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Entrevista a Ramos-Horta.“Os nossos
irmãos da Guiné-Bissau são vítimas da
droga”
Por Sérgio Soares, publicado em 10 Jan 2013 –

“Deus quis que eu sobrevivesse. Mas deixou-me com cicatrizes e algum
desconforto, dor permanente, como um pequeno calvário, para o resto da
minha vida [...] A vida é tão curta, frágil, porquê desgastar a vida em zangas e
ódios?”




O ex-presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, assume em Fevereiro,
“com serenidade”, o cargo de representante especial de Ban Ki-Moon na Guiné-Bissau.
Uma missão que muitos consideram quase impossível dada a ausência de um Estado forte e
funcional no país, que cedeu à influência da corrupção e ao controlo dos traficantes
internacionais de droga. Nada que desmotive o Prémio Nobel da Paz, que quer ajudar o país
a sair do “ciclo de instabilidade e de não paz” e que considera que a Guiné-Bissau “não é
uma causa perdida”.




Acaba de ser escolhido pelo secretário- -geral da ONU para liderar a missão
das Nações Unidas na Guiné-Bissau. Os Estados Unidos e muitas organizações
internacionais dizem que aquele país já é praticamente um narco-Estado. A
sua tarefa não está comprometida à partida?

A produção da droga não é na Guiné-Bissau. O consumo da droga não é na Guiné-Bissau.
Portanto a comunidade internacional deve encontrar formas de cercear este mal na origem
e no destino. Os nossos irmãos guineenses são afinal vítimas da produção e da
comercialização ilícita da droga. Claro, o problema da Guiné-Bissau não está apenas na
questão da droga. Ela resulta em parte da crise do Estado e das suas instituições
democráticas. Mas a Guiné-Bissau não é a Somália, o Congo, a Síria. Felizmente. Estou
convencido que, com boa vontade, um apoio maior da União Europeia e dos Estados
Unidos, uma melhor parceria, um maior alinhamento de pensamento e políticas com a
União Africana, a CEDEAU e a CPLP, a ONU poderá ter êxito. Não será uma missão fácil.
Óbvio que não.

Conhece bem muitos dos actores políticos e militares da Guiné-Bissau. Como
avalia o conflito permanente latente no país? É uma questão de rivalidades,
ambições pessoais, questões étnicas? E o seu mandato como representante
especial do secretário-geral da ONU vai permitir-lhe fazer o quê

no terreno?

Não vou, nem devo, adiantar muito em relação ao que poderei fazer no terreno. Primeiro
tenho directivas a ouvir em Nova Iorque, do Departamento de Assuntos Políticos, que gere
o dossiê da Guiné-Bissau. Com os meus colegas em Nova Iorque, ouvindo a CEDEAO, a
União Africana, a CPLP, a União Europeia, teremos um pensamento comum. Mas acima de
tudo serão os nossos irmãos guineenses a dizer e a decidir do seu futuro. A ONU não se
substitui aos líderes nacionais.

Parte com apoios internacionais variados, até na própria Guiné-Bissau. Mas
dado o passado histórico do país o que o levou a aceitar uma missão em que
tantos outros já falharam? Aborrecia-o não exercer nenhum cargo oficial?

Eu já estava plenamente activo com uma nova organização não estatal regional, o Asian
Peace and Reconciliation Council (Conselho Asiático para a Paz e a Reconciliação), lançada
em Setembro passado e sedeada em Banguecoque, envolvendo líderes muito respeitados de
toda a Ásia, vocacionada para o diálogo e a mediação de conflitos na Ásia. Além disso já
tinha convites e projectos no Japão, na Alemanha e na Suíça. Tenho também o projecto de
um livro/tese sobre a Ásia – “Os Desafios do Século XXI para a Ásia”. Pedi aos meus amigos
e colegas do grupo dispensa por um ano e eles anuíram e encorajaram-me a aceitar a
missão na Guiné-Bissau. Dada a história de Timor-Leste com a Guiné-Bissau, eu não
poderia dizer não a um convite da ONU. Timor-Leste muito deve à ONU e, pela minha
experiência, a organização pode ajudar os líderes e o povo da Guiné-Bissau a sair do ciclo de
instabilidade, de não paz...

Como sabe, Portugal e a comunidade internacional não reconhecem o governo
em exercício em Bissau. Acha que essa situação pode complicar a sua tarefa?

Não. Havemos de encontrar uma solução.

Enquanto Presidente da República condecorou o primeiro-ministro deposto,
Carlos Gomes Júnior. Este gesto é agora um obstáculo?
Não o vejo assim.

De que meios dispõe para fazer aplicar as resoluções da ONU e exercer o seu
mandato no terreno?

A ONU disponibiliza os recursos humanos e técnicos necessários para cada situação, nem
sempre óptimos, mas temos de saber agir e gerir a situação com os recursos que temos e
não com os recursos com que sonhamos. Às vezes exagera-se nos recursos, recursos a mais,
complicam-se as coisas, passamos demasiado tempo a gerir a situação interna da missão,
em vez de prestar atenção à situação no terreno, para a qual fomos mandatados.

Como encara a sua primeira prova de fogo, com as eleições na Guiné-Bissau?

Com serenidade.

Falemos do seu país. Timor-Leste é hoje muito diferente do que era há uma
década. Acha que a democracia e as instituições democráticas já estão
convenientemente consolidadas?

Há sempre necessidade e espaço para melhorar. As nossas instituições são jovens, logo
frágeis. Mas a cultura democrática está enraizada.

Que balanço faz do papel de Portugal desde na independência de Timor-Leste?

Timor-Leste estará para sempre grato e endividado com Portugal, pelo papel central que
Portugal desempenhou com coragem e dignidade na acção diplomática. Mas não
poderíamos nunca minimizar o papel dos países irmãos, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique e São Tomé e Príncipe, o Brasil, que foram a nossa retaguarda segura na
frente diplomática. Aliás, antes de Portugal pegar a sério na questão de Timor-Leste, e isto
só veio a acontecer a partir de 1991, eram esses irmãos da África que cada ano, na ONU e no
Movimento dos Não-Alinhados, asseguravam que a questão de Timor-Leste não fosse
varrida da agenda internacional.

Em que ponto se encontra o diferendo sobre o petróleo timorense com a
Austrália?

Não há propriamente um diferendo entre a Austrália e Timor-Leste nesta matéria. O
consórcio de investidores na área do Greater Sunrise é um consórcio multinacional de
australianos, americanos, japoneses, etc. O diferendo, para usar a sua expressão, reside
apenas em saber qual a melhor tecnologia, a melhor forma de explorar aquela região, se por
via de um gasoduto para a costa sul de Timor-Leste, se pelo sistema flutuante (FNLG –
Floating Liquidfied Gas). O diálogo está em curso, e as várias partes vão encontrar uma
solução técnica e comercial com vantagens para todos.

O petróleo também pode transformar- -se na maldição de Timor-Leste, como
aconteceu noutras partes do mundo?
O petróleo e o gás estão a contribuir para a modernização da nossa economia, a redução da
pobreza, a melhoria da saúde, da educação, a segurança alimentar. Mas vai levar mais
tempo.

O contributo de Portugal para o Orçamento do Estado timorense foi
significativo, com incidência no ensino e na difusão da língua e na
consolidação das forças armadas. Mas Portugal atravessa uma profunda crise
económico-financeira. Em que pé está a promessa de ajuda na compra de
dívida portuguesa com verbas do fundo soberano do petróleo?

Houve consenso em Timor-Leste para se investir na dívida soberana, mas houve mudança
de governo em Portugal, a vinda da troika a Portugal, houve eleições em Timor-Leste, etc. O
que propus na altura seria uma iniciativa conjunta de Timor-Leste com Angola e Brasil para
investimos na compra da dívida soberana portuguesa, com vantagem para todos.

Em Timor-Leste, o presidente Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana
Gusmão ensaiaram de certo modo o modelo seguido na Rússia, de alternância
de cargos. Isso não foi um sinal de fragilidade das instituições?

Bom… eu já não estou no poder em Timor-Leste.

Como encarou a derrota nas últimas eleições presidenciais? Não achou que
era chegada a hora de parar? O que tem feito desde que perdeu essas eleições?
Politicamente deixa um legado aos seus sucessores, ou assiste-se a um
apagamento da sua passagem pela administração do país?

Ao soar da meia-noite de 19 de Maio de 2012 realizou-se a cerimónia de transferência de
poderes do presidente cessante para o novo presidente, seguindo as regras constitucionais,
o calendário constitucional, etc. Foi um acto solene, bonito. Legado? Se algum legado fica
da minha passagem pela presidência, que seja de uma presidência simples, aberta,
acessível, sem arrogância e sem opulência.

Olhando para trás, foi melhor ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro-
ministro ou presidente? Arrepende-se de alguma coisa que tenha feito ao
longo da sua vasta carreira política?

Deus deu-me algumas qualidades, virtudes, uma dose mediana de inteligência. Não me fez
um Einstein. Portanto fiz tudo medianamente bem.

Na qualidade de presidente fez em tempos uma afirmação de apoio à China
muito contestada, ao declarar que reconhecia “legitimidade à soberania
chinesa em relação ao Tibete”. Um Nobel da Paz defender tal ideia causou-lhe
alguns amargos de boca? Sente alguma responsabilidade especial por ser
Nobel da Paz?

Não esqueçamos que não há um único país no mundo que não reconheça a soberania
chinesa sobre o Tibete.
Recentemente disse a um jornal indonésio que a língua portuguesa recupera
pouco a pouco a sua força em Timor-Leste, graças ao plano de ensino primário
apoiado por Portugal e Brasil. Qual o seu balanço da extensão desse
programa?

O português está a ganhar espaço, cada vez mais. Mas o esforço tem de continuar por mais
uma ou duas décadas, para que o português ganhe raízes irreversíveis em Timor-Leste.

Como timorense, nos confins da Ásia, como diplomata, qual a sua visão
efectiva da CPLP e do seu papel na lusofonia?

Não devemos ver uma língua apenas pela sua influência geopolítica. Língua e identidade,
cidadania, história. Timor-Leste formou-se pela colonização portuguesa. Não
subestimemos a CPLP – o Brasil, Angola e Moçambique vão emergir como grandes
determinantes políticos e económicos dadas as enormes riquezas que possuem. Dentro de
10 a 20 anos, estes três países influenciarão as suas regiões de forma determinante,
portanto a CPLP no seu todo sairá reforçada.

A sua longa carreira política granjeou-lhe seguramente amigos e inimigos. No
deve-haver destes dois grupos, qual é o mais numeroso?

Por mim não tenho inimigos. Aos que porventura digam que sou seu inimigo responderei
são meus irmãos! Se lhes fiz mal, rogo o seu perdão, pois sou um simples ser humano que
peca e falha. Cristo ensinou-nos a amar e amar significa saber perdoar os que nos fazem
mal. A vida é tão curta, frágil... Porquê desgastá-la em zangas, ódios?

Que memórias ainda retém do atentado que sofreu em 2008?

Deus quis que eu sobrevivesse, mas deixou-me com cicatrizes e algum desconforto, dor
permanente, como um pequeno calvário permanente, para o resto da vida. Levo essa dor
todos os dias, agradecendo a Deus por me ter dado a vida, por me impor esse sofrimento,
para melhor saber apreciar a dádiva da vida.

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Entrevista a Ramos Horta

  • 1. Entrevista a Ramos-Horta.“Os nossos irmãos da Guiné-Bissau são vítimas da droga” Por Sérgio Soares, publicado em 10 Jan 2013 – “Deus quis que eu sobrevivesse. Mas deixou-me com cicatrizes e algum desconforto, dor permanente, como um pequeno calvário, para o resto da minha vida [...] A vida é tão curta, frágil, porquê desgastar a vida em zangas e ódios?” O ex-presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, assume em Fevereiro, “com serenidade”, o cargo de representante especial de Ban Ki-Moon na Guiné-Bissau. Uma missão que muitos consideram quase impossível dada a ausência de um Estado forte e funcional no país, que cedeu à influência da corrupção e ao controlo dos traficantes internacionais de droga. Nada que desmotive o Prémio Nobel da Paz, que quer ajudar o país a sair do “ciclo de instabilidade e de não paz” e que considera que a Guiné-Bissau “não é uma causa perdida”. Acaba de ser escolhido pelo secretário- -geral da ONU para liderar a missão das Nações Unidas na Guiné-Bissau. Os Estados Unidos e muitas organizações internacionais dizem que aquele país já é praticamente um narco-Estado. A sua tarefa não está comprometida à partida? A produção da droga não é na Guiné-Bissau. O consumo da droga não é na Guiné-Bissau. Portanto a comunidade internacional deve encontrar formas de cercear este mal na origem
  • 2. e no destino. Os nossos irmãos guineenses são afinal vítimas da produção e da comercialização ilícita da droga. Claro, o problema da Guiné-Bissau não está apenas na questão da droga. Ela resulta em parte da crise do Estado e das suas instituições democráticas. Mas a Guiné-Bissau não é a Somália, o Congo, a Síria. Felizmente. Estou convencido que, com boa vontade, um apoio maior da União Europeia e dos Estados Unidos, uma melhor parceria, um maior alinhamento de pensamento e políticas com a União Africana, a CEDEAU e a CPLP, a ONU poderá ter êxito. Não será uma missão fácil. Óbvio que não. Conhece bem muitos dos actores políticos e militares da Guiné-Bissau. Como avalia o conflito permanente latente no país? É uma questão de rivalidades, ambições pessoais, questões étnicas? E o seu mandato como representante especial do secretário-geral da ONU vai permitir-lhe fazer o quê no terreno? Não vou, nem devo, adiantar muito em relação ao que poderei fazer no terreno. Primeiro tenho directivas a ouvir em Nova Iorque, do Departamento de Assuntos Políticos, que gere o dossiê da Guiné-Bissau. Com os meus colegas em Nova Iorque, ouvindo a CEDEAO, a União Africana, a CPLP, a União Europeia, teremos um pensamento comum. Mas acima de tudo serão os nossos irmãos guineenses a dizer e a decidir do seu futuro. A ONU não se substitui aos líderes nacionais. Parte com apoios internacionais variados, até na própria Guiné-Bissau. Mas dado o passado histórico do país o que o levou a aceitar uma missão em que tantos outros já falharam? Aborrecia-o não exercer nenhum cargo oficial? Eu já estava plenamente activo com uma nova organização não estatal regional, o Asian Peace and Reconciliation Council (Conselho Asiático para a Paz e a Reconciliação), lançada em Setembro passado e sedeada em Banguecoque, envolvendo líderes muito respeitados de toda a Ásia, vocacionada para o diálogo e a mediação de conflitos na Ásia. Além disso já tinha convites e projectos no Japão, na Alemanha e na Suíça. Tenho também o projecto de um livro/tese sobre a Ásia – “Os Desafios do Século XXI para a Ásia”. Pedi aos meus amigos e colegas do grupo dispensa por um ano e eles anuíram e encorajaram-me a aceitar a missão na Guiné-Bissau. Dada a história de Timor-Leste com a Guiné-Bissau, eu não poderia dizer não a um convite da ONU. Timor-Leste muito deve à ONU e, pela minha experiência, a organização pode ajudar os líderes e o povo da Guiné-Bissau a sair do ciclo de instabilidade, de não paz... Como sabe, Portugal e a comunidade internacional não reconhecem o governo em exercício em Bissau. Acha que essa situação pode complicar a sua tarefa? Não. Havemos de encontrar uma solução. Enquanto Presidente da República condecorou o primeiro-ministro deposto, Carlos Gomes Júnior. Este gesto é agora um obstáculo?
  • 3. Não o vejo assim. De que meios dispõe para fazer aplicar as resoluções da ONU e exercer o seu mandato no terreno? A ONU disponibiliza os recursos humanos e técnicos necessários para cada situação, nem sempre óptimos, mas temos de saber agir e gerir a situação com os recursos que temos e não com os recursos com que sonhamos. Às vezes exagera-se nos recursos, recursos a mais, complicam-se as coisas, passamos demasiado tempo a gerir a situação interna da missão, em vez de prestar atenção à situação no terreno, para a qual fomos mandatados. Como encara a sua primeira prova de fogo, com as eleições na Guiné-Bissau? Com serenidade. Falemos do seu país. Timor-Leste é hoje muito diferente do que era há uma década. Acha que a democracia e as instituições democráticas já estão convenientemente consolidadas? Há sempre necessidade e espaço para melhorar. As nossas instituições são jovens, logo frágeis. Mas a cultura democrática está enraizada. Que balanço faz do papel de Portugal desde na independência de Timor-Leste? Timor-Leste estará para sempre grato e endividado com Portugal, pelo papel central que Portugal desempenhou com coragem e dignidade na acção diplomática. Mas não poderíamos nunca minimizar o papel dos países irmãos, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, o Brasil, que foram a nossa retaguarda segura na frente diplomática. Aliás, antes de Portugal pegar a sério na questão de Timor-Leste, e isto só veio a acontecer a partir de 1991, eram esses irmãos da África que cada ano, na ONU e no Movimento dos Não-Alinhados, asseguravam que a questão de Timor-Leste não fosse varrida da agenda internacional. Em que ponto se encontra o diferendo sobre o petróleo timorense com a Austrália? Não há propriamente um diferendo entre a Austrália e Timor-Leste nesta matéria. O consórcio de investidores na área do Greater Sunrise é um consórcio multinacional de australianos, americanos, japoneses, etc. O diferendo, para usar a sua expressão, reside apenas em saber qual a melhor tecnologia, a melhor forma de explorar aquela região, se por via de um gasoduto para a costa sul de Timor-Leste, se pelo sistema flutuante (FNLG – Floating Liquidfied Gas). O diálogo está em curso, e as várias partes vão encontrar uma solução técnica e comercial com vantagens para todos. O petróleo também pode transformar- -se na maldição de Timor-Leste, como aconteceu noutras partes do mundo?
  • 4. O petróleo e o gás estão a contribuir para a modernização da nossa economia, a redução da pobreza, a melhoria da saúde, da educação, a segurança alimentar. Mas vai levar mais tempo. O contributo de Portugal para o Orçamento do Estado timorense foi significativo, com incidência no ensino e na difusão da língua e na consolidação das forças armadas. Mas Portugal atravessa uma profunda crise económico-financeira. Em que pé está a promessa de ajuda na compra de dívida portuguesa com verbas do fundo soberano do petróleo? Houve consenso em Timor-Leste para se investir na dívida soberana, mas houve mudança de governo em Portugal, a vinda da troika a Portugal, houve eleições em Timor-Leste, etc. O que propus na altura seria uma iniciativa conjunta de Timor-Leste com Angola e Brasil para investimos na compra da dívida soberana portuguesa, com vantagem para todos. Em Timor-Leste, o presidente Ramos-Horta e o primeiro-ministro Xanana Gusmão ensaiaram de certo modo o modelo seguido na Rússia, de alternância de cargos. Isso não foi um sinal de fragilidade das instituições? Bom… eu já não estou no poder em Timor-Leste. Como encarou a derrota nas últimas eleições presidenciais? Não achou que era chegada a hora de parar? O que tem feito desde que perdeu essas eleições? Politicamente deixa um legado aos seus sucessores, ou assiste-se a um apagamento da sua passagem pela administração do país? Ao soar da meia-noite de 19 de Maio de 2012 realizou-se a cerimónia de transferência de poderes do presidente cessante para o novo presidente, seguindo as regras constitucionais, o calendário constitucional, etc. Foi um acto solene, bonito. Legado? Se algum legado fica da minha passagem pela presidência, que seja de uma presidência simples, aberta, acessível, sem arrogância e sem opulência. Olhando para trás, foi melhor ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro- ministro ou presidente? Arrepende-se de alguma coisa que tenha feito ao longo da sua vasta carreira política? Deus deu-me algumas qualidades, virtudes, uma dose mediana de inteligência. Não me fez um Einstein. Portanto fiz tudo medianamente bem. Na qualidade de presidente fez em tempos uma afirmação de apoio à China muito contestada, ao declarar que reconhecia “legitimidade à soberania chinesa em relação ao Tibete”. Um Nobel da Paz defender tal ideia causou-lhe alguns amargos de boca? Sente alguma responsabilidade especial por ser Nobel da Paz? Não esqueçamos que não há um único país no mundo que não reconheça a soberania chinesa sobre o Tibete.
  • 5. Recentemente disse a um jornal indonésio que a língua portuguesa recupera pouco a pouco a sua força em Timor-Leste, graças ao plano de ensino primário apoiado por Portugal e Brasil. Qual o seu balanço da extensão desse programa? O português está a ganhar espaço, cada vez mais. Mas o esforço tem de continuar por mais uma ou duas décadas, para que o português ganhe raízes irreversíveis em Timor-Leste. Como timorense, nos confins da Ásia, como diplomata, qual a sua visão efectiva da CPLP e do seu papel na lusofonia? Não devemos ver uma língua apenas pela sua influência geopolítica. Língua e identidade, cidadania, história. Timor-Leste formou-se pela colonização portuguesa. Não subestimemos a CPLP – o Brasil, Angola e Moçambique vão emergir como grandes determinantes políticos e económicos dadas as enormes riquezas que possuem. Dentro de 10 a 20 anos, estes três países influenciarão as suas regiões de forma determinante, portanto a CPLP no seu todo sairá reforçada. A sua longa carreira política granjeou-lhe seguramente amigos e inimigos. No deve-haver destes dois grupos, qual é o mais numeroso? Por mim não tenho inimigos. Aos que porventura digam que sou seu inimigo responderei são meus irmãos! Se lhes fiz mal, rogo o seu perdão, pois sou um simples ser humano que peca e falha. Cristo ensinou-nos a amar e amar significa saber perdoar os que nos fazem mal. A vida é tão curta, frágil... Porquê desgastá-la em zangas, ódios? Que memórias ainda retém do atentado que sofreu em 2008? Deus quis que eu sobrevivesse, mas deixou-me com cicatrizes e algum desconforto, dor permanente, como um pequeno calvário permanente, para o resto da vida. Levo essa dor todos os dias, agradecendo a Deus por me ter dado a vida, por me impor esse sofrimento, para melhor saber apreciar a dádiva da vida.