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Tendências da Literatura Brasileira Contemporânea
Author(s): Wilson Martins
Reviewed work(s):
Source: Hispania, Vol. 48, No. 3 (Sep., 1965), pp. 413-421
Published by: American Association of Teachers of Spanish and Portuguese
Stable URL: http://www.jstor.org/stable/336462 .
Accessed: 27/04/2012 14:13

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TENDtNCIAS DA LITERATURA
                       BRASILEIRACONTEMPORANEA
                                         MARTINS
                                    WILSON
                                  New York University

    A 6ltima revoluqdo na prosa artistica fundidade na obra de Guimardes Rosa,
 brasileiradata de 1946 (Sagarana): exata- procurandofixar-lheos pontos de referencia
mente dez anos mais tarde, surgiria, comrn essenciais. Com isso, estai sendo negligen-
os manifestos e o "plano-piloto" concre- ciado, at6 ao momento, o seu carnter,se ndo
                                   dos
 tistas, a iltima revolu~go na poesia. Isso mais importante, pelo menos tdo significa-
prop6e desde logo as perspectivas em que tivo quanto o da invenqao lingiiistica, que
devemos estudar as tendencias da literatura e o da sua renovaqdo romanesca: uma
contemporinea no Brasil: trata-se,por um leitura atenta, para aldm do anteparo das
lado, de uma literatura que ainda luta palavras, demonstra que Grande Sertdo:
      o
comrn monstruosocadaver do Modernismo, Veredas e um romance de extraordinairia
atravessado na estrada, e, por outro lado, estrutura, construido com mro de mestre,
de uma literatura que procura elaborarem evocando fundos problemas espirituais, si-
crialdo prbpriamentedita novas concepg6es tuado intelectualmente na encruzilhada
esteticas, as quais, no que se refere a poesia, das grandes correntes da ficq0o, desde a
ainda ndo passaramrealmente dos dominios Idade Media aos nossos dias, e tendo criado,
puramente te6ricos. A prosa, ao contririo, no plano das figuras humanas, um tipo
 ndo tem teoria, ou a teoria estai sendo es- liternrio, que e, como se sabe, a ambiqdo
truturada "a posteriori",o que e excelente, suprema e a finalidade mesma de toda a
a partirda obra de GuimaraesRosa;quanto prosa de ficao. O romance de Guimardes
a este iltimo, se, com a sua pr6pria extra- Rosa, sendo igualmente original e inventivo
ordinariae impetuosa originalidade,fechou na lingua, no estilo, no contetido e na
automaticamentetodos os caminhos de uma configurado dos personagens, ndo estai
eventual "escola" literaria, forneceu, comrn longe, portanto, do que se poderia deno-
Grande Sertdo: Veredas (1957), a prova minar a obra total, quaisquer que sejam,
de que era possivel inventar um romance ao nivel do pormenor, as reservas que se
ao mesmo tempo extremamente literario e lhe possamopor. Se muitos criticosparecem
lingiiistico, a meio caminho entre Joyce e exceder-se nos louvores e na iddia de que
Mario de Andrade-pois ndo e sbmente no os livros de Guimardes Rosa estabelecem
Ulysses, para ndo falar de Finnegans Wake, rumos definitivos e invariiveis para a litera-
mas tamb6m em Macunaima, que se en- tura brasileirado futuro, nao se lhes pode
contram reunidos aqueles dois caracteres, negar o              de insistir sobre o alcance da
                                                        m.6rito
a contribuihdoprbpriamentenacional com- primeira obra verdadeiramente revolu-
parecendo sob a forma clissica de regiona- cionairia surgir na prosa artisticabrasileira
                                                        a
lismo.                                          depois do Modernismo.
   t curioso, mas perfeitamente compre-           Com efeito, os outrosgrandesromancistas
ensivel, que sejam os criticos mais pr6ximos brasileiroscontemporaneosparecem situar-
da poesia concreta (e alguns outros que, se mais numa esp6cie de classicismo p6s-
embora her ticos, manifestam os mesmos modernistado que prbpriamentenas linhas
gostos de critica "lingiiistica") os primeiros ebulientes da vanguarda literiria: os "dois
analistas a mergulhar corn alguma pro- grandes" dos anos 30, Erico Verissimo e
                                           413
414                                    HISPANIA

Jorge Amado, escreveram,respectivamente, no ensaio: embora a critica literiria no
com O Tempo e o Vento (1949) e comrn Brasil tenha sido, nestes 6ltimos anos, mais
Gabriela, Cravo e Canela (1958), qualquer abstrusa do que realmente criadora de
coisa como uma sintese epica dos seus iddias te6ricas e estiticas, mais afetada do
livros anteriores; ou, se quisermos, estes que interpretativa,  mais repleta de doutrinas
   1ltimosndo passaram da inconsciente pre- do que rica em proposiybes iluminantes
paragio dos dois grandes romances, nos ou enriquecedoras,sempre C certo que, ela
quais, afinal, encontraram a sua pr6pria tamb6m, tem p6sto t6da a enfase nos as-
identidade literiria. Diga-se desde logo que, pectos formais da obra de arte, na sua
justamente por serem menos originais, nas natureza de criagqolingitistica.
perspectivas totalizadorasacima apontadas,       Nessas perspectivas, poderiamos apontar
os romances de 1rico Verissimo e Jorge o romancista Jos6 Geraldo Vieira como o
Amado serdo muito mais "universalizaiveis" grande
                                                      injustiqadoda ficqdo brasileira. Ele
que o de Guimardes Rosa: a versdo norte- tambm, muito antes de Guimaries Rosa,
americana deste iltimo (The Devil to Pay f4z do romance uma "maquina" literiria
in the Backlands [New York, 1963]) de- e lingulistica: contudo, pode-se imaginar
monstrou, como seria de esperar, que e que o cariter convencional da sua lingua,
 possivel traduzir-lhe a "lingua," mas ndo que nio inventa um dicionairio     mas apenas
a "linguagem" e, muito menos, o estilo: explora as possibilidades dos dicionairios
para encontrar correspondenciasem lingua existentes, fi-lo passar,aos olhos dos "novos
inglesa para o texto brasileiro teria sido criticos" e dos criticos novos, como uma
                                                                                         '
 preciso um James Joyce: para traduzi-loem especie de ancestral ou de romancista
frances, um outro Romain Rolland (o Ro- margem das correntes caracteristicas do
main Rolland de Colas Breugnon): Grande nosso tempo. Tal situaqdo de marginal
 Sertao: Veredas, no texto ingl&s,os contos acompanha em todos os momentos a car-
de Corpo de Baile em franc4s, dao a ideia reira de Jose Geraldo Vieira; mas, se
de um Ulysses escrito por Erskine Cald- houver na literatura brasileira, como em
 well: o pr6prio Jorge Amado, que, no pre- qualquer outra, um lugar de honra para os
ficio da traduSgo americana, ndo esconde escritores que veem o romance mais como
 o seu orgulho por ter sido um dos primeiros um produto das belas-letras do que como
 a "foresee the rapid universalizationof his um reflexo realista da vida comum, entdo e
  [GuimardesRosa's] work," acrescentaime- certo que o autor de Terreno Baldio (1961)
 diatamente: "Not so much or even because e de A Quadragisima Porta (1948) tem a
of its formal aspect, more limited to our sua presenqa assegurada na hist6ria literi-
 national frontiers, as because of the world ria do pais. Ndo deixa de ser picante
 revealed, re-created, and given enduring acentuar que e um pouco nessa diregqio
 life through the extraordinarily achieved que se encaminha o Jorge Amado de Os
 beings, through the Brazil that breathes in Velhos Marinheiros (1961): isso prova
 its every page."                              que o Modernismo, a partir, digamos, de
     H i, pois, um aspecto formalistaque seria 1945, estih bem morto, e que os sobrevi-
 o traqo fundamental de t6da a literatura ventes da grande 6poca, diante da impossi-
 brasileira contemporanea, e que, antes de bilidade natural de prolongi-lo, tentaram
 qualquer outro, ihe marcariaas tendencias criar-lhe um "classicismo,"o que foi bem
 atuais: podemos, mesmo, dizer que a linha sucedido entre os melhores. Clarice Lis-
 do formalismo e a invisivel fronteira que pector, que e alguma coisa como um Jose
 separaos escritorescontemporaneosdos que Geraldo Vieira menos rico em seiva ro-
  jaiso, ou comegama ser, "hist6ricos,"  tanto manesca e em imaginaqdo, jai sobrevive
 na ficq5o e na poesia quanto na critica e apenas como contista, depois do extraordi-
LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORANEA                           415

 nario sucesso de Perto do Cora4doSelvagem biente favorivel, ela revela qualidades que
 (1943); ora, como contista, ela seria alguma nao sdo muito diferentes, em natureza, das
 coisa como um Guimaries Rosa urbano, o de Guimaries Rosa.
 Guimaraes Rosa possivel de uma classe          Contudo, as tendencias formalistas da
mrdia puramente citadina, muito mais do literatura contemporinea encontram uma
que o Kafka que ela procura sugerir comrn reapdobastante sensivel entre os escritores
 os romances posteriores a 1943.              que parecemvoltar a um certo realismopr6-
    Ora, 6 justamente no romance urbano, e modernista. Ainda hi pouco, examinando
 tamb6m nas linhas de uma renovaldo for- as obras mais recentes da ficqio (mesmo
 mal do genero-mas .renovayio t&cnica e assinadas por autores mais idosos, alguns
 estrutural, ndo lingiuistica ou estilistica- dPles, ate, "formalistas"
                                                                      pr6priamenteditos
que se situa a 6l1timagrande revelagio do ou "formalistas" seu modo), eu observava
                                                               a
 genero no Brasil . .. o velho Marques        que parece estar passando, para a prosa
 Rebblo de Oscarina (1931) e de A Estrela artistica brasileira, a idade das grandes in-
 Sobe (1938). Corn efeito, O Espilho Par- vengbes e das grandes revolug6es: Gui-
 tido (1959) temrn todo o cariter estranho e maries Rosa, na sobrevivencia dos seus
misterioso das grandes obras de arte: em exercicios lingiiisticos,
                                                                      come;a a parecer
 certo sentido, pode-se dizer que a tentativa mais inatual do que Guilherme Figueiredo
 de Marques Rebdlo ainda e mais ousada com o virtuosismoacademicoem que se es-
que a de Guimaries Rosa, pois depende mera e em que triunfa (mas a sua 6iltima
 menos de efeitos ruidosos e sensiveis a novela, Historia para se ouvir de noite
primeira vista, repousa menos s6bre o [1964], s6 poderia ter sido escrita pelo
pitoresco, provoca mais a intelig ncia do grande ficcionistaque dle realmente '); na
que os sentidos, seraimais cerebral do que mesma ordem de ideias, outros romancistas
emocional. Se, com Maria Alice Barrosoe contemporaneos, mantendo-se num plano
alguns jovens escritores publicados, geral- honroso de estilo literario, nio manifestam
mente, pela Edit6ra GRD, do Rio de o impeto renovador comrn              que, em 1946,
Janeiro,o "n6voromance"f?z a sua entrada aparecia Sagarana.Assim, a iltima revolu-
no Brasil, Marques Rebdlo poderia ser Iqo ou a fl1tima renovagio da nossa prosa
visto como uma especie de mestre mais artistica dataria de quase vinte anos: em
idoso desse grupo; sem as inclinaq6es materia de verdadeirasnovidades literirias,
"poeticas" de muitos dos romancistas idl- nossa hist6ria, em lugar de exemplificar o
timamente surgidos (que, infelizmente, "aceleramento"         convencional, parece, antes,
caem com mais frequencia na falsa poesia- inclinada a um notivel alargamento de
a "poesia"de que o primeiro Jorge Amado ondas ritmicas. Mirio Donato, Jose Conde,
oferecia tantos exemplos-do que se alqam Carlos Heitor Cony, M. Teixeira Marinho,
a atmosfera rarefeita da prosa podtica), Otto Lara Resende, parecem mais afeiqo-
Marques Rebdlo restabelece, entretanto, o ados ao tema do que a forma e contentam-
rumo pr6priamente romanesco, indicando se com o que poderiamos chamar, ' falta
que, na ficgao, " um limite extremo que de melhor t&rmo,a prosa realista. Apenas
                 hai
s6 se ultrapassa custa da descaracterizagqo Lygia Fagundes Telles manifesta, por in-
do genero. t a este perigo que se exp6s a termit ncias, certos anseios podticos: seria
romancistade Perto do CoragdoSelvagem, interessante verificar mais de perto, por
e em que afinal sucumbiu nos livros pos- exemplo, at6 que ponto o sucesso de
teriores; no conto, ao contrnirio,que tem Clarice Lispectorrepercutiu no seu tom de
uma s61lidatradigio podtica (Tchecov, K. voz, nos seus "gestos"estilisticos.
Mansfield . ..) e no qual a visio po'tica,     Assim, por paradoxo, a prosa brasileira
por sua pr6pria brevidade, encontra am- esti vivendo um periodo
                                                          simulteneo                   de
416                                     HISPANIA

formalismo e de realismo. Nio mais o            espiritual.
"realismo social" dos anos 30 (tdo bem             Ndo se tratando, aqui, de um levanta-
encarnado nos primeirosromancesde Jorge         mento onomaistico grandes e dos menos
                                                                    dos
Amado), mas o realismo puramente es-            grandes escritores brasileiros contempora-
colistico, de que Jose Lins do Rego,            neos, mas de um quadro das tendancias
Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz,            mais caracteristicas nossa literatura,vista
                                                                     de
foram, naquela d&cada,os grandes prati-         em seu conjunto, ndo teria cabimento a
cantes. Voltaram, agora, a literaturade fic-                            da
                                                anilise pormenorizada obra de cada um,
gqo os temas chamados "grosseiros," ob- a       nem a menoo de outros ficcionistas que,
servaqgo  minuciosa do mundo exterior, a        embora tipicos em seus processos, ndo
visdo pessimista do homem, a sitira social,     parecem influir na global fixago de rumos.
a linguagem direta e simples, o interesse       Da mesma forma, deixaremosum pouco na
pelo comportamento, o desafio 's conven-        sombrao ensaio liternrio,tomada a palavra
q6es "burguesas" a moda do enr&do
                  e                    deter-   no sentido amplo: com exceCdoda critica
minado, a intriga s61idae bem desenvolvida.     formalista, acima referida, o ensaio alcan-
Neste ziltimo aspecto, a ficoo brasileira       qou, tamb6m, um plano de classicismo de
continua a sofrer da sua carencia tradi-        que nao vejo como poderi sair sem perder
cional, pois que, a uma intriga geral-          muitas das suas qualidades: e, corn relaqdo
mente "dramitica,"correspondeinvarihvel-        a critica formalista, penso, mesmo, que
mente uma desoladorapobreza de agqo. O          muitas das suas singularidades estruturais
ficcionista brasileiro e capaz, em regra,       s6 se obtam em detrimento das virtuali-
de inventar o dado de base de sua his-          dades ensaisticas: a andlise formal, por sua
t6ria, mas ji se mostra bem menos habil         pr6pria natureza, perde em generalidade
ao desenvolve-lonuma aqlao   correspondente:    critica o que possa ganhar em precisio
dal a sensaao de imobilidade que nos            analitica. Por isso mesmo, a critica moderna
transmite a maior parte dos contos e ro-        estai continuamente exposta ao perigo da
mances, mesmo aqueles em que "acon-             atomizaCqo,abdicando, talvez com exces-
 tecem" muitas coisas. E que a situaqdio        siva e imprudente ligeireza, da sua grande
romanesca permanece identica de comeko                       '
                                                missdo que a de constituir um "corpus"
a fim, o personagem raramente manifes-          organicode iddiasliternrias.
tando aquelas sutis transformac6esde per-          Parece indiscutivel, entretanto, que o
sonalidade (dentro de um quadro estavel         aspecto mais saliente da renovaqaoliteriria
de psicologia) que revelam, justamente, a       no Brasil, aqu le com que a "vanguarda"
passagem do tempo. Este flltimo valor 6 o       mais se identifica, manifesta-se na poesia.
grande ausente da ficqao brasileira:e uma       Em 1957, consolidando pela primeira vez
ficoo newtoniana ou euclidiana, mais do         os principios implicitos da poesia concreta
 que uma ficgqo bergsoniana ou einstei-         (que entdo ainda se escrevia entre aspas),
 niana. Isso indicaria o seu inegivel ana-                                    '
                                                Augusto de Campos, que um dos seus
                                        se
 cronismo ou a sua "a-historicidade," to-       grandes te6ricos, doutrinava:
marmos o t&rmocomo designativo de in-             -   a poesia concreta comeqa por assumir uma
sensibilidade ao clima espiritual da 6poca:           responsabilidade total perante a linguagem:
acrescento desde logo que seraipreciso al-            aceitando o pressupostodo idioma hist6rico
                                                      como nicleo indispensivel de comunicagdo,
guma coisa mais do que simples experi-                recusa-se absorver as palavras como meros
mentagqes ticnicas (como as do "novo ro-              veiculos indiferentes, sem vida sem perso-
 mance," por exemplo), para que a fiqcdo              nalidade sem hist6ria-tiimulos-tabus com
                                                    que a convengao insiste em sepultar a iddia.
 mergulhe realmente na grande correnteim-         - o poeta concreto nao volta a face s pa-
 petuosa da hist6ria: trata-se,antes, de uma          lavras, nio ihes lanla olhares abliquos;vai
questAo de psicologia e de sensibilidade              direto ao seu centro, para viver e vivificar
LITERATURA
                                    BRASILEIRA
                                             CONTEMPORANEA                                        417
      a sua facticidade:                             e assinado pela trilogia jfi agora hist6rica
   - o poeta concreto ve a palavraem si mesma        dos seus tratadistas (Augusto de Campos,
     -campo magn6tico de possibilidades-como         D6cio Pignatari e Haroldo de Campos):
     um objeto dinimico, uma c6dulaviva, um
     organismo completo, com propriedades                 Poesia concreta: produto de uma evolulgo
                          tacto antenas circula-
     psico-fisico-quimicas,                            critica de formas. Dando por encerradoo ciclo
      0docoragdo:viva.                                hist6rico do verso (unidade ritmico-formal), a
   - longe de procurar evadir-se da realidade         poesia concreta comega por tomar conhecimento
     ou iludi-la, pretende a poesia concreta,          do espago grifico como agente estrutural,espago
     contra a introspec~go autodebilitante e          qualificado: estrutura espicio-temporal,em vez
     contra o realismo simplista e simpl6rio,         de desenvolvimento meramente temporistico-
       situar-se de frente jiara as coisas, aberta, linear. Dai a importanciada idiia de ideograma,
      em posigao de realismo absoluto.                desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou
                                                      visual,      o seu sentido especifico (Fenollosa/
    - o velho alicerce formal e silogistico-discur- Pound)ate    de m~todo de compor baseado na jus-
       sivo,  fortemente abalado no comago do taposigao direta-anal6gica, nio
                                                                                        16gico-discursiva
       seculo, voltou a servir de escora as ruinas -de elementos. "I1 faut que notre intelligence
       de uma po6tica comprometida, hibrido s'habituea comprendresynthitico-iddographique-
       anacronico de coralgo at6mico e couraga ment au lieu de analytico-discursivement"          (Apol-
       medieval.                                      linaire). Eisenstein: ideograma e montagem.
    - contraa               sintixica perspectivista,    Precursores: Mallarme (Un coup de des,
       onde as organizaqgo sentar-se como "ca- 1897); o primeirosalto qualitativo:"subdivisions
                 palavras vem
       diveres em banquete", a poesia concreta prismatiques de l'Id&e";espago ("blancs") e
      op6e um novo sentido de estrutura, capaz recursostipogrificoscomo elementos substantivos
       de, no momento hist6rico, captar, sem da composiglo. Pound (The cantos): m&todo
       desgaste ou regressio, ocerne da expe- ideogramico.          Joyce (Ulysses e FinnegansWake):
       riencia humana poetizavel.                     palavra-ideograma;   interpenetrago orggnica de
    - mallarme ("un coup de d6s" - 1897), joyce       tempo e espago. Cummings: atomizaCgo pa-    de
       ("finnegans wake"), pound ("cantos" - lavras, tipografia fisiogn6mica; valorizaCgoex-
      ideograma), cummings, e num segundo pressionista do espago. Apollinaire (Calligram-
      piano apollinaire ("calligrames")e as ten- mes): como visZo,mais do que como realizalgo.
       tativas experimentais futuristas-dadaistas, Futurismo, dadaismo: contribuig6espara a vida
       estdo na raiz do novo procedimentopoetico do problema. No Brasil: Oswald de Andrade
      que tende a impor-se a organizagio con- (1890-1954): "em comprimidos, minutos de
      vencional cuja unidade formal 6 o verso poesia". Joao Cabral de Melo Neto (n. 1920-
       (livre inclusive).                             O Engenheiro e A psicologia da composigao mais
                                                      Anti-ode): linguagem direta, economia e arqui-
   - o poema concreto ou ideograma passa a tetura funcional do verso.
      ser um campo relacionalde fung6es.
                                                         Poesia concreta: tensdo de palavras-coisas no
   - o n icleo po6tico 6 p6sto em evidencia nao espago-tempo.         Estruturadinmhnica:
      mais pelo encadeamentosucessivo e linear de movimentos concomitantes. multiplicidadeTamb6m na
      de versos, mas por sistema de relag6es e                      definigao, uma arte do tempo-in-
      equilibriosentre quaisquerpartes do poema. mdsica-por
                                                      tervem o espago (Webem e seus seguidores
   - fung6es-relag6es grifico-foneticas ("fat6res Boulez e Stockhausen;m6isicaconcreta e eletr6-
      de proximidade e semelhanga") e o uso nica); nas artes visuais-espaciais, por definiCao
      substantivo do espago como elemento de -intervem o tempo (Mondrian e a serie Boogie-
      composigio entretem uma dialetica simul- woogie; Max Bill; Albers e a ambival ncia per-
      tanea de 61ho e f6lego, que, aliada a ceptiva; arte concreta em geral).
      sintese ideogrAmica significado,cria uma
                           do                            Ideograma: apdlo a comunica~gonao-verbal.
      totalidade sensivel "verbivocovisual",de O poema concretocomunica a sua pr6priaestru-
      modo a justapor palavras e experiencia tura: estruturacontedido. poema concreto6 um
                                                                                O
      num estreito colamento fenomenol6gico, objeto em e por si mesmo, nao urn intiprete de
      antes impossivel.                               objetos  exteriorese/ou sensaq6esmais ou menos
   - POESIA CONCRETA: TENSAO DE subjetivas. Seu material: a palavra (som, forma
      PALAVRAS-COISAS             NO ESPACO           visual, carga semantica). Seu problema: urn
      TEMPO                                           problema de fung6es-relag6es d sse material.
                                                      Fat6res de proximidadee semelhanga,psicologia
   Pouco tempo depois, no primeiro tri- da gestalt. Ritmo: f6rgarelacional.O poema con-
                                                      creto, usando o sistema
mestre de 1962, a revista Invenago, que sintaxe anal6gica, cria fonrtico (digitos) e uma
                                                                               uma AIrea lingiiistica es-
foi o 6rgdo oficial do Concretismo, publi- pecifica-verbivocovisual-que participa das van-
cava, no seu ntmero inaugural, o "Plano- tagens               da comunicaegondo verbal, sem abdicar
                                                      das virtualidadesda palavra.       o
piloto para Poesia Concreta,"datado de 1958                                         Comn poema con-
                                                    creto ocorr? o fen6meno da
                                                                               metacomunica•Ao:
418                                          HISPANIA

coincidencia e simultaneidade da comunicagdo            A Luta Corporal (primeiro volume
 verbal e nio verbal, corn a nota de que se trata
de                      de formas, de uma estru-     publicado por FerreiraGullar) foi um livro
     urea cornunica~io
tura-conte6do, ndo da usual comunicaldo de           "revolucionario"que, em larga medida,
mensagens.                                           marcava os limites possiveis do Concre-
   A poesia concreta visa ao minimo miltiplo         tismo: depois ddle,emboraa parte te6ricado
comum da linguagem. Daf a sua tendencia a
substantiva do e a verbificacao: "a moeda concreta   movimento haja fixado com maior$nfase os
da fala" (Sapir). Dai as suas afinidades com as      seus principios, pouco se Ihe acrescentou
chamadas "linguagens         isolantes" (chines):    em matiria pr6priamente "poemritica."
"Quanto menos gramitica exterior possui a lin-
guagem chinesa, tanto mais gramritica interior ihe      A iddia de uma poesia "tipograifica"  ou
6 inerente" (Humboldt via Cassirer). O chines        "figurativa,"mais do que "conteudistica"e
oferece um exemplo de sintaxe puramente rela-
cional baseada exclusivamente na ordem das           convencionalmente versificada, encontraria
palavras (ver Fenollosa, Sapir e Cassirer).          ancestrais ilustres: num ensaio intitulado
   Ao conflito de fundo-e-forma em busca de
                                                      "Situaci6n de la Poesia Concreta," que 6,
identificaCdo, chamamos de isomorfismo. Parale-      at6 ao momento, o melhor estudo de con-
lamente ao isomorfismo fundo-forma, se desen-
volve o isomorfismo espaqo-tempo, que gera o         junto a respeito da nova escola (Revista
movimento. O isomorfismo, num primeiro mo-           de Cultura Brasilefia,editada pelo Servicio
mento da pragmaitica potica concreta, tende a        de Propaganday Expansi6n Comercial de
fisiognomia, a um movimento imitativo do real
 (motion): predomina a forma organica e a            la Embajada del Brasil en Madrid, tomo
fenomenologia da composilgo. Num estigio mais        XX, junho 1963, n) 5), Angel Crespo e
avanqado, o isomorfismo tende a resolver-se em       Pilar G6mez Bedate citavam, isto 6, foto-
puro movimento estrutural (movement); nesta
fase, predomina a forma geom&trica e a matemai-      grafavam um poema de Simias de Rodes, o
tica da composi~go (racionalismo sensivel).
                 '                                   qual, segundo Decio Pignatari,que primeiro
    Renunciando    disputa do "absoluto", a poesia   o reproduziu na "Invengdo"de 8 de maio
concreta permanece no campo magnetico do
relativo perene. Cronomicrometragem do acaso.        de 1960, dataria de 300 anos antes de
                                                                                      '
Contr6le. Cibernetica. O poema como um me-           Cristo, e cuja figura geometrica a de um
canismo, regulando-se a si proprio: "feed-back"      losango. Bem enteadido, na linha da dis-
A comunicaldo mais ripida (implicito um pro-
blema de funcionalidade e de estrutura) confere      posiSao puramente tipogrifica, a finica di-
ao poema um valor positivo e guia a sua pr6pria      ficuldade seria o embaraco da esc61ha,ndo
confeclqo.                                           na hist6ria da poesia apenas, mas na his-
   Poesia concreta: uma responsabilidade integral    t6ria do cartaz decorativo e publicitairioe
perante a linguagem. Realismo total. Contra uma
poesia de expressio, subjetiva e hedonistica.        nas edi?6es simbolistas (que os concretistas
Criar problemas exatos e resolv&-los em t&rmos       ate agora tem desprezado). Contudo, o
de linguagem sensivel. Uma arte geral da pala-
vra. O poema-produto: objeto uitil.                  grande ancestral e ancestral direto da cor-
                                                     rente seria, al6m de Mallarm6 (evocado,
  Contudo, o primeiro livro de poesia con-           talvez, um pouco a contrapelo), o conh-
creta apareceraem 1954, assinado por Fer-            cido Apollinaire dos Calligrammes: o
reira Gullar, mais tarde dissidente da es-           seu poema "I1 Pleut" foi parafraseadoem
cola e, ao que parece, em pleno caminho              nossa lingua por Augusto de Campos:
de ret6rno. Eis, porem, uma das composi-
?oes constantesde seu 6iltimolivro (Poemas,
1958):

                    erva
                    erva
                    erva
LITERATURA
                                                                             BRASILEIRA
                                                                                     CONTEMPORANEA                                                                     419


    I
                                                                                                                                                                   P
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                                                        ci                                                                tradutor de dez poemas do poeta norte-
                                                                                                                          americano E. E. Cummings, que, junta-
                  a                             a                        r        a               i
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                                                                                                                          grandes classicos concretistas. Uma boa
                                                                                                                          iddia da escola seria oferecida pelo poema
                                                                                                                          de Cummings abaixo transcrito, seguido
                          r                                  a                                            1       C       do texto "brasileiro":

                                                                                              d                           ORIGINAL:
                                                                     S
                                                                                      F v                                                          r-p-o-p-h-e-s-s-a-g-r
                                                                                       ?                              b
                                                                                                                                            who
                                                                                                                           a)s w(e Ioo)k
                                                                                                                           upnowgath
                              *                                                                       a
                                                                              g                           r       a                   PPEGORHRASS
                                                                                                                                                eringint(o-
                                                                                                                           aThe):1
                                                                     u                                U
                                                                                                                                 eA
                                                                                                                                      !p:
                                  Ar                                                                          a           S                                                a
                                                                                              a           6
                                                                                                                                              (r
                                                                                                                           rivlinG                   .gRrEaPsPhOs)
                                                                                                                                                                  to
                                                                                                                           rea(be)rran(com)gi(e)ngly
                                                                                                                           ,grasshopper;
420                                      HISPANIA


TRADUCAO:                 o-t-o-f-n-a-h-a-g         A "regularidade" poemas concretosde
                                                                      dos
                    que                           Bandeira indicaria, talvez melhor do que
                                                  a "exemplaridade"dos que escrevem Au-
    s)e e(u olh)o
                                                  gusto de Campos ou Edgard Braga, as
    altojireu                                     efetivas possibilidades da escola. Eis, por
             HOONAGFTA                            exemplo, numa linha inegavelmente ban-
                     nindosee(m-                  deiriana, uma homenagem poetica 'a Sra.
    parAgle):s                                    Niomar Muniz Sodre, diretora do Museu
                                                  de Arte Moderna do Rio de Janeiro (e que,
              aL
                                                  no 61timo livro de Bandeira, Estrdla da
                It:                               Tarde [1963], leva o titulo de "Homena-
A                                        c        gem a Guiomar"):

    eGaNdO                .gAnAfToHo)
                                              M            A           M       niomar
                                    a                                                              t
    recom(tor)pon(n)d(ar-se)o
    ,gafanhoto;
                                                                                                   e
   tsses seriamos extremose os extremismos
                                              M                A
                                                                           M
da escola: poetas mais velhos, como Carlos
Drummond de Andrade e Manuel Ban-                                                              0
deira ndo resistiram,tampouco, ao atrativo                                                     d
da novidade e produziram tambhm alguns
poemas concretos. Mas, como seria de                                                               e
esperar, tais poemas sio muito mais "re-
gulares" ou convencionais, eu diria muito
mais "pamasianos,"do que as produg6es
tipicas dos jovens revolucionairios. Um
                                              M                    A              M
                                                                                               n
                                                                                                   r


exemplo expressivo seria "A Onda," de                                                          a
Manuel Bandeira:
             a ondaanda
              aonde anda
                 a onda?                         Contudo, o Concretismonio e a iltima,
                                              em data, das escolas vanguardistasde poesia
             a ondaainda                      no Brasil: se desprezarmosalgumas tenta-
                                              tivas ainda balbuciantes, tal lugar e ocu-
               aindaonda                      pado, no momento, pelo "poema-praxis,"
                                              invengdo de MArio Chamie, combativo es-
              aindaanda                       critor, que o lanqou, em 1961, com o livro
                                              Lavra Lavra. Que e o poema-praxis?tle
                  aonde?                      pr6prio responde, num manifesto muito a
                                              prop6sito intitulado de "diditico":
                aonde?                              P o que organiza e monta, esteticamente, uma
                                                  realidade situada, segundo tres condiqdes de
           a onda a onda                          acdo: a) o ato de compor: b) a drea de levanta-
LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORBNEA                           421

mento da composipao: o ato de consumir.
                   c)                              O autor sustenta que Lavra Lavra "6
Para exemplificar priticamente ou poetica-      livro sem verso (livre ou ndo): isto porque
mente as suas iddias, MairioChamie publi-      nao veicula umrn discursoritmico-linear sim
                                                                                      e
cou Lavra Lavra, titulo que devemos tomar,      signos de conexao no espaqo em preto."
antes de mais nada, em seu sentido agricola.    Nio sera Aste o momento de discutir-lhe
Com efeito, ttata-se de qualquer coisa que,    as ideias: basta mencionar que lanqou a
em natureza, seria as Georgicas brasileiras    poesia praxistica por entender que os con-
                                                cretistas ji eram "retardatArios," al6m do
e modernas:e o poema da vida do campo,
                                               defeito mais grave de se mostrarem pura-
encarada pelo Angulo da profissdodo agri-      mente estetizantes.
cultor. Eis a primeirafase do ciclo agricola,
                                                   Na verdade, a grande influencia s6bre
a localizagio da sementeira:
                                                os concretistas(que a admitem) como s6bre
                   MedirC a medida             os praxistas (que a silenciam) parece a do
                         mede
          a terra,medo do homem, a lavra;      poeta Joao Cabral de Melo Neto, cujo
                          lavra                volume Duas Aguas (1956) podera vir a
      sarjo campo,muito cerco, viria virzea.   ser, futuramente, um dos marcos hist6ricos
                   Medir a medida
                         medee                 da poesia moderna no Brasil. Cabral situa-
          o sitio, dote do homem, o semen;     se,originalmente, no ponto de intersecgAgo
                         some                  da poesia modernista com a poesia p6s-
        capim seco, muito bugo, t6sca sebe.
                   MedirC a medida             modernista: digamos, mais precisamente,
                         mede                  que ele parecia destinado a assegurar a
          a irea, fundo do homem, a t6na;      sucessdode Carlos Drummond de Andrade,
                         touga
         t6rto talo, muito valo, frigil cana.  assim como este representou a evoluqgo da
                  Medir ' a medida             poesia propriamente modernista para a
                         mede
         a furna, rumo do homem, o t6rno;      po'tica dos anos 30 e 40. Joao Cabral e
                         torna                 Jorge de Lima seriam os dois nomes a
        f6fo brejo, muito 16do,f&rtil,m6fo.    guardar para uma analise, hoje mais neces-
                  MedirC a medida
                         mede                  saria do que nunca, que tentasse explicar a
        a choga, cave do homem, o rancho;     decidida tendencia formalista que, em de-
                         Ianga                 terminado momento, repudiou a inclina-
       certo olhar, muito azul, longo lango.
                                               qio social ou sociol6gica, se nao puramente
As penas e sofrimentos do rude trabalho pitoresca e
                                                            humoristica, da d&cadade 20.
campesino estdo expressas, niio sem um E bem possivel que, reveladastais correstes
discutivel trocadilho, neste poema:           profundas, as revoluC6esposteriores pare-
Lavra:                                         gam menos revolucionariase, talvez, menos
  Onde tendes pai,o p e o p6,                 duradouras: da mesma forma, a exemplo
  sermdoda cria: tal terreiro.
Dor:                                          do pr6prio Joio Cabral, por um lado, e de
  Ondetenhoo p6, o pe e a pai,                Ferreira Gullar, por outro, a vanguarda
   uinhio da via: tal meu meio                talvez se destine a um certo recuo titico e
  de plantarsem agua e sombra.                estratigico. Como negar que hi mais ecos
Lavra:                                        do Joao Cabral dos anos 50 no Mario
  Onde estaio p6, tendes caimbra;
  agacho d6i   ao r&s relva.
                      e                       Chamie dos anos 60 do que nos concretistas
Dor:                                          anteriores a "praxis"?A hist6ria contem-
  Onde jaz o p6, tenho a planta               porAnea,mesmo a iiteraria, nao se escreve,
  do pe e milho junto ? graga
  do ar de maio, um ar de cheiro.             vive-se: mas e possivel que o "contempla-
Lavra:                                        dor"da poesia-objetonao tarde a readquirir
  A plantae o pe, o p6 e a terra;             as suas esp6cies tradicionais de simples
  o mapa vosso;v~irzea erva.
                           e                  leitor.

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Tendendências na literatura brasileira contemporânea, by Wilson Martins

  • 1. Tendências da Literatura Brasileira Contemporânea Author(s): Wilson Martins Reviewed work(s): Source: Hispania, Vol. 48, No. 3 (Sep., 1965), pp. 413-421 Published by: American Association of Teachers of Spanish and Portuguese Stable URL: http://www.jstor.org/stable/336462 . Accessed: 27/04/2012 14:13 Your use of the JSTOR archive indicates your acceptance of the Terms & Conditions of Use, available at . http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp JSTOR is a not-for-profit service that helps scholars, researchers, and students discover, use, and build upon a wide range of content in a trusted digital archive. We use information technology and tools to increase productivity and facilitate new forms of scholarship. For more information about JSTOR, please contact support@jstor.org. American Association of Teachers of Spanish and Portuguese is collaborating with JSTOR to digitize, preserve and extend access to Hispania. http://www.jstor.org
  • 2. TENDtNCIAS DA LITERATURA BRASILEIRACONTEMPORANEA MARTINS WILSON New York University A 6ltima revoluqdo na prosa artistica fundidade na obra de Guimardes Rosa, brasileiradata de 1946 (Sagarana): exata- procurandofixar-lheos pontos de referencia mente dez anos mais tarde, surgiria, comrn essenciais. Com isso, estai sendo negligen- os manifestos e o "plano-piloto" concre- ciado, at6 ao momento, o seu carnter,se ndo dos tistas, a iltima revolu~go na poesia. Isso mais importante, pelo menos tdo significa- prop6e desde logo as perspectivas em que tivo quanto o da invenqao lingiiistica, que devemos estudar as tendencias da literatura e o da sua renovaqdo romanesca: uma contemporinea no Brasil: trata-se,por um leitura atenta, para aldm do anteparo das lado, de uma literatura que ainda luta palavras, demonstra que Grande Sertdo: o comrn monstruosocadaver do Modernismo, Veredas e um romance de extraordinairia atravessado na estrada, e, por outro lado, estrutura, construido com mro de mestre, de uma literatura que procura elaborarem evocando fundos problemas espirituais, si- crialdo prbpriamentedita novas concepg6es tuado intelectualmente na encruzilhada esteticas, as quais, no que se refere a poesia, das grandes correntes da ficq0o, desde a ainda ndo passaramrealmente dos dominios Idade Media aos nossos dias, e tendo criado, puramente te6ricos. A prosa, ao contririo, no plano das figuras humanas, um tipo ndo tem teoria, ou a teoria estai sendo es- liternrio, que e, como se sabe, a ambiqdo truturada "a posteriori",o que e excelente, suprema e a finalidade mesma de toda a a partirda obra de GuimaraesRosa;quanto prosa de ficao. O romance de Guimardes a este iltimo, se, com a sua pr6pria extra- Rosa, sendo igualmente original e inventivo ordinariae impetuosa originalidade,fechou na lingua, no estilo, no contetido e na automaticamentetodos os caminhos de uma configurado dos personagens, ndo estai eventual "escola" literaria, forneceu, comrn longe, portanto, do que se poderia deno- Grande Sertdo: Veredas (1957), a prova minar a obra total, quaisquer que sejam, de que era possivel inventar um romance ao nivel do pormenor, as reservas que se ao mesmo tempo extremamente literario e lhe possamopor. Se muitos criticosparecem lingiiistico, a meio caminho entre Joyce e exceder-se nos louvores e na iddia de que Mario de Andrade-pois ndo e sbmente no os livros de Guimardes Rosa estabelecem Ulysses, para ndo falar de Finnegans Wake, rumos definitivos e invariiveis para a litera- mas tamb6m em Macunaima, que se en- tura brasileirado futuro, nao se lhes pode contram reunidos aqueles dois caracteres, negar o de insistir sobre o alcance da m.6rito a contribuihdoprbpriamentenacional com- primeira obra verdadeiramente revolu- parecendo sob a forma clissica de regiona- cionairia surgir na prosa artisticabrasileira a lismo. depois do Modernismo. t curioso, mas perfeitamente compre- Com efeito, os outrosgrandesromancistas ensivel, que sejam os criticos mais pr6ximos brasileiroscontemporaneosparecem situar- da poesia concreta (e alguns outros que, se mais numa esp6cie de classicismo p6s- embora her ticos, manifestam os mesmos modernistado que prbpriamentenas linhas gostos de critica "lingiiistica") os primeiros ebulientes da vanguarda literiria: os "dois analistas a mergulhar corn alguma pro- grandes" dos anos 30, Erico Verissimo e 413
  • 3. 414 HISPANIA Jorge Amado, escreveram,respectivamente, no ensaio: embora a critica literiria no com O Tempo e o Vento (1949) e comrn Brasil tenha sido, nestes 6ltimos anos, mais Gabriela, Cravo e Canela (1958), qualquer abstrusa do que realmente criadora de coisa como uma sintese epica dos seus iddias te6ricas e estiticas, mais afetada do livros anteriores; ou, se quisermos, estes que interpretativa, mais repleta de doutrinas 1ltimosndo passaram da inconsciente pre- do que rica em proposiybes iluminantes paragio dos dois grandes romances, nos ou enriquecedoras,sempre C certo que, ela quais, afinal, encontraram a sua pr6pria tamb6m, tem p6sto t6da a enfase nos as- identidade literiria. Diga-se desde logo que, pectos formais da obra de arte, na sua justamente por serem menos originais, nas natureza de criagqolingitistica. perspectivas totalizadorasacima apontadas, Nessas perspectivas, poderiamos apontar os romances de 1rico Verissimo e Jorge o romancista Jos6 Geraldo Vieira como o Amado serdo muito mais "universalizaiveis" grande injustiqadoda ficqdo brasileira. Ele que o de Guimardes Rosa: a versdo norte- tambm, muito antes de Guimaries Rosa, americana deste iltimo (The Devil to Pay f4z do romance uma "maquina" literiria in the Backlands [New York, 1963]) de- e lingulistica: contudo, pode-se imaginar monstrou, como seria de esperar, que e que o cariter convencional da sua lingua, possivel traduzir-lhe a "lingua," mas ndo que nio inventa um dicionairio mas apenas a "linguagem" e, muito menos, o estilo: explora as possibilidades dos dicionairios para encontrar correspondenciasem lingua existentes, fi-lo passar,aos olhos dos "novos inglesa para o texto brasileiro teria sido criticos" e dos criticos novos, como uma ' preciso um James Joyce: para traduzi-loem especie de ancestral ou de romancista frances, um outro Romain Rolland (o Ro- margem das correntes caracteristicas do main Rolland de Colas Breugnon): Grande nosso tempo. Tal situaqdo de marginal Sertao: Veredas, no texto ingl&s,os contos acompanha em todos os momentos a car- de Corpo de Baile em franc4s, dao a ideia reira de Jose Geraldo Vieira; mas, se de um Ulysses escrito por Erskine Cald- houver na literatura brasileira, como em well: o pr6prio Jorge Amado, que, no pre- qualquer outra, um lugar de honra para os ficio da traduSgo americana, ndo esconde escritores que veem o romance mais como o seu orgulho por ter sido um dos primeiros um produto das belas-letras do que como a "foresee the rapid universalizationof his um reflexo realista da vida comum, entdo e [GuimardesRosa's] work," acrescentaime- certo que o autor de Terreno Baldio (1961) diatamente: "Not so much or even because e de A Quadragisima Porta (1948) tem a of its formal aspect, more limited to our sua presenqa assegurada na hist6ria literi- national frontiers, as because of the world ria do pais. Ndo deixa de ser picante revealed, re-created, and given enduring acentuar que e um pouco nessa diregqio life through the extraordinarily achieved que se encaminha o Jorge Amado de Os beings, through the Brazil that breathes in Velhos Marinheiros (1961): isso prova its every page." que o Modernismo, a partir, digamos, de H i, pois, um aspecto formalistaque seria 1945, estih bem morto, e que os sobrevi- o traqo fundamental de t6da a literatura ventes da grande 6poca, diante da impossi- brasileira contemporanea, e que, antes de bilidade natural de prolongi-lo, tentaram qualquer outro, ihe marcariaas tendencias criar-lhe um "classicismo,"o que foi bem atuais: podemos, mesmo, dizer que a linha sucedido entre os melhores. Clarice Lis- do formalismo e a invisivel fronteira que pector, que e alguma coisa como um Jose separaos escritorescontemporaneosdos que Geraldo Vieira menos rico em seiva ro- jaiso, ou comegama ser, "hist6ricos," tanto manesca e em imaginaqdo, jai sobrevive na ficq5o e na poesia quanto na critica e apenas como contista, depois do extraordi-
  • 4. LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORANEA 415 nario sucesso de Perto do Cora4doSelvagem biente favorivel, ela revela qualidades que (1943); ora, como contista, ela seria alguma nao sdo muito diferentes, em natureza, das coisa como um Guimaries Rosa urbano, o de Guimaries Rosa. Guimaraes Rosa possivel de uma classe Contudo, as tendencias formalistas da mrdia puramente citadina, muito mais do literatura contemporinea encontram uma que o Kafka que ela procura sugerir comrn reapdobastante sensivel entre os escritores os romances posteriores a 1943. que parecemvoltar a um certo realismopr6- Ora, 6 justamente no romance urbano, e modernista. Ainda hi pouco, examinando tamb6m nas linhas de uma renovaldo for- as obras mais recentes da ficqio (mesmo mal do genero-mas .renovayio t&cnica e assinadas por autores mais idosos, alguns estrutural, ndo lingiuistica ou estilistica- dPles, ate, "formalistas" pr6priamenteditos que se situa a 6l1timagrande revelagio do ou "formalistas" seu modo), eu observava a genero no Brasil . .. o velho Marques que parece estar passando, para a prosa Rebblo de Oscarina (1931) e de A Estrela artistica brasileira, a idade das grandes in- Sobe (1938). Corn efeito, O Espilho Par- vengbes e das grandes revolug6es: Gui- tido (1959) temrn todo o cariter estranho e maries Rosa, na sobrevivencia dos seus misterioso das grandes obras de arte: em exercicios lingiiisticos, come;a a parecer certo sentido, pode-se dizer que a tentativa mais inatual do que Guilherme Figueiredo de Marques Rebdlo ainda e mais ousada com o virtuosismoacademicoem que se es- que a de Guimaries Rosa, pois depende mera e em que triunfa (mas a sua 6iltima menos de efeitos ruidosos e sensiveis a novela, Historia para se ouvir de noite primeira vista, repousa menos s6bre o [1964], s6 poderia ter sido escrita pelo pitoresco, provoca mais a intelig ncia do grande ficcionistaque dle realmente '); na que os sentidos, seraimais cerebral do que mesma ordem de ideias, outros romancistas emocional. Se, com Maria Alice Barrosoe contemporaneos, mantendo-se num plano alguns jovens escritores publicados, geral- honroso de estilo literario, nio manifestam mente, pela Edit6ra GRD, do Rio de o impeto renovador comrn que, em 1946, Janeiro,o "n6voromance"f?z a sua entrada aparecia Sagarana.Assim, a iltima revolu- no Brasil, Marques Rebdlo poderia ser Iqo ou a fl1tima renovagio da nossa prosa visto como uma especie de mestre mais artistica dataria de quase vinte anos: em idoso desse grupo; sem as inclinaq6es materia de verdadeirasnovidades literirias, "poeticas" de muitos dos romancistas idl- nossa hist6ria, em lugar de exemplificar o timamente surgidos (que, infelizmente, "aceleramento" convencional, parece, antes, caem com mais frequencia na falsa poesia- inclinada a um notivel alargamento de a "poesia"de que o primeiro Jorge Amado ondas ritmicas. Mirio Donato, Jose Conde, oferecia tantos exemplos-do que se alqam Carlos Heitor Cony, M. Teixeira Marinho, a atmosfera rarefeita da prosa podtica), Otto Lara Resende, parecem mais afeiqo- Marques Rebdlo restabelece, entretanto, o ados ao tema do que a forma e contentam- rumo pr6priamente romanesco, indicando se com o que poderiamos chamar, ' falta que, na ficgao, " um limite extremo que de melhor t&rmo,a prosa realista. Apenas hai s6 se ultrapassa custa da descaracterizagqo Lygia Fagundes Telles manifesta, por in- do genero. t a este perigo que se exp6s a termit ncias, certos anseios podticos: seria romancistade Perto do CoragdoSelvagem, interessante verificar mais de perto, por e em que afinal sucumbiu nos livros pos- exemplo, at6 que ponto o sucesso de teriores; no conto, ao contrnirio,que tem Clarice Lispectorrepercutiu no seu tom de uma s61lidatradigio podtica (Tchecov, K. voz, nos seus "gestos"estilisticos. Mansfield . ..) e no qual a visio po'tica, Assim, por paradoxo, a prosa brasileira por sua pr6pria brevidade, encontra am- esti vivendo um periodo simulteneo de
  • 5. 416 HISPANIA formalismo e de realismo. Nio mais o espiritual. "realismo social" dos anos 30 (tdo bem Ndo se tratando, aqui, de um levanta- encarnado nos primeirosromancesde Jorge mento onomaistico grandes e dos menos dos Amado), mas o realismo puramente es- grandes escritores brasileiros contempora- colistico, de que Jose Lins do Rego, neos, mas de um quadro das tendancias Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, mais caracteristicas nossa literatura,vista de foram, naquela d&cada,os grandes prati- em seu conjunto, ndo teria cabimento a cantes. Voltaram, agora, a literaturade fic- da anilise pormenorizada obra de cada um, gqo os temas chamados "grosseiros," ob- a nem a menoo de outros ficcionistas que, servaqgo minuciosa do mundo exterior, a embora tipicos em seus processos, ndo visdo pessimista do homem, a sitira social, parecem influir na global fixago de rumos. a linguagem direta e simples, o interesse Da mesma forma, deixaremosum pouco na pelo comportamento, o desafio 's conven- sombrao ensaio liternrio,tomada a palavra q6es "burguesas" a moda do enr&do e deter- no sentido amplo: com exceCdoda critica minado, a intriga s61idae bem desenvolvida. formalista, acima referida, o ensaio alcan- Neste ziltimo aspecto, a ficoo brasileira qou, tamb6m, um plano de classicismo de continua a sofrer da sua carencia tradi- que nao vejo como poderi sair sem perder cional, pois que, a uma intriga geral- muitas das suas qualidades: e, corn relaqdo mente "dramitica,"correspondeinvarihvel- a critica formalista, penso, mesmo, que mente uma desoladorapobreza de agqo. O muitas das suas singularidades estruturais ficcionista brasileiro e capaz, em regra, s6 se obtam em detrimento das virtuali- de inventar o dado de base de sua his- dades ensaisticas: a andlise formal, por sua t6ria, mas ji se mostra bem menos habil pr6pria natureza, perde em generalidade ao desenvolve-lonuma aqlao correspondente: critica o que possa ganhar em precisio dal a sensaao de imobilidade que nos analitica. Por isso mesmo, a critica moderna transmite a maior parte dos contos e ro- estai continuamente exposta ao perigo da mances, mesmo aqueles em que "acon- atomizaCqo,abdicando, talvez com exces- tecem" muitas coisas. E que a situaqdio siva e imprudente ligeireza, da sua grande romanesca permanece identica de comeko ' missdo que a de constituir um "corpus" a fim, o personagem raramente manifes- organicode iddiasliternrias. tando aquelas sutis transformac6esde per- Parece indiscutivel, entretanto, que o sonalidade (dentro de um quadro estavel aspecto mais saliente da renovaqaoliteriria de psicologia) que revelam, justamente, a no Brasil, aqu le com que a "vanguarda" passagem do tempo. Este flltimo valor 6 o mais se identifica, manifesta-se na poesia. grande ausente da ficqao brasileira:e uma Em 1957, consolidando pela primeira vez ficoo newtoniana ou euclidiana, mais do os principios implicitos da poesia concreta que uma ficgqo bergsoniana ou einstei- (que entdo ainda se escrevia entre aspas), niana. Isso indicaria o seu inegivel ana- ' Augusto de Campos, que um dos seus se cronismo ou a sua "a-historicidade," to- grandes te6ricos, doutrinava: marmos o t&rmocomo designativo de in- - a poesia concreta comeqa por assumir uma sensibilidade ao clima espiritual da 6poca: responsabilidade total perante a linguagem: acrescento desde logo que seraipreciso al- aceitando o pressupostodo idioma hist6rico como nicleo indispensivel de comunicagdo, guma coisa mais do que simples experi- recusa-se absorver as palavras como meros mentagqes ticnicas (como as do "novo ro- veiculos indiferentes, sem vida sem perso- mance," por exemplo), para que a fiqcdo nalidade sem hist6ria-tiimulos-tabus com que a convengao insiste em sepultar a iddia. mergulhe realmente na grande correnteim- - o poeta concreto nao volta a face s pa- petuosa da hist6ria: trata-se,antes, de uma lavras, nio ihes lanla olhares abliquos;vai questAo de psicologia e de sensibilidade direto ao seu centro, para viver e vivificar
  • 6. LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORANEA 417 a sua facticidade: e assinado pela trilogia jfi agora hist6rica - o poeta concreto ve a palavraem si mesma dos seus tratadistas (Augusto de Campos, -campo magn6tico de possibilidades-como D6cio Pignatari e Haroldo de Campos): um objeto dinimico, uma c6dulaviva, um organismo completo, com propriedades Poesia concreta: produto de uma evolulgo tacto antenas circula- psico-fisico-quimicas, critica de formas. Dando por encerradoo ciclo 0docoragdo:viva. hist6rico do verso (unidade ritmico-formal), a - longe de procurar evadir-se da realidade poesia concreta comega por tomar conhecimento ou iludi-la, pretende a poesia concreta, do espago grifico como agente estrutural,espago contra a introspec~go autodebilitante e qualificado: estrutura espicio-temporal,em vez contra o realismo simplista e simpl6rio, de desenvolvimento meramente temporistico- situar-se de frente jiara as coisas, aberta, linear. Dai a importanciada idiia de ideograma, em posigao de realismo absoluto. desde o seu sentido geral de sintaxe espacial ou visual, o seu sentido especifico (Fenollosa/ - o velho alicerce formal e silogistico-discur- Pound)ate de m~todo de compor baseado na jus- sivo, fortemente abalado no comago do taposigao direta-anal6gica, nio 16gico-discursiva seculo, voltou a servir de escora as ruinas -de elementos. "I1 faut que notre intelligence de uma po6tica comprometida, hibrido s'habituea comprendresynthitico-iddographique- anacronico de coralgo at6mico e couraga ment au lieu de analytico-discursivement" (Apol- medieval. linaire). Eisenstein: ideograma e montagem. - contraa sintixica perspectivista, Precursores: Mallarme (Un coup de des, onde as organizaqgo sentar-se como "ca- 1897); o primeirosalto qualitativo:"subdivisions palavras vem diveres em banquete", a poesia concreta prismatiques de l'Id&e";espago ("blancs") e op6e um novo sentido de estrutura, capaz recursostipogrificoscomo elementos substantivos de, no momento hist6rico, captar, sem da composiglo. Pound (The cantos): m&todo desgaste ou regressio, ocerne da expe- ideogramico. Joyce (Ulysses e FinnegansWake): riencia humana poetizavel. palavra-ideograma; interpenetrago orggnica de - mallarme ("un coup de d6s" - 1897), joyce tempo e espago. Cummings: atomizaCgo pa- de ("finnegans wake"), pound ("cantos" - lavras, tipografia fisiogn6mica; valorizaCgoex- ideograma), cummings, e num segundo pressionista do espago. Apollinaire (Calligram- piano apollinaire ("calligrames")e as ten- mes): como visZo,mais do que como realizalgo. tativas experimentais futuristas-dadaistas, Futurismo, dadaismo: contribuig6espara a vida estdo na raiz do novo procedimentopoetico do problema. No Brasil: Oswald de Andrade que tende a impor-se a organizagio con- (1890-1954): "em comprimidos, minutos de vencional cuja unidade formal 6 o verso poesia". Joao Cabral de Melo Neto (n. 1920- (livre inclusive). O Engenheiro e A psicologia da composigao mais Anti-ode): linguagem direta, economia e arqui- - o poema concreto ou ideograma passa a tetura funcional do verso. ser um campo relacionalde fung6es. Poesia concreta: tensdo de palavras-coisas no - o n icleo po6tico 6 p6sto em evidencia nao espago-tempo. Estruturadinmhnica: mais pelo encadeamentosucessivo e linear de movimentos concomitantes. multiplicidadeTamb6m na de versos, mas por sistema de relag6es e definigao, uma arte do tempo-in- equilibriosentre quaisquerpartes do poema. mdsica-por tervem o espago (Webem e seus seguidores - fung6es-relag6es grifico-foneticas ("fat6res Boulez e Stockhausen;m6isicaconcreta e eletr6- de proximidade e semelhanga") e o uso nica); nas artes visuais-espaciais, por definiCao substantivo do espago como elemento de -intervem o tempo (Mondrian e a serie Boogie- composigio entretem uma dialetica simul- woogie; Max Bill; Albers e a ambival ncia per- tanea de 61ho e f6lego, que, aliada a ceptiva; arte concreta em geral). sintese ideogrAmica significado,cria uma do Ideograma: apdlo a comunica~gonao-verbal. totalidade sensivel "verbivocovisual",de O poema concretocomunica a sua pr6priaestru- modo a justapor palavras e experiencia tura: estruturacontedido. poema concreto6 um O num estreito colamento fenomenol6gico, objeto em e por si mesmo, nao urn intiprete de antes impossivel. objetos exteriorese/ou sensaq6esmais ou menos - POESIA CONCRETA: TENSAO DE subjetivas. Seu material: a palavra (som, forma PALAVRAS-COISAS NO ESPACO visual, carga semantica). Seu problema: urn TEMPO problema de fung6es-relag6es d sse material. Fat6res de proximidadee semelhanga,psicologia Pouco tempo depois, no primeiro tri- da gestalt. Ritmo: f6rgarelacional.O poema con- creto, usando o sistema mestre de 1962, a revista Invenago, que sintaxe anal6gica, cria fonrtico (digitos) e uma uma AIrea lingiiistica es- foi o 6rgdo oficial do Concretismo, publi- pecifica-verbivocovisual-que participa das van- cava, no seu ntmero inaugural, o "Plano- tagens da comunicaegondo verbal, sem abdicar das virtualidadesda palavra. o piloto para Poesia Concreta,"datado de 1958 Comn poema con- creto ocorr? o fen6meno da metacomunica•Ao:
  • 7. 418 HISPANIA coincidencia e simultaneidade da comunicagdo A Luta Corporal (primeiro volume verbal e nio verbal, corn a nota de que se trata de de formas, de uma estru- publicado por FerreiraGullar) foi um livro urea cornunica~io tura-conte6do, ndo da usual comunicaldo de "revolucionario"que, em larga medida, mensagens. marcava os limites possiveis do Concre- A poesia concreta visa ao minimo miltiplo tismo: depois ddle,emboraa parte te6ricado comum da linguagem. Daf a sua tendencia a substantiva do e a verbificacao: "a moeda concreta movimento haja fixado com maior$nfase os da fala" (Sapir). Dai as suas afinidades com as seus principios, pouco se Ihe acrescentou chamadas "linguagens isolantes" (chines): em matiria pr6priamente "poemritica." "Quanto menos gramitica exterior possui a lin- guagem chinesa, tanto mais gramritica interior ihe A iddia de uma poesia "tipograifica" ou 6 inerente" (Humboldt via Cassirer). O chines "figurativa,"mais do que "conteudistica"e oferece um exemplo de sintaxe puramente rela- cional baseada exclusivamente na ordem das convencionalmente versificada, encontraria palavras (ver Fenollosa, Sapir e Cassirer). ancestrais ilustres: num ensaio intitulado Ao conflito de fundo-e-forma em busca de "Situaci6n de la Poesia Concreta," que 6, identificaCdo, chamamos de isomorfismo. Parale- at6 ao momento, o melhor estudo de con- lamente ao isomorfismo fundo-forma, se desen- volve o isomorfismo espaqo-tempo, que gera o junto a respeito da nova escola (Revista movimento. O isomorfismo, num primeiro mo- de Cultura Brasilefia,editada pelo Servicio mento da pragmaitica potica concreta, tende a de Propaganday Expansi6n Comercial de fisiognomia, a um movimento imitativo do real (motion): predomina a forma organica e a la Embajada del Brasil en Madrid, tomo fenomenologia da composilgo. Num estigio mais XX, junho 1963, n) 5), Angel Crespo e avanqado, o isomorfismo tende a resolver-se em Pilar G6mez Bedate citavam, isto 6, foto- puro movimento estrutural (movement); nesta fase, predomina a forma geom&trica e a matemai- grafavam um poema de Simias de Rodes, o tica da composi~go (racionalismo sensivel). ' qual, segundo Decio Pignatari,que primeiro Renunciando disputa do "absoluto", a poesia o reproduziu na "Invengdo"de 8 de maio concreta permanece no campo magnetico do relativo perene. Cronomicrometragem do acaso. de 1960, dataria de 300 anos antes de ' Contr6le. Cibernetica. O poema como um me- Cristo, e cuja figura geometrica a de um canismo, regulando-se a si proprio: "feed-back" losango. Bem enteadido, na linha da dis- A comunicaldo mais ripida (implicito um pro- blema de funcionalidade e de estrutura) confere posiSao puramente tipogrifica, a finica di- ao poema um valor positivo e guia a sua pr6pria ficuldade seria o embaraco da esc61ha,ndo confeclqo. na hist6ria da poesia apenas, mas na his- Poesia concreta: uma responsabilidade integral t6ria do cartaz decorativo e publicitairioe perante a linguagem. Realismo total. Contra uma poesia de expressio, subjetiva e hedonistica. nas edi?6es simbolistas (que os concretistas Criar problemas exatos e resolv&-los em t&rmos ate agora tem desprezado). Contudo, o de linguagem sensivel. Uma arte geral da pala- vra. O poema-produto: objeto uitil. grande ancestral e ancestral direto da cor- rente seria, al6m de Mallarm6 (evocado, Contudo, o primeiro livro de poesia con- talvez, um pouco a contrapelo), o conh- creta apareceraem 1954, assinado por Fer- cido Apollinaire dos Calligrammes: o reira Gullar, mais tarde dissidente da es- seu poema "I1 Pleut" foi parafraseadoem cola e, ao que parece, em pleno caminho nossa lingua por Augusto de Campos: de ret6rno. Eis, porem, uma das composi- ?oes constantesde seu 6iltimolivro (Poemas, 1958): erva erva erva
  • 8. LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORANEA 419 I P e c I pl t u plu a pluv ?I u pluvi '6 0 * A * pluvi a I, a fluvial Sc S a i filuvial fluvial fluvial e b a * fluvial fluvial P q q d U g vr va o U u t Augusto de Campos , igualmente, o ci tradutor de dez poemas do poeta norte- americano E. E. Cummings, que, junta- a a r a i ? ? mente com Ezra Pound, e outro dos grandes classicos concretistas. Uma boa iddia da escola seria oferecida pelo poema de Cummings abaixo transcrito, seguido r a 1 C do texto "brasileiro": d ORIGINAL: S F v r-p-o-p-h-e-s-s-a-g-r ? b who a)s w(e Ioo)k upnowgath * a g r a PPEGORHRASS eringint(o- aThe):1 u U eA !p: Ar a S a a 6 (r rivlinG .gRrEaPsPhOs) to rea(be)rran(com)gi(e)ngly ,grasshopper;
  • 9. 420 HISPANIA TRADUCAO: o-t-o-f-n-a-h-a-g A "regularidade" poemas concretosde dos que Bandeira indicaria, talvez melhor do que a "exemplaridade"dos que escrevem Au- s)e e(u olh)o gusto de Campos ou Edgard Braga, as altojireu efetivas possibilidades da escola. Eis, por HOONAGFTA exemplo, numa linha inegavelmente ban- nindosee(m- deiriana, uma homenagem poetica 'a Sra. parAgle):s Niomar Muniz Sodre, diretora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (e que, aL no 61timo livro de Bandeira, Estrdla da It: Tarde [1963], leva o titulo de "Homena- A c gem a Guiomar"): eGaNdO .gAnAfToHo) M A M niomar a t recom(tor)pon(n)d(ar-se)o ,gafanhoto; e tsses seriamos extremose os extremismos M A M da escola: poetas mais velhos, como Carlos Drummond de Andrade e Manuel Ban- 0 deira ndo resistiram,tampouco, ao atrativo d da novidade e produziram tambhm alguns poemas concretos. Mas, como seria de e esperar, tais poemas sio muito mais "re- gulares" ou convencionais, eu diria muito mais "pamasianos,"do que as produg6es tipicas dos jovens revolucionairios. Um M A M n r exemplo expressivo seria "A Onda," de a Manuel Bandeira: a ondaanda aonde anda a onda? Contudo, o Concretismonio e a iltima, em data, das escolas vanguardistasde poesia a ondaainda no Brasil: se desprezarmosalgumas tenta- tivas ainda balbuciantes, tal lugar e ocu- aindaonda pado, no momento, pelo "poema-praxis," invengdo de MArio Chamie, combativo es- aindaanda critor, que o lanqou, em 1961, com o livro Lavra Lavra. Que e o poema-praxis?tle aonde? pr6prio responde, num manifesto muito a prop6sito intitulado de "diditico": aonde? P o que organiza e monta, esteticamente, uma realidade situada, segundo tres condiqdes de a onda a onda acdo: a) o ato de compor: b) a drea de levanta-
  • 10. LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORBNEA 421 mento da composipao: o ato de consumir. c) O autor sustenta que Lavra Lavra "6 Para exemplificar priticamente ou poetica- livro sem verso (livre ou ndo): isto porque mente as suas iddias, MairioChamie publi- nao veicula umrn discursoritmico-linear sim e cou Lavra Lavra, titulo que devemos tomar, signos de conexao no espaqo em preto." antes de mais nada, em seu sentido agricola. Nio sera Aste o momento de discutir-lhe Com efeito, ttata-se de qualquer coisa que, as ideias: basta mencionar que lanqou a em natureza, seria as Georgicas brasileiras poesia praxistica por entender que os con- cretistas ji eram "retardatArios," al6m do e modernas:e o poema da vida do campo, defeito mais grave de se mostrarem pura- encarada pelo Angulo da profissdodo agri- mente estetizantes. cultor. Eis a primeirafase do ciclo agricola, Na verdade, a grande influencia s6bre a localizagio da sementeira: os concretistas(que a admitem) como s6bre MedirC a medida os praxistas (que a silenciam) parece a do mede a terra,medo do homem, a lavra; poeta Joao Cabral de Melo Neto, cujo lavra volume Duas Aguas (1956) podera vir a sarjo campo,muito cerco, viria virzea. ser, futuramente, um dos marcos hist6ricos Medir a medida medee da poesia moderna no Brasil. Cabral situa- o sitio, dote do homem, o semen; se,originalmente, no ponto de intersecgAgo some da poesia modernista com a poesia p6s- capim seco, muito bugo, t6sca sebe. MedirC a medida modernista: digamos, mais precisamente, mede que ele parecia destinado a assegurar a a irea, fundo do homem, a t6na; sucessdode Carlos Drummond de Andrade, touga t6rto talo, muito valo, frigil cana. assim como este representou a evoluqgo da Medir ' a medida poesia propriamente modernista para a mede a furna, rumo do homem, o t6rno; po'tica dos anos 30 e 40. Joao Cabral e torna Jorge de Lima seriam os dois nomes a f6fo brejo, muito 16do,f&rtil,m6fo. guardar para uma analise, hoje mais neces- MedirC a medida mede saria do que nunca, que tentasse explicar a a choga, cave do homem, o rancho; decidida tendencia formalista que, em de- Ianga terminado momento, repudiou a inclina- certo olhar, muito azul, longo lango. qio social ou sociol6gica, se nao puramente As penas e sofrimentos do rude trabalho pitoresca e humoristica, da d&cadade 20. campesino estdo expressas, niio sem um E bem possivel que, reveladastais correstes discutivel trocadilho, neste poema: profundas, as revoluC6esposteriores pare- Lavra: gam menos revolucionariase, talvez, menos Onde tendes pai,o p e o p6, duradouras: da mesma forma, a exemplo sermdoda cria: tal terreiro. Dor: do pr6prio Joio Cabral, por um lado, e de Ondetenhoo p6, o pe e a pai, Ferreira Gullar, por outro, a vanguarda uinhio da via: tal meu meio talvez se destine a um certo recuo titico e de plantarsem agua e sombra. estratigico. Como negar que hi mais ecos Lavra: do Joao Cabral dos anos 50 no Mario Onde estaio p6, tendes caimbra; agacho d6i ao r&s relva. e Chamie dos anos 60 do que nos concretistas Dor: anteriores a "praxis"?A hist6ria contem- Onde jaz o p6, tenho a planta porAnea,mesmo a iiteraria, nao se escreve, do pe e milho junto ? graga do ar de maio, um ar de cheiro. vive-se: mas e possivel que o "contempla- Lavra: dor"da poesia-objetonao tarde a readquirir A plantae o pe, o p6 e a terra; as suas esp6cies tradicionais de simples o mapa vosso;v~irzea erva. e leitor.