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A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO E REFLEXIVO
EM CRIANÇAS DAS SÉRIES INICIAIS
Priscila Almeida Silva1
RESUMO: O presente trabalho apresenta uma análise sobre questões a serem
consideradas acerca dos caminhos que precisam ser percorridos para que se
alcance o objetivo de formar cidadãos conscientes, com capacidade de pensar por si
mesmos e elaborar sua própria impressão sobre o mundo em volta. A pesquisa é
focada nos alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental e aborda o
desenvolvimento cognitivo característico de tal período, bem como a formação da
criança enquanto ser social, que recebe influências e constrói sua personalidade e
percepções de mundo, a partir dos contatos interpessoais no grupo em que está
inserida. Também são apontadas ideias sobre a importância da escola e da figura do
professor no processo de aquisição do pensamento crítico e reflexivo, por parte do
aluno. Pretende-se, com esta pesquisa, identificar aspectos relevantes da relação
entre o aluno e o universo escolar, para que seja possível o surgimento de uma
postura questionadora e autônoma na criança desde as séries iniciais.
PALAVRAS-CHAVE: Criança, séries iniciais, pensamento crítico, reflexão,
desenvolvimento cognitivo, escola, autonomia.
1 Introdução
Este estudo bibliográfico analisa as relações, comportamentos e práticas,
existentes no meio escolar, que determinam e possibilitam o processo de construção
do pensar e do refletir no aluno do primeiro ciclo da educação básica.
Segundo Gadotti, educar equipara-se a conscientizar, ao passo que a
criticidade, a dúvida e o questionamento estão presentes nas ações transformadoras
do sujeito, pois a partir destas condutas origina-se o novo.
Sendo assim, são elementos essenciais à vida, dadas suas constantes
mudanças e a necessidade do indivíduo de expressar, conhecer, resistir e
reinventar.
1
Especialista em Educação e Sociedade pela Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, pós-
graduanda (Lato Sensu) em Sócio-Psicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São
Paulo - FESPSP , graduada em Pedagogia pela Faculdade das Américas - FAM. Possui experiência
como docente, atuando com educação infantil e ensino fundamental I. E-mail do autor:
priscila.alms@yahoo.com.br.
2
Para que o pensamento crítico e reflexivo seja alcançado, é preciso que,
desde o início da formação do ser, seja cultivado o hábito de conhecer através da
indagação, para que a compreensão do mundo e de si mesmo faça-o ir além do que
está diante dos próprios olhos, podendo, dessa maneira, criar, gerar, construir,
transformar, e não meramente reproduzir.
É importante identificar o que é preciso para que o aluno das séries iniciais
desenvolva a habilidade de receber o conhecimento oferecido pelo professor de
maneira questionadora e crítica, refletindo sobre sua relevância, aplicabilidade e
sentido. Interessa, ainda, compreender quais são as competências e práticas
pedagógicas necessárias para despertar no aluno o desejo de buscar informações,
pesquisar e conhecer o mundo de maneira autônoma e espontânea.
Para conhecer os caminhos que levarão o aluno das séries iniciais à
construção do pensamento crítico e reflexivo, serão explanadas considerações
pertinentes ao desenvolvimento cognitivo da criança entre 6 e 10 anos de idade,
para que se possam entender as transformações e necessidades que ela possui na
fase em que se encontra, nas séries iniciais do ensino básico. Para tanto, serão
consultados e citados Wallon, Vygotsky e Piaget, os quais possuem teorias que
poderão contribuir para a compreensão do assunto tratado.
Serão abordadas, também, ideias sobre a criança enquanto ser no momento
de formação das bases de sua identidade, autonomia e atuação na sociedade.
Ao final serão expostas considerações acerca da educação, analisando a
relação entre o aluno e escola, além da influência do professor no processo de
formação de alunos críticos e reflexivos, bem como a importância desse processo.
2 Aspectos do desenvolvimento cognitivo da criança na fase de 6 a 10 anos
2.1Concepção Walloniana
A criança na fase de 6 a 10 anos encontra-se no que Wallon classifica como
Estágio Categorial, que, em sua teoria, compreende o período dos 6 aos 11 anos.
Nesse momento do desenvolvimento, segundo a concepção de Wallon, a
criança afasta-se do estágio anterior, o personalismo, que dura dos 3 aos 6 anos, e
tem como característica mais marcante a afetividade no desenvolvimento, posto que
a criança está aprendendo a diferenciar o eu do mundo exterior.
3
No estágio categorial, Wallon considera que começa a ocorrer uma
estabilidade relativa nos processos regulares da evolução mental. Essa estabilidade
é abalada na adolescência por profundas crises.
Nesse período, a criança continua a se desenvolver, tanto no plano motor
como no afetivo, mas as características do comportamento são
determinadas principalmente pelo desenvolvimento intelectual, e é nesse
domínio que se podem perceber grandes saltos. A criança aprende a se
conhecer como pessoa pertencente a diferentes grupos, exercendo papéis
e atividades variados. Toma conhecimento de suas possibilidades,
adquirindo um conhecimento mais completo e concreto de si mesma.
(AMARAL, 2000, p. 52)
Também é nessa etapa que a criança desenvolve a autodisciplina mental, ou
seja, a atenção, a qual possibilita que estímulos não interessantes à atividade a que
se atém, sejam desconsiderados.
No que diz respeito à motricidade, existe mais precisão e habilidade para
adequar o gesto à ação desejada, podendo analisar antecipadamente as
consequências de seu movimento.
A formação de sua personalidade é influenciada pelo meio em que inicia suas
práticas sociais. Cada grupo possui valores, regras e costumes que são adequados
aos meios de convívio social, como a escola, por exemplo: “A escolarização obriga a
criança a deparar com meios variados, com grupos e interesses distintos.” (p. 53).
A criança precisa se habituar aos conflitos de interesse provenientes dessa
interação com o meio, visto que no estágio anterior “o grupo familiar garantia a ela
lugares determinados como de filho, de irmão mais novo ou mais velho, de neto,
enfim, lugares fixos e relações determinadas.” (p. 53).
Dessa forma, será necessário, no ambiente escolar, procurar compreender e
definir seu papel.
Aqui ocorre também o contato com uma ideia mais clara de certo e errado,
que possibilita tomada de decisões e escolhas a partir de análises e ponderações.
Segundo Wallon, no estágio categorial organiza-se uma nova estrutura
mental, que ocorre em duas etapas: a pré-categorial e a categorial.
A etapa pré-categorial, que dura até aproximadamente os 9 anos, ainda tem
como característica o sincretismo, enquanto a etapa categorial que ocorre entre 9 e
10 anos, apresenta a capacidade de formação de categorias e classificações, o que
permite à criança uma possibilidade de ordenar a realidade à sua volta.
4
O pensamento pré-categorial e o categorial caracterizam a inteligência
discursiva, que tem como ponto de partida o par, “que sustenta o pensamento
sincrético. É a primeira forma de organização intelectual.” (p. 54).
O pensamento por pares, que ocorre até os 6 anos, consiste na incapacidade
de a criança de admitir a existência da unidade, de forma que para que algo exista é
preciso que haja um par que lhe dê identidade. Nesse pensamento a criança não
distingue as partes do que percebe ao redor. “Ao pensamento sincrético, sucede-se
o pensamento de relações, que possibilitará a explicação da realidade, de maneira
que a criança possa utilizar mais corretamente as ligações lógicas.” (p.56).
Com o surgimento do pensamento categorial, entre os 6 e os 9 anos, a
criança passa a distinguir mais precisamente suas percepções do mundo, pode
nomear, agrupar e comparar itens e fatos.
Entre os 9 e os 10 anos, a criança adquire maior capacidade de análise e
abstração, embora não completa.
2.2 Concepção Vygotskyana
Para Vygotsky, é possível compreender o desenvolvimento humano
considerando a relação indivíduo/sociedade, a origem cultural das funções
psíquicas, a base biológica do funcionamento psicológico, a mediação presente nas
atividades humanas e as características básicas dos processos psicológicos
humanos.
São analisados os aspectos sociogenéticos e ontogenéticos. Nesse cenário
ocorrem as chamadas mediações que se dão por meio de “instrumentos técnicos e
os sistemas de signos, construídos historicamente.” (p. 42).
Tais ferramentas e signos viabilizam a interação dos seres entre si e com o
mundo ao redor e são fornecidos pela cultura na qual o indivíduo está inserido, e
caracterizam a relação do homem com o mundo como indireta.
Vygotsky defende que
(...) um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a separação entre
os aspectos intelectuais, de um lado, e os volitivos e afetivos, de outro,
propondo a consideração da unidade entre esses processos. Coloca que o
pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui
inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta
esfera estaria a razão última do pensamento e, assim, uma compreensão
completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua
base afetivo-volitiva. (OLIVEIRA, 1992, p. 76).
5
Considera ainda que a formação da consciência corresponde a um processo
de internalização e constituição da subjetividade e intersubjetividade.
A passagem do nível interpsicológico para o nível intrapsicológico envolve,
assim, relações interpessoais densas, mediadas simbolicamente, e não
trocas mecânicas limitadas a um patamar meramente intelectual. Envolve
também a construção de sujeitos absolutamente únicos, com trajetórias
pessoais singulares e experiências particulares em sua relação com o
mundo e, fundamentalmente, com as outras pessoas. (OLIVEIRA, 1992, p.
80)
A internalização das funções psicológicas superiores acontece a partir de
determinadas transformações que marcam o desenvolvimento cognitivo da criança,
que passa a realizar internamente operações que antes somente ocorriam de
maneira externa.
É de particular importância para o desenvolvimento dos processos mentais
superiores a transformação da atividade que utiliza signos, cuja história e
características são ilustradas pelo desenvolvimento da inteligência prática,
da atenção voluntária e da memória. (VYGOTSKY, 2007, p. 57)
Posteriormente, ocorre a transformação do processo interpessoal em
processo intrapessoal.
Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes:
primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro, entre
pessoas, (interpsicológico), e, depois, no interior da criança
(intrapsicológico). (VYGOTSKY, 2007, p. 58)
Esse processo passa por inúmeras transformações provenientes de
acontecimentos ao longo do desenvolvimento e permanece externo por muito tempo
até que se internalize permanentemente, embora o estágio de signos externos seja
o estágio final para certas funções.
2.3 Concepção Piagetiana
Piaget descreve o desenvolvimento humano através de 4 estágios básicos:
Sensório-motor (0 – 2 anos);
Pré-operatório (2 – 7/8 anos);
Operatório-concreto (8 – 11/12 anos);
Operatório-formal (12 anos em diante).
6
No período Sensório-motor (0 a 2 anos), começa na criança a construção do
real, em que tudo, a princípio, parece caótico. Suas percepções e movimentos
possibilitam que a criança conheça e passe a, gradualmente, compreender e
dominar tudo ao redor.
No período Pré-operatório (2 a 7/8 anos), aparece a função simbólica ou,
como algumas vezes denomina Piaget, semiótica. Este é o momento em que a
criança adquire a linguagem, porém linguagem e lógica não surgem
simultaneamente. Justamente pela ausência do pensamento lógico, apesar de neste
estágio o pensamento já apresentar tamanha evolução, ainda predomina na criança
o egocentrismo intelectual e social, pois a realidade ao seu redor ainda é concebida
somente a partir de si.
No Período das operações concretas (7 a 11/12 anos), a criança desenvolve
a capacidade de estabelecer relações lógicas e coordenar pensamentos de forma
coerente. As operações deixam de ser necessariamente realizadas apenas no plano
físico, passam a ser realizadas mentalmente.
De acordo com Piaget, a compreensão da reversibilidade e as conservações
operatórias são características de crianças a partir de 7 ou 8 anos de idade, faixa
etária na qual as crianças estão iniciando suas vidas escolares.
Esse processo ocorre até os 12 anos, aproximadamente, e é explicado como
o “sucesso de três grandes construções, cada uma das quais prolonga a anterior,
reconstituindo-a primeiro num plano novo para ultrapassá-la em seguida, cada vez
mais amplamente.” (p. 135).
A teoria de Piaget sugere que neste ponto do desenvolvimento cognitivo,
surjam as noções de conservação, classificação e seriação. “As operações
concretas estabelecem, portanto, muito bem a transição entre a ação e as estruturas
lógicas mais gerais” (p. 91).
É preciso, porém, ressaltar que as operações ainda não se baseiam em
hipóteses, são consideradas concretas porque baseiam-se diretamente nos objetos.
No Período das operações formais (12 anos em diante), a criança, atinge a
abstração do pensamento e passa a ter a habilidade de formular hipóteses, seu
pensamento baseia-se na lógica. Este, segundo Piaget, é o estágio final do
desenvolvimento, que continua sendo aprimorado ao longo da vida do sujeito.
7
3 A criança como ser social em formação
Partindo da análise psicológica do desenvolvimento humano, de acordo com
Vygostky, é possível identificar que o meio possui papel indispensável neste
processo. A interação social é um dos fatores que difere a humanidade dos animais:
“A internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente
desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia animal para a
psicologia humana.” (p. 58).
Freitag afirma que, para compreender o desenvolvimento de um indivíduo
dentro de uma sociedade, deve-se refletir, principalmente, sobre sua natureza, para
que seja possível analisar o que é inato e o que é resultado de influências externas,
sendo que, para isso, podem-se considerar, pelo menos, duas possibilidades:
Rousseau acredita que a natureza do homem é boa e que uma consciência moral é
desenvolvida espontaneamente. Já Durkheim afirma que o homem possui natureza
egoísta.
Ambos consideram que a sociedade exerce grande influência na formação do
sujeito social, entretanto, de certa forma, também divergem neste aspecto:
Rousseau dirá: no decorrer de sua vida, o homem sofre duas influências
negativas: a da sociedade, de origem externa, e a de suas pulsões, de
origem interna, que ofuscam a sua percepção do mundo e deturpam suas
ações. Para que ele seja capaz de discernir entre o certo e o errado, o bem
e o mal, o justo e o injusto, o homem precisa educar sua inteligência,
aprimorá-la, a fim de que esta lhe forneça os critérios adequados de
avaliação e julgamento. (FREITAG, 2001, p. 35)
Freitag aponta que para Durkheim a sociedade tem uma função diferente no
que diz respeito à formação do indivíduo enquanto sujeito social:
A sociedade, essencialmente boa, cristaliza em suas normas, regras,
ordens e proibições, a aura do sagrado, definindo o conteúdo das virtudes,
do bem e do mal, do justo e do injusto, do certo e do errado. Essas
representações coletivas da sociedade são repassadas aos indivíduos de
geração em geração, da mais velha para a mais nova. (FREITAG, 2001, p.
38)
Tais pontos de vista possibilitam uma rica reflexão sobre a importância de
oferecer à criança, que está construindo seu caráter básico ao longo de seus
primeiros anos escolares, um ambiente que apresente referências positivas, posto
8
que tanto Rousseau quanto Durkheim percebem a sociedade como fator decisivo no
processo de formação do sujeito.
Embora Rousseau entenda que a sociedade corrompe a essência boa do
homem, Durkheim discorda, afirmando que, na verdade, o homem é condicionado a
ser bom pelas regras da sociedade, em ambos os casos é imprescindível que o
contexto social da criança em desenvolvimento seja o mais saudável possível, para
que ela possa interiorizar boa conduta e exercer controle sobre seus instintos, ou
para que nela seja despertado ou reforçado o que já possui de positivo
naturalmente.
A teoria de Piaget esclarece que:
Aproximadamente, aos sete e oito anos, na medida que se iniciam os
processos de equilibração (reversibilidade, associatividade, composição,
etc.) das estruturas configuracionais (gestalten) do pensamento, as trocas
interpessoais tornam-se condição sine qua non do prosseguimento da
maturação. (LIMA, 1984, p. 116).
Piaget afirma que regras sociais não podem ser consideradas todas boas e
que a teoria de Durkheim não incentiva a autonomia, e sim a aceitação incontestada
e impensada sobre as normas.
Este condicionamento, para Piaget, pode ser perigoso à medida que inibe e
invalida o raciocínio individual, podendo gerar movimentos sociais com concepções
e ideais fanáticos e absurdos.
No ser humano, a partir de um certo momento da embriologia mental, as
interações com o meio sociocultural (sociedade e cultura) tornam-se
dominantes (servindo a linguagem de mediador), podendo esta interação
resultar em conformação ou em estímulo à superação do egocentrismo.
(LIMA, 1984, p. 116)
Segundo Piaget, “a privação de interações interpessoais pode ser fator de
frenagem, no desenvolvimento mental, a partir do estágio das operações concretas.”
(LIMA, 1984, p. 117).
De acordo com essa afirmação, é possível perceber que também para Piaget
as relações sociais têm grande importância no desenvolvimento do indivíduo. “As
relações interpessoais forçam (ou permitem) a compreensão do ponto de vista do
outro, descongelando o egocentrismo (intuições). Daí a importância da discussão
nas últimas etapas do desenvolvimento.” (LIMA, 1984, p. 117)
9
Piaget discorre a respeito do assunto em sua teoria sobre o juízo moral na
criança, onde considera as duas morais na criança e os tipos de relações sociais
existentes.
As relações podem ser, para Piaget, de duas formas. São elas coação e
cooperação:
(...) as relações de coação são contraditórias com o desenvolvimento
intelectual das pessoas a elas submetidas. No caso específico das crianças,
ela reforça o egocentrismo, que, entre outras coisas, representa justamente
a dificuldade de se colocar no ponto de vista do outro e assim estabelecer,
com ele, relações de reciprocidade. A coação impede, ou simplesmente não
pede, que tal reciprocidade ocorra, e, portanto não possibilita à criança
construir as estruturas mentais operatórias necessárias à sua conquista. (LA
TAILLE, 1992, p. 59).
É notável que Piaget entende como altamente nocivo o efeito de uma relação
de coação sobre a criança, em especial, pois considera que “no que tange à moral,
na coação, há somente respeito unilateral.” ( LA TAILLE, 1992, p. 59)
De acordo com Piaget, as relações devem ocorrer de forma cooperativa:
As relações de cooperação (co-operação como às vezes escreveu Piaget
para sublinhar a etimologia do termo) são simétricas, portanto, regidas pela
reciprocidade. São relações constituintes, que pedem, pois, mútuos acordos
entre os participantes, uma vez que as regras não são dadas de antemão.
Somente com a cooperação, o desenvolvimento intelectual e moral pode
ocorrer, pois ele exige que os sujeitos descentrem para poder compreender
o ponto de vista alheio. No que tange à moral, da cooperação derivam o
respeito mútuo e a autonomia. (LA TAILLE, 1992, p. 59)
Para Rousseau, Durkheim, Piaget e Vygotsky, o indivíduo constitui-se através
de sua interação com o meio, e são os estímulos do meio que interferem na
construção do sujeito.
Apesar de divergências de ideias sobre a essência humana, os três
reconhecem o papel importante que o contexto social exerce sobre aquilo que é
inato do ser humano ou sobre aquilo que a própria sociedade molda, bem como que
dessa interação resulta a formação de um indivíduo.
4 A educação como ferramenta viabilizadora da crítica e da reflexão
Segundo Espósito, a relação entre o aluno e a escola começa a mudar
significativamente a partir de 1982, quando começam a ser inseridas as ideias do
10
Construtivismo, no qual a criança passa a ser percebida de uma maneira diferente,
sob uma nova óptica, que considera seus diversos aspectos enquanto indivíduo em
processo de aprendizagem e desenvolvimento de forma geral.
Este é um importante marco, na visão da autora, pois deixa para trás algumas
falhas do ensino clássico, no qual a criança é agente passivo ao receber a
informação oferecida no ambiente escolar. Este modelo é substituído por ideias que
buscam possibilitar à criança a oferta de descobertas e reflexões sobre o
conhecimento.
A preocupação com o respeito às singularidades, necessidades, habilidades e
limitações de cada indivíduo em processo de aprendizagem é um fator diferencial
que marca uma nova perspectiva na educação.
(...) enfatizar a necessidade de a escola acolher e respeitar o pensar
daquele que aprende, vendo-o como um sujeito histórico, situado numa
cultura multifacetada e complexa. (ESPÓSITO, 2006, P. 31-32)
A partir desse novo modo de ver e lidar com a construção do conhecimento
do educando, também é possível perceber na escola um novo valor no que diz
respeito à socialização do indivíduo, posto que, de acordo com as novas
proposições, não só interessam à escola e à tarefa de aprender suas habilidades e
condições cognitivas, mas também suas características culturais, por exemplo,
tornando a escola um ambiente em que o ser manifesta-se de maneira completa e
deve ser respeitado e orientado também de maneira plena.
Nesse período, livros, cartilhas, métodos de ensino que, até então eram
coerentes com a concepção de ensino vigente, cujas bases remontam ao
realismo pedagógico, passam a ser vistos, então, como insuficientes, senão
desnecessários. Enfatiza-se o contexto sócio-cultural e linguístico da
criança, o reconhecimento de seu saber como elemento a ser incorporado
no processo, visto como uma construção do conhecimento. (ESPÓSITO,
2006, p. 32)
É neste novo cenário que a criança passa a vivenciar a experiência escolar de
uma maneira mais próxima, de forma que as interações e os contatos possíveis
nesse contexto auxiliem não só na construção do saber, mas no desenvolvimento
como um todo.
A sala de aula coloca-se não apenas como um locus onde se dá o ensino,
mas como um dos lugares privilegiados onde se dá o aprender. Introduz-se
um novo discurso pedagógico que fala de movimentos, dialéticas,
oposições, construções, reconstruções. (ESPÓSITO, 2006, p. 32)
11
Educar é uma tarefa que não possui sujeito e objeto, de acordo com Paulo
Freire. Para ele, “quem forma se forma e re-forma o formar e quem é formado forma-
se e forma ao ser formado”. (p. 21)
Não existe, na educação, aquele que só ensine e aquele que só aprenda,
como sugerem os papéis estabelecidos e difundidos de professor e aluno. Paulo
Freire considera que o professor aprende ao ensinar e que o educando ensina ao
aprender, e isso faz da educação um ato muito maior e mais significativo do que a
simples transmissão de conhecimentos que parte de um ser formador para um
agente receptivo passivo.
Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender
participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica,
gnosiológica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos
dadas com a decência e com a seriedade. (FREIRE, 1996, p. 24)
Paulo Freire aponta os hábitos que foram há muito adotados nas relações
entre educadores e educandos e são considerados por muitos a única maneira, ou a
maneira natural, de se educar. A postura do educador em relação ao educando no
que diz respeito ao conteúdo trabalhado é, muitas vezes, opressiva e improdutiva.
Ele afirma que, em relação à educação estática,
(...) o educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real
sujeito, cuja tarefa é encher os educandos dos conteúdos de sua narração.
Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em
que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (FREIRE, 2005,
p. 65-66).
Ensinar de forma descontextualizada e de maneira a colocar o aluno como
objeto de formação leva a uma memorização mecânica e transforma os alunos em
“vasilhas, em recipientes a serem enchidos pelo educador” (p. 66), tornando o
processo da aquisição de conhecimento uma mera situação de exposição e
memorização de informações que Paulo Freire explica:
Na visão bancária da educação, o saber é uma doação dos que se julgam
sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das
manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da
ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância,
segundo a qual esta se encontra sempre no outro. (FREIRE, 2005, p. 67).
A transferência de valores e conhecimentos não viabiliza reflexões,
problematizações e discussões, dando espaço à absolutização do saber do
12
educador e à alienação dos educandos, segundo Freire, que também considera um
erro colocar o educando na condição daquele que nada sabe. Sim, o educando
possui saberes que devem ser respeitados:
(...) pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o
dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo
das classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na
prática comunitária – mas também (...) discutir com os alunos a razão de ser
de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos.
(FREIRE, 1996, p. 30)
Repensar as ações e a postura do educador, bem como seu olhar em relação
aos educandos e, principalmente, suas concepções sobre a educação enquanto
instrumento de transformação e intervenção no mundo, é necessário para que se
possa atingir a autonomia dos sujeitos, tanto do educador, quanto do educando.
Para Paulo Freire, tudo se inicia com o respeito mútuo à autonomia e à dignidade.
Fleuri aponta que a educação autoritária é destinada a formar seres sem
capacidade de pensar e agir por si só, ou seja, sem autonomia. Dessa forma, um
professor que não exerce sua autonomia e não respeita a construção da autonomia
do aluno contribui para a alienação e para o condicionamento. “No fundo, o objeto
desta proposta educacional é adaptar as pessoas a uma sociedade em que
predominam as relações de opressão.” (p. 53)
Para exercer a educação autoritária, o professor já não faz mais uso explícito
de violência como nos tempos em que podia manifestá-la fisicamente. Entretanto, “a
chamada, as provas, as notas estão em pleno vigor e são poderosos meios de
controle do pensamento e da atividade dos alunos nas mãos do professor”. (p. 53).
Para contribuir positivamente com a construção da autonomia do educando,
incentivando-o a formar suas próprias opiniões, tirar conclusões, ser questionador e
sempre ter um olhar crítico para o mundo, bem como tomar suas próprias decisões,
o educador precisa ele próprio agir de acordo com tais ideias que constituem sua
autonomia.
De acordo com Gadotti, a educação tem o papel de combater modelos e
ideias pré-definidas e o educador “não é o que cria as contradições e os conflitos.
Ele apenas os revela, isto é, tira os homens da inconsciência. Educar passa a ser
essencialmente conscientizar” (p. 70), especialmente porque para que o sujeito
possa ser autônomo, precisa aprender a analisar fatos ditos inquestionáveis e
13
indubitáveis. É imprescindível para a construção da autonomia a inquietação e a
dúvida.
(...) reconhecer que o aparente é sempre uma e apenas uma das faces do
real. (...) não se deixar conduzir pelas exterioridades, pelas evidências,
pelas potências. Suspeitar é deixar sempre uma porta aberta para uma
nova vista; é reconhecer os limites da ação transformadora. (GADOTTI,
1998, p. 69)
É necessário que o educador conduza a aprendizagem apontando caminhos
e provocando reflexões, não apenas dando continuidade ao modelo educacional
arbitrário onde são transmitidos conteúdos programados e engessados, sem
efetivamente proporcionar uma experiência transformadora para educador e
educando.
5 Conclusão
Para Wallon, a criança de 6 a 10 anos (idade escolar em que se encontra no
primeiro ciclo do ensino fundamental) passa por transformações altamente
relevantes no que diz respeito à motricidade e afetividade, entretanto, a mais
significativa evolução é percebida no campo intelectual.
Nesta fase, de acordo com Wallon, a criança está deixando as características
afetivas do estágio anterior para aprimorar seu desenvolvimento na atuação em
diferentes ambientes, considerando que a formação de sua personalidade dá-se a
partir da relação com o mundo em volta.
Tendo em vista este fato, é possível compreender que o aluno está, aos
poucos, deparando-se e aprendendo a lidar com novas linguagens, diferentes
grupos e valores, os quais passam a ser submetidos a avaliações e ponderações
que a criança realiza para compreender seu papel em cada ambiente, inclusive no
escolar. O grau de abstração de seu pensamento evolui, como também a
capacidade de estabelecer comparações e fazer análises cada vez mais complexas,
possibilitando melhor entendimento da realidade.
Vygotsky também considera de determinante importância para o
desenvolvimento do sujeito seu contato com a sociedade, por meio da qual adquire
14
ferramentas e signos que medeiam sua relação com o mundo. Essa forma de
interação mediada caracteriza como indireta a relação entre o indivíduo e o mundo.
As operações concretas, explicadas por Piaget, elucidam que a criança de 7 a
11/12 anos desenvolve habilidades que a possibilitam realizar atividades mentais
envolvendo lógica, reversibilidade e elaborando hipóteses, o que demonstra que
está apta a compreender a relatividade dos conteúdos a serem explorados e
conhecidos na escola, bem como formular suas impressões e questionamentos
sobre eles.
Conforme apresentado na pesquisa, Piaget também entende a relação
interpessoal como um fator imprescindível, elementar e de enorme influência no
desenvolvimento humano, pois torna possível a superação do egocentrismo.
Foram apresentadas considerações acerca da Educação no processo de
conscientização do aluno, em que se pôde notar que, ao se construirem estruturas
adequadas, a escola pode significar muito mais para o aluno do que um mero lugar
onde se recebem informações por obrigação ditada por uma convenção social, que
busca promoção vazia de sentido. O ambiente escolar deverá representar um lugar
onde o aluno seja visto, respeitado, ouvido, de forma que todas as ações
pedagógicas se deem com a finalidade de oferecer bases para seu pleno
desenvolvimento pessoal e social.
Essa forma de se relacionar com o mundo, colocando, de certa maneira, em
teste a veracidade e a lógica de todas as coisas, pode ser aplicada em inúmeros
aspectos da vida humana e apresenta-se extremamente importante também no que
tange à Educação. A apreensão de toda forma de conhecimento potencializa-se a
partir dessa relação dialética, da curiosidade e da “desconfiança” na mente do
sujeito, que estará mais aberto a refletir, a conhecer, a compreender e enxergar os
conteúdos de forma ampla e crítica, abandonando a passividade.
O ideal é que o indivíduo consiga levar o pensamento crítico para todas as
áreas da vida, especialmente nas relações humanas em sociedade, onde existem
normas, costumes e valores que precisam ser constantemente repensados e
discutidos, no sentido de aprimorar e otimizar seus efeitos e benefícios para as
pessoas.
É importante o hábito de rever e repensar aquilo que parece estático, fixo e
imutável, para que erros possam ser corrigidos e novas práticas e concepções
possam tomar o lugar daquelas que já não se mostram úteis e viáveis.
15
A transformação através do pensamento é prerrogativa do homem, que deve
fazer uso dela para sua própria sobrevivência e convívio social.
Quanto mais cedo o sujeito começar a exercitar suas habilidades de crítica e
reflexão sobre tudo o que constitui o mundo em que vive, maior a possibilidade de
se desenvolver buscando sempre ações conscientes e transformadoras.
O professor possui a importante função de estimulador do questionamento e
da curiosidade do aluno, tendo ele próprio uma postura investigativa sobre o
conhecimento.
A partir das considerações dos autores consultados na presente pesquisa,
percebe-se que, para que seja possível fazer emergir na criança das séries iniciais
um pensamento questionador, curioso e crítico, é preciso compreender e respeitar
suas habilidades cognitivas em desenvolvimento e levar em conta sua condição de
sujeito social em formação.
6 Referências
ESPÓSITO, Vitória Helena Cunha. Construindo o Conhecimento da Criança
Adulto: Uma Perspectiva Interdisciplinar? São Paulo: Martinari, 2006.
FLEURI, Reinaldo Matias. Educar para quê? – Contra o autoritarismo da relação
pedagógica na escola. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática
Educativa. São Paulo. Paz e Terra. 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
FREITAG, Bárbara. O Indivíduo em formação. Coleção Questões da Nossa Época
v. 30. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
GADOTTI, Moacir. Educação e Poder – Introdução à Pedagogia do Conflito. 11.
ed. São Paulo: Cortes, 1998.
LIMA, Lauro de Oliveira. A Construção do Homem Segundo Piaget: Uma Teoria
da Educação. 3. ed. São Paulo: Summus, 1984.
16
MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (Orgs.) Psicologia
e Educação. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A Psicologia da Criança. Trad. Octavio Mendes
Cajado. 4. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2009.
REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: Uma Perspectiva Histórico-cultural da
Educação. Coleção Educação e Conhecimento. 20. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
TAILLE, Yves De LA; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget,
Vigotsky, Wallon. Teorias Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus,
1992.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente: O
Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. Trad. José Cipolla
Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 7. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.

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  • 1. A CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO CRÍTICO E REFLEXIVO EM CRIANÇAS DAS SÉRIES INICIAIS Priscila Almeida Silva1 RESUMO: O presente trabalho apresenta uma análise sobre questões a serem consideradas acerca dos caminhos que precisam ser percorridos para que se alcance o objetivo de formar cidadãos conscientes, com capacidade de pensar por si mesmos e elaborar sua própria impressão sobre o mundo em volta. A pesquisa é focada nos alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental e aborda o desenvolvimento cognitivo característico de tal período, bem como a formação da criança enquanto ser social, que recebe influências e constrói sua personalidade e percepções de mundo, a partir dos contatos interpessoais no grupo em que está inserida. Também são apontadas ideias sobre a importância da escola e da figura do professor no processo de aquisição do pensamento crítico e reflexivo, por parte do aluno. Pretende-se, com esta pesquisa, identificar aspectos relevantes da relação entre o aluno e o universo escolar, para que seja possível o surgimento de uma postura questionadora e autônoma na criança desde as séries iniciais. PALAVRAS-CHAVE: Criança, séries iniciais, pensamento crítico, reflexão, desenvolvimento cognitivo, escola, autonomia. 1 Introdução Este estudo bibliográfico analisa as relações, comportamentos e práticas, existentes no meio escolar, que determinam e possibilitam o processo de construção do pensar e do refletir no aluno do primeiro ciclo da educação básica. Segundo Gadotti, educar equipara-se a conscientizar, ao passo que a criticidade, a dúvida e o questionamento estão presentes nas ações transformadoras do sujeito, pois a partir destas condutas origina-se o novo. Sendo assim, são elementos essenciais à vida, dadas suas constantes mudanças e a necessidade do indivíduo de expressar, conhecer, resistir e reinventar. 1 Especialista em Educação e Sociedade pela Universidade Cidade de São Paulo - UNICID, pós- graduanda (Lato Sensu) em Sócio-Psicologia pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP , graduada em Pedagogia pela Faculdade das Américas - FAM. Possui experiência como docente, atuando com educação infantil e ensino fundamental I. E-mail do autor: priscila.alms@yahoo.com.br.
  • 2. 2 Para que o pensamento crítico e reflexivo seja alcançado, é preciso que, desde o início da formação do ser, seja cultivado o hábito de conhecer através da indagação, para que a compreensão do mundo e de si mesmo faça-o ir além do que está diante dos próprios olhos, podendo, dessa maneira, criar, gerar, construir, transformar, e não meramente reproduzir. É importante identificar o que é preciso para que o aluno das séries iniciais desenvolva a habilidade de receber o conhecimento oferecido pelo professor de maneira questionadora e crítica, refletindo sobre sua relevância, aplicabilidade e sentido. Interessa, ainda, compreender quais são as competências e práticas pedagógicas necessárias para despertar no aluno o desejo de buscar informações, pesquisar e conhecer o mundo de maneira autônoma e espontânea. Para conhecer os caminhos que levarão o aluno das séries iniciais à construção do pensamento crítico e reflexivo, serão explanadas considerações pertinentes ao desenvolvimento cognitivo da criança entre 6 e 10 anos de idade, para que se possam entender as transformações e necessidades que ela possui na fase em que se encontra, nas séries iniciais do ensino básico. Para tanto, serão consultados e citados Wallon, Vygotsky e Piaget, os quais possuem teorias que poderão contribuir para a compreensão do assunto tratado. Serão abordadas, também, ideias sobre a criança enquanto ser no momento de formação das bases de sua identidade, autonomia e atuação na sociedade. Ao final serão expostas considerações acerca da educação, analisando a relação entre o aluno e escola, além da influência do professor no processo de formação de alunos críticos e reflexivos, bem como a importância desse processo. 2 Aspectos do desenvolvimento cognitivo da criança na fase de 6 a 10 anos 2.1Concepção Walloniana A criança na fase de 6 a 10 anos encontra-se no que Wallon classifica como Estágio Categorial, que, em sua teoria, compreende o período dos 6 aos 11 anos. Nesse momento do desenvolvimento, segundo a concepção de Wallon, a criança afasta-se do estágio anterior, o personalismo, que dura dos 3 aos 6 anos, e tem como característica mais marcante a afetividade no desenvolvimento, posto que a criança está aprendendo a diferenciar o eu do mundo exterior.
  • 3. 3 No estágio categorial, Wallon considera que começa a ocorrer uma estabilidade relativa nos processos regulares da evolução mental. Essa estabilidade é abalada na adolescência por profundas crises. Nesse período, a criança continua a se desenvolver, tanto no plano motor como no afetivo, mas as características do comportamento são determinadas principalmente pelo desenvolvimento intelectual, e é nesse domínio que se podem perceber grandes saltos. A criança aprende a se conhecer como pessoa pertencente a diferentes grupos, exercendo papéis e atividades variados. Toma conhecimento de suas possibilidades, adquirindo um conhecimento mais completo e concreto de si mesma. (AMARAL, 2000, p. 52) Também é nessa etapa que a criança desenvolve a autodisciplina mental, ou seja, a atenção, a qual possibilita que estímulos não interessantes à atividade a que se atém, sejam desconsiderados. No que diz respeito à motricidade, existe mais precisão e habilidade para adequar o gesto à ação desejada, podendo analisar antecipadamente as consequências de seu movimento. A formação de sua personalidade é influenciada pelo meio em que inicia suas práticas sociais. Cada grupo possui valores, regras e costumes que são adequados aos meios de convívio social, como a escola, por exemplo: “A escolarização obriga a criança a deparar com meios variados, com grupos e interesses distintos.” (p. 53). A criança precisa se habituar aos conflitos de interesse provenientes dessa interação com o meio, visto que no estágio anterior “o grupo familiar garantia a ela lugares determinados como de filho, de irmão mais novo ou mais velho, de neto, enfim, lugares fixos e relações determinadas.” (p. 53). Dessa forma, será necessário, no ambiente escolar, procurar compreender e definir seu papel. Aqui ocorre também o contato com uma ideia mais clara de certo e errado, que possibilita tomada de decisões e escolhas a partir de análises e ponderações. Segundo Wallon, no estágio categorial organiza-se uma nova estrutura mental, que ocorre em duas etapas: a pré-categorial e a categorial. A etapa pré-categorial, que dura até aproximadamente os 9 anos, ainda tem como característica o sincretismo, enquanto a etapa categorial que ocorre entre 9 e 10 anos, apresenta a capacidade de formação de categorias e classificações, o que permite à criança uma possibilidade de ordenar a realidade à sua volta.
  • 4. 4 O pensamento pré-categorial e o categorial caracterizam a inteligência discursiva, que tem como ponto de partida o par, “que sustenta o pensamento sincrético. É a primeira forma de organização intelectual.” (p. 54). O pensamento por pares, que ocorre até os 6 anos, consiste na incapacidade de a criança de admitir a existência da unidade, de forma que para que algo exista é preciso que haja um par que lhe dê identidade. Nesse pensamento a criança não distingue as partes do que percebe ao redor. “Ao pensamento sincrético, sucede-se o pensamento de relações, que possibilitará a explicação da realidade, de maneira que a criança possa utilizar mais corretamente as ligações lógicas.” (p.56). Com o surgimento do pensamento categorial, entre os 6 e os 9 anos, a criança passa a distinguir mais precisamente suas percepções do mundo, pode nomear, agrupar e comparar itens e fatos. Entre os 9 e os 10 anos, a criança adquire maior capacidade de análise e abstração, embora não completa. 2.2 Concepção Vygotskyana Para Vygotsky, é possível compreender o desenvolvimento humano considerando a relação indivíduo/sociedade, a origem cultural das funções psíquicas, a base biológica do funcionamento psicológico, a mediação presente nas atividades humanas e as características básicas dos processos psicológicos humanos. São analisados os aspectos sociogenéticos e ontogenéticos. Nesse cenário ocorrem as chamadas mediações que se dão por meio de “instrumentos técnicos e os sistemas de signos, construídos historicamente.” (p. 42). Tais ferramentas e signos viabilizam a interação dos seres entre si e com o mundo ao redor e são fornecidos pela cultura na qual o indivíduo está inserido, e caracterizam a relação do homem com o mundo como indireta. Vygotsky defende que (...) um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais, de um lado, e os volitivos e afetivos, de outro, propondo a consideração da unidade entre esses processos. Coloca que o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nesta esfera estaria a razão última do pensamento e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva. (OLIVEIRA, 1992, p. 76).
  • 5. 5 Considera ainda que a formação da consciência corresponde a um processo de internalização e constituição da subjetividade e intersubjetividade. A passagem do nível interpsicológico para o nível intrapsicológico envolve, assim, relações interpessoais densas, mediadas simbolicamente, e não trocas mecânicas limitadas a um patamar meramente intelectual. Envolve também a construção de sujeitos absolutamente únicos, com trajetórias pessoais singulares e experiências particulares em sua relação com o mundo e, fundamentalmente, com as outras pessoas. (OLIVEIRA, 1992, p. 80) A internalização das funções psicológicas superiores acontece a partir de determinadas transformações que marcam o desenvolvimento cognitivo da criança, que passa a realizar internamente operações que antes somente ocorriam de maneira externa. É de particular importância para o desenvolvimento dos processos mentais superiores a transformação da atividade que utiliza signos, cuja história e características são ilustradas pelo desenvolvimento da inteligência prática, da atenção voluntária e da memória. (VYGOTSKY, 2007, p. 57) Posteriormente, ocorre a transformação do processo interpessoal em processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, e, depois, no nível individual; primeiro, entre pessoas, (interpsicológico), e, depois, no interior da criança (intrapsicológico). (VYGOTSKY, 2007, p. 58) Esse processo passa por inúmeras transformações provenientes de acontecimentos ao longo do desenvolvimento e permanece externo por muito tempo até que se internalize permanentemente, embora o estágio de signos externos seja o estágio final para certas funções. 2.3 Concepção Piagetiana Piaget descreve o desenvolvimento humano através de 4 estágios básicos: Sensório-motor (0 – 2 anos); Pré-operatório (2 – 7/8 anos); Operatório-concreto (8 – 11/12 anos); Operatório-formal (12 anos em diante).
  • 6. 6 No período Sensório-motor (0 a 2 anos), começa na criança a construção do real, em que tudo, a princípio, parece caótico. Suas percepções e movimentos possibilitam que a criança conheça e passe a, gradualmente, compreender e dominar tudo ao redor. No período Pré-operatório (2 a 7/8 anos), aparece a função simbólica ou, como algumas vezes denomina Piaget, semiótica. Este é o momento em que a criança adquire a linguagem, porém linguagem e lógica não surgem simultaneamente. Justamente pela ausência do pensamento lógico, apesar de neste estágio o pensamento já apresentar tamanha evolução, ainda predomina na criança o egocentrismo intelectual e social, pois a realidade ao seu redor ainda é concebida somente a partir de si. No Período das operações concretas (7 a 11/12 anos), a criança desenvolve a capacidade de estabelecer relações lógicas e coordenar pensamentos de forma coerente. As operações deixam de ser necessariamente realizadas apenas no plano físico, passam a ser realizadas mentalmente. De acordo com Piaget, a compreensão da reversibilidade e as conservações operatórias são características de crianças a partir de 7 ou 8 anos de idade, faixa etária na qual as crianças estão iniciando suas vidas escolares. Esse processo ocorre até os 12 anos, aproximadamente, e é explicado como o “sucesso de três grandes construções, cada uma das quais prolonga a anterior, reconstituindo-a primeiro num plano novo para ultrapassá-la em seguida, cada vez mais amplamente.” (p. 135). A teoria de Piaget sugere que neste ponto do desenvolvimento cognitivo, surjam as noções de conservação, classificação e seriação. “As operações concretas estabelecem, portanto, muito bem a transição entre a ação e as estruturas lógicas mais gerais” (p. 91). É preciso, porém, ressaltar que as operações ainda não se baseiam em hipóteses, são consideradas concretas porque baseiam-se diretamente nos objetos. No Período das operações formais (12 anos em diante), a criança, atinge a abstração do pensamento e passa a ter a habilidade de formular hipóteses, seu pensamento baseia-se na lógica. Este, segundo Piaget, é o estágio final do desenvolvimento, que continua sendo aprimorado ao longo da vida do sujeito.
  • 7. 7 3 A criança como ser social em formação Partindo da análise psicológica do desenvolvimento humano, de acordo com Vygostky, é possível identificar que o meio possui papel indispensável neste processo. A interação social é um dos fatores que difere a humanidade dos animais: “A internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da psicologia animal para a psicologia humana.” (p. 58). Freitag afirma que, para compreender o desenvolvimento de um indivíduo dentro de uma sociedade, deve-se refletir, principalmente, sobre sua natureza, para que seja possível analisar o que é inato e o que é resultado de influências externas, sendo que, para isso, podem-se considerar, pelo menos, duas possibilidades: Rousseau acredita que a natureza do homem é boa e que uma consciência moral é desenvolvida espontaneamente. Já Durkheim afirma que o homem possui natureza egoísta. Ambos consideram que a sociedade exerce grande influência na formação do sujeito social, entretanto, de certa forma, também divergem neste aspecto: Rousseau dirá: no decorrer de sua vida, o homem sofre duas influências negativas: a da sociedade, de origem externa, e a de suas pulsões, de origem interna, que ofuscam a sua percepção do mundo e deturpam suas ações. Para que ele seja capaz de discernir entre o certo e o errado, o bem e o mal, o justo e o injusto, o homem precisa educar sua inteligência, aprimorá-la, a fim de que esta lhe forneça os critérios adequados de avaliação e julgamento. (FREITAG, 2001, p. 35) Freitag aponta que para Durkheim a sociedade tem uma função diferente no que diz respeito à formação do indivíduo enquanto sujeito social: A sociedade, essencialmente boa, cristaliza em suas normas, regras, ordens e proibições, a aura do sagrado, definindo o conteúdo das virtudes, do bem e do mal, do justo e do injusto, do certo e do errado. Essas representações coletivas da sociedade são repassadas aos indivíduos de geração em geração, da mais velha para a mais nova. (FREITAG, 2001, p. 38) Tais pontos de vista possibilitam uma rica reflexão sobre a importância de oferecer à criança, que está construindo seu caráter básico ao longo de seus primeiros anos escolares, um ambiente que apresente referências positivas, posto
  • 8. 8 que tanto Rousseau quanto Durkheim percebem a sociedade como fator decisivo no processo de formação do sujeito. Embora Rousseau entenda que a sociedade corrompe a essência boa do homem, Durkheim discorda, afirmando que, na verdade, o homem é condicionado a ser bom pelas regras da sociedade, em ambos os casos é imprescindível que o contexto social da criança em desenvolvimento seja o mais saudável possível, para que ela possa interiorizar boa conduta e exercer controle sobre seus instintos, ou para que nela seja despertado ou reforçado o que já possui de positivo naturalmente. A teoria de Piaget esclarece que: Aproximadamente, aos sete e oito anos, na medida que se iniciam os processos de equilibração (reversibilidade, associatividade, composição, etc.) das estruturas configuracionais (gestalten) do pensamento, as trocas interpessoais tornam-se condição sine qua non do prosseguimento da maturação. (LIMA, 1984, p. 116). Piaget afirma que regras sociais não podem ser consideradas todas boas e que a teoria de Durkheim não incentiva a autonomia, e sim a aceitação incontestada e impensada sobre as normas. Este condicionamento, para Piaget, pode ser perigoso à medida que inibe e invalida o raciocínio individual, podendo gerar movimentos sociais com concepções e ideais fanáticos e absurdos. No ser humano, a partir de um certo momento da embriologia mental, as interações com o meio sociocultural (sociedade e cultura) tornam-se dominantes (servindo a linguagem de mediador), podendo esta interação resultar em conformação ou em estímulo à superação do egocentrismo. (LIMA, 1984, p. 116) Segundo Piaget, “a privação de interações interpessoais pode ser fator de frenagem, no desenvolvimento mental, a partir do estágio das operações concretas.” (LIMA, 1984, p. 117). De acordo com essa afirmação, é possível perceber que também para Piaget as relações sociais têm grande importância no desenvolvimento do indivíduo. “As relações interpessoais forçam (ou permitem) a compreensão do ponto de vista do outro, descongelando o egocentrismo (intuições). Daí a importância da discussão nas últimas etapas do desenvolvimento.” (LIMA, 1984, p. 117)
  • 9. 9 Piaget discorre a respeito do assunto em sua teoria sobre o juízo moral na criança, onde considera as duas morais na criança e os tipos de relações sociais existentes. As relações podem ser, para Piaget, de duas formas. São elas coação e cooperação: (...) as relações de coação são contraditórias com o desenvolvimento intelectual das pessoas a elas submetidas. No caso específico das crianças, ela reforça o egocentrismo, que, entre outras coisas, representa justamente a dificuldade de se colocar no ponto de vista do outro e assim estabelecer, com ele, relações de reciprocidade. A coação impede, ou simplesmente não pede, que tal reciprocidade ocorra, e, portanto não possibilita à criança construir as estruturas mentais operatórias necessárias à sua conquista. (LA TAILLE, 1992, p. 59). É notável que Piaget entende como altamente nocivo o efeito de uma relação de coação sobre a criança, em especial, pois considera que “no que tange à moral, na coação, há somente respeito unilateral.” ( LA TAILLE, 1992, p. 59) De acordo com Piaget, as relações devem ocorrer de forma cooperativa: As relações de cooperação (co-operação como às vezes escreveu Piaget para sublinhar a etimologia do termo) são simétricas, portanto, regidas pela reciprocidade. São relações constituintes, que pedem, pois, mútuos acordos entre os participantes, uma vez que as regras não são dadas de antemão. Somente com a cooperação, o desenvolvimento intelectual e moral pode ocorrer, pois ele exige que os sujeitos descentrem para poder compreender o ponto de vista alheio. No que tange à moral, da cooperação derivam o respeito mútuo e a autonomia. (LA TAILLE, 1992, p. 59) Para Rousseau, Durkheim, Piaget e Vygotsky, o indivíduo constitui-se através de sua interação com o meio, e são os estímulos do meio que interferem na construção do sujeito. Apesar de divergências de ideias sobre a essência humana, os três reconhecem o papel importante que o contexto social exerce sobre aquilo que é inato do ser humano ou sobre aquilo que a própria sociedade molda, bem como que dessa interação resulta a formação de um indivíduo. 4 A educação como ferramenta viabilizadora da crítica e da reflexão Segundo Espósito, a relação entre o aluno e a escola começa a mudar significativamente a partir de 1982, quando começam a ser inseridas as ideias do
  • 10. 10 Construtivismo, no qual a criança passa a ser percebida de uma maneira diferente, sob uma nova óptica, que considera seus diversos aspectos enquanto indivíduo em processo de aprendizagem e desenvolvimento de forma geral. Este é um importante marco, na visão da autora, pois deixa para trás algumas falhas do ensino clássico, no qual a criança é agente passivo ao receber a informação oferecida no ambiente escolar. Este modelo é substituído por ideias que buscam possibilitar à criança a oferta de descobertas e reflexões sobre o conhecimento. A preocupação com o respeito às singularidades, necessidades, habilidades e limitações de cada indivíduo em processo de aprendizagem é um fator diferencial que marca uma nova perspectiva na educação. (...) enfatizar a necessidade de a escola acolher e respeitar o pensar daquele que aprende, vendo-o como um sujeito histórico, situado numa cultura multifacetada e complexa. (ESPÓSITO, 2006, P. 31-32) A partir desse novo modo de ver e lidar com a construção do conhecimento do educando, também é possível perceber na escola um novo valor no que diz respeito à socialização do indivíduo, posto que, de acordo com as novas proposições, não só interessam à escola e à tarefa de aprender suas habilidades e condições cognitivas, mas também suas características culturais, por exemplo, tornando a escola um ambiente em que o ser manifesta-se de maneira completa e deve ser respeitado e orientado também de maneira plena. Nesse período, livros, cartilhas, métodos de ensino que, até então eram coerentes com a concepção de ensino vigente, cujas bases remontam ao realismo pedagógico, passam a ser vistos, então, como insuficientes, senão desnecessários. Enfatiza-se o contexto sócio-cultural e linguístico da criança, o reconhecimento de seu saber como elemento a ser incorporado no processo, visto como uma construção do conhecimento. (ESPÓSITO, 2006, p. 32) É neste novo cenário que a criança passa a vivenciar a experiência escolar de uma maneira mais próxima, de forma que as interações e os contatos possíveis nesse contexto auxiliem não só na construção do saber, mas no desenvolvimento como um todo. A sala de aula coloca-se não apenas como um locus onde se dá o ensino, mas como um dos lugares privilegiados onde se dá o aprender. Introduz-se um novo discurso pedagógico que fala de movimentos, dialéticas, oposições, construções, reconstruções. (ESPÓSITO, 2006, p. 32)
  • 11. 11 Educar é uma tarefa que não possui sujeito e objeto, de acordo com Paulo Freire. Para ele, “quem forma se forma e re-forma o formar e quem é formado forma- se e forma ao ser formado”. (p. 21) Não existe, na educação, aquele que só ensine e aquele que só aprenda, como sugerem os papéis estabelecidos e difundidos de professor e aluno. Paulo Freire considera que o professor aprende ao ensinar e que o educando ensina ao aprender, e isso faz da educação um ato muito maior e mais significativo do que a simples transmissão de conhecimentos que parte de um ser formador para um agente receptivo passivo. Quando vivemos a autenticidade exigida pela prática de ensinar-aprender participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, gnosiológica, estética e ética, em que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e com a seriedade. (FREIRE, 1996, p. 24) Paulo Freire aponta os hábitos que foram há muito adotados nas relações entre educadores e educandos e são considerados por muitos a única maneira, ou a maneira natural, de se educar. A postura do educador em relação ao educando no que diz respeito ao conteúdo trabalhado é, muitas vezes, opressiva e improdutiva. Ele afirma que, em relação à educação estática, (...) o educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa é encher os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (FREIRE, 2005, p. 65-66). Ensinar de forma descontextualizada e de maneira a colocar o aluno como objeto de formação leva a uma memorização mecânica e transforma os alunos em “vasilhas, em recipientes a serem enchidos pelo educador” (p. 66), tornando o processo da aquisição de conhecimento uma mera situação de exposição e memorização de informações que Paulo Freire explica: Na visão bancária da educação, o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. (FREIRE, 2005, p. 67). A transferência de valores e conhecimentos não viabiliza reflexões, problematizações e discussões, dando espaço à absolutização do saber do
  • 12. 12 educador e à alienação dos educandos, segundo Freire, que também considera um erro colocar o educando na condição daquele que nada sabe. Sim, o educando possui saberes que devem ser respeitados: (...) pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo das classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também (...) discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. (FREIRE, 1996, p. 30) Repensar as ações e a postura do educador, bem como seu olhar em relação aos educandos e, principalmente, suas concepções sobre a educação enquanto instrumento de transformação e intervenção no mundo, é necessário para que se possa atingir a autonomia dos sujeitos, tanto do educador, quanto do educando. Para Paulo Freire, tudo se inicia com o respeito mútuo à autonomia e à dignidade. Fleuri aponta que a educação autoritária é destinada a formar seres sem capacidade de pensar e agir por si só, ou seja, sem autonomia. Dessa forma, um professor que não exerce sua autonomia e não respeita a construção da autonomia do aluno contribui para a alienação e para o condicionamento. “No fundo, o objeto desta proposta educacional é adaptar as pessoas a uma sociedade em que predominam as relações de opressão.” (p. 53) Para exercer a educação autoritária, o professor já não faz mais uso explícito de violência como nos tempos em que podia manifestá-la fisicamente. Entretanto, “a chamada, as provas, as notas estão em pleno vigor e são poderosos meios de controle do pensamento e da atividade dos alunos nas mãos do professor”. (p. 53). Para contribuir positivamente com a construção da autonomia do educando, incentivando-o a formar suas próprias opiniões, tirar conclusões, ser questionador e sempre ter um olhar crítico para o mundo, bem como tomar suas próprias decisões, o educador precisa ele próprio agir de acordo com tais ideias que constituem sua autonomia. De acordo com Gadotti, a educação tem o papel de combater modelos e ideias pré-definidas e o educador “não é o que cria as contradições e os conflitos. Ele apenas os revela, isto é, tira os homens da inconsciência. Educar passa a ser essencialmente conscientizar” (p. 70), especialmente porque para que o sujeito possa ser autônomo, precisa aprender a analisar fatos ditos inquestionáveis e
  • 13. 13 indubitáveis. É imprescindível para a construção da autonomia a inquietação e a dúvida. (...) reconhecer que o aparente é sempre uma e apenas uma das faces do real. (...) não se deixar conduzir pelas exterioridades, pelas evidências, pelas potências. Suspeitar é deixar sempre uma porta aberta para uma nova vista; é reconhecer os limites da ação transformadora. (GADOTTI, 1998, p. 69) É necessário que o educador conduza a aprendizagem apontando caminhos e provocando reflexões, não apenas dando continuidade ao modelo educacional arbitrário onde são transmitidos conteúdos programados e engessados, sem efetivamente proporcionar uma experiência transformadora para educador e educando. 5 Conclusão Para Wallon, a criança de 6 a 10 anos (idade escolar em que se encontra no primeiro ciclo do ensino fundamental) passa por transformações altamente relevantes no que diz respeito à motricidade e afetividade, entretanto, a mais significativa evolução é percebida no campo intelectual. Nesta fase, de acordo com Wallon, a criança está deixando as características afetivas do estágio anterior para aprimorar seu desenvolvimento na atuação em diferentes ambientes, considerando que a formação de sua personalidade dá-se a partir da relação com o mundo em volta. Tendo em vista este fato, é possível compreender que o aluno está, aos poucos, deparando-se e aprendendo a lidar com novas linguagens, diferentes grupos e valores, os quais passam a ser submetidos a avaliações e ponderações que a criança realiza para compreender seu papel em cada ambiente, inclusive no escolar. O grau de abstração de seu pensamento evolui, como também a capacidade de estabelecer comparações e fazer análises cada vez mais complexas, possibilitando melhor entendimento da realidade. Vygotsky também considera de determinante importância para o desenvolvimento do sujeito seu contato com a sociedade, por meio da qual adquire
  • 14. 14 ferramentas e signos que medeiam sua relação com o mundo. Essa forma de interação mediada caracteriza como indireta a relação entre o indivíduo e o mundo. As operações concretas, explicadas por Piaget, elucidam que a criança de 7 a 11/12 anos desenvolve habilidades que a possibilitam realizar atividades mentais envolvendo lógica, reversibilidade e elaborando hipóteses, o que demonstra que está apta a compreender a relatividade dos conteúdos a serem explorados e conhecidos na escola, bem como formular suas impressões e questionamentos sobre eles. Conforme apresentado na pesquisa, Piaget também entende a relação interpessoal como um fator imprescindível, elementar e de enorme influência no desenvolvimento humano, pois torna possível a superação do egocentrismo. Foram apresentadas considerações acerca da Educação no processo de conscientização do aluno, em que se pôde notar que, ao se construirem estruturas adequadas, a escola pode significar muito mais para o aluno do que um mero lugar onde se recebem informações por obrigação ditada por uma convenção social, que busca promoção vazia de sentido. O ambiente escolar deverá representar um lugar onde o aluno seja visto, respeitado, ouvido, de forma que todas as ações pedagógicas se deem com a finalidade de oferecer bases para seu pleno desenvolvimento pessoal e social. Essa forma de se relacionar com o mundo, colocando, de certa maneira, em teste a veracidade e a lógica de todas as coisas, pode ser aplicada em inúmeros aspectos da vida humana e apresenta-se extremamente importante também no que tange à Educação. A apreensão de toda forma de conhecimento potencializa-se a partir dessa relação dialética, da curiosidade e da “desconfiança” na mente do sujeito, que estará mais aberto a refletir, a conhecer, a compreender e enxergar os conteúdos de forma ampla e crítica, abandonando a passividade. O ideal é que o indivíduo consiga levar o pensamento crítico para todas as áreas da vida, especialmente nas relações humanas em sociedade, onde existem normas, costumes e valores que precisam ser constantemente repensados e discutidos, no sentido de aprimorar e otimizar seus efeitos e benefícios para as pessoas. É importante o hábito de rever e repensar aquilo que parece estático, fixo e imutável, para que erros possam ser corrigidos e novas práticas e concepções possam tomar o lugar daquelas que já não se mostram úteis e viáveis.
  • 15. 15 A transformação através do pensamento é prerrogativa do homem, que deve fazer uso dela para sua própria sobrevivência e convívio social. Quanto mais cedo o sujeito começar a exercitar suas habilidades de crítica e reflexão sobre tudo o que constitui o mundo em que vive, maior a possibilidade de se desenvolver buscando sempre ações conscientes e transformadoras. O professor possui a importante função de estimulador do questionamento e da curiosidade do aluno, tendo ele próprio uma postura investigativa sobre o conhecimento. A partir das considerações dos autores consultados na presente pesquisa, percebe-se que, para que seja possível fazer emergir na criança das séries iniciais um pensamento questionador, curioso e crítico, é preciso compreender e respeitar suas habilidades cognitivas em desenvolvimento e levar em conta sua condição de sujeito social em formação. 6 Referências ESPÓSITO, Vitória Helena Cunha. Construindo o Conhecimento da Criança Adulto: Uma Perspectiva Interdisciplinar? São Paulo: Martinari, 2006. FLEURI, Reinaldo Matias. Educar para quê? – Contra o autoritarismo da relação pedagógica na escola. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2001. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo. Paz e Terra. 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. FREITAG, Bárbara. O Indivíduo em formação. Coleção Questões da Nossa Época v. 30. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. GADOTTI, Moacir. Educação e Poder – Introdução à Pedagogia do Conflito. 11. ed. São Paulo: Cortes, 1998. LIMA, Lauro de Oliveira. A Construção do Homem Segundo Piaget: Uma Teoria da Educação. 3. ed. São Paulo: Summus, 1984.
  • 16. 16 MAHONEY, Abigail Alvarenga; ALMEIDA, Laurinda Ramalho de. (Orgs.) Psicologia e Educação. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000. PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A Psicologia da Criança. Trad. Octavio Mendes Cajado. 4. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2009. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: Uma Perspectiva Histórico-cultural da Educação. Coleção Educação e Conhecimento. 20. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. TAILLE, Yves De LA; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vigotsky, Wallon. Teorias Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus, 1992. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. Trad. José Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.