SlideShare a Scribd company logo
1 of 24
Download to read offline
MÓDULO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Autor: Luiz Carlos Junqueira Maciel
Eixo Temático III
Temas, motivos e estilos na literatura brasileira e em outras manifestações culturais:
A LITERATURA EM DIÁLOGO COM OUTRAS ARTES
: TEMAS, MOTIVOS E ESTILOS NA LITERATURA BRASILEIRA E EM OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS.
MOTIVOS E ESTILOS NA LITERATURA BRASILEIRA
O presente módulo tem como objetivo geral o estudo de temas, motivos e estilos na literatura brasileira
e em outras manifestações culturais, com ênfase no diálogo que a literatura mantêm com as outras
artes.
OOss oobbjjeettiivvooss eessppeeccííffiiccooss qquuee oo mmóódduulloo pprrooccuurraa aattiinnggiirr,, lleevvaa eemm ccoonnttaa::
Tópico 31.2. Reconhecer, em um texto ou obra literária, a concepção de autor e/ou de fazer literário
que ela apresenta e relacioná-la a outras artes.
Tópico 31.3. Comparar concepções de autor e de fazer literário, presentes em textos literários ou em
outras atividades artísticas de uma mesma época ou de épocas diferentes da história literária
brasileira.
Tópico 32.0. Reconhecer os discursos fundadores da brasilidade e seus efeitos de sentido, em textos e
manifestações culturais de diferentes épocas.
Tópico 32.3: Reconhecer, em textos literários e em outras manifestações culturais de diferentes épocas,
a perpetuação ou o questionamento da ideologia dos discursos fundadores.
Tópico 37.4: Estabelecer relações intertextuais entre um texto literário e uma outra manifestação
cultural sobre a vida social e política brasileira.
Tópico 45.0. Ler textos e obras representativos do Modernismo brasileiro produtiva e autonomamente e
relacioná-los com outras atividades artísticas.
Tópico 45.1. Caracterizar os movimentos de vanguarda européia (Futurismo, Expressionismo,
Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo), relacionando aspectos pictóricos a produções literárias
brasileiras.
Tópico 45.10. Identificar efeitos de sentido da metalinguagem e da intertextualidade em textos
literários do Modernismo brasileiro e suas relações com outras atividades artísticas.
Tópico 45.11. Posicionar-se, como pessoa e como cidadão, frente aos valores, às ideologias e às
propostas estéticas representadas em obras literárias do Modernismo brasileiro.
Tópico 46.5. Relacionar características discursivas e ideológicas de obras brasileiras da
contemporaneidade ao contexto histórico e à situação de produção, circulação e recepção
dessas obras.
Tópico 46.6. Reconhecer e caracterizar a contribuição dos principais autores brasileiros da
contemporaneidade para a literatura nacional.
LITERATURA E AS ARTES PLÁSTICAS
A literatura é uma arte polissêmica e polifônica, dialoga constantemente com outras artes,
notadamente as artes plásticas. O escritor, para usar uma expressão de Murilo Mendes, mantém sempre o
“olho armado” e, à maneira de um pintor ou escultor, fixa a eternidade de um momento.
Os cronistas e viajantes, em seus discursos fundadores, “pintaram” com palavras as
curiosidades da terra recém descoberta. Um deles, Pêro de Magalhães Gândavo (? — 1579), historiador
e cronista português, autor da História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil,
editada em Lisboa em 1576, procurou exibir as riquezas da terra, fazendo propaganda para atrair
imigrantes para este país. Oswald de Andrade, poeta modernista, em sua proposta antropofágica,
incorpora as palavras do cronista e, em Pau Brasil, publica o poema que leva um título ligado às artes
plásticas, pois “natureza morta” é um tipo de pintura que retrata seres inanimados, como frutas, flores,
objetos etc:
Natureza morta
A esta fruita chamam Ananazes
Depois que sam maduras têm un cheiro muy suave
E come-se aparados feito em talhada
E assim fazem os moradores por elle mais
E os têm em mayor estima
Que outro nenhum pomo que aja na terra
(ANDRADE, Oswald. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. p.20)
Manuel Bandeira, poeta modernista, valoriza bastante o diálogo entre literatura e artes plásticas.
"Maçã" é um dos seus textos mais estudados:
Por um lado te vejo como um seio murcho
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão
[placentário
És vermelha como o coração do amor divino.
Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente.
E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.
(BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967, p.128)
O crítico Davi Arrigucci Jr., no ensaio "Do sublime oculto", presente na obra
Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira, atenta para aspecto visual do poema,
que evoca quadros de natureza-morta, à maneira dos muitos pintados por Paul Cézanne (1839-
1906):
(http://www.paul-cezanne.org/home-1-96-1-0.html)
A maçã é observada por partes, no todo e por dentro, integrando-se, ainda, a um
ambiente humilde. O texto, à maneira de um quadro cubista, é composto por justaposição de
imagens, evidenciando uma cena prosaica de uma refeição frugal. Observa-se a presença do
quarto, símbolo significativo da interioridade do sujeito, espaço lírico por excelência da obra de
Bandeira. A conotação erótica da fruta sugere uma leitura alegórica: a personificação da mulher,
principalmente da mulher caída, a prostituta. A imaginação do poeta faz com que ele associe
maçã à representação do Sagrado Coração de Jesus:
(dominnus.wordpress.com)
Uma vez que a cor vermelha será associada ao Sagrado Coração de Jesus, evidencia-se o
resgate daquilo que estava rebaixado. Assim, ocorre a poetização e a elevação da banalidade do
cotidiano, a sublimação da realidade decaída do mundo. Em meio aos contrastes de morte (seio
murcho) e vida (cordão umbilical, pevides = sementes; há de se notar que o termo é mais
significativo do que sementes, pois nele já contém, de certo modo, a vida), de coisa abstrata e
concreta, ainda que esteja ligada ao sensual, a maçã é "colhida" por um olhar inventivo,
sugerindo transcendente intensidade. Tanto a maçã de Bandeira como as dos quadros de
Cézanne se apresentam como símbolos da beleza da plenitude artística, o que, nas palavras do
crítico Arrigucci, significa "fruto amadurecido da experiência no confronto com a natureza, em
dura luta pela perfeição". O poema oferece uma leitura religiosa, uma vez que a fruta é símbolo
de uma oferenda do amor pagão que se torna dádiva do amor divino e, em sua simplicidade
natural, há a lição de Cristo: isto é, uma verdade sublime oculta-se no coração de uma simples
fruta. Arrigucci Jr. destaca a admirável estrofe do meio, em que há diminuição do número de
sílabas, mas intensa musicalidade, através das aliterações e assonâncias. Salienta, ainda, a
importância do verso octossílabo: "Palpita a vida prodigiosa". E assim o crítico conclui seu
comentário:
A maçã surge como um objeto de imitação da natureza, exemplarmente
representado; mas surge também como um objeto pictoricamente construído,
como uma 'harmonia paralela à natureza'; e, finalmente, ainda como uma
forma de expressão de um sujeito lírico, como símbolo de uma emoção pessoal.
(...) Assim na maçã se encerra um ideal de estilo na simplicidade natural. E por
ela, por fim, se entende que a poesia, como a natureza, ama ocultar-se”.
(ARRIGUCCI Jr., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990, p.44)
Exercício 1:
Com base na leitura do poema “Maçã”, pode-se afirmar que nele NÃO se constata:
A) Abordagem de um elemento integrado num ambiente humilde;
B) Impessoalidade e distanciamento do eu-lírico do objeto contemplado;
C) Afinidade entre a poesia e as artes plásticas;
D) Resgate, através do olhar poético, de algo rebaixado.
Pelo que foi apresentado, você certamente apontou a opção B, pois o poema apresenta uma
interação entre o poeta e o objeto contemplado, transfigurado poeticamente.
Outro texto significativo de Manuel Bandeira, que incorpora elementos das artes plásticas, no
caso, da estatuária, é o poema “O cacto”:
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco nordeste, carnaubais, caatingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bonde, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
privou a cidade de iluminação e energia:
- Era belo, áspero, intratável.
(BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967, p.84)
De início, é preciso que o leitor tenha em mente a reprodução de duas esculturas. Primeiro,
apresentemos “O grupo de Laocoonte”, que, segundo a Wikipédia “é uma escultura em mármore,
também conhecida como Laocoonte e seus filhos, hoje em dia exposta no Museu do Vaticano, em
Roma. A estátua representa Laocoonte e seus dois filhos, Antiphantes e Thymbraeus, sendo
estrangulados por duas serpentes marinhas, um episódio dramático da Guerra de Tróia relatado na
Ilíada de Homero e na Eneida de Virgílio”
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Grupo_de_Laocoonte)
Outra escultura que o poema evoca é a de Jean-Baptiste Carpeaux (1827-1875), sobre Ugolino e
seus filhos famintos, personagens reais da história italiana, que figuram no "Inferno", de Dante (foram
abandonados numa torre e morreram de fome):
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Carpeaux)
A concepção do poema partiu de um fato jornalístico: um grande cacto, arrancado pela ventania,
tombou em uma avenida de Petrópolis. O poeta transfigura o episódio jornalístico, elevando-o à
condição de símbolo ou parábola. O cacto é comparado a uma escultura do sacerdote troiano Laocoonte
aos gestos desesperados de Ugolino. O cacto evoca também o nordeste, de onde veio o poeta
pernambucano, um homem sofrido com o seu mau destino (e ciente do mau destino da maioria de seus
conterrâneos). A sua queda deixa a cidade privada de energia. O poeta conclui, em famoso verso,
afirmando que o cacto "era belo, áspero, intratável." O crítico Davi Arrigucci Jr. escreveu um longo
ensaio sobre esse poema, relacionando-o com pinturas sobre cactos de Tarsila do Amaral (1886-1973):
(caracol.imaginario.com)
O crítico observa que “o poeta se propõe a dar forma a um determinado conteúdo natural,
vinculando-o, porém, ao universo do desespero e da dor, ao drama humano em sua face mais alta e
pungente”. Nessa análise, o que se depreende do poema é que o cacto é um exemplo de beleza e
resistência moral, evocando a figura do homem submetido a situações adversas: “É como se
presenciássemos a fábula de um deus moribundo, encarnado num simples vegetal, humanamente
retorcido pela dor, mas ainda movido por uma prodigiosa energia vital em face da morte”.
(ARRIGUCCI Jr., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo: Companhia das Letras,
1990, p.24)
Exercício 2:
O elemento vegetal, no poema, NÃO remete a
A) obras de arte
B) sofrimento humano
C) realidade nordestina.
D) enfermidade do poeta
Se você leu com atenção as considerações acima sobre o poema, certamente assinalou a opção
D, pois nesse poema o poeta não faz referência à propalada tuberculose que tanto marcou sua vida e
sua poesia.
Outro poeta brasileiro que transita sua poesia pelas artes plásticas é Manoel de Barros. Como
muitos artistas, ele é fascinado com os girassóis do pintor holandês Van Gogh (1853-1890):
(olhares.aeiou.pt/os_girassois__de_vincent_van...)
Vejamos o texto:
Os girassóis de Van Gogh
Hoje eu vi
Soldados cantando por estradas de sangue
Frescura de manhãs em olhos de crianças
Mulheres mastigando as esperanças mortas
Hoje eu vi homens ao crepúsculo
Recebendo o amor no peito.
Hoje eu vi homens recebendo a guerra
Recebendo o pranto como balas no peito
E como a dor me abaixasse a cabeça,
Eu vi os girassóis ardentes de Van Gogh.
(BARROS, Manoel de. Gramática expositiva do chão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.p.60)
E, em 1994, no O Livro das ignorãças, Manoel de Barros anota:
Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh.
(BARROS, Manoel de. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 1993, p.17)
Exercício 3:
Nos textos abaixo, Manoel de Barros faz referências às artes plásticas, EXCETO:
A) Deus deu a forma. Os artistas desformaram.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar – como em Chagall.
B) - Botar aflição nas pedras
(Como fez Rodin).
C) Miró precisava de esquecer os traços e as doutrinas
que aprendera nos livros.
Desejava atingir a pureza de não saber mais nada.
D) Eu hei de nome Apuleio.
Esse cujo eu ganhei por sacramento.
Os nomes já vêm com unha?
A alternativa D não faz referência a um artista plástico, mas a um nome homônimo do escritor
latino Lucio Apuleio (125-180), que em suas obras burlescas, como O asno de ouro, mesclava
aspectos eróticos e místicos.
Procure pesquisar os quadros de Chagall, Miro e as esculturas de Rodin, para efetivar melhor
relacionamento com a poesia do modernista Manoel de Barros, que também valorizou o estranho artista
Arthur Bispo do Rosário, “tido como louco, morador de hospício, cuja obra é resultado de costuras de
fragmentos de tecidos e objetos de uso pessoal, bem como a linha utilizada para uni-los, poética com a
qual a obra de Manoel de Barros tem muito em comum”, como observou a professora Maria Adélia
Menegazzo, em “Poética visual de
Manoel de Barros”1
.
O poema de Manoel de Barros sobre o sergipano Arthur Bispo do Rosário é o seguinte:
1
http://www.eventos.uevora.pt/comparada/VolumeIII/A%20POETICA%20VISUAL%20DE%20MANOEL%20DE%20BA
RROS.pdf
Arthur Bispo do Rosário se proclamava Jesus. Sua obra era ardente de restos:
estandartes podres, lençóis encardidos, botões cariados, objetos mumificados,
fardões da Academia, Miss Brasil, suspensórios de doutores – coisas
apropriadas ao abandono. Descobri entre seus objetos um buquê de pedras com
flor. Esse Arthur Bispo do Rosário acreditava em nada e em Deus.
(BARROS. Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 83)
Eis uma foto do artista homenageado por Manoel de Barros:
(www.integrando.org.br)
Em 2009, há um filme sendo rodado sobre esse artista. Leia um trecho da reportagem no Estado
de Minas:
Para o sergipano Arthur Bispo do Rosário, a arte era desígnio divino. Ele
acreditava que, enquanto vivesse, deveria miniaturizar o mundo para apresentá-lo no
dia do juízo final. Fez disso a sua saga. Negro e pobre, foi considerado louco. Em 5 de
janeiro de 1939, acabou recolhido ao pavilhão dos agitados da Colônia Juliano
Moreira, no Rio de Janeiro. Entre idas e vindas, passou os 50 anos seguintes no asilo
psiquiátrico. Para sobreviver à decadência, aos choques elétricos e aos castigos na cela
forte, onde era tratado a pão e água, jamais se assumiu como demente, mas como
criador capaz de inventar algo singular. Este ano, quando se comemoram o centenário
de nascimento e os 20 anos da morte do artista, filme, exposições e relançamento de
livro celebram a obra deste mestre.
Ainda há muito a descobrir sobre o legado de Arthur Bispo do Rosário –
referência das artes plásticas contemporâneas do Brasil.(...)
O filme O senhor do labirinto deve chegar às telas este ano. Não é biográfico,
mas dá voz ao discurso de Bispo. “Vai mostrar como ele via a própria produção
artística”, adianta o cineasta Geraldo Motta.
(REIS, Sérgio Rodrigo. “Missão divina”, in Estado de Minas, caderno Cultura. Belo Horizonte, 15 de fevereiro de
2009.)
LITERATURA E CINEMA
O cinema sempre investiu nas obras literárias. A literatura, desde a invenção do cinema, absorveu
aspectos dessa arte. Há pouco tempo, entrou para a Academia Brasileira de Letras o primeiro cineasta,
Nelson Pereira dos Santos, que dirigiu filmes inspirados em obras literárias, como Vidas secas (1963) e
Memórias do cárcere (1984), ambos os livros do escritor nordestino Graciliano Ramos.
Vamos acompanhar um trecho de uma entrevista que a jornalista Karla Hansen fez com Nelson:
Gostaria que você falasse sobre as diferenças entre a narrativa literária e a
narrativa cinematográfica.
Os estudiosos das relações do cinema e da literatura, e isso vem de há muito
tempo, mostram que são duas artes narrativas. No meu discurso de posse (na
ABL) citei um autor, um estudioso que mostra que na Eneida, de Virgílio, há
construções que se assemelham com a narrativa do cinema. Ele trabalha com
espaço, com simultaneidade de ação, elementos próprios da narrativa
cinematográfica. O [historiador, embaixador e membro da ABL] Alberto Costa e
Silva, que fez a biografia em forma de crítica de Castro Alves [Um poeta sempre
jovem, Companhia das Letras, 2006], também lembra que um trecho de O navio
negreiro [1868] se assemelha a um movimento de zoom. O poeta estabelece o
ponto de vista dos albatrozes e o navio lá embaixo...Na essência, há uma grande
proximidade entre a literatura e o cinema. Outros autores dizem que o cinema
influenciou o romance, que o romance americano, filho do cinema, revolucionou
o romance tradicional. A literatura toda dos nossos modernistas, paulistas,
procurava o cinema. Mário de Andrade foi cinéfilo, ele ia ver todos os filmes de
sua época e ao escrever o romance Amar, verbo intransitivo [1927], por
exemplo, tentou escrever um filme muito influenciado pelo cinema. Por isso, eu
recomendo sempre aos meus alunos, além dos filmes, a leitura dos romances.
(HANSEN, Karla. “Um olhar na Academia”. Revista Língua Portuguesa. n.23, São Paulo: Segmento, 2007, p.12)
Exercício 4:
Depreende das palavras de Nelson Pereira dos Santos:
A) A notória superioridade do cinema sobre a literatura.
B) A questionável influência do cinema sobre Castro Alves.
C) A incontestável afinidade entre literatura e cinema.
D) A indiscutível superioridade da literatura sobre o cinema.
Você acertou ao marcar a opção C, pois cinema e literatura exibem grandes afinidades.
Vejamos o trecho da poesia de Castro Alves salientado na entrevista:
III
(...)
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas
Sacode as penas, Leviathan do espaço
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
(...)
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
(http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm)
A imaginação dos escritores tem algo de cinematográfico. Veja, por exemplo, a pequena
reflexão que o poeta Mário Quinta faz sobre a letra K:
K
Letra caminhante.
(QUINTANA, Mário. Da preguiça como método de trabalho. Poesia completa.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p.668)
A poesia concreta, nos anos 50 do século XX, apresentou inovações formais que têm muito de
cinema, devido à questão visual e à idéia de movimento. Em 1965, na Revista O Pif-Paf, o humorista
Millôr Fernandes escreveu um saboroso texto intitulado “Alfabeto concreto”. Ao comentar letra por
letra, entre outras coisas, anotou:
O A é uma letra com sótão. Chove sempre um pouco sobre o à crasead. O B é umI que
se apaixonou por um 3. Ao C só lhe resta uma saída. O ç cedilha, esse jamais tira a
gravata.
(FERNANDES, Millôr. Apud CHALHUB, Samira. A Metalinguagem. São Paulo, Ática, 1986, p.33)
Exercício 5:
O texto de Millôr Fernandes prossegue fazendo engraçadas definições das letras do alfabeto. Procure
identificar as letras definidas nas alternativas:
A) “ri-se eternamente das outras letras”
B) “serve como escada para outras letras galgarem sentido”
C) “anda sempre com o laço do sapato solto”
D) “é uma taça onde bebem as outras letras”
Será que você conseguiu acertar? As respostas são: E, H, Q, Y... A poesia concreta, pela
exploração visual e pela sensação de movimento, aproxima-se do cinema, como se pode perceber neste
poema de José Paulo Paes:
AUTO-ESCOLA VÊNUS
Contato
para trás
(devagar)
para frente
(devagar)
para trás
(ACELERE)
para frente
para frente
(ACELERE)
pode desligar
(PAES, José Paulo. Um por todos. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.71)
Em “Cine-olho”, o poeta mineiro Ricardo Aleixo realiza um excelente poema em três rápidas
seqüências, com versos de uma só palavra, num estilo concretista, bem visual e dinâmico,
aproximando-se da técnica cinematográfica do cineasta russo Dziga Vertov (1896-1954) que filmava
pequenas partículas da realidade e criou uma perspectiva através da qual o espectador via nas imagens
através dos olhos do etnógrafo, do cinegrafista, as cenas cruas de um cinema-verdade. Vertov ia atrás
dos acontecimentos à medida em que eles iam se desenrolando. Eis o texto de Aleixo:
Um
menino
não.
Era
mais
um
felino
um
Exu
afelinado
chispando
entre
os
carros
-
um
ponto
riscado
a
laser
na
noite
de
rua
cheia
-
ali
para
os
lados
do
Mercado.
(ALEIXO, Ricardo. PEREIRA, Edimilson de Almeida. A roda do mundo. Belo Horizonte:BHZ,2004. p.33)
Há a mistura do ioruba (Exu) com o inglês (a expressão laser, fonte de luz, que deriva das
iniciais light amplification by stimulated emission of radiation.). O poema flagra um flash urbano e
social de um menino correndo pelos “lados do Mercado”; a expressão “rua/ cheia” sugere que a
esperada lua cheia da noite está encoberta.
Carlos Drummond de Andrade tem muitos poemas abordando o cinema. Em julho de 1977,
morre a atriz Joan Crawford, que após ter encerrado sua carreira, tornou-se executiva da Pepsi-Cola.
Abaixo, duas fotos da atriz.
(www.findagrave.com)
(flickr.com)
Joan Crawford: in memoriam
No firmamento apagado
não lucilam mais estrelas de cinema.
Greta Garbo
passeia incógnita a solidão de sua solitude.
Marlene Dietrich
quebrou a perna mítica de Valquíria.
Joan Crawford
produtora de refrigerantes, o coração a matou.
O cinema é uma fábula de antigamente
(ontem passou a ser antigamente)
contada por arqueólogos de sonho, em estilo didático,
a jovens ouvintes que pensam em outra coisa.
O nome perdura. Também é outra coisa.
Tudo é outra coisa, depois que envelhecemos.
E não há mais deusas e deuses. Há figurinhas
móveis, falantes, coloridas, projetadas
do interior da casa. Não saem nunca mais,
enquanto se esvazia o céu da Grécia
dentro de nós – azul já negro ou neutra-cor.
Joan, não beberei por ti, à guisa de luto,
nenhum líquido fácil e moderno.
Sorvo tua lembrança
a lentos goles.
(ANDRADE, Carlos Drummond. Discurso da primavera e outras sombras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, p.53)
Exercício 6:
Assinale o trecho do poema que remeta à juventude de Joan Crawford
A) Tudo é outra coisa, depois que envelhecemos
B) Produtora de refrigerantes, o coração a matou
C) Sorvo tua lembrança
D) passeia incógnita a solidão de sua solitude
A alternativa correta, evidentemente, é a de letra C, o poeta vai beber a própria lembrança do passado em
que Joan Crawford, em vez de produzir refrigerantes, atua nas telas de cinema.
Exercício 7:
Nos versos abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, NÃO há referência ao cinema em:
A) Fechado o Cinema Odeon, na Rua da Bahia.
Fechado para sempre.
Não é possível, minha mocidade
fecha com ele um pouco.
B) Amar o perdido
deixa confundido
este coração
C) A espera na sala de espera. A matinê
com Buck Jones, tombos, tiros, tramas.
D) Desafio. Matemática de cine
a estudar em Ipanema
pelo jovem não-quadrado
(Pasolini é quem previne):
Superbacana é o teorema
que não será demonstrado.
A opção a ser marcada é a de letra B, pois aí o poeta fala do passado, sem especificar o cinema, como
na alternativa a ou fazer referências a atores e diretores como em C e D, em que se destacam Buck Jones e o
cineasta italiano Pasolini, autor do complexo filme Teorema.
(edenville.wordpress.com)
Carlos Drummond de Andrade, que sempre cultuou o cinema, teve alguns de seus poemas
convertidos em filmes. O caso mais recente é o poema “O caso do vestido”, que foi filmado por Paulo
Thiago, a partir de um argumento de Carlos Herculano Lopes, que se transformou em romance. O
vestido, que pode ser considerado uma obra autônoma, ainda que cite, parafraseie e reinvente o texto
drummondiano. O poema do mineiro de Itabira é estruturado em dísticos brancos, em redondilha
maior, mesclando o gênero épico (narrativo), o dramático (teatral) e o lírico (poético, confessional).
Trata-se da história de um casal, que se separou devido à fulminante paixão que o pai tivera por uma
“dona de longe”. As filhas do casal, muito tempo depois, já com o pai inserido de volta em sua família,
querem saber da mãe o significado de um vestido, pendurado no prego, que era uma relíquia,
encerrando toda a história passional. Aos poucos, aproveitando a ausência provisória do marido, a
esposa vai relatando às filhas a dramática história a respeito do vestido que pertencera à amante do pai.
Às vezes, a mãe interrompe o caso, pois acha que o pai está chegando: “Minhas filhas, boca presa,/
vosso pai evém chegando”; “Minhas filhas, vosso pai/ chega ao pátio. Disfarcemos”; “Minhas filhas,
eis que ouço/ vosso pai subindo a escada”.
No decorrer da história, há três momentos de simetria dramática, envolvendo o sofrimento do
pai, que se desespera pela dona de longe; o sofrimento da mãe, pois é obrigada a se humilhar e a
suplicar para que a dona se deite com o marido, que a abandona; e, finalmente, o sofrimento da amante,
que se apaixona pelo pai das meninas que desejam saber sobre o vestido, e depois é abandonada por
ele. No final, há a coincidência da chegada do pai, no passado, integrando-se à família, e a chegada do
pai, no momento atual, encerrando a enunciação da história pela mãe. No poema de Drummond, quem
fala são as filhas e a mãe, que também reproduz a fala do marido e da dona de longe. O poema é
transcrito nas páginas finais do romance de Herculano, que, ao longo da narrativa, insere, quase sempre
em itálico, mas às vezes em letra normal, passagens da composição, como nesse trecho, em que
grifamos as citações:
“A eles deu um dinheiro, olhou para mim em silêncio, mal reparou no vestido, que
estava em minhas mãos, e foi entrando casa adentro, com aqueles passos ritmados, em
direção à cozinha, enquanto eu, sem acreditar, como que hipnotizada o seguia: Mulher,
põe mais um prato na mesa, assim ele foi dizendo. Eu fiz, ele se assentou, sorriu para
vocês, que estavam meio assustadas, mas de perto dele não saíam. Comeu, limpou o
suor, era sempre o mesmo homem”. (p.184)
(LOPES, Carlos Herculano. O vestido. São Paulo: Geração Editorial, 2004. p.184)
No filme, Paulo Thiago amplia as citações drummondianas, além de inserir trechos de Dom
Casmurro e da produção de Anselmo Duarte, O pagador de promessas; no romance de Carlos
Herculano Lopes, um aspecto merece relevância: a presença do padre. No drama de Dias Gomes, o
padre representa a pétrea oposição à promessa do Zé do Burro. No filme de Thiago, esse intertexto vem
apenas priorizar a faceta da farsa da ex-atriz Bárbara, contratada por Fausto para afastar Ulisses de
Ângela. No romance há a presença de dois padres, retomando a díade dos “Dois vigários”, de Lição de
coisas, onde “Padre Olímpio benzia e padre Júlio fornicava”.
(www.adorocinemabrasileiro.com.br)
Luís Fernando Verissimo é outro escritor cinéfilo. Em suas crônicas é constante a citação
cinematográfica. A segunda parte do livro A eterna privação do zagueiro absoluto não tem nada a ver
com o título do livro, cuja primeira parte aborda o futebol. Aqui, o cinema é que vai ser o tema central.
No primeiro bloco, “O melhor começo”, o cronista faz uma viagem no tempo, evocando a época em
que viu, pela primeira vez, atrizes como Kim Novak, Ingrid Bergman, Rita Hayworth e Nastasia
Kinsky. Aponta os melhores começos de filmes, destacando Yojinbo (1961), do japonês Akira
Kurosawa, que sabia como ninguém movimentar com a câmara (travellings). Recorda-se, também, do
início de Lolita, de Stanley Kubrick, que também fizera filmes definitivos como Glória feita de sangue,
2001: uma odisséia no espaço e Laranja Mecânica. Cinema está associado a erotismo, daí as
evocações das coxas de Silvana Mangano, dos seios da Martine Carol, da incomparável beleza de
Catherine Deneuve e, claro, da brasileira Patrícia Pillar. Vejam um trecho em que ele cita Catherine
Deneuve:
Me lembrei da Catherine Deneuve porque escrevi no outro dia que não víamos
mais filmes franceses e italianos e se isso é uma lamentável prova da nossa entrega total
à ditadura cultural americana também é uma grande ingratidão com o cinema da
França e da Itália e, principalmente, com as suas mulheres, as suas grandes mulheres.".
(VERISSIMO, Luis Fernando. A eterna privação do zagueiro absoluto. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
p.118)
Em A morte de DJ em Paris, do mineiro Roberto Drummond, mais exatamente no conto
“Objetos pertencentes a Fernando B, misteriosamente desaparecido”, entre os objetos, há uma foto em
¾ da atriz francesa Catherine Deneuve (a edição reproduz a foto). Foram efetuadas várias prisões de
sósias dessa atriz. A foto não está disponível na Internet, mas para que se tenha uma idéia da beleza da
atriz, veja essa outra foto:
(reneeashleybaker.wordpress.com)
Retomando a obra de Luis Fernando Verissimo, há um outro bloco “Sobre comédias e vilões”,
que abrange alguns filmes contemporâneos, como Mensagem para você (que exibe, no cenário, uma
mega-livraria), Shakespeare apaixonado, Evita, O advogado do diabo, Central do Brasil, A vida é bela,
mas resgatando, também, o clássico Casablanca. Retira uma fala de uma personagem desse filme para
ironizar o contexto político brasileiro:
“(...) lembrava a frase do chefe de política Renault depois de cada atentado terrorista
em Casablanca: ‘ Prendam os suspeitos de sempre’. Aqui os de sempre reuniam-se com
o governo e chegavam a acordos sobre preços e práticas que nunca eram cumpridos, o
que não impedia que fossem convocados de novo.”(p.137)
O cinema brasileiro aparece nas crônicas “Eles merecem” e “O arquivilão”. Na primeira, o autor
fala de sua torcida por Fernanda Montenegro, que fora indicada para o Oscar por sua atuação em
Central do Brasil, de 1998. Na outra crônica, o vilão é o ator gaúcho José Lewgoy, que sempre fazia
papel de bandido nas chanchadas (comédias) nacionais, produzidas pelo estúdio Atlântida. O autor
ironiza o monopólio do cinema norte-americano, impedindo-nos de assistir a muitas produções
européias, de onde vêm belas atrizes. Aliás, em outro livro, A mesa voadora, ao citar o cinema
americano, Veríssimo anota: “O filme era um exemplar impecável de engenhosidade técnica e
agradável imbecilidade”.(p.63)
Ao elogiar o filme Evita, o cronista diz não ter sido influenciado pela “megabadalação” do
“marquetchim”. Demonstrando cultura geral, compara-o a textos de Brecht e à música do alemão Kurt
Weill. Cinema e literatura se misturam, daí as referências, nas crônicas dessa seção, a obras de
Shakespeare (Ricardo III), Oscar Wilde (A importância de ser resoluto) e Vladimir Nabokow – que
serão personagens da última parte. O estudante não deve ficar preocupado em guardar tantos nomes de
atores e cineastas citados, o que revela o apreço do cronista pelo cinema. Mas deixaremos aqui uma
lista contendo algumas breves informações.
Rubem Fonseca, romancista contemporâneo, em todas suas obras faz um intenso diálogo entre a
literatura e outras artes. Em seu livro, O selvagem da ópera, há o projeto de se fazer um filme sobre o
compositor Carlos Gomes. Conforme se lê na orelha da obra,
“Romance, biografia, argumento cinematográfico: O selvagem da ópera é tudo isto.
Tem como protagonista o compositor Antonio Carlos Gomes, autor de O guarani e de
outras óperas hoje esquecidas, como Fosca, Salvator Rosa, Maria Tudor e Lo Schiavo.
(...) O selvagem da ópera é um livro que fascina pela maneira harmônica com que
mescla literariamente os mesmos estilos que classificam a grande ópera – o barroco, o
bufo e o trágico - características refletidas na própria vida do compositor brasileiro,
que gozou e sofreu intensamente as misérias e grandezas de seu destino e seu tempo”.
(FONSECA, Rubem. O selvagem da ópera. São Paulo: Companhia das Letras, 1994)
Exercício 8:
De acordo com as informações contidas na orelha do livro de Rubem Fonseca, depreende-se que
essa obra é
A) destituída de ficção, pois é uma biografia
B) narrada na primeira pessoa pelo protagonista
C) estruturada em diálogos como um roteiro de filme
D) composta pela harmonia de diferentes artes
Romance, biografia, cinema e música se mesclam no livro de Rubem Fonseca, justificando a
alternativa que você deve ter marcado, isto é, a letra D.
E por falar no gênero “ópera”, você encontrará muita coisa na literatura brasileira. Em Dom
Casmurro, de Machado de Assis, há um belo capítulo chamado “A vida é uma ópera”. No romance
Encarnação, de José de Alencar, há a importante presença da ópera Lúcia de Lammermoor, de
Donizetti. Em Agosto, de Rubem Fonseca, o protagonista, o incorruptível comissário Matos é grande fã
de ópera. Tomemos um trecho de O selvagem da ópera, em que Rubem Fonseca articula romance,
música e argumento cinematográfico:
Em Milão, neste mês de abril, o imperador (D.Pedro II) assiste a uma récita
íntima em sua homenagem, promovida por Carlos no Grande Hotel Milano, onde se
hospeda acompanhado da imperatriz Teresa Cristina, do neto Pedro Augusto (...) O
historiador e romancista italiano Cesare Cantù, visto ainda há pouco em nosso filme a
conversar com D. Pedro II, foi convidado para assistir à récita.
Precedendo a cantoria,um prestidigitador de nome Pelazzeschi, acompanhado
ao piano, usando as mãos e alguns objetos à frente de um foco de luz, projeta sombras
sobre uma superfície branca de uma parede, representando cenas de O guarani. Essa
exibição é denominada por Palazzeschi de “sombras chinesas”. O filme deve mostrar,
por óbvios motivos, essa apresentação primitiva de imagens em movimento.
Depois, o barítono Innocente De Anna, além de árias da Fosca e do Salvator, e
de uma ária inédita do Escravo, canta uma romanza da câmera composta por Carlos,
intitulada Aurora e Tramonto.
(FONSECA, Rubem. O selvagem da ópera. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p.196)
O escritor age como se fosse um vampiro, alimentando-se de outros textos. O vampiro nasceu
na literatura e foi aproveitado pelo cinema. Aparece em todas as artes. O escritor, no bom sentido da
palavra, é também vampiro, a sugar de várias artes. O chargista Angeli triplica o número de vampiros:
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dbch09082007)
Mário Quinta o ridiculariza:
Drácula
Quando me encontrei com o Conde Drácula, por uma destas noites de inverno, na
Esquina dos Ventos Uivantes, tinha ele o aspecto de um grande guarda-chuva de varetas
quebradas. Foi o que lhe disse. Ele deu meia-volta e partiu revoando, aos solavancos, decerto
para quebrar a cara do diretor do filme...
(QUINTANA, Mário. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p.975)
Exercício 9:
O texto de Mário Quintana tem em comum com a charge de Angeli:
A) A elaboração de textos em prosa.
B) O aproveitamento satírico de um mito popular.
C) O diálogo com outras obras literárias.
D) A crítica ao sistema capitalista.
A alternativa correta é a de letra B, pois o tópico A relaciona-se apenas com o texto de
Quintana; o tópico D refere-se apenas à charge, o tópico C ocorre só no texto de Quintana, que faz
alusão ao livro O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë.
Nesse módulo, você viu como a literatura pode incorporar outras artes, abrindo caminho para
uma fecunda interdisciplinaridade. Um bom livro sempre é capaz de estabelecer novos diálogos m
diferentes atividades artísticas. A literatura, como a história, é, por essência, de natureza
interdisciplinar. Esperamos que você tenha percebido isso e comece a compreender e usar,
produtiva e autonomamente, essas estratégias da obra literária em interação com outras fontes de
cultura e de arte.
Seja uma espécie sadia de vampiro, sugando os livros que aqui sugerimos. Boas mordidas!
www.meiapalavra.com.br
Livros
• ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.
• ARRIGUCCI Jr., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São
Paulo:Companhia das Letras, 1990.
• BAIRON, Sérgio. Interdisciplinaridade. São Paulo: Futura, 2002.
• CARNEIRO, Flávio. No país do presente: ficção brasileira no início do século XXI.Rio
deJaneiro:Rocco, 2005.
• DRUMMOND, Roberto. A morte de DJ em Paris. São Paulo: Ática, 1975.
• HELENA, Lúcia. “Uma sociedade do olhar: reflexões sobre a ficção brasileira” in Alteridade,
desigualdade, violência na literatura brasileira contemporêa. Org. Regina Dalcastgnè, S.
Bernardo do Campo: Editora horizonte, 2008
• DENEB, Leon. Diccionario de símbolos. Madrid, Biblioteca Nueva, 2001.
• GALDINO, Márcio da Rocha. O cinéfilo anarquista: Carlos Drummond de Andrade e o
cinema. Belo Horizonte: BDMG, 1981.
• LOPES, Carlos Herculano. O vestido. São Paulo: Geração Editorial, 2004.
• MACIEL, Luiz Carlos Junqueira. Vestindo o caso: o canto multiplicado. Suplemento
Literáriode Minas Gerais, n.1281, Belo Horizonte, Agosto de 2005.
Site
http://www.eventos.uevora.pt/comparada/VolumeIII/
A%20POETICA%20VISUAL%20DE%20MANOEL%20DE%20BARROS.pdf
Para saber mais, consultem:

More Related Content

What's hot

Aula 18 simbolismo em portugal e no brasil
Aula 18   simbolismo em portugal e no brasilAula 18   simbolismo em portugal e no brasil
Aula 18 simbolismo em portugal e no brasilJonatas Carlos
 
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosaAula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosaConnce Santana
 
Aula 08 arcadismo no brasil
Aula 08   arcadismo no brasilAula 08   arcadismo no brasil
Aula 08 arcadismo no brasilJonatas Carlos
 
Modernismo 1ª fase convertido
Modernismo 1ª fase convertidoModernismo 1ª fase convertido
Modernismo 1ª fase convertidoRosangelaCruz18
 
A primeira geração do modernismo brasileiro
A primeira geração do modernismo brasileiroA primeira geração do modernismo brasileiro
A primeira geração do modernismo brasileiroma.no.el.ne.ves
 
Revisional de literatura colonial no enem
Revisional de literatura colonial no enemRevisional de literatura colonial no enem
Revisional de literatura colonial no enemma.no.el.ne.ves
 
Aula 27 produções contemporâneas em portugal e no brasil
Aula 27   produções contemporâneas em portugal e no brasilAula 27   produções contemporâneas em portugal e no brasil
Aula 27 produções contemporâneas em portugal e no brasilJonatas Carlos
 
Aula 15 realismo - naturalismo no brasil
Aula 15   realismo - naturalismo no brasilAula 15   realismo - naturalismo no brasil
Aula 15 realismo - naturalismo no brasilJonatas Carlos
 
3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fase
3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fase3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fase
3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fasejacsonufcmestrado
 
Revisional de literatura contemporânea no enem
Revisional de literatura contemporânea no enemRevisional de literatura contemporânea no enem
Revisional de literatura contemporânea no enemma.no.el.ne.ves
 
Revisão poesia romântica brasileira
Revisão poesia romântica brasileiraRevisão poesia romântica brasileira
Revisão poesia romântica brasileiraSeduc/AM
 
Libertação em "Poética", de Manuel Bandeira
Libertação em "Poética", de Manuel BandeiraLibertação em "Poética", de Manuel Bandeira
Libertação em "Poética", de Manuel BandeiraAna Polo
 
Aula 10 romantismo no brasil e em portugal
Aula 10   romantismo no brasil e em portugalAula 10   romantismo no brasil e em portugal
Aula 10 romantismo no brasil e em portugalJonatas Carlos
 
Revisando simbolismo e parnasianismo
Revisando simbolismo e parnasianismoRevisando simbolismo e parnasianismo
Revisando simbolismo e parnasianismoma.no.el.ne.ves
 
Literatura aula 16 - machado de assis
Literatura   aula 16 - machado de assisLiteratura   aula 16 - machado de assis
Literatura aula 16 - machado de assismfmpafatima
 
Primeira Fase do Modernismo
Primeira Fase do ModernismoPrimeira Fase do Modernismo
Primeira Fase do ModernismoCamila Jamyly
 

What's hot (20)

Aula 18 simbolismo em portugal e no brasil
Aula 18   simbolismo em portugal e no brasilAula 18   simbolismo em portugal e no brasil
Aula 18 simbolismo em portugal e no brasil
 
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosaAula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
Aula 25-modernismo-no-brasil-2ª-fase-prosa
 
Aula 08 arcadismo no brasil
Aula 08   arcadismo no brasilAula 08   arcadismo no brasil
Aula 08 arcadismo no brasil
 
Modernismo 1ª fase convertido
Modernismo 1ª fase convertidoModernismo 1ª fase convertido
Modernismo 1ª fase convertido
 
A primeira geração do modernismo brasileiro
A primeira geração do modernismo brasileiroA primeira geração do modernismo brasileiro
A primeira geração do modernismo brasileiro
 
Revisional de literatura colonial no enem
Revisional de literatura colonial no enemRevisional de literatura colonial no enem
Revisional de literatura colonial no enem
 
Aula 27 produções contemporâneas em portugal e no brasil
Aula 27   produções contemporâneas em portugal e no brasilAula 27   produções contemporâneas em portugal e no brasil
Aula 27 produções contemporâneas em portugal e no brasil
 
Aula 15 realismo - naturalismo no brasil
Aula 15   realismo - naturalismo no brasilAula 15   realismo - naturalismo no brasil
Aula 15 realismo - naturalismo no brasil
 
Aula 17 parnasianismo
Aula 17   parnasianismoAula 17   parnasianismo
Aula 17 parnasianismo
 
3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fase
3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fase3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fase
3373897 literatura-aula-26-modernismo-no-brasil-3-fase
 
literatura
literaturaliteratura
literatura
 
Revisional de literatura contemporânea no enem
Revisional de literatura contemporânea no enemRevisional de literatura contemporânea no enem
Revisional de literatura contemporânea no enem
 
Aula 09 romantismo
Aula 09   romantismoAula 09   romantismo
Aula 09 romantismo
 
Revisão poesia romântica brasileira
Revisão poesia romântica brasileiraRevisão poesia romântica brasileira
Revisão poesia romântica brasileira
 
Libertação em "Poética", de Manuel Bandeira
Libertação em "Poética", de Manuel BandeiraLibertação em "Poética", de Manuel Bandeira
Libertação em "Poética", de Manuel Bandeira
 
Aula 10 romantismo no brasil e em portugal
Aula 10   romantismo no brasil e em portugalAula 10   romantismo no brasil e em portugal
Aula 10 romantismo no brasil e em portugal
 
Poesia e modernismo
Poesia e modernismoPoesia e modernismo
Poesia e modernismo
 
Revisando simbolismo e parnasianismo
Revisando simbolismo e parnasianismoRevisando simbolismo e parnasianismo
Revisando simbolismo e parnasianismo
 
Literatura aula 16 - machado de assis
Literatura   aula 16 - machado de assisLiteratura   aula 16 - machado de assis
Literatura aula 16 - machado de assis
 
Primeira Fase do Modernismo
Primeira Fase do ModernismoPrimeira Fase do Modernismo
Primeira Fase do Modernismo
 

Viewers also liked

Autores prosa modernista 2º fase
Autores prosa modernista 2º faseAutores prosa modernista 2º fase
Autores prosa modernista 2º faseElisangela Carvalho
 
A nova ponte ilhéus terceiro trecho.
A  nova ponte ilhéus   terceiro trecho.A  nova ponte ilhéus   terceiro trecho.
A nova ponte ilhéus terceiro trecho.Roberto Rabat Chame
 
SEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
SEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADESEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
SEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADEMarcelo Fernandes
 
Sequência didática poema
Sequência didática   poemaSequência didática   poema
Sequência didática poemaAnalú Lúcia
 
kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02
kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02
kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02Elisangela Carvalho
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeAdriana Masson
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeLeslley Cristian
 

Viewers also liked (9)

Noites traiçoeiras
Noites traiçoeirasNoites traiçoeiras
Noites traiçoeiras
 
Autores prosa modernista 2º fase
Autores prosa modernista 2º faseAutores prosa modernista 2º fase
Autores prosa modernista 2º fase
 
A nova ponte ilhéus terceiro trecho.
A  nova ponte ilhéus   terceiro trecho.A  nova ponte ilhéus   terceiro trecho.
A nova ponte ilhéus terceiro trecho.
 
SEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
SEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADESEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
SEMINÁRIO DE LITERATURA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Sequência didática poema
Sequência didática   poemaSequência didática   poema
Sequência didática poema
 
kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02
kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02
kFraseoraoeperodo 100425185511-phpapp02
 
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de AndradeCarlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
 
Carlos drummond de andrade
Carlos drummond de andradeCarlos drummond de andrade
Carlos drummond de andrade
 

Similar to 4 a literatura_em_dialogo_com_outras_artes

Arrigucci jr., david. o cacto e as ruínas
Arrigucci jr., david. o cacto e as ruínasArrigucci jr., david. o cacto e as ruínas
Arrigucci jr., david. o cacto e as ruínasIara Gregório
 
David Arrigucci Jr. - O cacto e as Ruínas
David Arrigucci Jr. - O cacto e as RuínasDavid Arrigucci Jr. - O cacto e as Ruínas
David Arrigucci Jr. - O cacto e as RuínasGiselle Campos Romero
 
concretismo
concretismoconcretismo
concretismowhybells
 
Crítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo LopesCrítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo LopesMadga Silva
 
Prova de literatura enem.
Prova de literatura   enem.Prova de literatura   enem.
Prova de literatura enem.Ajudar Pessoas
 
Descrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejão
Descrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejãoDescrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejão
Descrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejãogrupointerartes
 
O médico e o monstro artigo
O médico e o monstro artigoO médico e o monstro artigo
O médico e o monstro artigoAngeli Nascimento
 
reflexões sobre néo realismo
reflexões sobre néo realismoreflexões sobre néo realismo
reflexões sobre néo realismoEquipemundi2014
 
Literaturas sobre realismo (7)
Literaturas sobre realismo (7)Literaturas sobre realismo (7)
Literaturas sobre realismo (7)Equipemundi2014
 
Literatura e sociedade
Literatura e sociedadeLiteratura e sociedade
Literatura e sociedadeJuçara Keylla
 
Exercicios de revisso_[2] (1)
Exercicios de revisso_[2] (1)Exercicios de revisso_[2] (1)
Exercicios de revisso_[2] (1)Kleo macedo
 

Similar to 4 a literatura_em_dialogo_com_outras_artes (20)

Modernismo
ModernismoModernismo
Modernismo
 
Exercicios semana de arte
Exercicios semana de arteExercicios semana de arte
Exercicios semana de arte
 
Arrigucci jr., david. o cacto e as ruínas
Arrigucci jr., david. o cacto e as ruínasArrigucci jr., david. o cacto e as ruínas
Arrigucci jr., david. o cacto e as ruínas
 
David Arrigucci Jr. - O cacto e as Ruínas
David Arrigucci Jr. - O cacto e as RuínasDavid Arrigucci Jr. - O cacto e as Ruínas
David Arrigucci Jr. - O cacto e as Ruínas
 
concretismo
concretismoconcretismo
concretismo
 
Crítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo LopesCrítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo Lopes
Crítica ao livro «O Moscardo e Outras Histórias» de João Ricardo Lopes
 
Prova de literatura enem.
Prova de literatura   enem.Prova de literatura   enem.
Prova de literatura enem.
 
Literatura Brasileira Academ X Moder
Literatura Brasileira Academ X ModerLiteratura Brasileira Academ X Moder
Literatura Brasileira Academ X Moder
 
Descrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejão
Descrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejãoDescrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejão
Descrição das paisagens nas topografias corpografias de adriana varejão
 
O médico e o monstro artigo
O médico e o monstro artigoO médico e o monstro artigo
O médico e o monstro artigo
 
Cesário verde
Cesário verdeCesário verde
Cesário verde
 
Cesário verde
Cesário verdeCesário verde
Cesário verde
 
2º literatura
2º literatura2º literatura
2º literatura
 
Rompendo o seculo
Rompendo o seculoRompendo o seculo
Rompendo o seculo
 
reflexões sobre néo realismo
reflexões sobre néo realismoreflexões sobre néo realismo
reflexões sobre néo realismo
 
Literaturas sobre realismo (7)
Literaturas sobre realismo (7)Literaturas sobre realismo (7)
Literaturas sobre realismo (7)
 
Literatura e sociedade
Literatura e sociedadeLiteratura e sociedade
Literatura e sociedade
 
João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo NetoJoão Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto
 
A rosa do_povo
A rosa do_povoA rosa do_povo
A rosa do_povo
 
Exercicios de revisso_[2] (1)
Exercicios de revisso_[2] (1)Exercicios de revisso_[2] (1)
Exercicios de revisso_[2] (1)
 

4 a literatura_em_dialogo_com_outras_artes

  • 1. MÓDULO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA Autor: Luiz Carlos Junqueira Maciel Eixo Temático III Temas, motivos e estilos na literatura brasileira e em outras manifestações culturais: A LITERATURA EM DIÁLOGO COM OUTRAS ARTES : TEMAS, MOTIVOS E ESTILOS NA LITERATURA BRASILEIRA E EM OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS. MOTIVOS E ESTILOS NA LITERATURA BRASILEIRA O presente módulo tem como objetivo geral o estudo de temas, motivos e estilos na literatura brasileira e em outras manifestações culturais, com ênfase no diálogo que a literatura mantêm com as outras artes. OOss oobbjjeettiivvooss eessppeeccííffiiccooss qquuee oo mmóódduulloo pprrooccuurraa aattiinnggiirr,, lleevvaa eemm ccoonnttaa:: Tópico 31.2. Reconhecer, em um texto ou obra literária, a concepção de autor e/ou de fazer literário que ela apresenta e relacioná-la a outras artes. Tópico 31.3. Comparar concepções de autor e de fazer literário, presentes em textos literários ou em outras atividades artísticas de uma mesma época ou de épocas diferentes da história literária brasileira. Tópico 32.0. Reconhecer os discursos fundadores da brasilidade e seus efeitos de sentido, em textos e manifestações culturais de diferentes épocas. Tópico 32.3: Reconhecer, em textos literários e em outras manifestações culturais de diferentes épocas, a perpetuação ou o questionamento da ideologia dos discursos fundadores. Tópico 37.4: Estabelecer relações intertextuais entre um texto literário e uma outra manifestação cultural sobre a vida social e política brasileira. Tópico 45.0. Ler textos e obras representativos do Modernismo brasileiro produtiva e autonomamente e relacioná-los com outras atividades artísticas. Tópico 45.1. Caracterizar os movimentos de vanguarda européia (Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo), relacionando aspectos pictóricos a produções literárias brasileiras. Tópico 45.10. Identificar efeitos de sentido da metalinguagem e da intertextualidade em textos literários do Modernismo brasileiro e suas relações com outras atividades artísticas. Tópico 45.11. Posicionar-se, como pessoa e como cidadão, frente aos valores, às ideologias e às propostas estéticas representadas em obras literárias do Modernismo brasileiro. Tópico 46.5. Relacionar características discursivas e ideológicas de obras brasileiras da contemporaneidade ao contexto histórico e à situação de produção, circulação e recepção dessas obras.
  • 2. Tópico 46.6. Reconhecer e caracterizar a contribuição dos principais autores brasileiros da contemporaneidade para a literatura nacional. LITERATURA E AS ARTES PLÁSTICAS A literatura é uma arte polissêmica e polifônica, dialoga constantemente com outras artes, notadamente as artes plásticas. O escritor, para usar uma expressão de Murilo Mendes, mantém sempre o “olho armado” e, à maneira de um pintor ou escultor, fixa a eternidade de um momento. Os cronistas e viajantes, em seus discursos fundadores, “pintaram” com palavras as curiosidades da terra recém descoberta. Um deles, Pêro de Magalhães Gândavo (? — 1579), historiador e cronista português, autor da História da Província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, editada em Lisboa em 1576, procurou exibir as riquezas da terra, fazendo propaganda para atrair imigrantes para este país. Oswald de Andrade, poeta modernista, em sua proposta antropofágica, incorpora as palavras do cronista e, em Pau Brasil, publica o poema que leva um título ligado às artes plásticas, pois “natureza morta” é um tipo de pintura que retrata seres inanimados, como frutas, flores, objetos etc: Natureza morta A esta fruita chamam Ananazes Depois que sam maduras têm un cheiro muy suave E come-se aparados feito em talhada E assim fazem os moradores por elle mais E os têm em mayor estima Que outro nenhum pomo que aja na terra (ANDRADE, Oswald. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. p.20) Manuel Bandeira, poeta modernista, valoriza bastante o diálogo entre literatura e artes plásticas. "Maçã" é um dos seus textos mais estudados: Por um lado te vejo como um seio murcho Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão [placentário És vermelha como o coração do amor divino. Dentro de ti em pequenas pevides Palpita a vida prodigiosa Infinitamente.
  • 3. E quedas tão simples Ao lado de um talher Num quarto pobre de hotel. (BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967, p.128) O crítico Davi Arrigucci Jr., no ensaio "Do sublime oculto", presente na obra Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira, atenta para aspecto visual do poema, que evoca quadros de natureza-morta, à maneira dos muitos pintados por Paul Cézanne (1839- 1906): (http://www.paul-cezanne.org/home-1-96-1-0.html) A maçã é observada por partes, no todo e por dentro, integrando-se, ainda, a um ambiente humilde. O texto, à maneira de um quadro cubista, é composto por justaposição de imagens, evidenciando uma cena prosaica de uma refeição frugal. Observa-se a presença do quarto, símbolo significativo da interioridade do sujeito, espaço lírico por excelência da obra de Bandeira. A conotação erótica da fruta sugere uma leitura alegórica: a personificação da mulher, principalmente da mulher caída, a prostituta. A imaginação do poeta faz com que ele associe maçã à representação do Sagrado Coração de Jesus:
  • 4. (dominnus.wordpress.com) Uma vez que a cor vermelha será associada ao Sagrado Coração de Jesus, evidencia-se o resgate daquilo que estava rebaixado. Assim, ocorre a poetização e a elevação da banalidade do cotidiano, a sublimação da realidade decaída do mundo. Em meio aos contrastes de morte (seio murcho) e vida (cordão umbilical, pevides = sementes; há de se notar que o termo é mais significativo do que sementes, pois nele já contém, de certo modo, a vida), de coisa abstrata e concreta, ainda que esteja ligada ao sensual, a maçã é "colhida" por um olhar inventivo, sugerindo transcendente intensidade. Tanto a maçã de Bandeira como as dos quadros de Cézanne se apresentam como símbolos da beleza da plenitude artística, o que, nas palavras do crítico Arrigucci, significa "fruto amadurecido da experiência no confronto com a natureza, em dura luta pela perfeição". O poema oferece uma leitura religiosa, uma vez que a fruta é símbolo de uma oferenda do amor pagão que se torna dádiva do amor divino e, em sua simplicidade natural, há a lição de Cristo: isto é, uma verdade sublime oculta-se no coração de uma simples fruta. Arrigucci Jr. destaca a admirável estrofe do meio, em que há diminuição do número de sílabas, mas intensa musicalidade, através das aliterações e assonâncias. Salienta, ainda, a importância do verso octossílabo: "Palpita a vida prodigiosa". E assim o crítico conclui seu comentário: A maçã surge como um objeto de imitação da natureza, exemplarmente representado; mas surge também como um objeto pictoricamente construído, como uma 'harmonia paralela à natureza'; e, finalmente, ainda como uma forma de expressão de um sujeito lírico, como símbolo de uma emoção pessoal. (...) Assim na maçã se encerra um ideal de estilo na simplicidade natural. E por ela, por fim, se entende que a poesia, como a natureza, ama ocultar-se”.
  • 5. (ARRIGUCCI Jr., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.44) Exercício 1: Com base na leitura do poema “Maçã”, pode-se afirmar que nele NÃO se constata: A) Abordagem de um elemento integrado num ambiente humilde; B) Impessoalidade e distanciamento do eu-lírico do objeto contemplado; C) Afinidade entre a poesia e as artes plásticas; D) Resgate, através do olhar poético, de algo rebaixado. Pelo que foi apresentado, você certamente apontou a opção B, pois o poema apresenta uma interação entre o poeta e o objeto contemplado, transfigurado poeticamente. Outro texto significativo de Manuel Bandeira, que incorpora elementos das artes plásticas, no caso, da estatuária, é o poema “O cacto”: Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária: Laocoonte constrangido pelas serpentes, Ugolino e os filhos esfaimados. Evocava também o seco nordeste, carnaubais, caatingas... Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais. Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. O cacto tombou atravessado na rua, Quebrou os beirais do casario fronteiro, Impediu o trânsito de bonde, automóveis, carroças, Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou a cidade de iluminação e energia: - Era belo, áspero, intratável. (BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1967, p.84) De início, é preciso que o leitor tenha em mente a reprodução de duas esculturas. Primeiro, apresentemos “O grupo de Laocoonte”, que, segundo a Wikipédia “é uma escultura em mármore, também conhecida como Laocoonte e seus filhos, hoje em dia exposta no Museu do Vaticano, em Roma. A estátua representa Laocoonte e seus dois filhos, Antiphantes e Thymbraeus, sendo estrangulados por duas serpentes marinhas, um episódio dramático da Guerra de Tróia relatado na Ilíada de Homero e na Eneida de Virgílio”
  • 6. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Grupo_de_Laocoonte) Outra escultura que o poema evoca é a de Jean-Baptiste Carpeaux (1827-1875), sobre Ugolino e seus filhos famintos, personagens reais da história italiana, que figuram no "Inferno", de Dante (foram abandonados numa torre e morreram de fome): (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Carpeaux)
  • 7. A concepção do poema partiu de um fato jornalístico: um grande cacto, arrancado pela ventania, tombou em uma avenida de Petrópolis. O poeta transfigura o episódio jornalístico, elevando-o à condição de símbolo ou parábola. O cacto é comparado a uma escultura do sacerdote troiano Laocoonte aos gestos desesperados de Ugolino. O cacto evoca também o nordeste, de onde veio o poeta pernambucano, um homem sofrido com o seu mau destino (e ciente do mau destino da maioria de seus conterrâneos). A sua queda deixa a cidade privada de energia. O poeta conclui, em famoso verso, afirmando que o cacto "era belo, áspero, intratável." O crítico Davi Arrigucci Jr. escreveu um longo ensaio sobre esse poema, relacionando-o com pinturas sobre cactos de Tarsila do Amaral (1886-1973): (caracol.imaginario.com) O crítico observa que “o poeta se propõe a dar forma a um determinado conteúdo natural, vinculando-o, porém, ao universo do desespero e da dor, ao drama humano em sua face mais alta e pungente”. Nessa análise, o que se depreende do poema é que o cacto é um exemplo de beleza e resistência moral, evocando a figura do homem submetido a situações adversas: “É como se presenciássemos a fábula de um deus moribundo, encarnado num simples vegetal, humanamente retorcido pela dor, mas ainda movido por uma prodigiosa energia vital em face da morte”. (ARRIGUCCI Jr., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.24) Exercício 2: O elemento vegetal, no poema, NÃO remete a A) obras de arte
  • 8. B) sofrimento humano C) realidade nordestina. D) enfermidade do poeta Se você leu com atenção as considerações acima sobre o poema, certamente assinalou a opção D, pois nesse poema o poeta não faz referência à propalada tuberculose que tanto marcou sua vida e sua poesia. Outro poeta brasileiro que transita sua poesia pelas artes plásticas é Manoel de Barros. Como muitos artistas, ele é fascinado com os girassóis do pintor holandês Van Gogh (1853-1890): (olhares.aeiou.pt/os_girassois__de_vincent_van...) Vejamos o texto: Os girassóis de Van Gogh Hoje eu vi Soldados cantando por estradas de sangue Frescura de manhãs em olhos de crianças Mulheres mastigando as esperanças mortas Hoje eu vi homens ao crepúsculo Recebendo o amor no peito. Hoje eu vi homens recebendo a guerra Recebendo o pranto como balas no peito E como a dor me abaixasse a cabeça, Eu vi os girassóis ardentes de Van Gogh. (BARROS, Manoel de. Gramática expositiva do chão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.p.60)
  • 9. E, em 1994, no O Livro das ignorãças, Manoel de Barros anota: Um girassol se apropriou de Deus: foi em Van Gogh. (BARROS, Manoel de. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 1993, p.17) Exercício 3: Nos textos abaixo, Manoel de Barros faz referências às artes plásticas, EXCETO: A) Deus deu a forma. Os artistas desformaram. É preciso desformar o mundo: Tirar da natureza as naturalidades. Fazer cavalo verde, por exemplo. Fazer noiva camponesa voar – como em Chagall. B) - Botar aflição nas pedras (Como fez Rodin). C) Miró precisava de esquecer os traços e as doutrinas que aprendera nos livros. Desejava atingir a pureza de não saber mais nada. D) Eu hei de nome Apuleio. Esse cujo eu ganhei por sacramento. Os nomes já vêm com unha? A alternativa D não faz referência a um artista plástico, mas a um nome homônimo do escritor latino Lucio Apuleio (125-180), que em suas obras burlescas, como O asno de ouro, mesclava aspectos eróticos e místicos. Procure pesquisar os quadros de Chagall, Miro e as esculturas de Rodin, para efetivar melhor relacionamento com a poesia do modernista Manoel de Barros, que também valorizou o estranho artista Arthur Bispo do Rosário, “tido como louco, morador de hospício, cuja obra é resultado de costuras de fragmentos de tecidos e objetos de uso pessoal, bem como a linha utilizada para uni-los, poética com a qual a obra de Manoel de Barros tem muito em comum”, como observou a professora Maria Adélia Menegazzo, em “Poética visual de Manoel de Barros”1 . O poema de Manoel de Barros sobre o sergipano Arthur Bispo do Rosário é o seguinte: 1 http://www.eventos.uevora.pt/comparada/VolumeIII/A%20POETICA%20VISUAL%20DE%20MANOEL%20DE%20BA RROS.pdf
  • 10. Arthur Bispo do Rosário se proclamava Jesus. Sua obra era ardente de restos: estandartes podres, lençóis encardidos, botões cariados, objetos mumificados, fardões da Academia, Miss Brasil, suspensórios de doutores – coisas apropriadas ao abandono. Descobri entre seus objetos um buquê de pedras com flor. Esse Arthur Bispo do Rosário acreditava em nada e em Deus. (BARROS. Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 83) Eis uma foto do artista homenageado por Manoel de Barros: (www.integrando.org.br) Em 2009, há um filme sendo rodado sobre esse artista. Leia um trecho da reportagem no Estado de Minas: Para o sergipano Arthur Bispo do Rosário, a arte era desígnio divino. Ele acreditava que, enquanto vivesse, deveria miniaturizar o mundo para apresentá-lo no dia do juízo final. Fez disso a sua saga. Negro e pobre, foi considerado louco. Em 5 de janeiro de 1939, acabou recolhido ao pavilhão dos agitados da Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. Entre idas e vindas, passou os 50 anos seguintes no asilo psiquiátrico. Para sobreviver à decadência, aos choques elétricos e aos castigos na cela forte, onde era tratado a pão e água, jamais se assumiu como demente, mas como criador capaz de inventar algo singular. Este ano, quando se comemoram o centenário de nascimento e os 20 anos da morte do artista, filme, exposições e relançamento de livro celebram a obra deste mestre. Ainda há muito a descobrir sobre o legado de Arthur Bispo do Rosário – referência das artes plásticas contemporâneas do Brasil.(...) O filme O senhor do labirinto deve chegar às telas este ano. Não é biográfico, mas dá voz ao discurso de Bispo. “Vai mostrar como ele via a própria produção artística”, adianta o cineasta Geraldo Motta. (REIS, Sérgio Rodrigo. “Missão divina”, in Estado de Minas, caderno Cultura. Belo Horizonte, 15 de fevereiro de 2009.)
  • 11. LITERATURA E CINEMA O cinema sempre investiu nas obras literárias. A literatura, desde a invenção do cinema, absorveu aspectos dessa arte. Há pouco tempo, entrou para a Academia Brasileira de Letras o primeiro cineasta, Nelson Pereira dos Santos, que dirigiu filmes inspirados em obras literárias, como Vidas secas (1963) e Memórias do cárcere (1984), ambos os livros do escritor nordestino Graciliano Ramos. Vamos acompanhar um trecho de uma entrevista que a jornalista Karla Hansen fez com Nelson: Gostaria que você falasse sobre as diferenças entre a narrativa literária e a narrativa cinematográfica. Os estudiosos das relações do cinema e da literatura, e isso vem de há muito tempo, mostram que são duas artes narrativas. No meu discurso de posse (na ABL) citei um autor, um estudioso que mostra que na Eneida, de Virgílio, há construções que se assemelham com a narrativa do cinema. Ele trabalha com espaço, com simultaneidade de ação, elementos próprios da narrativa cinematográfica. O [historiador, embaixador e membro da ABL] Alberto Costa e Silva, que fez a biografia em forma de crítica de Castro Alves [Um poeta sempre jovem, Companhia das Letras, 2006], também lembra que um trecho de O navio negreiro [1868] se assemelha a um movimento de zoom. O poeta estabelece o ponto de vista dos albatrozes e o navio lá embaixo...Na essência, há uma grande proximidade entre a literatura e o cinema. Outros autores dizem que o cinema influenciou o romance, que o romance americano, filho do cinema, revolucionou o romance tradicional. A literatura toda dos nossos modernistas, paulistas, procurava o cinema. Mário de Andrade foi cinéfilo, ele ia ver todos os filmes de sua época e ao escrever o romance Amar, verbo intransitivo [1927], por exemplo, tentou escrever um filme muito influenciado pelo cinema. Por isso, eu recomendo sempre aos meus alunos, além dos filmes, a leitura dos romances. (HANSEN, Karla. “Um olhar na Academia”. Revista Língua Portuguesa. n.23, São Paulo: Segmento, 2007, p.12) Exercício 4: Depreende das palavras de Nelson Pereira dos Santos: A) A notória superioridade do cinema sobre a literatura. B) A questionável influência do cinema sobre Castro Alves. C) A incontestável afinidade entre literatura e cinema. D) A indiscutível superioridade da literatura sobre o cinema.
  • 12. Você acertou ao marcar a opção C, pois cinema e literatura exibem grandes afinidades. Vejamos o trecho da poesia de Castro Alves salientado na entrevista: III (...) Albatroz! Albatroz! águia do oceano, Tu que dormes das nuvens entre as gazas Sacode as penas, Leviathan do espaço Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas. (...) Desce do espaço imenso, ó águia do oceano! Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano Como o teu mergulhar no brigue voador! Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras! É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ... Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror! IV Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! (http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm) A imaginação dos escritores tem algo de cinematográfico. Veja, por exemplo, a pequena reflexão que o poeta Mário Quinta faz sobre a letra K: K Letra caminhante. (QUINTANA, Mário. Da preguiça como método de trabalho. Poesia completa.Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p.668) A poesia concreta, nos anos 50 do século XX, apresentou inovações formais que têm muito de cinema, devido à questão visual e à idéia de movimento. Em 1965, na Revista O Pif-Paf, o humorista Millôr Fernandes escreveu um saboroso texto intitulado “Alfabeto concreto”. Ao comentar letra por letra, entre outras coisas, anotou:
  • 13. O A é uma letra com sótão. Chove sempre um pouco sobre o à crasead. O B é umI que se apaixonou por um 3. Ao C só lhe resta uma saída. O ç cedilha, esse jamais tira a gravata. (FERNANDES, Millôr. Apud CHALHUB, Samira. A Metalinguagem. São Paulo, Ática, 1986, p.33) Exercício 5: O texto de Millôr Fernandes prossegue fazendo engraçadas definições das letras do alfabeto. Procure identificar as letras definidas nas alternativas: A) “ri-se eternamente das outras letras” B) “serve como escada para outras letras galgarem sentido” C) “anda sempre com o laço do sapato solto” D) “é uma taça onde bebem as outras letras” Será que você conseguiu acertar? As respostas são: E, H, Q, Y... A poesia concreta, pela exploração visual e pela sensação de movimento, aproxima-se do cinema, como se pode perceber neste poema de José Paulo Paes: AUTO-ESCOLA VÊNUS Contato para trás (devagar) para frente (devagar) para trás (ACELERE) para frente para frente (ACELERE) pode desligar (PAES, José Paulo. Um por todos. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.71) Em “Cine-olho”, o poeta mineiro Ricardo Aleixo realiza um excelente poema em três rápidas seqüências, com versos de uma só palavra, num estilo concretista, bem visual e dinâmico, aproximando-se da técnica cinematográfica do cineasta russo Dziga Vertov (1896-1954) que filmava pequenas partículas da realidade e criou uma perspectiva através da qual o espectador via nas imagens através dos olhos do etnógrafo, do cinegrafista, as cenas cruas de um cinema-verdade. Vertov ia atrás dos acontecimentos à medida em que eles iam se desenrolando. Eis o texto de Aleixo:
  • 14. Um menino não. Era mais um felino um Exu afelinado chispando entre os carros - um ponto riscado a laser na noite de rua cheia - ali para os lados do Mercado. (ALEIXO, Ricardo. PEREIRA, Edimilson de Almeida. A roda do mundo. Belo Horizonte:BHZ,2004. p.33) Há a mistura do ioruba (Exu) com o inglês (a expressão laser, fonte de luz, que deriva das iniciais light amplification by stimulated emission of radiation.). O poema flagra um flash urbano e social de um menino correndo pelos “lados do Mercado”; a expressão “rua/ cheia” sugere que a esperada lua cheia da noite está encoberta. Carlos Drummond de Andrade tem muitos poemas abordando o cinema. Em julho de 1977, morre a atriz Joan Crawford, que após ter encerrado sua carreira, tornou-se executiva da Pepsi-Cola. Abaixo, duas fotos da atriz.
  • 16. Joan Crawford: in memoriam No firmamento apagado não lucilam mais estrelas de cinema. Greta Garbo passeia incógnita a solidão de sua solitude. Marlene Dietrich quebrou a perna mítica de Valquíria. Joan Crawford produtora de refrigerantes, o coração a matou. O cinema é uma fábula de antigamente (ontem passou a ser antigamente) contada por arqueólogos de sonho, em estilo didático, a jovens ouvintes que pensam em outra coisa. O nome perdura. Também é outra coisa. Tudo é outra coisa, depois que envelhecemos. E não há mais deusas e deuses. Há figurinhas móveis, falantes, coloridas, projetadas do interior da casa. Não saem nunca mais, enquanto se esvazia o céu da Grécia dentro de nós – azul já negro ou neutra-cor. Joan, não beberei por ti, à guisa de luto, nenhum líquido fácil e moderno. Sorvo tua lembrança a lentos goles. (ANDRADE, Carlos Drummond. Discurso da primavera e outras sombras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, p.53) Exercício 6: Assinale o trecho do poema que remeta à juventude de Joan Crawford A) Tudo é outra coisa, depois que envelhecemos B) Produtora de refrigerantes, o coração a matou C) Sorvo tua lembrança D) passeia incógnita a solidão de sua solitude A alternativa correta, evidentemente, é a de letra C, o poeta vai beber a própria lembrança do passado em que Joan Crawford, em vez de produzir refrigerantes, atua nas telas de cinema.
  • 17. Exercício 7: Nos versos abaixo, de Carlos Drummond de Andrade, NÃO há referência ao cinema em: A) Fechado o Cinema Odeon, na Rua da Bahia. Fechado para sempre. Não é possível, minha mocidade fecha com ele um pouco. B) Amar o perdido deixa confundido este coração C) A espera na sala de espera. A matinê com Buck Jones, tombos, tiros, tramas. D) Desafio. Matemática de cine a estudar em Ipanema pelo jovem não-quadrado (Pasolini é quem previne): Superbacana é o teorema que não será demonstrado. A opção a ser marcada é a de letra B, pois aí o poeta fala do passado, sem especificar o cinema, como na alternativa a ou fazer referências a atores e diretores como em C e D, em que se destacam Buck Jones e o cineasta italiano Pasolini, autor do complexo filme Teorema. (edenville.wordpress.com)
  • 18. Carlos Drummond de Andrade, que sempre cultuou o cinema, teve alguns de seus poemas convertidos em filmes. O caso mais recente é o poema “O caso do vestido”, que foi filmado por Paulo Thiago, a partir de um argumento de Carlos Herculano Lopes, que se transformou em romance. O vestido, que pode ser considerado uma obra autônoma, ainda que cite, parafraseie e reinvente o texto drummondiano. O poema do mineiro de Itabira é estruturado em dísticos brancos, em redondilha maior, mesclando o gênero épico (narrativo), o dramático (teatral) e o lírico (poético, confessional). Trata-se da história de um casal, que se separou devido à fulminante paixão que o pai tivera por uma “dona de longe”. As filhas do casal, muito tempo depois, já com o pai inserido de volta em sua família, querem saber da mãe o significado de um vestido, pendurado no prego, que era uma relíquia, encerrando toda a história passional. Aos poucos, aproveitando a ausência provisória do marido, a esposa vai relatando às filhas a dramática história a respeito do vestido que pertencera à amante do pai. Às vezes, a mãe interrompe o caso, pois acha que o pai está chegando: “Minhas filhas, boca presa,/ vosso pai evém chegando”; “Minhas filhas, vosso pai/ chega ao pátio. Disfarcemos”; “Minhas filhas, eis que ouço/ vosso pai subindo a escada”. No decorrer da história, há três momentos de simetria dramática, envolvendo o sofrimento do pai, que se desespera pela dona de longe; o sofrimento da mãe, pois é obrigada a se humilhar e a suplicar para que a dona se deite com o marido, que a abandona; e, finalmente, o sofrimento da amante, que se apaixona pelo pai das meninas que desejam saber sobre o vestido, e depois é abandonada por ele. No final, há a coincidência da chegada do pai, no passado, integrando-se à família, e a chegada do pai, no momento atual, encerrando a enunciação da história pela mãe. No poema de Drummond, quem fala são as filhas e a mãe, que também reproduz a fala do marido e da dona de longe. O poema é transcrito nas páginas finais do romance de Herculano, que, ao longo da narrativa, insere, quase sempre em itálico, mas às vezes em letra normal, passagens da composição, como nesse trecho, em que grifamos as citações: “A eles deu um dinheiro, olhou para mim em silêncio, mal reparou no vestido, que estava em minhas mãos, e foi entrando casa adentro, com aqueles passos ritmados, em direção à cozinha, enquanto eu, sem acreditar, como que hipnotizada o seguia: Mulher, põe mais um prato na mesa, assim ele foi dizendo. Eu fiz, ele se assentou, sorriu para vocês, que estavam meio assustadas, mas de perto dele não saíam. Comeu, limpou o suor, era sempre o mesmo homem”. (p.184) (LOPES, Carlos Herculano. O vestido. São Paulo: Geração Editorial, 2004. p.184) No filme, Paulo Thiago amplia as citações drummondianas, além de inserir trechos de Dom Casmurro e da produção de Anselmo Duarte, O pagador de promessas; no romance de Carlos Herculano Lopes, um aspecto merece relevância: a presença do padre. No drama de Dias Gomes, o
  • 19. padre representa a pétrea oposição à promessa do Zé do Burro. No filme de Thiago, esse intertexto vem apenas priorizar a faceta da farsa da ex-atriz Bárbara, contratada por Fausto para afastar Ulisses de Ângela. No romance há a presença de dois padres, retomando a díade dos “Dois vigários”, de Lição de coisas, onde “Padre Olímpio benzia e padre Júlio fornicava”. (www.adorocinemabrasileiro.com.br) Luís Fernando Verissimo é outro escritor cinéfilo. Em suas crônicas é constante a citação cinematográfica. A segunda parte do livro A eterna privação do zagueiro absoluto não tem nada a ver com o título do livro, cuja primeira parte aborda o futebol. Aqui, o cinema é que vai ser o tema central. No primeiro bloco, “O melhor começo”, o cronista faz uma viagem no tempo, evocando a época em que viu, pela primeira vez, atrizes como Kim Novak, Ingrid Bergman, Rita Hayworth e Nastasia Kinsky. Aponta os melhores começos de filmes, destacando Yojinbo (1961), do japonês Akira Kurosawa, que sabia como ninguém movimentar com a câmara (travellings). Recorda-se, também, do início de Lolita, de Stanley Kubrick, que também fizera filmes definitivos como Glória feita de sangue, 2001: uma odisséia no espaço e Laranja Mecânica. Cinema está associado a erotismo, daí as evocações das coxas de Silvana Mangano, dos seios da Martine Carol, da incomparável beleza de Catherine Deneuve e, claro, da brasileira Patrícia Pillar. Vejam um trecho em que ele cita Catherine Deneuve: Me lembrei da Catherine Deneuve porque escrevi no outro dia que não víamos mais filmes franceses e italianos e se isso é uma lamentável prova da nossa entrega total
  • 20. à ditadura cultural americana também é uma grande ingratidão com o cinema da França e da Itália e, principalmente, com as suas mulheres, as suas grandes mulheres.". (VERISSIMO, Luis Fernando. A eterna privação do zagueiro absoluto. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. p.118) Em A morte de DJ em Paris, do mineiro Roberto Drummond, mais exatamente no conto “Objetos pertencentes a Fernando B, misteriosamente desaparecido”, entre os objetos, há uma foto em ¾ da atriz francesa Catherine Deneuve (a edição reproduz a foto). Foram efetuadas várias prisões de sósias dessa atriz. A foto não está disponível na Internet, mas para que se tenha uma idéia da beleza da atriz, veja essa outra foto: (reneeashleybaker.wordpress.com) Retomando a obra de Luis Fernando Verissimo, há um outro bloco “Sobre comédias e vilões”, que abrange alguns filmes contemporâneos, como Mensagem para você (que exibe, no cenário, uma mega-livraria), Shakespeare apaixonado, Evita, O advogado do diabo, Central do Brasil, A vida é bela, mas resgatando, também, o clássico Casablanca. Retira uma fala de uma personagem desse filme para ironizar o contexto político brasileiro: “(...) lembrava a frase do chefe de política Renault depois de cada atentado terrorista em Casablanca: ‘ Prendam os suspeitos de sempre’. Aqui os de sempre reuniam-se com o governo e chegavam a acordos sobre preços e práticas que nunca eram cumpridos, o que não impedia que fossem convocados de novo.”(p.137) O cinema brasileiro aparece nas crônicas “Eles merecem” e “O arquivilão”. Na primeira, o autor fala de sua torcida por Fernanda Montenegro, que fora indicada para o Oscar por sua atuação em Central do Brasil, de 1998. Na outra crônica, o vilão é o ator gaúcho José Lewgoy, que sempre fazia papel de bandido nas chanchadas (comédias) nacionais, produzidas pelo estúdio Atlântida. O autor ironiza o monopólio do cinema norte-americano, impedindo-nos de assistir a muitas produções
  • 21. européias, de onde vêm belas atrizes. Aliás, em outro livro, A mesa voadora, ao citar o cinema americano, Veríssimo anota: “O filme era um exemplar impecável de engenhosidade técnica e agradável imbecilidade”.(p.63) Ao elogiar o filme Evita, o cronista diz não ter sido influenciado pela “megabadalação” do “marquetchim”. Demonstrando cultura geral, compara-o a textos de Brecht e à música do alemão Kurt Weill. Cinema e literatura se misturam, daí as referências, nas crônicas dessa seção, a obras de Shakespeare (Ricardo III), Oscar Wilde (A importância de ser resoluto) e Vladimir Nabokow – que serão personagens da última parte. O estudante não deve ficar preocupado em guardar tantos nomes de atores e cineastas citados, o que revela o apreço do cronista pelo cinema. Mas deixaremos aqui uma lista contendo algumas breves informações. Rubem Fonseca, romancista contemporâneo, em todas suas obras faz um intenso diálogo entre a literatura e outras artes. Em seu livro, O selvagem da ópera, há o projeto de se fazer um filme sobre o compositor Carlos Gomes. Conforme se lê na orelha da obra, “Romance, biografia, argumento cinematográfico: O selvagem da ópera é tudo isto. Tem como protagonista o compositor Antonio Carlos Gomes, autor de O guarani e de outras óperas hoje esquecidas, como Fosca, Salvator Rosa, Maria Tudor e Lo Schiavo. (...) O selvagem da ópera é um livro que fascina pela maneira harmônica com que mescla literariamente os mesmos estilos que classificam a grande ópera – o barroco, o bufo e o trágico - características refletidas na própria vida do compositor brasileiro, que gozou e sofreu intensamente as misérias e grandezas de seu destino e seu tempo”. (FONSECA, Rubem. O selvagem da ópera. São Paulo: Companhia das Letras, 1994) Exercício 8: De acordo com as informações contidas na orelha do livro de Rubem Fonseca, depreende-se que essa obra é A) destituída de ficção, pois é uma biografia B) narrada na primeira pessoa pelo protagonista C) estruturada em diálogos como um roteiro de filme D) composta pela harmonia de diferentes artes Romance, biografia, cinema e música se mesclam no livro de Rubem Fonseca, justificando a alternativa que você deve ter marcado, isto é, a letra D. E por falar no gênero “ópera”, você encontrará muita coisa na literatura brasileira. Em Dom Casmurro, de Machado de Assis, há um belo capítulo chamado “A vida é uma ópera”. No romance
  • 22. Encarnação, de José de Alencar, há a importante presença da ópera Lúcia de Lammermoor, de Donizetti. Em Agosto, de Rubem Fonseca, o protagonista, o incorruptível comissário Matos é grande fã de ópera. Tomemos um trecho de O selvagem da ópera, em que Rubem Fonseca articula romance, música e argumento cinematográfico: Em Milão, neste mês de abril, o imperador (D.Pedro II) assiste a uma récita íntima em sua homenagem, promovida por Carlos no Grande Hotel Milano, onde se hospeda acompanhado da imperatriz Teresa Cristina, do neto Pedro Augusto (...) O historiador e romancista italiano Cesare Cantù, visto ainda há pouco em nosso filme a conversar com D. Pedro II, foi convidado para assistir à récita. Precedendo a cantoria,um prestidigitador de nome Pelazzeschi, acompanhado ao piano, usando as mãos e alguns objetos à frente de um foco de luz, projeta sombras sobre uma superfície branca de uma parede, representando cenas de O guarani. Essa exibição é denominada por Palazzeschi de “sombras chinesas”. O filme deve mostrar, por óbvios motivos, essa apresentação primitiva de imagens em movimento. Depois, o barítono Innocente De Anna, além de árias da Fosca e do Salvator, e de uma ária inédita do Escravo, canta uma romanza da câmera composta por Carlos, intitulada Aurora e Tramonto. (FONSECA, Rubem. O selvagem da ópera. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p.196) O escritor age como se fosse um vampiro, alimentando-se de outros textos. O vampiro nasceu na literatura e foi aproveitado pelo cinema. Aparece em todas as artes. O escritor, no bom sentido da palavra, é também vampiro, a sugar de várias artes. O chargista Angeli triplica o número de vampiros: (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dbch09082007) Mário Quinta o ridiculariza: Drácula
  • 23. Quando me encontrei com o Conde Drácula, por uma destas noites de inverno, na Esquina dos Ventos Uivantes, tinha ele o aspecto de um grande guarda-chuva de varetas quebradas. Foi o que lhe disse. Ele deu meia-volta e partiu revoando, aos solavancos, decerto para quebrar a cara do diretor do filme... (QUINTANA, Mário. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006. p.975) Exercício 9: O texto de Mário Quintana tem em comum com a charge de Angeli: A) A elaboração de textos em prosa. B) O aproveitamento satírico de um mito popular. C) O diálogo com outras obras literárias. D) A crítica ao sistema capitalista. A alternativa correta é a de letra B, pois o tópico A relaciona-se apenas com o texto de Quintana; o tópico D refere-se apenas à charge, o tópico C ocorre só no texto de Quintana, que faz alusão ao livro O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë. Nesse módulo, você viu como a literatura pode incorporar outras artes, abrindo caminho para uma fecunda interdisciplinaridade. Um bom livro sempre é capaz de estabelecer novos diálogos m diferentes atividades artísticas. A literatura, como a história, é, por essência, de natureza interdisciplinar. Esperamos que você tenha percebido isso e comece a compreender e usar, produtiva e autonomamente, essas estratégias da obra literária em interação com outras fontes de cultura e de arte. Seja uma espécie sadia de vampiro, sugando os livros que aqui sugerimos. Boas mordidas! www.meiapalavra.com.br
  • 24. Livros • ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971. • ARRIGUCCI Jr., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo:Companhia das Letras, 1990. • BAIRON, Sérgio. Interdisciplinaridade. São Paulo: Futura, 2002. • CARNEIRO, Flávio. No país do presente: ficção brasileira no início do século XXI.Rio deJaneiro:Rocco, 2005. • DRUMMOND, Roberto. A morte de DJ em Paris. São Paulo: Ática, 1975. • HELENA, Lúcia. “Uma sociedade do olhar: reflexões sobre a ficção brasileira” in Alteridade, desigualdade, violência na literatura brasileira contemporêa. Org. Regina Dalcastgnè, S. Bernardo do Campo: Editora horizonte, 2008 • DENEB, Leon. Diccionario de símbolos. Madrid, Biblioteca Nueva, 2001. • GALDINO, Márcio da Rocha. O cinéfilo anarquista: Carlos Drummond de Andrade e o cinema. Belo Horizonte: BDMG, 1981. • LOPES, Carlos Herculano. O vestido. São Paulo: Geração Editorial, 2004. • MACIEL, Luiz Carlos Junqueira. Vestindo o caso: o canto multiplicado. Suplemento Literáriode Minas Gerais, n.1281, Belo Horizonte, Agosto de 2005. Site http://www.eventos.uevora.pt/comparada/VolumeIII/ A%20POETICA%20VISUAL%20DE%20MANOEL%20DE%20BARROS.pdf Para saber mais, consultem: