as árvores fazem quando o vento bate nelas. "Kan" significa edificação ou salão. "Shoto" (ondas de pinheiro) era o pseudônimo que Funakoshi usava para assinar suas caligrafias quando jovem, pois quando ele ia escrevê-las se recolhia em um lugar mais afastado, onde pudesse buscar inspiração, ouvindo apenas o barulho do pinheiros ondulando ao vento. Esse nome dado ao Shotokan Karatê Dojo foi uma homenagem de seus alunos.Daí surgiu o nome de uma escola (estilo) que até hoje é cultivada em várias 28
  • 29. partes do mundo. SHOTO (pseudônimo de Funakoshi) e KAN (escola, classe). A "Escola de Funakoshi". A necessidade de um treinamento nas artes militares estava em crescimento. ovens estavam se amontoando no Dojo, vindos de todas as partes do Japão.O Karatê foi de carona nessa onda de militarismo e estava desfrutando de uma aceitação acelerada como resultado.Finalmente o Japão cometeu um grande erro.O bombardeio das forças navais americanas em Pearl Harbor a 7 de Dezembro de 1941 foi algo além da conta.Numa tentativa de prevenir que as embarcações americanas bloqueassem a importação japonesa de matéria-prima, os japoneses tentaram remover a frota americana e varrer a influência Ocidental do próprio Oceano Pacífico. O plano era bombardear os navios de guerra e os porta-aviões que estavam no território do Hawai.Isto deixaria a força da América no Pacífico tão fraca que a nação iria pedir a paz para prevenir a invasão do Hawai e do Alasca.Infelizmente, o pequeno Japão não tinha os recursos, força humana, ou a capacidade industrial dos Estados Unidos.Com uma mão nas costas, os americanos destruíram completamente os japoneses na Ásia e no Pacífico.Uma das vítimas dos ataques aéreos foi o Shotokan Karatê Dojo que havia sido construído em 1939. Com a América exercendo pressão em Okinawa, a esposa de Funakoshi finalmente iria deixar a ilha e juntar-se a ele em Kyushu no Sul do Japão.Eles ficaram lá até 1947. Os americanos destruíram tudo que estava em seu caminho. As ilhas foram bombardeadas do ar, todas as cidades queimadas até o fim, as colinas crivadas de balas pelos cruzadores de guerra de longe da costa, e então as tropas varreram através da ilha, cercando todo mundo que estivesse vivo. A era dourada do Karatê em Okinawa tinha acabado. Todas as artes militares haviam sido banidas rapidamente pelas forças ocupantes americanas. Primeiro uma, depois outra bomba atômica explodiram sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Três dias depois, bombardeiros americanos sobrevoaram Tokyo em tal quantidade que chegaram a cobrir o Sol. Tokyo foi bombardeada com dispositivos incendiários. Descobrindo que o governo do Japão estava a ponto de cometer um suicídio virtual sobre a imagem do Imperador, cartas secretas foram passadas para os japoneses garantindo sua segurança se eles assinassem sua "rendição incondicional". O Japão estava acabado, a Guerra do Pacífico também, mas o pesadelo de Funakoshi ainda havia de acabar. Nesta época, Gigo (também conhecido como Yoshitaka, dependendo como se pronunciava os caracteres do seu nome), filho de Funakoshi, um promissor jovem mestre de Karatê no seu próprio direito, aquele que Funakoshi estava contando para substituí-lo como instrutor do Shotokan, pegou tuberculose em 1945 e posteriormente veio a falecer, porque teimosamente recusava-se a comer a ração americana dada ao povo japonês faminto. Funakoshi e sua esposa tentaram viver em Kyushu, uma área predominantemente rural, sob a ocupação americana no Japão. Mas, em 1947, ela morre, deixando Funakoshi retornar a Tokyo para reencontrar seus alunos de Karatê que ainda viviam. Depois que a guerra havia acabado, as artes militares haviam sido completamente banidas. Entretanto, alguns dos alunos de Funakoshi tiveram sucesso em convencer as autoridades que o Karatê era um esporte inofensivo. As autoridades americanas concederam então, a retomada da prática do 29
  • 30. Karatê, porque não tinham idéia realmente do que era o Karatê. Também, alguns homens estavam interessados em aprender as artes militares secretas do Japão, então as proibições foram eliminadas completamente em 1948. Em Maio de 1949, os alunos de Funakoshi movem-se para organizar todos os clubes de Karatê universitários e privados numa simples organização, e eles a chamaram de Nihon Karatê Kyokai (Associação Japonesa de Karatê). Eles nomearam Funakoshi seu instrutor chefe. Em 1955, um dos alunos de Funakoshi consegue arranjar um Dojo para a NKK. Em 1957, ano de sua morte, Funakoshi tinha 89 anos de idade. Ele foi um professor de escola primária e um estudante de Karatê. Ele mudou-se para o Japão (e não é um pequeno ato de coragem) e trouxe o Karatê consigo em 1922, dando ao Japão algo de Okinawa com seu próprio jeito pacifista.No processo, ele perdeu um filho, sua esposa, o prédio que seus alunos fizeram para ele, seu lar, e qualquer esperança de uma vida pacífica. Ele suportou uma Guerra Mundial que resultou em calamidade nacional, e ele treinou seus jovens amigos e conheceu suas famílias apenas para vê-los irem lutar e serem mortos pelas forças invencíveis dos Estados Unidos. Ele viu o Japão queimar, ele viu os antigos templos e santuários serem totalmente aniquilados, ele viu bombardeiros enegrecerem o sol, e ele viu como um pilar de fumaça negra subia de cada cidade no Japão e envenenava o ar que ele respirava. Ele viu o Japão cair da glória para uma nação miserável, dependendo de suprimentos de comida e roupas dos seus conquistadores. O cheiro da fumaça e o cheiro dos mortos; Os berros daqueles que foram deixados para morrer lentamente; O choro das mães que perderam seus filhos e esposas que nunca mais iriam ver seus maridos; O medo, o ruído ensurdecedor dos bombardeiros B-29's voando sobre sua cabeça como os de trovões por todo o país quando as bombas explodiam em áreas residenciais, os flashes de luz na escuridão; A espera no rádio para poder ouvir a voz do Imperador pela primeira vez, somente para anunciar a rendição; A humilhação de implorar comida aos soldados... Os intermináveis funerais e famílias arruinadas e lares destruídos. Tente e imagine o que ele suportou! !A lição mais importante que ele nos ensinou está expressa em uma de suas histórias narradas por um de seus discípulos. Uma vez quando passava pelo Dojo principal de Jigoro Kano, "o fundador do Judô", ao caminhar pela rua, ele parou e fez uma pequena prece em frente ao Kodokan.Também se estivesse dirigindo um carro, ele tiraria seu chapéu se passasse em frente ao Kodokan. Seus alunos não entenderam porque ele estaria rezando pelo sucesso do Judô.Então ele explicou:“Eu não estou rezando pelo Judô”.Eu estou oferecendo uma prece em respeito ao espírito de Jigoro Kano.Sem ele, eu não estaria aqui hoje ““. Gishin Funakoshi, o "Pai do Karatê Moderno", morreu em 26 de Abril de 1957. Em seu túmulo pintado de preto, em forma de cruz, apesar de tudo que ele suportou, estão as palavras: ”KARATÊ NI SENTE NASHI” (No Karatê não existe atitude ofensiva) 30
  • 31. 2.3. A competição no Karate-Do Tradicional: A busca de vitórias em competições não é o principal objetivo do Karate-Do Tradicional. As competições são um meio que permitem ao praticante de Karate-Do Tradicional fazer uma autoavaliação técnica e emocional. Vencer ou perder numa competição não é o mais importante, o relevante é o crescimento como lutador e como pessoa que ela proporciona. O que se exige dos lutadores numa competição de Karate-Do Tradicional é a eficiência na execução dos movimentos, ou seja, a dinâmica corporal utilizada para se aplicar os golpes, e não tão somente a velocidade ou o contato. Não basta acertar o alvo, é preciso fazê-lo da forma correta, baseado nos fundamentos técnicos do Karate- Do Tradicional. Isso exige um grande domínio físico e mental, e também estimula a busca pelo aperfeiçoamento pessoal e pelo refinamento da técnica. "Perder-se na beleza dos movimentos ou apenas buscar pontos numa luta não levam à perfeição!" [Nakayama] Numa competição de Karate-Do Tradicional não há divisão de pesos. O lutador cujo físico é pequeno poderá vencer o grande, se estiver bem preparado. Ele deverá estar disposto a enfrentar qualquer adversário, seja qual for o seu tamanho. As modalidades de competição são:  Kata individual - Apresentação individual de kata: Durante as fases eliminatórias, dois competidores executam o mesmo kata (que é escolhido pelo árbitro central) lado a lado, e o vencedor é aclamado pelos árbitros através de bandeiras. Na fase final, os competidores apresentam-se um de cada vez, executando o kata de sua escolha, e a decisão é tomada pela média das notas de todos os árbitros, descontando-se desta a maior e a menor nota.  Kata em equipe - Apresentação de kata e respectiva aplicação (bunkai) em equipes de três pessoas: Após a apresentação do kata, a equipe deverá apresentar uma aplicação para as técnicas do kata escolhido. A decisão é sempre tomada por nota.  Kumite individual - Combate individual.  Kumite em equipe - Combate em equipes de cinco pessoas: A cada luta são somados os pontos de cada lutador aos pontos de sua equipe. Será vencedora a equipe que obtiver o maior número do pontos ao final da última luta.  Enbu - Teatro marcial: Apresentação de aplicações de técnicas de Karate em duplas. A decisão é tomada por nota dos árbitros.  Fuku Go - Disputa individual que engloba kata e kumite, alternando a cada rodada: A ITKF instituiu o Kitei como kata oficial das competições de Fuku Go, para permitir as disputa direta (lado a lado) de competidores de estilos diferentes. 31
  • 32. 2.4.Terminologia ICHI um NI dois SAN três SHI (YON) quatro GO cinco ROKU seis SHICHI (NANA) sete HACHI oito KU (KYU) nove JU dez HYAKU cem SEN mil MAN dez mil 2.5. Organização do Karate-Do Tradicional A nível mundial, o Karate-Do Tradicional é representado pela International Traditional Karate Federation (ITKF), sediada em Los Angeles (EUA), sob o comando do mestre Hidetaka Nishiyama, aluno direto do mestre Gichin Funakoshi e um dos fundadores da Japan Karate Association (JKA). A ITKF, por sua vez, poussui três subdivisões: a Comissão Técnica, a Comissão Científica e a Comissão de Arbitragem. A Comissão Técnica, sob a direção do mestre Hiroshi Shirai (Milão/Itália), é responsável pela qualidade no ensino do Karate. Organiza cursos, seminários e campeonatos, com o objetivo de promover um intercâmbio entre os praticantes de Karate. A Comissão Científica é formada por professores de Educação Física, médicos desportistas, fisioterapêutas, etc., e é responsável por desenvolver estudos e pesquisas sobre Karate, baseados em métodos científicos (biomecânica, cinesiologia, etc.), com o propósito de melhorar técnicas, eliminar movimentos desnecessários e criar métodos de treinamento sistemáticos. A Comissão de Arbitragem tem como objetivo zelar pela aplicação da técnica, sem perder a disciplina e o respeito à integridade física dos lutadores. Promove cursos de arbitragem constantemente, visando formar árbitros de qualidade e melhorar o nível das competições. A Confederação Brasileira de Karate-Do Tradicional (CBKT) é o órgão máximo representante do Karate-Do Tradicional no Brasil e é filiada à ITKF. Possui 27 federações filiadas, tendo como presidente o mestre Oswaldo Mendonça Jr. Em 32
  • 33. novembro de 1996 a CBKT conseguiu um feito inédito para o Karate brasileiro, que foi a realização do VIII Campeonato Mundial de Karate-Do Tradicional no Ginásio do Ibirapuera em São Paulo. Foi a primeira vez que o Brasil sediou um Campeonato Mundial de Karate. O Brasil hoje é uma das grandes forças mundiais do Karate-Do Tradicional. Isso se deve ao privilégio de termos no país a presença de grandes mestres como Yasutaka Tanaka, Yasuyuki Sasaki, Yoshizo Machida, Hiroyasu Inoki, Tatsuke Watanabe, Kazuo Nagamine, Oswaldo Mendonça Jr e Gilberto Gaertner, entre outros, que têm contribuído enormemente para o desenvolvimento do Karate brasileiro. No Estado de Santa Catarina, o Karate-Do Tradicional é representado pela Federação Catarinense de Karate-Do Tradicional (FCKT), fundada em 26 de maio de 1992 e atualmente sediada em Florianópolis. Principais posições e ataques do Karate-Do: Fig. 10 – Golpes do Karate-Do 33
  • 34. Os ataques de braço e perna, as defesas e bases do KARATE, podem ser aprendidos rapidamente. Porém, para o aperfeiçoamento dessas técnicas, é necessário treiná-las arduamente por longo tempo, chegando, algumas delas, ser impossível atingir um nível ótimo de performance. Para tanto, o treinamento constante no sentido de auto superação e o conhecimento biomecânico e fisiológico do corpo humano, são fundamentais. A investigação cientifica serviu para comprovar e aumentar a eficiência e eficácia dos golpes ensinados ao longo dos anos pelos antigos mestres. Ao considerar a técnica como sendo o procedimento mais racional e econômico para alcançar o objetivo e levar a efeito as técnicas do Karate, faz-se necessário observar alguns aspectos que consideramos fundamentais, que são: Forma, Kime, Quadril e Respiração, que para efeitos didáticos, apresentamos separadamente. 1. FORMA Conforme Nakayama (1987), a aplicação dos golpes com postura adequada é fundamental pois, no momento do impacto, se produz um forte contra-impacto (Ação e Reação, terceira lei de Newton), que para suportá-lo é importante a firmeza das articulações. Para a obtenção do máximo de potência, é necessário ter equilíbrio e estabilidade, o que é alcançado com uma forma ou postura correta. Consideramos forma correta o posicionamento equilibrado do corpo desde a base de sustentação ate o ponto de contato com o adversário. Quanto à base, é importante ter-se em conta que ao abaixar muito o centro de gravidade (base excessivamente longa), alcança-se maior equilíbrio, mas re-duz-se a imobilidade. Portanto1 é importante a utilização de uma base firme, porém elástica, que possibilite deslocamentos rápidos sem comprometimento do equilíbrio e da estabilidade. 2. POTÊNCIA ou "KIME" Para dominar o adversário, o karateca utiliza-se da energia produzida por sua musculatura. Segundo Nakayama (1987, p.16), a força eficaz no Karate é a força veloz (potência) "... aquela que se acumula com a velocidade"(...) "a força que a velocidade consegue concentrar no momento do impacto". Uma coordenação ótima entre a musculatura agonista (a que realiza o movimento) e a antagonista é importante para que haja velocidade na execução da técnica. Além disso, o aproveitamento máximo da trajetória e a concentração da força (contração de todo o corpo) no momento do impacto, são fundamentais para levar a efeito as técnicas do Karate. Um ponto a destacar é que o excesso de contração durante a execução do golpe, diminui a sua velocida-de, diminuindo a potência final. Para reagir mais rapidamente, o karateca deve estar com a musculatura relaxada e em alerta. A contração máxima de todo corpo deve ser apenas na finalização do golpe, durante uma fração de segundo. Ela é a responsável pelo aumento da estabi-lidade das articulações para resistir ao impacto e contra-impacto. 3. USO DA CINTURA PÉLVICA OU "QUADRIL" Elo de ligação dos membros inferiores ao restante do corpo, o quadril tem participação 34
  • 35. significativa nas técnicas de ataque e de defesa. A cintura pélvica produz, em movimento de rotação, grande força centrífuga. Unindo a essa, a velocidade de membros superior ou inferior, multiplica-se a potência do golpe. "...no Karate-do. Os ataques tanto de braço como de perna, se realizam com o quadril e igualmente as defesas" (Nakayama,1987, p.18). O encaixe do quadril ou retroversão da pelve, é responsável pela manutenção do tronco ereto, em posição de equilíbrio, evitando gasto desnecessário de energia. 4. RESPIRAÇÃO Nos referimos aqui ao processo de entrada e saída do ar dos pulmões para troca de gases, atendo-nos à importância das fases de inspiração e expiração, na aplicação dos golpes de KARATE. A execução do golpe é precedida pela inspiração normal. No instante do impacto realiza-se uma expiração forçada buscando a energização do tanden. A expiração forçada ocorre pela forte contração dos músculos do abdômen e tórax (interceptais internos) e coincide com o momento em que todo corpo deve estar cooperando para potencializar ao máximo o kime, aumentando a estabilidade das articulações e equilíbrio corporal na aplicação do golpe. 35
  • 36. 2.6. KARATE SHOTOKAN – TÉCNICAS BÁSICAS Fig. 11 – Posições do Karate Shotokan 36
  • 37. Através das técnicas básicas ou fundamentos, inicia-se o estudo do Karate. São movimentos de fácil aprendizado que devemos aperfeiçoar ao longo de vários anos de treinamento vigoroso e constante, a fim de alcançar maior eficiência. A forma correta de execução das técnicas proporciona melhor estabilidade articular para suportar o contra-impacto decorrente da aplicação das mesmas (tsuki e keri principalmente), aumentando o equilíbrio e possibilitando a rápida troca de posição do centro de gravidade. O que facilita a passagem de um movimento para outro em grande velocidade. Uma boa base favorece o trabalho harmonioso de todo o corpo para a ampliação da potência dos golpes. Um ataque ou defesa forte é conseguido somente pela execução de bases corretas. Eles dependem de equilíbrio, liberdade para o giro do quadril, velocidade e força, que são necessários à realização do movimento. Eles dependem também da cooperação dos músculos agonistas e antagonistas (coordenação da contração/descontração muscular) para alcançar uma forma firme e estável. Cada base tem um objetivo e deve ser treinada corretamente. A descaracterização da base para torná-la mais confortável, reduz ou elimina a eficiência das técnicas de ataque ou defesa e desacelera ou estagna o progresso do praticante. Bases mais utilizadas: SHIZEN-TAI - Posição natural. Pernas estendidas, corpo ereto e relaxado, uti-lizando- se o mínimo de gasto de energia para mantê-lo nesta posição. Pode-se passar facilmente a posição de ataque ou defesa. Engloba diversas formas diferenciadas pela disposição dos pés. Renoji-dachi- pés em L, calcanhares alinhados com distancia de aproximadamente um pé entre eles. Heiko-dachi - pés paralelos, alinhados, mantendo a distancia da largura do quadril para as mulheres, ou do ombro para os homens. Heisoku-dachi - pés unidos, calcanhares e pontas dos pés tocam-se ligeiramente. Musubi-dachi - pés abduzidos, os calcanhares se tocam. ZENKUTSU-DACHI - Posição avançada. Muito eficiente para trabalhar a força para frente nos ataques. É também utilizada nas defesas. - Os pés afastam-se no plano sagital em aproximadamente 80cm e lateralmente na largura do quadril, com toda a planta no chão. A ponta do pé da frente dirige-se para frente ou ligeiramente para o interi-or, enquanto o pé de trás dirige-se para frente o máximo possível. - O joelho da perna da frente deve estar flexionado e o da perna de trás estendido. Ambos encontram-se contraídos para fora. Traçando uma linha perpendicular do joelho ao chão, esta deve situar-se ao lado da base do hálux (dedão). - 60% do peso do corpo são sustentados pela perna da frente, os 40% restantes, pela perna de trás. - 0 tronco permanece perpendicular ao chão e for-tenente assentado sobre o quadril em retroversão (quadril encaixado). KOKUTSU-DACHI - Posição recuada. É uma postura muito forte, sendo bastante eficaz 37
  • 38. para defender ou esquivar para trás ou obliquamente e trocar rapidamente para zenkutsu-dachi no contra-ataque. - Os pés encontraram-se alinhados e afastados no plano sagital em aproximadamente 80cm. 0 pé de trás, apontado para o lado, suporta sobre toda planta 70% do peso do corpo, enquanto o pé da frente, apontado para frente, suporta os 30% restantes. Ambos, formam aproximadamente um ângulo de 90 graus entre si. - O joelho da perna de trás dobra-se para o lado e contrai-se fortemente para fora. Uma linha perpendicular ao chão, deve passar pelo meio do joelho e cair ao lado da base do hálux. O joelho da perna da frente acha-se ligeiramente flexionado e apontado para adiante. - O quadril encaixado assenta o tronco perpendicular ao chão. KIBA-DACHI - Posição de cavaleiro. É uma postura muito forte para a aplicação de golpes para os lados. Seu nome é devido à semelhança com a posição de cavalgar. - Os pés se afastam no plano frontal em aproximadamente 80 cm, mantendo-se alinhados e paralelos. Aderem fortemente ao chão com toda planta. - Os joelhos dobrados para frente com contração para fora, de forma que a linha perpendicular caia ao lado da base do hálux. - O peso do corpo divide-se igualmente entre as duas pernas. - A retroversão do quadril é importante na manutenção do equilíbrio. O tronco deve manter-se perpendicular ao chão. 38
  • 39. TSUKI - Ataque direto - soco: Fig. 12 – Demonstração do Tsuki 39
  • 40. Fig. 13 – Golpes contínuos São golpes muito aplicados, de grande eficiência, que podem derrubar o oponente com um só impacto. Realiza-se estendendo o cotovelo, flexionando o ombro e girando o antebraço 180 graus para o interior, aplicando a força com as segunda e terceira articulações metacarpofalângicas (seiken). Partindo da altura do quadril, a mão percorre trajetória retilínea até atingir o objetivo. O antebraço, cotovelo e braço passam rente ao corpo. A extensão da perna de trás, empurrando o solo com o pé transforma o impulso em força horizontal que é transmitida ao quadril, se conecta aos ombros e chega ao braço. O poder gerado pela rotação do quadril, utilizando a coluna vertebral como eixo de giro, une a ele os ombros em seu impulso centrífugo, aumentando a força e a velocidade do ataque, a qual, por sua vez, se multiplica pela extensão súbita do braço de ataque e simultânea recolhida do braço oposto. Assim, impulso e giro do quadril, extensão do braço de ataque e recolhimento do braço oposto, cooperam para que se alcance a força resultante da velocidade. Ao executar um tsuki o corpo deve estar relaxado, contraindo somente a musculatura necessária à obtenção de uma força veloz. Apenas no momento do impacto, todo corpo coopera para concentrar a força ao máximo. GYAKU-ZUKI - Soco inverso. Braço contrário ao pé da frente. OI-ZUKI - Soco andando. Braço correspondente ao pé que deslocou à frente. MOROTE-ZUKI - Socos simultâneos. Braços paralelos horizontais ou verticalmente. DAN-ZUKI - Socos consecutivos com o mesmo punho. KERI - Ataque de perna - pontapés O pontapé é um dos fundamentos do Karate. Quando se aprende sua execução corretamente, consegue-se obter uma potência muito superior ao tsuki. Ao realizar um ataque sustenta-se o peso do corpo sobre um pé de apoio, que deve 40
  • 41. assentar-se firmemente no solo com toda a planta, mantendo tornozelo e joelho ligeiramente flexionados e contraídos, a fim de suportar o choque originado pelo impacto. O joelho da perna de ataque é elevado flexionado, diminuindo o braço de alavanca, para alcançar, quando da sua extensão, maior velocidade. É importante ter em mente que não é unicamente o pé que golpeia, mas que se deve projetar o quadril, tomando todo o corpo o sentido do ataque. Também deve ter-se em conta que após a finalização do pontapé, o pé deve ser recolhido rapidamente para que não seja agarrado, e para voltar a uma posição de maior equilíbrio, a fim de executar a técnica seguinte. A força do ataque depende da longitude do arco da execução, da velocidade com que se percorre este arco (flexão ou extensão da coxofemoral + extensão do joelho) e da contração muscular no momento do impacto. MAE-GERI - Pontapé frontal. O joelho da perna de ataque passa rente ao joelho da perna de apoio e o pé de ataque rente e acima deste. O quadril desloca-se horizontalmente duran-te todo o movimento, atingindo-se o objetivo com a base inferior dos dedos. YOKO-GERI - Pontapé lateral. Eleva-se o joelho da perna de ataque passando com o pé rente a perna de apoio, apontado para frente ou para a lateral do corpo. A ponta do pé virada para frente e o bordo externo para baixo e paralelo ao chão, descreve urna trajetória em arco. Atinge- se o objetivo com o bordo externo do pé. MAWASHI-GERI - Pontapé circular. Eleva-se o joelho lateralmente, bem flexionado, colocando a perna paralela ao chão, com o pé apontando para o lado e a planta virada para trás. A coxa descreve um círculo amplo. O quadril deve acompanhá-la nessa trajetória, até a finalização do movimento com a extensão do joelho. 0 ponto para impacto pode ser à base dos dedos ou o dorso do pé. UKE WAZA - Técnicas de defesa A defesa é um dos fundamentos mais importantes. Uma falha na sua execução pode ser fatal. Deve-se identificar corretamente a direção do ataque para realizar uma defesa adequada a ele. O recolhimento do braço contrário, o giro do quadril e a rotação do antebraço aumentam a potência da defesa, desviando-o mais facilmente. Para aumentar a resistência da defesa, deve-se concentrar a força no músculo grande dorsal, colocando o cotovelo próximo ao corpo e na altura da orelha (age-uke) e aproximando o cotovelo até um punho (10cm) de distância do corpo (chudan-uchi-uke, soto uke, shuto-uke). Se a defesa ultrapassa os limites do corpo, não se pode concentrar a força no grande dorsal, nem realizar um rápido contra-ataque. As técnicas de defesa devem ser finalizadas em uma posição adequada, aumentando sua eficiência e facilitando a execução da técnica seguinte. AGE UKE - Defesa alta. O antebraço desloca-se de baixo para cima descrevendo um arco na frente do corpo. A mão pára a 10cm da testa com a palma girada para frente, e o antebraço em posição oblíqua. No momento do impacto com o golpe do adversário, deve-se apertar fortemente a mão, contraindo os músculos do antebraço em cooperação com todo o corpo. 41
  • 42. SOTO-UKE - Defesa média para dentro. Eleva-se a mão até a altura da orelha, colocando o braço paralelo ao chão e ligeiramente para trás. Deste ponto inicia-se uma rotação descendente até atingir o cotovelo, antebraço e punho, verticalizados no plano sagital, a linha mediana do corpo. Antebraço e braço formam um ângulo reto. Finaliza-se com a palma da mão girada para o peito, na altura do ombro. UCHI-UKE - Defesa média para fora. O antebraço que defende traça um arco desde a axila do braço oposto. Desloca-se o punho para o exterior, baixando o cotovelo até que este se aproxime das costelas. O antebraço gira, colocando a palma da mão virada para o peito, na altura do ombro. GEDAN-BARAI - Defesa baixa. Eleva-se o braço para colocar o punho junto à orelha do lado oposto, com a palma da mão virada para ela. Deste ponto baixa-se e estende-se o cotovelo até que o punho esteja aproximadamente 15cm acima do joelho. É uma defesa eficiente contra os ataques ao abdome, golpeando o golpe do adversário. Finaliza-se com o cotovelo totalmente estendido e a palma da mão virada para trás. 42
  • 43. 3. JUDÔ 3.1 A origem: da China ao Jiu-jitsu O início do desenvolvimento histórico do combate corporal se perde na noite dos tempos. A luta, inclusive por necessidade e sobrevivência, nasceu com o homem e, a esse respeito, os documentos remontam os tempos mitológicos. Um manuscrito muito antigo, o Takanogawi, relata que os deuses Kashima e Kadori mantinham poderes sobre os seus súditos graças às suas habilidades de ataque e defesa. A Crônica Antiga do Japão (Nihon Shoki), escrita por ordem imperial no ano de 720 de nossa era, menciona a existência de certos golpes de habilidade e destreza, não apenas utilizados nos combates corporais mas também, como complemento da força física, espiritual e mental, relatando uma história mitológica na qual um dos competidores, agarrando o adversário pela mão, o joga ao solo, como se lançasse uma folha. Segundo alguns historiadores japoneses, o mais antigo relato de um combate corporal ocorreu em 230 aC, na presença do imperador Suinin. Taimano Kehaya, um lutador insolente foi rapidamente nocauteado por um terrível cultor do combate sem armas, Nomino Sukune. Naquele tempo não havia regras e combate padronizadas. As lutas poderiam desenvolver-se até a morte de um dos competidores. As técnicas de ataque e defesa utilizadas guardam muita semelhança com os golpes do sumô e do antigo ju-jitsu. 3.2. A chegada do Judô no Brasil - Conde Koma Em 1904, Koma ao lado de Sanshiro Satake, saiu do Japão. Seguiram então para os Estados Unidos, México, Cuba, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Peru (onde conheceram Laku, mestre em ju-jitsu que dava aulas para a polícia peruana), Chile, onde mantiveram contato com outro lutador, (Okura), Argentina (foram apresentados a Shimitsu) e Uruguai. Ao lado da troupe que a eles se juntou nos países sul-americanos, Koma exibiu-se pela primeira vez no Brasil em Porto Alegre. Seguiram depois para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, São Luís, Belém (em outubro de 1915) e finalmente Manaus, no dia 18 de dezembro do mesmo ano. A passagem pelas cidades brasileiras foi marcada apenas por rápidas apresentações. Por sua elegância e semblante sempre triste, Mitsuyo Maeda ganhou o apelido de Conde Koma durante o período que ficou no México.A primeira apresentação do grupo japonês em Manaus, intermediado pelo empresário Otávio Pires Júnior, em 20 de dezembro de 1915, aconteceu no teatro Politeama. Foram apresentadas técnicas de torções, defesas de agarrões, chaves de articulação, demonstração com armas japonesas e desafio ao público. Com o sucesso dos espetáculos, os desafios contra os membros da equipe multiplicaram. 43
  • 44. Entre os desafiantes, boxeadores como Adolfo Corbiniano, de Barbados, e lutadores de luta livre romana como o árabe Nagib Asef e Severino Sales. Na época Manaus vivia o "boom" da borracha e com isso as lutas eram recheadas de apostas milionárias, feitas pelos barões dos seringais. De 4 a 8 de janeiro de 1916, foi realizado o primeiro Campeonato de Ju-jitsu amazonense. O campeão geral foi Satake. Conde Koma não lutou desta vez, ficando apenas com a organização do evento. No dia seguinte (09/01/1916), o Conde, ao lado de Okura e Shimitsu, embarcou para Liverpool, na Inglaterra, onde permaneceram até 1917. Enquanto a dupla permaneceu no Reino Unido, Satake e Laku seguiram lecionando ju- jitsu japonês aos amazonenses no Atlético Rio Negro. E os mestres orientais continuaram vencendo combates a que eram desafiados. Até que em novembro de 1916, o lutador italiano Alfredi Leconti, empresariado por Gastão Gracie, então sócio no American Circus com os Irmãos Queirollo, chegou a Manaus para mais um desafio. Satake que estava adoentado cedeu seu lugar para Laku, sendo este derrotado por Leconti. Sataki, em recuperação, seria o próximo adversário do italiano, mas devido a brigas geradas por ocasião do combate entre Laku e o desafiante, o delegado Bráulio Pinto resolve proibir outras lutas na capital amazonense. 3.3. À volta ao Brasil Em 1917, de volta ao Brasil, mais especificamente em Belém, e tendo ao lado sua companheira, a inglesa May Iris Maeda, Conde Koma ingressa no American Circus onde conhece finalmente Gatão Gracie. Em novembro de 1919, o Conde retorna a Manaus, agora na condição de desafiante de seu amigo Satake. Foi então que aconteceu a única derrota de Koma em toda sua carreira. Na biografia anterior diziam que ele nunca havia sido derrotado. Então ele volta para Belém e em 1920, já com a crise da borracha, é desfeito o American Circus. Com isso, Mitsuo Maeda embarca novamente para a Inglaterra. Em 1922, regressa como agente de imigração, trabalhando pela Companhia Industrial Amazonense e começa a ensinar judô aos belenenses na Vila Bolonha. No mesmo ano, seu ex-companheiro Satake embarca para a Europa e nunca mais se tem notícias do grande mestre.Conde Koma continuou em Belém, falecendo em julho de 1941. Carlos e Hélio Gracie, filhos de Gastão seguiram atuando no ju-jitsu, modalidade que aprenderam com Koma no circo do pai. Isso, depois que a arte marcial já estava definitivamente implantada em Manaus pelos membros da troupe de Koma, principalmente Sanshiro "Barriga Preta" Satake. 3.4. A criação do Judô: Prof. Jigoro Kano funda o Kodokan Jigoro Kano, que era pequeno e fraco por natureza, começou a praticar o ju-jitsu aos 18 anos pelo propósito de não ser dominado por sua fraqueza física. Ele aprendeu atemi- waza (técnicas de percussão), e katame-waza (técnicas de domínio) do estilo ju-jitsu Tenjin-shin-yo Ryu e nague-waza (técnicas de arremesso) do estilo de ju-jitsu Kito Ryu. Baseado nestas técnicas ele aprofundou seus conhecimentos tomando como base a força e a racionalidade. Além disso, criou novas técnicas para o treinamento de 44
  • 45. esportes competitivos mas também pelo cultivo do caráter.Adicionando novos aspectos ao seu conhecimento do tradicional ju-jitsu o professor Kano fundou o Instituto Kodokan,com a educação física, a competição e o treinamento moral como seus objetivos.Com o estabelecimento do dojô Kodokan, em 1882, e com 9 alunos, Jigoro Kano começou seus ensinamentos do judô. O texto do estudioso japonês Yoshizo Matsumoto mostra os conceitos iniciais deste esporte e os seus objetivos. O prof. Kano estabeleceu o Instituto Kodokan em 1882, época em que o dojô (local de treino) tinha apenas 12 tatamis e o número de alunos era nove. O ju-jitsu foi substituído pelo judô pela razão de que enquanto "jitsu" significa técnica o "do" significa caminho, este último podendo ter dois significados: o de um caminho em que você anda e passa e o de uma maneira de viver. Como meio de ensino, no Kodokan, Jigoro Kano adotou o randori, kata e métodos catequéticos, adicionando educação física ao treinamento intelectual e à cultura moral. A harmonia desses três aspectos de educação constituem a educação ideal pela qual o judô será ensinado. Ao redor do ano 20 da era Meiji (1887), o judô tinha dominado o ju-jitsu, que foi varrido de vários países. O princípio do "JU", do judô, passou a significar o mesmo que na frase "gentileza é mais importante que obstinação". Assim a teoria do "JU", que é gentileza, suavidade, pretende utilizar a força do oponente sem agir contra ela, podendo ser aplicada não somente na competição mas também aos aspectos humanos. O prof. Kano disse em 1910 que a teoria da cultivação da energia tratava de adotar um método para melhorar a habilidade mental e física pelo armazenamento de ambas quanto for possível. Ele disse que o seu bom uso é cultivar e usar a energia humana para o bem e que a teoria pode ser adquirí-la através do treinamento de judô, podendo ainda ser ampliada para todos os aspectos da vida. Antes de se expandir, o conceito de judô do professor veio a formar dois grandes guias: o melhor uso da energia individual e o bem estar mútuo. Com estes princípios o judô expandiu-se no próprio Japão e no exterior. Com esta base, o prof. Kano deixou como ensinamento que através do treinamento a pessoa deve se disciplinar, cultivar o seu corpo e espírito através das técnicas de ataque e defesa, fazendo engrandecer a essência do caminho. O melhor uso da energia e o bem estar mútuo são uma versão resumida dos ensinamentos de Jigoro Kano, que definiu como objetivo último do judô construir a perfeição de uma pessoa e beneficiar o mundo. 4. JIU JITSU 45
  • 46. 4.1. Introdução O jiu-jitsu é a arte marcial mais antiga, perfeita, completa e eficiente de Defesa Pessoal. Sua origem apesar de contraditória é atribuída à China, depois Índia, Japão e Brasil; onde se desenvolveu, aprimorou e tornou-se o centro mundial desta preciosa arte. O jiu-jitsu desportivo é a parte competitiva, onde os atletas exibirão suas habilidades técnicas, físicas e psicológicas com o objetivo de alcançar a vitória sobre seus adversários. Os golpes válidos são aqueles que procuram neutralizar, imobilizar, estrangular, pressionar, torcer articulações, como também lançar seu adversário ao solo através de quedas enquanto os golpes não válidos, considerados desleais, como: morder, puxar cabelo, enfiar os dedos nos olhos, atingir os órgãos genitais, torcer dedos ou qualquer outro processo tendente a traumatizar com o uso das mãos, cotovelos, cabeça, joelhos e pés. As competições são o marco do esporte, é o momento mais importante para os atletas, técnicos-professores e para todos aqueles que estão envolvidos direta ou indiretamente, não cabendo pôr tanto, a vitória a qualquer custo, ao contrário o fair play deve ser o principal norteador. O comportamento ético é o que dará ao esporte credibilidade e segurança, fatores indispensáveis ao nosso esporte, pois, pôr isso só, já conquistamos o espaço na sociedade, em seus aspectos de eficiência e de eficácia, tornando-o o esporte espetáculo. Assim sendo, para se almejar a participar do maior espetáculo do mundo, que é as Olimpíadas, devemos estar imbuídos deste objetivo, tornando o jiu-jitsu desportivo a nossa meta. O regulamento é a carta magna do esporte, nesta consta os direitos e deveres, de todos aqueles envolvidos, como atletas, técnicos-professores, dirigentes, e até mesmo o público assistente. Pois teremos a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir este regulamento, pois, só assim, poderemos conquistar os nossos objetivos. 4.2. Área de Competição É toda a área que componha o palco da competição, que poderá ser composta de 2 ou mais áreas de lutas, com todo pessoal de apoio: direção dos trabalhos, arbitragem, cronometristas, fiscais, segurança e um departamento disciplinar convocado pela diretoria que atuará no julgamento no decorrer do evento, com poderes de punir qualquer conduta anti-esportista ou ética de técnicos-professores, atletas, 46
  • 47. árbitros e de qualquer assistente que se mantenha no recinto da competição que esteja atrapalhando o bom andamento do evento em questão. 4.3. Área de Lutas Cada área (ringue) será composta de no mínimo 32 tatames, perfazendo um total no mínimo de 51,84 m2, assim dividida: Área interna, (Área de Combate),composta de no mínimo 18 tatames de cor verde; Área de Segurança, composta de no mínimo 14 tatames de cor amarelo, vermelho ou qualquer cor diferente do verde. 4.4. A História de Jiu-Jitsu... A origem do Jiu-Jitsu se perde na noite dos tempos, acredita-se que no primeiro ataque ou defesa de um ser humano - estaria caracterizado - “A luta em si”. Evidentemente o instinto de ataque e defesa está latente no homem. A coordenação desta agressividade, sua estilização e o respeito às “Leis da Natureza”, resultam na criação das Artes Marciais que é uma ciência e estudo fundamentado na eficiência destes. Dentre as Artes Marciais, o Jiu-Jitsu é uma das mais sutis, considerando que nesta, o estudo da anatomia humana e seus pontos frágeis, o uso de alavancas, o princípio da física e flexibilidade harmonizados com a mente, resultam numa das mais requintadas artes. O Jiu-Jitsu tem como princípio básico utilizar o mínimo de força. Para um bom resultado, aproveita-se a força e fraqueza adversária. 4.4.1. ...na Índia Segundo os antigos e o conhecimento verbal, esta arte (Jiu-Jitsu), teria se iniciado na antiga Índia. Em especial pelos monges. Segundo os princípios religiosos os monges não podiam usar de agressividade e sim desvencilhar de um súbito ataque ou mesmo imobilizar o assaltante em suas peregrinações pelo mundo afora. 4.4.2. ...na China A China pôr sua vez caracterizou o Jiu-Jitsu como prática bélica, pois esta civilização desenvolveu um grande número de estilos de artes marciais. O Jiu-Jitsu era praticado com um kimono curto de mãos livres, além da luta corporal, tinha grande importância no desarmamento. Sua prática chega no auge na época dos “Reinos Combatentes” e na unificação da China por “ Chin Shih Huang Ti". 4.4.3. ...no Japão O Jiu-Jitsu chega ao Japão no séc.II depois de Cristo, advindo da China. Muitas foram as correntes que transmitiram esta arte ao país do " Sol Nascente", inclusive, existem inúmeras lendas nipônicas relacionadas à criação e artes marciais. A história registrada em 1.600, afirma que um monge chinês "Chen Gen Pin" teria ensinado três Samurais, a cada qual ensinara uma especialização a saber: Atemi, torções e 47
  • 48. projeções. E estes difundidos a todo o japão, ou mesmo se fundindo com outras escolas de jiu-jitsu. No Japão Feudal se utilizam inúmeros nomes relacionados com o Jiu-Jitsu, alguns se divergiam em fundamentos técnicos outros eram extremamente semelhantes; Aikijitsu, Tai Jitsu, Yawara, Kempô, e mesmo o termo Jiu-Jitsu se dividia entre estilos como: Kito ryu, Shito Ryu, Tejin e outros. É nesta época, onde a forte divisão da calsse social japonesa enaltecia a nobreza dos Samurais que o Jiu-Jitsu se desenvolve a fundo. Os pequenos nipônicos aperfeiçoam a arte de lutar, onde poderiam decidir a vida ou a morte de um guerreiro em disputa. Era então o Jiu-Jitsu, uma prática obrigatória aos jovens que futuramente seriam "Samurais" ao lado da esgrima, literatura, pintura, cavalaria e outros. 4.5. O Início no Brasil... Carlos Gracie, que fora treinado por Mitsuo Maeda passa pôr Minas Gerais e em Belo Horizonte ministra algumas aulas num hotel da região. Em seguida vem para São Paulo e no bairro das Perdizes monta uma academia. Sem o sucesso desejado se instala no Rio de Janeiro e na Capital começa a ensinar, e também a seus irmãos: George, Gastão, Hélio e Oswaldo. Hélio Gracie passa a ser o grande nome e difusor do Jiu-Jitsu. Já instalado no Rio, forma inúmeros discipulos. George Gracie foi um desbravador, viajou por todo o Brasil, no entanto, estimulou muito o Jiu-Jitsu em São Paulo, tendo como alunos: Otávio de Almeida, Nahum Rabay, Candoca, Osvaldo Carnivalle , Romeu Bertho e muitos outros. Alguns continuam na ativa. No Rio de Janeiro mais especificadamente na zona oeste, o mestre “Fada” foi notoriamente um dos baluartes do Jiu-Jitsu, tendo grande número de formados. Enquanto isso, na mesma época de Mitsuo Maeda, outros japoneses continuaram difundindo o Jiu-Jitsu. “Geo Omori” por exemplo, aceitava desafios no picadeiro do circo “queirolhos” e foi ele também quem fundou a primeira Academia do Brasil, em São Paulo no Frontão do Braz na Rua: Rangel Pestana , no ano de 1925 ( Segundo o historiador Inezil Penna). Os irmãos Ono vieram ao Brasil na década de 30 advindos de um renomado mestre de Jiu- Jitsu do Japão. Aqui no Brasil formaram muitos alunos mas acabaram por adotar a prática do Judô. Takeo Yuano muito conceituado por sua exímia técnica, viajou por todo o Brasil e ensinou Jiu-Jitsu em cidades como São Paulo e principalmente em minas Gerais, onde lecionou e até estimulou a criação da Federação local. 4.5.1. ...no Rio de Janeiro Conhecida como a “Meca” do Jiu-Jitsu, por ter concentrado praticamente toda a Família Gracie.Os grandes nomes da família Gracie depois de Hélio foram: Carlson e Rolls Gracie. Atualmente Rickson Gracie é reconhecido como o melhor lutador do mundo! A primeira organização do Brasil, foi a fundação da Federação Carioca, formada por Hélio e continuada por Robson Gracie.Atualmente existe a Confederação Brasileira e Mundial, comandadas por Carlos Gracie Júnior. Existem inúmeros professores que não pertecem a família Gracie e executam extraordinário trabalho como, Equipe Nova União, Alliance, Dojô, Bustamante na Zona Oeste e Norte apresentam inúmeras acadêmias e muitos outras em todo o Estado. 48